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MED RESUMOS A Aids é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), um retrovírus, e caracteriza-se por profunda imunossupressão que leva a infecções oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas. A transmissão do HIV ocorre s ob condições que facilitam a troca de sangue ou líquidos corporais contendo o vírus ou células infectadas pelo vírus. As três principais vias de transmissão são contato sexual, inoculação parenteral e passagem do vírus de mães infectadas para seus recém- nascidos. É claramente o modo predominante de infecção no mundo todo, sendo responsável por mais de 75% de todos os casos de transmissão do HIV.O vírus é carregado no sêmen e entra no corpo do receptor através de abrasões na mucosa retal ou oral ou por contato direto com as células de revestimento das mucosas. A transmissão viral ocorre de dois modos: (1) inoculação direta nos vasos nos quais se abriram brechas por trauma e (2) infecção das células dendríticas ou CD4+ no interior da mucosa. Há evidências apoiando a transmissão de mulher para homem. O HIV está presente em secreções vaginais e células cervicais de mulheres infectadas. TRANSMISSÃO SEXUAL TRANSMISSÃO PARENTAL TRANSMISSÃO POR TRANSFUSÃO DE SANGUE OU HEMODERIVADOS HivHiv Todas as formas de transmissão sexual do HIV são ampliadas por doenças sexualmente transmissíveis coexistentes, especialmente as associadas à ulceração genital. Com referência a isto, sífilis, cancroide e herpes são particularmente importantes. Usuários de drogas intravenosas Hemofílicos que receberam concentrados de fator VIII e fator IX Receptores aleatórios de transfusão de sangue. A transmissão parenteral do HIV tem ocorrido em três grupos de indivíduos: Destes três, os usuários de drogas intravenosas constituem, de longe, o maior grupo. A transmissão ocorre pelo compartilhamento de agulhas, seringas e outra parafernália contaminada com sangue contendo HIV. Síndrome da Imunodeficiência adquirida (AIDS) Como concentrados liofilizados dos fatores VIII e IX, foi virtualmente eliminada. Este resultado afortunado é decorrente do aumento do uso de fatores de coagulação recombinantes e de três medidas de saúde pública: triagem de anticorpos contra o HIV no sangue e no plasma doados, critérios rígidos de pureza para as preparações dos fatores VIII e IX e triagem dos doadores com base na história. No entanto, persiste um risco extremamente pequeno de adquirir Aids através de transfusão de sangue soronegativo porque um indivíduo recentemente infectado pode ser negativo para anticorpos. MED RESUMOS De 1980 a junho de 2021, foram identificados 1.045.355 casos de aids no Brasil. O país tem registrado, anualmente, uma média de 36,8 mil novos casos de aids nos últimos cinco anos. O número anual de casos de aids vem diminuindo desde 2013, quando se observaram 43.493 casos; em 2020 foram registrados 29.917 casos. A distribuição proporcional dos casos de aids, identificados de 1980 até junho de 2021, mostra uma concentração nas regiões Sudeste e Sul, correspondendo cada qual a 50,6% e 19,8% do total de casos; as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste correspondem a 16,5%, 6,9% e 6,2% do total dos casos, respectivamente. Nos últimos cinco anos (2016 a 2020), a região Norte apresentou uma média de 4,4 mil casos ao ano; o Nordeste, 8,7 mil; o Sudeste, 14,1 mil; o Sul, 6,9 mil; e o Centro-Oeste, 2,8 mil. De 2000 a junho de 2021, registrou-se um total de 835.791 casos de aids no país, sendo que 572.972 (68,6%) foram notificados no Sinan. A TRANSMISSÃO DA MÃE PARA A CRIANÇA É a principal causa de Aids pediátrica. As mães infectadas podem transmitir a infecção ao seu filho por três vias: (1) intraútero por propagação transplacentária, (2) durante o parto através de um canal de parto infectado e (3) depois do nascimento, por ingestão de leite materno. Destas, a transmissão durante o parto (intraparto) e no período imediato daí em diante (periparto) é considerada a modalidade mais comum nos Estados Unidos. O risco mais alto de transmissão se associa à alta carga viral materna e a baixas contagens de linfócitos T CD4+, bem como à corioamnionite. Atualmente, com a terapia antirretroviral dada a mulheres grávidas infectadas nos Estados Unidos, a transmissão mãe-filho foi virtualmente eliminada. EPIDEMIOLOGIA De 2007 até junho de 2021, foram notificados no Sinan 381.793 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 165.247 (43,3%) na região Sudeste, 75.618 (19,8%) na região Nordeste, 75.165 (19,7%) na região Sul, 36.218 (9,5%) na região Norte e 29.545 (7,7%) na região Centro-Oeste. No ano de 2020, foram notificados 32.701 casos de infecção pelo HIV, sendo 4.299 (13,2%) casos na região Norte, 8.190 (25,0%) no Nordeste, 11.270 (34,5%) no Sudeste, 5.732 (17,5%) no Sul e 3.210 (9,8%) no Centro- Oeste. No período de 2007 a junho de 2021, foi notificado no Sinan um total de 266.360 (69,8%) casos em homens e 115.333 (30,2%) casos em mulheres. A razão de sexos para o ano de 2020 foi de 2,8 (M:F), ou seja, 28 homens para cada dez mulheres. No período analisado, no que se refere às faixas etárias, observou-se que a maioria dos casos de infecção pelo HIV encontra-se na faixa de 20 a 34 anos, com percentual de 52,9% dos casos. CASOS DE AIDS ETIOLOGIA (a) HIV-1 com quatro subgrupos: M (major), N (on-M), O (outlier) e P (pending the identification); o subgrupo M tem nove subtipos, sendo o HIV-1M, subtipo B, o mais prevalente fora do continente africano e o responsável pela pandemia existente em todos os continentes; (b) HIV-2, circunscrito à África oriental e a algumas regiões da Índia O HIV é um lentivírus com genoma RNA da família Retroviridae, pertencente ao grupo dos retrovírus não citopáticos e não oncogênicos que necessitam, para multiplicar-se, da enzima transcritase reversa, responsável pela transcrição do RNA viral em uma cópia de DNA (provírus) capaz de se integrar ao genoma da célula hospedeira. Há dois tipos do vírus: As proteínas virais sintetizadas regulam a síntese de novos genomas virais e formam a estrutura externa dos vírus que serão liberados O vírion recém-formado é liberado no meio circundante da célula hospedeira, podendo permanecer no fluido extracelular ou infectar novas células. Representação esquemática do genoma do HIV e sua estrutura molecular. Ao lado, posição dos genes do vírus do DNA transcrito a partir do RNA viral LTR: Long Terminal Repeat; GAG: Gene Para Proteínas do Cerne do Vírus; POL: Gene Para Transcritase Reversa; ENV: Gene Para Glicoproteínas do Capsídeo; VPR, TAT, VIF, VPU, REV e NEF: Regiões Reguladoras. Ligação de glicoproteínas virais (gp120) ao receptor da superfície celular (principalmente CD4) e correceptores, sobretudo receptores de quimiocinas Fusão do envoltório do vírus com a membrana da célula hospedeira Liberação do core do vírus no citoplasma da célula hospedeira Transcrição do RNA viral em DNA complementar (cDNA), por ação da enzima transcritase reversa Transporte do cDNA para o núcleo da célula, onde integra-se ao genoma celular (provírus), por ação da enzima integrase, ou permanece na forma circular isolada O provírus é reativado e transcreve RNAm viral, que é processado e vai para o citoplasma Os HIVs tipos 1 e 2 têm aparentemente origem filogenética comum a partir do SIV (vírus da imunodeficiência símia). As partículas virais, com cerca de 100 nm de diâmetro, apresentam um core cilíndricodensocircundadoporenvoltóriolipíd ico.O genoma de RNA contém aproximadamente 10.000 pares de bases (Figura 33.1), tem dois LTR (long terminal repeats) e nove regiões, três codificadoras de proteínas (gag, pol e env) e seis reguladoras (Tat, Rev, Nef, Vpu, Vpr e Vif). As regiões gag, pol e env codificam as proteínas virais p24, p17, gp120, gp41 e as enzimas transcritase reversa, proteases e integrases. Ciclo de vida do HIV em um linfócito t cd4+. 1. o HIV liga-se ao cd4 e ao receptor de quimiocina (RQ). 2. 0 envelope do vírus funde-se à membrana do linfócito e o capsídeo, com o RNA viral, vai parao citosol. 3 e 4. O capsideo é desmontado e o RNA viral serve de molde para a cópia do DNA complementar do virus, com participação da transcritase reversa (TR). 5. O CDNA viral (provirus) é transportado ao núcleo, onde se integra ao DNA do linfócito (6), com participação de integrasse, ou permanece como dna circular. 7. 0 DNA viral é transcrito em RNA, que é processado e origina RNA mensageiros que são transportados ao citoplasma (9), onde são traduzidas as proteinas do vírus. 8. O RNA viral genômico não é processado e é transportado ao citoplasma, onde se associa a proteínas do vírus para montagem do capsídeo (10). 11. O capsídeo é deslocado até a membrana citoplasmática, onde se forma o envelope viral, com participação de componentes da membrana do linfócito. 12. Uma vez envelopado, o vírus é eliminado MED RESUMOS FATORES DE RISCO Qualquer pessoa de qualquer idade, raça, sexo ou orientação sexual pode estar infectada com HIV / AIDS. No entanto, você corre maior risco de contrair HIV / AIDS se: Fizer sexo desprotegido: Use uma nova camisinha toda vez que fizer sexo. O sexo anal é mais arriscado do que o sexo vaginal. O risco de contrair HIV aumenta se você tiver múltiplos parceiros sexuais; Tenha alguma IST: Muitas ISTs produzem feridas abertas nos órgãos genitais. Essas feridas funcionam como portas de entrada para o HIV entrar em seu corpo; Use drogas IV: Pessoas que usam drogas intravenosas geralmente compartilham agulhas e seringas. Isso os expõe a gotas de sangue de outras pessoas; PATOGENIA DA INFECÇÃO PELO HIV E DA AIDS Conquanto o HIV possa infectar muitos tecidos, há dois alvos principais da infecção pelo HIV: o sistema imune e a parte central do sistema nervoso. A imunodeficiência profunda, afetando primariamente a imunidade celular, é a marca de autenticidade da Aids. Isto resulta principalmente da infecção de linfócitos T CD4 + e grande perda deles, bem como do comprometimento de função dos linfócitos T auxiliares sobreviventes. Os macrófagos e células dendríticas também são alvos da infecção pelo HIV. Este entra no corpo através dos tecidos das mucosas e pelo sangue e infecta primeiro os linfócitos T, bem como as células dendríticas e os macrófagos. A infecção se estabelece nos tecidos linfoides, onde o vírus pode permanecer latente por longos períodos. A replicação viral ativa associa-se a mais infecção de células e progressão para Aids. INFECÇÃO PELO HIV A infectividade do HIV é baixa, havendo variações entre os diferentes tipos virais, maior no HIV-1 grupo M, que é responsável por mais de 99% das infecções no Brasil. O vírus penetra no organismo através de mucosas (orofaringe, reto ou genitais), de sangue e de outros fluidos biológicos. Contato de material contaminado com a pele ou mucosas íntegras parece não causar infecção. Sangue e esperma são os produtos mais infectantes (nos quais existem vírus livres e células infectadas), sendo duvidosa a existência do vírus em secreções exócrinas, como a saliva. Contato sexual, transfusões de sangue contaminado ou seus derivados e uso de drogas injetáveis são as formas mais comuns de transmissão do vírus. A carga viral no material infectante é importante no risco de infecção. A infecção viral depende do receptor CD4 e de correceptores nas células. Na lâmina própria de mucosas, o vírus encontra macrófagos, LT CD4+ ativados (LT de memória) e células dendríticas (CD). O vírus infecta especialmente LT CD4+, embora macrófagos e CDs que expressam CD4 e CCR5 sejam também alvos da infecção. As células com o vírus em multiplicação ganham a circulação sanguínea e linfática (viremia primária) e chegam ao tecido linfoide do baço, de linfonodos e do intestino (GALT, gut-associated lymphoid tissue). Nessa fase, a viremia é alta e ocorre antes de qualquer resposta imunitária contra o HIV. Cerca de 50 a 70% dos indivíduos desenvolvem manifestações clínicas de infecção primária (infecção aguda, síndrome de soroconversão): febre, linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia, mialgia, artralgia, exantema maculopapular e meningite são as mais comuns. Em seguida, o hospedeiro monta uma resposta imunitária anti-HIV, humoral e celular, com produção de anticorpos anti- HIV e redução da viremia. MED RESUMOS MED RESUMOS Uma característica importante da infecção pelo HIV é que, após o seu estabelecimento nas células e independentemente da resposta imunitária, não há perspectiva de eliminação do vírus pelo organismo. A partir da multiplicação viral nos órgãos linfoides, surge viremia secundária. A penetração do vírus em células faz-se por ligação da gp120 com o receptor CD4 e com uma molécula correceptora do grupo de receptores para quimiocinas (CCR5 ou CXCR4). CCR5 é correceptor em células dendríticas e macrófagos, enquanto CCR5 e CXCR4 são correceptores em LT CD4+. A penetração inicial faz-se geralmente com auxílio de CCR5, mas mutações no vírus favorecem o uso de CXCR4. No início da infecção, há intensa replicação viral nos linfonodos e no baço, mas é no tecido linfoide associado à mucosa intestinal (GALT) que a replicação é maior, pois aí se encontra o maior número de LT CD4+ ativados que expressam CCR5 e CXCR4 (LT ativados ou de memória). A viremia é ascendente e atinge o pico em 4 a 6 semanas após a infecção. No GALT, em linfonodos e no baço, há grande destruição de LT CD4+, cujo número na circulação cai