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Lesões: Causas e Mecanismos Quando uma célula sofre uma agressão, tende a se adaptar por atrofia, hipertrofia, metaplasia ou hiperplasia. Se o padrão de agressão for mantido, a célula perde a capacidade de se adaptar e a lesão torna-se irreversível, levando à morte celular. Uma célula que está sofrendo uma agressão, independente da causa, tem dois comportamentos celulares básicos: tumefação, resultante da entrada da água, e acúmulo de gordura no citoplasma na condição de triglicerídeos. Causas das Lesões Celulares ★ Hipóxia Consiste na redução do fornecimento de O2. A hipóxia pode ser causada pela oxigenação inadequada do sangue devido à insuficiência cardiorrespiratória, pela perda da capacidade carreadora de oxigênio pelo sangue, como o que ocorre na anemia, ou na intoxicação por monóxido de carbono. ★ Isquemia É a perda do suprimento sanguíneo adequado devido à obstrução do fluxo arterial ou redução da drenagem venosa de um tecido. Compromete não apenas o suprimento de oxigênio, mas também de substratos como a glicose. Consequentemente, tecidos isquêmicos são danificados mais rapidamente do que tecidos hipóxicos. ★ Anóxia Privação de oxigênio ★ Traumas mecânicos Lesão direta do tecido ★ Temperaturas extremas A regulação da temperatura influencia no metabolismo geral. Em situações de muito frio, o hipotálamo vai promover tremores para gerar calor a partir da contração muscular, de forma que o metabolismo basal de todos os sistemas fica concentrado no propósito de gerar calor, o que pode gerar danos graves. Da mesma forma, em situações de muito calor, uma condição persistente de sudorese pode causar desidratação, podendo levar à redução do volume sanguíneo, aumento da viscosidade do sangue e, por fim, um colapso vascular. ★ Agentes químicos e drogas Substâncias que influenciam o funcionamento renal podem perturbar a função dos podócitos, ou substâncias como a glicose ou o sal em concentrações hipertônicas podem causar lesão celular pela alteração da homeostase eletrolítica das células. Também podem ocorrer lesões decorrentes de venenos, poluentes, inseticidas, monóxido de carbono, álcool e narcóticos, etc. ★ Reações imunológicas Apesar de o sistema imunológico desempenhar uma função essencial de defesa contra agentes infecciosos, certas alterações podem induzir a síntese de antígenos que provocam ataques ao próprio corpo. ★ Distúrbios genéticos Podem estar relacionados desde a substituição de um único aminoácido na cadeia da hemoglobina, como ocorre na anemia falciforme, até malformações congênitas associadas a síndromes, como a Síndrome de Down. ★ Desequilíbrios nutricionais Danos relacionados a perda de substrato para a realização do metabolismo das células. Mecanismos das Lesões Celulares ★ Redução do ATP De um modo geral, toda forma de agressão celular, ela cursa com a redução de ATP. Essa diminuição é extremamente maléfica à célula, pois o ATP é necessário para vários processos na célula, como transporte de membrana e síntese proteica. A atividade da bomba de sódio da membrana plasmática dependente de energia é prejudicada, causando acúmulo intracelular de sódio e perda de potássio da célula. Este sódio intracelular atrai a água do líquido intersticial, gerando edema celular e dilatação do retículo endoplasmático. Se o suprimento de oxigênio para célula é reduzido, a fosforilação oxidativa fica dependente da glicólise anaeróbica para a produção de energia. Esta glicólise resulta, além de uma redução brusca dos depósitos de glicogênio celular, em um acúmulo de ácido lático e fosfato inorgânicos, reduzindo o pH intracelular, resultando na diminuição da atividade de muitas enzimas celulares, além da condensação da cromatina nuclear. Com a diminuição prolongada do ATP, ocorre uma ruptura estrutural dos mecanismos de síntese proteica manifestada pelo deslocamento dos ribossomos do retículo endoplasmático granular. Por fim, ocorre um