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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 1. ENTENDER AS ETIOLOGIAS DA SÍNDROME DE MA ABSORÇÃO INTESTINAL, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNOSTICO DIFERENCIAL, EXAMES COMPLEMENTARES E PROPEDÊUTICA DA SMA. Os termos síndrome de má absorção ou síndrome disabsortiva é uma terminologia comumente empregada para descrever o resultado, tanto de hidrólise ineficiente de nutrientes (má digestão) quanto de defeitos na absorção intestinal pela mucosa (má absorção propriamente dita) e no transporte de nutrientes para a circulação sanguínea (no caso dos carboidratos e proteínas) e linfática (no caso das gorduras). A designação “síndrome de má absorção intestinal”, no entanto, pode dar a falsa ideia de que somente problemas na absorção intestinal propriamente dita causam síndrome de má absorção. Contudo, problemas na digestão e no transporte de nutrientes também causam má absorção destes, com consequente comprometimento do estado nutricional do paciente. Basicamente, a digestão e a absorção dos nutrientes envolvem três fases: 1. Fase luminal (pré-entérica): em que acontecem os processos de digestão intraluminal dos nutrientes. 2. Fase mucosa (entérica): em que são observadas, tanto digestão complementar quanto absorção pela mucosa. 3. Fase de transporte (pós-entérica): relacionada à passagem dos nutrientes para a circulação sanguínea e linfática. Assim, didaticamente, a má absorção intestinal pode do ponto de vista fisiopatológico, ser classificada em condições que afetam as fases luminal (ou pré-entérica), mucosa (entérica) e de transporte (pós-entérica). TIPOS DE SÍNDROME Existem tipos diferentes de má absorção, conforme o mecanismo envolvido no processo: 1. Insuficiência na produção de enzimas digestivas: a insuficiência de enzimas específicas responsável pela digestão de um nutriente, como as proteínas, carboidratos e gorduras originada de qualquer doença que afete os órgãos produtores dessas enzimas (como estomago pâncreas, fígado). Como exemplos mais frequentes de doenças temos a pancreatite, obstrução do ducto biliar, fibrose cística e deficiência na produção da enzima lactase pela mucosa intestinal, remoção cirúrgica de parte do estômago e gastrite atrófica. 2. Alteração da própria mucosa intestinal: a mucosa passa a não absorver adequadamente os nutrientes da alimentação, mesmo que estes já tenham passado pelo processo de digestão normalmente, ou seja, ocorre uma diminuição da área de absorção. São exemplos de causas desta alteração: Doença Celíaca, Espru tropical, Doença de Whipple, Doença de Chron, Retocolite Ulcerativa, infecções locais por bactérias, vírus e protozoários, drogas como neomicina e álcool e retirada cirúrgica (ressecção) de parte do intestino por doenças específicas e tumores, enterites regionais pós tratamento radioterápico de tumores da região abdominal. 3. Alteração da circulação sanguínea ou de vasos linfáticos da mucosa intestinal ou de vasos sanguíneos que irrigam a região mesentérica intestinal: Esta alteração prejudica o transporte de nutrientes absorvidos pelo intestino para todo o organismo. São causas que cursam com esta alteração: Linfangiectasias Intestinais, Mucoviscidose, Isquemia Mesentérica e Linfomas. SINAIS E SINTOMAS O conjunto de sinais e sintomas vai variar conforme o nutriente mal absorvido, podendo ocorrer desde cólicas abdominais e diarreias até a perda de peso progressiva com sinais claros de desnutrição, como pele seca e descamativa, anemia, perda de massa muscular, inchaços generalizados no corpo (edema), cabelos secos e DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS SP3: Estresse, complicacao e mais estresse. 