Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO As características anatômicas e funcionais dos membros inferiores em condição de repouso e durante os movimentos do corpo humano em uma perspectiva biomecânica. PROPÓSITO A compreensão dos movimentos combinados dos membros inferiores, desde tarefas simples do cotidiano até gestos desportivos complexos, é fundamental para o profissional que trabalha com o movimento. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a importância da cintura pélvica e da articulação do quadril em repouso e em movimento MÓDULO 2 Reconhecer o comportamento da região do joelho a partir de suas características estruturais e funcionais MÓDULO 3 Identificar os ajustes estruturais e funcionais que ocorrem na região do tornozelo e pé em repouso e movimento INTRODUÇÃO A característica bípede do ser humano faz com que a condição de equilíbrio seja constantemente colocada à prova, em função da sua marcha. Dessa forma, os membros inferiores assumem papel vital na autonomia do indivíduo. Isso faz com que os profissionais da área da saúde relacionados ao movimento devam ter conhecimento sobre as variáveis anatômicas e funcionais que interferem nos membros inferiores, que vão influenciar o comportamento do corpo como um todo. VALE REFORÇAR QUE OS ASPECTOS RELACIONADOS À ARTROCINEMÁTICA (POSSIBILIDADES DE MOVIMENTO DE UMA ARTICULAÇÃO) E À OSTEOCINEMÁTICA (TRAJETÓRIA QUE O SEGMENTO CORPORAL EFETUA NO ESPAÇO, COM BASE NO MOVIMENTO DE UMA ARTICULAÇÃO) SERÃO A BASE PARA O NOSSO ESTUDO. Vamos analisar também os conjuntos de forças internas e externas que atuam sobre o quadril, o joelho e o tornozelo, ao passo que essas forças devem ser identificadas sob risco de uma má execução do movimento e a potencialização de uma lesão. Hamilton e outros colaboradores (2013, p. 119) afirmam: “a análise dos movimentos do cíngulo do membro inferior precisa sempre ser determinada em termos da ação da coluna vertebral e do quadril”. O complexo inferior. MÓDULO 1 Identificar a importância da cintura pélvica e da articulação do quadril em repouso e em movimento COMPLEXO DO QUADRIL Vamos iniciar o nosso conteúdo apresentando elementos que fazem parte do complexo do quadril. ARTROCINEMÁTICA E OSTEOCINEMÁTICA DO COMPLEXO DO QUADRIL A cintura pélvica e a articulação do quadril, ou coxofemoral, fazem parte de um conjunto sinérgico, vital para o bom funcionamento dos membros inferiores e da coluna vertebral, em função das características estruturais e resultantes funcionais da região. Isso ocorre porque a massa corporal situada acima da primeira vértebra sacral (S1) é distribuída a partir da cintura pélvica para os membros inferiores. O mesmo processo ocorre no sentido contrário, ou seja, as cargas que têm origem nos membros inferiores, como, por exemplo, em um salto, chegam à coluna vertebral, passando pelas articulações do quadril e cintura pélvica. A AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DOS MEMBROS INFERIORES ESTÁ DIRETAMENTE RELACIONADA À MOBILIDADE DA CINTURA PÉLVICA. O complexo do quadril. ATENÇÃO A valorização funcional dessa região jamais deverá ser negligenciada pelos profissionais da área da saúde! Caso isso ocorra, haverá maior predisposição a lesões, o que pode gerar alterações funcionais e dor na região. Agora, vamos conhecer um pouco mais sobre essas estruturas e as suas funcionalidades. Alguns detalhes anatomofuncionais sobre a cintura pélvica são interessantes. Por exemplo, a estrutura pélvica serve como local para inserção de 28 músculos relacionados aos movimentos do esqueleto axial e membros inferiores, a partir dos quadris, mas nenhum desses músculos atua especificamente para movimentar isoladamente a cintura pélvica. NA PRÁTICA, OS MOVIMENTOS PÉLVICOS ESTÃO RELACIONADOS AOS MOVIMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL E QUADRIS. SÃO OS AJUSTES FINOS QUE OCORREM NO POSICIONAMENTO DA CINTURA PÉLVICA QUE CONCORREM PARA MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO EM POSTURA ERETA. A artrocinemática da cintura pélvica permite identificar os seguintes movimentos e suas respectivas amplitudes (ADM): PLANO SAGITAL – EIXO LATEROLATERAL: ANTEVERSÃO, BÁSCULA ANTERIOR, DESVIO ANTERIOR OU INCLINAÇÃO ANTERIOR: Deslocamento da pelve para frente a partir da acentuação da lordose lombar. ADM de 70° a 75°. RETROVERSÃO, BÁSCULA POSTERIOR, DESVIO POSTERIOR OU INCLINAÇÃO POSTERIOR: Deslocamento da pelve para trás a partir da retificação da lordose lombar. ADM de 50° a 55°. PLANO FRONTAL – EIXO ANTEROPOSTERIOR: INCLINAÇÃO LATERAL OU DESVIO LATERAL: É o movimento da pelve tendo como base o desnivelamento de uma das cristas ilíacas. ATENÇÃO Precisar a amplitude do movimento é mais difícil, pois, na realidade, ele ocorre em função do movimento de flexão lateral da coluna vertebral – segmento lombar e/ou por diferença no comprimento dos membros inferiores. PLANO TRANSVERSO – EIXO LONGITUDINAL: ROTAÇÃO PÉLVICA DIREITA OU ESQUERDA: É o giro da cintura pélvica em torno do eixo longitudinal da coluna vertebral – segmento lombar. ATENÇÃO Aqui, vale destacar que os movimentos intervertebrais entre L4-L5 e L5-S1 são de baixíssima amplitude. Cintura pélvica. Hall (2013, p. 240) afirma que: “na articulação lombossacra, é permitida rotação na ordem de 5°”. Visão pélvica frontal e sagital. Quanto à osteocinemática, vale destacar que, em postura ereta, o ângulo lombopélvico é de aproximadamente 30°. Dessa forma, a pelve, quando observada no plano sagital, encontra-se ligeiramente inclinada para frente. Já ao ser apreciada no plano frontal anterior, as cristas ilíacas devem estar niveladas. ARTICULAÇÃO DO QUADRIL OU COXOFEMORAL A articulação do quadril (coxofemoral) é a articulação esferoidal entre a cabeça do fêmur e o acetábulo. Em função dessa característica estrutural, a articulação apresenta movimento nos três planos ortogonais. Aproximadamente, 70% a 75% da cabeça do fêmur é envolvida pelo acetábulo, ficando o percentual restante revestido pelo labrum acetabular. Estruturalmente, há um forte suporte ligamentar, em especial, do ligamento iliofemoral ou ligamento Y, que dá suporte anterior à articulação do quadril, resistindo aos movimentos de extensão, hiperextensão, rotação interna, e