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Libras I Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP F697L Forcadell, Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Libras I / Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 137 p. : il. Color. 1. Língua brasileira de sinais. 2. Interpretes para surdos. 3. Surdos - Educação. 4. Língua de sinais. 5. Aquisição da linguagem. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 371.912 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites Shutterstock e Pexels. AUTORA Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell ● Mestre em Ensino Formação Docente Interdisciplinar (UNESPAR); ● Especialista em Educação Especial: Área da Surdez – Libras (ESAP); ● Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica (ESAP); ● Especialista em Atendimento Educacional Especializado – AEE (UEM); ● Graduada em Pedagogia (UEM); ● Graduada em Letras com Habilitação em Libras (EFICAZ); ● Proficiência em Tradução/Interpretação de Libras (FENEIS); ● Proficiência em Tradução/Interpretação de Libras (PROLIBRAS); ● Técnica em Tradução/Interpretação de Libras (IFPR); ● Docente Universitária da Disciplina de Libras; ● Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Especial e Inclusiva – GEPEEIN (IFPR). CURRÍCULO LATES: http://lattes.cnpq.br/4629794516295407 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Prezado (a) acadêmico (a)! Que alegria estar com você novamente! Seja bem-vindo (a) à Disciplina de LIBRAS I. Chegou a hora de você se desafiar a praticar a Língua Brasileira de Sinais, conhecer os aspectos visuais e gramaticais, as propriedades e a formação dos léxicos na morfologia e na sintaxe que podem mudar o significado e o sentido dos sinais e formar frases para iniciar sua comunicação com os surdos. É importante refletir e saber utilizar cada formação de sinais e sua descrição imagética, pois pode descrever cada objeto, animais e pessoas. Vale lembrar que, para que você não perca o contato com a língua de sinais, é preciso exercitar os “olhos” para “ver” as complexidades da língua, e, permitir que suas “mãos” possam “falar” durante a prática dessa língua visuo-espacial. Essa disciplina te convida a mergulhar em um outro mundo, o das imagens em movimento, dos significados em comunicação, dos traços das expressões que traduzem todas emoções. Aprender língua de sinais é desafiante e instigante, e você acadêmico(a) poderá através desse material didático executar seus primeiros sinais e iniciar a comunicação com a comunidade surda. Portanto, aproveite este material didático que foi elaborado em 4 Unidades e apresenta conteúdos teóricos, mas, principalmente práticos. Sabemos que estudar essa disciplina exige contato com a prática, por isso, tentamos apresentar a você, exemplos sinalizados por essa autora e pelo Professor Me. Murilo Sbrissia Pitarch Forcadell, surdo e esposo da autora desse material didático, a quem agradecemos pela valorosa contribuição. Na Unidade I - DIVISÃO DA LÍNGUA DE SINAIS: ASPECTOS DA VISUALIDADE, você vai adquirir noções básicas da Libras reconhecendo os aspectos visuais que compõem a língua, desenvolver a consciência espacial, as expressões faciais e corporais e a percep- ção visual na língua de sinais, registrar o conceito de descrição imagética e identificar os processos de formação de sinais, analisando os conhecimentos linguísticos e culturais dos sujeitos surdos. Na Unidade II - CONVERSANDO EM LIBRAS, passaremos a conhecer e distin- guir os parâmetros da Libras na constituição dos sinais, percebendo os elementos visuais e estéticos na literatura sinalizada, aprenderemos o alfabeto manual e o sinal soletrado, a diferença entre os numerais cardinais, ordinais e quantidade nos diferentes contextos, e como executar os sinais conforme seus parâmetros de configuração de mão, utilizando esses sinais de maneira apropriada em situações comunicativas com surdos. Na Unidade III - APRESENTAÇÃO PESSOAL, apresentaremos as saudações em Libras em contextos formal e informal, você será capaz de usar adequadamente os pronomes e os advérbios de lugar na Língua Brasileira de Sinais e compreender a Libras em seus aspectos morfológicos e sintáticos. Na Unidade IV – OS CLASSIFICADORES NA LIBRAS, será compartilhado com você os verbos de locomoção e os verbos classificadores e seu sistema de flexão, para que inicie a construção de frases com verbos de locomoção e com verbos classificadores, diferenciando classificadores de adjetivos descritivos, bem como conhecer os vários tipos de verbos classificadores na Libras. Durante toda essa disciplina de Libras I, estaremos sempre ao seu lado, pois o nosso desejo é que você possa avançar mais e mais a cada Unidade de Estudo. Buscamos então, usar uma linguagem acessível para facilitar a apreensão dos conteúdos. Portanto, para que a aprendizagem de Libras se torne algo prazeroso e contagiante, você precisa ir além desse material didático, leia, releia, treine – se for o caso – o material, assista às videoaulas correspondentes e desafie-se a praticar os sinais. Não se esqueça de consultar os sites e links que sugerimos, a fim de complementar seus estudos. Procure aprimorar seus conhecimentos sobre o assunto com colegas que já cursaram Libras, busque conhe- cer e iniciar uma relação comunicativa com os surdos. O importante é não ficar parado, lembre-se que a Libras é a comunicação em suas mãos! Bons estudos e abraços sinalizados! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade UNIDADE II ................................................................................................... 34 Conversando em Libras UNIDADE III .................................................................................................. 68 Apresentação Pessoal UNIDADEIV ................................................................................................ 103 Os Classificadores na Libras 4 Plano de Estudo: ● Experiência visual: o ouvir pelos olhos e o falar com as mãos; ● Componentes não manuais: expressões faciais e corporais na Libras; ● A percepção e o processamento visual espacial dos surdos; ● Os aspectos da visualidade na educação dos surdos; ● A descrição imagética na Libras; ● Signo visual e suas propriedades na Libras. Objetivos da Aprendizagem: ● Adquirir noções básicas da Libras reconhecendo os aspectos visuais que compõem a língua; ● Desenvolver a consciência espacial, as expressões faciais e corporais e a percepção visual na língua de sinais; ● Registrar o conceito de descrição imagética; ● Identificar os processos de formação de sinais, analisando os conhecimentos linguísticos e culturais dos sujeitos surdos. UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell 5UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade INTRODUÇÃO Iniciamos esta unidade com um questionamento reflexivo a você acadêmico(a)! Já parou para pensar, se de repente você se visse obrigado(a) a se comunicar sem emitir sons, usar as mãos e as expressões faciais e corporais para ser compreen- dido(a)? Não te parece estranho, ter que criar estratégias para que as pessoas possam compreender seus pensamentos, seus sentimentos, suas emoções, seus conhecimentos, as informações, através de uma emissão não baseada em sons e falas orais? Você já parou para observar um grupo de surdos conversando? O que você sentiu? Como você se sentiria se estivesse no meio deles por alguns instantes? Se você já teve essa experiência, posso imaginar algumas das suas respostas ou reflexões para cada um desses questionamentos, se você ainda não teve essa experiência, sugiro que comece aos poucos a ir observando e tentando refletir sobre isso. Um dos pontos que certamente você irá perceber é a forma criativa que os surdos estabelecem para se comunicar através da comunicação visuo-espacial, o uso das expres- sões faciais e corporais, a sinalização rápida, o direcionamento dos olhos, os apontamentos, são pontos muito destacados nessa comunicação, a isso, damos o nome de experiência visual da surdez, ou seja, a ausência da audição faz com que os surdos recorram a outros caminhos para interagir e desenvolver suas necessidades de compreensão linguística. Não podemos confundir essa forma de comunicação como mímica, como muitas pessoas erroneamente o fazem. Já estudamos anteriormente que a língua que os surdos brasileiros utilizam em sua comunicação, ensino e aprendizagem (LIBRAS), passou a ser reconhecida através da Lei 10.436/2002, sendo assim, ela tem o mesmo status linguístico que as línguas orais, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa. Assim, a Libras é uma língua natural, relacionada aos costumes e à cultura da co- munidade surda brasileira, que flui de uma necessidade de comunicação entre as pessoas que utilizam a modalidade ou visuo-espacial para se comunicar. A experiência visual dos surdos, os componentes não-manuais, a percepção e o processamento visual espacial, os aspectos da visualidade na educação dos surdos, a descrição imagética e o signo visual e suas propriedades, a partir de agora farão parte dos nossos estudos que estão subdivididos em tópicos neste material didático. 6UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 1. EXPERIÊNCIA VISUAL: O OUVIR PELOS OLHOS E FALAR COM AS MÃOS Para iniciarmos os estudos deste capítulo, propomos apresentar uma síntese sobre a modalidade visuo-espacial, escrito por Heloisa Maria Moreira Lima Salles et al. (2007 p. 83-84) o texto a seguir é um convite para que você, acadêmico(a) mergulhe a fundo nas reflexões abordadas no livro de Salles, et al. (2007) intitulado: “Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica”, vol. I. Na caracterização das línguas de sinais, o primeiro aspecto a considerar é que essas línguas utilizam a modalidade visuo-espacial, que se distingue da modalidade oral-auditiva, utilizada pelas línguas orais. Essa oposição remete ao cerne do conceito de linguagem, suas propriedades e manifestações. Como salienta Brito (1995, p. 11), a linguista brasileira pioneira no estudo da Língua Brasileira de Sinais (Libras), o canal visuo-espacial pode não ser o preferido pela maioria dos seres humanos para o desenvolvimento da linguagem, posto que a maioria das línguas naturais são orais-auditivas, porém é uma alternativa que revela de imediato a força e a importância da manifestação da faculdade de linguagem nas pessoas. Heloisa Maria M. L.Salles et al. (2004), em Ensino de língua portuguesa para sur- dos: caminhos para a prática pedagógica, comenta: 7UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Um aspecto que se sobressai no contraste entre as modalidades visuo-es- pacial e oral-auditiva é a questão da arbitrariedade do signo linguístico. Esse conceito estabelece que, na constituição do signo linguístico, a relação entre o significante (imagem acústica / fônica) e o significado é arbitrária, isto é, não existe nada na forma do significante que seja motivado pelas propriedades da substância do conteúdo (significado). Uma característica das línguas de sinais é que, diferentemente das línguas orais, muitos sinais têm forte motiva- ção icônica. Não é difícil supor que esse contraste se explique pela natureza do canal perceptual: na modalidade viso-espacial, a articulação das unida- des da substância gestual (significante) permite a representação icônica de traços semânticos do referente (significado), o que explica que muitos sinais reproduzam imagens do referente; na modalidade oral-auditiva, a articulação das unidades da substância sonora (significante) produz sequências que em nada evocam os traços semânticos do referente (significado), o que explica o caráter imotivado ou arbitrário do signo linguístico nas línguas orais (SALLES et al., 2004, p. 83). Para compreender melhor sobre a construção da experiência visual das pessoas surdas, Strobel (2008) exemplifica que os surdos conseguem andar ao mesmo tempo em que escrevem a mensagem no celular, diferentemente dos ouvintes. Isso porque, com a impossibilidade ou dificuldade de ouvir, os surdos se baseiam na visão e, portanto, desen- volvem uma atenção visual muito grande, percebendo mais detalhes do que os ouvintes. Também possuem uma comunicação facial bastante expressiva e usam o corpo e muitos gestos para se fazerem entender. Sob esse ponto de compreensão é possível entender que, não há uma comunica- ção sem o estabelecimento do olhar, e, esse olhar além de estar associado à gramática espacial, também é pré-requisito que contribui na organização dos espaços físicos. Vivenciar a surdez como ‘experiência visual’ permite que o surdo possa compreen- der e interagir com o mundo, e no mundo, por meio da sua cultura, suas experiências, sua língua, suas representações e produções. A língua visual-espacial é capaz de dar ao surdo o direito de pensar, sonhar e planejar as coisas em sua língua natural. A língua de sinais acontece em um espaço de sinalização que inclui o próprio corpo sinalizante e o espaço à frente do seu corpo. Os sinais serão feitos neste espaço, como você pode observar no vídeo The Giving Tree in American Sign Language, acessando: https://www.youtube.com/watch?v=moUvQIsro_M FIGURA 1 - A REPRESENTAÇÃO DA ÁRVORE NA HISTÓRIA E O SINAL ÁRVORE Fonte: SILVERSTEIN. The giving tree in American Sign Language. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=moUvQIsro_M. Acesso em: 26 ago. 2021. 8UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade FIGURA 2 - SINAL DE ÁRVORE Fonte: SILVERSTEIN. The giving tree in American Sign Language. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=moUvQIsro_M.Acesso em: 26 ago. 2021. The giving tree (em português: A árvore generosa) que é traduzido em várias lín- guas, inclusive em línguas de sinais e latim. A análise do texto sinalizado foi feita com foco no uso da mão passiva e ativa na ação construída para a representação dos dois personagens principais da história O texto faz uso frequentemente dos classificadores, da mudança de papel e da pers- pectiva do sinalizador. Também é rico em expressões faciais e recursos não manuais. A árvore é representada pelo corpo do sinalizador. Para indicar a vida da árvore (as folhas, flores e os frutos), o sinalizador usa a configuração de mão, principalmente com as duas mãos, que indicam os galhos da árvore. Na verdade, a forma das mãos refere-se ao sinal ÁRVORE. Somente quando o sinalizador quer representar o menino é que usa uma das mãos (em sinal de ÁRVORE) como mão passiva. A mão ativa então representa o menino, incor- porando a inflexão dos verbos direcionais. No final da história, quando a árvore não tem galhos, o sinalizador não usa as mãos e a configuração de mão (em sinal de ÁRVORE). Aliás, para indicar o tronco cortado da árvore, o sinalizador se curva e a parte superior do corpo é abaixada. Assim, existe uma metáfora. O corpo para cima demonstra a vida (a árvore viva com galhos, flores, frutos), e o corpo para baixo, o fim da vida (a árvore sem galhos e com o tronco cortado). A perspectiva do sinalizador é baseada nessa contradição, e os recursos não manuais (por exemplo, o olhar do sinalizador) são direcionados por esta relação espacial; para cima, quando representa a árvore, e para baixo, quando representa o menino. 9UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade ● Conectando objetivos com estrutura: a mudança de papel Objetivo: Reconhecer a mudança de papéis como um marcador da mudança de sujeito e/ou objeto, bem como o uso do olhar para indicar o sujeito em uma sinalização. FIGURA 3 - MUDANÇA DE PAPÉIS NA SINALIZAÇÃO Fonte: adaptado pela autora: SILVERSTEIN. The giving tree in American Sign Language, 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=moUvQIsro_M. Acesso em: 26 ago. 2021. Para Campello (2008), o papel do olhar, movimentos dos lábios, estufar das boche- chas, boca em forma de “canudo”, movimentos das sobrancelhas, movimentos oculares, movimentos da testa, movimentos da cabeça, movimentos da face direita ou da esquerda puxando os lábios para cima ou para baixo e diversas formas da expressão facial são muito importantes: neles se mostra o “termômetro” em cada medida dos sinais ou dos gestos, para dar sentido ou dar o valor de tamanho ou de forma. As representações, associadas com as expressões faciais do narrador ou sujeito surdo, completam e acabam qualificando o signo visual em sinal. 10UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 2. COMPONENTES NÃO MANUAIS: EXPRESSÕES FACIAIS E CORPORAIS NAS LIBRAS A Libras conta com uma série de componentes não manuais, conforme Quadros e Karnopp (2004) esses componentes referem-se às expressões faciais e aos movimentos do corpo produzidos durante a realização do sinal ou realizados isoladamente para marcar construções sintáticas – marcar sentenças interrogativas, relativas, concordância, tópico e foco, marcar referência específica, referência pronominal, negação, advérbios, grau ou aspecto, bem como para marcar afetividade conforme ocorre nas línguas naturais e podem muitas vezes definir ou diferenciar significados entre sinais. Muitos ouvintes ao iniciarem seus estudos e aprendizagem na área da língua de sinais apresentam bastante dificuldades em compreender a diferença que a expressão da face tem para marcar aspectos gramaticais. Vejamos alguns depoimentos e relatos de alunos ouvintes iniciantes da aprendizagem da Libras: “É uma dificuldade pra gente de trabalhar a expressão facial...” “A expressão facial não é uma coisa rotineira para nós ouvintes, e por isso é tão difícil.” “O professor contou uma piada para nós. É a primeira vez que “ouço” uma piada de surdos e contada por um surdo, e me impressiona muito a capacidade do professor surdo de mostrar os sentimentos através do corpo, da fase e do olhar também. Não é só as mãos que falam, mas o conjunto. Para pessoas contidas como eu é um “baile” desenvolver, além das mãos, essa capacidade de falar com o corpo! Depois em outra atividade ele nos chamou a atenção para a expressão facial. Particularmente tenho bastante dificuldade neste aspecto: cara de gesso!” 11UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade A expressão facial e corporal é o quinto parâmetro na Língua Brasileira de Sinais e pode traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento, entre outros sentimentos, dando mais sentido à Libras e, em alguns casos, determinando o significado de um sinal, como, por exemplo: FIGURA 4 - EXPRESSÕES FACIAIS ASSOCIADAS ÀS PALAVRAS Fonte: arquivos da autora (2021). FIGURA 5 - EXPRESSÕES FACIAIS ASSOCIADAS ÀS PALAVRAS Fonte: arquivos da autora (2021). 12UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Para os usuários de língua de sinais, as expressões faciais têm duas funções distin- tas: as afetivas, capazes de expressar as emoções (assim como nas línguas faladas) e as gramaticais que se subdividem em lexicais e sentenciais (como orações relativas), servindo para distinguir funções linguísticas, uma característica única das línguas de modalidade visual-espacial. FIGURA 6 - EXPRESSÕES FACIAIS AFETIVAS Fonte: arquivos da autora (2021). FIGURA 7 - EXPRESSÕES FACIAIS AFETIVAS Fonte: arquivos da autora (2021). 13UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade FIGURA 8 - EXPRESSÕES FACIAIS GRAMATICAIS Fonte: arquivos da autora (2021). FIGURA 9 - EXPRESSÕES FACIAIS ASSOCIADAS À SENTENÇA INTERROGATIVAS Fonte: arquivos da autora (2021). 14UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade FIGURA 10 - EXPRESSÕES FACIAIS ASSOCIADAS À SENTENÇAS AFIRMATIVAS OU NEGATIVAS Fonte: arquivos da autora (2021). FIGURA 11 - EXPRESSÕES FACIAIS ASSOCIADAS À SENTENÇAS EXCLAMATIVAS Fonte: arquivos da autora (2021). Os trabalhos de Baker e Cokely (1980), Baker e Padden (1978) e Baker-Shenk (1983) são estudos que analisam a importância das expressões não-manuais expressa pela face (sobrancelhas franzidas, piscar dos olhos, movimentos de lábios) e pelo corpo (movimento de cabeça e tronco). Os estudos de Baker-Shenk (1983) serviram de base para Ferreira-Brito e Langevin (1995) identificarem as marcas não manuais em Libras. É importante registrar que duas expressões não manuais podem ocorrer simultaneamente, como podemos observar nas frases apontadas por Quadros apud Strobel (1995, p. 25), e sinalizadas pela autora deste material didático: 15UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade FIGURA 12 - EXPRESSÕES FACIAIS ASSOCIADAS ÀS CONSTRUÇÕES SINTÁTICAS PORTUGUÊS LIBRAS Expressão Você encontrou seu amigo? VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de interrogação) Você encontrou seu amigo. VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de afirmação) Você encontrou seu amigo! VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de alegria) Você encontrou seu amigo!? VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de dúvida/desconfiança) Você encontrou seu amigo. VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de negação) Você encontrou seu amigo? VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de interrogação/negação) Fonte: adaptado de: Strobel (1995). 16UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 3. A PERCEPÇÃO E O PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL DOS SURDOS Quando falamos em surdez como experiência visual, Skliar, (2013, p. 28) esclarece que todos os mecanismos de processamento da informação, e todas as formas de com- preender o universo em seu entorno, se constroem como experiência visual. O autor ainda em seus estudos complementa: Ao definir a surdez como uma experiência visual, que constitui e especificaa diferença, não estou restringindo o visual a uma capacidade de produção e compreensão especificamente linguística ou a uma modalidade singular de processamento cognitivo. Experiência visual envolve todo tipo de significa- ções, representações e/ou produções, seja no campo intelectual, linguístico, ético, estético, artístico, cognitivo, cultural etc (SKLIAR, 1998, p. 11). Assim, reconhecer e valorizar a importância da experiência visual para os sujeitos surdos, como forma peculiar de apreender o mundo e de posicionar-se diante dele, não só abre caminhos para que este se constitua na sua diferença, como também cria possi- bilidades no seu processo de aprendizagem, levando em consideração às características visuais, gestuais e espaciais da língua de sinais. Para Campello (2008) essa experiência visual do surdo está relacionada à percep- ção de signos visuais, e a partir dessa percepção os surdos criam os significados que irão compor a sua comunicação sinalizada: O signo visual nascido ou criado culturalmente pela comunidade Surda está em constante pesquisa, uma vez que envolve uma dada percepção visual e construção de ideias e imagens visualizadas que regem ou se constituem como princípios da língua natural e da modalidade comunicativa que pos- sibilita a comunicação interativa entre os Surdos em um mesmo ambiente linguístico ou distinto deles. Os signos visuais (ou do som da palavra para os oralizados) criam uma língua quando repassam uma ou várias informações para o cérebro e essa passa para uma ação verbal ou sinalizada (CAMPE- LLO, 2008, p. 100). 17UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Nessa linha de pensamento, Campello (2008, p. 91) ressalta que a Língua de Sinais tem “inúmeras formas de apreensão, interpretação e narração do mundo a partir de uma cultura visual”, o que significa que a Língua de Sinais, no âmbito da experiência visual, não pode ser pensada apenas em seus aspectos estruturais, mas ancora-se também na exploração da visualidade do sujeito. Sobre a experiência visual apontada por Campello (2008), temos que a cultura surda e identidade surda são formadas pelas experiências e pelos saberes do povo surdo. Todo o povo surdo traz consigo a experiência de ser surdo – e esta é uma experiência surda individual. Contudo, quando essa experiência pessoal se mistura com os saberes provenientes das experiências de outras pessoas surdas, incluindo aquelas que vêm do passado ou de outros lugares, nós podemos encontrar a cultura surda (BAHAN, 1994). Então, existem muitas formas pelas quais as pessoas surdas podem adquirir saberes do mundo surdo, todavia a Literatura Surda se torna uma das mais importantes. A Literatura Surda produzida pelos artistas surdos advém das suas experiências e dos saberes presentes no seu mundo surdo. Assim, os surdos levam adiante a sua cultura (linguística e de outros saberes) para outros surdos. A Literatura Surda pode incluir a escrita por surdos, mas é principalmente uma literatura em línguas de sinais, quase sempre produzida por pessoas surdas. Pode ser original (criada pelos próprios autores surdos), traduzida ou adaptada. Essas traduções e adaptações nem sempre são traduções de textos, mas sim de outros recursos como filmes e teatros (BAHAN, 2006). A Literatura Surda em língua de sinais é uma manifestação artística (com poemas, narrativas, teatros, piadas, entre outros) criada e apresentada por surdos. Entende-se que determinada produção faz parte da Literatura Surda se ela é criada e apresentada por surdos, o conteúdo mostra elementos da cultura surda, o público-alvo é um público de surdos, e/ou a forma de apresentação é por meio da língua dos surdos. A centralidade está na linguagem estética visual, a qual tem suas origens no uso da língua cotidiana, mas se modifica e se destaca por ser “diferente”, principalmente por aumentar a produção das imagens visuais. O objetivo das produções literárias é criar imagens visuais fortes e inesperadas. Por isso, podemos identificar alguns elementos nas narrativas, piadas, teatros e poemas em Libras que chamam a atenção para o aspecto visual. As produções literárias focalizam o uso do espaço. Os sinais que costumam ser colocados no espaço de sinalização tendem a ser altamente icônicos, ou seja, apresentam uma função majoritariamente ilustrativa, criando imagens impressionantes. O espaço, além de icônico, tende a ser metafórico. A incorporação dos personagens mostra diretamente como são estes personagens, quais os seus sentimentos e como ele se comporta. Essa “ação construída”, também conhecida como “incorporação”, é um recurso muito valorizado na Literatura Surda no qual o artista recria os personagens por intermédio do seu próprio corpo, como vimos anteriormente no tópico I: The giving tree (em português: A árvore ge- nerosa). A incorporação literária muitas vezes usa o exagero, com movimentos maiores e expressões não manuais mais fortes do que na simples conversa. 18UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 4. OS ASPECTOS DA VISUALIDADE NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS Ser professor de alunos surdos significa considerar suas singularidades de apreen- são e construção de sentidos, as possibilidades de leitura de imagens se bem exploradas pelo professor, vai na mesma direção da construção desses sentidos. Martins (2010) com- plementa que: [...] para que [o professor] possa garantir uma prática adequada e eficaz, precisa desenvolver uma pedagogia visual e ser capaz de “transformar as palavras, as frases, as significações, os signos em outros signos visuais, ou seja, em “palavras visuais” em imagem, porque isso facilita muito para os surdos (MARTINS, 2010, p. 39). A “experiência visual” na educação de surdos e na escolarização dos surdos com suas demandas de recursos gesto-visual e espacial aproxima-se sobremaneira da mesma tendência da chamada Sociedade da Visualidade, a sociedade da imagem. Como diz Jobim e Souza (2000, p.115), “vivemos na sociedade da visualidade, da estetização da realidade, da transformação do real em imagens [...]”