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ISOIMUNIZAÇÃO MATERNA PELO FATOR RH 2022.2 GABRIELLA PACHECO MURYELL ANDREWS THAÍS BARAKY Conceitos e Fisiopatologia: A isomunização materna é caracterizada pela produção materna de anticorpos contra antígenos incompatíveis presentes nas hemácias do feto, através da passagem transplacentária. A doença hemolítica perinatal é caracterizada pela destruição das hemácias fetais por anticorpos maternos que atravessaram a placenta, levando a hemólise e, consequentemente, anemia. O organismo fetal recorre a mecanismos de compensação, como aumento da eritropoiese medular e extramedular, aumento do débito cardíaco. Esgotados esses mecanismos, instala-se insuficiência cardíaca e graus variáveis de hipóxia, culminando com hidropsia, kernicterus e morte do concepto. Parto Sangramento da primeira metade (abortamento, mola, gravidez ectópica) Sangramento da segunda metade (DPP, placenta prévia) Traumas abdominais 1 2 3 4 Causas Obstétricas: Causas Não obstétricas: Transfusão incompatível Compartilhamento de seringas por usuárias de drogas 1 2 DIAGNÓSTICO INICIAL É feito através do teste de Coombs indireto. O teste de Coombs é um exame sorológico que identifica a presença de anticorpos contra antígenos presentes na superfície da hemácia. O Coombs indireto identifica anticorpos livres no soro e define a sensibilização materna. É um teste de grande variabilidade intra e interobservador, portanto só se considera significativa variações maiores que duas titulações. ABORDAGEM PRÉ-NATAL História obstétrica detalhada: Avaliar a gravidade da gestação atual. Tipagem sanguínea materna e paterna: Avaliar riscos de passagem transplacentária dos anticorpos. Coombs indireto mensal: Embora não haja uma correspondência absoluta entre o valor do Coombs indireto e o grau de sensibilização, em locais onde a realização do exame é confiável, há uma certa correlação entre eles à partir de titulações de 1:8. Painel de hemácias à admissão: Identificar contra qual(is) antígenos está ocorrendo a produção dos anticorpos. Ultrassom seriado: Avaliar sinais indiretos de anemia fetal. Exames não invasivos de predição de anemia fetal seriados: Utilizamos o índice cardiofemoral (ICF) e o pico da velocidade sistólica da artéria cerebral média (PVS). Cordocentese: Realizada naqueles fetos em que os métodos propedêuticos indicam anemia grave, utiliza-se a cordocentese propedêutica para estimar o déficit de hemoglobina fetal (se necessário) e, se for o caso, terapêutica (transfusão intrauterina). Diagnóstico de Anemia Fetal A partir do diagnóstico inicial, recorremos aos métodos não invasivos de diagnóstico da gravidade da anemia fetal: Ultrassom: Avalia-se a biometria, presença de hidropsia fetal; Índice cardiofemoral (ICF): Medida da relação entre o diâmetro biventricular e o comprimento do fêmur (alterado se o ICF ≥ 0,59); Doppler: Mede-se o pico da velocidade sistólica da artéria cerebral média (PVS - ACM): (alterado se ≥ 1,5 MoM). A presença de hidropsia isoladamente ou a presença de ICF e Doppler alterados indicam fetos de alto risco de anemia grave. 1 2 3 Exceção para os fetos hidrópicos, que devem ser sempre submetidos a TIU antes do nascimento, pois melhora as suas condições de nascimento e manejo pós-natal. Gestação acima de 34 semanas: Indica-se a interrupção da gestação após corticoterapia. Gestação abaixo de 34 semanas: Está indicada a cordocentese para hematimetria fetal e, se necessário, transfusão intrauterina (TIU). Fetos de baixo risco para anemia: Realizar os exames citados a cada 2 semanas entre 15ª e a 28ª semana de gestação, e a cada 7 dias partir de então até o parto. Fetos de alto risco para anemia: Os exames não invasivos são realizados semanalmente, mesmo se submetidos a TIU. 1 2 Considera-se alto