ainda, alguma rotação externa. O ACETÁBULO, ALÉM DE ACOPLAR A CABEÇA FEMORAL, APRESENTA UMA IMPORTANTE FUNÇÃO BIOMECÂNICA DURANTE A MARCHA, COM FLUTUAÇÕES DO NÍVEL DE PESO CORPORAL ENTRE 13% ATÉ 300% NAS FASES DE OSCILAÇÃO E DE APOIO MÉDIO, RESPECTIVAMENTE. (SILVA, 2015, p. 74) Articulação do quadril. Quanto à artrocinemática da articulação do quadril, podemos observar os seguintes movimentos e amplitudes (ADM): PLANO SAGITAL – EIXO LATEROLATERAL: FLEXÃO DO QUADRIL: Movimento de aproximação da face anterior da coxa da face anterior do tronco. ADM de 70° a 140°. Agora você deve estar pensando: Por que uma variação tão grande de amplitude? A amplitude do movimento de flexão da articulação do quadril tem, dentre um dos seus fatores limitantes, o grau de estiramento dos músculos isquiotibiais. Assim, com a articulação do joelho em extensão, a menor amplitude é alcançada (±70°), já com o joelho flexionado, ocorre um aumento dessa amplitude (±140°). EXTENSÃO DO QUADRIL: Retorno do movimento de flexão até no máximo a posição anatômica. Dessa forma, a amplitude está diretamente relacionada à ADM da flexão, ou seja, variando também de 70° a 140°. HIPEREXTENSÃO: Deslocamento do segmento coxa para trás a partir do plano frontal médio. ADM de 4° a 15°. SAIBA MAIS O ligamento iliofemoral pode restringir tanto esse movimento que ele deixará de ocorrer na articulação do quadril, e a coxa tem seu deslocamento posterior em função da acentuação da lordose lombar, ou seja, báscula pélvica anterior. Com o joelho fletido, a extensão de quadril diminui devido à resistência do reto femoral. PLANO FRONTAL – EIXO ANTEROPOSTERIOR: ABDUÇÃO DO QUADRIL: Movimento de deslocamento para lateral do segmento coxa. ADM de aproximadamente 30°. ADUÇÃO DO QUADRIL: Retorno do movimento de abdução – dessa forma, apresentaamplitude semelhante. SAIBA MAIS Caso o quadril seja levemente flexionado, o movimento de adução pode ser continuado, fazendo com que a coxa em deslocamento “cruze” sobre a coxa da perna de base. ADM de aproximadamente 20°. PLANO TRANSVERSO – EIXO LONGITUDINAL: ROTAÇÃO INTERNA DO QUADRIL: Tem como base o giro para “dentro” do segmento coxa, o que, a partir da posição anatômica, pode ser mais bem visualizado ao se observar o pé girando medialmente. ADM de aproximadamente 70°. ROTAÇÃO EXTERNA DO QUADRIL: Tem como base o giro para “fora” do segmento coxa. A partir da posição anatômica, pode ser mais bem visualizado ao se observar o pé girando lateralmente. ADM de aproximadamente 90°. No plano transverso e eixo longitudinal, mas fora da posição anatômica, dois outros movimentos são comumente realizados: ABDUÇÃO HORIZONTAL DO QUADRIL: O movimento tem início com a articulação do quadril flexionada a aproximadamente 90° (coxa paralela ao solo). É o deslocamento lateral do segmento coxa. ADUÇÃO HORIZONTAL DO QUADRIL: Considerando a mesma posição inicial do movimento de abdução, e o deslocamento medial, ou para dentro, do segmento coxa. OBSERVE QUE NÃO HOUVE DETERMINAÇÃO DA ADM QUE PODE VARIAR MUITO DE INDIVÍDUO PARA INDIVÍDUO. Vejamos agora algumas considerações funcionais relevantes: A cápsula articular do quadril é mais densa na parte anterior e superior, onde as sobrecargas são maiores, sendo bem mais fina na parte posterior e inferior, em função da restrição imposta pelo sistema locomotor passivo. Na prática, os ligamentos iliofemoral, pubofemoral e isquiofemoral não resistem ao movimento de flexão, ficando todos eles frouxos durante esse movimento. Considerando a posição anatômica como referência, a abdução da articulação do quadril tem sua amplitude “comprometida” em função do trocanter maior do fêmur, que atua na linha de ação do ilíaco, ou seja, ocorre contato osso a osso. Com a articulação do quadril flexionada e/ou rodada externamente, não há esse contato, e a amplitude é aumentada. Importante Pense que, na amplitude dos movimentos articulares do quadril, você deve identificar: 1. As restrições ligamentares 2. O grau de deformação da cápsula articular 3. A capacidade de estiramento dos músculos antagonistas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Em comportamento análogo à articulação do ombro, o labrum acetabular oferece um encaixe mais eficaz da cabeça do fêmur à cavidade acetabular, o que reduz o estresse na articulação, tornando-a mais estável. Dessa forma, o desgaste dos elementos articulares é minimizado, em especial, a cartilagem articular. Contudo, para que essa premissa seja verdadeira anatomicamente, a estrutura articular deverá estar íntegra e as cargas devem chegar aos quadris de maneira equilibrada. PRINCIPAIS AÇÕES MUSCULARES E TORQUES ARTICULARES (FORÇA E RESISTÊNCIA) NO COMPLEXO DO QUADRIL Atividades cotidianas, como caminhada, sentar-se e levantar-se, ou ainda, subir uma escada, geram alguma forma de solicitação sobre os músculos do quadril e, consequentemente, algum condicionamento muscular. OS MOVIMENTOS DE EXTENSÃO, EM FUNÇÃO DE SUA AÇÃO PROPULSORA, E O DE ABDUÇÃO DO QUADRIL, EM FUNÇÃO DE SUA AÇÃO ESTABILIZADORA, SÃO MAIS SOLICITADOS DURANTE A MARCHA QUANDO COMPARADOS AOS MÚSCULOS FLEXORES E ADUTORES DO QUADRIL. Na prática, os músculos do quadril precisam ser “equilibrados” para que os extensores e os abdutores não tenham suas ações preponderando sobre os flexores e adutores, respectivamente. Outro aspecto importante é o comportamento anatômico dos músculos que atuam na articulação do quadril, pois vários desses músculos, por exemplo, o reto femoral, são bi ou multiarticulares. Músculos anteriores e laterais da coxa. Os músculos da região do quadril, pelo fato de serem multiarticulares, podem repercutir em outros segmentos corporais. Por exemplo: na postura ereta e encurtados devido a uma baixa flexibilidade, os músculos isquiotibiais tendem a promover uma anteversão pélvica, acentuando a lordose lombar. Além disso, esses músculos exercem função sinergista no movimento de extensão da articulação do quadril, como em um ato de subir um degrau ou a realização de um exercício “4 apoios”. Já que falamos em extensão do quadril, há um outro músculo muito importante para realização desse movimento: o glúteo máximo, que, atuando de maneira sinérgica com os isquiotibiais, potencializa o movimento de extensão. Músculos isquiotibiais. Dois importantes aspectos devem ser considerados: 1 Isquiotibiais em insuficiência ativa. Tomemos como base a extensão do quadril em “4 apoios”, mantendo a articulação do joelho flexionada. Essa condição coloca os isquiotibiais em insuficiência ativa, o que tende a aumentar a tensão no glúteo máximo. Para ser plenamente estimulado, o movimento de extensão do quadril (ação agonista do glúteo máximo) deverá vir acompanhado de rotação externa. Assim, ocorrerá uma maior solicitação, em função do pleno encurtamento muscular. 