nesse período de viremia alta e recupera-se logo em seguida, embora não volte aos níveis iniciais. No SNC, a infecção tem algumas particularidades. A chegada do vírus ao SNC ocorre durante a viremia secundária e se faz por meio de monócitos infectados que atravessam a barreira hematoencefálica. Algumas drogas, como cocaína e metanfetamina, lesam a barreira hematoencefálica e facilitam a entrada de monócitos infectados no SNC. No tecido nervoso, os monócitos diferenciamse em macrófagos/micróglia e produzem citocinas pró-inflamatórias (IL-β, IFN-γ e TNF), que aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica, favorecendo a entrada de mais monócitos infectados no SNC. A partir dessas células, astrócitos são infectados por mecanismo independente do receptor CD4+ (astrócitos não possuem esse receptor) por meio de vesículas intracelulares CD81+ que atuam como reservatório viral e disseminam o vírus no SNC por difusão de célula a célula. EVENTOS INICIAIS DA INFECÇÃO PELO HIV: O vírus penetra através da célula "M", presente em epitélios por onde se dá a infecção (genital, trato digestivo). Em seguida, o vírus entra em contato com macrófagos e célular dendríticas (notar integração entre os receptores destes e o HIV); através dessas células, o vírus é apresentado aos linfócitos TCD4 (LT CD4+, principal célula-alvo da infecção). Por meio desses linfócitos, o vírus cai na circulação (viremia primária) e é levado a linfonodos, baço e galt, onde ocorre replicação viral que resulta em viremia secundária, que leva partículas virais ao sistema nervoso central, trato digestivo e outros órgãos, inclusive linfonodos. MED RESUMOS Macrófagos/micróglia e astrócitos atuam como reservatório do vírus: (1) abrigam provírus capaz de se replicar; (2) têm meia- vida de meses a anos, permitindo a persistência do vírus por longo tempo; (3) macrófagos, células microgliais e astrócitos são menos infectados pelo HIV em indivíduos sem alterações cognitivas do que naqueles com transtornos cognitivos; tais células representam número considerável de células infectadas; (4) DNA proviral e RNA do HIV são identificados in vivo e in vitro em astrócitos, que sintetizam e exportam proteínas virais não estruturais (Tat, Rev e Nef) capazes de induzir inflamação e lesão neuronal; (5) in vitro, astrócitos infectados pelo vírus e estimulados por IFN-γ, fator estimulador de colônia macrófago- granulócito e TNF produzem partículas virais; caso ocorra também in vivo, tal propriedade pode reativar a infecção, completando as condições para que essa célula atue como reservatório viral. Na fase inicial da infecção, em geral não há manifestações neurológicas, emboraalguns indivíduos apresentem sinais e sintomas de meningite, encefalite e polineuropatia, quase sempre associados a manifestações clínicas sistêmicas de infecção primária e soroconversão. Os sintomas persistem por 2 a 3 semanas e depois regridem, coincidindo com o desenvolvimento da resposta imunitária anti-HIV. A presença do HIV no SNC e o encontro de alterações inflamatórias e RNA viral no liquor no início da infecção indicam a necessidade de medidas terapêuticas precoces, tão logo seja confirmado o diagnóstico. A infecção do SNC pelo HIV pode evoluir para neuroAIDS, que é infecção crônica, persistente e progressiva acompanhada de neurodegeneração. Clinicamente, há transtorno cognitivo e déficit de atenção, concentração, memória, aprendizado, processamento da informação e função executiva. . Surgem também alterações motoras, como lentidão de movimentos, incoordenação e tremores, que podem progredir para fraqueza, espasticidade, distúrbios do movimento extrapiramidal e paraparesia, além de distúrbios do comportamento (apatia e irritabilidade). Agravidade do processo varia, havendo formas: 1. ASSINTOMÁTICAS (30 a 35% dos pacientes), conhecidas como distúrbio neurocognitivo assintomático, diagnosticado por testes neuropsicológicos, sem interferir com as atividades ocupacionais e sociais 2. SINTOMÁTICAS (20 a 25% dos casos), que afetam pouco a cognição e as atividades do dia a dia, referidas como distúrbio neurocognitivo discreto 3. GRAVES (2 a 3% dos casos), que comprometem a cognição e as atividades ocupacionais e sociais, denominadas demência associada ao HIV Fatores ligados ao HIV e ao hospedeiro têm papel nas lesões: (1) a diversidade genética do HIV, que possivelmente modula a neurovirulência e a neurodegeneração por meio de alterações na proteína viral Nef, causando morte astrocitária e, secundariamente, neuronal; (2) as proteínas virais gp120 e Tat induzem in vitro a expressão de TNF por macrófagos/micróglia, que aumenta a expressão de ICAM-1, VCAM-1 e selectina-E em astrócitos e células endoteliais, favorecendo a migração transendotelial de macrófagos ativados para o SNC; 1. MED RESUMOS (3) macrófagos/micróglia e astrócitos ativados produzem citocinas pró- inflamatórias (TNF, IFN-γ, IL-1 ), enquanto macrófagos/micróglia ativados produzem óxido nítrico, o que resulta em lesão oxidativa em astrócitos e células endoteliais e astrocitose fibrilar; (4) síntese elevada de TNF aumenta a liberação de glutamato por astrócitos e reduz a sua captação por macrófagos/micróglia, com superestimulação do receptor N-metil-D- aspartato (NMDA), influxo maciço de Ca++ intracelular e geração de óxido nítrico e outros ânions superóxidos, causando poda sinapto-dendrítica e apoptose neuronal; (5) metaloproteinases, fator ativador de plaquetas, ácido quinolínico (agonista do NMDA) e derivados do ácido araquidônico também participam da lesão neuronal. Portanto, a neuroniotoxicidade pelas proteínas do HIV e/ou por fatores secretados por macrófagos/micróglia/astrócitos infectados, por mecanismo de amplificação da resposta pró- inflamatória, produção de espécies reativas de oxigênio, estresse oxidativo e excitoxicidade, podem explicar a perda neuronal e a reação tecidual com gliose e ativação microglial que contribuem para o distúrbio neurocognitivo associado ao HIV. HISTÓRIA NATURAL DA INFECÇÃO A doença acusada pela HIV inicia-se comouma infecção aguda que é parcialmente controlada pela resposta imune do hospedeiro e avança para uma infecção progressiva crônica dos tecidos linfoides periféricos. FASE AGUDA O vírus entra através da superfície mucosa e a infecção aguda (inicial) é caracterizada pela infecção das células TCD4+ de memória (que expressam CCR5) nos tecidos linfoides da mucosa e a morte de muitas dessas células infectadas. Como os tecidos da mucosa são o maior reservatório de células T no corpo e um local importante de residência das células T de memória, essa perda local resulta em depleção considerável de linfócitos. Nesta fase, algumas células infectadas são detectáveis no