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Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! 1. Definir síndrome metabólica e seu critério diagnóstico. CONCEITO A síndrome metabólica (SM), também conhecida com síndrome X, Síndrome de resistência à insulina e Síndrome de Reaven é considerada um conjunto de alterações no metabolismo do indivíduo que contribuem para a elevação do risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares. As principais alterações são a obesidade abdominal, hipertensão, hipertrigliceridemia, baixa concentração de lipoproteínas de alta densidade (HDL-c) e intolerância à glicose. É importante destacar que a associação da SM com a doença cardiovascular, tem aumentado à taxa de mortalidade geral em cerca de 1,5 vezes e a cardiovascular em cerca de 2,5 vezes. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Atualmente, ainda existem dificuldades para a adoção de critérios homogêneos para definição da SM em crianças e adolescentes, uma vez que são utilizados mais de 40 critérios para diagnosticar a doença. Estudos que exploram esses parâmetros de diagnóstico mostram que três instituições são as mais citadas: World Health Organization (WHO), o National Cholesterol Education Program - Adult Treatment Panel III (NCEP-ATPIII) e o International Diabetes Federation (IDF) que desenvolveram critérios diagnósticos para SM, sendo estes preconizados para utilização em adultos, com adaptações para crianças e adolescentes. Diagnóstico clínico e avaliação laboratorial São objetivos da investigação clínica e laboratorial: confirmar o diagnóstico da síndrome metabólica (SM) de acordo com os critérios do NCEP-ATP III e identificar fatores de risco cardiovascular associados. Para tanto, realiza-se: 1. História clínica - idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteroides, betabloqueadores, diuréticos). 2. Exame físico necessário para diagnóstico da SM: • Medida da circunferência abdominal A medida da circunferência abdominal é tomada na metade da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior. • Níveis de pressão arterial (Quadro 1). Deve- se aferir no mínimo duas medidas da pressão por consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso. Além destes dois dados obrigatórios deverá estar descrito no exame físico destes pacientes: Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! • Peso e estatura. Devem ser utilizados para o cálculo do índice de massa corporal através da fórmula: IMC = Peso/Altura2. • Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans. Examinar pescoço e dobras cutâneas. • Exame cardiovascular. 3. Exames laboratoriais necessários para o diagnóstico da SM: • Glicemia de jejum (Quadro 1). A SM, definida pelos critérios do NECP-ATP III, recomenda para o diagnóstico das alterações da tolerância à glicose apenas a avaliação laboratorial de jejum, não exigindo teste de tolerância oral à glicose (TOTG) nem métodos acurados de avaliação da insulino- resistência (clamp euglicêmico, HOMA–IR). • Dosagem do HDL-colesterol e dos triglicerídeos (Quadro 1) Outros exames laboratoriais adicionais poderão ser realizados para melhor avaliação do risco cardiovascular global, tais como: colesterol total, LDL- colesterol, creatinina, ácido úrico, microalbuminúria, proteína C reativa, TOTG (glicemia de jejum) e após duas horas da ingestão de 75g de dextrosol), eletrocardiograma. A presença de LDL aumentado não faz parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, porém, frequentemente, os pacientes portadores de resistência à insulina e síndrome metabólica apresentam aumento da fração pequena e densa do LDL-colesterol que tem um potencial aterosclerótico maior. 