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SP 1.3 ESTRESSE, COMPLICAÇÃO E MAIS ESTRESSE...

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Desordens nutricionais e metabólicas 
 SP 1.3 – ESTRESSE, COMPLICAÇÃO E MAIS ESTRESSE... 
 
1. Definir a síndrome de má absorção intestinal. 
Os termos "síndrome de má absorção" ou "síndrome 
disabsortiva" podem ser definidos como qualquer 
síndrome etiologicamente relacionada com alguma 
anormalidade na absorção pelo intestino delgado. 
Com este embasamento, uma grande variedade de 
condições necessita ser investigadas e diferenciadas. 
Adicionalmente, como o conhecimento é contínuo, 
outras afecções poderão ser agregadas, no futuro. 
Considera-se a má digestão como resultante dos 
problemas concernentes à hidrólise do conteúdo 
luminal e má absorção ou disabsorção o impedimento 
ao transporte através da mucosa. Entretanto, na prática 
clínica, má absorção é usada para descrever o 
resultado final de ambos os processos. 
CLASSIFICAÇÃO 
Estima-se que diariamente as pessoas consumam 
cerca de 2.000 - 3.000 calorias em alimentos. A maior 
parte dessa carga calórica está na forma de polímeros 
ou outros compostos complexos que devem ser 
cindidos em pequenas moléculas para serem 
transportados através da mucosa do intestino delgado. 
Assim, proteínas são clivadas em oligopeptídios e 
aminoácidos; o amido é quebrado em 
monossacarídeos; e as gorduras são transformadas em 
ácidos graxos e monogliceridios. Os processos de 
digestão e absorção são complexos e, muitas vezes, 
prejudicados e podem originar cerca de 200 condições 
associadas a defeitos em tais processos, possivelmente 
gerando grande prejuízo ao organismo. 
A digestão e a absorção normais podem ser divididas 
em estágios sequenciais: 
• hidrólise na membrana do enterócito; 
• hidrólise e solubilidade luminais; 
• absorção através da membrana do enterócito 
e processamento celular; 
• captação do enterócito para o sangue e a linfa. 
No estágio luminal, proteínas, carboidratos e lipídios 
são hidrolisados por enzimas liberadas pelas glândulas 
salivares, estômago e pâncreas. A bile do fígado 
participa do processo, criando um meio orgânico de 
solubilização envolvido na digestão dos lipídios. A 
digestão continua ao nível da membrana celular, onde 
ocorre a hidrólise dos peptídeos e dissacarídeos pelas 
enzimas da borda estriada. A seguir, há absorção 
celular de aminoácidos, pequenos peptídeos, 
monossacarídeos, monoglicerídios e ácidos graxos. Já 
dentro do enterócito, os nutrientes são processados. 
Água e pequenas moléculas também podem ser 
absorvidas por rota paracelular. Os nutrientes 
absorvidos são então transportados para dentro dos 
vasos sanguíneos e linfáticos e, então, levados a 
órgãos distantes para armazenamento e/ou 
metabolismo. Qualquer alteração que afete algum 
desses estágios pode levar à má digestão e/ou má 
absorção. 
Do ponto de vista fisiopatológico, as causas de má 
absorção podem ser divididas em condições clinicas 
associadas a: 
• impedimento da hidrólise luminar ou 
solubilização (órgãos da digestão: Causas pré-
epiteliais ou pré-entéricas; 
• impedimento da função da mucosa (hidrólise 
na mucosa, captação e empacotamento 
através do epitélio colunar): Causas epiteliais 
ou entéricas; 
• impedimento à remoção dos nutrientes da 
mucosa (vasos linfáticos e estruturas 
ganglionares mesenteriais): Causas pós-
epiteliais ou pós-entéricas. 
Desordens nutricionais e metabólicas 
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Distúrbios na mistura 
Os pacientes submetidos à gastrectomia parcial com 
reconstrução a Billroth II (gastrojejunoanastomose) 
podem desenvolver síndrome de má absorção 
resultante da liberação de secreções biliares e 
pancreáticas distante de onde o quimo chega ao 
jejuno. Os pacientes também apresentam uma 
tendência ao supercrescimento bacteriano, pelas 
anastomoses criadas pelo procedimento. 
Distúrbios na hidrólise luminal dos nutrientes, em 
especial a lipólise 
Como já ressaltado, as situações de lesão da mucosa, 
em geral, acabam provocando déficit na digestão 
luminal dos nutrientes por falta de estímulo 
pancreático pela secretina e CCK.7 A lipase 
pancreática é a enzima responsável pela degradação 
dos lipídios ingeridos na dieta, particularmente os 
triglicerídios. Uma série de condições pode prejudicar 
sua síntese ou ativação, entre as quais: deficiência 
congênita de lipase pancreática, hipersecreção ácida 
gástrica, como no caso da síndrome de Zollinger- -
Ellison ou gastrinoma, e destruição da glândula 
pancreática, por fibrose cística (mucoviscidose), 
inflamação crônica (pancreatite crônica) ou neoplasia. 
Distúrbios na formação de micelas 
Após a lipólise, o produto resultante (ácidos graxos e 
glicerol) interage com sais biliares e fosfolipídios para 
a formação de micelas, e sob essa forma ocorre a 
maior parte da absorção desses nutrientes. As micelas 
também incorporam colesterol e vitaminas 
lipossolúveis (A, D, E, K) em seus centros 
hidrofóbicos. Existe uma concentração mínima de sais 
biliares necessária para a formação de micelas. 
Portanto, condições em que sua síntese (p. ex., cirrose 
hepática), transporte (p. ex., obstrução das vias 
biliares) ou reabsorção (p. ex., lesão do íleo terminal 
como na doença de Crohn ou ressecção ileal) estejam 
prejudicados, ou, ainda, em casos de remoção ou 
inativação luminal dos sais biliares (p. ex., uso de 
colestiramina, quelando os sais biliares, 
desconjugação precoce dos sais biliares no super - 
crescimento bacteriano de delgado etc.) ocorre má 
absorção, a qual se caracteriza principalmente pela 
deficiência de vitaminas lipossolúveis, uma vez que a 
absorção de ácidos graxos e glicerol pode se dar de 
outras formas, em menor grau. 
Diminuição na síntese ou transporte/secreção de 
sais biliares 
Doenças hepáticas, colestáticas ou não, e obstrução 
dos ductos biliares podem causar má absorção. Uma 
das doenças mais importantes nesse grupo é a cirrose 
biliar primária, pelo seu caráter prolongado e 
colestático. A manifestação mais comum é a doença 
óssea, como osteoporose e osteomalacia. 
Supercrescimento bacteriano 
As principais causas de supercrescimento bacteriano 
no intestino delgado estão relacionadas à diminuição 
da secreção ácida pelo estômago, como gastrite 
atrófica, uso de antiácidos ou cirurgias gástricas que 
diminuem a secreção cloridropéptica, e à diminuição 
da motilidade intestinal, como diabete melito ou es - 
clerodermia. Condições anatômicas ou pós-cirúrgicas 
que causam estase ou recirculação das bactérias, ha - 
bitualmente restritas ao cólon, também provocam o 
supercrescimento bacteriano. As bactérias anaeróbias 
desconjugam precocemente os ácidos biliares, que 
são, assim, mais facilmente absorvidos no delgado 
superior, diminuindo, portanto, a concentração 
luminal e prejudicando a formação de micelas. Além 
disso, os ácidos biliares desconjugados perdem 
bastante seu poder de solubilizar as gorduras. 
Ademais, as bactérias utilizam a vitamina B12 para a 
produção de folato e liberam proteases que degradam 
dissacaridases presentes na borda em es - cova do 
intestino delgado, ocasionando deficiência na 
hidrólise complementar da mucosa intestinal e de 
vitamina B12. O quadro clínico inclui diarreia aquosa 
ou esteatorreia, dor abdominal, emagrecimento e 
flatulência, além de manifestações causadas por de - 
ficiência de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). O 
diagnóstico é feito por cultura de aspirado duodenal 
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ou jejunal ou por testes respiratórios. O tratamento 
envolve a correção dos fatores predisponentes, quan - 
do possível, o uso de pró-cinéticos e antibioticotera - 
pia por 7 a 14 dias, em sistema cíclico e de rodízio (p. 
ex., uma semana por mês, alternando o antibió - tico a 
cada ciclo), sendo tetraciclina, ciprofloxacina, 
amoxicilina/clavulanato, cefalexina e metronidazol as 
drogas habituais de escolha.Ressecção ileal ou doença ileal 
A perda de sais biliares por deficiência na reabsorção 
no íleo terminal (prejuízo na circulação 
ênterohepática) é também importante causa de má 
absorção, seja em pós-operatório de enterectomia ou 
na ocorrência de doenças que comprometam a região 
ileal, como doença de Crohn, tuberculose, 
blastomicose, histoplasmose, linfoma, enterite 
actínica, infecção por Yersinia sp., espru tropical etc. 
Na doença de Crohn também contribuem para a má 
absorção a presença de fístulas enterais e estenoses, 
que favorecem o supercrescimento bacteriano, além 
de hipomotilidade vesicular. As manifestações 
clínicas variam de acordo com o comprometimento 
ileal. Se o comprometimento for menor que 100 cm, o 
quadro predominante é de diarreia aquosa, por 
estimulação da secreção colônica em resposta à 
presença de sais biliares no intestino grosso. Em geral, 
não há esteatorreia importante, pois há aumento na 
produção de sais biliares pelo fígado de maneira 
compensatória, mas que se torna insatisfatória se a 
extensão do comprometimento da mucosa for superior 
a 100 cm. Em longo prazo, pode haver formação de 
litíase biliar e renal, além de doença óssea. O 
tratamento é geralmente feito com colestiramina, 2 a 
4 g, junto às refeições. Antidiarreicos, como 
loperamida, e reposição de vitamina B12 por via 
parenteral (a vitamina B12 é absorvida no íleo) podem 
ser prescritos. Nos casos de esteatorreia, 
recomendam-se dieta pobre em gorduras e reposição 
de cálcio e vitaminas lipossolúveis. 
