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PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 143 ■ INTRODUÇÃO O diabetes melito (DM), um dos principais problemas de saúde pública no mundo, vem apresentando um crescimento alarmante. Em vista dessa crescente incidência, diferentes formas terapêuticas têm sido desenvolvidas com o objetivo de melhorar o controle metabólico e de minimizar as complicações crônicas. As medidas não farmacológicas são indicadas a todos os pacientes com DM; contudo, orientações sobre alimentação, atividade física regular, manutenção do peso saudável precisam ser sempre reforçadas a esses pacientes. A adesão ao plano alimentar é um dos maiores desafi os para os profi ssionais que trabalham com pacientes com diabetes. Para que os objetivos sejam alcançados, o plano alimentar deve ser equilibrado, individualizado de acordo com as particularidades de cada paciente – idade, sexo, situação funcional, atividade física, doenças associadas e situação socioeconômica. Os pacientes diabéticos devem ser monitorados e motivados a cumprir o estabelecido no plano alimentar. Nesse sentido, o trabalho em equipe é indispensável para alcançar os objetivos dietoterápicos propostos. ■ OBJETIVOS Após a leitura deste artigo, espera-se que o leitor seja capaz de: ■ revisar conceitos sobre classifi cação, diagnóstico e tratamento não farmacológico do diabetes; ■ identifi car os diferentes tipos de diabetes; ■ planejar uma dieta baseada nas recomendações nutricionais para indivíduos com diabetes; ■ estabelecer condutas para prevenção de situações nutricionais especiais e/ou para tratamento de pacientes nessas situações. NUTRIÇÃO EM DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS – DIABETES MELITO TATIANA PEDROSO DE PAULA THAIS STEEMBURGO 144 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO ■ ESQUEMA CONCEITUAL Diabetes melito tipo 1 Diabetes melito tipo 2 Diabetes melito gestacional Vias de acesso Componentes da nutrição parenteral Investigação do diabetes melito gestacional Recomendações nutricionais Recomendações de macro e micronutrientes Outros tipos de diabetes melito Indicações e contraindicações Indicações e contraindicações Rastreamento do diabetes melito tipo 2 Objetivos da terapia nutricional enteral e composição das fórmulas enterais Diabetes melito tipo 1 Diabetes melito tipo 2 Macronutrientes Micronutrientes Álcool Composição do plano alimentar Caso clínico Classifi cação e características Diagnóstico do diabetes melito Transtornos metabólicos Conduta nutricional Recomendações nutricionais para a dieta oral Nutrição enteral Nutrição parenteral Conclusão Conceito Epidemiologia PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 145 ■ CONCEITO O DM é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos.1 A insulina é o produto da secreção endócrina do pâncreas sintetizada pelas células betapancreáticas. Ela atua a nível hepático, muscular e adiposo. O DM é uma doença crônica heterogênea caracterizada por alterações no metabolismo dos carboidratos; mas, na maioria das vezes, o metabolismo dos lipídios e das proteínas também é afetado, levando à acidose e à cetose. Essa doença caracteriza-se por hiperglicemia crônica, frequentemente acompanhada de dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica e disfunção endotelial. Em longo prazo, essa glicemia persistente promove dano microvascular, neuropatia e dano macrovascular, com consequente aumento da morbidade e da mortalidade dos pacientes com diabetes.1 ■ EPIDEMIOLOGIA O DM é um importante problema de saúde pública. Sua incidência e prevalência vêm aumentando, alcançando proporções epidêmicas. Em 2000, a prevalência de DM no mundo correspondia a aproximadamente 2,8%, o que equivale a 171 milhões de pessoas. Estima-se que, no ano de 2030, essa doença vá acometer aproximadamente 366 milhões de pessoas, caso não sejam adotadas medidas preventivas. Cerca de dois terços dos indivíduos com DM vivem nos países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade, com crescente proporção de pessoas afetadas em grupos etários mais jovens.2 Dados do National Diabetes Fact Sheet 2011, do Center for Disease Control and Prevention, apontam que, nos Estados Unidos, o DM afeta 25,8 milhões de pessoas, o que corresponde a 8,3% da população americana. Desse número, estima-se que 18,8 milhões têm o diagnóstico da doença.3 O DM, em especial o tipo 2 (DM tipo 2), afeta cerca de 6% da população adulta mundial e é responsável por 3,8 milhões de mortes. Milhões de indivíduos anualmente são vítimas das complicações crônicas do DM no mundo todo.4 No Brasil, o DM atinge mais de 11 milhões de pessoas, com prevalência similar em ambos os sexos. Em vista da progressão alarmante do diabetes atualmente, diferentes formas terapêuticas têm sido desenvolvidas com o objetivo de aprimorar o controle metabólico e de minimizar as complicações advindas de um controle inadequado.5 Sabe-se que existem medidas disponíveis tanto para evitar o desenvolvimento do DM, quanto para prevenir a ocorrência das suas devastadoras complicações agudas e crônicas.6 146 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO ■ CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS A classifi cação do DM, representada no Quadro 1, baseia-se na etiologia, e não no tipo de tratamento. No momento, a classifi cação mais utilizada é a orientada pela Organização Mundial da Saúde7 (OMS) e pela American Diabetes Association6 (ADA), que não mais recomendam os termos “insulinodependente” e “não insulinodependente” para defi nir diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2. A classifi cação proposta pela OMS e pela ADA inclui quatro classes clínicas: ■ DM tipo 1; ■ DM tipo 2; ■ outros tipos específi cos de DM; ■ DM gestacional. Quadro 1 CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DO DIABETES MELITO Tipo Características e etiologia DM tipo 1 Caracteriza-se pela destruição das células betapancreáticas, gerando defi ciência absoluta de insulina. Níveis plasmáticos de insulina e peptídeo C são indetectáveis no diagnóstico. O DM tipo 1 pode ser subdividido em: ■ tipo 1A ou autoimune – é o processo autoimune que provoca a destruição das células betapancreáticas; forma detectada pela presença de marcadores de autoimunidade (autoanticorpos anti-insulina, GAD65 e antitirosinas fosfatais (IA2 e IA2B). ■ tipo LADA (sigla do inglês latent autoimmune diabetes in adults) – é o diabetes tipo 1A de início tardio, em que a dependência de insulina para a sobrevivência pode manifestar-se apenas anos após o diagnóstico do DM. ■ tipo 1B ou idiopático – caracteriza-se pela ausência de marcadores de autoimunidade contra as células beta e pela não associação com haplótipos do sistema antígeno leucocitário humano (HLA); é mais frequente em indivíduos não brancos. DM tipo 2 Caracteriza-se por defeitos na ação e na secreção da insulina. Pode variar de uma predominância de resistência à insulina com relativa defi ciência de insulina a um defeito predominantemente secretório, com ou sem resistência à ação da insulina. Outros tipos específi cos ■ Defeitos genéticos funcionais das células beta (MODY 1 a 6, DM mitocondrial, outros). ■ Defeitos genéticos na ação da insulina. ■ Doenças do pâncreas exócrino. ■ Endocrinopatias. ■ Induzidos por fármacos e agentes químicos. ■ Infecções. ■ Formas incomuns de DM autoimune. ■ Outras síndromes genéticas geralmente associadas ao diabetes. DM gestacional Caracteriza-se por hiperglicemia de gravidade variada com início ou primeiro reconhecimento durante uma gestação. Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Diabetes (2009).1 PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 147 Existem ainda duas categorias defi nidas como pré-diabetes: a glicemia de jejum alterada e a tolerância à glicose diminuída. Tais categorias não são consideradas classes clínicas, mas fatores derisco para o desenvolvimento do diabetes. DIABETES MELITO TIPO 1 O DM tipo 1, que corresponde a 5 - 10% dos casos,1 resulta da destruição das células betapancreáticas, pode ser autoimune, LADA e idiopático. Geralmente acomete crianças, adolescentes e adultos jovens.1 O perfi l metabólico de um paciente com DM tipo 1 é similar ao estado de jejum, em que há mais hormônios contrarreguladores de glicose e glucagon circulantes do que insulina. O glucagon e os hormônios contrarreguladores da glicose levam à degradação do glicogênio hepático (glicogenólise), à gliconeogênese hepática e ao uso de ácidos graxos livres e cetonas pelos tecidos adiposo e muscular na tentativa de fornecer energia ao corpo. Ocorre, também, a síntese de lipoproteína de muito baixa densidade, (VLDL, do inglês very-low-density lipoprotein) e ácidos graxos livres. Os adipócitos liberam muitos ácidos graxos livres, cetonas e produtos do metabolismo lipídico. Nos músculos, as reservas de glicogênio esgotam-se, e inicia-se a degradação das proteínas, mecanismo de manutenção da gliconeogênese. DIABETES MELITO TIPO 2 O DM tipo 2 é a forma mais frequente de DM, presente em 90 a 95% dos casos; caracteriza-se por defeitos na ação e na secreção da insulina. Em geral, ambos os defeitos estão presentes quando a hiperglicemia se manifesta; porém, pode haver predomínio de um deles. Pacientes com esse tipo de DM geralmente têm sobrepeso ou obesidade associados.6 A cetoacidose ocorre quando associada a outras condições, como infecções.1 Dois distúrbios, que ocorrem na fase de ligação da insulina ao seu receptor ou na fase pós-ligação, caracterizam o DM tipo 2: 1 ■ secreção inadequada de insulina – diminuição ou retardo na secreção de insulina em resposta ao estímulo glicêmico ou à produção de insulinas anormais; ■ resistência periférica à insulina – falha no reconhecimento do hormônio hipoglicemiante por parte dos receptores de insulina. Na prática clínica, a medida da resistência à insulina e da capacidade de secreção das células beta pode auxiliar a conduta terapêutica, que pode ser mais facilmente executada por meio de métodos indiretos, como: ■ dosagem da insulina de jejum (níveis elevados são considerados marcadores indiretos de resistência à ação da insulina); ■ método HOMA (do inglês, homeostasis model assessment) – avalia a resistência à insulina, bem como a capacidade de secreção de insulina pelas células betapancreáticas; ■ dosagem do peptídeo C – verifi ca a função das células betapancreáticas. 