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Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! 1. Compreender a correlação entre distúrbios metabólicos e manifestações cutâneas. A pele, ao refletir processos internos, exterioriza o que acontece no organismo em muitas doenças. Nesse sentido, ela, como órgão, extrapola as suas funções de proteção, barreira, e sinaliza a existência de enfermidades sistêmicas, ampliando a importância do médico dermatologista para além da superfície cutânea. Diabetes mellitus 1. Necrobiose lipoídica: doença inflamatória crônica não pruriginosa, granulomatosa com degeneração do colágeno. Habitualmente, inicia‐se com pápulas eritematosas e evolui lentamente para placa marrom‐amarelada com centro atrófico e telangiectasias. Há maior prevalência em mulheres do que em homens, e é comumente localizada na região anterior das pernas com localização simétrica. Em 35% dos casos, as lesões podem ulcerar, comumente complicadas por infecções bacterianas secundárias. A maioria dos casos tem curso crônico, porém algumas vezes pode ocorrer melhora espontânea. 2. Scleredema adultorum de Buschke: caracterizado por endurecimento extenso lentamente progressivo, semelhante à esclerodermia da pele do dorso, região cervical posterior, ombros e face. É definida por deposição de colágeno e mucopolissacarídeos na derme, com espessamento da pele, rigidez e comprometimento da motilidade, principalmente nos ombros. É desordem rara, que pode ser sub‐reconhecida. Também pode ser encontrado em outras doenças como neoplasias, paraproteinemias e infecções. Pápulas de Huntley (pequenas pápulas eritematosas agrupadas) podem estar presentes. Na doença extensa, toda a pele, bem como órgãos internos, como pulmão, podem estar envolvidos. 3. Bulose diabeticorum: geralmente em pacientes com diabetes de longa data (também pode ser manifestação inicial da doença), que se manifesta com bolhas serosas tensas sem sinais de inflamação cutânea e indolores. Surgem predominantemente nas extremidades inferiores, especialmente nos pés; entretanto, podem acometer as mãos e o tronco. As lesões emergem rapidamente e cicatrizam em algumas semanas. Cerca de 0,5% dos indivíduos com diabetes desenvolvem bolhas específicas no curso da doença. 4. Granuloma anular (GA): caracteriza‐se por pápulas normocrômicas a eritematosas, formando placas de conformação anular no dorso dos pés e mãos ou na superfície extensora de articulações (como o cotovelo). Costuma aparecer em diabéticos, mas a associação com doenças infecciosas, como hepatite e HIV, e tumores, como linfoma e carcinoma, também é descrita. A doença é frequentemente assintomática e as lesões involuem no centro da placa com hipo ou hiperpigmentação. A maioria das lesões cicatriza espontaneamente. Formas disseminadas de GA são cosmeticamente inestéticas e podem ser algo pruriginosas. 5. Acantose nigricans: caracteriza‐se por placas hiperpigmentadas intertriginosas. Região cervical e axilas são comumente afetadas no paciente diabético. Em geral, antecede o diagnóstico de diabetes e pode aparecer no estado de hiperinsulinemia com valores normais de hemoglobina glicosilada. Também pode ser observada na síndrome dos ovários policísticos e em obesos. Pode se manifestar como doença paraneoplásica e em doenças gastrintestinais malignas. Além disso, casos induzidos por fármacos foram relatados. 6. Vitiligo: como doença autoimune, ocorre concomitante a outras doenças autoimunes com frequência, como diabetes mellitus insulinodependente e doenças da tireoide. As lesões Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! acrômicas frequentemente afetam as extremidades, face e região cervical, bem como tronco, e tendem a ser simétricas e de fácil diagnóstico. 7. Carotenodermia: pele e unhas amareladas podem ser atribuídas à hipercarotenemia em diabéticos. 8. Líquen plano: cerca de 25% dos pacientes com líquen plano têm diabetes. Os achados clínicos mostram lesões característica acompanhadas de prurido localizadas nos tornozelos e punhos, com envolvimento opcional da mucosa. Outras doenças sistêmicas também podem estar associadas ao líquen plano, como enfermidades hepáticas, intestinais e timoma. 9. Colagenose reativa perfurante adquirida: doença cutânea rara, vista em pacientes diabéticos, bem como na doença renal crônica e hiperuricemia. A patogênese permanece desconhecida. Embora seja rara, a clínica é típica: pápulas e nódulos eritematosos pruriginosos umbilicados que representam a eliminação transepidérmica de debris dérmicos. O fenômeno de Koebner é comum nesses pacientes. 