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 despigmentados, inflamações da língua (glossite) e feridas no canto da boca (queilite). Toda perda de peso progressiva com alterações das características das fezes mesmo com a pessoa se alimentando normalmente deve-se ter como hipótese má absorção intestinal. Na má absorção de gorduras geralmente o paciente perde peso progressivamente e suas fezes ficam sempre volumosas e esbranquiçadas (esteatorréia) e cólicas abdominais são frequentes. Como algumas vitaminas (ADEK) pegam carona na gordura para serem absorvidas também poderá haver sinais e sintomas de deficiência de alguma delas. Como a vitamina K é responsável pela coagulação sanguínea, sua deficiência pode gerar manchas roxas na pele (equimoses) e sangramentos na gengiva. Na má absorção de proteínas o quadro clínico mostra sinais francos de desnutrição como perda da massa muscular, pele descamativa, perda da qualidade dos cabelos e inchaço em pernas e às vezes generalizado (anasarca). A imunidade fica comprometida e infecções persistentes podem aparecer. Na má absorção da vitamina B12 os sintomas característicos são anemia e alterações neurológicas como formigamento nas mãos. Na má absorção do ferro a principal consequência é a anemia ferropriva, que leva a palidez da pele e das mucosas, cansaço progressivo, dores nas pernas e baixa imunidade. Na má absorção da vitamina D, que ocorre nos pacientes com má absorção das gorduras, surgem alterações como rarefação e dores ósseas. Na má absorção da lactose, que acontece quando produzimos pouca enzima lactase na mucosa intestinal, enzima esta responsável pela quebra da lactose para que a mesma seja absorvida, o acúmulo deste açúcar do leite no intestino leva ao aparecimento de cólicas abdominais, flatulência, estufamento da barriga, diarreias explosivas e náuseas. Nas alterações da circulação sanguínea dos vasos intestinais o sintoma mais frequente é a dor abdominal logo após as refeições, como acontece no caso da isquemia mesentérica. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA 1. TESTE QUANTITATIVO DE GORDURA FECAL Na maior parte das vezes as características das fezes esteatorreicas são bem marcados, sendo desnecessário sua comprovação laboratorial. Porém, em casos de dúvida é pedido a dosagem da quantidade de gordura presente nas fezes acumuladas em 72h - período em que o paciente terá ingerido dieta rica em gorduras. Indivíduos normais excretam menos de 6g de gordura/dia. No entanto, a comprovação da esteatorreía (em geral maior que 20g/dia) confirma apenas a existência da síndrome de má absorção, mas não estabelece a etiologia. 2. TESTE QUALITATIVO DE GORDURA FECAL (TESTE DE SUDAN III) O teste qualitativo para gorduras confirma, por intermédio de exame microscópico com fezes coradas, se existem ou não gorduras, mas não define a quantidade. A realização do Sudan poderia não apenas fornecer informações sobre a presença de gordura fecal, mas também ajudar na diferenciação entre causas digestivas e disabsortivas de esteatorreia. 3. TESTE DE D-XILOSE URINÁRIA O teste da excreção urinária de D-xilose distingue a má absorção causada por doenças do intestino delgado daquelas decorrentes de insuficiência pancreática. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 2. ENTENDER A SÍNDROME DE CROHN, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNOSTICO, TRATAMENTO E SUAS COMPLICAÇÕES. As doenças inflamatórias intestinais (DII) são distúrbios inflamatórios crônicos idiopáticos que acometem qualquer porção do trato gastrointestinal. A grande maioria dos casos são classificados como Retocolite Ulcerativa (RCU) ou Doença de Crohn (DC). A DC caracteriza-se por uma inflamação transmural crônica do tubo digestório, da boca ao Ânus, com predileção pela região ileal ou ileocecal, e gera reação granulomatosa não caseificante. A RCU acomete a mucosa do colon e reto e classicamente apresenta distribuição simétrica e contínua. EPIDEMIOLOGIA São mais prevalentes na Europa setentrional e na América do Norte, com menor incidênciana