Distúrbios na hidrólise da borda em escova 
Intolerância à lactose 
A deficiência adquirida de lactase é a causa mais 
comum de má absorção seletiva de carboidratos; 
ocorre principalmente por uma diminuição em sua 
síntese, mas também por deficiência no transporte 
intracelular e na glicosilação da lactose. A prevalência 
da deficiência é extremamente elevada em negros e 
asiáticos, bem como em pacientes com aids. Os 
pacientes apresentam-se, tipicamente, com dor 
abdominal em cólica, flatulência e eructações após 
ingestão de leite e derivados. Secundariamente, pode 
ocorrer diarreia osmótica por dificuldade na 
reabsorção de grande quantidade de ácidos graxos de 
cadeia curta produzidos pela metabolização da lactose 
por bactérias colônicas. Algumas doenças podem 
causar deficiência de lactose secundária e reversível, 
como gastroenterite aguda (viral ou bacteriana), 
giardíase, doença celíaca e supercrescimento 
bacteriano. O diagnóstico é feito pelo teste do 
hidrogênio expirado após sobrecarga de lactose, e o 
tratamento compreende dieta pobre em alimentos que 
contenham lactose e uso da própria enzima sob forma 
de comprimidos. Intolerância à trealose também é 
descrita, por deficiência de trealose (presente 
principalmente em cogumelos). Os sintomas são 
semelhantes aos observados na intolerância à lactose. 
Distúrbios na absorção pela mucosa 
Infecções: Giardia intestinalis 
Uma importante causa de má absorção intestinal, 
principalmente nos países em desenvolvimento, é a 
infecção por Giardia intestinalis, anteriormente 
chamada de Giardia lamblia. O quadro de infecção por 
esse protozoário pode variar de assintomático até o de 
diarreia crônica, esteatorreia, desnutrição e retardo de 
crescimento. Os fatores que provocam 
desenvolvimento de quadros mais graves são 
hipogamaglobulinemia, alta densidade de parasitas e 
fatores relacionados à própria virulência do 
protozoário. Nos casos de má absorção, o quadro 
histológico é de atrofia subtotal de vilos, com 
hiperplasia de criptas e infiltração intraepitelial de 
linfócitos. Além da enteropatia produzida, outros 
fatores contribuem para o quadro clínico, como 
supercrescimento bacteriano, desconjugação de sais 
biliares e inibição de enzimas. 
Doença de Whipple 
A doença causada pelo Tropheryma whippelii é 
multissistêmica e envolve, além do trato 
gastrointestinal, o sistema nervoso central (SNC), o 
coração e as articulações, bem como outros órgãos. 
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Seu diagnóstico costuma ser dado por biópsia da 
terceira porção duodenal ou mais distal. O tratamento 
costuma ser feito com antibióticos simples como 
sulfametoxazol e trimetoprima por longo período – 
habitualmente um ano. A doença pode recorrer após 
sua interrupção. 
Espru tropical 
O espru tropical consiste em uma síndrome de 
etiologia indeterminada (provavelmente, não 
relacionada a uma entidade única) que acomete 
habitantes ou visitantes de regiões tropicais e 
subtropicais. Os pacientes desenvolvem diarreia e má 
absorção de pelo menos duas substâncias não 
correlatas, xilose e vitamina B12, por exemplo. 
Existem evidências de colonização de bactérias 
provenientes do intestino grosso e protozoários, como 
Cryptosporidium sp., Isospora sp. e Cyclospora sp. 
Enterite actínica 
Os pacientes submetidos à radioterapia por tumores 
pélvicos podem desenvolver quadros de diarreia até 
20 anos após as sessões, por má absorção de sais 
biliares, vitamina B12 e lactose. Histologicamente, o 
quadro típico é o de uma endarterite obliterativa de 
pequenos vasos. Alguns estudos demonstram melhora 
da sintomatologia com terapia com câmara 
hiperbárica de oxigênio. 
Distúrbios no transporte de nutrientes 
Distúrbios na drenagem linfática 
O aumento na pressão do sistema linfático causa perda 
e até ruptura dos vasos linfáticos, com extravasamento 
para o lúmen intestinal de lipídios, gamaglobulina, 
albumina e linfócitos, acarretando um quadro de 
diarreia e edema, por hipoalbuminemia. Dentre as 
principais causas, destacam-se: linfangiectasia 
intestinal congênita primária (descrita em outro 
capítulo) e linfangiectasias secundárias ao linfoma, à 
tuberculose, à blastomicose, ao lúpus, à doença de 
Crohn, ao sarcoma de Kaposi, à fibrose 
retroperitoneal, à pericardite constritiva e à 
insuficiência cardíaca congestiva em graus avançados. 
Enteropatia perdedora de proteínas 
Muitas das condições supracitadas podem causar 
enteropatia perdedora de proteínas, sejam elas com 
dano da mucosa, como nos casos de linfoma, doença 
celíaca, espru tropical, doença de Whipple, lúpus 
eritematoso sistêmico (LES) e supercrescimento 
bacteriano, ou somente com lesão linfática. 
Mecanismos não totalmente esclarecidos 
Existem certas condições que são causadoras de 
síndrome de má absorção, porém, o mecanismo 
causador permanece desconhecido. Entre elas, citam-
se: hipoparatireoidismo, insuficiência de suprarrenal, 
hipertireoidismo e síndrome carcinoide. 
Síndrome de má absorção intestinal no idoso 
Um estudo revelou que alterações na arquitetura dos 
vilos do intestino superior em idosos resultam de um 
processo de doença que afeta o trato digestivo, e não 
apenas do processo de envelhecimento per se. 
Qualquer doença que, eventualmente, acometa os 
jovens, pode também ocorrer nos idosos. Entretanto, 
existe uma prevalência aumentada de certas afecções 
com o aumento da idade, como a pancreatite crônica e 
o supercrescimento bacteriano, este último pela hipo 
ou acloridria e/ou diminuição da motilidade intestinal. 
Mais raramente, pode haver má absorção por isquemia 
intestinal crônica. 
 
 
 
2. Estudar a epidemiologia, fatores de risco, etiologia, fisiopatologia, quadro clinico, diagnóstico 
(anatomopatológicas + laboratoriais + imagem), diagnóstico diferencial, complicações e tratamento 
(medicamentoso e não medicamentoso, com foco na reeducação alimentar) da síndrome da má absorção 
intestinal (Doença de Crohn). 
A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória 
intestinal de origem desconhecida, caracterizada pelo 
acometimento segmentar, assimétrico e transmural de 
qualquer porção do tubo digestivo, da boca ao ânus. 
Apresenta-se sob três formas principais: inflamatória, 
fistulosa e fibroestenosante. Os segmentos do tubo 
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digestivo mais acometidos são íleo, cólon e região 
perianal. 
EPIDEMIOLOGIA 
Em países desenvolvidos, a prevalência e a incidência 
situam-se em torno de 50:100.000 e 5:100.000, 
respectivamente. Uma estimativa da prevalência na 
cidade de São Paulo encontrou 14,8 casos por 100.000 
habitantes. A DC tem início mais frequentemente na 
segunda e terceira décadas de vida, mas pode afetar 
indivíduos de qualquer faixa etária 
ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO 
1. Fatores imunológicos 
Diferentes autores sugerem que um antígeno 
inespecífico associado a fatores ambientais e à flora 
microbiana intestinal ativam uma resposta 
inflamatória e imune desregulada, em indivíduos 
geneticamente susceptíveis ou não. Em um segundo 
estágio, esta resposta se amplificaria, envolvendo 
macrófagos, linfócitos e neutrófilos. Não se sabe se a 
ativação inicial dos mecanismos imunológicos 
efetores é desencadeada por fatores extrínsecos ou 
intrínsecos, persistindo a dúvida se o sistema imune 
está respondendo a uma falha anormal na mucosa 
devido à outra anormalidade primária ou se a resposta 
imune inicial é primariamente desregulada. A quebra 
de barreira da mucosa por agentes infecciosos ou 
toxinas e a contínua exposição a antígenos da dieta ou 
bactérias da luz intestinal perpetuam a cascata 
inflamatória. 
O equilíbrio imunológico baseia-se em grande parte 
no reconhecimento de moléculas associadas aos 
microorganismos, através de receptores do tipo Toll-
like receptor (TLR) e nucleotide oligomerization 
domain - domínio de oligomerização nucleotídea 
(NOD), presentes em células de defesa como 
macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, células de 
Paneth (célula exócrina presente no intestino delgado) 
da e células epiteliais intestinais existentes na mucosa 
intestinal. Dentre os receptores da família NOD, 
destacam-se as proteínas NOD-1 e NOD-2, que são 
capazes de detectar componentes de bactérias Gram-
positivas e Gram-negativas, sendo que, uma vez 
alteradas, podem influenciar na fisiopatologia, 
características e evolução clínica da DC. 
O sistema imune inato tem um importante papel no 
controle da invasão das bactérias luminais e na 
prevenção de respostas pró-inflamatórias de longa 
duração. Qualquer falha nestes mecanismos pode 
resultar na origem da DC. A primeira linha de defesa 
é representada por polimorfonucleares, monócitos e 
macrófagos na mucosa intestinal. O macrófago é a 
primeira célula a receber o antígeno e o apresenta 
através das moléculas do complexo maior de 
histocompatibilidade (MHC) para as células T CD4+. 
Os macrófagos ativados produzem citocinas pró 
inflamatórias como fator de necrose tumoral alfa 
(TNF-α) e IL-12, induzindo a resposta Th1 da célula 
T CD4+. Os linfócitos T CD4+ ativados podem se 
diferenciar em Th1 e Th2, que diferem no tipo de 
citocinas liberadas e em suas funções. Células Th1 
produzem grandes quantidades de citocinas IL-2, 
TNF-α e interferon –γ (INF-γ) e perpetuam a resposta 
inflamatória, enquanto as Th2 produzem citocinas 
como IL-4, IL-10 e TGFβ (fator de crescimento de 
transformação beta) que reduzem a inflamação. A 
continuidade deste processo inflamatório na mucosa 
intestinal leva à progressão da resposta Th1, 
caracterizada por aumento significativo de IL-2, INF-
γ e de citocinas inflamatórias (IL-1, IL-8 e TNF-α). 
Nas lesões crônicas, INF-γ desempenha papel 
importante ao estimular o macrófago, que por sua vez 
irá estimular a produção de TNF-α. 
