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NEOPLASIAS OVARIANAS INTRODUÇÃO Neoplasias ovarianas são frequentes e podem ser benignas, malignas ou de malignidade intermediária. Cerca de 80% são benignas, ocorrendo entre 20 e 45 anos de idade. As neoplasias malignas são mais comuns entre 45 e 65 anos e ocupam o terceiro lugar entre os cânceres do sistema genital feminino, após os carcinomas do colo uterino e do endométrio. Por causa do seu diagnóstico geralmente tardio, o câncer ovariano apresenta elevada letalidade, sendo responsável por quase metade das mortes por câncer do sistema genital feminino CLÍNICA A maioria deles cresce assintomático. Porém, podem haver sintomas, como distensão/dor abdominal, massa palpável, desconforto pélvico, alterações urinárias e digestivas, emagrecimento e ascite, esta por inflamação do peritônio As metástases mais comuns seguem pela via linfática, pela via hematogênica e pela via de disseminação peritoneal (implantes) FATORES DE RISCO Entre os fatores de risco, destacam- se nuliparidade, baixa utilização de contraceptivos orais, história familial e disgenesia gonádica. Nuliparidade e não utilização de contraceptivos orais favorecem ovulações múltiplas. Segundo uma teoria, a ovulação, precedida pela divisão celular, causaria perda da integridade do epitélio ovariano superficial seguida de regeneração, mutações múltiplas e, finalmente, transformação maligna. Laqueadura tubária reduz, também, o risco de câncer ovariano, já que o carcinoma seroso de alto grau é originado no epitélio tubário Os genes mais mutados no câncer ovariano familial são o BRCA-1 e o BRCA-2. Síndromes de neoplasias múltiplas envolvendo ovários, mama e cólon são bem conhecidas, como a síndrome de Lynch tipo II (síndrome do carcinoma colônico hereditário sem polipose), que envolve instabilidade de microssatélites e alterações em genes de reparo do DNA. DIAGNÓSTICO I: Avaliação Clínica II: USG III: Doppler Colorido IV: Marcadores Tumorais PATOLOGIA NEOPLÁSICA DOS OVÁRIOS CLASSIFICAÇÃO ASPECTO FUNCIONAL Funcionantes, que produzem hormônios, ou não funcionantes COMPORTAMENTO BIOLÓGICO I: Benigno II: Borderline É intermediário quanto à benignidade e à malignidade III: Maligno ORIGEM I: Tumores do epitélio de revestimento superficial (epitélio celômico); II: Tumores derivados das células germinativas oriundas do saco vitelino; III: Tumores derivados dos cordões sexuais ou do estroma TUMORES ORIGINADOS DO EPITÉLIO DE REVESTIMENTO Tumores originados do epitélio de revestimento são os mais frequentes do ovário (65 a 70% de todos os tumores do órgão) e os mais comuns entre as neoplasias malignas ovarianas; originam-se do epitélio celômico, que possui capacidade de diferenciação para epitélios dos tipos tubário (serossecretor), endocervical (mucossecretor), endometrial (endometrioide) ou de padrão gastrointestinal. As neoplasias são subclassificadas de acordo com alguns parâmetros: (a) tipo de diferenciação epitelial (serosos, mucinosos, endometrioides etc.); (b) localização da proliferação epitelial (superficial ou intracística); (c) comportamento biológico (benignos, malignos e intermediários ou borderline). Os tumores tipo 1, que têm como precursores tumores borderline (tumor proliferativo atípico) e endometriose, são de baixo grau e relativamente indolentes. Incluem-se nesta categoria o carcinoma seroso de baixo grau, o carcinoma endometrioide de baixo grau e o carcinoma mucinoso. Os genes mais mutados são KRAS e BRAF, seguidos de PTEN, CTNNB1 (β-catenina) e PI3K. Os tumores tipo 2, responsáveis pela maioria das mortes por essa neoplasia, são geralmente neoplasias de alto grau, agressivas, das quais se desconhece um precursor comum. É reconhecida associação entre o tumor seroso de alto grau, um dos tumores do tipo 2 e o carcinoma seroso intraepitelial tubário (CSIT) localizado na porção fimbrial. Mutações em TP53 são encontradas em mais de 75% dos casos de CSIT. TUMORES SEROSOS Tumores serosos do ovário, geralmente císticos e revestidos por epitélio colunar ciliado (tipo tubário), representam 40% das neoplasias ovarianas, das quais 60% são benignas, 10% são borderline e 30% são malignas (cistadenocarcinomas). Os tumores benignos são encontrados sobretudo na faixa etária reprodutiva, enquanto os malignos predominam em idade mais avançada (56 anos em média). Cistadenocarcinoma seroso é o câncer ovariano mais comum. Na maioria dos casos, tumor benigno é assintomático, sendo achado incidental; lesões volumosas e tumores malignos podem causar dor pélvica crônica, aguda quando associada à torção As neoplasias borderline geralmente produzem implantes superficiais