148 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO OUTROS TIPOS DE DIABETES MELITO Pertencem à classifi cação de outros tipos de DM formas menos comuns da doença, cujos defeitos ou processos desencadeantes podem ser identifi cados. Estão incluídos nessa categoria: ■ defeitos genéticos das células beta (DM MODY 1, MODY 2, MODY 3, MODY 4, MODY 5 e MODY 6, DM mitocondrial, entre outros); ■ defeitos genéticos na ação da insulina; ■ doenças do pâncreas exócrino; ■ endocrinopatias; ■ DM induzido por fármacos e agentes químicos; ■ DM por infecções; ■ algumas formas incomuns de DM autoimune; ■ outras síndromes genéticas geralmente associadas ao diabetes. DIABETES MELITO GESTACIONAL O DM gestacional ocorre em 1 a 14% de todas as gestações. No Brasil, com base nos critérios diagnósticos da OMS, a prevalência de DM gestacional é de 7,5%. Caracteriza-se pela intolerância à glicose, de magnitude variável, com início ou diagnóstico durante as gestações. Semelhante ao DM tipo 2, o DM gestacional associa-se tanto à resistência à insulina quanto à diminuição da função das células beta.1 A necessidade de controle adequado do DM gestacional impõe-se pela importância dos efeitos adversos do DM sobre a gestação, os quais se encontram descritos no Quadro 2. Quadro 2 COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETAIS NO DIABETES MELITO GESTACIONAL Complicações maternas Complicações fetais ■ Provável aparecimento de DM no futuro ■ Risco de recidiva de DM gestacional em gestações futuras ■ Infecção do trato urinário ■ Toxemia gravídica ■ Aborto espontâneo ■ Macrossomia ■ Malformação congênita ■ Óbito intrauterino Fonte: Adaptado de American Diabetes Association (2011)6 e Sociedade Brasileira de Diabetes (2009).1 PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 149 1. Analise as seguintes afi rmativas sobre o DM. I – É uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina. II – É possível afi rmar que a insulina é o produto da secreção endócrina do pâncreas sintetizado pelas células betapancreáticas, e atua a nível hepático. III – É uma doença crônica heterogênea caracterizada por alterações no metabolismo dos carboidratos; na maioria das vezes, porém, o metabolismo dos lipídios e das proteínas também é afetado. Está(ão) correta(s): A) Apenas I. B) Apenas II C) Apenas III. D) Todas afi rmativas. 2. A classifi cação do DM mais utilizada é a orientada pela OMS e pela ADA, em que são propostas as seguintes classes clínicas: A) DM tipo 1, DM tipo 2, outros tipos específi cos de DM e DM gestacional. B) DM tipo 1, DM tipo 2, DM tipo LADA e DM gestacional. C) DM tipos 1 A e B, DM tipo 2 e outros tipos específi cos de DM. D) DM tipo 1, DM tipo 2, DM tipo LADA, outros tipos específi cos de DM e DM gestacional. Respostas no fi nal do artigo 3. Com base na classifi cação do DM usada atualmente, cite alguns exemplos de outros tipos específi cos da doença. .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 150 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO 4. Em relação aos aspectos ligados ao DM, é INCORRETO afi rmar que A) o DM tipo 1 caracteriza-se pela destruição das células betapancreáticas, gerando a defi ciência absoluta de insulina. B) a ocorrência do DM tipo 1 idiopático está fortemente associada ao HLA. C) a insulina circulante endógena, no DM tipo 2, é sufi ciente para prevenir a cetoacidose, mas inadequada para evitar a hiperglicemia. D) o controle da glicemia em pacientes com DM adia ou evita o desenvolvimento de complicações micro e macrovasculares. 5. Sobre o DM tipo 1 é correto afi rmar que A) corresponde à maioria dos casos de DM. B) é sempre autoimune. C) acomete unicamente idosos. D) tem perfi l metabólico similar ao estado de jejum. Respostas no fi nal do artigo 6. Quais são os dois distúrbios que caracterizam o DM tipo 2? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 7. A necessidade de controle adequado do DM gestacional impõe-se pela importância dos efeitos adversos do DM sobre a gestação. Do ponto de vista materno, quais são esses efeitos? .......................................................................................................................................... .................................................................................................................................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 151 ■ DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELITO Os testes diagnósticos para detecção do DM são realizados quando o paciente apresenta algumas características que sugerem a presença da doença. Na manifestação do DM, a hiperglicemia pronunciada, associada à diminuição signifi cativa da secreção de insulina, pode permitir o reconhecimento clínico do DM com base em sinais e sintomas clínicos característicos, como:1,6 ■ polidipsia; ■ poliúria; ■ polifagia; ■ fadiga; ■ perda de peso rápida e inexplicada; ■ visão turva; ■ maior predisposição para infecções. Na presença de hiperglicemia persistente sem tratamento efetivo, pode ocorrer a cetoacidose diabética (principalmente no DM tipo 1) ou o estado hiperosmolar não cetótico (mais frequente no DM tipo 2), com evolução para coma ou morte. Em alguns casos, os sinais e os sintomas clínicos podem ser inexpressivos ou até mesmo ausentes nos pacientes com DM tipo 2. Nessa situação, é possível um atraso no diagnóstico, e é comum o achado de complicações crônicas (nefropatia, neuropatia diabética, doenças macrovasculares ou retinopatia diabética) no momento do diagnóstico da doença. A avaliação laboratorial deve ser feita após suspeita clínica do DM. Critérios aceitos para diagnóstico, como a glicemia de jejum, a medida da glicemia casual e o teste de tolerância à glicose (TTOG) foram utilizados por décadas para o diagnóstico do DM. Em 2009, membros da ADA, juntamente com membros do International Diabetes Federation (IDF) e da European Association for the Study of Diabetes (EASD), recomendaram o uso do teste da hemoglobina glicada (HbA1c) no diagnóstico do DM que, em 2010, passou a ser adotado pela ADA.6 A ocorrência de retinopatia nos indivíduos com HbA1c ≥ 6,5% em índices semelhantes aos encontrados nos critérios glicêmicos pré-estabelecidos justifi cou essa inclusão. Em termos de avaliação do controle DM, o uso da HbA1c como teste diagnóstico apresenta algumas vantagens, tais como maior conveniência, jejum desnecessário, menor variabilidade em situações de estresse e doença. Em contrapartida, apresenta menor sensibilidade em relação à glicemia de jejum, está menos disponível, e o custo é mais elevado. No Brasil, ainda não existe a padronização na medida da HbA1c; assim, são necessários avanços nesse sentido para que esse novo critério, recomendado pela ADA, seja efetivamente adotado.1 152 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO A avaliação da glicemia de jejum é um método simples e de baixo custo para a investigação do DM. O único inconveniente é que se faz necessário jejum de oito horas. Quando a dosagem da glicose plasmática de jejum estiver alterada, o exame deverá ser repetido em ocasião diferente para confi rmação do resultado.1 O TTOG pode ser indicado a pacientes assintomáticos que apresentem glicemia de jejum alterada e para os quais existam suspeitas clínicas. O diagnóstico do DM também pode ser feito por meio de glicemia ao acaso ≥ 200mg/dL nos pacientes com sintomas característicos de DM.1 Os métodos usados para diagnóstico da DM são: ■ medida da glicemia de jejum após jejum de oito horas na ausência de fatores que elevem a glicemia; ■ TTOG com 75g de glicose anidra, com medidas da glicemia em jejum e após 120 minutos da ingestão da solução; ■ medida da HbA1c. Os valores de glicose plasmática para o diagnóstico do DM e seus estágios pré-clínicos estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 VALORES DE GLICOSE PLASMÁTICA PARA O DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELITO E SEUS ESTÁGIOS PRÉ-CLÍNICOS Categoria Glicemia de jejum* (mg/dL) 2h após 75g glicose-TTOG** (mg/dL) Glicemia casual*** (mg/dL) HbA1c**** (mg/dL) Glicemia normal < 100 < 140 - - Tolerância à glicose diminuída ≥ 100 e < 126 > 140 e < 199 - - DM ≥ 126 ≥ 200 ≥ 200 com sintomas clássicos ≥ 6,5% * Após oito horas de jejum. ** Duas horas após a sobrecarga oral com 75g de glicose anidra. *** Glicemia casual: realizada em qualquer horário do dia independentemente de sua relação com a refeição. **** Teste diagnóstico deve ser feito por método certifi cado pelo Programa de Padronização Nacional da Hemoglobina Glicada (NGSP) em relação ao método usado pelo Diabetes Control and Complications Trial (DCCT). Fonte: Adaptada de American Diabetes Association (2011)6 e Sociedade Brasileira de Diabetes (2009).1 PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 153 RASTREAMENTO DO DIABETES MELITO TIPO 2 A investigação do DM tipo 2 está indicada para pacientes assintomáticos com sobrepeso ou obesidade (IMC ≥ 25 kg/m²), que apresentem um ou mais fatores de risco, como:6 ■ sedentarismo; ■ história familiar de DM; ■ hipertensão arterial (pressão arterial ≥ 140 x 90mmHg); ■ diagnóstico prévio de glicemia de jejum alterada ou intolerância à glicose; ■ história de macrossomia fetal ou DM gestacional; ■ dislipidemia (colesterol HDL < 40mg/dL e triglicerídeos ≥ 250mg/dL); ■ teste HbA1c ≥ 5,7%; ■ síndrome de ovários policísticos; ■ outras condições clínicas associadas com a resistência à insulina, como a acanthosis nigricans. Também fazem parte do grupo de risco pacientes com idade acima de 45 anos sem fatores de risco.6 A glicemia de jejum deve ser testada nesses pacientes e, caso os resultados sejam normais, os testes devem ser repetidos a cada três anos. Também devem ser realizados testes em pacientes que, independentemente da idade, apresentarem fatores de risco para o DM tipo 2 (repetindo-se a glicose de jejum mais frequentemente ou o TTOG).6 INVESTIGAÇÃO DO DIABETES MELITO GESTACIONAL A Sociedade Brasileira de Diabetes1 recomenda que a investigação do DM gestacional deve ser feita na primeira visita pré-natal por meio da glicemia de jejum. O critério diagnóstico da ADA6 para DM gestacional usa como pontos de corte níveis de glicose plasmática ≥ 92mg/dL, ≥ 180mg/dL e ≥ 153mg/dL, em jejum, uma e duas horas respectivamente: um valor alterado já é sufi ciente para confi rmar o diagnóstico.6 Segundo diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes, é considerado DM gestacional1 o caso em que a glicemia de jejum estiver acima de 110mg/dL em duas diferentes ocasiões, não sendo necessário outro procedimento. Se o valor de glicose plasmática estiver acima de 85mg/dL e for < 110mg/dL, deverá haver confi rmação diagnóstica com o TTOG, no qual a glicemia de jejum acima de 110mg/dL ou a glicemia pós-prandial acima de 140mg/dL indicam DM gestacional. 154 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO Visando ao melhor prognóstico do DM gestacional, foram estabelecidas metas a serem alcançadas durante o tratamento conforme exposto na Tabela 2 (segundo a ADA 2011/2012).1,6 Tabela 2 METAS A SEREM ATINGIDAS NO TRATAMENTO DO DIABETES MELITO Parâmetros Objetivos* Glicemia de jejum 70 - 130mg/dL Glicemia pós-prandial (2h) < 180mg/dL Hemoglobina glicada (HPLC) < 7% Colesterol total < 200mg/dL Triglicerídeos < 150mg/dL Colesterol HDL – homens > 40mg/dL Colesterol HDL – mulheres > 50mg/dL Colesterol LDL < 100mg/dL Pressão arterial < 130 x 80mmHg < 125 x 75mmHg (se macroalbuminúria ou aumento de creatinina) Índice de massa Corporal (IMC) 20 - 25 kg/m² * As metas devem ser individualizadas com base nos seguintes fatores: duração do DM, idade/expectativa de vida, comor- bidades associadas, doença cardiovascular pré-existente, complicações microvasculares, hipoglicemia, com base nas características individuais dos pacientes e respostas à terapia. Fonte: Adaptada de American Diabetes Association (2011),6 Sociedade Brasileira de Diabetes (2009)1 e Buse e colaboradores(2007).8 ■ TRANSTORNOS METABÓLICOS Os transtornos metabólicos mais comuns relacionados ao DM incluem: ■ hipoglicemia; ■ cetoacidose diabética. A hipoglicemia (glicose plasmática < 70mg/dL) resulta de erro no tratamento, envolvendo, na maioria das vezes, a insulinoterapia, e menos frequentemente as sulfonilureias. As manifestações clínicas da hipoglicemia são causadas pela liberação de adrenalina (manifestações neurogênicas) e por manifestações do sistema nervoso central (manifestações neuroglicopênicas). Os sintomas adrenérgicos, como sudorese, taquicardia, tremor, palidez e sensação de mal-estar, ocorrem primeiramente, antes de a hipoglicemia tornar-se profunda. É o momento em que o paciente pode socorrer-se, ingerindo uma fonte de açúcar, seguida pela realização de uma refeição (uma das três principais ou complementar). As manifestações do sistema nervoso central, que incluem mudanças de personalidade ou de comportamento, confusão, obnubilação, convulsões e coma, desenvolvem-se depois de a glicemia arterial ter atingido valores muito baixos, tornando-se incapaz de fornecer a energia necessária para as atividades cerebrais. PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 155 Na fase em que a glicemia atinge valores muito baixos, o paciente necessita do auxílio de outra pessoa e frequentemente de assistência médica, correndo risco de lesão cerebral defi nitiva ou até de morte.9 Se o paciente apresentar alguns dos sinais e sintomas descritos e estiver consciente, a primeira medida é ingerir algum alimento que contenha 15g de carboidrato e medir a glicemia em 15 minutos. Se a glicemia estiver < 70mg/dL, o paciente deve ingerir nova porção contendo 15g de carboidrato. Se não estiver consciente, não administrar nada por via oral: usar glucagon ou uma solução hipertônica de glicose a 50% (duas a cinco ampolas extravenosas [EV]). Após o paciente voltar à consciência, oferecer alimentos, monitorar a glicemia a cada 30 minutos, até que atinja o valor >100mg/dL.6 A cetoacidose diabética é considerada uma disfunção metabólica grave, causada pela defi ciência relativa ou absoluta de insulina, associada ou não a uma maior atividade dos hormônios contrarreguladores (cortisol, catecolaminas, glucagon, hormônio do crescimento).9 Quando a glicose não consegue ser utilizada como fonte de energia, o corpo busca, por meio do metabolismo de proteínas e de lipídios, disponibilizar energia, formando substâncias chamadas corpos cetônicos. A partir do momento em que o metabolismo de proteínas e de lipídios é intenso e a formação de corpos cetônicos também, fi ca caracterizada a cetoacidose diabética. A cetoacidose pode ser descrita clinicamente por desidratação e respiração acidótica. Laboratorialmente, caracteriza-se por hiperglicemia, acidose metabólica, cetonemia e cetonúria. 8. Não é um sinal/sintoma do DM: A) Fadiga. B) Polifagia. C) Diarreia. D) Poliúria. Resposta no fi nal do artigo 9. O que pode ocorrer em casos de hiperglicemia persistente sem tratamento efetivo? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 156 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO 10. Analise as afi rmativas sobre o diagnóstico de DM. I – Algumas vezes, os sinais e sintomas podem ser inexpressivos ou até mesmo ausentes nos pacientes com DM tipo 2. II – Desde 2009, o TTOG é mais recomendado para o diagnóstico do DM. III – A avaliação da glicemia de jejum é um método simples e de baixo custo para a investigação do DM. O único inconveniente é que se faz necessário jejum de quatro horas. Está(ão) correta(s): A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas III. D) Todas afi rmativas. 11. Sobre os fatores de risco para o desenvolvimento do DM tipo 2, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Hipertensão arterial. ( ) Sedentarismo. ( ) Obesidade. ( ) Estado hiperosmolar não cetótico. 12. Correlacione as colunas com algumas das metas a serem atingidas com o tratamento do DM. (1) Glicemia pós-prandial (2h) (2) Colesterol total (3) Triglicerídeos (4) Colesterol LDL ( ) < 150mg/dL ( ) < 100mg/dL ( ) < 180mg/dL ( ) < 200mg/dL Respostas no fi nal do artigo 13. Caracterize os transtornos metabólicos mais comuns relacionados ao DM. .