O TNF-α é um dos mediadores mais importantes nesta 
doença. É produzido por vários tipos de células e tem 
entre outras funções, a produção de moléculas de 
adesão e citocinas inflamatórias, apoptose celular, 
recrutamento de neutrófilos para os locais de 
inflamação, ativação da coagulação e indução da 
formação de granulomas. Vários estudos 
demonstraram um aumento do TNF-α no soro, fezes e 
mucosa intestinal de indivíduos com DC. Um 
desequilíbrio entre a secreção e a inibição do TNF-α 
poderá estar implicado na patogênese da doença. O 
bloqueio do TNF-α por anticorpos monoclonais 
(Infliximab) diminui as respostas Th1, sendo por isso 
usado como uma forma de tratamento eficaz na DC 
moderada a severa, com melhoras em termos clínicos 
e endoscópicos. Na DC, os macrófagos e as células 
dendríticas (CDs) não só estão aumentados em 
número, como também expressam de forma acentuada 
TLR2 e TLR4, moléculas coestimuladoras e 
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produzem mais citocinas pró-inflamatórias como IL-
12 e IL-6, com a consequente ativação de células Th1. 
Além disso, as CDs produzem menos IL-10, o que 
diminui as respostas reguladoras. As células de Paneth 
também têm uma contribuição importante na resposta 
imune. Na DC, a mutação do gene NOD-2 diminui a 
produção das defensinas por estas células, o que reduz 
a resistência contra os microrganismos entéricos. As 
moléculas de adesão, como ICAM-1 e as integrinas, 
são essenciais para a migração dos leucócitos para o 
foco inflamatório. A sua produção está aumentada na 
DC. O sistema imune adaptativo também desempenha 
um papel essencial na patogênese da DC. 
A natureza das respostas imunitárias e o tipo de 
citocinas produzidas estão sob o controle genético e 
determinam as características do processo 
inflamatório. No sistema imune adaptativo, uma 
resposta exagerada das células Th1 aos componentes 
da microflora intestinal contribui para a inflamação na 
DC. Estas células, têm entre outras funções, o 
aumento da expressão de moléculas MHC-II nas 
células apresentadora de antígeno (APC), a ativação 
de células T citotóxicas (células T CD8+), ativação de 
macrófagos e a produção de IgG pelos linfócitos B. 
Além desta resposta imunológica de Th1, tem se dado 
ainda maior atenção as citocinas IL-23 e IL-17. 
Estas citocinas estão aumentadas nos tecidos de 
indivíduos com DC. A IL-23, produzido pelas APC, 
tais como as células dentríticas e macrófagos, estimula 
a produção de IL-17, TNF-α e IL-6 pelas células Th17. 
A IL-17 tem uma potente atividade pró-inflamatória 
que induz a produção de citocinas que aumentam as 
respostas Th1, quimiocinas e moléculas de adesão 
pelas células epiteliais, endoteliais e fibroblastos. 
Embora se considere que a DC seja mediada por 
células Th1 devido aos elevados níveis de IL-12 e 
IFN-γ detectados, novos achados sugerem que a IL-23 
é uma citocina chave na inflamação intestinal. Apesar 
destes resultados, o papel das células Th1 não deve ser 
excluído, uma vez que a IL12/IFN-γ e a IL-23/IL-17 
são vias paralelas na DC. No entanto, elas são 
mutuamente exclusivas, uma vez que o IFN-γ suprime 
a IL-17 e vice-versa. Sendo assim, quer a resposta Th1 
quer o eixo IL-17/IL-23 devem ser considerados da 
maior importância para a patogênese da DC. 
2. Fatores genéticos 
O histórico familiar positivo para a DII é o fator mais 
importante considerando o aspecto genético. A 
ocorrência da DC em vários membros de uma mesma 
família sugere uma predisposição genética, 
principalmente entre irmãos. Pesquisas relatam que o 
risco de descendente de primeiro grau com DC ou de 
descendente judeu ter DC na família é 5 e 12 vezes 
superior, respectivamente, e isso está ainda associado 
com probabilidade de ter doença mais grave e com 
idade mais precoce. Demonstrou-se através dos 
estudos que gêmeos monozigóticos possuem maior 
taxa de incidência de DC que gêmeos dizigóticos. 
Através de dados como incidência familiar e 
epidemiologia indica-se que, dependendo da 
constituição genética, a mesma causa ambiental 
poderia desencadear a DC. Esta outra possibilidade 
seria que em indivíduos geneticamente predispostos e 
com lesão da mucosa intestinal desencadeada por 
agentes etiológicos diferentes, origina uma 
inflamação crônica e uma ativaçãocontínua e 
excessiva das respostas imunitárias, porque há uma 
incapacidade de remover as bactérias ou outro fator 
ambiental e reparar os defeitos epiteliais. 
A descoberta do primeiro lócus ligado à 
suscetibilidade para a DC contribuiu para o importante 
avanço do entendimento da base genética da doença. 
O lócus de suscetibilidade para DC, denominado 
IBD1 (Inflammatory Bowel Disease 1 – Doença 
Inflamatória Intestinal 1), se localiza na região 
pericentromérica do cromossomo 16 (16q12). 
Posteriormente, foi descrita uma associação entre 
mutações no gene CARD15 (Caspase recruitment 
domain-containing protein 15 - proteína 15 do 
domínio de recrutamento da caspase), o qual codifica 
a proteína NOD-2 (nucleotide oligomerization domain 
2 - domínio de oligomerização nucleotídea 2), com a 
ocorrência de doenças inflamatórias intestinais, sendo 
este o gene mais estudado na DC. O gene CARD15 
contém 12 exons, incluindo o primeiro exon como 
facultativo. Mais de 30 diferentes mutações, 
espalhadas ao longo do gene CARD15, foram 
identificadas. Entretanto, somente três polimorfismos 
comuns em pacientes com DC foram associados com 
um risco aumentado de desenvolvimento da DC: 
SNP8 (R702W), SNP12 (G908R) e SNP13 
(Leu1007insC), localizados no exons 4, 8 e 11 
respectivamente. A proteína CARD15 contém 1040 
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aminoácidos e apresenta na sua estrutura dois 
domínios de recrutamento da caspase na porção N-
terminal, um domínio central de ligação nucleotídica; 
e uma região rica em repetições de leucina na porção 
C-terminal (RRL) (leucine rich repeat - LRR). As 
proteínas pertencentes à família NOD contêm 
estrutura semelhante, como o CARD1 para NOD-1. 
O NOD-2/CARD15 é um receptor de reconhecimento 
padrão citoplasmático do sistema imune inato, cujo 
domínio LRR é responsável pelo reconhecimento 
intracelular de produtos bacterianos, 
muramildipeptídeo (MDP), um derivado da 
degradação de peptidoglicanos encontrado na parede 
celular de bactérias grampositivas e gram-negativas. 
A proteína CARD15 induz a apoptose e a ativação da 
via de sinalização do fator de transcrição nuclear 
kappa beta (NF-κβ). A ativação do NF-κB estimula a 
expressão de diversas moléculas relevantes para a 
patogênese da DC: IL-1, IL-6, IL-8, IL-12, IL-23, 
TNF-α, moléculas de adesão e moléculas 
coestimuladoras (CD40, CD80 e CD86) essenciais 
para a interação entre os vários elementos do sistema 
imunitário, nomeadamente para ativação das células 
T. O NFκβ desempenha função importante na 
manutenção da homeostasia da mucosa e também age 
como mediador nas respostas específicas a patógenos. 
É um importante fator de transcrição pró-inflamatório 
induzindo a expressão de mediadores como TNF ou 
IL-1 e outras citocinas pró-inflamatórias (IL-1, TNF-
α, IL-6, IL-12; IL-18), antiinflamatórias (IL-10), 
quimiocinas (IL-8), moléculas de adesão, as 
defensinas, entre tantos outros mediadores 
inflamatórios. A proteína CARD15 encontra-se nos 
macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, células de 
Paneth e células epiteliais intestinais. Em 
circunstâncias normais, o MDP é detectado na região 
RRL da proteína NOD-2, induzindo a via de 
sinalização para a ativação do fator NF-κβ. 
Este achado demonstra a possível origem do 
desequilíbrio na resposta imunológica inata entre 
bactérias/ hospedeiro observado na DC, uma vez que 
a proteína NOD-2 tem por função a ativação de uma 
resposta inflamatória moderada, a partir do 
reconhecimento de um produto bacteriano específico. 
As mutações em NOD-2 afetam a capacidade desta 
proteína ativar adequadamente a expressão de NF-κβ, 
um fator necessário para manter uma adequada 
homeostasia intestinal. Além disso, estes 
polimorfismos podem alterar a produção de 
defensinas e citocinas. Além da descoberta da NDO-
2/CARD15, descobriu-se novos lóci associados não só 
com a DC, mas também com a RCU. Estes genes 
também têm funções importantes na regulação da 
imunidade inata, integridade da barreira epitelial, 
eliminação microbiana e homeostase. Apesar desta 
descoberta ter sido um grande avanço no estudo da 
DC, não pode ser considerada como a causa específica 
do seu desenvolvimento pois estima-se que essas 
mutações no gene NOD-2/CARD15 estão presentes 
em até 30% dos indivíduos com DC. 
3. Fator Ambiental 
Estudos de risco ambiental envolvem vários fatores na 
DII. Dentre eles incluem-se o tabagismo, o uso de 
fármacos anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e 
outras drogas, dieta alimentar, estresse, alteração da 
permeabilidade intestinal e infecção microbiana. Os 
mecanismos envolvidos com estes fatores que 
desencadeiam o aparecimento ou reativam a doença, 
ainda não são bem compreendidos. Embora exista 
uma forte relação entre os fatores ambientais e a DC, 
nenhum destes isoladamente é capaz de determinar o 
seu desenvolvimento, sendo também importante a 
susceptibilidade genética para que a doença se 
manifeste. 
a) Tabagismo 
O tabagismo é considerado o melhor exemplo da 
influência do fator ambiental no desenvolvimento da 
DC. O consumo de tabaco aumenta o risco de 
desenvolver DC, as complicações como estenoses ou 
fístulas, a frequência dos surtos da doença, a 
necessidade de cirurgia e consumo de corticoides e 
imunossupressores. Por sua vez, a descontinuação do 
mesmo propicia melhoras significativas. Alguns 
autores acreditam que a ação da nicotina do tabaco 
seja a de promover supressão da imunidade, 
interferindo na formação de subprodutos da 
degradação do ácido araquidônico, cujos metabólitos 
estão altamente envolvidos na atividade das doenças 
intestinais inflamatórias. Outros autores afirmam que 
a nicotina afeta a imunidade humoral e celular, 
podendo ou não estimular a produção exagerada de 
Desordens nutricionais e metabólicas 
 SP 1.3 – ESTRESSE, COMPLICAÇÃO E MAIS ESTRESSE... 