sangue e em outros tecidos. A infecção da mucosa é seguida pela disseminação do vírus e pelo desenvolvimento da resposta imune do hospedeiro. As DCs do epitélio no sítio de entrada do vírus capturam o vírus e depois migram para os linfonodos. Uma vez nos tecidos linfoides, as DCs transmitem o HIV às células TCD4+ através do contato direto célula-célula. Poucos dias após a primeira exposição ao HIV, a replicação viral pode ser detectada nos linfonodos. Essa replicação causa viremia, durante a qual estão presentes grandes quantidades de partículas do HIV no sangue do paciente. O vírus se dissemina por todo o corpo e infecta as células T auxiliares, macrófagos e DCs nos tecidos linfoides periféricos. Dentro de 3 a 6 semanas após a infecção inicial, 40 a 90% dos indivíduos infectados desenvolvem a síndrome aguda do HIV, que é desencadeada pela disseminação inicial do vírus e pela resposta do hospedeiro. Esta fase está associada a uma doença autolimitada com sintomas inespecíficos que incluem dor de garganta, mialgias, febre, perda de peso e fadiga, assemelhando-se a uma gripe. Erupção cutânea, linfadenopatia, diarreia e vômitos também podem ocorrer. O quadro normalmente se resolve espontaneamente em 2 a 4 semanas. MED RESUMOS A medida que a infecção se espalha, o indivíduo monta respostas imunes antivirais humorais e mediadas por células. Essas respostas são evidenciadas pela soroconversão (geralmente dentro de 3 a 7 semanas após a exposição presumida) e pelo aparecimento das células T citotóxicas CD8+ específicas para o vírus. As células TCD8+ específicas para o HIV são detectadas no sangue aproximadamente no momento em que os títulos virais começam a diminuir e provavelmente são os responsáveis pela contenção inicial da infecção pelo HIV. Essas respostas imunes controlam parcialmente a infecção e a produção viral, e esse controle é refletido pela queda na viremia, porém em níveis detectáveis, cerca de 12 semanas após a exposição primária. Após um período variável, surgem infecções oportunistas graves, neoplasias secundárias ou doença neurológica clínica (agrupadas e classificadas como doenças indicadoras de AIDS ou doenças que definem a AIDS, discutidas mais tarde), o que implica que o paciente desenvolveu AIDS. FASE CRÔNICA Na fase crônica da doença, os linfonodos e o baço constituem os locais de replicação contínua do HIV e de destruição celular. Durante este período da doença, existe pouca ou nenhuma manifestação clínica da infecção pelo HIV. Portanto, esta fase é chamada período de latência clínica. Embora poucas células T do sangue periférico abriguem o vírus, a destruição de células TCD4+ nos tecidos linfoides (até 10% deles podem estar infectados) continua durante esta fase e o número de células TCD4+ circulantes diminui progressivamente. Eventualmente, ao longo de um período de anos, o ciclo regular de infecção viral, morte das células T e nova infecção causa declínio contínuo no número de células TCD4+ nos tecidos linfoides e na circulação. AIDS A fase final é a progressão para a AIDS, caracterizada pela falha da defesa do hospedeiro, um aumento substancial no número de vírus no plasma e doença clínica grave e potencialmente fatal. Normalmente, o paciente apresenta febre duradoura (>1 mês), fadiga, perda de peso e diarreia. EVOLUÇÃO CLÍNICA DA INFECÇÃO PELO HIV (A) Durante o período inicial após a infecção primária, há disseminação viral, desenvolvimento de resposta imune contra o HIV, e muitas vezes uma síndrome viral aguda. Durante o período de latência clínica, a replicação viral continua e a contagem de células TCD4+ diminui gradualmente, até atingir um nível crítico abaixo do qual existe um risco substancial de desenvolvimento de doenças associadas à AIDS. (B) Resposta imune à infecção pelo HIV. A resposta citotóxica de linfócitos T(CTL) contra o HIV é detectável durante 2a 3 semanas após a infecção inicial e atinge um pico entre 9 a 12 semanas. A expansão evidente dos clonesde células TCD8+ específicos para o vírus ocorre durante este período, e até 10% dos CTLs de um paciente podem ser específicos para o HIV em 12 semanas. a resposta imune humoral ao HIV chega ao pico em cerca de 12 semanas. MED RESUMOS PATOGENIA DA INFECÇÃO PELO HIV-1 A infecção inicial começa nos tecidos da mucosa, envolvendo principalmente células TCD4+ e células dendríticas, e se espalha para os linfonodos. A replicação viral causa viremia e ampla disseminação do vírus para tecido linfoide. A viremia é controlada pela resposta imune do hospedeiro e o paciente então entra em uma fase de latência clínica. Durante essa fase, a replicação viral nas células T e macrófagos permanece inalterada, mas existe alguma contenção imune do vírus (não mostrada). A destruição gradual das células CD4+ é contínua e. por fim, o número de células T CD4+ diminui e o paciente desenvolve sintomas clínicos de AIDS. CTL, Línfócitos T Citotóxicos A extensão da viremia, quantificada pelos níveis de RNA do HIV-1 no sangue, é um marcador útil da progressão da doença do HIV e é valiosa no tratamento dos indivíduos infectados pelo HIV. A carga viral no final da fase aguda reflete o equilíbrio entre o vírus e a resposta do hospedeiro, e em determinados pacientes pode permanecer bastante estável por vários anos. Este nível estacionário de viremia, chamado set point viral, é um preditor da velocidade de declínio das células T CD4+ e, portanto, da progressão da doença causada pelo HIV. Como a perda da contenção imune está associada ao declínio na contagem de células T CD4+, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) classificou a infecção pelo HIV e estratificou os pacientes em três grupos com base na contagem de células CD4+: maior ou igual a 500 células/μL, 200 a 499 células/μL e menos de 200 células/μL. Na ausência de tratamento, a maioria dos pacientes infectados pelo HIV progride para AIDS após uma fase crônica que dura de 7 a 10 anos, mas há exceções. Nos progressores rápidos, a fase crônica, intermediária, é reduzida para 2 a 3 anos após a infecção primária. Cerca de 5% a 15% dos indivíduos infectados são não progressores de longo prazo, definidos como indivíduos infectados pelo HIV-1 não tratados que permanecem assintomáticos por 10 anos ou mais, com contagem de células T CD4+ estáveis e baixos níveis de viremia no plasma (geralmente <500 cópias de RNA viral/mL). Surpreendentemente, cerca de 1% dos indivíduos infectados apresentam carga viral indetectável (<50 a 75 cópias de RNA / mL); estes foram chamados controladores de elite. Indivíduos com uma evolução clínica tão incomum atraiu grande atenção médica na esperança de que ao serem estudados, poderiam ser obtidos esclarecimentos sobre os fatores hospedeiros