2 Agora, vamos conversar sobre os músculos responsáveis pela flexão da articulação do quadril. Os dois principais flexores são o reto femoral e o iliopsoas. É importante ter em mente que isolar a ação desses músculos é impossível, logo, eles e os demais músculos acessórios, como o sartório, estarão ativos na flexão do quadril. Comecemos pelo reto femoral, que é um dos quatro músculos que constituem o quadríceps femoral, mas, para que possa ser potencialmente estimulado, deve ter sua ação destacada no movimento de flexão do quadril. Por isso, na prática, é importante gerar estímulos específicos no movimento de flexão. Reto femoral e iliopsoas. O reto femoral é sinergista do iliopsoas, e este tende a acentuar a lordose lombar, em função da sua inserção proximal. Isso exige do executante uma constituição anatômica favorável à prescrição do exercício, ou seja, curvatura fisiológica da coluna vertebral normal, além de uma ótima estabilização do tronco, em especial, na região abdominal, a partir dos músculos do “core”. TALVEZ, VOCÊ ESTEJA SE PERGUNTANDO: ENTÃO, NÃO DEVO ESTIMULAR INTENCIONALMENTE O ILIOPSOAS? A resposta é não! Assim como qualquer outro músculo, estando a estrutura anatômica ajustada, o iliopsoas também deve ser estimulado quanto ao fortalecimento e ao alongamento. Isso porque a ação dos músculos extensores do quadril pode sobrepujar a ação dos músculos flexores e, quando esses não são estimulados de maneira regular, pode ocorrer algum desequilíbrio. Em relação ao músculo sartório, vamos entender que, além de ser acessório para o movimento de flexão do quadril, ele é agonista dos movimentos de abdução e rotação externa na mesma articulação. Além disso, por ser um músculo longo e delgado, apresenta vulnerabilidade estrutural quando a intensidade do estímulo tende a ser aumentada de maneira desordenada e muito intensa. Agora, falaremos sobre o movimento de abdução do quadril, no qual os músculos glúteo médio e tensor da fáscia lata são protagonistas. Mas vamos observar que são anatomicamente bem distintos. O GLÚTEO MÉDIO ESTÁ LOCALIZADO NA FACE LATERAL DA PELVE. TÃO IMPORTANTE QUANTO CONHECER A SUA FUNÇÃO DE AGONISTA DO MOVIMENTO DE ABDUÇÃO É ENTENDER QUE, FUNCIONALMENTE DURANTE A MARCHA, É ELE QUEM CONFERE ESTABILIDADE AO QUADRIL, QUANDO SOMENTE UM DOS PÉS ESTÁ EM CONTATO COM O SOLO (APOIO SIMPLES). Na prática, quando o glúteo médio está “fraco” durante a fase de apoio simples da marcha, a pelve tende a se inclinar lateralmente, o que tende a potencializar os mecanismos lesivos relacionados não só ao quadril, mas a toda a estrutura lombopélvica e o joelho. SAIBA MAIS Temos o tensor da fáscia lata (TFL), que, como o próprio nome sugere, apresenta uma faixa longa de tecido conjuntivo que percorre a lateral da coxa, tendo sua fixação distal no trato iliotibial. É IMPORTANTE DESTACAR QUE, UMA VEZ ENCURTADO, O TFL TENDE A PREDISPOR DOIS TIPOS DE LESÕES, A SÍNDROMEDO TRATO ILIOTIBIAL E A LESÃO POR FRICÇÃO DA BURSA SUPRA TROCANTÉRICA, PODENDO LEVAR A UMA BURSITE NA REGIÃO. Agora, é a vez dos adutores do quadril. Os músculos adutores do quadril não envolvem apenas os músculos adutores magno, longo e breve (curto), mas também os músculos grácil e pectíneo. Esses músculos devem ser estimulados para que haja equilíbrio entre os movimentos de abdução e adução do quadril, a partir das ações musculares. ATENÇÃO Vale destacar que as inserções proximais, apesar de serem adjacentes, dão ao executante percepções de desconforto quando uma adaptação linear na intensidade do estímulo não ocorre. Esses músculos podem ser estimulados nas tarefas do dia a dia em exercícios multiarticulares, como o ciclismo. Importante ressaltar que, quando especificamente estimulados em exercícios uniarticulares, como nos treinamentos contra resistência ou no tratamento em função de uma lesão já instalada, o fortalecimento deve ser progressivo e conservador. Falaremos agora do músculo piriforme, que, embora pequeno, pode ser muito problemático. Trata-se de um músculo pequeno em disposição oblíqua (quase horizontal), que, juntamente com 5 outros músculos (obturadores interno e externo, quadrado femoral e os gêmeos superior e inferior), realiza a rotação externa do quadril. POR QUE O PIRIFORME MERECE ESPECIAL ATENÇÃO? Músculo piriforme. Porque, uma vez hipertrofiado, ocorrerá uma “abdução” dos pés em postura ereta, ou seja, pontas dos pés voltadas mais para fora, e um aumento na predisposição à compressão do nervo ciático, o que tende a acompanhar dor na região lombossacra. Essa dor pode se estender aos membros inferiores e até ser incapacitante para marcha (caminhada). As ações e as funções musculares sobre a cintura pélvica e o quadril são demandas constantes nas tarefas do dia a dia, em especial, na marcha. Em função disso, observe sempre o posicionamento pélvico a partir da postura ereta estática e, sempre que possível, confronte com alguma ação dinâmica, por exemplo, a marcha ou o agachamento. Ao falar sobre os músculos do quadril, Silva (2015, p. 79) afirma que: “a mudança de ação de um músculo ocorre conforme o ângulo articular, visto que estes músculos do quadril agem nos três planos, modificando o torque, podendo aumentar ou diminuir o movimento”. ATENÇÃO Observe que, para determinada articulação, músculos que são sinergistas em um determinado movimento, em outra articulação, acabam sendo antagônicos, como visto nos isquiotibiais. Em função da marcha, a sobrecarga na articulação do quadril quando no apoio simples pode variar chegando até 2,5 vezes a massa corporal. Durante a corrida, tal intensidade tende a apresentar valor de 4 a 6 vezes a massa corporal sobre o quadril. Portanto, tenha atenção ao padrão de movimento apresentado pelo executante, pois uma “simples caminhada” pode vir acompanhada por diversos mecanismos lesivos, tal como o desequilíbrio muscular. CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DO COMPLEXO DO QUADRIL O especialista Claudio Gonçalves Peixoto abordará o complexo do quadril: artrocinemática, osteocinemática e ações musculares. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Reconhecer o comportamento da região do joelho a partir de suas características estruturais e funcionais ARTICULAÇÕES DO COMPLEXO DO JOELHO O COMPLEXO DO JOELHO FAZ PARTE DE UM DOS CONJUNTOS ARTICULARES FUNDAMENTAIS ÀS TAREFAS DO DIA A DIA, SENDO CONSTANTEMENTE SUBMETIDO A ESTRESSES NOS MAIS VARIADOS SENTIDOS. Apesar de, anatomicamente, apresentar estrutura de sobreposição de uma peça (fêmur) sobre a outra (tíbia), você deve pensar também no comportamento funcional da patela, que auxilia os movimentos do joelho a partir da otimização da tensão gerada no quadríceps, atuando como um tipo de “polia”. Podemos identificar três articulações distintas no complexo do joelho, sendo duas estruturais e uma funcional. São elas: FEMOROTIBIAL TIBIOFIBULAR PROXIMAL OU SUPERIOR PATELOFEMORAL A articulação femorotibial é considerada a verdadeira articulação do joelho e, nela, ocorrem os movimentos do complexo do joelho. Durante muito tempo, ela foi mal comparada a uma estrutura em dobradiça, mas, na atualidade, é classificada como bicondilar, em função das estruturas articulares entre o fêmur e a tíbia, e do seu caráter funcional, ou seja, movimentos em torno de dois eixos. Sacco e Tanaka (2008, p. 183) afirmam que: “a articulação femorotibial é formada pelas extremidades distal do fêmur e proximal da tíbia”. Aqui, vale destacar que podem ser observadas duas faces articulares distintas, isto é, do côndilo lateral do fêmur com o platô lateral da tíbia e do côndilo medial do fêmur com o platô medial da tíbia. Devemos ter atenção a essas duas faces, pois, apesar de semelhantes, apresentam comportamento funcional com características distintas. Anatomia do joelho. ARTROCINEMÁTICA E OSTEOCINEMÁTICA DO COMPLEXO DO JOELHO Os movimentos do complexo do joelho são descritos a partir da motilidade da articulação femorotibial. São os seguintes: PLANO SAGITAL – EIXO LATEROLATERAL: FLEXÃO: É a aproximação da face posterior da perna com a face posterior da coxa, ocorrendo a diminuição do ângulo articular. ADM de ±145º. EXTENSÃO: É o afastamento entre a face posterior da perna e a face posterior da coxa, ocorrendo o aumento do ângulo articular. ADM de ± 145º. SAIBA MAIS Na posição anatômica, ou seja, com o joelho em extensão, é atribuída a posição de 0° da articulação femorotibial. Articulação do joelho a 0°. Articulação do joelho flexionada. PLANO TRANSVERSO – EIXO LONGITUDINAL: São identificados dois movimentos, mas, para que eles possam ser realizados, a articulação do joelho deverá preferencialmente ser flexionada a 90º. Os movimentos são: ROTAÇÃO EXTERNA: Os artelhos (dedos dos pés) deslocam-se lateralmente ou para fora. ADM de ±45º. ROTAÇÃO INTERNA: Os artelhos deslocam-se medialmente ou para dentro. ADM de ±30º. É importante conhecer os movimentos rotacionais interno e externo do joelho, pois esses têm implicação direta na execução dos movimentos, visando prevenir lesões. A estabilidade funcional do joelho está diretamente relacionada à ação dos tecidos moles (cápsula articular, ligamentos e estrutura miotendínea) da região. Trata-se de uma articulação muito vulnerável a lesões, devido às demandas mecânicas que são sobre ela colocadas. É importante conhecer o comportamento passivo dos ligamentos, a geometria dos ossos articulados, as funções dos músculos ativos e as cargas mecânicas que atuam sobre a articulação, dando ao profissional da área da saúde maiores e melhores condições de selecionar e prescrever estímulos adequados. Na prática, o chamado “valgo dinâmico” muito tem a ver com a relação côncavo-convexa que ocorre entre as superfícies mediais. Por isso, esteja atento à execução de um exercício em cadeia fechada, tipo agachamento (1ª posição), pois o comportamento da articulação do joelho sofrerá influência do posicionamento dos pés e da estrutura coxofemoral. Hamill e Knutzen (2012, p. 227) afirmam que: “a tíbia medial e o fêmur se encaixam comodamente, mas a tíbia lateral e o fêmur não se encaixam porque as duas superfícies são convexas”. E QUANTO AOS MENISCOS? Os meniscos são fundamentais para a integridade funcional e estrutural do joelho. São duas estruturas fibrocartilaginosas, menisco medial e lateral, localizadas no interior da cápsula do joelho. Têm como funções: 1 Favorecer a estabilidade da articulação aumentando a superfície de contato, de modo a reduzir a pressão sobre os platôs da tíbia. Absorver choques em respostas às cargas de compressão aplicadas, ou seja, “função amortecedora”. 2 3 Deformar para permitir o movimento, o que ocorre a partir das cargas combinadas, compressão, cisalhamento e rotação, que atuam sobre a articulação. Os meniscos. COM O ENVELHECIMENTO, É COMUM APARECEREM LESÕES POR DEGENERAÇÃO NOS MENISCOS, NA MAIORIA DAS VEZES, ASSINTOMÁTICAS, MAS QUE DEVEMSER CONSIDERADAS VISANDO À MAIOR LONGEVIDADE FUNCIONAL DESSAS ESTRUTURAS. Na prática, é muito comum pessoas acima dos 60 anos buscarem orientação de um profissional da área da saúde sobre a melhor forma de se exercitar ou de preservar a autonomia para as tarefas do dia a dia, minimizando o risco de lesões. Para isso, o profissional necessita de informações sobre o estado em que se encontram os meniscos, o que dará maior segurança na prescrição dos exercícios. VAMOS CONVERSAR UM POUCO SOBRE A ARTICULAÇÃO PATELOFEMORAL? VOCÊ SABIA Apesar de ser uma articulação funcional, a relação entre a patela e o fêmur é vital para a autonomia dos movimentos do complexo do joelho. Articulação patelofemoral. Segundo Silva (2015, p. 81), “os côndilos femorais se unem para formar um sulco intercondilar que conecta com a face posterior da patela, dando origem à articulação patelofemoral”. Dessa forma, além da função de proteger a face anterior do joelho, por ser um osso sesamoide, ou seja, ter em seu interior osso trabecular, a patela tem