 
células Th1 que produzem as citocinas que perpetuam 
a resposta inflamatória (TNF-α, IL-2 e INF-γ). Além 
disso, nicotina tem um efeito inibitório nas células 
Th2, que predominam na RCU, na qual se observa um 
efeito protetor para essa doença. No entanto, poucos 
autores acreditam que a nicotina poderia causar uma 
diminuição da produção de IgA, a capacidade de 
fagocitose pelos macrófagos e os mecanismos 
antioxidantes. Também, diminuindo a capacidade de 
vasodilatação dos vasos inflamados, originando uma 
isquemia e perpetuação da fibrose e ulceração; e, por 
último, aumenta o potencial trombótico associado 
com a lesão vascular, contribuindo desta forma para a 
patogênese da DC. Porém, nem todos os estudos são 
considerados aceitos em relação aos efeitos do tabaco 
no desenvolvimento da DC. 
b) Dieta alimentar 
A participação crescente na dieta do homem de 
alimentos industrializados contendo aditivos e 
preparados químicos diversos; o consumo excessivo 
de carboidratos refinados, gorduras polisaturadas, a 
baixa ingestão de fibras e de leite; o desmame precoce, 
e a presença de pesticidas em alimentos vegetais, 
associados a microrganismos, poderiam justificar o 
aumento da incidência da DC nos últimos anos. 
Embora não existam, ainda, evidências experimentais 
que comprovem a influência de fatores dietéticos na 
etiologia da DC, sugere-se que determinados 
antígenos da dieta possam ser impropriamente 
absorvidos devido a algum defeito na permeabilidade 
das células da mucosa, ou que ocorra um aumento da 
permeabilidade intestinal a macromoléculas e a alguns 
açúcares não-absorvíveis em pacientes com DC e seus 
familiares. Alguns autores acreditam que o aumento 
da tendência de DC nos países considerados com 
baixa taxa de incidência, como Ásia, poderia ser 
causada pela adaptação aos hábitos alimentares 
ocidentais. 
c) Uso de fármacos 
Outros agentes ambientais, como os fármacos, 
também têm sido estudados visando estabelecer uma 
relaçãocom a DC. As drogas anti-inflamatórias não 
esteroides (AINES) e os contraceptivos orais são os 
mais comentados como a causa de DC. As mulheres 
que tomam contraceptivos orais têm um risco duas 
vezes superior de desenvolver DC, embora não se 
encontre provada essa evidência. Em relação aos anti-
inflamatórios não-esteroides (AINES), essas drogas 
inibem as prostaglandinas que regulam sua função no 
processo inflamatório e podem causar atividade de 
DII. É interessante notar que os outros medicamentos 
de inibidores seletivos da ciclooxigenase 2 (COX 2), 
que também diminuem ou inibem a síntese de 
prostaglandinas pelo intestino, podem provocar a DC. 
d) Infecções bacterianas 
Uma das hipóteses etiológicas para o 
desenvolvimento da DC considera que esta é causada 
pela infecção persistente por um microorganismo 
específico. Vários agentes patogênicos tais como 
Chlamydia trachomatis, Mycobacterium 
paratuberculosis, Escherichia Coli, Listeria spp, 
Yersinia spp, Clostridium septicum, Helicobacter 
pyroli, Saccharomyces cerevisiae, Pseudomonas 
maltophilia, Mycobacterium Kansasii, têm sido 
apontados como possíveis causas. No entanto, ainda 
existe muita controvérsia nesta relação. Embora todo 
o tubo digestivo seja amplamente colonizado por 
bactérias, existe entre seus diversos segmentos uma 
grande variedade na concentração destas. A presença 
de secreções ácidas e biliares no estômago e intestino 
delgado proximal, e a presença de um trânsito mais 
acelerado, contribuem para uma redução da 
quantidade de bactérias nestes segmentos. A 
colonização bacteriana aumenta de forma exponencial 
no intestino delgado distal, devido à ausência das 
referidas secreções e pelo retardo de trânsito pela ação 
da válvula ileocecal. No cólon iremos observar um 
aumento acentuado da flora bacteriana, na qual 
coexistem cerca de 400-500 espécies. A microflora 
intestinal forma uma barreira de defesa natural e 
exerce numerosos efeitos protetores, estruturais e 
metabólicos no epitélio intestinal, síntese de 
aminoácidos e vitaminas (folatos, biotina, vitamina K 
e vitaminas do complexo B), manutenção da 
integridade do epitélio intestinal através da interação 
com os receptores TLR e NOD, produção de fatores 
antimicrobianos, por exemplo ácido láctico, entre 
outros. 
Apesar de todas estas importantes funções, os 
microrganismos que constituem a flora intestinal 
podem ser responsáveis pelo desenvolvimento da DC 
Desordens nutricionais e metabólicas 
 SP 1.3 – ESTRESSE, COMPLICAÇÃO E MAIS ESTRESSE... 
 
em indivíduos geneticamente predispostos e no 
contexto de uma desregulação imunitária. Existem 
múltiplas evidências de que os microrganismos 
desempenham um papel chave no surgimento das 
doenças inflamatórias intestinais crônicas. Estudos 
experimentais demonstram a impossibilidade do 
desenvolvimento desta inflamação na ausência de 
microrganismos. Com esse achado, cada vez mais a 
infecção bacteriana intestinal tem sido considerada 
como um dos mais importantes fatores no 
desenvolvimento da DC. No entanto, o papel exato do 
agente microbiano ainda não está totalmente 
estabelecido. Há várias teorias de infecção bacteriana 
que poderiam explicar a DC. A maioria dos autores 
sugere que a perda do equilíbrio entre as bactérias 
comensais e as bactérias patogênicas poderia 
estimular o sistema imunológico no local, levando a 
um aumento da secreção de TNF-α. Outros estudos 
sugerem que a resposta anormal da bactéria comensal, 
com antígeno desconhecido, poderia ativar o sistema 
imunológico em indivíduos geneticamente 
predispostos. 
FISIOPATOLOGIA 
DC é uma doença inflamatória crônica do trato 
gastrointestinal, que pode envolver qualquer 
segmento desde a boca até ao ânus. A presença de 
áreas de mucosa normal intercalando áreas afetadas 
pela doença, isto é, o envolvimento segmentar, 
acometendo toda a parede do órgão e com lesões 
tipicamente granulomatosas do intestino, caracteriza a 
DC, diferenciando-a da retocolite ulcerativa (RCU), 
que apresenta envolvimento confinado à mucosa do 
cólon e reto, de forma contínua. 
A DC pode ser classificada em cinco subgrupos, de 
acordo com a localização anatômica das lesões: 
(1) ileal: envolvimento exclusivo no íleo, mas 
poderia incluir o envolvimento do trato 
gastrointestinal alto; 
(2) colônica: envolvimento limitado ao cólon e 
raramente ao reto; 
(3) ileocolônico: envolvimento do íleo e do 
cólon, mas poderia incluir o envolvimento do 
trato gastrointestinal alto; 
(4) doença confinada somente ao trato 
gastrointestinal alto; como boca, língua, 
esôfago, estômago e duodeno. 
(5) envolvimento perianal: é considerada doença 
perianal os achados clínicos de fístula 
perianal, abcesso perianal, mas não fissuras 
ou plicomas (hipertrofia da pele em resposta a 
um processo inflamatório crônico) perianal. 
Na visão macroscópica, na doença aguda encontram-
se as alças intestinais róseo-acinzentadas ou 
vermelhas púrpuras escuras, com parede intestinal 
borrachuda e espessa, como resultado do edema, 
inflamação, fibrose e hipertrofia da muscular própria. 
O mesentério do segmento pode ficar espessado ou 
não. Encontra-se, também, na superfície da alça 
intestinal, áreas de um exsudato cinza esbranquiçado 
espesso ou fibrose da serosa granular. Conforme a 
doença progride, a parede intestinal torna-se cada vez 
mais espessada, com luz do lúmen intestinal estreita 
(estenose) e a membrana mucosa com aspecto 
emborrachada. O intestino proximal não envolvido 
pode estar dilatado secundariamente à obstrução do 
segmento lesado. Os estreitamentos podem ocorrer no 
cólon, mas em geral são menos intensos. Em muitos 
casos, o segmento intestinal envolvido se apresenta 
com hiperemia (aumento da quantidade de sangue 
circulante num determinado local), com deposição de 
fibrina, aderência entre as alças intestinais adjacentes 
ou outras vísceras, inflamação descontínua na 
mucosa, espessamento submucoso, fibrose e úlceras. 
Estas últimas inicialmente são pequenas, e tornam-se 
mais extensas e profundas, muitas vezes sob forma de 
fissuras que podem causar fístulas ou abscessos. O 
mesentério do segmento envolvido em geral torna-se 
espessado, fibrótico, com edema e grande quantidade 
de gordura, notando-se também linfonodos 
aumentados. 
Microscopicamente, um sinal característico da doença 
em fase inicial são as úlceras aftoides, puntiformes ou 
lineares mais profundas, edemas e perda de textura da 
mucosa normal. Os aspectos histológicos mais 
comuns encontrados na DC são: inflamação de 
mucosa, ulceração e presença de granulomas não-
caseosos (sem caseificação). Esses processos 
inflamatórios na DC são caracteristicamente 
transmural, o que contrasta com a RCU. O 
Desordens nutricionais e metabólicas 
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envolvimento de todas as camadas da parede intestinal 
pelo processo inflamatório (transmural), que pode 
estender-se até a gordura mesentérica e linfonodos 
regionais, é responsável pela instalação de fissuras, 
fístulas entre alças intestinais, órgãos vizinhos, parede 
abdominal e região perianal; abscesso, densas 
aderências entre alças intestinais e áreas de estenose 
intestinal. Outro aspecto típico encontrado na mucosa 
intestinal acometido pela doença é o chamado “pedra 
de calçamento”, que resulta da combinação da 
ulceração mucosa profunda e espessamento 
submucoso nodular. O processo inflamatório nas DII 
possui variação de características morfológicas, 
microscópicas e macroscópicas. Porém os achados 
macro e microscópicos em um paciente com DII não 
são suficientes para determinar o diagnóstico clínico 
de DC e RCU, devido às manifestações clínicas e 
morfológicas serem semelhantes nas duas doenças. 