sem caráter infiltrativo, denominados implantes não invasivos, de curso clínico indolente e melhor prognóstico. Os carcinomas serosos, especialmente os de alto grau, produzem implantes invasivos, com evolução clínica mais rápida e pior prognóstico Marcador: CA 125 MACROSCOPIA Macroscopicamente, o cistadenoma apresenta-se como neoplasia cística, multiloculado, com diâmetro entre 5 e 20 cm, de parede fina, superfície interna lisa e conteúdo seroso, em geral cristalino ou citrino. São comuns papilas na face interna da parede, constituindo o cistadenoma papilífero. As formas maligna ou borderline mostram maior número de excrescências papilíferas internas e/ou externas, parede de espessura irregular, superfície vegetante, áreas sólidas e nodularidade na cápsula, que pode estar rompida; encontram-se também áreas de necrose e hemorragia À esquerda, vê-se no cistoadenocarcinoma seroso, ainda, uma massa sólida branca e heterogênea, cujas áreas amareladas representam possíveis calcificações OBS: Em tumores mistos, avalia-se a parte sólida, local onde pode haver área maligna MICROSCOPIA Microscopicamente, o cistadenoma é formado por cistos revestidos por epitélio colunar simples, ciliado e sem atipias, podendo existir papilas pequenas. A forma borderline exibe papilas mais complexas, ramificadas (arboriformes), revestidas por epitélio estratificado e atípico, mas sem invasão do estroma O cistadenocarcinoma mostra nítida invasão do estroma, atipias celulares mais acentuadas e mitoses frequentes, podendo existir papilas, ninhos, trabéculas e pseudoácinos. O estroma das neoplasias serosas frequentemente contém corpos psamomatosos (calcificações especiais). Ao redor, há tecido conjuntivo desmoplásico reacional à invasão do estroma, o que caracteriza a malignidade De acordo com critérios clinicopatológicos e de biologia molecular, os carcinomas serosos foram recentemente classificados como de baixo grau (bem diferenciados) ou de alto grau (moderadamente ou pouco diferenciados). TUMORES MUCINOSOS Em geral, as neoplasias mucinosas do ovário são também císticas e revestidas por epitélio colunar mucossecretor (tipo gastrointestinal), representando 20% dos tumores ovarianos. Cerca de 75% dessas neoplasias são benignas, 10% são borderline e 15% são malignas. Os tumores benignos (cistadenomas mucinosos) ocorrem em qualquer faixa etária, com predomínio na quinta década (no carcinoma mucinoso, a idade média é de 45 anos). Os tumores borderline ou de baixo potencial de malignidade (tumor mucinoso proliferativo atípico – TMPA) tem a mesma distribuição dos benignos, porém acometem predominantemente mulheres na quarta década. A ruptura da parede de um cistadenoma (espontânea ou traumática) ou a disseminação das formas malignas ou borderline provoca a liberação de células e muco no peritônio, que formam implantes tumorais e aderências entre as vísceras, condição conhecida como pseudomixoma peritoneal MACROSCOPIA Macroscopicamente, os tumores mucinosos formam massascísticas multiloculadas, com conteúdo gelatinoso, alcançando, muitas vezes, grandes dimensões e peso (podem atingir até 50 kg). Estas não possuem área sólida As formas malignas apresentam múltiplas áreas de mucinas, áreas sólidas, necrose e nodularidade capsular. MICROSCOPICAMENTE Microscopicamente, os tumores benignos são revestidos por epitélio colunar simples e mucossecretor, sem atipias, podendo haver discreta pseudoestratificação. Os tumores borderline mostram epitélio com grau variável de estratificação, formação de vilos ou papilas e atipias nucleares discretas ou moderadas, porém sem invasão do estroma. Podem ser encontrados “lagos” acelulares de muco (pseudomixoma ovarii). As formas malignas caracterizam-se por crescimento infiltrativo, atipias nu- cleares e numerosas mitoses O carcinoma mucinoso primário do ovário tem prognóstico melhor do que o seroso TUMORES ORIGINADOS DOS CORDÕES SEXUAIS OU DO ESTROMA Tumores originados dos cordões sexuais constituem um grupo especial de tumores ovarianos, pois são quase todos funcionantes, ativos hormonalmente. Por isso mesmo, provocam quadros de alterações sexuais secundárias, produzidas por estrógenos ou andrógenos, podendo, portanto, ser feminilizantes ou masculinizantes. Embora apareçam em qualquer idade, são mais frequentes na idade adulta; em cerca de 40% dos casos, ocorrem após a menopausa. TUMOR DE CÉLULAS DA GRANULOSA Pertencem ao grupo de tumores mesenquimais feminilizantes (produção elevada de estrógenos), sendo mais comuns do que os tumores androgênicos ou virilizantes. Em mais de 90% dos casos, aparecem na pré ou na pós- menopausa, quando provocam hemorragias uterinas