dano irreversível às membranas mitocondriais e lisossomais, levando a necrose celular. ★ Alterações da permeabilidade da membrana A perda inicial da permeabilidade seletiva da membrana leva a um dano evidente da membrana, que pode afetar a mitocôndria, a membrana plasmática e outras membranas celulares. Nas células isquêmicas, os defeitos nas membranas podem resultar de uma série de eventos envolvendo a diminuição de ATP e a ativação das fosfolipases modulada pelo cálcio. ★ Perda da homeostasia do cálcio Os íons cálcio são importantes mediadores da lesão celular. A isquemia e certas toxinas causam um aumento inicial da concentração de cálcio no citosol devido ao influxo de Ca2+ através da membrana plasmática e liberação do Ca2+ das mitocôndrias e do retículo endoplasmático. Esse aumento intracelular de Ca2+, por sua vez, ativa várias enzimas que possuem efeitos celulares deletérios em potencial como as ATPases, que reduzem ainda mais os níveis de ATP, fosfolipases e as endonucleases. O aumento de níveis intracelulares Ca2+ também causa um aumento na permeabilidade mitocondrial e induz a apoptose. Em células que não possuem retículo sarcoplasmático, que pode armazenar cálcio, esse elemento torna-se tóxico. Ele vai ativar a ATPase, que degrada ATP; ativar a fosfolipase, que degrada fosfolipídios, como os presentes na membrana plasmática; e ativa a protease, causando a degradação de proteínas e do citoesqueleto, comprometendo sua forma. ★ Dano mitocondrial A lesão mitocondrial geralmente causa a formação de um canal de alta condutância, chamado poro de transição de permeabilidade mitocondrial, na membrana mitocondrial interna, que dificulta a manutenção do potencial de membrana, sendo muito prejudicial à célula. O dano mitocondrial pode ainda estar associado ao extravasamento do citocromo C, componente integral da cadeia de transporte de elétrons, no citosol, o que pode ativar a via da apoptose. Na membrana mitocondrial existe uma proteína chamada ciclofilina, que está relacionada com a rejeição de órgãos transplantados. Para bloquear a ação dessa proteína, utiliza-se a droga ciclosporina. ★ Estresse oxidativo Relacionado ao acúmulo de radicais livres, que são formados tanto em mecanismos de agressão quanto em condições normais. Podem causar peroxidação lipídica das membranas, modificação oxidativa das proteínas ou lesões no DNA. O acúmulo de radicais livres pode estar relacionado ao aumento da produção ou ingestão, como em defumados e raspas de queijos, ou à redução de antioxidantes, como ocorre em casos de falta de vitamina. Em uma isquemia ocorre a diminuição da fosforilação oxidativa e da quantidade de ATP, diminuindo também a eficiência da bomba de sódio e potássio. Com isso, aumenta o influxo de cálcio, de água, de sódio para dentro da célula, o que promove a formação de um edema do retículo endoplasmático com queda da expressão dos ribossomos e queda da síntese proteica, perda das microvilosidades e formação de bolha (tumefação). A queda do ATP promove o aumento da glicólise anaeróbica, que diminui os níveis de glicogênio e aumenta os níveis de ácido lático, levando a queda do pH celular e a condensação da cromatina. Isso afeta diretamente a síntese proteica, causando a perda de função da célula. A proteína p450 age desdobrando uma molécula tóxica em uma molécula potencialmente menos tóxica. Por exemplo, os barbitúricos, que eram utilizados como sedativo e atualmente são utilizados para tratar algumas epilepsias, passam pelo sistema porta-hepático, que retira uma fração útil do medicamento, a partir do retículo endoplasmático liso do hepatócito. Esse tipo de medicação exige uma readequação da dose, pois, com o tempo, ocorre a hipertrofia do retículo endoplasmático liso, levando a uma maior produção de p450 e uma maior retenção do medicamento, disponibilizando uma subdose a circulação sanguínea. O álcool aumenta a síntese de p450.
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