10. Angiopatia diabética e doenças de pele associadas à neuropatia: a) Síndrome do pé diabético: a combinação de angiopatia diabética, neuropatia e trauma mecânico desempenha um papel importante na sua patogênese, que cursa com úlcera crônica, na qual 25% dos pacientes desenvolvem complicações como infecções e osteomielite. b) Síndrome da mão diabética: o diabetes também pode provocar distúrbios musculoesqueléticos nas mãos, como limitação da mobilidade articular (LMA), doença de Dupuytren (DD) e síndrome do túnel do carpo (STC). A LMA é caracterizada por espessamento e rigidez do tecido conjuntivo periarticular das pequenas articulações da mão, causando limitação da extensão dos dedos. A DD é causada por fibrose e consequente espessamento e encurtamento da fáscia palmar, resultando em contraturas de flexão. Já a STC caracteriza‐se por hipo ou disestesias na área de inervação do nervo mediano da mão. c) Dermopatia diabética: pode resultar de pequenos traumas. É manifestação frequente do diabético e acompanha outras doenças como nefropatia, retinopatia ou neuropatia. A doença tende a aparecer nas extremidades inferiores de homens idosos. O achado clínico mostra máculas eritematosas assintomáticas ou pápulas de rápido crescimento. As lesões têm curso recorrente e melhoram espontaneamente, com formação de cicatrizes hipotróficas acastanhadas. 11. Infecções cutâneas comuns em pacientes com diabetes: manifestações cutâneas de infecções bacterianas e fúngicas são frequentes nos diabéticos. Infecções cutâneas recorrentes devem ser motivo de investigação de diabetes mellitus. O Staphylococcus aureus pode causar piodermites (foliculite, abcessos e impetigo). Já os estreptococos estão associados a ectima, celulite e impetigo contagioso estreptocócico (neste caso, Streptococcus – hemolítico). A fasciíte necrosante é complicação rara da infecção por Streptococcus; porém, S. aureus ou bactérias anaeróbias podem estar envolvidas. A gangrena de Fournier é variante perineal ou genitoanal grave da fasciíte necrosante com elevada taxa de mortalidade. A pele do trato otorrinolaringológico também é propensa a infecções bacterianas nos diabéticos. A otite externa maligna é infecção bacteriana invasiva comumente causada por Pseudomonas aeruginosa e pode ter curso letal. A infecção normalmente começa assintomática e causa otalgia Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! com saída de secreção purulenta. Casos graves podem se estender, atingir o crânio e o sistema nervoso central, manifestando‐se com meningite e cerebrite. A candidíase é infecção fúngica comum em diabéticos. Candida albicans é o patógeno mais prevalente e pode afetar pele e mucosas, bem como a região periungueal (paroníquia). A infecção causada por dermatófitos (dermatofitose cutânea ou onicomicose) também é comum. Mucormicose rinocerebral é doença grave, de alta mortalidade e associada à cetoacidose diabética. É causada, principalmente, por espécies do gênero Rhizopus, Rhizomucor e Lichtheimia (previamente denominada Absidia), fungos oportunistas e angioinvasivos. Clinicamente, se inicia como sinusite com secreção nasal serosanguinolenta que evolui para edema periorbital, coloração eritemato‐violácea, com sinais de necrose cutânea,mucosa nasal e oral. Há sinais de toxemia, dor local e febre. Pode haver paralisia facial periférica. A evolução é rápida para grave comprometimento do sistema nervoso central. 12. Complicações da terapia antidiabética. a) Reações cutâneas causadas pela insulina: reações alérgicas sistêmicas: angioedema, urticária generalizada ou anafilaxia, rubor, prurido palmoplantar ou disseminado. As reações locais são urticariformes ou como eczema, com eritema, pápulas e vesículas no local da injeção, acompanhadas de prurido. Pode haver doença do soro‐símile. A lipodistrofia, menos comum que as reações alérgicas, ocorre após 6 a 24 meses de aplicação contínua de doses de insulina sempre no mesmo local. A introdução de insulinas purificadas reduziu a incidência de lipoatrofia. b) Reações cutâneas induzidas por antidiabéticos orais: são observados exantema macular, urticária e eritema multiforme. Fotossensibilidade pode ocorrer com a tolbutamida e a clorpropamida. Erupções liquenoides e lesões semelhantes à rosácea podem ocorrer em 1 a 5% dos indivíduos em uso de hipoglicemiantes orais. De todos os medicamentos hipoglicemiantes orais, as sulfonilureias são as que mais frequentemente causam farmacodermias (as de segunda geração causam menos efeitos adversos cutâneos do que as de primeira geração). 13. Prurido: pode estar associado ao diabetes, e será discutido adiante. Tireopatias • 1. Hipertireoidismo Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! 