também a função de atuar como um tipo de “polia”, aumentando a eficiência mecânica do quadríceps. Isso porque aumenta-se o ângulo de inserção do tendão patelar, o que auxilia na componente rotacional. Caso a patela esteja mal alinhada em relação ao sulco intercondilar, como no caso de joelho valgo e varo – nesse último, com maior frequência –, o contato das facetas patelares tende a ser alterado em relação à tróclea femoral. Durante os movimentos de flexo-extensão do joelho, as cinco facetas patelares fazem contato com o fêmur em momentos distintos, de acordo com a amplitude de movimento. Dessa forma, quando em extensão completa, a patela está coaptada no sulco intercondilar, havendo uma acomodação das facetas. Para ângulos maiores que ±130°, o contato da patela com o fêmur ocorre na faceta superior. Por volta de aproximadamente 90° de flexão, o contato ocorre na faceta inferior, mas o grande aumento de estresse compressivo entre a patela e o fêmur ocorre em torno dos 60°, pois há uma redução de aproximadamente 2/3 entre a área de contato da patela com o fêmur, associada a uma forte tensão imposta pelo quadríceps. ATENÇÃO Na prática, qualquer alteração estrutural, em especial, geno valgo, dor ou desconforto na região lateral do joelho próxima à patela, deverá ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar para identificação e alteração do fator causal do estresse lesivo. Agora, vamos à articulação tibiofibular proximal. Apesar de não ser muito discutida em termos cinesiológicos e biomecânicos, a articulação tibiofibular proximal ou superior, classificada como sinovial deslizante, apresenta funcionalidades que devem ser consideradas. Sendo a tíbia o osso da perna que suporta o maior percentual da carga compressiva em postura ereta, alguma carga é suportada pela articulação tibiofemoral proximal ou superior, isto é, aproximadamente 16% da carga compressiva na postura ereta estática. Além disso, a articulação realiza pequenos movimentos para frente e para trás; para cima e para baixo, e ainda, alguma rotação, em função dos movimentos da tíbia na região do tornozelo. Tíbia e fíbula. OUTRO PONTO IMPORTANTE: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DO MECANISMO PARAFUSAR? Segundo Hamill e Knutzen (2012, p. 226), “esse mecanismo é o ponto em que os côndilos medial e lateral são travados para criar a posição de máximo contato para a articulação do joelho”. Logo, o movimento de extensão da articulação do joelho até os últimos 20° é acompanhado de rotação externa da articulação, sendo que, nos últimos 20°, ocorre somente a extensão. Da mesma forma, passados 20° de flexão a partir da extensão completa do joelho, tende a ocorrer a rotação interna da tíbia em relação ao fêmur. ESSE MECANISMO DE ROTAÇÃO LATERAL E MEDIAL DA TÍBIA E DO FÊMUR É CAUSADO PELO FORMATO DO CÔNDILO FEMORAL MEDIAL, TENSÃO PASSIVA DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR (LCA) E TRAÇÃO LATERAL DO QUADRÍCEPS. (SILVA, 2015, p. 82) Evoluta. Agora, falaremos sobre um dos aspectos funcionais importantes sobre o eixo de rotação da articulação do joelho durante a flexo-extensão. A “evoluta” é, segundo Lehmkuhl e Smith (1989, p.299), “uma linha curva (a evoluta), que representa o caminho do eixo móvel”. Portanto, junto ao movimento de rotação que ocorre durante a flexo-extensão, há também uma translação, ou seja, um deslizamento entre os côndilos femoral e os platôs da tíbia. Essa “linha curva” tende a ter a carga de cisalhamento minimizada pela deformação que ocorre nos meniscos durante o movimento. Por isso, os movimentos de rotação + deslizamento serão sempre identificados na funcionalidade dos joelhos. Por esse motivo, alguns autores afirmam que a “evoluta” deve ser considerada o “centro instantâneo de rotação” do joelho, conforme figura ao lado. PRINCIPAIS AÇÕES MUSCULARES NO COMPLEXO DO JOELHO Os estresses (cargas) em valgo e varo são limitados pelos ligamentos colateral medial e colateral lateral, respectivamente, e assim tendem a manter a integridade estrutural da articulação. Atuando junto com a cápsula articular, resistem ao movimento de rotações excessivas sobre o eixo longitudinal. Na prática, ter ciência da importância e das ações desses ligamentos dá respaldo para entender um dos mecanismos lesivos que tendem a ocorrer em atividades esportivas, quando o estresse em valgo é acompanhado pela hiperextensão e rotação externa atuando simultaneamente. OS LIGAMENTOS CRUZADOS ANTERIOR E POSTERIOR SÃO IMPORTANTES? Ambos são intracapsulares, ou seja, ligamentos fortes e muito resistentes a cargas tensivas, que têm por finalidade manter a integridade articular, evitando o deslizamento excessivo da articulação durante os movimentos de flexo-extensão. Na prática, o LCA limita o deslizamento anterior da tíbia em relação ao fêmur, e o ligamento cruzado posterior limita o deslizamento posterior da tíbia em relação ao fêmur durante os movimentos de flexo-extensão. AGORA, PASSEMOS ÀS DIFERENTES AÇÕES MUSCULARES SOBRE OS JOELHOS. VAMOS CONVERSAR SOBRE OS MÚSCULOS EXTENSORES DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO? A ideia de que o quadríceps é apenas um músculo deve ser preliminarmente descartada, pois, na realidade, há uma função sinergista que atua para estender a articulação do joelho. Assim, as ações dos músculos reto femoral, vasto lateral, vasto medial e vasto intermédio devem ser entendidas de maneira singular. Vamos lembrar que, desses 4 músculos, o reto femoral é o único biarticular, além de atuar como agonista para extensão do joelho e desempenhar também função agonista para flexão do quadril. Esse conhecimento é importante, pois, dependendo do posicionamento do quadril, a sua ação no sinergismo do extensor pode ser alterada. Cadeira extensora. Ao executar o movimento de extensão do joelho na cadeira extensora, o quadril encontra-se flexionado, logo, o músculo reto femoral estará previamente frouxo, portanto, em insuficiência ativa. Lesão de Osgood-Schlatter. A inserção do quadríceps na tuberosidade da tíbia, através do tendão patelar, permite identificar que a força gerada pelos quatro músculos tem no seu extremo distal, ou seja, na inserção na tíbia, uma alta carga tensiva, o que, na prática, implica