e virais que influenciam a progressão da doença. Até o momento, os estudos deste grupo indicam que as variáveis que influenciam a evolução da doença são muito heterogêneas. Na maioria dos casos, os isolados virais não apresentam anormalidades qualitativas, o que sugere que a evolução sem intercorrências não pode ser atribuída a um “mau” vírus. Em todos os casos, há evidências de uma resposta imune anti- HIV vigorosa, mas a correlação imune de proteção ainda é desconhecida. Alguns desses indivíduos apresentam altos níveis de respostas de células TCD4+ e CD8+ específicas para o HIV, e esses níveis são mantidos ao longo da infecção. A herança de determinados alelos de HLA parece correlacionar-se com a resistência à progressão da doença, talvez refletindo a capacidade de montar respostas antivirais pelas células T. INFECÇÃO LATENTE, RESERVATÓRIOS DO HIV Com a terapêutica antirretroviral eficiente, tem-se observado que a carga viral é mantida indetectável enquanto se mantém a medicação, mas que a viremia reaparece e progride quando o tratamento é suspenso MED RESUMOS Uma explicação para a reativação da viremia é a existência de infecção latente pelo HIV. Infecção latente por um retrovírus é condição na qual o DNA viral (provírus integrado ao DNA da célula) está silenciado, mas pode voltar a ser transcrito quando estimulado por fatores que revertem a latência. Infecção latente tem sido demonstrada de modo inequívoco com o HIV, especialmente em linfócitos T de memória, que permanecem quiescentes por longos períodos; embora existam demonstrações de infecção latente em linfócitos T foliculares, linfócitos T virgens, macrófagos, células dendríticas e astrócitos, não há evidências de que a latência nessas células tenha a estabilidade da encontrada em linfócitos T de memória. Na infecção latente, o vírus sobrevive, pois a célula infectada não é alvo de resposta imunitária nem de antirretrovirais, impedindo a efeito curativo do tratamento. Os mecanismos de latência são ainda pouco conhecidos. Há algumas hipóteses: (1) o DNA do provírus integra-se em íntrons de genes com grande atividade transcritora ou em regiões flanqueadas por heterocromatina, onde a transcrição gênica é menos ativa; (2) mecanismos epigenéticos, especialmente os que controlam DNA metiltransferases que metilam sequências de LTR do vírus que funcionam como promotores, silenciando-as por impedir a ligação de fatores ativadores de transcrição ou de histonas desacetilases, dificultando a desespiralização do DNA para transcrição; (3) fatores que interferem na disponibilidade de fatores de transcrição (p. ex., NFκB, NFAt, STAT5) que ativam a transcrição do DNA proviral; (4) bloqueio no transporte do RNA transcrito para o citoplasma. Com base nesses possíveis fatores de latência, têm sido tentadas moléculas capazes de revertê-la, induzindo a transcrição do vírus e a tradução de proteínas que marcariam a célula para ser eliminada pela resposta imunitária restabelecida pelo uso dos antirretrovirais. A retirada do tratamento, associada a medicamentos que revertem a latência, seguida da reintrodução de antirretrovirais, poderá ser, no futuro, uma estratégia para a erradicação do vírus. Células com infecção latente funcionam como reservatórios dos vírus, embora nem todos os reservatórios virais estejam relacionados com infecção latente. Células infectadas podem permanecer e proliferar em sítios onde a chegada de antirretrovirais é mais difícil, como o sistema nervoso central. Macrófagos, micróglia e astrócitos podem ser infectados e manter a proliferação viral sem se tornarem alvos de antirretrovirais, embora não alterem a viremia indetectável por ação do tratamento. Retirados os medicamentos, a viremia retorna a partir desse reservatório no SNC. MECANISMO DE DEFESA (a) fatores de restrição à multiplicação do vírus; (b) imunidade inata; (c) resposta imunitária adaptativa. Os primeiros mecanismos de defesa contra o HIV são representados por: Os fatores de restrição, que são a primeira linha de defesa do organismo contra vírus, são proteínas sintetizadas de forma constitutiva pelo hospedeiro que interferem desde a entrada do vírus na célula até sua montagem e exocitose; ou seja, tais moléculas restringem a replicação viral. MED RESUMOS De outro lado, o HIV possui formas ou modos de evasão que tornam esses mecanismos ineficientes, garantindo a persistência do vírus na maioria das pessoas infectadas. Nos indivíduos infectados são considerados progressores lentos e nos controladores de elite os mecanismos defensivos são mais eficientes. A resposta imunitária inata instala-se rapidamente: após a infecção, receptores de reconhecimento de agentes invasores (TLR, NLR, RLR) e fatores de restrição reconhecem o vírus e ativam fatores de transcrição associados a interferons (IRFs), os quais ativam a transcrição de interferons dos grupos 1 (alfa e beta) e 3 (delta). Interferons ativam genes codificadores de fatores de restrição. Além de IRFs, o vírus ativa o NFκB, que induz a expressão de genes pró-inflamatórios. NFκB ativado e outros fatores de transcrição (NFAT, STAT5) são importantes para ativar a transcrição do DNA proviral, favorecendo, portanto, a proliferação do vírus. Citocinas equimiocinas atraem e ativam células NK, que têm efeito citotóxico sobre células infectadas, lisando-as. Um mecanismo de resposta inata muito importante é a ação não citolítica de LTs CD8+, que, atraídos para o local, inibem a proliferação do vírus no interior de LT CD4+ sem exercer efeito citolítico. Tal efeito inibidor é mediado por um fator ainda não identificado, depende de contato com a célula infectada e não sofre restrição por MHC. Nos infectados progressores lentos e nos controladores de elite, essa atividade citotóxica, mas não citolítica de LT CD8+, é mais acentuada do que nos progressores rápidos A resposta imunitária adaptativa instala-se lentamente e torna-se evidente 4 a 6 semanas após a infecção (período de soroconversão), quando a viremia começa a cair. Nesse período, aparecem anticorpos e LT CD8+ citotóxicos ativados, o que reduz a viremia: a carga viral estabiliza-se em níveis muito baixos, podendo tornar-se indetectável; quanto menor a carga viral estabilizada, mais lenta é a progressão da doença. Os primeiros anticorpos a aparecer são anti-p24 e anti-gp120; seus títulos elevam- se rapidamente e mantêm-se altos até o início das manifestações de imunodeficiência, quando tendem a cair. Os primeiros anticorpos são ativadores do complemento e não neutralizam o vírus; anticorpos neutralizantes só aparecem após 8 a 10 semanas. Quanto mais precoce é a ativação de células auxiliares vírus-específicas, mais eficaz é o controle da viremia. O controle