QUADRO CLÍNICO 
A DC apresenta características muito heterogéneas 
sendo um desafio a sua classificação, face aos diversos 
aspetos clínicos, genéticose moleculares. Assim, a 
fim de uniformizar a avaliação desta doença, em 2005, 
foi pela primeira vez proposta uma classificação, a 
Classificação de Montreal. A DC é, também, 
classificada quanto à atividade da doença pelo 
Crohn`s Disease Activity Index (CDAI) e quanto à 
resposta terapêutica, sendo ela esteroide-dependente 
ou esteroide-resistente. 
 
 
Nesta patologia, a localização da doença é um passo 
chave para a interpretação clínica pois este critério 
corresponde à máxima extensão da mesma, antes da 
primeira resseção intestinal. Atualmente, sabe-se que 
a localização da doença, num paciente adulto, 
permanece estável após o diagnóstico. Já o 
comportamento do fenótipo (L) muda ao longo do 
tempo, progredindo de não penetrante e não 
estenosante para penetrante (aparecimento de fistulas) 
e estenosante. O CDAI é o parâmetro que permite 
avaliar a atividade da doença, sendo a principal 
ferramenta para averiguar a eficácia da terapêutica. 
Assim, são realizadas determinadas análises em oito 
parâmetros – nº de dejeções líquidas, severidade da 
dor abdominal, bem-estar geral, MEI, necessidade de 
fármacos antidiarreicos, presença de massas 
abdominais, hematócrito e perda de peso. Com os 
resultados obtidos, para cada parâmetro é possível 
classificar o tipo de atividade que a doença apresenta. 
Considerase remissão da doença quando o valor de 
score se encontra abaixo dos 150, doença ligeiramente 
ativa para um score entre 150-219, doença 
moderadamente ativa entre 220-450, e doença grave 
acima dos 450. Como já foi referido anteriormente, as 
manifestações clínicas da DC são extremamente 
variáveis e estão relacionadas com a localização 
anatómica e a gravidade da inflamação. Assim, a DC 
está subdividida em subcategorias, cujas 
denominações estão relacionadas consoante a área 
afetada (tabela 4). 
 
As características clínicas da doença são várias, mas a 
sintomatologia clássica na DC é a dor abdominal, 
diarreia e febre. Outros sintomas, também são muito 
distintivos, como se pode constatar na tabela abaixo. 
Desordens nutricionais e metabólicas 
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Portanto, as manifestações clínicas vão diferindo 
consoante a área afetada, ou seja, se a doença afeta 
principalmente: 
• o íleo e o cego: a sintomatologia assemelha-se a 
uma apendicite e aqui o diagnóstico da DC é feito 
ocasionalmente por uma cirurgia abdominal; 
• o íleo: as principais manifestações clínicas são a 
dor, no quadrante inferior direito, diarreia e febre 
intermitentes, e o aparecimento de uma massa 
hipersensível no quadrante inferior direito do 
abdómen; 
• no jejuno: as principais manifestações podem ser 
a má absorção e a desnutrição. 
A má absorção é um termo geral usado para descrever 
determinadas condições clínicas, que envolvem a 
deficiente absorção de nutrientes importantes através 
do TGI. Apesar de a absorção de alguns nutrientes 
ocorrer no estômago e cólon, a absorção ao nível do 
intestino delgado é que é clinicamente importante 
nesta patologia. Como tal, há compromisso das 
funções digestivas, quer na fase luminal, que ocorre 
no interior do intestino delgado e é responsável pela 
alteração físico-química dos vários nutrientes, para 
que estes possam ser absorvidos pelas células 
entéricas, quer na fase intestinal, que ocorre nas 
células da parede intestinal. Esta síndrome de má 
absorção (SMA) é considerada homogénea e pode 
resultar de vários distúrbios identificados na figura 8. 
 
A apresentação clínica da DC é determinada também 
pelo défice específico dos nutrientes não-absorvidos 
(tabela 6) e por sintomas gerais já referidos, tais como 
a perda de peso, anorexia e a distensão abdominal. 
 
Desta má absorção pode ainda resultar uma 
interrupção do ciclo entero-hepático dos sais biliares, 
em virtude da doença ileal. Ou seja, o ciclo de 
absorção dos sais biliares a partir do íleo distal, e a sua 
excreção para dentro do duodeno, através dos ductos 
biliares, ficam comprometidos. A má absorção de sais 
biliares pode conduzir a esteatorreia, ao défice de 
vitaminas lipossolúveis que requerem a presença 
destes sais para a sua absorção. Quando o intestino 
delgado é afetado aumenta também a probabilidade de 
ocorrer diarreia ou fezes semissólidas, contendo muco 
e eventualmente pus, mas raramente sangue. Para 
além de todas estas manifestações existem ainda 
manifestações extra-intestinais (tabela 7) que ocorrem 
com frequência e muitas vezes complicam o 
Desordens nutricionais e metabólicas 
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tratamento. Estes sintomas podem envolver 
praticamente qualquer sistema orgânico e embora 
sejam encarados como perturbações sistémicas 
independentes, não se conhece a sua etiologia. 
Contudo, aparentemente refletem uma 
vulnerabilidade tecidual generalizada associada a uma 
alteração dos mecanismos imunológicos sistémicos. 
 
OUTRO ARQUIVO 
A apresentação clínica da DC é extremamente 
variável. Os sintomas diferem conforme a localização 
predominante das lesões e sua extensão, a presença ou 
não de manifestação sistêmicas e de complicações da 
doença. Os sintomas iniciais, em geral, são diarreia 
persistente, dor abdominal, febre moderada e perda de 
peso corporal, que, eventualmente, não são de 
intensidade suficiente para merecer investigação mais 
detalhada, resultando em atraso do diagnóstico por 
alguns anos. Em alguns casos, as manifestações 
podem iniciar por sintomas extra-intestinais (boca, 
língua, esôfago, estômago e duodeno), dificultando 
seu diagnóstico clínico. 
A diarreia é a queixa mais comum nos pacientes com 
DC, cursando com maior número de evacuações 
diárias (4 a 6 por dia). Chama atenção, também, a 
ocorrência durante o período noturno, em alguns 
casos. A diarréia pode acompanhar com febre e dor 
abdominal no quadrante inferior direito. Com a 
evolução da doençaos sintomas tornam-se mais 
severos apresentando diarréia líquida com perdas 
hidroeletrolíticas, emagrecimento excessivo, anemia, 
mal-estar geral e fraqueza. A diarréia presente na DC 
pode apresentar-se sob duas formas: alta e baixa. Na 
diarréia alta ocorre envolvimento da região ileocecal. 
As fezes apresentam-se líquidas ou parcialmente 
formadas, geralmente com esteatorréia (causada por 
má absorção de gordura) e sem sangue visível. 
Caracteriza-se como diarréia baixa quando há 
envolvimento da região do colón e reto. As 
evacuações são mais freqüentes e há presença de fezes 
com sangue ou oculto, o que pode resultar em anemia 
com passar do tempo. O sangramento maciço é 
incomum, mas algumas vezes pode ocorrer muco e 
pus. É comum o tenesmo e a urgência quando há 
envolvimento retal. A diarréia na DC pode ter 
característica mista quando a mesma acomete o 
intestino delgado e o colón. Menos frequentemente, a 
constipação é a queixa inicial, quando há 
estreitamento do lúmen intestinal. Ocorrendo 
obstrução parcial, a constipação pode alternar-se com 
períodos de diarréia e ser acompanhada de cólicas 
abdominais. 
A dor abdominal é considerada como o mais 
importante sintoma para o diagnóstico da DC, 
localizando-se habitualmente no quadrante inferior 
direito. Dor persistente e em cólica é causada por 
inflamação aguda e irritação de fibras nervosas, 
resultando em espessamento submucoso das paredes 
do intestino, edemas, fibroses e úlceras. Apresenta 
massa palpável dura e irregular no quadrante inferior 
direito, em consequência de espessamento do intestino 
e inflamação na área ileocecal. Uma das queixas mais 
frequentes da dor abdominal é a sensação de distensão 
abdominal piorada durante refeições e dor por 
obstrução do segmento lesado, sentida à volta do 
umbigo (periumbilical) ou do lado direito, 
principalmente no período pós-prandial. Algumas 
vezes a dor abdominal, as cólicas e a reação 
inflamatória nas paredes do intestino podeminterferir 
com o desejo de se alimentar, causando anorexia, 
anemia e perda de peso corporal. 
Na evolução da doença, a fibrose, que desenvolve nas 
áreas ulceradas, atribui às alças maior ou menor grau 
de estenose, que tende a se apresentar com maior 
frequência de episódio de suboclusão intestinal e, 
consequentemente, mais intensidade da dor 
abdominal. Febre ocorre na maioria dos indivíduos 
afetados, podendo ser acompanhada ou não de dor 
Desordens nutricionais e metabólicas 
 SP 1.3 – ESTRESSE, COMPLICAÇÃO E MAIS ESTRESSE... 
 
abdominal, a qual é decorrente do próprio processo 
inflamatório ou de complicações como abscessos e 
fístulas. A ocorrência de febre e de dor, 
hipersensibilidade no quadrante inferior direito e, 
algumas vezes, diarreia, pode ser confundida com 
apendicite aguda ou uma perfuração intestinal aguda 
devido às semelhanças de sintomas. Perda de apetite e 
de peso são comuns na DC e podem se manifestar no 
início da doença. São causados por três fatores: dor 
abdominal, má-absorção e diarreia. A dor abdominal 
e/ou cólica pode interferir com o desejo de se 
alimentar ou medo de piorar os sintomas de DC. O 
dano mucoso crônico do intestino ou atrofia 
progressiva pode dificultar a absorção dos nutrientes 
necessários à manutenção do nível de energia e causar 
diarreias. A desnutrição inclui perda de peso, anemia, 
fadiga, deficiência de vitaminas, balanço nitrogenado 
negativo, atraso no crescimento nas crianças, entre 
outros. O paciente pode permanecer completamente 
sem sintomas após um ou dois episódios da doença ou 
pode haver recorrência dos episódios de dor 
abdominal, diarreia e, algumas vezes, febre ou 
sangramento com momento imprevisível 
CLASSIFICAÇÃO 
Além das manifestações no sistema digestório, a DC 
pode ter manifestações extraintestinais, sendo as mais 
frequentes as oftalmológicas, dermatológicas e 
reumatológicas. 