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 157 ■ CONDUTA NUTRICIONAL A terapia nutricional é ponto fundamental do plano terapêutico do diabetes. O objetivo é auxiliar o paciente a fazer mudanças em seus hábitos alimentares, permitindo um controle metabólico adequado, a fi m de atuar tanto na prevenção como no manejo da doença já existente. A conduta nutricional deve:6,10 ■ contribuir para a normalização da glicemia; ■ diminuir os fatores de risco cardiovascular; ■ fornecer as calorias sufi cientes para manutenção de um peso saudável; ■ prevenir as complicações agudas e crônicas; ■ promover a saúde geral do paciente. Para atender aos objetivos propostos, a dieta deve ser equilibrada, como qualquer dieta de uma pessoa não diabética, respeitando as particularidades de cada paciente no que diz respeito a sexo, idade, situação funcional, rotina de atividade física, doenças associadas e situação socioeconômica. O estabelecimento da terapia nutricional em pacientes com DM exige avaliação nutricional detalhada, incluindo história dietética clínica, anamnese alimentar, antropometria (estatura, peso e circunferências) e análise bioquímica. Avaliações da gordura corporal (dobras cutâneas, bioimpedância e calorimetria) e cálculos da atividade física podem contribuir para a avaliação nutricional. O Quadro 3 descreve os objetivos gerais e específi cos da terapia nutricional para pacientes com DM. Quadro 3 OBJETIVOS DA TERAPIA NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DIABETES MELITO ■ Atingir e manter normoglicemia. ■ Atingir e manter níveis normais de lipídios séricos e pressão arterial. ■ Prevenir e tratar hipoglicemias. ■ Obter e/ou manter o peso corporal saudável. ■ Garantir demandas metabólicas de gestação, amamentação e situações de convalescença. ■ Prevenir complicações agudas (cetoacidose diabética e estado hiperglicêmico hiperosmolar não cetótico). ■ Prevenir ou reduzir a progressão de complicações crônicas (nefropatia, neuropatia e retinopatia diabética). ■ Garantir crescimento de crianças e adolescentes. ■ Orientar adequadamente a prática de atividade física. ■ Atender às necessidades individualizadas de acordo com idade, sexo, estado fi siológico, estado metabólico, hábitos socioculturais, situação econômica, disponibilidade de alimentos, etc. ■ Fornecer valor calórico total (VCT) compatível com a obtenção e/ou manutenção do peso corpóreo desejável. ■ Ser nutricionalmente adequada visando à qualidade de vida do paciente. Fonte: Adaptado de American Diabetes Association (2011)6 e Sociedade Brasileira de Diabetes (2009).1 158 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS– D IAB ET ES M EL ITO RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS Apesar de a adesão aos princípios do plano alimentar ser um dos aspectos de maior desafi o no tratamento do DM, a terapia nutricional é um componente essencial para controle glicêmico. Assim, a educação alimentar é um dos aspectos mais importantes no tratamento do DM, pois auxilia no controle metabólico dos pacientes. As antigas dietas com distribuição padronizada de macronutrientes foram substituídas por planos alimentares individualizados,10 com o estabelecimento de objetivos terapêuticos específi cos, levando-se em consideração aspectos nutricionais, médicos e psicossociais.6 No Quadro 4, estão descritas algumas recomendações nutricionais em situações especiais. Quadro 4 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS Grupo/Situação Recomendação Crianças e adolescentes Planos alimentares individualizados e fl exíveis de acordo com o regime de insulinoterapia, horário das refeições, atividade física e variação do apetite. Gestantes e nutrizes As necessidades são similares às das gestantes sem DM. O plano alimentar deve garantir adequado ganho de peso, normoglicemia e ausência de corpos cetônicos. Idosos As necessidades energéticas são menores nesse grupo. Como na idade avançada a desnutrição é mais comum do que o ganho de peso, deve ser dada uma especial atenção quando forem prescritas dietas para perda de peso. Hipertensão arterial A perda de 5% do peso corporal afeta de forma benéfi ca a pressão arterial. Recomenda-se redução da ingestão de sódio para 2,4g/dia ou até 6g/ dia de cloreto de sódio; a adoção de um padrão alimentar tipo DASH, rico em frutas, vegetais, integrais, laticínios com baixo teor de gordura; moderação no consumo de álcool. Dislipidemia Deve-se diminuir a ingestão de ácidos graxos saturados (< 7% do VCT) e ácidos graxos trans. Recomendam-se perda de peso, melhora do controle glicêmico, aumento da atividade física e incorporação de ácidos graxos monoinsaturados na dieta. Nefropatia diabética Ingestão proteica entre 0,8 a 1g/kg de peso atual/dia para postergação do avanço da doença. Considerar as recomendações de eletrólitos, minerais, vitaminas e líquidos. Doenças catabólicas Fornecimento de 25 a 30kcal/kg de peso atual. Necessidades de proteína em torno de 1,0 a 1,5g/kg/dia. Hipoglicemias Deve-se orientar a ingestão de alimentos contendo açúcar ou outro carboidrato simples (≈15g de carboidrato). Exemplo: 150mL de suco de laranja ou refrigerante normal, 1 colher de sopa de mel, 3 a 4 balas moles. Continua PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 159 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS Grupo/Situação Recomendação Atividade física leve (exercício físico de curta duração e baixa intensidade) Ajuste de carboidratos para atividade física conforme os níveis de glicemia (mg/dL): ■ < 100 : 10 – 15g de carboidrato antes do exercício ■ > 100 : sem adição de carboidratos Atividade física moderada (30 a 60 minutos de exercício) Ajuste de carboidratos para atividade física conforme os níveis de glicemia (mg/dL): ■ < 100 : 25 – 50g carboidrato antes do exercício ■ 100 – 180 : 10 – 15g de carboidrato/hora At iv idade f ís ica in tensa (1 a 2 horas de exercício físico) Ajuste de carboidratos para atividade física conforme os níveis de glicemia (mg/dL): ■ < 100 : 50g carboidrato a cada 3 horas ■ 100 – 180 : 25 – 50g carboidrato a cada 2 horas ■ 180 – 250 : 10 – 15g de carboidrato/hora Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Diabetes (2009),1 American Diabetes Association (2011),6 American Diabetes Association e colaboradores (2008)10 e Chobanian e colaboradores (2003).11 Diabetes melito tipo 1 No DM tipo 1, a intervenção nutricional aponta a importância de se associarem insulina, dieta e atividade física, reforçando o ajuste da insulinização ao plano alimentar individualizado para melhor controle metabólico. Recomenda-se aos pacientes que fazem uso de insulina realizarem suas refeições em horários pré-defi nidos, mantendo consistência e sincronia com o tipo de insulina, bem como com seu tempo de ação. Ajustes nas doses de insulina, à quantidade de alimentos ingeridos, podem ser feitos com a monitorização da glicemia e com a contagem de carboidratos. Diabetes melito tipo 2 Para pacientes com DM tipo 2, o plano alimentar tem como objetivo principal a manutenção dos níveis normais de glicose, lipídios séricos, pressão arterial e a redução de peso. Dietas hipocalóricas geralmente melhoram o controle metabólico em longo prazo.6 Entretanto, dietas com VCT muito baixo têm mostrado poucos resultados na manutenção da perda de peso. Recomenda-se perda de peso moderada (5% a menos do peso usual) para redução da hiperglicemia, da dislipidemia e da pressão arterial. Esse objetivo pode ser alcançado com uma restrição energética moderada em torno de 250 a 500kcal/dia a menos que a dieta usual.6,10 O plano alimentar deve ser nutricionalmente balanceado com reduções de gorduras totais, saturadas e trans, além de acompanhado do aumento de atividade física.6 Continuação 160 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO 14. Sobre a conduta nutricional relacionada ao DM é correto afi rmar que A) é parte fundamental do plano terapêutico do diabetes, atuando principalmente na prevenção da doença. B) seu objetivo geral é auxiliar o indivíduo com DM a fazer mudanças em seus hábitos alimentares. C) não objetiva a redução dos fatores de risco cardiovasculares. D) para o estabelecimento da terapia nutricional em pacientes com DM, é necessário apenas anamnese alimentar e análise bioquímica. 15. Em relação às recomendações nutricionais em situações especiais é INCORRETO afi rmar que A) pacientes hipertensos se benefi ciam da diminuição da ingestão de sódio, associada à diminuição do peso corporal e à adoção de um padrão alimentar tipo DASH, rico em frutas, vegetais, integrais e laticínios com baixo teor de gordura similares. B) gestantes e nutrizes deverão ter o VCT e as necessidades nutricionais similares às das gestantes sem DM. O plano alimentar deve garantir adequado ganho de peso e normoglicemia. C) pacientes conscientes com hipoglicemia deverão ingerir 20g de glicose para restabelecimento dos níveis normais de glicose sérica. D) em caso de pacientes hipertensos, a moderação do consumo de álcool é benéfi ca na redução da pressão arterial. 16. Analise a seguinte recomendação nutricional: As necessidades energéticas são menores nesse grupo. A desnutrição é mais comum do que o ganho de peso, e deve-se estar atento à prescrição de dietas para perda de peso. Assinale a alternativa correta em relação ao grupo a que se refere a recomendação citada. A) Crianças. B) Adolescentes. C) Jovens adultos. D) Idosos. Respostas no fi nal do artigo PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 161 17. Qual é a conduta nutricional adequada para um indivíduo com nível de glicemia < 100 mg/dL, que realiza atividade física moderada? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 18. Em pacientes com DM tipo 2, o plano alimentar NÃO tem como objetivo principal a A) manutenção da hiperglicemia. B) manutenção dos níveis normais de lipídios séricos e pressão arterial. C) redução de peso. D) manutenção dos níveis normais de glicose. Resposta no fi nal do artigo ■ RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA A DIETA ORAL A seguir, serão expostas algumas considerações acercadas recomendações nutricionais ligadas aos macro e micronutrientes e, também, relacionadas ao consumo de álcool. RECOMENDAÇÕES DE MACRO E MICRONUTRIENTES As necessidades diárias dos pacientes com DM não diferem das pessoas com alimentação saudável. O VCT deve ser compatível com a obtenção e/ou a manutenção do peso corporal desejável.1 Para se atingir esse objetivo, o planejamento das calorias deve ser realizado de acordo com as necessidades individuais do paciente, levando-se em conta a avaliação nutricional com dados de idade, sexo, peso, estatura, rotina alimentar e prática de atividade física. Em pacientes obesos, podem ser reduzidas 500 calorias do gasto energético total diário. Essa pequena modifi cação pode promover uma perda benéfi ca de peso (≈ 5% do peso corporal usual), diminuindo a resistência à insulina, melhorando a glicemia e lipemia, e reduzindo a pressão arterial.6,10 162 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO Macronutrientes Em 2008, a ADA propôs uma revisão completa acerca das evidências a respeito da nutrição na prevenção, no manejo do DM e de suas complicações.10 Nessa revisão, não há uma defi nição concreta a respeito da distribuição de macronutrientes no plano alimentar. Assim, as recomendações para indivíduos com DM assemelham-se às de uma dieta saudável para indivíduos sem a doença. A dieta indicada para pacientes com DM deve incluir 45 a 60% de carboidratos ou até 130g/dia; até 30% de gorduras e 15 a 20% de proteínas. Os carboidratos devem ser preferencialmente complexos e ingeridos em cinco a seis porções por dia. As gorduras devem incluir no máximo 7% de gorduras saturadas, o que signifi ca que se devem evitar carnes gordas, embutidos, frituras, laticínios integrais, molhos e cremes ricos em gorduras e alimentos refogados ou temperados com excesso de óleo. As proteínas devem corresponder a 0,8 - 1,0g/kg de peso por dia, o que corresponde em geral a duas porções de carne ao dia. Além disso, a alimentação deve ser rica em fi bras, vitaminas e sais minerais, o que é obtido pelo consumo de duas a quatro porções de frutas, três a cinco porções de hortaliças. Deve-se dar preferência a alimentos vegetais integrais. Proteínas As necessidades proteicas variam conforme as fases da vida, e a oferta deve ser sufi ciente para atender às demandas nutricionais.1 Para indivíduos com função renal normal, não existem evidências sufi cientes sugerindo que a recomendação de ingestão usual de proteína (15 a 20% das necessidades diárias de energia) deva ser modifi cada.6 A ingestão dietética recomendada (RDA, do inglês recommended dietary allowance) é de 0,8g/kg a 1g/kg de peso de proteína de alto valor biológico para indivíduos com DM nos estágios iniciais da doença renal crônica. Atualmente, a ADA preconiza a restrição moderada (0,8g/kg de proteína/dia) com o objetivo de melhorar as medidas de excreção urinária de albumina e taxa de fi ltração glomerular, além de retardar o avanço da doença renal crônica.6,9 Na gestação, adolescência e em condições de catabolismo, há necessidade de aumento do aporte proteico. Deve-se acrescentar à dieta usual cerca de 10g/dia de proteína de alto valor biológico.9 Gorduras Como as proteínas da dieta contribuem com 10 - 20% das necessidades diárias de energia, restam 80 - 90% de energia para ser distribuída entre gorduras e carboidratos. Entretanto, o tipo de gordura a ser ingerido pelo paciente com DM é muito importante. O principal objetivo em relação ao consumo de gorduras por pacientes com DM é limitar a ingestão de ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans e colesterol, de modo a reduzir o risco para doenças cardiovasculares.8 PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 163 Gorduras saturadas e ácidos graxos trans são os principais determinantes da dieta de altos níveis de colesterol LDL. Em indivíduos não diabéticos, a redução da ingestão de gordura saturada, de ácidos graxos trans e colesterol da dieta diminui os valores séricos de colesterol total e LDL colesterol. Entretanto, a redução dos ácidos graxos saturados também pode reduzir o colesterol HDL. Poucos estudos demonstram os efeitos dos ácidos graxos saturados, trans e colesterol no perfi l lipídico em pacientes com DM. Por essa razão, as metas de consumo de gorduras para pacientes com DM são as mesmas para indivíduos com doença cardiovascular, já que ambos os grupos parecem ter risco cardiovascular equivalente. As quantidades de gordura recomendadas são até 30% do VCT para as gorduras totais, ≤ 7% do VCT para ácidos graxos saturados, ≤ 10% do VCT para ácidos graxos poli- insaturados, ≤ 200mg/dia de colesterol e ingestão mínima de ácidos graxos trans.6,10 Em estudos metabólicos nos quais o peso e a ingestão de energia foram variáveis constantes, as dietas com baixo teor de ácidos graxos saturados e ricas em carboidratos ou ácidos graxos cis- monoinsaturados reduziram o LDL colesterol. Dietas com 55% do VCT também promoveram um aumento na glicose pós-prandial, na insulina e nos triglicerídeos, quando comparadas às dietas com alto teor de gordura monoinsaturada. No entanto, dietas ricas em gordura monoinsaturadas não demonstraram melhora na glicose plasmática de jejum ou na Hb1Ac. Carboidratos O principal objetivo do manejo do DM é controlar os valores de glicose sérica. Por esse motivo, é essencial o cuidado da quantidade e do tipo de carboidrato em um plano alimentar, pois esse macronutriente tem papel importante na adequação dos níveis de glicose pós-prandial. Segundo a ADA,6,10 as recomendações de ingestão de carboidratos são baseadas no fornecimento adequado de glicose ao indivíduo sem ocorrência de hiperglicemia. A quantidade de carboidratos vai ser determinada pelo tipo de DM, pela glicemia e pela lipemia. Se houver necessidade de redução e/ou manutenção de peso, a quantidade de carboidratos também deve ser considerada. A quantidade de carboidrato ingerido é usualmente um determinante para a resposta pós-prandial, mas o tipo de carboidrato também reforça essa resposta na glicemia. Variáveis intrínsecas e extrínsecas do carboidrato podem infl uenciar a resposta glicêmica. Ainda há controvérsias quanto às recomendações de carboidratos. A SBD1 recomenda uma quantidade de 45 a 60% do VCT. Já a ADA6 sugere que os planos alimentares contenham em torno de 130g/dia de carboidratos, priorizando o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. Planos alimentares com menos de 130g/dia de carboidratos não são indicados, uma vez que não previnem a cetose. 164 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO Sacarose Evidências científi cas demonstram que o uso da sacarose (até 10% do VCT) como integrante do total de carboidratos da dieta não causa aumento da glicemia em indivíduos com DM, podendo ser adicionado à dieta de pacientes com controle glicêmico.6 Apesar do uso da sacarose não estar restrito a pacientes com DM, recomenda-se cautela ao consumi-la para evitar excesso de ingestão de calorias. Caso a sacarose e os alimentos que a contêm sejam adicionados ao plano alimentar, outro carboidrato deve ser substituído, ou ela deve ser devidamente coberta com dose de insulina ideal.6 Frutose A frutose, apesar de possuir índice glicêmico cinco vezes menor do que a glicose, apresenta o mesmo valor calórico da sacarose. Estudos demonstram que a frutose dietética produz uma baixa resposta na glicose pós-prandial em vez de quantidades isocalóricas de sacarose ou amido;10 no entanto, o uso da frutose na dieta pode afetar os lipídios plasmáticos (colesterol total, triglicerídeos e LDL colesterol).10 Não se recomenda o uso da frutose como um agente adoçante na dieta do paciente com DM. A ingestão de alimentos que contêm naturalmente frutose (frutas e verduras) é recomendada, pois o teor de frutose dessas fontes costuma representar de 3 a 4% do consumo total deenergia. Edulcorantes Em relação aos edulcorantes, citam-se os adoçantes nutritivos e os não nutritivos. A Portaria nº 234 da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, de 7 de fevereiro de 1992,12 regula o uso de adoçantes dietéticos. No seu consumo, devem ser tomadas certas precauções, como observar o limite de ingestão diária aceitável (IDA) e considerar as vantagens e desvantagens no uso de cada um. Os adoçantes são classifi cados em nutritivos e não nutritivos. Adoçantes nutritivos Os adoçantes nutritivos incluem xarope de milho, mel, melaço, dextrose e maltose. Não está claro que alimentos adoçados com essas substâncias edulcorantes tenham qualquer vantagem ou desvantagem signifi cantes em relação aos alimentos preparados com sacarose na redução total energética ou conteúdo de carboidratos da dieta. O Food and Drug Admnistration (FDA) aprovou os polióis (erythritol, isomalt, lactitol, maltitol, manitol, sorbitol, tagatose e amido hidrolisado) como agentes adoçantes com redução de calorias. No Brasil, os adoçantes aprovados são sorbitol, manitol e xilitol. Esses polióis produzem resposta glicêmica inferior à sacarose e a outros carboidratos. Porém, apesar da média de calorias dos açúcares de álcoois ser de 2kcal/g, há restrições de uso, pois