rápido da viremia na fase aguda da infecção deve-se à menor mutagenicidade do vírus nessa fase. Anticorpos neutralizantes e células citotóxicas mantêm a viremia baixa, mas não a elimina. Quando a viremia se estabiliza, mutações são frequentes. Mutações favorecem a glicosilação de gp120 e gp24, que modifica os epítopos por adição de glicanos da célula hospedeira. Resposta T citotóxica instala-se paralelamente à produção de anticorpos, sendo grande o número de linfócitos Tc (CD8+) antivírus nas fases iniciais da infecção (25% de células T CD8+ circulantes). A eliminação dos vírus faz-se por: (1) anticorpos neutralizantes, dos quais o vírus escapa por mutações; (2) anticorpos não neutralizantes – anti-p24 (core), antip17 (matriz) e anti-p120 (envoltório), que formam imunocomplexos com os vírus e facilitam sua retirada da circulação por fagócitos; (3) células T CD8+, que eliminam parte das células CD4+ infectadas. Tais mecanismos persistem na fase de viremia estabilizada, embora com perda de eficiência; cai o número de linfócitos T CD4+ e, sobretudo, de linfócitos T CD8+, por ação direta do vírus e por hiperestimulação do sistema imunitário. MED RESUMOS A instalação da AIDS ocorre quando os linfócitos estão em número reduzido e são menos capazes de responder aos estímulos, o que diminui a capacidade de sintetizar anticorpos neutralizantes e de originar LT CD8+ aptos a deter o vírus, permitindo a rápida elevação da viremia, a instalação de infecções oportunistas ou a exacerbação de infecções crônicas até então controladas. FASE AGUDA DA INFECÇÃO PELO HIV: Comportamento das células infectadas, retenção do vírus em linfonodos (LN) e resposta imunitária celular (T Citotóxica) e humoral (dados baseados na infecção humana e na infecção com o vírus da imunodeficiência de macacos). EVOLUÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV Relação da viremia com a resposta imunitária nas diferentes fases da infecção. MECANISMO DE IMUNODEFICIÊNCIA Os mecanismos de imunodeficiência são complexos e ainda não totalmente conhecidos. Destruição de LT CD4+ é o evento mais característico e mais importante: a AIDS manifesta-se justamente quando o número desses linfócitos cai abaixo de 200/μL. Há também redução de LT CD8+ e de anticorpos neutralizantes, em parte pela falta do estímulo auxiliar dependente de LT CD4+. A infecção com carga viral estabilizada entra em uma fase latente, com duração variável: curta em progressores rápidos e longa em progressores lentos e controladores de elite. Na fase latente, os LT CD4+ reduzem-se progressivamente. Os LT CD8+ que aumentaram na fase inicial da infecção também sofrem redução progressiva, embora em menor intensidade do que os LT CD4+. Com proliferação continuada do vírus, perda progressiva de LT CD4+ e alterações arquiteturais nos órgãos linfoides, instala- se a imunodeficiência que caracteriza a AIDS. Admite-se que grande parte da disfunção imunitária resulta de ativação continuada da resposta imunitária por persistência do vírus. Ativação persistente (hiperestimulação por antígenos virais e por antígenos da microbiota por alteração na permeabilidade intestinal) tem dois efeitos que agravam a doença: aumenta a proliferação do vírus e conduz a um estado de exaustão imunitária e senescência replicativa de linfócitos que reduz a sua atividade antiviral. A expressão de moléculas indicadoras de exaustão imunitária (PD-1, CTLA-4 e outras) aumenta progressivamente, enquanto linfócitos T e B e células NK mostram marcadores de exaustão, com reduzida capacidade de sintetizar moléculas efetoras e de proliferar. MED RESUMOS (1) perda progressiva de LT CD4+ pelo efeito citopático viral (a infecção dessas células causa destruição delas) por apoptose de linfócitos infectados e não infectados e por menor produção celular na medula óssea (infecção de células progenitoras CD34+ e CD4+ inibe a linfopoese); (2) alterações funcionais em LT CD4+ (defeitos no reconhecimento de antígenos, menor produção de citocinas e baixa resposta proliferativa) decorrentes de exaustão imunitária e de senescência replicativa induzidas por hiperestimulação antigênica, o que compromete a resposta imunitária celular; (3) menor atividade de LT CD8+ (citotóxicos) por falta de cooperação de LT CD4+; (4) defeitos na atividade de macrófagos e células apresentadoras de antígenos, apesar de essas células estarem ativadas na infecção; (5) embora raramente infectados, linfócitos B produzem menos anticorpos Tdependentes, pela baixa cooperação com linfócitos T; (6) com o progredir da infecção, o vírus sofre mutações e torna-se resistente aos LT CD8+; (7) na fase tardia da infecção, surge desorganização da arquitetura dos órgãos linfoides que compromete a resposta imunitária Em síntese, a patogênese da imunodeficiência na AIDS é complexa, em parte é desconhecida e envolve múltiplos fatores: CLASSIFICAÇÃO A classificação da infecção pelo HIV mais utilizada é a do Centro para o Controle de Doenças dos EUA (Centers for Disease Control – CDC, Atlanta, EUA), de 1993, que se baseia no estado imunitário do paciente (número de linfócitos T CD4+ no sangue periférico) e em categorias clínicas. Tal classificação foi feita antes do advento da terapia antirretroviral combinada e categoriza os indivíduos segundo a situação clínica ou laboratorial indicativa do grau de comprometimento imunitário. Como em outras classificações (p. ex., Sistema de Estágios da OMS), não há uma maneira de reclassificar os indivíduos de acordo com a restauração da imunidade e a recuperação clínica. No Brasil e em países com acesso a exames de quantificação da carga viral e de linfócitos T CD4+, a utilização desses sistemas vem perdendo importância como orientação aos profissionais de saúde. Adicionalmente, a prática de tratar todas as pessoas com HIV/AIDS (com poucas exceções) faz com que tais sistemas de classificação percam importância na prática clínica. A profilaxia para agentes infecciosos depende de cada paciente. As principais decisões terapêuticas podem ser tomadas com base nas manifestações clínicas e em parâmetros laboratoriais (número de linfócitos T CD4+ e carga viral) MED RESUMOS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Nos Estados Unidos, o paciente adulto típico com AIDS apresenta febre, perda de peso, diarreia, linfadenopatia generalizada, múltiplas infecções oportunistas, doenças neurológicas e, em muitos casos, neoplasias secundárias. Classificação da infecção pelo HIV em adolescentes e adultos (CDC) PATOGENIA DO ENVOLVIMENTO DO SNC Assim como o sistema linfoide, o sistema nervoso é alvo dainfecção pelo HIV. Macrófagos e micróglia, células do SNC que pertencem à linhagem de macrófagos, são os tipos celulares