risco para anemia fetal: História obstétrica desfavorável relacionada a isoimunização materna (perda gestacional, história de hidropsia, feto ou recém-nascido transfundidos, quadro de icterícia pós-natal importante), Coombs indireto > 1/128 ou elevação de duas titulações, comparada ao valor de sua admissão, presença de alteração em qualquer um dos exames não invasivos na gestação vigente e/ou necessidade de tratamento intrauterino nesta gestação. Se qualquer exame não invasivo estiver alterado: repetir dia seguinte. Indica-se a cordocentese para hematimetria fetal. 3 4 5 Diagnóstico Invasivo Amniocentese: Em desuso, sendo realizada apenas na impossibilidade de realização de cordocentese. Cordocentese: Realizada entre 20 e 34 semanas de gestação Objetivo: Determinar déficit de hemoglobina fetal e transfundir, se necessário. Indicação: Presença de hidropsia ou alteração de qualquer um dos exames não invasivos. 1 2 Transfusão intrauterina (TIU) Indicação: Fetos com anemia fetal moderada a grave. Individualizar volume e via de transfusão, de acordo com as condições do feto (hidropsia), peso fetal estimado, história obstétrica e gravidade da anemia. Via: intravascular Interrupção da gestação Fetos não transfundidos: A partir de 37 semanas Fetos transfundidos: 34 semanas Indica-se corticoterapia antenatal, uma vez que a hipóxia decorrente da anemia compromete a maturação pulmonar fetal. 1 2 TRATAMENTO INTRAUTERINO É realizado seriadamente, conforme a gravidade da anemia, com os seguintes métodos: Ultrassom Índice cardiofemoral Pico da velocidade sistólica Repetição da TIU: Os exames não invasivos devem ser realizados semanal ou quinzenalmente, indicando-se TIU ou interrupção da gravidez no caso de alteração nos exames não invasivos. Gestações com interrupções programadas abaixo de 36 semanas: Devem receber esquema de corticoterapia para induzir amadurecimento pulmonar fetal. Gestações com programação de interrupção em 7 dias: Avaliar prescrição de Fenobarbital 100 mg BID, por 5 a 7 dias, para induzir amadurecimento hepático fetal. 1 2 3 4 Acompanhamento: 5 6 Não estejam hidrópicos; A gestante esteja em fases avançadas do trabalho de parto; Não apresente contraindicacoes para tal; O trabalho de parto seja monitorado continuamente por cardiotocografia até o nascimento. Fetos não transfundidos: Via obstétrica. Fetos transfundidos: Preferir cesariana, pois são fetos já hipóxicos pela anemia. Obs: Pode ser realizado parto vaginal em casos de fetos transfundidos, desde que: Via de Parto: As gestantes com Rh negativo com ausência de anti-D no painel de hemácias deverão receber imunoglobulina anti-D no pós parto ou na ocorrência de eventos hemorrágicos na gestação, independentemente do diagnóstico de isoimunização materna ou da realização de salpingotripsia bilateral no momento da cesariana. Profilaxia: Prognostico: Alta morbimortalidade fetal, se não acompanhada em serviço de referência. O prognostico perinatal relaciona-se com: Prematuridade ao parto, presença de complicação transfusional, de anemia fetal grave e precoce, hidropsia, idade gestacional à admissão da gestante, presença de comorbidades ou intercorrências maternas e fetais, instituição precoce ao tratamento intraútero, se necessário, instituição do tratamento neonatal agressivo e precoce contra anemia e ictericia do concepto. REFERÊNCIAS: PEREIRA, ALAMANDRA KFOURI; CABRAL, ANTÔNIO CARLOS VIEIRA; LEITE, HENRIQUE VITOR. MANUAL DE PROTOCOLOS EM MEDICINA FETAL: SÉRIE GUIAS DE BOLSO EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. 1. ED. BELO HORIZONTE, MG: ATHENEU, 2012. 119 P. V. 1. ISBN 9788538802709.2021. CAP. 04, P. 27 - 32. Liga Acadêmica de Medicina Fetal e Genética Humana - Universidade de Vassouras 08/09/2022
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