2. Discutir etiologia e fisiopatologia da síndrome metabólica. ETIOLOGIA A SM é um transtorno complexo que envolve vários fatores de risco entre os quais a obesidade central, a genética, o sedentarismo, idade superior a 60 anos, alterações hormonais, estado pró-inflamatório, consumo de bebida alcóolica, uso de bebidas açucaradas e refrigerantes. A taxa de incidência de obesidade tem se elevado progressivamente, sendo considerada atualmente um grave problema de saúde pública mundial. A obesidade está intimamente relacionada ao desequilíbrio entre a ingesta calórica diária e o gasto energético total. A obesidade é um dos mais importantes fatores de risco para a ocorrência de distúrbios metabólicos e desenvolvimento da SM na população geral, sejam em crianças, adolescentes e adultos, e está intimamente ligada a todos os outros fatores associados a essa síndrome. Isto também pode ser notado na faixa etária pediátrica. No que se refere aos adolescentes com excesso de peso, ou obesos, geralmente apresentam elevados o LDL e triglicérides e baixo nível de HDL. Um estudo mostrou a prevalência de crianças obesas de 08 a 12 anos com aumento do colesterol total em 52% e quando comparadas com crianças eutróficas a prevalência corresponde a 16%. Por outro lado, existe uma intrínseca relação entre baixo peso ao nascer, baixa estatura para idade gestacional (PIG) e o desenvolvimento da SM. A prevalência de resistência à insulina é 10 vezes mais elevada em adultos com 50 anos de idade que nasceram com baixo peso. A obesidade é também um fator de risco para o desenvolvimento de várias patologias, entre as quais estão as DCV, diabetes tipo 2 (DM2), dislipidemia, hipertensão, síndrome metabólica, doença da vesícula biliar, doença arterial coronariana (DAC), osteoartrose, doença crônica renal, apneia do sono, problemas conjugais, isolamento social, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! FISIOPATOLOGIA Existem várias hipóteses para descrever os mecanismos fisiopatológicos da SM, sendo a resistência à insulina com efluxo de ácidos graxos o mais amplamente aceito. A insulina é um hormônio secretado pelas células beta (β) do pâncreas endócrino e uma vez produzida segue seu trajeto para o fígado para suprimir a produção de glicose, exercendo assim um papel central na regulação da homeostase da glicose. A fisiopatologia da SM ligada a resistência à insulina pode ter várias origens, entre elas a deficiência no receptor específico; diminuição na quantidade de receptores ou por erro durante utilização por parte dos receptores. Como mecanismo de compensação, as células β elevam a produção de insulina, por consequência à hiperinsulinemia. A resistência à insulina pode ocorrer também pelo excesso de glicocorticoides, glucagon, catecolaminas, excesso de peso/obesidade, sedentarismo. O excesso de ingesta de calorias pode desencadear o estresse de organelas como o retículo endoplasmático, ativando as vias inflamatórias, podendo, ainda, a resistência à insulina ser uma consequência da inflamação. Fatores fisiológicos, como por exemplo, o envelhecimento e gravidez podem causar resistência à insulina. Nesse sentido, a supressão da produção de glicose hepática é prejudicada, resultando em homeostase anormal da glicose. Anormalidades ligadas a resistência à insulina e a estimulação da lipogênese hepática podem causar a liberação de ácidos graxos livres e triglicérides na circulação sanguínea, resultando em dislipidemia e deposição adiposa. A distribuição de gordura ectópica resulta na liberação de adipocitocinas, causando um estado de inflamação de baixo grau e aumento dos fatores inflamatórios, como inibidor do ativador do plasminogênio-1,fator de necrose tumoral α, interleucina 6 e reagentes de fase aguda, como C de alta sensibilidade, proteína reativa e fibrinogênio (Figura 4). O acúmulo visceral de gordura é o gatilho para elevação de citocinas inflamatórias e ácidos graxos, que por consequência ativam a gliconeogênese e assim bloqueiam a depuração hepática de insulina, tendo como desfecho o aumento de triglicérides no fígado e no tecido muscular, e por consequência, gera à resistência insulínica, promovendo a dislipidemia. A dislipidemia na SM é caracterizada pela elevação de triglicérides, HDL-c baixo, aumento do LDL- colesterol de lipoproteína de baixa densidade, dislipidemia aterogênica (hipertrigliceridemia, níveis elevados de apolipoproteína B, hipertensão arterial, hiperglicemia e um estado pró-inflamatório e pró- trombótico. É interessante notar que 87% dos portadores e diabetes do tipo 2 apresentam alguma alteração lipídica, sendo os mais 18 prevalentes a hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia e baixas concentrações de HDL. Segundo a World Health Organization (WHO) em 2016, mais de 1,9 bilhão da população mundial estava com sobrepeso ou obesidade, aumentando o risco para a ocorrência de DCV e DM2. 