Europa central, América do Sul, África e Ásia. Além disso, as DII são mais comuns na população branca, especialmente judeus. As DII possuem dois picos de idade de aparecimento: entre os 15 e os 40 anos. Atualmente parece haver uma discreta predominância de RCU em homens, enquanto que na DC seria de mulheres. Além disso, a RCU é mais prevalente e incidente do que a DC. A DII tem se tornado mais comum em países industrializados, apontando a urbanização como um fator de risco em potencial, com a ocidentalização do estilo de vida, a mudança de hábitos alimentares, o hábito de fumar, somados a mudanças ambientais. ETIOPATOGENIA Acredita-se que a etiologia se deva a uma incapacidade do organismo em regular efetivamente as respostas imunes contra antígenos aos quais o trato digestivo está constantemente sendo exposto. Em indivíduos saudáveis, o organismo consegue controlar a resposta imune contra esses microrganismos; já em portadores de DII, essa imunorregulação não acontece e há uma amplificação da inflamação, com consequente ataque imunológico às células do sistema digestivo. Tem-se tentado implicar diversos fatores ambientais no desenvolvimento das DII, como infecção por microbasctérias atípicas, dietas ricas em açúcar e maior consumo de gordura poli- insaturada (dieta padrão ocidental). O principal fator de risco comprovado para ambas as DII é uma história familiar positiva. A incidência nos parentes de primeiro grau de um indivíduo acometido chega a ser 100x mais alta. Um importante marcador genético também foi descrito: o gene NOD2/CARD15, que se encontra fortemente associado à DC. Esse gene codifica uma proteína que atua como receptor intracelular para um antígeno de parede bacteriana e que auxilia no controle da resposta inflamatória. Com o NOD2 defeituoso, a resposta inflamatória fica mais descontrolada. Outros fatores de risco associados incluem o Tabagismo, que enquanto se mostra um fator protetor para o RCU, está associado a um maior risco de desenvolvimento de DC. Além disso, parece que o uso de ACO aumenta o risco de DII e chance de exacerbação. Assim como, o uso de AINES está associada com reagudizações das DII. E por fim, o aleitamento materno se torna um fator protetor para as DII. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 FISIOPATOLOGIA A retocolite ulcerativa se caracteriza pela inflamação crônica do cólon e reto, ficando confinada a essas regiões. A inflamação se limita a camada mucosa e aparece de forma continua e simétrica ao longo da porção afetada. Os principais sintomas são diarreia com perda de sangue nas fezes, decorrentes diretamente da inflamação do reto/cólon. Essa mesma inflamação altera a permeabilidade do epitélio, causando extravasamento do fluido intersticial rico em proteínas. Além disso, a absorção de agua e eletrólitos está prejudicada e alterações da motilidade intestinal, decorrente do processo inflamatório, contribuem na fisiopatologia da diarreia. As erosões da mucosa colonica ocasiona a perda de sangue nas fezes. Na RCU, o limiar sensorial do reto inflamado é diminuído, o que faz com que a presença de qualquer quantidade de fluido na ampola retal desencadeie o reflexo de defecação - isso explica o aumento do número de evacuações, tenesmo e urgência fecal. A perda de sangue nas fezes pode resultar em anemia ferropriva, que pode contribuir para a fraqueza observada em alguns pacientes. Porém, pacientes que estão em tratamento com sulfassalazina, a carência de ácido fólico, decorrente do prejuízo que essa droga acarreta na absorção desse nutriente, levará a uma anemia megaloblástica. Já a doença de Crohn é caracterizada pela inflamação transmural - da mucosa à serosa do tubo digestório, podendo acometer qualquer parte desde a boca até o ânus. Como as possibilidades de acometimento da DC são mais amplas, as manifestações clinicas podem variar conforme o local