que não respondem ao tratamento clínico. Em crianças (5%), manifestam-se com sinais da síndrome de puberdade precoce. MACROSCOPIA O tumor de células da granulosa é volumoso, lobulado, predominantemente sólido, mas com áreas císticas de necrose e hemorragia, de coloração amarelada MICROSCOPIA A lesão é constituída por células típicas da granulosa, com núcleos em grão de café, com arranjo organoide ou trabecular, por vezes formando estruturas microfoliculares, do tipo corpúsculos de Call-Exner. Embora geralmente benigno (75 a 95% dos casos), o tumor de células da granulosa é potencialmente maligno. Pleomorfismo nuclear, necrose e mitoses atípicas são indícios de malignização, embora, na maioria dos casos, seja muito difícil prever o comportamento da lesão com base apenas em critérios histológicos. Os tumores da granulosa malignos têm comportamento indolente, com recorrências pélvico-abdominais ou metástases tardias, muitas vezes 10 ou 20 anos após a retirada do tumor primário. A α-inibina é produzida em tumores dos cordões sexuais (inclusive tumores da granulosa), podendo ser detectada em cortes de tecido ou dosada no sangue, comportando-se como um marcador tumoral TECOMA É constituído por células da teca dispostas em feixes, simulando fibroma, mas contendo gotículas lipídicas no citoplasma (células claras). Trata-se de tumor benigno, sólido, encapsulado, firme, de coloração róseo-amarelada, às vezes vermelho- tijolo (tumor bem colorido). O tecoma produz maior quantidade de estrógenos, que são responsáveis pelo maior risco de hiperplasia e câncer do endométrio. TUMORES DE CÉLULAS GERMINATIVAS Os tumores de células germinativas perfazem aproximadamente 20% das neoplasias do ovário e preferem a idade juvenil, sendo o grupo mais comum de câncer ovariano em crianças. As células germinativas neoplásicas podem seguir várias linhagens de diferenciação, produzindo neoplasias análogas às do testículo Como regra, quanto mais jovem a paciente, maior a probabilidade de uma neoplasia germinativa ser maligna. Os tumores principais deste grupo são os teratomas, que se caracterizam por produzir tecidos derivados dos três folhetos embrionários (ecto, meso e endoderma) Marcador Tumoral: Alfa-Fetoproteína TERATOMA MADURO Teratoma maduro é neoplasia benigna frequente do ovário, acometendo ampla faixa etária, com predomínio na idade reprodutiva (média = 32 anos). Na sua forma mais típica, é representado por cisto com 5 a 15 cm de diâmetro, de parede fibrosa e conteúdo pastoso amarelado (sebo) misturado com pelos, recebendo por isso a denominação de cisto dermoide. Em 15% dos casos, o tumor é bilateral. Frequentemente, o cisto dermoide contém estrutura sólida colada à parede, chamada promontório, onde podem ser encontrados cartilagem, osso e dentes Microscopicamente, encontram-se vários tipos de tecidos e estruturas organoides, todos maduros, derivados dos três folhetos embrionários, inclusive pele com anexos pilossebáceos, outros epitélios de revestimento e glandular, cartilagem, tecidos musculares A malignização em teratomas maduros é evento raro (1%), podendo dar origem a diversas neoplasias, inclusive carcinomas de padrão tireoidiano, melanoma e, principalmente, carcinoma de células escamosas TERATOMA IMATURO Teratoma imaturo é neoplasia maligna pouco frequente (1% dos cânceres ovarianos), constituída por tecidos imaturos, derivados de um ou mais folhetos embrionários, ocorrendo sobretudo nas duas primeiras décadas de vida (média = 18 anos). Macroscopicamente, o tumor é predominantemente sólido, tem tamanho variado e apresenta zonas de necrose, hemorragia e amolecimento. Histologicamente, o aspecto dominante é uma mistura de tecidos indiferenciados/imaturos, sendo o mais comum o neuroectodérmico (reproduz estruturas nervosas primitivas); outras áreas do tumor podem mostrar elementos mesenquimais, inclusive cartilagem imatura, osteoide e rabdomioblastos. Quanto maior a quantidade do componente imaturo, pior o prognóstico. O teratoma imaturo pode conter áreas com outros tipos de tumor maligno de células germinativas, como coriocarcinoma ou carcinoma embrionário (tumor misto de células germinativas). OBS: Se há os dois tipos de tecido, maduro e imaturo, considera-se teratoma imaturo e, portanto, maligno TUMORES METASTÁTICOS Origem mais frequente: mama, estômago, cólon, pâncreas, vias biliares e útero; linfomas também podem acometer os ovários Metástases de tumores do tubo digestivo (adenocarcinoma difuso pouco diferenciado), de tumor de Krukenberg, de origem no estômago e de cólon mais comuns, com células em anel de sinete
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