3. Entender a progressão e as consequências da síndrome metabólica. Entre as consequências advindas da SM estão a hipertensão arterial, colesterol sérico elevado, baixo HDL-c, hiperglicemia e resistência à insulina, fatores estes inerentes ao risco para o surgimento de DM do tipo 2 e DCVs, que são atualmente, as principais causas de morbidade e mortalidade. A SM também tem contribuído para várias condições clínicas entre elas a síndrome de ovário policístico, a acantose nigricans, a hepatopatia gordurosa não alcoólica, os estados prótrombóticos, pró- inflamatórios e de disfunção endotelial, hiperuricemia. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! 4. Discutir a mudança de estilo de vida no paciente com distúrbios metabólicos e nutricionais. A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exercício físico são considerados terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome metabólica. Está comprovado que esta associação provoca a redução expressiva da circunferência abdominal e a gordura visceral, melhora significativamente a sensibilidade à insulina, diminui os níveis plasmáticos de glicose, podendo prevenir e retardar o aparecimento de diabetes tipo 2. Há ainda, com essas duas intervenções, uma redução expressiva da pressão arterial e nos níveis de triglicérides, com aumento do HDL-colesterol. Plano alimentar A adoção de um plano alimentar saudável é fundamental no tratamento da síndrome metabólica. Ele deve ser individualizado e prever uma redução de peso sustentável de 5% a 10% de peso corporal inicial. O primeiro passo é estabelecer as necessidades do indivíduo a partir da avaliação nutricional, incluindo a determinação do índice de massa corporal, circunferência abdominal e, quando possível, a composição corporal. Além disso, a determinação do perfil metabólico é muito importante na terapia nutricional da síndrome metabólica. O plano alimentar deve fornecer um valor calórico total (VCT) compatível com a obtenção e/ou manutenção de peso corporal desejável. Para obesos, a dieta deve ser hipocalórica, com uma redução de 500kcal a 1000kcal do gasto energético total (GET) diário previsto ou da anamnese alimentar, com o objetivo de promover perdas ponderais de 0,5kg a 1,0kg/semana. Um método prático para o cálculo do GET é utilizar 20kcal a 25kcal/kg peso atual/dia. Não utilizar dietas inferiores a 800kcal, pois não são efetivas para a redução de peso. As recomendações de ingestão de calorias e macronutrientes estão sumarizadas no Quadro 2. Carboidratos A adoção do modelo dietético DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) associado a uma intervenção no estilo de vida pode aumentar a sensibilidade à insulina. Para os carboidratos, é recomendado o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. O açúcar de mesa ou produtos contendo açúcar (fonte de frutose) podem eventualmente ser ingeridos no contexto de um plano alimentar saudável. Em bora dietas com baixo índice glicêmico possa reduzir a glicemia pós-prandial e o perfil lipídico, a capacidade dos indivíduos para manter estas dietas em longo prazo não está bem estabelecida. Não são encontradas evidências suficientes para recomendar o uso de alimentos de baixo índice glicêmico como estratégia primária no plano alimentar. Fibras É recomendado o consumo de fibras em 20g a 30g/dia sob a forma de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas, pois fornecem minerais, vitaminas e outros nutrientes essenciais para uma dieta saudável. Embora altas quantidades de fibras (50 g/ dia) mostrem efeitos benéficos sobre o controle glicêmico e lipídico, não é conhecido se a palatabilidade e os efeitos gastrintestinais colaterais dessa quantidade de fibras seriam aceitáveis pela população. Gorduras A ingestão de gordura é inversamente associada à sensibilidade insulínica não somente pela relação positiva com o peso corporal, mas também pela qualidade da oferta de ácidos graxos. Em algumas situações, como na hipertrigliceridemia ou