quantidades excessivas podem ter efeito laxativo. A quantidade total de energia e de carboidratos, de todos os adoçantes, precisa ser contabilizada no plano alimentar e tem o potencial de afetar a glicose plasmática. PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 165 Adoçantes não nutritivos O uso moderado de adoçantes não nutritivos, como o ciclamato, a sucralose, a sacarina, o aspartame, o acesulfame e a stévia, foi considerado seguro pelo FDA desde que respeitadas as recomendações de um nível adequado de ingestão. O uso de adoçantes não nutritivos foi aprovado para indivíduos com DM, crianças e gestantes. Esses adoçantes são em média de 200 a 300 vezes mais doces que a sacarose.9 Os alimentos dietéticos (que podem conter adoçantes nutritivos e não nutritivos na sua composição) podem ser recomendados, mas é preciso fi car atento sobre seu conteúdo calórico. Alimentos diet são isentos de sacarose, quando destinados a indivíduos diabéticos, mas podem ter valor calórico elevado, por seu teor de gorduras ou de outros componentes. Alimentos light são de valor calórico reduzido em relação aos alimentos convencionais. Os refrigerantes e as gelatinas dietéticas têm valor calórico próximo de zero e podem ser consumidos por pacientes com DM. Por outro lado, chocolates, sorvetes, alimentos com glúten (pão, macarrão, biscoitos), mesmo quando diet, são calóricos, motivo pelo qual seu uso não deve ser encorajado. Contagem de carboidratos A contagem de carboidratos tem como objetivo otimizar o controle glicêmico, permitindo menores variações das glicemias pós-prandiais, com maior fl exibilidade alimentar. Pode ser útil para pacientes com DM tipo 1 em tratamento convencional ou intensivo, e para pacientes com DM tipo 2 em uso de insulina, drogas orais ou apenas tratamento dietético. Na prática, a contagem de carboidratos é mais utilizada em pacientes em insulinoterapia intensiva. A contagem de carboidratos deve ser inserida no contexto de uma alimentação saudável, respeitando necessidades nutricionais, hábitos alimentares, estado fi siológico, atividade física, medicação e situação socioeconômica do paciente. Nesse método, é essencial considerar o total de carboidratos consumidos por refeição. A distribuição deverá obedecer às necessidades diárias de carboidrato associadas à anamnese do indivíduo, em que se identifi ca o consumo real por refeição. Após defi nidas as necessidades nutricionais, calcula-se a quantidade de carboidratos em gramas ou por número de substituições por refeição, considerando que uma unidade de insulina cobre 15g de carboidratos. Índice Glicêmico O índice glicêmico (IG) traduz uma medida de impacto relativo provocado pelo carboidrato presente nos alimentos nas concentrações de glicose plasmática.13,14 Ele representa a qualidade de uma quantidade fi xa de carboidrato disponível de um determinado alimento, em relação a um alimento- controle, que normalmente é o pão branco ou a glicose; assim, os carboidratos são classifi cados baseados em seu potencial de aumentar a glicose sanguínea. 166 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO As respostas glicêmicas dependem de uma variedade de fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos. Fatores como o tipo de amido, a estrutura do açúcar, o teor de fi bras, o grau de acidez, a forma física do alimento e a forma de processamento podem reduzir ou aumentar o IG de um carboidrato. Evidências recentes atribuem às dietas de baixo IG a melhora em desfechos clínicos, como a redução do risco de desenvolvimento de DM e melhora do controle metabólico do DM tipo 2.6 Fibra Alimentar As fi bras da dieta podem ser classifi cadas, de acordo com a sua solubilidade em água, em: ■ solúveis; ■ insolúveis. Pectinas, gomas, mucilagens e algumas hemiceluloses são exemplos de fi bras solúveis, cujas principais fontes são as frutas, verduras, leguminosas, aveia e cevada. As fi bras solúveis retardam o esvaziamento gástrico e a absorção de glicose, reduzindo a glicemia pós-prandial, o colesterol total e o LDL em pacientes com e sem DM. As fi bras insolúveis agem sobre o trato gastrintestinal, reduzindo o tempo de trânsito e aumentando o bolo fecal. Essas fi bras exercem pouco ou nenhum efeito sobre o controle glicêmico ou o lipídico; entretanto, podem contribuir para a redução de peso ou da circunferência abdominal, uma vez que induzem a maior saciedade. As fi bras insolúveis são encontradas nos grãos integrais e nas hortaliças. Evidências demonstram que as fi bras da dieta contribuem tanto para a prevenção quanto para o tratamento do DM. Estudos epidemiológicos apontam que a ingestão de fi bras insolúveis (ligninas, celulose e hemicelulose) tem um papel protetor na prevenção do DM tipo 2.15,16 Por outro lado, em estudos pós-prandiais,6 as fi bras solúveis promoveram efeitos favoráveis no metabolismo da glicose e da insulina, além de ação benéfi ca anti-hiperlipidêmica. Há diferentes recomendações em relação a quantidades de ingestão de fi bras. A ADA17 sugere o consumo diário de 14g de fi bras por 1.000kcal, ou 25g para mulheres e 38g para homens adultos. A OMS7 recomenda um consumo mínimo de 20g/dia de fi bras. A ADA6,9 sugere aumentar a ingestão de fi bras para no mínimo 14g a cada 1.000kcal consumida; na presença de dislipidemia, a recomendação de ingestão é de 10 - 25g/dia de fi bras solúveis. PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 167 Micronutrientes As necessidades de micronutrientes (vitaminas e minerais) para pacientes com DM são as mesmas estabelecidas na ingestão diária recomendada (IDR) para a população em geral. Estudos com potássio, cromo, vitamina E, vitamina C e sódio têm sido realizados a fi m de investigar a ação desses micronutrientes no controle metabólico ou na pressão arterial. Ainda não estão bem estabelecidos os principais efeitos da ingestão de micronutrientes sobre o controle glicêmico ou a pressão arterial de pacientes com DM. As diretrizes vigentes6,11 preconizam a diminuição do consumo de sódio e o aumento do consumo de alimentos ricos em potássio para a prevenção e o tratamento da hipertensão arterial. As recomendações de sódio são as mesmas para a população em geral: 2,4g/dia, o equivalente a 6g de cloreto de sódio (sal de cozinha). Alimentos como frutas e vegetais são fontes de potássio, considerados protetores diante de perdas hidroeletrolíticas. Álcool O efeito do álcool sobre a glicemia depende não só da quantidade ingerida, como também da relação com a ingestão de alimentos. Por inibir a gliconeogênese, o álcool não é metabolizado à glicose; pode, assim, causar hipoglicemia, se foringerido sem alimentos. O uso habitual do etanol agrava os níveis de triglicerídeos séricos, predispõe à esteatose hepática, favorece a cetogênese, além de interferir no padrão alimentar usual. Para pacientes com DM, o consumo de álcool é permitido em doses moderadas, visto que, quando ingerido com comida, tem efeitos mínimos sobre as concentrações de glicose e insulina plasmáticas. No entanto, recomenda-se cautela no uso do álcool, da mesma maneira que são feitas recomendações para a população em geral. Pessoas com histórico de abuso de álcool ou dependência, mulheres grávidas e pessoas com doença hepática, pancreatite, neuropatia ou hipertrigliceridemia grave devem se abster do seu consumo. A ingestão de álcool recomendada pela ADA6,9 aos indivíduos com DM é de uma dose, por dia, para mulheres e duas doses, por dia, para homens adultos (uma dose corresponde a 350mL de cerveja ou 140mL de vinho ou 42 mL de bebida destilada). Para os indivíduos que usam insulina, a ingestão de álcool deve ser feita com alimentos, a fi m de se evitarem hipoglicemias. Também o consumo à noite de álcool pode aumentar o risco de hipoglicemia noturna ou de jejum, especialmente em indivíduos com DM tipo 1. Em indivíduos com DM, o consumo moderado de álcool (1 a 2 doses por dia; 15 – 30g de álcool) foi associado a uma diminuição do risco de doença cardiovascular.6,8 O uso ocasional de bebidas alcoólicas deve ser considerado um complemento ao plano alimentar, e nenhum alimento deve ser omitido. 168 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO Composição do plano alimentar A composição do plano alimentar para o paciente com DM está descrita na Tabela 3. Tabela 3 COMPOSIÇÃO DO PLANO ALIMENTAR Grupo VCT de acordo com as necessidades individuais Carboidratos ■ Sacarose ■ Fibras 45 a 60% do VCT ou até 130 g/dia ■ Até 10% do VCT mínimo de 20g/dia ou 14g/1000kcal Gorduras totais ■ Ácidos graxos saturados ■ Ácidos graxos poli-insaturados ■ Ácidos graxos monoinsaturados ■ Ácidos graxos trans Até 30% do VCT ■ ≤ 7% do VCT ■ ≤ 10% do VCT ■ De acordo com as necessidades individuais ■ Mínima ingestão possível Colesterol ≤ 200 mg/dia Proteína 15 - 20% do VCT Sódio Até 2,4g/dia ou 6g/dia de cloreto de sódio Álcool Máximo: 1 dose*/dia mulheres e 2 doses/dia para homens * 1 dose = 140mL de vinho ou 350mL de cerveja, ou 42mL de bebida destilada Fonte: American Diabetes Association (2011),6 American Diabetes Association (2008),10 e Chobanian e colaboradores (2003).11 19. Sobre a recomendação de macro e micronutrientes para uma dieta saudável, é correto afi rmar que A) a dieta deve incluir 15 - 20% de carboidratos, até 30% de gorduras e 45 - 60% de proteínas. B) os carboidratos devem ser preferencialmente complexos e ingeridos em até duas porções por dia. C) as proteínas devem corresponder a 0,8 a 1,0g/kg de peso por dia, o que equivale, em geral, a duas porções de carne ao dia. D) as gorduras devem incluir no máximo 7% de gorduras trans, o que signifi ca que devem ser evitadas carnes gordas, bolos e biscoitos. Resposta no fi nal do artigo PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 169 20. Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna a seguir: A RDA recomendada é de ............. de peso de proteína de alto valor biológico para indivíduos com DM nos estágios iniciais da doença renal crônica. A) 0,4g/kg a 0,6g/kg B) 0,6g/kg a 0,8g/kg C) 0,8g/kg a 1g/kg. D) 1g/kg a 1,2g/kg. Resposta no fi nal do artigo 21. Considerando que o tipo de gordura a ser ingerido pelo paciente com DM é muito importante, que cuidados devem ser tomados na conduta nutricional desses indivíduos? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 22. Em relação aos carboidratos do plano alimentar, é INCORRETO afi rmar que A) é essencial o cuidado da quantidade e tipo de carboidratos em um plano alimentar, pois eles têm um papel importante na adequação dos níveis de glicose pós-prandial. B) em relação à resposta glicêmica, é usualmente um determinante para a resposta pós-prandial não só a quantidade de carboidrato ingerido, mas também o tipo de carboidrato. C) variáveis intrínsecas e extrínsecas do carboidrato podem infl uenciar a resposta glicêmica. D) o uso de sacarose como integrante do total de carboidratos da dieta causa aumento da glicemia em indivíduos com DM, não podendo ser adicionado à dieta de pacientes. Resposta no fi nal do artigo 170 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO 23. Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna a seguir: Com relação à contagem de carboidratos, que objetiva otimizar o controle glicêmico, uma unidade de insulina cobre ......... de carboidratos. A) 10g B) 15g C) 20g D) 25g 24. Sobre as fi bras alimentares é correto afi rmar que A) pectinas, gomas, mucilagens e algumas hemiceluloses são exemplos de fi bras insolúveis, cujas principais fontes são as frutas, verduras, leguminosas, aveia e cevada. B) as fi bras solúveis retardam o esvaziamento gástrico e a absorção de glicose, reduzindo a glicemia pós-prandial, o colesterol total e o colesterol LDL somente em pacientes sem DM. C) as fi bras insolúveis agem sobre o trato gastrintestinal reduzindo o tempo de trânsito, aumentando o bolo fecal e exercendo pouco ou nenhum efeito sobre o controle glicêmico ou o lipídico. D) as fi bras solúveis são encontradas nos grãos integrais e nas hortaliças. Respostas no fi nal do artigo 25. Qual é a recomendação do consumo de álcool para indivíduos com DM? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... ■ NUTRIÇÃO ENTERAL Na resolução RCD nº 63,18 de 6 de julho de 2000, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defi niu nutrição enteral como alimento para fi ns especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição defi nida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializada ou não, utilizada exclusivamente ou parcialmente para substituir ou completar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 171 A nutrição enteral está indicada para pacientes com necessidades nutricionais normais ou aumentadas cuja ingestão por via oral esteja prejudicada, mas tenham o restante do sistema digestório em condições fi siológicas aproveitáveis. A terapia de nutrição enteral (TNE) abrange o suporte nutricional para pacientes incapazes de consumir nutrientes sufi cientes por via oral. A via enteral é a primeira opção terapêutica no suporte nutricional: preserva a estrutura fi siológica do trato gastrintestinal, pode modifi car a resposta ao estresse e melhorar a evolução clínica fi naldo paciente. INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES Existem duas situações em que se indica a TNE: ■ quando há ingestão oral inadequada (com risco de desnutrição) para prover no mínimo dois terços das necessidades nutricionais diárias; ■ quando o sistema digestório está íntegro, mas o paciente não pode alimentar-se, ou apresenta ingestão oral insufi ciente, ou não deve alimentar-se por via oral. Nas duas situações de indicação da TNE, o trato gastrintestinal está íntegro ou parcial- mente comprometido.19 As contraindicações para TNE em geral são temporárias. As mais frequentes são:19 ■ disfunção ou obstrução mecânica do trato gastrintestinal; ■ refl uxo gastroesofágico intenso; ■ íleo paralítico; ■ hemorragia gastrintestinal severa; ■ vômitos; ■ diarreia severa; ■ fístula no trato gastrintestinal de alto débito (> 500mL/dia); ■ enterocolite severa; ■ pancreatite aguda grave; ■ doença terminal; ■ expectativa de utilizar a TNE em período inferior a 5 – 7 dias para pacientes desnutridos, ou 7– 9 dias para pacientes bem-nutridos. VIAS DE ACESSO As vias de acesso em nutrição enteral podem estar dispostas no estômago, no duodeno e no jejuno. Pode-se recorrer à colocação direta de uma sonda por passagem nasogástrica, ou ainda realizar uma gastrostomia ou jejunostomia. A escolha da localização da sonda depende, entre outras, de várias particularidades: ■ tolerabilidade do paciente; ■ localização de melhor acesso; ■ menor risco de saída acidental da sonda; ■ menor risco de refl uxo; ■ aspiração pulmonar. 172 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO OBJETIVOS DA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E COMPOSIÇÃO DAS FÓRMULAS ENTERAIS Em pacientes com DM, a TNE tem como objetivo a nutrição, a normalização da glicemia e dos lipídeos plasmáticos, além de prevenção, controle e tratamento de complicações crônicas e agudas.19 A composição ideal de macronutrientes nas fórmulas enterais para pacientes com DM ainda vem sendo estudada. Atualmente, o maior enfoque tem sido o teor de carboidratos e lipídios. Evidências apontam que o tipo de carboidrato e o de gordura presentes nas fórmulas têm importância crucial no controle glicêmico e lipídico dos pacientes com DM. As fórmulas enterais especializadas para pacientes com DM, atualmente disponíveis no mercado, apresentam em sua composição 30 - 45% de carboidratos, 40 - 49% de lipídios, com maior fonte de ácidos graxos monoinsaturados, e mistura de fi bras solúveis e insolúveis variando de 14 a 24g/L. A suplementação de fi bras possui benefícios comprovados na TNE e visa a regularizar o trânsito intestinal, auxiliando no controle da diarreia e da constipação; melhorar o controle glicêmico; diminuir a resistência insulínica e o perfi l lipídico. Essas fi bras também prolongam o esvaziamento gástrico, melhorando os níveis de glicemia pós-prandial. Recomenda-se a ingestão de 20 a 50g de fi bra/dia ou 14 a 25g/1.000kcal/dia, sendo 50% na sua forma solúvel. Em pacientes críticos, deve-se ter cautela em relação ao uso das fi bras. Pacientes com alto risco de dismotilidade e isquemia intestinal não devem receber fi bras, principalmente as insolúveis. Para prevenção e controle da diarreia, devem-se administrar fi bras solúveis; enquanto para prevenir e tratar a constipação, recomenda-se uma fórmula que contenha fi bras solúveis e insolúveis na sua composição. É essencial que a TNE seja adequada, visando à individualização de cada paciente. Glicose plasmática e lipídios séricos devem ser monitorados. ■ NUTRIÇÃO PARENTERAL A nutrição parenteral (NP) visa fornecer, por via intravenosa (acesso venoso periférico ou central), todos os nutrientes necessários à demanda nutricional de pacientes com necessidade normal ou aumentada, cuja via digestória não pode ser empregada ou é inefi caz. A NP visa a anular o estado de catabolismo determinado por várias circunstâncias clínicas, ajustar e até mesmo corrigir o estado de desnutrição do paciente por meio da síntese proteica nos tecidos. As vias utilizadas para administração da NP são a periférica (administrada diretamente em uma veia periférica), quando utilizada por períodos mais curtos; ou a total (administrada diretamente em uma veia central). Na primeira, são oferecidas soluções hipo-osmolares, hipoconcentradas e gorduras. Já na segunda, há infusão de soluções hipertônicas de glicose e proteínas, vitaminas entre outros. A via mais utilizada na NP é a central, e a canulação da veia subclávica (por via infraclavicular) é rotineiramente usada para ter acesso à veia cava superior. O cateter deve posicionar-se no átrio direito, o que deve ser verifi cado através de raio X. Estipulada a via de administração, a solução pode ser instalada, respeitando sempre as condições estabelecidas quanto ao volume e às calorias, situação controlada por meio da velocidade do gotejamento. PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 173 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES Em geral, a NP é indicada para casos em que o sistema digestório não funciona, está obstruído ou inacessível. Condições como neoplasias, situações de repouso