A DC clínica ou cirurgicamente incurável, e sua 
história natural é marcada por ativações e remissões. 
A diferenciação entre doença ativa e em remissão 
pode ser feita com base no Índice de Harvey-
Bradshaw (IHB), apresentado na Tabela 1. Esse índice 
é mais simples e mantém uma boa correlação com o 
Índice de Atividade da DC (IADC), correlação de 
Pearson = 0,93 (p = 0,001), padrão-ouro para a 
caracterização dos estágios da doença. Pacientes sem 
sintomas (IHB igual ou inferior a 4) e sem uso de 
corticosteroide são considerados em remissão 
sintomática. Pacientes que necessitam de 
corticosteroide para permanecer assintomáticos são 
classificados como corticodependentes, não sendo 
considerados em remissão, devido ao risco de 
toxicidade do tratamento prolongado. Pacientes com 
doença leve a moderada (IHB igual a 5, 6 ou 7) 
costumam ser atendidos só ambulatorialmente, 
toleram bem a alimentação, estão bem hidratados e 
não apresentam perda de peso superior a 10%, sinais 
de toxicidade, massas dolorosas à palpação ou sinais 
de obstrução intestinal. Pacientes com doença 
moderada a grave (IHB igual ou superior a 8) 
usualmente estão com o estado geral bastante 
comprometido e apresentam ainda um ou mais dos 
seguintes sintomas: febre, perda de peso, dor 
abdominal acentuada, anemia ou diarreia frequente (3 
ou mais evacuações por dia). Pacientes com 
manifestações graves/fulminantes usualmente têm 
IHB superior a 8, não alcançaram sucesso com o 
tratamento ambulatorial ou se apresentam febre alta, 
vômitos persistentes, sinais obstrutivos intestinais, 
sinais de caquexia, sinais de irritação peritoneal ou 
abscessos intra-abdominais. Resposta clínica 
significativa (redução no IADC igual ou superior a 
100 pontos) equivale a uma redução de 3 pontos ou 
mais na escala IHB, com uma margem de erro de 16%, 
usualmente em favor de uma maior sensibilidade no 
diagnóstico de resposta clínica ao utilizar-se o IHB. A 
identificação da doença em seu estágio inicial e o 
encaminhamento ágil e adequado para o atendimento 
especializado dão à Atenção Básica um caráter 
essencial para um melhor resultado terapêutico e 
prognóstico dos casos. 
Complicações da doença de Crohn 
Durante a evolução da DC podem ocorrer uma ou 
mais complicações. São elas: úlceras, fístulas, 
abscessos dentro do abdômen e as obstruções 
intestinais 35 causadas por espessamento da parede do 
local afetado. Também podem aparecer a desnutrição 
e os cálculos vesiculares decorrentes da má absorção 
de certas substâncias. A inflamação crônica e 
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transmural pode provocar úlceras em qualquer área do 
trato digestivo, mas na grande maioria dos casos estas 
se encontram no íleo terminal, cólon e reto. 
Dependendo da gravidade da inflamação, a ulceração 
pode ser superficial ou em todas as camadas do órgão. 
As úlceras, quando profundas, podem atingir toda a 
espessura da parede intestinal e criar fístulas. As 
fístulas constituem uma comunicação que permite a 
passagem entre segmentos adjacentes do intestino ou 
com outros órgãos vizinhos (cólon, bexiga, órgãos 
reprodutores, mesentério e exterior da pele). Essa 
situação, além de muito desconfortável, expõe o 
paciente a infecções graves que podem causar risco de 
vida se não tratado. As fístulas ocorrem isoladamente 
ou em associação com outras doenças, como fissuras 
anais e abscessos (infecção com pus) dentro do 
abdome ou na superfície da pele. 
Outra complicação da DC é a obstrução intestinal. 
Esta é causada pelo processo inflamatório de todas as 
camadas da parede levando ao espessamento do local. 
Esse comprometimento pode dificultar ou bloquear a 
passagem do conteúdo digestivo através do intestino 
delgado e, raramente, no cólon. Em alguns casos 
torna-se necessária uma cirurgia para remover a 
porção afetada do intestino. Além das úlceras, fístulas 
e estenoses, a inflamação crônica e transmural pode 
dificultar ou eliminar a função de absorção dos 
nutrientes no tecido afetado, causando uma 
desnutrição de menor ou maior grau, dependendo do 
local intestinal. Outras complicações, ainda que 
menos freqüentes, são o câncer de intestino grosso e 
os sangramentos digestivos. A DC pode comprometer 
praticamente todos os sistemas e órgãos, seja por 
efeito local ou sistêmico. As manifestações extra-
intestinais podem acompanhar ou 36 surgir após o 
inicio das alterações intestinais. Entre estas se tem 
manifestações articulares, oculares, dermatológicas, 
hepatobiliares, nefrológicas, hematológicas, 
vasculares, pancreáticas, pulmonares e cardíacas. 
Pacientes que apresentam uma das manifestações 
extra-intestinais têm maior risco de apresentar as 
demais. De acordo com Mota (2007), as 
manifestações articulares, dermatológicas e hepáticas 
foram mais prevalentes no sexo feminino do que no 
masculino. As manifestações urológicas e 
nefrológicas foram de maior prevalência no sexo 
masculino, enquanto a manifestação vascular ocorreu 
em ambos os sexos de forma semelhante. As 
manifestações articulares, dermatológicas e 
vasculares foram consideradas as manifestações extra-
intestinais mais comuns na atividade da DC durante a 
pesquisa. No entanto, as outras manifestações, 
oculares, pulmonares e cardíacas, embora 
consideradas raras, não deixam de ser importantes. 
Não se sabe exatamente a causa destas complicações 
nos pacientes com DC. Alguns autores acreditam que 
a mesma resposta do sistema imunológico que 
promove a inflamação no intestino poderia também 
causar inflamação em outras partes do corpo, devido à 
deposição de complexos imunes circulantes. 
Entretanto, nem todos os pacientes apresentam 
manifestações extra-intestinais que cursam com 
complexos imunes circulantes no soro. 
Aspetos da DC a nível macro e microscópico 
A nível macroscópico 
A nível macroscópico ou endoscópico, o intestino tem 
uma aparência espessa, edemaciada, ocorrendo o 
mesmo com o mesentérioadjacente. Os gânglios 
mesentéricos costumam apresentar-se aumentados, 
duros e unidos entre si. O lúmen intestinal é estreitado 
pelo edema nos casos iniciais e por uma combinação 
de edema e fibrose em casos mais avançados. O aspeto 
“pedra de calçada” é originário da tumefação nodular, 
da fibrose e ulceração da mucosa e as clássicas “lesões 
em corda” resultam das estenoses tão características 
desta patologia. Podem também observar-se fístulas 
que podem penetrar no intestino e afetar outros 
órgãos, incluindo bexiga, útero, vagina e pele. O 
resultado final destas fístulas são a formação de 
abcessos dentro da cavidade peritoneal, no mesentério 
ou nas estruturas retroperitoneais. As lesões no reto 
distal e no ânus, muito características da DC, podem 
causar fístulas perianais. Contudo, o reto é tipicamente 
poupado. 
A nível microscópico 
A nível microscópico ou histológico, a DC aparece 
como um processo inflamatório crónico. São 
visualizadas ulcerações mucosas superficiais (úlceras 
aftosas), acompanhado de edema mucoso e 
submucoso e um aumento do número de linfócitos, 
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plasmócitos e macrófagos. Verifica-se, muito 
frequentemente, a destruição da arquitetura da 
mucosa, com alterações regenerativas nas criptas e 
distorção vilosa. São, também, visualizadas longas 
úlceras profundas semelhantes a fissuras e a 
hialinização vascular e a fibrose tornam-se evidentes. 
A principal característica é a visualização de 
agregados linfóides nodulares transmurais, 
acompanhados por alterações proliferativas da 
mucosa e dos nervos plexos submucosos e 
mioentérico. Podem também estar presentes 
granulomas, principalmente na submucosa. Estes 
granulomas são agregados de células epitelioides, 
envolvidos por linfócitos. Podem ainda estar presentes 
células gigantes multinucleadas e centros de 
granulomas constituídos por material hialino onde 
muito raramente ocorre necrose. Em casos de ausência 
de inflamação da mucosa, não se pode assumir que o 
paciente se encontre numa fase de remissão da doença, 
dada a elevada probabilidade de a parte que foi 
retirada para realizar a biopsia não ter apanhado tecido 
lesado, devido à característica descontínua da doença. 
DIAGNÓSTICO NA DC 
O diagnóstico da DC é um processo extremamente 
complexo, que se inicia pela anamnese, que inclui toda 
a sintomatologia, gravidade e duração da doença. Uma 
vez que não existe um exame auxiliar de diagnóstico 
(EAD) Gold Standard, recorre-se a um conjunto de 
métodos para complementar a avaliação clínica: desde 
os exames endoscópicos, histológicos, radiológicos e 
bioquímicos. Para o diagnóstico da DC é importante 
excluir uma série de situações que podem cursar com 
sintomatologias/resultados de EAD semelhantes: 
infeção, isquemia, irradiação e neoplasia. Como 
critérios de inclusão e, para resumir um pouco o que 
já foi referido até agora, teremos: um processo 
inflamatório que pode ocorrer da boca ao ânus, com 
caráter descontínuo, transmural (fissuras, abcessos, 
fistulas), fibrose (estenose), agregados linfóides, 
atividade mucípara conservada e granulomas. 
A imagiologia, sendo uma área muito utilizada e 
essencial para o diagnóstico da DC, é bastante útil no 
sentido de complementar a análise em estenoses 
intransponíveis, cujos estreitamentos não permitem a 
passagem do endoscópio, na doença perfurante e em 
situações de massas, abcessos ou fístulas e 
aglomerados inflamatórios. Exemplos destes exames 
são: 
• Raio-X contrastado 
• TC (tomografia computorizada) 
• RMN (ressonância magnética nuclear) 
• Fistulografia (para estudar o trajeto das fistulas, 
quando necessário) 
Os procedimentos endoscópicos são usados para 
determinar diretamente a natureza e o padrão da 
inflamação e são úteis na colheita de material para 
análise histopatológica permitindo a realização de 
biopsias guiadas em lesões suspeitas. De uma forma 
geral, permitem mostrar tipicamente as áreas 
ulceradas acometimento focal, assimétrico e 
descontínuo. Das várias ferramentas endoscópicas, a 
colonoscopia é a principal ferramenta de diagnóstico, 
sendo encarada como de primeira linha para a 
investigação em pacientes com DC. Este tipo de 
exame é extremamente importante como meio de 
diagnóstico porque avalia a extensão da doença, 
monitoriza a sua atividade, proporciona uma 
vigilância em situações de displasia ou neoplasia, 
avalia a bolsa íleal e a anastomose íleoretal. Como 
outros exemplos de ferramentas endocópicas temos a 
gastroscopia, enteroscopia e a ecografia endoanal, 
entre outros, que podem ser muito úteis na avaliação 
do envolvimento de órgãos específicos na DC. 