afetado. Quando confinada ao intestino delgado, a diarreia e a dor abdominal são as manifestações mais comuns – sintomas constitucionais como perda ponderal e anemia também podem ocorrer. A diarreia pode ocorrer por má absorção – de nutrientes, fluidos ou eletrólitos – ou por exsudação de fluido intersticial para o lúmen devido ao processo inflamatório. Nos casos com comprometimento do íleo mais distal é a má absorção de sais biliares, que leva quantidade excessiva dessas substâncias a atingirem o intestino grosso, provocando maior secreção de água e cloro pelas células epiteliais, e predispõe o paciente à coletíase por redução do pool de sais biliares e menor solubilização do colesterol biliar. Por fim, é importante ressaltar que é no íleo que ocorre a absorção de vitamina B12, e sua escassez gera anemia megalobástica. Uma proporção considerável dos pacientes com DII apresenta manifestações extra-intestinais, das quais as mais frequentes resultam do acometimento das articulações. Admite-se que decorram da deposição de imunocomplexos em pequenos vasos, o que desencadearia reação inflamatória localizada. ANATOMOPATOLOGIA RETOCOLITE ULCERATIVA A RCU é uma doença EXCLUSIVA do cólon; A RCU é uma doença EXCLUSIVA da mucosa; A RCU é tipicamente "ascendente" e uniforme. A RCU é uma doença intestinal caracterizada pelo surgimento inexplicado (idiopático) de lesões inflamatórias que ascendem de maneira uniforme (homogênea) pela mucosa do cólon. Alguns autores chamam de colite extensa o comprometimento inflamatório que se estende ao cólon transverso, reservando o termo pancolite para os casos em que há lesões além da flexura hepática. O aspecto macroscópico da mucosa colônica varia desde o normal até o completo desnudamento: 1. Desaparecimento do padrão vascular típico do cólon (precoce); 2. Hiperemia, edema, mucosa friável, erosões, ulcerações e exsudação de muco, pus ou sangue; 3. Formação de pseudopólipos – 15 a 30% dos casos; 4. Mucosa pálida, atrófica, com aspecto tubular - perda de haustrações (cronicidade). 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 DOENÇA DE CROHN A DC pode acometer qualquer parte do tubo digestivo, desde a boca até o ânus, porem os locais mais frequentes são o íleo distal e cólon proximal. Na DC pode haver acometimento macroscópico em diferentes locais ao mesmo tempo, isto é, separados por trechos de mucosa normal - lesões salteadas, de acometimento descontinuo e focal. Na DC as alterações patológicas inflamatórias são tipicamente transmurais. Isso explica o espessamento da parede intestinal, com estreitamento do lúmen (formação de estenoses) e também explica a formação de fístulas para o mesentério e órgãos contíguos. O exame macroscópico da mucosa pode mostrar úlceras profundas, irregulares, aftóides ou serpiginosas. A coexistência de edema e infiltração da mucosa e da submucosa e de úlceras lineares pode propiciar o aspecto “em paralelepípedo” (cobblestone) das áreas mais afetadas do intestino. Granulomas não caseosos podem ser encontrados em até 30% dos casos de DC, sendo um material que diferencia da RCU. Contudo, por ser um achado pouco sensível, eles não são fundamentais para o diagnóstico. Porém, sua presença constitui um achado patognomonico, desde que seja excluída outras afecções granulomatosas. QUADRO CLÍNICO: RETOCOLITE ULCERATIVA A RCU geralmente se apresenta como episódios de diarreia invasiva (sangue, muco e pus), que variam de intensidade e duração, e são intercalados por períodos assintomáticos. Os principais sintomas de colite ulcerativa consistem em diarreia sanguinolenta e dor abdominal, acompanhada muitas vezes de febre e sintomas gerais nos casos mais graves. Na maior parte das vezes, o início dos sintomas é insidioso (o diagnóstico é feito, em média,após nove meses do início do quadro), com: 1. Crescente urgência para defecar (refletindo a diminuição da