quando o HDL-colesterol for inferior ao desejável, pode ser aconselhável aumentar a quantidade de gordura monoinsaturada, reduzindo neste caso a oferta de carboidratos. Esta substituição deve acontecer, pois o aumento dos ácidos graxos monoinsaturados de forma aditiva ao plano alimentar pode promover o aumento de peso. O uso de gordura em cotas inferiores a 15% do VCT pode diminuir o HDL-colesterol e aumentar os níveis plasmáticos de glicose, insulina e Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! triglicerídeos. Os ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 podem ser benéficos na síndrome metabólica em especial no tratamento da hipertrigliceridemia grave em pessoas com diabetes tipo 2. Duas ou três porções de peixe/semana devem ser recomendadas. Os ácidos graxos trans aumentam o LDL-colesterol e triglicerídeos e reduzem a fração do HDL-colesterol. A maior contribuição desses ácidos graxos na dieta origina-se do consumo de óleos e gorduras hidrogenadas, margarinas duras e shortenings (gorduras industriais presentes em sorvetes, chocolates, produtos de padaria, salgadinhos tipo chips, molhos para saladas, maionese, cremes para sobremesas e óleos para fritura industrial) e, em menor quantidade, produtos lácteos e carnes bovinas e caprinas. Seu consumo deve ser reduzido. Proteína Recomenda-se uma ingestão diária de proteínas de 0,8g a 1g/kg de peso atual ou 15% do VCT. Embora dietas hiperproteicas e baixa em carboidratos possam promover a redução de peso e melhorar a glicemia a curto prazo, não está bem estabelecida a sua efetividade em longo prazo. Vitaminas e minerais O plano alimentar deve prover a recomendação para o consumo diário de duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica em vitamina C (frutas cítricas) e de três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas. Recomenda-se, sempre que possível, dar preferência aos alimentos integrais. Sal de cozinha Deve ser limitado a 6g/dia. Devem ser evitados os alimentos processados como embutidos, conservas, enlatados, defumados e salgados de pacotes tipo snacks. Ao contrário, temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas são recomendados em vez de condimentos industrializados. Recomendações alimentares complementares A adoção do modelo dietético DASH e da Dieta Mediterrânea que preconizam o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas, laticínios com baixo teor de gordura total, gordura saturada e trans e colesterol, alta quantidade de gordura monoinsaturada(azeite de oliva) e ácidos graxos ômega-3 e fornece altas quantidades de potássio, magnésio e cálcio pode ser uma opção terapêutica na síndrome metabólica quando associada a uma intervenção no estilo de vida. O plano alimentar deve ser fracionado em cinco refeições, sendo três principais e dois lanches. Quanto à forma de preparo dos alimentos, preferir os grelhados, assados, cozidos no vapor ou até mesmo crus. Os alimentos diet e light podem ser indicados no contexto do plano alimentar e não utilizados de forma exclusiva. Devem-se respeitar as preferências individuais e o poder aquisitivo do paciente e da família. Exercício As recomendações de exercício físico para a atuação nos fatores de risco associados à SM encontram-se no Quadro 3. Recomendações adicionais Recomenda-se além da implementação de um plano alimentar adequado e realização de exercício físico, a inclusão de outros itens, tais como, controle das situações estressantes, cessação do fumo e controle na ingestão de bebida alcoólica. Para o consumo de bebidas alcoólicas, o limite máximo recomendado é de 30 g de etanol ao dia para o sexo masculino e metade para as mulheres. Evidências mostram que acima desses limites há elevação nos níveis da pressão arterial, além de influenciar na carga calórica total. Na síndrome metabólica, para as mulheres e para os pacientes com elevação dos níveis de triglicérides e do peso corporal esses valores devem ser reduzidos à metade. A síndrome metabólica compreende, na sua definição, doenças crônicas como a hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemia que, isoladamente, apresentam controle pouco satisfatório, devido à baixa adesão ao tratamento. Esforços devem ser conjugados no sentido de otimizar recursos e estratégias, com participação ativa do paciente e manutenção da sua qualidade de vida, visando minimizar ou evitar essa problemática tão frequente. A atuação integrada dos membros da equipe de saúde: médico, nutricionista, professor de educação física, Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! enfermeiro psicólogo, assistente social, farmacêutico, visando à assistência ao paciente, é o grande passo para conquistas futuras. 