na necessidade de uma adaptação progressiva, visando evitar lesão do tipo Osgood-Schlatter, em especial em populações juvenis. DE ACORDO COM A AMPLITUDE DE MOVIMENTO, OCORRE VARIAÇÃO NO TORQUE EXTENSOR SOBRE A ARTICULAÇÃO DO JOELHO E, ENTRE 80° E 30° DE EXTENSÃO, TENDE A SER IDENTIFICADO O TORQUE EXTENSOR MÁXIMO. ATENÇÃO É relevante destacar que o ângulo de inserção do tendão patelar será sempre menor que 90°, independentemente do grau de amplitude do movimento articular. Com isso, a partir da ação concêntrica do quadríceps, serão sempre identificadas uma componente rotacional, que “gira” a tíbia em torno do fêmur, e uma componente de estabilização, que puxa a tíbia de encontro ao fêmur. Agora, vamos conversar sobre um pequeno, masimportante, músculo, o poplíteo, que, estando os joelhos em extensão completa, dá início ao movimento de flexão rodando a tíbia medialmente e o fêmur lateralmente, sendo imediatamente acompanhado pelos músculos isquiotibiais. Passemos para a região posterior da coxa, ou seja, os músculos isquiotibiais, e demais músculos que contribuem para o movimento de flexão do joelho. Os principais flexores do joelho são o bíceps femoral, semitendinoso e semimembranoso. Trata-se de músculos biarticulares, com exceção da porção curta do músculo bíceps femoral. Assim, eles atuam de maneira sinérgica não apenas na flexão da articulação do joelho, mas também na extensão da articulação do quadril. São antagônicos para os movimentos de rotação interna – semitendinoso e semimembranoso; e rotação externa – bíceps femoral, da articulação do joelho. Quanto ao ângulo de inserção dos músculos isquiotibiais, são identificadas as três situações: inicia menor que 90°, fica igual a 90° e, quando a articulação do joelho se encontra na fase final da flexão, o ângulo de inserção é maior que 90°. POR QUE ESSA QUESTÃO É IMPORTANTE? Quando o ângulo de inserção é maior que 90°, junto ao comportamento rotacional imposto pela ação concêntrica dos isquiotibiais, há uma componente de deslocamento que tende a “puxar” a perna para fora da articulação do joelho. Como isso não acontece, o comportamento da cadeia de movimento tende a provocar uma báscula pélvica anterior, o que é facilmente percebido na fase final da flexão do joelho em uma mesa flexora. Flexão do joelho em mesa flexora. ATENÇÃO Apesar de ter sua função agonista prioritariamente na extensão do tornozelo (flexão plantar), o músculo gastrocnêmio atua com função acessória na flexão do joelho. CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DO COMPLEXO DO JOELHO O especialista Claudio Gonçalves Peixoto abordará o complexo do joelho – artrocinemática, osteocinemática e ações musculares. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Identificar os ajustes estruturais e funcionais que ocorrem na região do tornozelo e pé em repouso e movimento REGIÃO DO TORNOZELO E PÉ A região do tornozelo e pé é uma das mais complexas em termos de funcionalidade, devido aos ajustes estruturais necessários para a maioria dos movimentos realizados diariamente. A partir da postura ereta, quase toda a massa corporal é suportada pelos pés, por isso é importante que um profissional da área da saúde entenda que esses arranjos vão muito além da flexão plantar e dorsiflexão. Envolvem uma série de componentes do sistema locomotor passivo, como ligamentos e cápsula articular; e ativo, como as co-contrações necessárias à manutenção da estabilidade e do equilíbrio. Região do tornozelo e pé. Silva (2015, p. 85) afirma que: “outra função importante é fornecer propriocepção para os músculos dos membros inferiores”. Agora é hora de conhecermos um pouco mais sobre essas estruturas e seus movimentos. O foco do nosso estudo serão as articulações tibiofibular distal ou inferior, tibiotalar, fibulotalar e subtalar. Articulações da região do tornozelo. Mesmo sendo classificada como uma sindesmose, ou seja, uma articulação ligamentar, a estruturação da articulação tibiofibular inferior ou distal é fundamental para os movimentos do tornozelo. Isso porque, como a tíbia e a fíbula permanecem unidas, o movimento do tornozelo repercute na articulação tibiofibular proximal ou superior. DICA Experimente fazer esses movimentos com o pé em suspensão. Faça movimentos variados na região do tornozelo e coloque sua mão na face lateral do joelho, sobre a articulação tibiofibular proximal ou superior do “pé em movimento”. PERCEBEU QUE A REGIÃO SOFRE PEQUENOS AJUSTES? ARTROCINEMÁTICA E OSTEOCINEMÁTICA DO TORNOZELO E DO PÉ Passemos agora para as articulações tibiotalar e fibulotalar, que devem ser chamadas de articulação talocrural (crus, em Latim, significa perna), classificada como uma articulação sinovial do tipo troclear. A tróclea talar possui uma superfície superior que suporta a carga que tem origem na extremidade distal da tíbia, e as faces laterais do tálus se articulam com os maléolos lateral da fíbula e medial da tíbia, apresentando um único eixo de movimento. QUE MOVIMENTOS SÃO ESSES? PLANO SAGITAL – EIXO LATEROLATERAL: DORSIFLEXÃO OU FLEXÃO DO TORNOZELO: É a aproximação do dorso do pé da face anterior da perna. ADM de ±20º. FLEXÃO PLANTAR OU EXTENSÃO DO TORNOZELO: É a tendência ao alinhamento do pé com o eixo longo da perna. ADM de ±50º. Vale estabelecer algumas considerações importantes quanto à estabilidade e à funcionalidade do tornozelo: ORIENTAÇÃO DOS LIGAMENTOS (DIREÇÃO) TIPO DE CARGA APLICADA POSIÇÃO DO PÉ E TORNOZELO NO MOMENTO DE SOBRECARGA APLICADA Movimento de flexão plantar. Movimento de dorsiflexão. SAIBA MAIS Para uma caminhada dentro de um padrão de normalidade e harmonia das articulações da cadeia de membros inferiores, são necessários no mínimo 10º de dorsiflexão e de 20º a 25º de flexão plantar. LEMBRE-SE DE QUE, QUANDO UMA DAS ARTICULAÇÕES DE UMA CADEIA DE MOVIMENTO ENCONTRA RESTRIÇÃO, AS DEMAIS ARTICULAÇÕES DESSA MESMA CADEIA TENDERÃO A SUPRIR ESSA “FALHA”. Agora, pare e reflita: Quantas vezes você já ouviu falar em inversão e eversão do tornozelo? O que, de fato, ocorre é que, imediatamente após a articulação talocrural, mais distal, é encontrada a articulação subtalar, vital para a motilidade da região do tornozelo e pé. Vamos conhecê-la um pouco mais! A face inferior do