Em 2001, uma nova técnica foi implementada, como 
meio de diagnóstico, a cápsula. Foi uma técnica 
concebida, principalmente, para permitir a 
visualização do intestino delgado e nas últimas 
décadas tem evoluído como uma modalidade sensível 
para a detecção de lesões na DC. A sua principal 
vantagem deve-se ao seu potencial para visualizar 
toda a extensão do intestino delgado, sendo também 
caraterizada por ser menos invasiva e de boa 
tolerabilidade. É uma cápsula equipada com uma 
microcâmara, que é ingerida pelo paciente após doze 
horas em jejum. As imagens são transmitidas para um 
pequeno gravador, colocado na cintura do doente, e 
essas mesmas imagens são descarregadas cerca de oito 
horas mais tarde, altura em que a câmera já passou 
pelo intestino delgado. Posteriormente, são 
visualizadas sob a forma de fotogramas ou filme. A 
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sua eliminação é feita pelo reto, no espaço de vinte e 
quatro a quarenta e oito horas. 
As análises histológicas podem demonstrar 
acometimento transmural, padrão segmentar e 
presença de granulomas não caseosos. A nível 
hospitalar, geralmente, é feito um Raio-X contrastado 
com um enema de bário para avaliar as alterações 
morfológicas do intestino e é um exame que fornece 
dados importantes, e precisos, sobre a estrutura do 
cólon. São exames que demonstram também a 
presença de fístulas. É um exame rápido e pode 
constituir um registo permanente para futuras 
comparações. Permite detectar facilmente as clássicas 
“lesões em corda”, que constituem as estenoses tão 
características na DC. É, também, possível visualizar 
o aspeto “pedra de calçada” da DC avançada. Este 
aspeto pode, também, ser identificado por endoscopia, 
se se verificar presença de manchas focais de lesões 
ulcerativas. A ecografia transabdominal tem vindo a 
ser muito usada para a deteção de fístulas e abcessos, 
e apesar de a TC ser mais precisa não é muito utilizada 
devido ao seu elevado custo. 
São também realizados vários outros exames para 
auxiliar no diagnóstico diferencial da DC, para 
despiste de possíveis patologias de causa infeciosa. 
Exemplos destes exames são: 
• Coproculturas para identificar bactérias (toxina do 
Clostridium difficile, Chlamydia trachomatis, E. 
coli., Mycobacterium, Neisseria, Salmonella, 
Shigella, Aeromonas, Yersinia); 
• Técnicas de amplificação do DNA viral ou 
bacteriano (CMV – Citomegalovírus) 
• Identificação de protozoários (Entamoeba, 
Giardia, Cryptosporidium, Balantidium) ou 
nemátodes (Schistossoma, Stronglyoides). 
As análises laboratoriais incluem o hemograma 
completo (para avaliar a leucocitose e a anemia), a 
velocidade de sedimentação, proteína C reativa (como 
marcadores de inflamação aguda), albumina sérica, e 
ainda, um teste serológico de anticorpos, que auxilia 
na diferenciação ente a colite de Crohn e a colite 
ulcerosa. Este teste consiste num mecanismo 
combinado, que identifica anticorpos anti-
Saccharomyces cerevisiae (ASCA), habitualmente 
encontrados em doentes com DC e um marcador do 
anticorpo conexo. Estes anticorpos 
antiSaccharomyces (ASCA)e os anticorpos anti-
citoplasma perinuclear dos neutrófilos (pANCA) não 
têm per si valor de diagnóstico. Mas quando se 
pretende um diagnóstico diferencial da DC com a CU, 
o valor dos perfis conjuntos ASCA/pANCA é bastante 
elevado. Segundo estudos realizados neste âmbito, 
constatouse que o perfil ASCA+/pANCA é bastante 
específico da DC (sensibilidade de 83% e 93% para 
doentes com DC), com um valor preditivo positivo de 
75%. Novas técnicas imagiológicas, de carater não-
invasivo, visam o uso de leucócitos e eritrócitos 
marcados para a deteção de focos de atividade da 
doença ou hemorragias, contudo são técnicas que 
ainda não são usadas na prática clínica. 
RESUMO DO DIAGNÓSTICO 
O diagnóstico pode ser difícil devido à 
heterogeneidade das manifestações e à sua 
sobreposição com as da retocolite ulcerativa, bem 
como a ausência ocasional de sintomas 
gastrointestinais relevantes. O sintoma mais comum 
no momento do diagnóstico é diarreia, seguida por 
sangramento (40%-50%), perda de peso (60%) e dor 
abdominal (70%). Os sinais mais comuns são febre, 
palidez, caquexia, massas abdominais, fístulas e 
fissuras perianais. Mais de 6 semanas de diarreia é o 
prazo sugerido como critério para diferenciação com 
diarreia aguda infecciosa. Nos exames de tomografia 
computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), 
os achados mais característicos são acometimento do 
intestino delgado e presença de fístulas. 
A endoscopia digestiva baixa (colonoscopia) com 
duas biópsias de cinco sítios distintos, incluindo o íleo, 
é o método preferencial para o diagnóstico e revela 
tipicamente lesões ulceradas, entremeadas de áreas 
com mucosa normal, acometimento focal, assimétrico 
e descontínuo. O exame histopatológico pode indicar 
acometimento transmural (quando da análise de 
ressecções cirúrgicas), padrão segmentar e presença 
de granulomas não caseosos. 
A European Crohn’s and Colitis Organisation 
(ECCO) sugere que, apesar de não haver um achado 
patognomônico, o diagnóstico histopatológico de DC 
depende da presença de granulomas, anormalidades 
arquiteturais crípticas focais, infiltrado inflamatório 
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focal de linfócitos e plasmócitos, e da preservação de 
mucina nos sítios inflamados. Em casos difíceis, 
endoscopia digestiva alta com biópsias gástricas pode 
ser útil para firmar o diagnóstico na presença de 
granulomas ou gastrite focal. A avaliação da extensão 
da doença e comprometimento do intestino delgado 
proximal é importante, pois influenciará na conduta 
terapêutica e no seguimento do paciente. Radiografia 
de trânsito de delgado, ou tomografia 
computadorizada enteral (TC enteral) ou ressonância 
magnética enteral (RM enteral) podem ser indicadas, 
se disponíveis. Exames laboratoriais como elevação 
de proteína C-reativa e velocidade de 
hemossedimentação também auxiliam na definição 
diagnóstica. 
TRATAMENTO 
Como não há cura definitiva para a DC, os objetivos 
terapêuticos são reduzir a inflamação, controlar os 
sintomas, induzir e manter a remissão da doença e suas 
complicações, de preferência com o mínimo de efeitos 
colaterais e com o menor custo. O tratamento para DC 
envolve geralmente terapia com drogas 
(medicamentos) ou cirurgia. Os medicamentos 
utilizados para tratamento são: drogas anti-
inflamatórias, drogas imunossupressoras e 
antibióticos. Outros medicamentos, além de controlar 
a inflamação, são utilizados para melhorar ou aliviar 
os sintomas da doença, entre eles são: laxativos (nos 
casos de constipação), antidiarreicos, analgésicos, 
suplemento de ferro, entre outros. O tratamento 
cirúrgico é necessário para tratar obstruções, 
complicações severas e doença refratária ao 
tratamento clínico. A escolha dos tratamentos depende 
da gravidade do quadro e da localização predominante 
das lesões. As drogas anti-inflamatórias geralmente 
são o primeiro passo no tratamento das DII. 
Elas incluem: sulfasalazina, mesalazina, olsalazine, 
balsalazide e corticóides. Estes medicamentos atuam 
inibindo a inflamação em diferentes níveis, porém, 
apesar ser efetiva em reduzir sintomas, é considerado 
um dos problemas de não-adesão terapêutica por ter 
diversos efeitos colaterais tais como diminuição do 
apetite, náusea, vômito, erupção na pele e dor de 
cabeça, quando são usados sulfasalazina e mesalazina, 
e face de "lua cheia", crescimento de pelos na face, 
suadores noturnos, insônia e hiperatividade quando 
são usados corticoides. As drogas imunossupressoras 
também reduzem a inflamação, mas sua ação 
direciona-se ao próprio sistema imunológico, ao invés 
de tratar diretamente o processo inflamatório, ou seja, 
ao suprimir a resposta imunológica a inflamação 
também é reduzida. As drogas imunossupressoras 
incluem: azatioprina (Imuran), 6-mercaptopurina (6-
MP), infliximabe, metotrexate e ciclosporina. 
Azatioprina e 6-mercaptopurina são os 
imunossupressores mais usados para tratamento da 
DC, ajudam a reduzir os sintomas em geral e podem 
curar fístulas causadas pela doença. Infliximabe é uma 
droga biológica e é especifica para pessoas com DC. 
Trata-se de um anticorpomonoclonal que neutraliza a 
proteína produzida pelo sistema imunológico 
conhecida como fator de necrose tumoral (TNF-α). O 
uso desse medicamento pode trazer efeitos colaterais 
indesejáveis como náuseas, dor de cabeça, febre, mal 
estar e pode aumentar o risco de infecções graves. A 
grande preocupação com relação ao uso desse 
medicamento é que há uma possibilidade de 
reativação de infecções latentes, como tuberculose. 
Metotrexate e ciclosporina são reservados para 
pessoas que não tem resposta positiva a outros 
medicamentos e ajudam aliviar os sintomas causados 
pela doença. Os antibióticos são efetivos em algumas 
situações, oferecem alguns benefícios na doença no 
intestino delgado, mas sua maior eficácia é na doença 
dos cólons, RCU. Os antibióticos alteram a flora 
intestinal e diminuem a estimulação antigênica ao 
sistema imune da mucosa intestinal, sendo usados 
como tratamento primário ou das infecções 
intercorrentes. Típicos antibióticos usados neste caso 
incluem: Metronidazol e ciprofloxacina. 