5. Compreender o tratamento e as formas de prevenção da síndrome metabólica (farmacologia da metformina e sinvastatina). TRATAMENTO Uma vez diagnosticado a SM, as ações interventivas devem ser imediatas para evitar o desfecho de DCNT no futuro próximo, pois caso contrário o acomentimento de morbidades relacionadas à SM é na sua maioria difíceis de reversão. O tratamento deve ser efetivo a fim de reduzir o risco de DCV, DM2 e demais complicações secundárias. Os pacientes devem ser assistidos através de intervenções primárias e secundárias. A IDF54 recomenda que ação primária a ser efetivada para evitar o desfecho de SM é adotar um estilo de vida saudável: moderada restrição calórica, atividade física, mudança na composição da dieta (aumentar o consumo de frutas, verduras, carnes magras, gorduras não saturadas). Pesquisas sobre prevenção do DM2 têm revelado os benefícios clínicos de uma vida saudável somados a perda de peso (bem como aumento de atividade física), retardam em vários anos o acometimento de DM2 entre indivíduos obesos que apresentavam elevada intolerância à glicose. Com relação a intervenção secundária essa deve ser aplicada a indivíduos que não conseguem mudar o seu estilo vida, sendo insuficiente a intervenção primária, associados ao elevado risco para DCV. Nesses casos, a terapia medicamentosa pode ser necessária para tratar a SM e assim reduzir o impacto dos fatores de riscos cardiovasculares e demais consequências, mas cabe ao profissional de saúde decidir qual o tratamento medicamento para cada caso. Até o presente estudo não há, agentes farmacológicos específicos para o tratamento da SM. Infelizmente, é necessário tratar os disturbios metabólicos individuais da síndrome, a fim de minimizar o risco de DCV e DM2. METFORMINA Dentre os principais fármacos prescritos no tratamento farmacológico de DM2 está a metformina, pertencendo à classe das biguanidas, sendo uma das drogas antidiabéticas orais mais prescritas mundialmente. A metformina é administrada na forma de comprimidos (via oral), apresentando-se da seguinte forma: 1. Comprimidos revestidos de 500 mg; 850mg e 1g. 2. Embalagens com 30 ou 60 comprimidos revestidos. 3. Embalagens fracionáveis contendo 90 comprimidos revestidos. Mecanismos de ação A principal ação é o efeito anti-hiperglicemiante da metformina na redução da gliconeogênese hepática. Ademais, ela diminui a absorção de glicose no aparelho digestivo, aumenta a sensibilidade à insulina nos tecidos muscular e adiposo e melhora indiretamente a resposta da célula β à glicose. Nos tecidos periféricos, aumento do transporte de glicose, por aumentar a concentração da proteína transportadora da glicose (GLUT 4) na membrana das células que respondem à insulina. Além disso, a metformina gera muitos dos seus efeitos a partir de uma proteína quinase ativada por adenosina monofosfato (AMPK), que tem uma importante função no metabolismo, controlando a gasto de energia e o apetite. Os mecanismos de ação propostos para a metformina são: • fim da gliconeogênese (maior parte da sua ação, com 75%); decrescimento da produção de glicose no fígado; • ação sensibilizadora periférica mais discreta; • redução da absorção gastrointestinal de glicose; • estimulação anaeróbia nos tecidos periféricos, aumentando a remoção da glicose sanguínea e reduzindo o nível plasmático de glucagon; • aumento do transporte de glicose, por aumentar a concentração da proteína transportadora da glicose (GLUT 4) na Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! membrana das células que respondem à insulina Além disso, a metformina também possui a capacidade de alterar o metabolismo dos lipídios, atingindo a redução de triglicerídeos