complacência do reto inflamado); 2. Leves cólicas abdominais baixas; 3. Aparecimento de sangue e muco nas fezes. QUADRO CLÍNICO: DOENÇA DE CROHN As características clínicas mais comuns da doença de Crohn são as de uma ileocolite: 1. Diarreia crônica invasiva associada à dor abdominal; 2. Sintomas gerais como febre, anorexia e perda de peso; 3. Massa palpável no quadrante inferior direito*; 4. Doença perianal (*) A existência de massa palpável no quadrante inferior direito pode representar, na DC, uma alça intestinal edemaciada, de diâmetro bastante aumentado, geralmente dolorosa à palpação, ou um abscesso intra-abdominal. COMPLICAÇÕES SANGRAMENTOS: A pesquisa de sangue oculto é geralmente positiva em pacientes com DC, mas sangramentos macroscópicos (hematoquezia) são mais frequentes na RCU do que na DC. 6 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 MEGACÓLON TÓXICO/ PERFURAÇÃO/ PERITONITE: O megacólon tóxico ocorre quando a inflamação compromete a camada muscular, levando à perda do seu tônus e consequente adelgaçamento da parede intestinal. Dilatação colonica superior a 5cm no RX, associado a dor abdominal, febre alta e diminuição da peristalse é diagnostico de megacólon tóxico. FÍSTULAS: As fistulas transmurais são típicas da DC e podem resultar em massas inflamatórias e abcessos. As mais encontradas na DC são: enteroentéricas; enterovesicais; enteromesentéricas. MANIFESTAÇÕES EXTRAINTESTINAIS DAS DII Manifestações articulares: variam desde artralgias até artite aguda com dor e edema articular. Podem ter qualquer padrão de comprometimento, seja periférico (mono ou poliarticular) ou central (espondilite) e articulações do joelho, tornozelo e punho são mais afetadas. Manifestações cutâneo-mucosas: Eritema nodoso (paniculite); Pioderma gangrenoso (mais comum na RCU); Lesões labiais e ulceras aftosas orais. Manifestações oculares: incluem uveite, conjuntivite e episclerite; DIAGNÓSTICO O diagnóstico da DII ocorre a partir de dados da anamnese e história clínica, exame físico e exames complementares – laboratorial, endoscópico, radiológico e histopatológico. Exames laboratoriais: estes se encontram normais ou levemente alterados nas DII, especialmente os casos leves. Pode haver anemia, leucocitose e trombocitose e, frequentemente, há elevação das provas de atividade inflamatória (como o VHS e PCR). A calprotectina e lactoferrina fecais são exames úteis para o diagnóstico das DII, pois evidenciam atividade inflamatória no intestino e apresentam boa correlação endoscópica e histológica. Marcadores sorológicos: vários marcadores têm sido estudados para as DII. Dentre eles, os mais destacados são o p-ANCA encontrado principalmente na RCU inespecífica; e o ASCA mais associado à DC. Isoladamente, esses anticorpos não fecham diagnóstico ou diferenciam entre uma forma e outra, pois aparecem em outras patologias e até mesmo em indivíduos saudáveis. Recentemente, outros dois anticorpos foram incorporados como auxiliares sorológicos na diferenciação entre DC e RCU – estamos falando do anti-OmpC (antiporina) e anti-CBir1 (antiflagelina). Ambos estão mais associados à DC, e parecem predizer um pior prognóstico nesta condição. A endoscopia digestiva alta pode encontrar achados compatíveis com DC no trato gastrintestinal alto. Já a colonoscopia serve tanto para diagnóstico e acompanhamento da DC como da RCU. A enterotomografia ou enteretoressonância (TC ou RM com contrste oral + venoso)) são preferíveis, pois identificam áreas de parede intestinal doente, sendo obtidos de forma mais rápida do que um transito de delgado, além de garantir a visualização de TODO o tubo digestivo. TRATAMENTO Como se tratam de patologias idiopáticas, não existe uma terapia específica, haja vista que não conhecemos sua exata etiologia...Assim, as principais drogas úteis para o controle geral do processo inflamatório associado a essas doenças são: (1) derivados do ácido 5-aminossalicílico (5- ASA); (2) glicocorticoides; (3) imunomoduladores; e (4) agentes "biológicos". 