. Nesse contexto as questões da surdez relacionadas à comunicação com base em signos visuais se destacam e se coadunam com as características do tempo contemporâneo: a visualidade anteriormente citada. Assim, a surdez passa a ser considerada e reconhecida por parâmetros diferentes dos tradicionais. Apresentamos, na sequência, o pensamento de alguns autores sobre tais questões que já foram ressaltadas por Skliar (1998): 19UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade TABELA 1 - A SURDEZ E A EXPERIÊNCIA VISUAL ► Wrigley (1996) afirma que é preciso compreender “a surdez não como uma questão de audiologia, mas em um nível epistemológico” (apud SKLIAR, 1998, p.10). ► Skliar (1998, p.11) destaca, por sua vez, que “A surdez constitui uma diferença a ser politicamente reconhecida; a surdez é uma experiência visual”. A surdez não é mais considerada como patologia clínica terapêutica e sim como uma “experiência visual”. ► Skliar (1995, p. 13) lembra que a Surdez está “ancorada em práticas de significação e de represen- tações compartilhadas entre os Surdos”. Os signos visuais e suas interpretações variam de acordo com a subjetividade visual, representatividade visual e pensamento visual dos sujeitos Surdos. ► Luklin (1998, p. 44) diz que “O conhecimento dos códigos do ver e do olhar de uma cultura visual possibilita outras interpretações e favorece os ‘estrangeiros’ que se aproximam da comunidade de pessoas Surdas”, facilitando o conhecimento pela visualidade e com os signos visuais. ► Lane (1992, p. 38) aponta que é “mencionada muita coisa sobre as perdas auditivas e nada sobre o aumento da percepção visual e raciocínio”. Fonte: Skliar (1998). A “experiência visual” em consonância com o tema aspectos da visualidade na Educação de Surdos, relacionado ao processo de ensinar e aprender com os Surdos, é assunto poucopesquisado, estudado e trabalhado aqui no Brasil, por vários fatores, dentre esses gostaríamos de destacar: ● ausência de uma política educacional específica para a educação dos surdos; ● exigência de integração dos componentes curriculares aos aspectos da visualidade na educação de Surdos; ● a área é ainda destinada a poucos, pois os estudos da imagem visual, da semió- tica imagética e mesmo da língua de sinais estão presentes como disciplina em raros cursos secundários ou superiores. Esses pontos comentados têm como objetivo chamar a atenção para uma outra questão importante relacionada ao processo de ensinar e aprender: o registro escrito dos conteúdos “ensinados”. Os signos da língua dos sujeitos surdos possuem um caráter vi- sual, independentemente da escrita e da oralidade. Esses possuem um “outro” modo de olhar, com percepções do mundo pautadas nesse caráter visual que difere do caráter da fala, que tem a palavra como signo. O registro por e com a escrita do português pode ser realizado de forma mecânica, sem “nada dizer” ao aluno surdo, mesmo que as anotações sejam feitas por ele. É sabido que muitos alunos não-surdos são exímios copistas sem que compreendam nada do que escrevem. As palavras para eles não possuem valor de signo. 20UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Para entender melhor sobre a aprendizagem por meio da visualidade com diversas formas de representação presentes no nosso dia a dia, recorremos às experiências visuais dos surdos e aliamos aos estudos da pesquisadora professora doutora Fernandes (2006) sobre “Práticas de letramentos na educação bilíngue para surdos” , em que a pesqui- sadora apresenta um roteiro de leitura com base na experiência visual, afirmando que esse canal sensorial deve ser amplamente explorado nos sujeitos surdos, e que a representação dos símbolos visuais estão intrinsecamente ligados ao processamento cognitivo, possibili- tando a construção de conhecimentos. No quadro a seguir, Fernandes (2006) define melhor como seria a Seleção de Textos para iniciar um roteiro de leitura com os surdos, alertando que é necessário selecionar textos que apresentam linguagem verbal e não-verbal, para que o aluno surdo possa fazer as associações entre as linguagens e constituir os sentidos no texto, como, por exemplo: fotografias, desenhos, caricaturas, cartazes, outdoors, folhetos, informativos, revistas, jornais, gibis, artes plásticas e cênicas, vídeos com trechos de programas de TV (novelas, humorísticos, propagandas...), filmes (legendados, preferencialmente), games eletrônicos, softwares, entre outros. TABELA 2 - SELEÇÃO DE TEXTOS Elementos intertextuais (Conhecimento prévio) ■ Exploração do conhecimento prévio das informações do texto, fazendo relações com o cotidiano dos alunos sobre o tema proposto, questionando os alunos e conduzindo as hipóteses de leitura, por meio do diálogo em Libras. ■ Organizar perguntas que conduzam à ‘adivinhação’ das palavras e/ou expressões desconhecidas presentes no texto. Se necessário, associar pistas visuais como desenhos, ícones, etc. ■ Seleção de aspectos que organizam o texto escrito e o inserirem em determinado gênero (carta, reporta- gem, notícia, bulas...) tipologia (narração, descrição, argumentação...) e formalidade (formal/informal). ■ Explorar sinais de pontuação (travessões, exclamações, interrogações...); a organização em verso ou prosa; o uso de maiúsculas/minúsculas como recurso estilístico; as caixas de texto, os des- taques, as notas de rodapé, os asteriscos, a cor e o formato das letras, as marcas da oralidade (repetições, reduções de palavras, gírias, dialetos...). ■ Seleção de aspectos gramaticais desconhecidos pelos alunos surdos: ordem dos constituintes (su- jeito-verbo-objeto), conhecimento de gênero e número (concordância nominal), concordância verbal (tempo/pessoa...), colocação pronominal, entre outros. Fonte: Fernandes (2006). 21UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Para Fernandes (2006) esse primeiro passo é importante porque permite ao aluno surdo combinar descrições imagéticas com as pistas textuais, com essa associação o professor poderá interagir com seu aluno, estimulando-o a refletir sobre as imagens e as palavras já conhecidas ou não por ele. A seguir propomos duas imagens que poderão nos ajudar a compreender melhor esse processo de exploração da experiência visual: FIGURA 13 - LINGUAGEM VERBAL FIGURA 14 - LINGUAGEM NÃO-VERBAL Perceba que na imagem acima se os textos trouxeram apenas informações escritas, se apresentaram como grandes cartas enigmáti- cas, como comparativamente a leitura desse texto em árabe nos pareceria. Já com esta imagem mesmo sem as informações es- critas, seria possível criar estratégias para conduzir o olhar do aluno para as ideias centrais do texto (lin- guagem não-verbal). Explorar o conhecimento prévio sobre a imagem, realizar relações com o cotidiano, chamar a atenção para as pistas de palavras que não estão descritas na imagem, mas podem ser mais fami- liares aos alunos, induzir o raciocínio para associações importantes, questionar e conduzir hipóteses de leitu- ra, ampliar o vocabulário com informações novas e etc. 22UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 5. A DESCRIÇÃO IMAGÉTICA NA LIBRAS Morfologicamente, dentro da especificidade da estrutura icônica, a transferência de tamanho serve para representar o signo visual do Urso Grande em sinais, e se utiliza da descrição imagética para representá-la, como mostra a forma do corpo e do tamanho do urso e em seguida, a descrição corporal e da grandeza do urso, como você pôde observar nas imagens acima. Isso reflete a transferência da percepção visual, cujos detalhes são transferidos mentalmente para o signo visual e, consequentemente, repassam para a imagem visual que acaba transmitindo o tamanho por meio de sinais. É sempre bom relembrar que na estrutura icônica cada língua de sinais representa seus referentes, ainda que de forma icônica, convencionalmente porque cada uma vê os obje- tos, seres e eventos representados em seus sinais sob uma determinada ótica ou perspectiva. Por exemplo, o sinal ÁRVORE em Libras representa o tronco da árvore através do antebraço e os galhos e as folhas através da mão aberta e do movimento interno dos seus dedos. Outros exemplos: 23UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade FIGURA 15 - SINAIS ICÔNICOS Fonte: arquivos da autora (2021). Também há um tipo de transferência icônica metafórica, como poderemos citar os exemplos: sabemos que a cor amarela semanticamente é diferente da cor amarela como objeto de pintura, e corresponde à forma que se assemelha com a cor do sol para demonstrar a visualidade mais chocante. A cor é um signo abstrato, mas sinalizamos a cor amarela junto com a metáfora ou com expressões chamativas que possam denominar a cor, como ouro, pessoa doente (de malária), as cores das flores (margaridas ou girassóis). Culturalmente, a cor preta associa-se com a cor da morte, do terror, da infelicidade, do prenúncio de dias ruins etc. A cor branca denuncia a inocência, a brancura da neve, a pureza etc. Todos os signos que sinalizamos denotam a expressividade da suavidade ou do grotesco, dependendo da manifestação das cores. Esses sinais podem ser incorporados como adjetivos, aumentativos, diminutivos, advérbios, e toda a gramática, como outras línguas, mas com suas próprias especificidades e particularidades. A sintaxe na Libras é a área da gramática que trata da estrutura da sentença. E anali- sar alguns aspectos dessa língua requer “enxergar” ou “ler” esse sistema que é viso-espacial e não oral-auditivo. Os mecanismos espaciais apontados por Quadros e Karnopp (2004 p. 127-133) que são importantes para estruturar a sintaxe da língua de sinais são os seguintes: a) Local particular – são os espaços paradefinir a localização espacial acompa- nhada com o referente. Quando sinalizam determinados sinais sempre acom- panham com a direção do olhar, dependendo da direção (lado esquerdo, lado direito, em cima, embaixo etc). 24UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade b) Direcionar a cabeça, os olhos e o corpo – é um dos mecanismos espaciais para definir onde os movimentos da cabeça, dos olhos ou do corpo estão e acompanham juntamente com a “apontação” ou de um sinal para determinado referente ao substantivo ou ponto de locação. c) Apontação ostensiva – é uma apontação para associar a locação com deter- minado substantivo ou ponto de locação. d) Usar o pronome – com a apontação para determinar a referência no ponto de locação. e) Usar um classificador – é um mecanismo muito importante, e utiliza-se como “transferência imagética”, cujos detalhes são transferidos mentalmente para o signo visual e, consequentemente, repassar para a imagem visual que acaba transmitindo o tamanho, forma, espaço, e dá o “toque visual” por meio de sinais. Também se usa para representar o referente em descrições imagéticas. f) Usar um verbo direcional – os verbos são recursos muito úteis para direcionar do ponto da partida ao ponto de chegada para determinados sinais. g) Estabelecer o referente – é um dos instrumentos para definir o referente mes- mo visível ou não visível em determinadas locações espaciais. h) Marcação não-manual – é a expressão facial e gramatical que complementa o discurso por meio de movimentos da cabeça e movimentos do corpo. 25UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 6. SIGNO VISUAL E SUAS PROPRIEDADES NA LIBRAS Se você conseguiu ler a mensagem acima sem dificuldades é porque seu dicionário mental reconheceu todas as letras e lhes atribuiu um sentido, não necessitando soletrar letra por letra para compreender a palavra invertida. É esse o mecanismo cognitivo que permitirá que os surdos passem da palavra ao significado, sem conhecer seus sons! Como ocorre com a gramática em todas as línguas, a Libras possui ordem básica da frase que é a SVO (Sujeito, Verbo e Objeto). Segundo as pesquisas da Libras, as regras gramaticais admitem também a flexibilidade na sentença. Pode ser também OSV e SOV quando há concordância e as marcas não-manuais. Podemos observar os exemplos: SVO - EL@ VENDER UVA OSV – UVA EL@ VENDER SOV – EL@ UVA VENDER O advérbio varia, assim como mostra a sentença em sinais: AMANHÃ J-O-Ã-O VENDER UVA ou J-O-Ã-O VENDER UVA AMANHÃ. 26UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Da topicalização muda a ordem da frase de acordo com a prosódia, ou das senten= -ças interrogativas ou da afirmativa ou de negação, assim como: Afirmativa: MAÇÃ, J-O-Ã-O GOSTA Negativa: MAÇÃ, J-O-Ã-O NÃO GOSTA Interrogativa: EST@ MAÇÃ, ONDE J-O-Ã-O PEGAR Quanto à estrutura sintática a Libras possui gramática diferenciada da Língua Portuguesa, portanto, não pode ser estudada com base no português. A construção de um enunciado obedece regras próprias que refletem a forma de o surdo processar suas ideias, com base em sua percepção visual espacial da realidade. Vamos ver alguns exemplos na tabela de como isso acontece: TABELA 3 - ESTRUTURA SINTÁTICA Exemplo (1) Libras: EU IR CASA (verbo direcional) Português: “Eu irei para casa” (observe que /para/ não se usa em Libras porque está incorporado ao verbo) Exemplo (2) Libras: FLOR EU – DAR MULHER ^ BENÇÃO (verbo direcional) Português: “Eu dei a flor para a mamãe.” Exemplo (3) Libras: PORQUE ISTO (expressão facial de interrogação) Português: “Para que serve isto?” Exemplo (4) Libras: IDADE VOCÊ (expressão facial de interrogação) Português: “Quantos anos você tem?” Fonte: Strobel e Fernandes (1998). Há alguns casos de omissão de verbos na Libras, como vamos exemplificar: TABELA 4 - OMISSÃO DE VERBOS NA LIBRAS Exemplo (1) Libras: CINEMA O-P-I-A-N-O MUITO BO@ Português: “O filme O Piano é maravilhoso!” Exemplo (2) Libras: PORQUE PESSOA FELIZ-PULAR Português: “...porque as pessoas estão felizes demais!” Exemplo (3) Libras: PASSADO COMEÇAR FÉRIAS EU VONTADE DEPRESSA VIAJAR Português: “Quando chegaram as férias, eu fiquei ansiosa pra viajar” Fonte: Strobel e Fernandes (1998). 27UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade A estrutura Semântica e Pragmática na Libras também apresenta distinção entre a língua falada ou escrita, como no caso da língua portuguesa. Na língua portuguesa, a estrutura semântica e pragmática se aborda em relação com os sentidos das palavras e das frases, por exemplo: “Me lambuzo todo chupando manga” e “Não posso sair com essa manga rasgada”. Os sinais, na sua maioria, não são correspondidos com as palavras da língua portuguesa, por exemplo: a) ÔNIBUS IGUAL COBRA – se refere a ônibus que faz muitos trajetos e leva muito tempo para chegar; b) TOCAR-VIOLINO – se refere à “monotonia” ou “ser monótono”; c) CONHECER – se refere a JÁ TER-ESTADO (conhece em algum lugar); d) VIVER – se refere à pessoa que está em determinado lugar. SAIBA MAIS ● Signo: é a união de um conceito com uma imagem acústica, que não é o som ma- terial, físico, mas a impressão psíquica dos sons, perceptível quando pensamos numa palavra, mas não a falamos. ● Signo Visual: é a união de um conceito com imagem visual com a impressão psí- quica da imagem, perceptível quando pensamos num significado. ● Percepção Visual: é uma de várias formas de percepção associadas à visão. Con- siste na habilidade de detectar as descrições e interpretar (ver) as consequências do estímulo da imagem, do ponto de vista lógico e cognitivo. ● Descrição Imagética: os detalhes são transferidos mentalmente para o signo vi- sual e consequentemente repassam para a imagem visual que acaba transmitindo o tamanho e o grau por meio de sinais. ● Experiência Visual: na teoria cultural e de Estudos Surdos, a língua de sinais vem construída e absorvida visualmente juntamente com a cultura do sem som. As percep- ções visuais e suas experiências visuais, no dia a dia, com seus “próprios significados não-sonoros” transportam aquilo que foi vivenciado por meio da língua de sinais. ● Aspectos da Visualidade: pela ausência do som, criamos as nossas informações sobre a cultura do seu criador em detrimento da maioria da comunidade Surda e seus usuários que perderam ou nunca tiveram contato com a língua de sinais. O artefato varia e é acrescido ao longo do tempo, dependendo da evolução da tecno- logia, de novas descobertas e dos recursos de que nós necessitamos para viver por meio da visão. Fonte: Campello (2009). 28UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade REFLITA Acadêmico(a), estamos chegando ao final dos nossos estudos do capítulo I, mas ainda há tempo para uma prazerosa reflexão em forma de poema “O Balé das mãos” de Ale- xis Pier Aguayo, que reflete a beleza da comunicação visual-gestual, em sua cadência e força. Te convido a acessar o Link e perceber na tradução em língua de sinais pelo intérprete Quintino Martins Oliveira, como as mãos são capazes de dançar e criar o mundo ao seu redor. Link: https://www.youtube.com/watch?v=U-7bpBFkoAI O Balé das Mãos Em meio a mil palavras Um único gesto molda toda a expressão do sentimento O corpo se expressa com desenvoltura E as mãos seguem graciosamente cada movimento Ouvidos trocados pelos olhos em uma escuta atenciosa E o balé das mãos segue incansável e incessante. O Silêncio quebrado às vezes pelo baque das mãos Só o silêncio, e as mãos seguem de forma majestosa. Cada par de mãos, iguais, e ao mesmo tempo diferentes. Dando mais uma graça a esse belíssimo espetáculo Onde cada movimento completa o próximo, e é completado pelo anterior. Cada forma, expressando todo o sentimento em si, presente. E mesmo no fim quando elas dão o sinal de adeus no fim do espetáculo, A levamos em nossa memória, em nossa alma e coração.A recordação daquela dança de movimentos, expressões e sentimentalismo, A magia fantástica do glorioso Balé das mãos. Alexis Pier Aguayo Fonte: Alexis Pier Aguayo (2016). 29UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Aprender Libras é entrar no mundo das imagens, da interpretação, da tradução, da leitura, da vivência com o corpo, das experiências visuais espaciais, cujo objetivo é compreender o outro. A teoria e prática da “experiência visual” se fundem porque para se atuar na prática é preciso de uma atividade teórica. Não é uma posição absoluta e sim relativa, ou trata-se de uma diferença, da visualidade, pois vamos considerar que nas relações entre teoria e prática, diremos que a primeira depende da segunda, na medida em que a prática da “experiência visual” é fundamento da teoria, uma vez que indica com precisão a definição de desenvolvimento e progresso do conhecimento visual. Nesta unidade, você estudou que a língua de sinais é formada através da experiência visual que é um “espaço de produção”, conforme diz Quadros (2007), igualmente na teoria cultural e de Estudos Surdos, que provêm da constituição dos surdos apresentando seus diversos artefatos. E que, historicamente, a língua de sinais sempre existiram, e existem, quando dois sujeitos usuários dessa forma de comunicação estabelecem suas comunicações. Aprendemos a diferenciar a modalidade de uma língua oral auditiva e uma língua de sinais, conhecendo os aspectos linguísticos que estruturam a Libras, além de compreender- mos que as características gramaticais da língua usada pela comunidade surda brasileira se estruturam pela modalidade visual espacial, ou seja, a linguagem do corpo, não como uma ilustração de uma narrativa oral, e sim a língua que atribui sentidos à identidade cultural surda. Vimos que, além dos sinais produzidos pelas mãos, as línguas de sinais usam recursos não manuais, que incluem expressões faciais, movimentos da boca, direção do olhar, direção dos movimentos das mãos, produzindo a formação linguística. Você também percebeu que a Libras não é uma língua tão fácil de aprender. Não é mímica. Para sua aquisição é necessário muito estudo e principalmente seu exercício corporal, na interação com as comunidades surdas ou com ouvintes que a dominem linguis- ticamente, internalizando sua aquisição. 30UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade Esperamos que esta Unidade tenha contribuído para uma melhor compreensão acerca dos aspectos da visualidade e do uso da “descrição imagética” para a educação de sujeitos Surdos do Brasil. Sem esquecer a importância da necessidade de criar um Estudo Visual para desenvolver, aprofundar, preservar os registros imagéticos e uma pesquisa acerca das descrições imagéticas que irão contribuir mais para o desenvolvimento dos estudos e pesquisas na área linguística nas próximas Unidades desse Material Didático e, consequentemente, darão suporte linguístico para a formação dos futuros professores. Para isso, é necessário que você, acadêmico(a) se proponha a aprofundar seus conhecimentos, buscando explorar os materiais complementares que foram sugeridos neste Material Didático. Para treinar as percepções visuais e cognitivas, é preciso elaborar, argumentando todos os aspectos dos sentidos e significados e, finalmente, coletar, ler e interpretar os sentidos e significados dos sinais através das narrativas. 31UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade LEITURA COMPLEMENTAR Caro (a), Acadêmico (a)! O livro de Karin Lilian Strobel (2008) “As imagens do outro sobre a cultura surda” é uma publicação muito importante nos Estudos Surdos. É um livro que traz as imagens do outro sobre a cultura surda a partir do olhar do próprio surdo. Para compreender melhor nossos estudos desse material didático, sugiro aprofundar os conhecimentos trazidos pela autora deste livro, que especificamente no capítulo 4, a autora descreve os artefatos cultu- rais do povo surdo. Parte das experiências visuais, conversa sobre a língua de sinais, uma língua que também é uma experiência visual, as famílias, a literatura, o lazer, as artes, a política e os materiais. Todos estes artefatos foram concebidos a partir do VER. Fonte: Strobel, UFSC (2008). 32UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade MATERIAL COMPLEMENTAR Como material complementar cito a história contada e ilustrada, intitulada “Casal Feliz” é uma criação do autor Cleber Couto (2010), que é surdo e atua principalmente nos seguintes temas: palhaços surdos, inclusão, educação dos surdos e Língua Brasileira de Sinais. A história que preferi apresentar suas páginas nesse material didático, fala sobre o encontro entre a mão vermelha e a mão azul, uma história contada a partir da percepção visual. Fonte: Cleber Couto (2010). 33UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade LIVRO Título: Curso de Libras 1 iniciante Autor: Nelson Pimenta e Ronice Muller de Quadros. Ano: 2013. Sinopse: O livro destina-se às pessoas ouvintes ou surdas in- teressadas em aprender ou melhorar conhecimentos em Língua Brasileira de Sinais - Libras. Propõe uma forma de aprender a língua natural dos surdos a partir do conceito de língua como fator de cultura e identidade dos indivíduos, ou seja: o aluno aprender, entendendo os mecanismos de comunicação e interação que acontecem no mundo dos surdos e, por isso, tem uma apreensão maior e mais sólida dessa língua rica e complexa. WEBSITE De forma especial, destacamos que na Literatura Surda podemos brincar com a nossa língua, a Libras. Nesse contexto, não se trata de algo meramente comunicativo, mas sim uma fonte de prazer e diversão – tanto para adultos quanto para crianças. O objetivo das produções literárias é criar imagens visuais fortes e inesperadas. Por isso, podemos identificar alguns elementos nas narrativas, piadas, teatros e poemas em Libras que chamam a atenção para o aspecto visual. Aproveitando para dar mais algumas dicas so- bre Literatura Surda para vocês, trago como sugestão explorar o repositório institucional da UFSC, nele há mais de 1000 vídeos selecionados no eixo Literatura Surda do Corpus da Libras, penso que os vídeos trarão elementos visuais completos que te farão entrar no mundo da visualidade surda. Você pode encontrar uma lista de vídeos através do link: https:// repositorio.ufsc.br/handle/123456789/172841 Há também o projeto Literatura Didática em Libras – disponível no link: https://vimeo.com/showcase/6241328 34 Plano de Estudo: ● Configurações de mão na Libras; ● Elementos visuais e estéticos possíveis na linguagem literária em Libras; ● O alfabeto manual da Libras; ● Os numerais na Libras; ● Calendário e advérbio de tempo. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer e distinguir os parâmetros da Libras na constituição dos sinais; ● Perceber os elementos visuais e estéticos na literatura sinalizada; ● Conhecer o alfabeto manual e o sinal soletrado; ● Diferenciar os numerais cardinais, ordinais quantidade nos diferentes contextos; ● Executar os sinais conforme seus parâmetros de configuração de mão; ● Utilizar os sinais de maneira apropriada em situações comunicativas com surdos. UNIDADE II Conversando em Libras Professora Me. Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell 35UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 35UNIDADE II Conversando em Libras INTRODUÇÃO A língua de sinais é a língua natural da comunidade surda. Esta língua, com regras morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas próprias, possibilita o desenvolvimento cognitivo da pessoa surda, favorecendo o acesso desta aos conceitos e aos conhecimentos existentes na sociedade. Pesquisas linguísticas têm demonstrado que as línguas de sinais são sistemas de comunicação desenvolvidos pelas comunidades surdas, constituindo-se em línguas completas com estruturas independentesdas línguas orais. Os sinais são formados a partir de parâmetros, como a combinação do movimento das mãos, com uma determinada configuração de mão, num determinado lugar de realização do sinal, orientação espacial, expressões. Ou seja, podemos definir que para compreender melhor e ter uma boa comu- nicação em Libras, não basta saber basicamente esses três recursos: datilologia, sinais e os sinais soletrados. É preciso mergulhar no aprendizado também dos Parâmetros que estruturam a língua: Configuração de Mão, Ponto de Articulação, Movimento, Orientação da Mão e Expressão Facial e Corporal. Nosso objetivo nesta Unidade de Estudos, é que você acadêmico(a), compreenda que a língua de sinais traz em sua estrutura a combinação desses parâmetros para que consigamos obter determinado sinal. Portanto, falar com as mãos é combinar os sinais que formam as palavras e as frases num determinado contexto. As línguas são consideradas naturais quando são próprias das comunidades inseri- das, que as têm como meio espontâneo de comunicação. Podendo ser adquiridas, através do convívio social, como primeira língua (ou língua materna), por qualquer um de seus membros desde a mais tenra idade. 36UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 36UNIDADE II Conversando em Libras 1. CONFIGURAÇÕES DE MÃO NA LIBRAS Caro (a) acadêmico (a), você lembra o que são as configurações de mão na Libras? Vamos relembrar? A configuração de mão é o ponto de partida da articulação do sinal, ou seja, a forma que a mão assume para realizar os sinais. Quando estudamos os Parâmetros da Libras, vimos que as configurações de mão estão presentes nos estudos da fonologia da Libras, ou seja, é uma unidade mínima fonético-fonológica, como temos o exemplo na língua oral, nos fonemas (a menor unidade distintiva da palavra) a palavra FALA a letra /F/ representa o fonema /f/(fê), Pata e Rata /P/ e /R/. Na língua de sinais, também temos as unidades mínimas distintivas, que combinadas produzem unidades significativas, os sinais que obedecem às regras para construir frases, e produzir contextos, como é o caso das configurações de mão, que quando combinadas a outros parâmetros produzem o sinal. Uma das tarefas de um investigador de uma determinada língua de sinais é identi- ficar as configurações de mão, os pontos de articulação, os movimentos, a direcionalidade do sinal e as expressões que têm um caráter distintivo. Isso pode ser feito comparando-se pares de sinais que contrastam minimamente, um método utilizado na análise tradicional de fones distintivos das línguas naturais. 37UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 37UNIDADE II Conversando em Libras Então, vamos analisar o valor contrastivos dos parâmetros fonológicos na Libras, e observar que o contraste de apenas um dos parâmetros altera o significado dos sinais. ● Pares mínimos na Libras FIGURA 1 - SINAIS QUE SE OPÕEM QUANTO À CONFIGURAÇÃO DE MÃO Fonte: Arquivos da autora (2021). FIGURA 2 - SINAIS QUE SE OPÕEM QUANTO AO MOVIMENTO Fonte: Arquivos da autora (2021). FIGURA 3 - SINAIS QUE SE OPÕEM QUANTO AO PONTO DE ARTICULAÇÃO Fonte: Arquivos da autora (2021). 38UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 38UNIDADE II Conversando em Libras A linguística contrastiva é uma forma de trabalhar com o conhecimento explícito no ensino de segunda língua. Envolve a comparação entre duas ou mais línguas quanto aos níveis fonológico, semântico, pragmático, morfológico e sintático, (QUADROS, 1997, p. 102-102). O domínio que o professor tem das semelhanças e diferenças da Libras e do Português contribui para que construa estratégias explicativas que favoreçam a aprendiza- gem dos alunos. Talvez você esteja se perguntando… O que são os Parâmetros da Libras? Então, vai aí uma síntese. TABELA 1 - PARÂMETROS NA LIBRAS Fonte: Arquivos da autora (2021). SAIBA MAIS Para saber mais sobre os Parâmetros em língua de sinais, sugiro que você acesse o vídeo do professor Everaldo Ferreira “Aula de Libras” destinado a surdos e ouvintes que querem aprender a Língua Brasileira de Sinais. Com o auxílio de animações, locuções e legendas, o professor ensina, passo a passo, os sinais básicos para se comunicar a partir do vocabulário de temas específicos como os Parâmetros em Libras. Link: http://tvines.org.br/?p=707 Fonte: TV, Inês. Aula de Libras. Rio de Janeiro. Disponível em: http://tvines.org.br/?p=707. Acesso em: 29 ago. 2021. 39UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 39UNIDADE II Conversando em Libras As Configurações de Mão (CM) podem ser feitas pela mão dominante (direita, se você for destro ou esquerda se você for canhoto) ou pelas duas mãos, dependendo do sinal a ser executado. Observe no quadro a seguir os sinais em Libras e as suas configurações de mão. Vale lembrar que, nas configurações de mão estão presentes as letras do alfabeto manual, os números e outras diferentes formas de mão. FIGURA 4 - CONFIGURAÇÕES DE MÃO REALIZADOS PELA MÃO DOMINANTE Fonte: Arquivos da autora (2021). FIGURA 5 - MESMA CONFIGURAÇÃO DE MÃO PARA VÁRIOS SINAIS Fonte: Arquivos da autora (2021). 40UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 40UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 6 - CONFIGURAÇÃO DE MÃO, COM APENAS UMA MÃO Fonte: Arquivos da autora (2021). FIGURA 7 - DUAS CONFIGURAÇÕES DE MÃO DIFERENTES Fonte: Arquivos da autora (2021). 41UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 41UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 8 - DUAS CONFIGURAÇÕES DE MÃO IGUAIS Fonte: Arquivos da autora (2021). 42UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 42UNIDADE II Conversando em Libras 2. ELEMENTOS VISUAIS E ESTÉTICOS POSSÍVEIS NA LINGUAGEM LITERÁRIA EM LIBRAS Na Unidade de Estudos I, falamos um pouco sobre a literatura surda e agora quere- mos analisar com você, acadêmico(a) alguns poemas que também foram disponibilizados a você pelo link: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/172841 e Literaturas Didáticas em Libras no link: https://vimeo.com/showcase/6241328 ● Espaço Metafórico O espaço, além de icônico, tende a ser metafórico. Tomando como exemplo o poe- ma “Como veio a alimentação”, de Fernanda Machado (2011), analisamos a posição do lavrador rural e do morador urbano: 43UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 43UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 9 - ESPAÇO METAFÓRICO Fonte: Adaptado de Fernanda Machado (2011). Assim, o uso de espaço para articular os sinais mostram a metáfora de que “o mais alto tem poder”. ● Espaço Simétrico Outra forma de utilizar o espaço é a simetria, a ocorrência de sinais de maneira espelhada. Encontramos esse recurso no poema narrativo “Voo sobre Rio”, de Fernanda Machado (2013). FIGURA 10 - ESPAÇO SIMÉTRICO EM VOO SOBRE RIO Fonte: adaptado de Fernanda Machado (2013). 44UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 44UNIDADE II Conversando em Libras ● Mesma Configuração de Mãos Outra maneira de brincar com a língua é usar sinais das mesmas configurações de mão ou configurações novas e inesperadas. Vemos esses fenômenos, principalmente, nas narrativas infantis, nas quais podemos contar uma história em que o sinal do protagonista e outros sinais utilizados no decorrer do conto apresentam a mesma configuração de mão. Identificamos esse recurso na obra “Vaca surda de salto alto” de Marina Teles (2019), nos momentos em que a narradora produz os sinais de VACA, USAR-SALTO-ALTO, VACA- -GORDA, AVIÃO e CELULAR, todas com a configuração de mão em “Y”. FIGURA 11 - MESMA CONFIGURAÇÃO DE MÃO Fonte: Marina Teles (2019). Nesta mesma obra, também vemos brincadeiras com a língua, quebrando suas próprias regras para a criação dos sinais de BRINCOS, OI, VACA-COMER com a mesma configuração de mão em “Y”. FIGURA 12 - MESMA CONFIGURAÇÃO DE MÃO Fonte: Marina Teles (2019).45UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 45UNIDADE II Conversando em Libras Esses elementos podem ser simplesmente estéticos – porque é prazeroso ver essas escolhas – ou podem ser metafóricos – por exemplo, se as configurações de mão estão todas fechadas (sugerindo força, peso ou algo acentuado), abertas (sugerindo algo leve e positivo) ou curvadas (com características mais negativas). ● Múltiplas Perspectivas Por meio das múltiplas perspectivas, podemos ver produções de ação e reação, inclusive no momento da sinalização. Um exemplo disso se encontra na narrativa “Bolinha de Ping-Pong”, de Rimar Segala, (2009) na qual vemos pessoas jogando com uma bola, enquanto a bola pula e é rebatida. A perspectiva pode ser explorada por meio do afasta- mento ou da aproximação. O sinal da bola pulando, visto de maneira afastada, utiliza um classificador que expressa objetos pequenos; quando a bola é rebatida e se aproxima, ela se torna maior e acaba sendo representada pela cabeça do artista. Em “Tinder”, de Anna Luiza Maciel, (2018) a personagem mulher mexe com o celular e, a cada ação, enxergamos através da perspectiva do próprio celular. Essa diferen- ciação da perspectiva cria uma sensação de “desfamiliarização”, um elemento da literatura no qual vemos o cotidiano de uma perspectiva diferente da esperada. ● Incorporação de Personagens Na Literatura Surda, não falamos tanto do que acontece, pois preferimos mostrar o que acontece. A incorporação dos personagens mostra diretamente como são estes personagens, quais os seus sentimentos e como ele se comporta. Essa “ação construída”, também conhecida como “incorporação”, é um recurso muito valorizado na Literatura Surda no qual o artista recria os personagens por intermédio do seu próprio corpo. A incorporação literária muitas vezes usa o exagero, com movimentos maiores e expressões não manuais mais fortes do que na simples conversa. A artista Klícia Campos (2017), na tradução do cordel “Antônio Silvino, rei dos can- gaceiros”, se torna um cangaceiro macho; em “Bolinha de Ping-Pong”, Rimar Segala (2009) que descreve os dois jogadores de tênis de mesa, um homem e uma mulher, antes do jogo e, na sequência, incorpora cada personagem rebatendo a bola. Também podemos mostrar animais, plantas e objetos inanimados pela incorpora- ção. Quando damos forma humana aos não humanos, utilizamos um fenômeno chamado antropomorfismo. Podemos também dar intenções, emoções e até a fala humana para estes não humanos. O artista literário vai escolher dentre as opções de mapeamento entre os corpos do humano e do personagem em questão. A exemplo disso podemos ver no personagem de sapo de “O sapo e o boi”, de Nelson Pimenta (1999). 46UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 46UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 13 - INCORPORAÇÃO DE PERSONAGEM Fonte: Nelson Pimenta (1999). Nesses exemplos, vemos que podemos utilizar a cabeça do artista para representar a cabeça dos animais, enquanto outras partes do corpo (como a língua comprida do sapo e o chifre do boi) exigem que o artista use as mãos para criá-las. A expressão facial e o uso de outros elementos não manuais, como a direção do olhar e a abertura dos olhos, são recursos especialmente importantes nesses exemplos de antropomorfismo, visto que muitas vezes os objetos não têm mãos e a comunicação não manual é a única opção possível. Usar as mãos para criar partes do corpo é um exemplo do uso de classificadores, os quais também fazem parte da Literatura Surda. Os classificadores colocados e movi- mentados dentro do espaço de sinalização criam imagens visuais para o público. Podem apresentar múltiplas perspectivas de um personagem, do mais distante ao mais próximo, ou então, podem ser classificadores com configurações de mão inesperadas ou criativas. 47UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 47UNIDADE II Conversando em Libras 3. O ALFABETO MANUAL DA LIBRAS Iniciamos esse tópico com os estudos da pesquisadora Audrei Gesser (2009), que apresenta em seu livro intitulado, “Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surdo” com uma abordagem bem clara sobre o alfabeto manual em Libras. Vale muito a pena você conhecer todas as temáticas trazidas no livro pela autora, por hora, vamos tentar compreender como ela cria esse espaço de estudos em torno do alfabeto manual. A autora começa fazendo um questionamento, que muitas pessoas têm dúvidas: “a língua de sinais é o alfabeto manual?” (GESSER, 2009, p. 28). De forma alguma. O alfabeto manual é utilizado para soletrar manualmente as palavras e é também conhecido como soletramento digital ou datilologia, é apenas um recurso utilizado por falantes da língua de sinais. Não é uma língua, e sim um código de representação das letras alfabéticas como, por exemplo: 48UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 48UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 14 - TIPOS DE ALFABETOS Fonte: Arquivos da autora (2021). Acreditar que a língua de sinais é o alfabeto é fixar-se na ideia de que a língua de sinais é limitada, já que a única forma de expressão comunicativa seria uma adaptação das letras realizadas manualmente, convencionadas e representadas a partir da língua oral. Imaginemos, por exemplo, quanto tempo levaria um surdo para falar uma sentença ou, ampliando bem a questão, ter uma conversa filosófica, se utilizasse apenas o soletramento manual? Travar uma conversa dentro deste enquadre s-o-l-e-t-r-a-d-o-s-e-r-i-a-c-a-n-s-a-t- -i-v-o-e-m-o-n-ó-t-o-n-o-(-u-f-a-!