predominantemente infectados, pelo HIV, no cérebro. Acredita- se que o HIV seja carregado para o cérebro através de monócitos infectados. Dessa forma, os isolados de HIV do cérebro são quase exclusivamente M-trópicos. O mecanismo da lesão induzido pelo HIV no cérebro, no entanto, permanece obscuro. Uma vez que os neurônios não estão infectados, e a extensão das alterações neuropatológicas geralmente é menor do que o esperado pela gravidade dos sintomas neurológicos, a maioria dos médicos acredita que o déficit neurológico é causado de forma indireta pelos produtos virais e por fatores solúveis produzidos na micróglia infectada, como as citocinas IL-1, TNF e IL-6. AIDS INFECÇÕES OPORTUNISTAS Aproximadamente 15% a 30% dos indivíduos infectados pelo HIV não tratados desenvolvem pneumonia causada pelo fungo Pneumocystis jiroveci em algum momento durante a progressão da doença. Antes do advento da HAART, esta infecção era uma apresentação característica em cerca de 20% dos casos, mas a incidência é muito menor em pacientes que respondem a HAART. As infecções oportunistas representam a maioria das mortes entre os pacientes com AIDS não tratados. Muitas dessas infecções representam a reativação de infecções latentes, que geralmente são mantidas sob controle por um robusto sistema imune, mas não são completamente erradicadas porque os agentes infecciosos evoluíram para coexistir com seus hospedeiros. Atualmente, a frequência das infecções varia entre as diferentes regiões do mundo e foi substancialmente reduzida após o uso da terapia antirretroviral altamente ativa (chamada HAART ou ART), que depende de uma combinação de três ou quatro fármacos que bloqueiam diferentes etapas do ciclo de vida do HIV. MED RESUMOS A criptococose ocorre em cerca de 10% dos pacientes com AIDS. Em outras situações associadas à imunossupressão, a meningite é a principal manifestação clínica da criptococose. Toxoplasma gondii, outro invasor frequente do SNC na AIDS, causa encefalite e é responsável por 50% de todas as lesões de massa no SNC. O vírus JC, um papovavírus humano, é outro importante agente causador de infecções do SNC em pacientes infectados pelo HIV. Causa leucoencefalopatia progressiva multifoca. A infecção pelo vírus Herpes simples manifesta-se como ulcerações mucocutâneas que envolvem boca, esôfago, genitália externa e região perianal. A diarreia persistente, que é comum em pacientes não tratados com AIDS avançada, muitas vezes é causada por infecções com protozoários ou bactérias entéricas. A candidíase é a infecção fúngica mais comum nos pacientes com AIDS e a infecção da cavidade oral, vagina e esôfago é a manifestação clínica mais comum. Nos indivíduos infectados pelo HIV, a candidíase oral é sinal de descompensação imune e muitas vezes anuncia a transição para a AIDS. A candidíase invasiva é pouco frequente em pacientes com AIDS, e geralmente ocorre quando há neutropenia induzida por drogas ou uso de cateteres permanentes. O citomegalovírus (CMV) pode causar doença disseminada, mas geralmente afeta os olhos e o trato gastrointestinal. A coriorretinite costumava ser encontrada em aproximadamente 25% dos pacientes, mas diminuiu drasticamente após o início do HAART. A retinite por CMV ocorre quase que exclusivamente em pacientes com contagem de células TCD4+ inferior a 50 por microlitro. A infecção por CMV gastrointestinal, observada em 5% a 10% dos casos, manifesta-se como esofagite e colite, e esta última está associada a múltiplas ulcerações da mucosa. A infecção bacteriana disseminada por micobactérias não tuberculosas ou atípicas (principalmente Mycobacterium avium intracellulare) também ocorre tardiamente, associada ao quadro de imunossupressão grave. Coincidentemente com a epidemia de AIDS, a incidência de tuberculose aumentou drasticamente. Em todo o mundo, quase um terço de todas as mortes de pacientes com AIDS são atribuídas à tuberculose, mas esta complicação continua a ser incomum nos Estados Unidos. Pode haver tanto a reativação da doença pulmonar latente como uma nova infecção primária. Assim como acontece na tuberculose em outros quadros, a infecção pode permanecer limitada aos pulmões ou pode envolver múltiplos órgãos. A maior preocupação atualmente é o número cada vez maior de relatos que descrevem um número crescente de isolados resistentes a múltiplos medicamentos antimicobacterianos. DOENÇA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL O envolvimento do SNC é uma manifestação comum e importante da AIDS. Dos pacientes, 90% apresentam alguma forma de envolvimento neurológico à necrópsia, e 40 a 60% exibem disfunção neurológica clinicamente aparente. Em alguns pacientes, as manifestações neurológicas podem ser a única ou a mais antiga característica de apresentação da infecção pelo HIV. As lesões incluem uma meningoencefalite viral autolimitada ou meningite asséptica, mielopatia vacuolar, neuropatias periféricas e, mais comumente, encefalopatia progressiva denominada transtorno neurocognitivo associado ao HIV MED RESUMOS detecção de anticorpos; detecção de antígenos; cultura viral; amplificação do genoma do vírus. Os testes para detecção da infecção pelo HIV podem ser divididos basicamente em quatro grupos: 1. 2. 3. 4. As técnicas rotineiramente utilizadas para o diagnóstico da infecção pelo HIV são baseadas na detecção de anticorpos contra o vírus. Estas técnicas apresentam excelentes resultados e são menos dispendiosas, sendo de escolha para toda e qualquer triagem inicial. Porém detectam a resposta do hospedeiro contra o vírus, e não o próprio vírus diretamente. As outras três técnicas detectam diretamente o vírus ou suas partículas. São menos utilizadas rotineiramente, sendo aplicadas em situações específicas, tais como: exames sorológicos indeterminados ou duvidosos, acompanhamento laboratorial de pacientes, mensuração da carga viral para controle de tratamento, etc. DIAGNÓSTICO TESTE DE DETECÇÃO DE ANTICORPOS ELISA (TESTE IMUNOENZIMÁTICO) Este teste utiliza antígenos virais (proteínas) produzidos em cultura celular (testes de primeira geração) ou através de tecnologia molecular recombinante. Os antígenos virais são adsorvidos por cavidades existentes em placas de plástico e, a seguir, adiciona-se o soro do paciente. Se o soro possuir anticorpos específicos, estes serão fixados sobre os antígenos. Tal fenômeno pode ser verificado com a adição de uma antiimunoglobulina humana conjugada a uma enzima como, por exemplo, a peroxidase. Em caso positivo ocorre uma reação corada ao se adicionar o substrato específico da enzima. Esta técnica é amplamente utilizada como teste inicial para detecção de anticorpos contra o vírus, devido à sua facilidade de automação e custo