1. DERIVADOS SALICÍLICOS O ácido 5-aminossalicílico é um anti-inflamatório de ação TÓPICA na mucosa intestinal. Ele é prontamente absorvido ao longo do delgado, porém não possui absorção colônica significativa. Essas drogas podem ser usadas tanto na indução da remissão quanto na manutenção da remissão. Existem dois tipos básicos de derivados do 5-ASA: (1) compostos não ligados a radicais de "sulfa" (mesalamina, também chamada de mesalazina); (2) compostos ligados a radicais de "sulfa" (sulfassalazina, olsalazina e balsalazina). 2. GLICOCORTICÓIDE 7 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Os glicocorticoides DEVEM SER USADOS APENAS PARA INDUÇÃO DA REMISSÃO NAS DII MODERADAS A GRAVES, VISANDO A RÁPIDA MELHORA DA INFLAMAÇÃO! A via intravenosa é reservada aos casos mais graves, aqueles onde a inflamação intestinal é intensa (impossibilitando o uso da via oral) e, principalmente, quando existem sinais e sintomas de inflamação sistêmica exuberante. As drogas comumente empregadas são a hidrocortisona e a metilprednisolona (ministradas de 6/6h ou em infusão contínua). Pela via oral podemos utilizar a tradicional prednisona, porém, atualmente prefere-se a budesonida, um glicocorticoide com potente ação anti-inflamatória TÓPICA que apresenta como vantagem o fato de possuir um grande efeito de primeira passagem hepática. 3. IMUNOMODULADORES Os principais são as tiopurinas: azatioprina e mercaptopurina. Essas drogas são empregadas em portadores de DII moderada a grave (DC ou RCU), em combinação com um agente anti-TNF ou em pacientes que não conseguem reduzir a dose de glicocorticoide sem apresentar exacerbação ("corticodependência"). O metotrexato é considerado um imunomodulador de segunda linha no tratamento das DII, sendo reservado aos pacientes que não toleram as tiopurinas. 4. AGENTES BIOLÓGICOS Este grupo é composto por anticorpos monoclonais quiméricos ou humanizados que têm como alvo moléculas essenciais para a cascata inflamatória. Atualmente, existem duas classes em uso clínico nas DII: (1) agentes anti-TNF; (2) agentes anti-integrina. CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE DOENÇA LEVE A MODERADA Recomenda-se a estratégia step up, ou seja, o tratamento começa com a droga menos potente, passando-se para as mais potentes somente se houver intolerância ou refratariedade. Assim, portadores de ileíte leve a moderada começam o tratamento com um derivado 5-ASA de liberação ileal. Aqueles derivados ligados a radicais sulfa (sulfassalazina, olsalazina e balsalazina) NÃO TÊM PAPEL no tratamento da ileíte, já que com essas drogas o 5-ASA só é liberado no interior do cólon. Alguns autores continuam recomendando antibióticos (metronidazol, ciprofloxacina ou rifanpicina) para os portadores de DC leve a moderada que não toleram ou não respondem (após 3-4 semanas) aos derivados de 5-ASA. Logo, os ATB constituem segunda linha de tratamento. Já os glicocorticoides só são prescritos na DC leve a moderada como terceira linha terapêutica, ou seja, na ausência de resposta aos derivados do 5- ASA e antibióticos. Como vimos, tem-se preferido a budesonida de liberação ileal, mas também pode utilizar a predinisona. Uma vez atingida a remissão, a terapia de manutenção será feita com um derivado 5-ASA. Pacientes que não respondem, lançamos mão dos imunomoduladores e/ou biológicos. DOENÇA MODERADA A GRAVE As drogas de primeira escolha para induzir remissão passaram a ser os biológicos, com preferência pelos agentes anti-TNF. Inclusive, tem- se recomendado, sempre que possível, a associação de umimunomodulador... Recomenda-se que a terapia dupla seja mantida por no mínimo um ano. DOENÇA GRAVE A FULMINANTE Pacientes toxêmicos, apresentando sinais de irritação peritoneal, massas palpáveis