plasmáticos e ácidos graxos livres, por conta da inibição da lipólise; esse efeito também é associado com diminuição do colesterol total e LDL, assim como elevação contida do colesterol HDL. Farmacocinética e Farmacodinâmica do Cloridrato de Metformina A metformina é administrada por via oral, sendo absorvido lentamente pela parte superior do intestino delgado (duodeno-jejuno), é importante lembrar que a presença de alimento na bolsa estomacal retarda a sua absorção, mas não prejudica, visto que boa parte da administração desse fármaco é pós-prandial. Sua biodisponibilidade é da ordem de 50 à 60% e sua excreção é, principalmente, por via urinária. A redução glicêmica, já supracitada, ocorre devido à suas ações no tecido hepático e muscular, possuindo efeito de sensibilizador da insulina. É importante ressaltar que, ao contrário dos fármacos secretagogos, a metformina não aumenta os níveis séricos de insulina, sendo bem menos passível de causar hipoglicemia. Indicações O cloridrato de metformina é um medicamento antidiabético de uso oral, que associado a uma dieta apropriada, é utilizado para o tratamento do diabetes tipo 2, isoladamente ou em combinação com outros antidiabéticos orais, como por exemplo aqueles da classe das sulfonilureias. Pode ser utilizado também para o tratamento do diabetes tipo 1 em complementação à insulinoterapia. O cloridrato de metformina também está indicado na Síndrome dos Ovários Policísticos, condição caracterizada por ciclos menstruais irregulares e frequentemente excesso de pelos e obesidade. Contraindicações Hipersensibilidade à metformina ou aos componentes da fórmula; disfunção renal ou hepática; caso esteja desidratado (por exemplo, em função de uma diarreia grave); problemas cardíacos (problemas circulatórios, dificuldades respiratórias);se ingerir bebidas alcoólicas em excesso; casos de gravidez e amamentação. Efeitos adversos Problemas digestivos, como náuseas, vômitos, diarreia, dor de barriga e perda de apetite. Essas reações ocorrem com mais frequência no início do tratamento. Pode ocorrer acidose láctica (muito rara) e alterações na pele, como vermelhidão, coceira e urticária Crianças e Adolescentes: Dados limitados em crianças e adolescentes demonstraram que as reações adversas foram similares, em natureza e gravidade, àquelas verificadas em adultos. Idosos: O cloridrato de metformina deve ser usado com cautela em pacientes idosos que, em geral não devem receber a dose máxima do produto. Interações medicamentosas Alguns medicamentos podem causar uma perda do controle da Diabetes, tais como: 1. Inibidores da enzima da conversão da angiotensina 2. Diuréticos 3. Agonistas beta-2 (salbutamol ou terbutalina) 4. Corticosteroides 5. Clorpromazina (medicamento para epilepsia) 6. Danazol (usado no tratamento da endometriose) SINVASTATINA A sinvastatina pertence à classe das estatinas. Ela é uma vastatina sintética que resulta da adição de um radical metila na estrutura da lovastatina, tendo as mesmas ações e restrições que esta. Apresenta uma ligação proteica muito alta, da ordem de 95%. A biotransformação se dá por hidrólise em metabólitos ativos. Mecanismo de ação A sinvastatina atua inibindo competitivamente a 3- hidroxi-3-metilglutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase, que catalisa a biossíntese do colesterol. O mecanismo de ação das estatinas é caracterizado pela inibição da enzima HMG-CoA redutase, sendo essa inibição reversível e competitiva com o substrato da HMG-CoA, que é o Mevalonato. Desta forma, ocorre a redução do colesterol. As estatinas são Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! incorporadas ao tecido hepático por transportadores do tipo OATP (Organic Anion Transporting Polypeptides) para sofrer biotransformação, com ampla variação no sítio metabólico até sua eliminação pela bile. Polimorfismos genéticos e interações com alguns tipos de fármacos podem influenciar na captação, metabolização e eliminação das estatinas pelo organismo. No fígado, os OATP-C são membros específicos que transportam diversas substâncias, como ácidos biliares, hormônios tireoidianos, peptídeos e as próprias estatinas. A eliminação desses fármacos também pode