relativamente baixo. Apresenta atualmente altas sensibilidade e especificidade. WESTERN-BLOT Este ensaio envolve inicialmente a separação das proteínas virais por eletroforese em gel de poliacrilamida, seguida da transferência eletroforética dos antígenos para uma membrana de nitrocelulose. Em um terceiro momento, a membrana é bloqueada com proteínas que são adsorvidas por sítios não ocupados pelos antígenos. Posteriormente a membrana é colocada em contato com o soro que se deseja pesquisar. As reações antígeno-anticorpo são detectadas por meio da reação com anti-imunoglobulina humana, conjugada com um radioisótopo ou uma enzima. A revelação é feita por auto-radiografia ou por substrato cromogênico. Geralmente este teste é utilizado para confirmação do resultado reagente ao teste ELISA (ou seja, teste confirmatório da infecção), devido à sua alta complexidade e custo. Tem alta especificidade e sensibilidade. IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA Fixadas em lâminas de microscópio, as células infectadas (portadoras de antígenos) são incubadas com o soro que se deseja testar. Depois, são tratadas com outro soro que contenha anticorpos específicos para imunoglobulina humana (anti-lg) conjugados a um fluorocromo.A presença dos anticorpos é revelada por meio de microscopia de fluorescência. Também é utilizada como teste confirmatório. RADIOIMUNOPRECIPITAÇÃO A detecção dos anticorpos decorre de reações com antígenos radioativos. Estes antígenos são obtidos de células infectadas, mantidas na presença de radioisótopos durante a síntese de proteínas virais. Precipitados formados da reação desses antígenos com anticorpos específicos são sedimentados, dissociados com detergente, e depois, analisados por eletroforese em gel de poliacrilamida. Seguese a auto-radiografia. É uma técnica menos conhecida, mas que pode ser utilizada para confirmação de diagnóstico. Outros testes para detecção de anticorpos: um grande número de testes rápidos para estudos de campo, triagens de grandes populações e para decisões terapêuticas em situações de emergência vêm sendo desenvolvidos, geralmente baseados em técnicas de aglutinação em látex e hemaglutinação. TÉCNICAS DE CULTURA VIRAL CULTURA DE CÉLULAS MONONUCLEARES DE SANGUE PERIFÉRICO PARA ISOLAMENTO DO HIV: Esta técnica foi inicialmente utilizada para caracterizar o HIV como agente causador da aids. As culturas são observadas quanto à evidência de formação sincicial (células gigantes multinucleadas), presença de atividade da transcriptase reversa e produção de antígeno p24 em sobrenadantes. São consideradas positivas quando dois testes consecutivos detectam a presença dos achados acima descritos em valores superiores ao limite de corte (cut-off). TESTES DE DETECÇÃO DE ANTÍGENO VIRAL Pesquisa de Antígeno p24: este teste quantifica a concentração da proteína viral p24 presente no plasma ou no sobrenadante de cultura de tecido. Embora esta proteína esteja presente no plasma de pacientes em todos os estágios da infecção pelo HIV, sua maior prevalência ocorre antes da soroconversão e nas fases mais avançadas da doença; o teste é realizado mediante a utilização da técnica de ELISA (imunoenzimático). CULTURA QUANTITATIVA DE CÉLULAS :É uma técnica que mede a carga viral intracelular, mediante a diluição seriada decrescente de uma população de 106 células do paciente infectado. Considera- se como positiva a menor diluição capaz de isolar alguma célula infectada. CULTURA QUANTITATIVA DE PLASMA: Técnica semelhante à anterior, porém utilizando alíquotas decrescentes de plasma. Considera-se como positiva a menor diluição capaz de infectar células mononucleares. TESTES DE AMPLIFICAÇÃO DO GENOMA VÍRUS Carga viral abaixo de 10.000 cópias de RNA por ml: baixo risco de progressão ou de piora da doença. Carga viral entre 10.000 e 100.000 cópias de RNA por ml: risco moderado de progressão ou de piora da doença. Carga viral acima de 100.000 cópias de RNA por ml: alto risco de progressão ou de piora da doença. Análise quantitativa direta da carga viral através de técnicas baseadas na amplificação de ácidos nucleicos, tais como a reação de polimerase em cadeia (PCR) quantitativa, amplificação de DNA em cadeia ramificada (branched-chain DNA ou bDNA) e amplificação seqüencial de ácidos nucleicos (nucleic acid sequence-based amplification ou NASBA). Embora as técnicas sejam diferentes, o PCR quantitativo e o NASBA apresentam alta sensibilidade, permitindo o acompanhamento da resposta terapêutica antiretroviral. Além disso, valores elevados de partículas virais detectados ao PCR quantitativo ou NASBA parecem estar relacionados com um maior risco de progressão da doença, independente da contagem de células TCD4+. Sugere-se sua monitorização a cada 3-4 meses. Em caso de início ou mudança de terapia antiretroviral, alguns autores recomendam uma dosagem da carga viral com 1 a 2 meses de tratamento, para avaliação da resposta ao esquema. Os resultados devem ser interpretados da seguinte maneira: CONTAGEM DE CÉLULAS CD4+ EM SANGUE PERIFÉRICO A contagem de células TCD4+ em sangue periférico tem implicações prognósticas na evolução da infecção pelo HIV pois é a medida de imunocompetência celular; é mais útil no acompanhamento de pacientes infectados pelo HIV. De maneira didática pode-se dividir a contagem de células T CD4+ em sangue periférico em quatro faixas: MED RESUMOS Maior que 500 células/mm3: estágio da infecção pelo HIV com baixo risco de doença. Há boa resposta às imunizações de rotina e boa confiabilidade nos testes cutâneos de hipersensibilidade tardia, como o PPD. Casos de infecção aguda podem apresentar estes níveis de células TCD4+, embora, de modo geral, esses pacientes tenham níveis mais baixos. Entre 200 e 500 células/mm3: estágio caracterizado por surgimento de sinais e sintomas menores ou alterações constitucionais. Risco moderado de desenvolvimento de doenças oportunistas. Nesta fase, podem aparecer candidíase oral, herpes simples recorrente, herpes zoster, tuberculose, leucoplasia pilosa, pneumonia bacteriana. Entre 50 e 200 células/mm3: estágio com alta probabilidade de surgimento de doenças oportunistas como pneumocistose, toxoplasmose de SNC, neurocriptococose, histoplasmose, citomegalovirose localizada. Está associado à síndrome consumptiva, leucoencefalopatia multifocal progressiva, candidíase esofagiana, etc. Menor que 50 células/mm3: estágio com grave comprometimento de resposta imunitária. Alto risco de surgimento de doenças oportunistas como citomegalovirose disseminada, sarcoma de Kaposi, linfoma não- Hodgkin e infecção por micobactérias atípicas. Alto risco de vida com baixa sobrevida.
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