intestinal, vômitos e diarreias graves, mucosites/esofagites são indicações específi cas para uso de NP. A NP é contraindicada em pacientes que apresentem hipovolemia, choque cardiogênico ou séptico, ou que apresentem graves distúrbios metabólicos e eletrolíticos. COMPONENTES DA NUTRIÇÃO PARENTERAL Os componentes usuais da NP em pacientes com DM são água, glicose, emulsão lipídica, acetato e cloreto, aminoácidos, eletrólitos, vitaminas e insulina. A necessidade basal de água para um adulto normal é de 30mL/kg de peso corporal por dia. Entretanto, o cálculo do volume necessário de água deve levar em conta o estado de hidratação e o balanço hídrico periódico do paciente. A forma de glicose (soluções hipertônicas) mais utilizada é a dextrose a 25, 50 ou 70%. A quantidade mínima de glicose/dia requerida é de 200g. Em pacientes com DM, usa-se insulina na proporção de uma unidade de insulina regular para cada 10g de glicose.19 Recomenda-se um protocolo para tratamento de hiperglicemia em pacientes em NP. Uma solução-padrão de aminoácidos geralmente na concentração de 8,5 - 15% para cada 100mL é diluída em uma quantidade de glicose, de modo a atingir uma concentração fi nal de 3,5 - 5%. Existem soluções especiais comerciais desenvolvidas para o tratamento de problemas renais e hepáticos, e soluções especiais para recém-nascidos prematuros. As emulsões lipídicas são isotônicas e podem ser administradas por veia periférica. São importantes fontes de energia para prevenir a defi ciência de ácidos graxos essenciais. São utilizadas emulsões a 10 - 20% (10 ou 20g/100mL). As quantidades recomendadas de sódio, cloreto e potássio e outros minerais – como cálcio, fósforo e magnésio – podem sofrer variações na administração. Concentrações de acetato e cloreto devem ser bem balanceadas para evitar acidose metabólica hiperclorêmica ou alcalose metabólica hipoclorêmica. Reconhecida a necessidade da NP, é preciso a avaliação de todos os nutrientes adicionados. As razões de macro e micronutrientes devem ser estabelecidas sob medida para atender às necessidades nutricionais de cada paciente. 26. Caracterize a TNE. .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 174 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO 27. Analise as seguintesafi rmativas sobre a TNE: I – Está indicada para pacientes com necessidades nutricionais normais ou aumentadas, cuja ingestão por via oral está prejudicada, mas que tenham o restante do trato digestivo em condições fi siológicas aproveitáveis. II – Abrange o suporte nutricional para pacientes incapazes de consumir nutrientes sufi cientes por via oral. III – A via enteral é a primeira opção terapêutica na intervenção nutricional: preserva a estrutura fi siológica do trato gastrintestinal, podendo modifi car a resposta de estresse e melhorar a evolução clínica fi nal do paciente. Está(ão) correta(s): A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas III. D) Todas afi rmativas. Resposta no fi nal do artigo 28. Quais são as situações em que não se indica a TNE? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 29. Sobre as vias de acesso da TNE, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) As vias de acesso para TNE podem estar dispostas apenas no estômago e no jejuno. ( ) Pode-se recorrer à colocação direta de uma sonda por passagem nasogástrica, ou ainda realizar uma gastrostomia ou jejunostomia. ( ) Dentre outros fatores, a escolha da localização da sonda depende também da tolerabilidade do paciente. Resposta no fi nal do artigo PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 175 30. Sobre a NP, é INCORRETO afi rmar que A) visa fornecer, por via intravenosa, todos os nutrientes necessários à demanda nutricional de pacientes com necessidades normal ou aumentada, cuja via digestiva não pode ser empregada ou é inefi caz. B) visa anular o estado de catabolismo determinado por várias circunstâncias clínicas, ajustar e até mesmo corrigir o estado de desnutrição do paciente por meio da síntese proteica nos tecidos. C) deve ser administrada diretamente em uma veia central, mesmo quando utilizada por períodos curtos. D) é contraindicada para pacientes que apresentem hipovolemia, choque cardiogê- nico ou séptico, ou que apresentem graves distúrbios metabólicos e eletrolíticos. Resposta no fi nal do artigo 31. Quais são os componentes usuais da NP em pacientes com DM? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... ■ CASO CLÍNICO Identifi cação: DLNC, 59 anos, sexo feminino, negra, casada e natural de Forquilha – RS. Queixa principal: encaminhada pelo médico endocrinologista para tratar “colesterol que está ruim” e pressão alta. História da doença: paciente com DM tipo 2, microalbuminúria e hipertensão arterial. Informa que tenta se alimentar direito, mas "não sabe onde está errando". Refere noctúria e disúria. Nega hipoglicemias. História familiar: mãe cardiopata e diabética, pai hipertenso. Informações complementares: tabagista. Consome álcool eventualmente. Come carne vermelha seis vezes por semana. Salga bastante a comida. Medicação em uso: metformina e diurético. 176 NU TR IÇÃ O E M DO EN ÇA S C RÔ NIC AS NÃ O T RA NS MI SS ÍVE IS – D IAB ET ES M EL ITO Exames: ■ glicose – 207mg/dL; ■ HbA1C – 8,9%; ■ colesterol total – 222mg/dL; ■ colesterol HDL – 33mg/dL; ■ colesterol LDL – 142mg/dL; ■ triglicerídeos – 23 mg/dL; ■ potássio sérico – 4,9; ■ microalbuminúria em amostra – 72mg/dL. Pressão arterial: 157 x 85mmHg. FC 81 bpm (média de três medidas). Ao exame físico, apresentou bom estado geral, mucosas coradas. Avaliação antropométrica: ■ peso atual – 72,5kg; ■ altura – 157cm; ■ IMC – 29,41 kg/m2. Diagnóstico nutricional: dislipidemia, hipertensão arterial e DM tipo 2. 32. A partir das informações apresentadas no caso clínico, quais são a conduta nutricional e as recomendações dietoterápicas a serem tomadas para a paciente? ................................................................................................................................ ................................................................................................................................ ................................................................................................................................ ................................................................................................................................ Resposta no fi nal do artigo ■ CONCLUSÃO O DM é um grupo de doenças metabólicas caracterizado por hiperglicemia, a qual pode ser decorrente de defeitos na ação e/ou secreção de insulina, e está associada, em longo prazo, ao comprometimento de vários órgãos. As complicações do DM podem ser prevenidas e tratadas com medidas farmacológicas e não farmacológicas. A terapia nutricional é parte fundamental no cuidado do DM. Apesar de a adesão aos princípios do plano alimentar ser um dos aspectos de maior desafi o no tratamento do DM, a terapia nutricional é um componente essencial para controle glicêmico dos pacientes. PR ON UT RI. 20 12 ;1( 3): 14 3-1 81 177 ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: C Comentário: O DM é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos.1 A insulina é o produto da secreção endócrina do pâncreas sintetizada pelas células betapancreáticas, atua em vários tecidos (muscular e adiposo) e no sistema hepático. Atividade 2 Resposta: A Atividade 4 Resposta: B Comentário: O DM tipo 1 idiopático caracteriza-se pela ausência de marcadores de autoimunidade contra as células beta e pela não associação com haplótipos do sistema antígeno HLA. Atividade 5 Resposta: D Comentário: O DM tipo 1 corresponde a 5 - 10% dos casos. Resulta da destruição das células betapancreáticas, podendo ser autoimune, LADA e idiopático. Geralmente acomete crianças, adolescentes e adultos jovens. Atividade 8 Resposta: C Comentário: Pessoas com níveis altos ou mal-controlados de glicose no sangue podem apresentar poliúria, polidipsia, polifagia, fadiga, perda de peso rápida e inexplicada, sede excessiva, visão turva, infecções repetidas na pele ou mucosas. Diarreias não estão descritas nos sinais e sintomas dos pacientes com DM. Atividade 10 Resposta: A Comentário: Métodos como a glicemia de jejum, a medida da glicemia casual e o TTOG foram utilizados por décadas para diagnóstico do DM. Em 2009, membros da ADA, junto com membros do IDF e da EASD, recomendaram o uso do teste HbA1c para o diagnóstico do DM; e, em 2010, a ADA adotou esse critério. A avaliação da glicemia de jejum é um método simples e de baixo custo para a investigação do DM. O único inconveniente é que se faz necessário jejum de oito horas. Atividade 11 Resposta: V – V – V – F Comentário: Os principais fatores de risco para DM tipo 2 são sedentarismo, história familiar de DM, hipertensão arterial, diagnóstico prévio de glicemia de jejum alterada ou intolerância à glicose, história de macrossomia fetal ou DM gestacional, dislipidemia, teste A1C ≥ 5,7%, síndrome de ovários policísticos, ou outras condições clínicas associadas com a resistência à insulina, como a acanthosis nigricans e a
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