ser influenciada pelo sistema de transporte da glicoproteína-P, responsável pelo efluxo para a árvore biliar. Desta forma, alguns inibidores de proteases, digoxina, ciclosporina, etc, podem interferir na excreção hepática das estatinas. Sugestões de dosagem • Dose inicial: 10 a 20 mg por dia • Dose habitual: 20 a 40 mg e dose máxima 80 mg por dia. • Crianças: usar em meninos maiores que 10 anos e meninas usar somente após o 1 ano da primeira menstruação. • Dose inicial 10 mg por dia e dose máxima 40 mg. Informações de Segurança Deve-se suspender a terapia nos casos de cirurgia para evitar possível rabdomiólise. Utilizar com cuidado em pacientes com insuficiência renal, idade avançada, em pacientes com predisposição à miopatia, em pacientes com histórico de ingestão excessiva de bebida alcoólica e hepatopatias. Lactação: Excretado no leite materno. Uso não recomendado. Riscos na Gravidez: X. Este medicamento causa malformação ao bebê durante a gravidez. Advertências e Precauções: Recomendar ao paciente que utilize o medicamento após o jantar com ou sem alimentos. Orientar o uso de método contraceptivo seguro. PREVENÇÃO DA SM De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os fatores de risco mais importantes para a morbimortalidade relacionada às doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) são: hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, ingestão insuficiente de frutas, hortaliças e leguminosas, sobrepeso ou obesidade, inatividade física e tabagismo. Cinco desses fatores de risco estão relacionados à alimentação e à atividade física e três deles têm grande impacto no aparecimento da Síndrome Metabólica (SM). A predisposição genética, a alimentação inadequada e a inatividade física estão entre os principais fatores que contribuem para o surgimento da SM, cuja prevenção primária é um desafio mundial contemporâneo, com importante repercussão para a saúde. Destaca-se o aumento da prevalência da obesidade em todo o Brasil e uma tendência especialmente preocupante do problema em crianças em idade escolar, em adolescentes e nos estratos de mais baixa renda. A adoção precoce por toda a população de estilos de vida relacionados à manutenção da saúde, como dieta adequada e prática regular de atividade física, preferencialmente desde a infância, é componente básico da prevenção da SM. A alimentação adequada deve: • permitir a manutenção do balanço energético e do peso saudável; • reduzir a ingestão de calorias sob a forma de gorduras, mudar o consumo de gorduras saturadas para gorduras insaturadas, reduzir o consumo de gorduras trans (hidrogenada); • aumentar a ingestão de frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais; reduzir a ingestão de açúcar livre; reduzir a ingestão de sal (sódio) sob todas as formas. A atividade física é determinante do gasto de calorias e fundamental para o balanço energético e controle do peso. A atividade física regular ou o exercício físico diminuem o risco relacionado a cada componente da SM e trazem benefícios substanciais também para outras doenças (câncer de cólon e câncer de mama). Baixo condicionamento cardiorrespiratório, pouca força muscular e sedentarismo aumentam a prevalência da SM em três a quatro vezes. O exercício físico reduz a pressão arterial, eleva o HDL-colesterol e melhora o controle glicêmico. Com duração mínima de 30 minutos, preferencialmente diário, incluindo exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular, o exercício físico previne a SM em uma relação dose-efeito apropriada para o grupo etário. A melhora de hábitos de vida deve Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.2 – ÚLTIMA GOTA! contemplar a redução do tempo de lazer passivo (televisão, jogos eletrônicos, atividades em computadores etc. O tabagismo deve ser agressivamente combatido e eliminado, pois eleva o risco cardiovascular. Programas educativos que abordem as medidas preventivas em escolas, clubes, empresas e comunidades podem contribuir para a prevenção da SM. 6. Compreender etiologia, epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico, diagnóstico diferencial e tratamento da gota.
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