-). Entretanto, é importante que se diga que o alfabeto manual tem uma função na interação entre os usuários da língua de sinais. Lança-se mão desse recurso para soletrar nomes próprios de pessoas ou lugares, siglas, e algum vocabulário não existente na língua de sinais que ainda não tenha sinal. Aqui chegamos num ponto bem importante: o “Batismo do Sinal Pessoal”. Os surdos brasileiros se batizam por meio de sinais. Na verdade, é um ritual que acontece quando um surdo ou ouvinte entra na comunidade surda ou passa a ter contato com surdos. Eles olham para a pessoa e identificam alguma característica que seja específica desta pessoa e lhe dão um sinal. Veja os exemplos a seguir: 49UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 49UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 15 - SINAL DE BATISMO EM LIBRAS Fonte: Arquivos da autora (2021). Ao ser batizada, a pessoa recebe um sinal por causa do destaque da sua ca- racterística, se essa caraterística mudar ao longo do tempo, por exemplo, como o braço quebrado do Murilo que foi curado com o tempo, o seu sinal permaneceu o mesmo. Quando questionado sobre o porquê do seu sinal, ele explica o contexto em que foi batizado. Os usuários de língua de sinais, em algumas situações, fazem empréstimos da grafia da língua oral, recorrendo à datilologia para realizar sinais de pontuação (tais como, vírgulas, ponto final, ponto de interrogação, sinais matemáticos etc.) que, na maioria das vezes, são desenhadas no ar. O mesmo pode ocorrer com as preposições ou outras classes de palavras. Entretanto, soletrar não é um meio com um fim em si mesmo. Palavras comu- mente soletradas podem e de fato são substituídas por um sinal. Assim, podemos afirmar que esse recurso funciona potencialmente nas interações para incorporar sinais a partir do entendimento conceitual entre interlocutores – uma vez apreendida a ideia convencionam- -se os sinais para substituir a datilologia de um dado vocábulo, por exemplo. No Brasil, o alfabeto manual é composto de 27 formatos (contando o grafema ç que é a configuração de mão da letra c com movimento trêmulo). Cada formato da mão corresponde a uma letra do alfabeto do português brasileiro: 50UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 50UNIDADE II Conversando emLibras FIGURA 16 - ALFABETO MANUAL Fonte: Arquivos da autora (2021). É importante ressaltar que o soletramento, tanto na sua forma receptiva (do ponto de vista de quem lê) quanto produtiva (do ponto de vista de quem realiza), supõe/implica letramento. O soletrando que não for alfabetizado (escrita/leitura) na língua oral de sua comunidade de fala, por exemplo, terá as mesmas dificuldades de um indivíduo iletrado para lançar mão deste uso, por exemplo: 51UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 51UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 17 - DIFICULDADE DE COMPREENSÃO DE SOLETRAMENTO Fonte: Arquivos da autora (2021). Para finalizar, a soletração manual não é uma representação direta do português, é uma representação manual da ortografia do português, envolvendo uma sequência de confi- gurações de mão que tem correspondência com a sequência de letras escritas no português. Seguindo a proposta de Battison (1978), palavras do português podem ser em- prestadas à língua de sinais brasileira, via soletração manual. Por exemplo, o sinal “AZL” ou “AL” é derivado da soletração manual A-Z-U-L, assim como o sinal “NUN” é derivado da soletração N-U-N-C-A, conforme ilustram os exemplos abaixo: FIGURA 18 - SOLETRAÇÃO MANUAL Fonte: Arquivos da autora (2021). 52UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 52UNIDADE II Conversando em Libras 4. OS NUMERAIS NA LIBRAS As línguas podem ter formas diferentes para apresentar os numerais quando utili- zados como cardinais, ordinais, quantidade, medida, idade, dias da semana ou mês, horas e valores monetários, isso também acontece na Libras.Sendo assim, neste tópico vamos aprender um pouco sobre isso. É erro o uso de uma determinada configuração de mão para um numeral cardinal sendo utilizada em um contexto onde o numeral é ordinal ou quantidade, por exemplo: o numeral cardinal 1 é diferente da quantidade 1, como em LIVRO 1, que é diferente de PRI- MEIRO-LUGAR, que é diferente do numeral PRIMEIRO, que é diferente de PRIMEIRO-AN- DAR, que é diferente de PRIMEIRO-GRAU, que é diferente de MÊS-1. Estas diferenças serão trabalhadas neste tópico, para que você possa compreender melhor através dos sinais que utilizamos para exemplificar. 53UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 53UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 19 - NÚMEROS CARDINAIS Fonte: Arquivos da autora (2021). Observe que os números cardinais não possuem movimento. FIGURA 19 - NÚMEROS ORDINAIS Fonte: Arquivos da autora (2021). Observe que do 1º ao 9º tem a mesma forma dos cardinais, mas os ordinais possuem movimento. Outra observação importante é que os ordinais do 1º ao 4º têm movimentos para cima e para baixo e os ordinais de 5º ao 9º têm movimentos para os lados. A partir do numeral 10 não há mais diferença entre os cardinais e ordinais. 54UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 54UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 19 - NÚMEROS QUANTIDADE Fonte: Arquivos da autora (2021) Observe que os números quantidade são utilizados para quantidade de pessoas, coisas, animais etc., dos numerais 1 ao 4, note que os dedos estão na vertical, do numeral 5 ao 9 seguem a mesma sinalização dos números cardinais. ● Valores Monetários Pesos e medidas: para representar valores monetários de 1 até 9, usa-se o sinal do numeral correspondente ao valor, incorporando a este o sinal VÍRGULA ou, também, após o sinal do numeral correspondente acrescenta-se o sinal de R$ “REAL”. Para valores de 1.000 até 9.000 usa-se a incorporação do sinal VÍRGULA ou PONTO. 55UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 55UNIDADE II Conversando em Libras ● Formas de Plural Há plural na Libras no uso repetido de sinais ou indicando a quantidade. FIGURA 20 - FORMAS DE PLURAL INDICANDO QUANTIDADE Fonte: Arquivos da autora (2021). 56UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 56UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 21 - CLASSIFICADORES POSSUEM PLURAL Fonte: Arquivos da autora (2021). Intensificadores e Advérbio de modo: utiliza-se a repetição exagerada para intensi- ficar o significado do sinal. FIGURA 22 - INTENSIFICADORES Fonte: Arquivos da autora (2021). ● Advérbio de modo MUITO: utilizado como intensificador em Libras e expresso através das expressões facial e corporal ou de uma modificação no movimento do sinal RÁPIDO: para estabelecer um modo rápido de se realizar a ação, há uma repetição do sinal da ação e a incorporação de um movimento acelerado. 57UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 57UNIDADE II Conversando em Libras 5. CALENDÁRIO E ADVÉRBIO DE TEMPO Na Libras não há marca de tempo nas formas verbais, é como se os verbos ficas- sem na frase quase sempre no infinitivo. O tempo é marcado sintaticamente através de advérbios de tempo que indicam se a ação está ocorrendo no presente: HOJE, AGORA; ocorreu no passado: ONTEM, ANTEONTEM; ou irá ocorrer no futuro: AMANHÃ. Por isso os advérbios geralmente vêm no começo da frase, mas podem ser usados também no final. Quando não há, na frase, um advérbio de tempo específico, geralmente a frase, no presente, não é marcada, ou seja, não há nenhuma especificação temporal; já para a frase no passado, pode-se utilizar o sinal PASSADO ou o sinal JÁ, e para a frase no futuro, pode-se utilizar o sinal FUTURO: 58UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 58UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 23 - MARCAÇÃO DE TEMPO Fonte: Arquivos da autora (2021). FIGURA 24 - DIAS DA SEMANA Fonte: Arquivos da autora (2021). 59UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 59UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 25 - MESES DO ANO Fonte: Arquivos da autora (2021). FIGURA 26 - ESTADOS DO TEMPO Fonte: Arquivos da autora (2021). 60UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 60UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 27 - ESTADOS DO TEMPO Fonte: Arquivos da autora (2021). FIGURA 28 - ESTAÇÕES DO ANO/TEMPO/CLIMA Fonte: Arquivos da autora (2021). 61UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 61UNIDADE II Conversando em Libras FIGURA 29 - TEMPO/CLIMA Fonte: Arquivos da autora (2021). 62UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 62UNIDADE II Conversando em Libras SAIBA MAIS Fonte: SHUTTERSTOCK. Disponível em: https://www.shutterstock.com/. Acesso em: 26 ago. 2021. REFLITA Os surdos podem dançar? Precisamos nos despir de preconceitos! É assim que as 21 dançarinas surdas do Grupo de Artes Performativas da Associação Chinesa de Pessoas com Deficiência exibem o seu número mais conhecido, a dança Qianshou Kuanyin ou Bodhisattva. Esse espetáculo prende a atenção de todos, pois as dançarinas surdas for- mam uma fila vertical e 42 braços promovem diferentes gestos harmoniosos simultanea- mente, reproduzindo a imagem do Buda de Mil Mãos, encontrada em muitas grutas da China. Os métodos para a percepção dos sons pelas bailarinas vão desde a marcação rítmica no próprio corpo, até a utilização de uma sala especial, com caixas acústicas co- locadas sob o piso de madeira, o que favorece a percepção dos ritmos através da vibra- ção provocada no corpo. Esse espetáculo foi criado por um famoso coreógrafo chinês, Zhang Jigang, e o vídeo está no site do Youtube desde junho de 2007, permanecendo disponível desde então. Assista você mesmo: http://br.youtube.com/watch?v=Iq9IOkWYlyY Fonte: YOUTUBE. Grupo de Artes Performativas da Associação Chinesa de Pessoas com Deficiência. Disponível em: http://br.youtube.com/watch?v=Iq9IOkWYlyY. Acesso em: 29 ago. 2021. 63UNIDADE I Divisão da Língua de Sinais: Aspectos da Visualidade 63UNIDADE II Conversando em Libras CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta Unidade de Estudos, você viu que a realização dos sinais em Libras obedece a parâmetros que orientam o ponto de articulação, a forma assumida pela mão, o tipo de