tálus apresenta três facetas que se apoiam sobre o calcâneo, formando a articulação subtalar. Essa articulação, mesmo sendo classificada como sinovial deslizante, apresenta um eixo oblíquo que permite ao pé girar medial e lateralmente. Eixos da região do tornozelo. Aproximadamente 90% das forças compressivas passam pelo tálus, assim, os movimentos que ocorrem em torno desse eixo oblíquo em um plano “intermediário” são chamados de inversão e eversão. Além disso, o movimento de inversão é também chamado de supinação do pé; e a eversão é chamada de pronação do pé. Independentemente da terminologia utilizada, o importante é que você entenda o que acontece com o pé no espaço durante a realização desses movimentos. Segundo Silva (2015, p. 85): “essa articulação absorve forças rotacionais enquanto mantém o contato do pé no solo”. Logo, em cadeia fechada, é possível se identificar facilmente os movimentos isolados de: INVERSÃO OU SUPINAÇÃO DO PÉ Ocorre quando a planta do pé gira medialmente ou para dentro. EVERSÃO OU PRONAÇÃO DO PÉ Ocorre quando a planta do pé gira lateralmente ou para fora. MAS POR QUE CHAMAR A ATENÇÃO DA CADEIA FECHADA? Porque, em cadeia aberta, devido ao arranjo estrutural da região do tornozelo, os movimentos subtalar são “triplanares”, ou seja: A SUPINAÇÃO (INVERSÃO) OCORRE JUNTO COM UMA FLEXÃO PLANTAR E ADUÇÃO DO PÉ (PONTA DO PÉ GIRA PARA DENTRO). A PRONAÇÃO (EVERSÃO) OCORRE JUNTO COM UMA DORSIFLEXÃO E ABDUÇÃO (PONTA DO PÉ GIRA PARA FORA). Observe que não foi determinada uma amplitude de movimento para os casos acima apresentados, pois são considerados movimentos “complexos do pé”, mas fundamentais em inúmeras situações, para assimilação das cargas impostas. javascript:void(0) javascript:void(0) Posição de eversão da articulação subtalar – pé direito. Posição de inversão da articulação subtalar – pé esquerdo. Quanto aos movimentos de inversão e eversão, Sacco e Tanaka (2008, p. 226) afirmam que: “tais movimentos não são observados de forma isolada no pé, especialmente quando em cadeia cinética aberta ou durante o rolamento do pé nas habilidades de locomoção”. DEVEMOS PENSAR TAMBÉM NO ARCO PLANTAR COMO UM ELEMENTO QUE INTERFERE NOS MOVIMENTOS DO PÉ? Sim! Primeiro, você deve entender que, estruturalmente, uma boa anatomia do pé depende das relações osteoarticulares, ligamentares, capsulares e musculares na região do pé. Assim, o arqueamento do pé está relacionado aos três arcos plantares:ARCO LONGITUDINAL MEDIAL Localizado na região medial do pé, sendo considerado o principal arco plantar com a função de suporte do peso corporal ou sustentação de carga, e na absorção de choque (através da carga de tensão). ARCO LONGITUDINAL LATERAL Localizado na região lateral do pé, sendo considerado um “arco mais rígido” e que tem contato com o solo a partir da superfície lateral do pé. É o mais baixo dos três arcos plantares. ARCO TRANSVERSAL ANTERIOR Localizado na região anterior do pé entre as partes distais dos metatarsos e, assim como o arco longitudinal lateral, é também um arco baixo. Arcos plantares. Vale salientar que os arcos plantares têm por finalidade diminuir os estresses que chegam à região do pé, em especial, as cargas de suporte de peso, por exemplo, aquelas que são identificadas nas caminhadas e corridas. ATENÇÃO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Esteja atento, pois as articulações da região do tornozelo e pé sustentam grande quantidade de carga e são altamente capacitadas para a absorção de choques. PRINCIPAIS AÇÕES MUSCULARES E DETERMINAÇÃO DOS TORQUES ARTICULARES DO TORNOZELO E DO PÉ O movimento de dorsiflexão ou flexão do tornozelo tem como músculos agonistas o tibial anterior e fibular terceiro, sendo a ação do músculo tibial anterior a mais potente. A supressão da ação desses músculos faz com que a ponta do pé não seja ativamente elevada, o que leva ao chamado “pé equino”. Portanto, para que seja adotado um padrão de marcha normal, há necessidade do equilíbrio das funções musculares durante flexão e extensão do tornozelo. Na prática, fortalecimento e alongamento dos músculos extensores do tornozelo (flexão plantar) são muito comuns e fazem com que esses músculos tenham suas ações sobrepujando a ação dos dorsiflexores. ATENÇÃO Esteja atento para que, nas rotinas de treinamento e tratamento, os estímulos de fortalecimento e alongamento dos músculos tibial anterior e fibular terceiro sejam incluídos, visando à estabilidade funcional da região do tornozelo. QUAIS SÃO OS MÚSCULOS RESPONSÁVEIS PELA FLEXÃO PLANTAR OU EXTENSÃO DO TORNOZELO? Esses músculos estão localizados na parte posterior da perna e têm a função sinergista chamada de tríceps sural, ou seja, os músculos sóleo, gastrocnêmio lateral e gastrocnêmio medial. A inserção conjunta desses músculos na região do calcâneo ocorre a partir de um tendão comum, outrora chamado de tendão de Aquiles e, na atualidade, chamado tendão do calcâneo. Alguns aspectos relacionados à capacidade de geração de força e resistência ao estiramento estão associados à estrutura miotendínea do tríceps sural. Vejamos quais são: É UM DOS MÚSCULOS MAIS POTENTES DO CORPO HUMANO, FICANDO ATRÁS SOMENTE DO GLÚTEO MÁXIMO E QUADRÍCEPS. O TENDÃO DO CALCÂNEO É MAIS RESISTENTE ÀS CARGAS DE ESTIRAMENTO E É O MAIOR TENDÃO DO CORPO HUMANO. OS MÚSCULOS GASTROCNÊMIOS LATERAL E MEDIAL SÃO BIARTICULARES, SENDO MOTORES PRIMÁRIOS PARA A FLEXÃO PLANTAR E ACESSÓRIOS NA FLEXÃO DO JOELHO. O SÓLEO É UM MÚSCULO UNIARTICULAR, ATUANDO SOMENTE NA FLEXÃO PLANTAR. Músculo gastrocnêmio. Músculo solear ou sóleo. Músculo tibial anterior. Na prática, é importante que ambos sejam especificamente estimulados no fortalecimento e alongamento. Para isso, o posicionamento da articulação do joelho interfere na participação do músculo sóleo. Por exemplo, ao realizar uma flexão plantar com o joelho flexionado, os gastrocnêmios encontram-se em insuficiência ativa, aumentando assim o percentual de contribuição do sóleo para a realização do movimento. Outro aspecto prático que deve ser destacado para os músculos das regiões anterior e posterior da perna é a necessidade de estímulos específicos para as ações excêntricas, em especial, em corredores. Isso porque a restrição à desaceleração do