no abdome e/ou sintomas obstrutivos, devem realizar um exame de imagem em caráter emergencial (ex.: TC de abdome e pelve com contraste IV) a fim de avaliar a ocorrência de complicações. Se houver perfuração, a conduta prioritária será a correção cirúrgica do problema; se houver abscesso, o mesmo deverá ser drenado (de preferência pela via percutânea). Na vigência de obstrução 8 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 intestinal, o tratamento pode ser inicialmente clínico (conservador), com dieta zero, drenagem nasogástrica, e reposição volêmica/hidroeletrolítica. Em todas essas três circunstâncias faz-se necessário o acréscimo de antibioticoterapia de amplo espectro, cobrindo enteropatógenos Gramnegativos e anaeróbios (ex.: ciprofloxacina + metronidazol; amoxicilina + clavulanato). 5. COMPREENDER AS ALTERAÇÕES METABÓLICAS NO PÓS OPERATÓRIO DA REDUÇÃO INTESTINAL. O principal tipo de cirurgia bariátrica realizado atualmente é o bypass gástrico em Y-de-Roux (BGYR)12, uma técnica cirúrgica mista por restringir o tamanho da cavidade gástrica e, consequentemente, a quantidade de alimentos ingerida, e por reduzir a superfície intestinal em contato com o alimento (disabsorção). A má absorção de nutrientes é umas das explicações para a perda de peso alcançada com o uso de técnicas disabsortivas como a derivação biliopancreática/duodenal switch (DBP), sendo que cerca de 25% de proteína e 72% de gordura deixam de ser absorvidos. Automaticamente, nutrientes que dependem da gordura dietética para serem absorvidos, como as vitaminas lipossolúveis e o zinco, estão mais suscetíveis a uma má absorção nesse tipo de procedimento. A reposição e a incorporação de micronutrientes ao corpo a partir da alimentação é a maneira mais adequada de se manter os estoques corporais em níveis desejáveis. No entanto, em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica alguns fatores justificam a suplementação nutricional. Portanto, a utilização de uma dosagem diária adequada de polivitamínico/mineral é uma forma de garantir o aporte nutricional adequado de micronutrientes para o bom funcionamento dos processos que ajudam na regulação de peso corporal. 6. DISCUTIR A SÍNDROME DO INTESTINO CURTO. (DIAGNOSTICO DIFERENCIAL). Chamamos síndrome do intestino curto quando a superfície absortiva do intestino delgado remanescente é insuficiente para suportar e manter a nutrição adequada. Em adultos, o comprimento normal do intestino delgado é de cerca de 480 cm; aqueles com delgado residual menor que 180 cm estão em risco de desenvolver a síndrome do intestino curto, e aqueles menos de 60 cm provavelmente serão dependentes de nutrição parenteral. Ocorre, normalmente, após a remoção de mais de dois terços do intestino delgado, e pode ser decorrente de ressecções intestinais maciças (75%), por infarto enteromesentérico, volvo de delgado, lesão traumática dos vasos mesentéricos superiores e bridas, ou de ressecções intestinais 9 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 múltiplas (25%), por doença de Crohn e enterite actínica. A ressecção cirúrgica da válvula ileocecal pode acarretar má absorção quando acompanhada de ressecções intestinais maciças. Sempre que possível, mantém-se a válvula em cirurgia desse tipo, o que previne, em vários casos, a má absorção. A má absorção depende da região remanescente, mas o paciente geralmente apresenta desnutrição, emagrecimento e diarreia. Refeições pequenas e frequentes ou dieta enteral podem ser recomendadas. Algumas vezes, a nutrição parenteral é necessária, assim como a reposição de nutrientes como ferro e vitamina B12. Aos casos que desenvolvem complicações da dieta parenteral ou não possuem indicação a esta o transplante de delgado é uma opção. 7. ENTENDER AS REPERCUSSÕES INTESTINAIS DESENCADEADAS POR DISTÚRBIOS PSICOLÓGICOS.
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