O metronidazol é um dos antibióticos mais usados 
para a DC, mostra-se efetivo no tratamento da doença 
fistulosa perianal, porém, não é efetiva na ileíte 
isolada. Pode causar vários efeitos colaterais leves e 
moderados, como formigamento nas mãos e pés e, 
ocasionalmente, dor muscular ou fraqueza. Esses 
sintomas tendem a desaparecer lentamente, mas em 
alguns casos nunca cessam totalmente. Outros efeitos 
colaterais incluem náusea, dor de cabeça, infecção por 
fungos e diminuição de apetite. A ciprofloxacina tem 
sido apontada como opção terapêutica para pacientes 
adultos intolerantes ao metronidazol. O efeito 
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colateral mais comum é hipersensibilidade à luz e 
pode retardar o crescimento em crianças. Ambos os 
medicamentos exercem efeito sobre a flora intestinal, 
mas tem propriedades imunomoduladoras. Além de 
controlar a inflamação, outros medicamentos são 
utilizados para melhorar ou aliviar os sintomas da 
doença. Estes dependem da gravidade do quadro e da 
necessidade de alívios para sintomas indesejáveis. 
Este grupo inclui: tratamento nutricional, suplemento 
de ferro, injeções de vitamina B12, analgésicos, 
laxativos e antidiarréicos. O tratamento nutricional, 
suplemento de ferro e injeções de vitamina B12 são 
indicados para prevenir anemia, promover o 
crescimento e o desenvolvimento normal do corpo, 
respeitar a intolerância alimentar do paciente e evitar 
desnutrição. Os analgésicos são indicados para aliviar 
a dor geral, porém, alguns analgésicos podem piorar 
ou agravar a doença. Os laxativos e antidiarreicos são 
indicados para aliviarsintomas leves e outras 
complicações da doença; laxativo é utilizado para 
paciente com estenose severa, por isso causa 
constipação em alguns casos, e o antidiarréico ajuda 
diminuir a frequência de evacuações. Segundo estudo 
de Dewulf (2007), os efeitos benéficos do tratamento 
para DC se contrapõem a uma variedade de efeitos 
colaterais que podem variar desde apenas mal-estar, 
chegando, porém, a incidência de problemas mais 
graves, causando o aumento de não-adesão terapêutica 
sobre o paciente e tratamento ineficaz. 
 Para evitar isso, Dewulf (2007) sugere a necessidade 
de acompanhamento constante dos pacientes, 
informar da possibilidade da ocorrência de benefícios 
e efeitos colaterais e fácil acesso ao medicamento. As 
estratégias de tratamento “Step-up e Top-down”, 
servem para dar melhoria de qualidade de vida aos 
pacientes e evitar novas complicações, de acordo com 
as observações dos autores. Estes ressaltam que 
quanto mais precoces e leves forem os sintomas da 
DC, mais eficaz o tratamento. 
A estratégia “Step-up” baseia-se no uso precoce de 
terapia com anti-inflamatório e antibiótico no início da 
evolução da DC. Ajuda a evitar nova recaída, e caso 
os pacientes venham a apresentar maior gravidade, na 
evolução da DC, passa-se a utilizar imunossupressores 
e corticóides. Reservam-se os agentes biológicos 
como última opção, na falha de ação dos 
medicamentos previamente utilizados ou na presença 
de complicações da doença. No caso da estratégia 
“Top-down”, tem-se que o uso precoce de terapia 
biológica em pacientes selecionados pode trazer 
benefícios como um tratamento preventivo de 
complicações da DC, diminuindo a necessidade de 
cirurgias. Esta estratégia deixa a cirurgia como 
alternativa para casos mais graves, em fases mais 
tardias da DC ou falha da terapia biológica. 
 
 
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/32
917/SHAYENNE%20DE%20CASTRO%20SANTO
S.pdf?sequence=1 
https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4100/1/TESE
%20MESTRADO%20SANDRA%20SANTOS.pdf 
https://abcd.org.br/wp-
content/uploads/2018/09/PCDT-Doenca-de-Crohn-
27-11-2017-COMPLETA.pdf 
3. Analisar a etiologia e diagnóstico diferencial da síndrome do intestino curto. 
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/32917/SHAYENNE%20DE%20CASTRO%20SANTOS.pdf?sequence=1
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/32917/SHAYENNE%20DE%20CASTRO%20SANTOS.pdf?sequence=1
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/32917/SHAYENNE%20DE%20CASTRO%20SANTOS.pdf?sequence=1
https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4100/1/TESE%20MESTRADO%20SANDRA%20SANTOS.pdf
https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4100/1/TESE%20MESTRADO%20SANDRA%20SANTOS.pdf
https://abcd.org.br/wp-content/uploads/2018/09/PCDT-Doenca-de-Crohn-27-11-2017-COMPLETA.pdf
https://abcd.org.br/wp-content/uploads/2018/09/PCDT-Doenca-de-Crohn-27-11-2017-COMPLETA.pdf
https://abcd.org.br/wp-content/uploads/2018/09/PCDT-Doenca-de-Crohn-27-11-2017-COMPLETA.pdf
Desordens nutricionais e metabólicas 
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A Síndrome do Intestino Curto (SIC) é caracterizada 
por um complexo quadro de sinais e sintomas, 
decorrentes da incompleta absorção de nutrientes, 
causada pela abrupta diminuição anatômica da área 
absortiva intestinal, consequente a ressecções maciças 
do intestino delgado, e, por vezes, também do cólon. 
Considera-se, da mesma forma, como SIC condições 
nas quais, embora o intestino delgado possa estar 
anatomícamente presente, suas funções absortivas 
estejam comprometidas, como, por exemplo, nas 
extensas afecções inflamatórias do intestino, presentes 
na doença de Crohn ou na enterite actínica. Outros 
fatores coadjuvantes, como a existência de 
comorbidades e a idade do paciente no momento da 
ressecção, também determinam a evolução da SIC. 
A primeira ressecção intestinal seguida de sucesso foi 
relatada por Koeberle, em 1881, embora, só em 1888, 
tenha sido estabelecida a relação entre magnitude da 
ressecção intestinal e sobrevida. Em 1935, Haymond 
relatou uma série de 250 casos de ressecção intestinal, 
concluindo que as funções normais de absorção eram 
resguardadas, conquanto a exérese intestinal não 
ultrapassasse os limites de um terço do órgão, ficando 
tais funções deterioradas assim que a ressecção 
ultrapassasse 50%. Durante o século XX, centenas de 
trabalhos demonstraram que o intestino delgado pode 
adaptar-se após grandes ressecções, embora se exija 
um período de tempo, nisto incluindo dilatação do 
intestino delgado restante, alongamento de 
vilosidades, hiperplasia celular epitelial, migração 
celular mais rápida e aumento da capacidade de 
absorção. Nas décadas de 1969 e 1970, diversos 
pesquisadores, notadamente Wilmore e Dudrik, 
demonstraram que pacientes submetidos a extensas 
ressecções intestinais podiam sobreviver com terapia 
nutricional parenteral total, até que o intestino delgado 
remanescente pudesse regenerar-se e se adaptar à 
nutrição enteral e posteriormente à dieta oral. 
Nas últimas décadas, com o advento da biologia 
molecular, estudo do ácido desoxirribonucleíco (DNA 
- deoxyribonucleic acid) e replicação celular, 
demonstrou-se que a regeneração teddual e a 
adaptação intestinal são diretamente proporcionais ao 
estímulo de nutrientes intraluminais, assim como 
fatores teciduais e humorais que influenciam 
significativamente a adaptação. Além disso, trabalhos 
mais recentes tentam ratificar o uso de elementos 
favorecedores de regeneração tecidual, tais como 
aminoácidos específicos (glutamina) e hormônio do 
crescimento (GH -growth hormone). Intervenções 
cirúrgicas, utilizando-se transecções de intestino 
delgado e loopings, no intuito de retardar o tempo de 
trânsito intestinal e facilitar a absorção de nutrientes, 
foram descritas nos anos sessenta e setenta do século 
passado, embora nem sempre essas intervenções 
demonstrassem resultados favoráveis. Nas duas 
últimas décadas, o transplante de intestino delgado, 
isolado ou combinado, tem se consolidado como 
alternativa terapêutica ideal, visando à autonomia do 
paciente e suspensão da terapia nutricional parenteral. 
ETIOLOGIA 
A ressecção maciça do intestino delgado, decorrente 
de trombose ou embolia dos vasos mesentéricos 
(Figura 33.1), continua sendo a causa mais comum da 
SIC, embora outras afecções possam levar a maciças 
ressecções do intestino. Lembrando a anatomia 
vascular, o duodeno tem suprimento sanguíneo 
derivado tanto do tronco celiaco como da artéria 
mesentérica superior, incluindo tributárias da artéria 
gastroduodenal, parte superior e inferior da artéria 
pancreatoduodenal, da artéria gastrepiploica direita e 
artérias supraduodenais e retroduodenais. Esta rica 
vascularização preserva o duodeno durante os eventos 
isquêmicos mesentéricos. Por outro lado, o jejuno e o 
íleo dependem exclusivamente das tributárias da 
artéria mesentérica superior. Assim como o ceco, o 
cólon direito e metade do transverso recebem 
irrigação da artéria ileocólica, da artéria cólica direita 
e da artéria cólica média, todas oriundas da artéria 
mesentérica superior. A metade distai do transverso, o 
cólon esquerdo, sigmoide e reto são irrigados através 
de tributárias da artéria mesentérica inferior, 
sigmoideana e retais. A potência da artéria 
mesentérica superior fica, desta maneira, sendo a 
chave da irrigação da grande e maior parte intestinal. 
O registro espanhol de nutrição domiciliar, referido 
por Moreno, relata a isquemia mesentérica como 
causa principal de SIC {29,7%), seguida de neoplasia 
{16,2%), enterite actinia (12,5%), afecções de 
motilidade {8,1%) e doença de Crohn {5,4%). Outros 
estudos referidos por Ladefoged e por Nightingale e 
Lennard-J ones encontraram na doença de Crohn a 
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causa mais comum de SIC, acometendo 50% dos 
casos.

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