movimento por inabilidade muscular irá alterar o padrão técnico do movimento e desajustar o sistema locomotor dos membros inferiores. Discorreremos agora sobre os músculos responsáveis pela inversão e eversão subtalar. Os principais inversores são o tibial anterior e o extensor longo do hálux, já os eversores são o fibular terceiro e o extensor longo dos dedos. Observe que dois músculos que são sinergistas para dorsiflexão, o tibial anterior e fibular terceiro, nos movimentos de inversão e eversão são antagonistas. Além disso, o movimento de inversão tem como principal músculo o tibial posterior, que se soma à ação dos outros dois já citados. Vejamos agora alguns pontos interessantes sobre a inversão: O posicionamento da articulação do joelho, em função da contribuição do tríceps sural para realização do movimento de inversão, irá interferir na quantidade final de força gerada, assim como, atuar de maneira mais eficaz com o joelho em extensão. A amplitude de movimento conseguida na condição passiva é maior que a obtida na condição ativa, quando as resistências ao estiramento, desempenhadas pelas estruturas antagonistas, limitam o movimento. E QUANTO À EVERSÃO, QUAIS SÃO OS MÚSCULOS RESPONSÁVEIS PELO MOVIMENTO? A eversão tem ação sinérgica dos músculos fibular terceiro (já citado), fibular longo e fibular curto, sendo o fibular terceiro o mais importante eversor. Na prática, a amplitude do movimento de eversão é menor quando comparada ao movimento de inversão, mas ambas são fundamentais para as ações de equilíbrio da região do pé, em especial, através de estímulos proprioceptivos. ATENÇÃO Como a maioria desses músculos são muito extensos e delgados, a forma física será progressivamente alcançada e, assim, o fortalecimento e alongamento devem ser intencionalmente prescritos. Outras informações relevantes sobre os músculos da região do pé: O movimento de extensão dos dedos é realizado pelos músculos extensores longo e curto dos dedos. Esses músculos são multiarticulares e têm origem na região da perna e, assim, tendem a ter ação em todas as ações da região do pé. A flexão dos dedos do pé é executada por um número maior de músculos quando comparada ao movimento de extensão. Esses músculos são os flexores longo e curto dos dedos, quadrado plantar, flexores longo e curto do hálux e alguns outros pequenos músculos aqui não mencionados. O músculo flexor longo dos dedos e flexor curto do hálux são multiarticulares, tendo origem na região tibiotársica. SAIBA MAIS A ação dos músculos flexores dos dedos possibilita a estabilização dos dedos ao suportar o peso do corpo na região do antepé, ou seja, ficar na ponta do pé. CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DAS ARTICULAÇÕES DO TORNOZELO E PÉ O especialista Claudio Gonçalves Peixoto abordará a região do tornozelo e pé – artrocinemática, osteocinemática e ações musculares. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma vez que o homem adotou a postura bípede e elegeu a marcha como o seu padrão de deslocamento, os membros inferiores assumiram especial significado na capacidade de movimentação e equilíbrio do corpo humano. Por essa razão, torna-se imprescindível que os profissionais da área da saúde tenham pleno domínio dos conteúdos anatomofuncionais e mecânicos que interferem no movimento. Em função disso, com o presente material, iniciamos nosso estudo a respeito da cintura pélvica, seguindo pelas articulações dos quadris, joelhos, tornozelos e pé. Abordamos também a capacidade de movimentação da cintura pélvica e a sua íntima relação com os quadris e a coluna vertebral. Consideramos ainda a estruturação e a funcionalidade da região do joelho, que depende diretamente do sistema locomotor ativo e passivo para sua estabilização e realização dos movimentos. Por fim, mas não menos importante, estudamos a região do tornozelo e do pé, que suportam toda a carga corporal situada acima do tálus e recebem cargas nos mais variados sentidos, fazendo com que os músculos da perna e as estruturas do pé, como os arcos plantares, sejam sempre observados como promotores da autonomia do sujeito e limitadores dos riscos delesões. PODCAST Agora, o especialista Claudio Gonçalves Peixoto encerra com um resumo do tema. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS FRANKEL, V. H.; NORDIN, M. Biomecânica Básica do Sistema Musculoesquelético. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. HALL, S. Biomecânica Básica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. 3. ed. São Paulo: Manole, 2012. HAMILTON, N. P.; WEIMAR, W.; LUTTGENS, K. Cinesiologia: teoria e prática do movimento humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. LEHMKUHL, L. D.; SMITH, L. K. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 4. ed. São Paulo: Manole, 1989. MYERS, T. W. Trilhos anatômicos: Meridianos miofasciais para terapeutas manuais e do movimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SACCO, I. C. N.; TANAKA, C. Cinesiologia e biomecânica dos complexos articulares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. SILVA, V. R. Cinesiologia e biomecânica. Rio de Janeiro: SESES, 2015. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia: Utilização de sensores inerciais para a análise tridimensional durante a execução de agachamento com e sem barra: uma análise Biomecânica e de Comportamento Motor, disponível no Repositório Científico do Instituto Politécnico de Santarém. Biomecânica de exercícios funcionais com incremento de resistência elástica: resposta neuromuscular a diferentes posições de resistência elástica durante o exercício de agachamento, disponível no Repositório Institucional da UFSC. Ativação elétrica do glúteo máximo em variações do exercício Lunge, disponível no Repositório Institucional da UFSC. Análise biomecânica de membros inferiores em mulheres acometidas com dores articulares no joelho, disponível na Revista Brasileira de Ciências da Saúde. Estude sobre a Epidemiologia das lesões por entorse do tornozelo diagnosticadas em pronto atendimento de ortopedia, publicado pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. CONTEUDISTA Claudio Gonçalves Peixoto CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
Compartilhar