2. Hipotireoidismo Outras doenças autoimunes podem estar associadas ao hipotireoidismo. Foram relatadas: dermatite herpetiforme, alopecia areata, vitiligo e urticária autoimune. DislipidemiaXantomas a) Xantoma tuberoso: surge como pequenas pápulas, moles, amareladas, eritematosas, localizado em áreas de pressão (cotovelos, joelhos, região glútea); são indolores e se agrupam formando lesões tumorais. A presença de xantoma tuberoso sugere elevação do colesterol sérico e LDL, mas também pode ser visto com aumento de triglicerídeos. Tem maior associação com a hiperlipidemia mista tipo III e tipo IIa, maior incidência de doença vascular aterosclerótica e são raramente associados à hipercolesterolemia secundária.3 b) Xantoma tendinoso: corresponde a nódulos firmes de tamanhos variados e observados em áreas sobre tendões (geralmente tendões extensores das mãos, joelhos, cotovelos e tendão de Aquiles). Estão associados à hipercolesterolemia familiar ou secundária, assim como xantomatose cerebrotendinosa e beta‐sitosterolemia. Pacientes com xantomas tendinosos têm incidência extremamente alta de doença vascular aterosclerótica.3 c) Xantoma eruptivo: de manifestação abrupta e eruptiva, caracteriza‐se por múltiplas pápulas medindo de 1 a 4 mm, amareladas, com halo eritematoso. As lesões podem coalescer formando lesões nódulo‐tumorais. Ocorre mais comumente sobre pontos de pressão e superfícies extensoras dos braços. Mais raramente, podem estar difusamente espalhados pelo tronco ou http://www.anaisdedermatologia.org.br/pt-manifestacoes-cutaneas-associadas-doencas-sistemicas-articulo-S2666275221002113#bib0275 http://www.anaisdedermatologia.org.br/pt-manifestacoes-cutaneas-associadas-doencas-sistemicas-articulo-S2666275221002113#bib0275 Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! nas membranas mucosas. Ao contrário dos outros xantomas, o xantoma eruptivo pode ser pruriginoso. Estão ligados à hipertrigliceridemia secundária e, mais raramente, primária (tipos IV, V e I). Pacientes com xantoma eruptivo apresentam risco alto de ocorrência de pancreatite. d) Xantoma plano: é a manifestação clínica mais frequente, classificada em três tipos: xantelasma, xantoma estriado e xantoma plano. Os xantelasmas são pápulas poligonais, amareladas, localizadas nas pálpebras (mais comumente no canto medial). Pelo menos 50% dos pacientes com xantelasmas não apresentam dislipidemia. Quando lipídios séricos estão anormais (pacientes mais jovens), o colesterol é a fração geralmente elevada. Os pacientes podem também apresentar a córnea arcus como sinal de hipercolesterolemia. Algumas hiperlipoproteinemias secundárias, como colestase, também podem estar associadas com xantelasmas. O xantoma estriado palmar apresenta‐se como lesões planas, de amarelado a laranja, nas dobras palmares, e que ocorrem apenas em pacientes com níveis elevados de colesterol e triglicerídeos. Os xantomas planos difusos geralmente cobrem grandes áreas da face, região cervical, tórax e braços em indivíduos com ou sem dislipidemia (hipertrigliceridemia em particular), mas que frequentemente apresentam paraproteinemia, incluindo as relacionadas ao mieloma múltiplo. Adrenal 1. Síndrome de Cushing: corresponde ao conjunto de características clínicas causadas principalmente por hipercortisolemia. As manifestações cutâneas incluem face de lua, corcunda de búfalo, correspondente ao depósito de tecido adiposo na região dorso cervical, região cervical aumentada de diâmetro e curto, consequente ao acúmulo de gordura supraclavicular, exoftalmia, pelo depósito de gordura retro‐orbitária, hematomas espontâneos, cicatrização retardada de feridas, atrofia cutânea, striae distensae, hiperpigmentação, acantose nigricans, além de lesões acneiformes (acne dos corticoides). 2. Doença de Addison/insuficiência adrenal primária: decorre mais comumente por mecanismos autoimunes. As principais manifestações mucocutâneas são hiperpigmentação cutânea difusa, capilar e de mucosas. Também podemos observar perda de pelos axilares e pubianos além de bandas longitudinais hiperpigmentadas de localização ungueal. 3. Feocromocitoma: A única manifestação cutânea significativa do feocromocitoma é o rubor paroxístico mais proeminente na face, tórax e extremidades superiores. Quando os feocromocitomas ocorrem como parte de uma síndrome genética, as manifestações cutâneas dessa síndrome também podem ser aparentes. Hiperpituitarismo Acromegalia Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! Hipopituitarismo As lesões cutâneas podem ser a primeira indicação para a suspeita diagnóstica. A pele e os tecidos subcutâneos tornam‐se finos, os pelos escassos e a pele pálida ou amarelada. Os sinais de hipopituitarismo podem ser evidentes e pode haver sintomas da deficiência de gonadotrofina, especialmente redução na libido. As manifestações endócrinas do hipopituitarismo variam com o tipo, idade de desenvolvimento e grau da deficiência hormonal. http://www.anaisdedermatologia.org.br/pt-manifestacoes-cutaneas-associadas-doencas- sistemicas-articulo-S2666275221002113 2. Relacionar as manifestações clínicas da evolução das hepatopatias com as manifestações cutâneas. A doença hepática é uma condição muito comum no âmbito da medicina interna e pode estar associada a várias manifestações extra-hepáticas envolvendo os rins, ossos, sistema nervoso, trato gastrointestinal e a pele. Alterações cutâneas podem ser o primeiro indício de que um paciente tem uma doença que acomete o fígado. A lista das manifestações cutâneas decorrentes da doença hepática tem sido ampliada ao longo do tempo. Muitos tipos de interações entre estes dois órgãos são encontrados: a doença no fígado pode causar lesões de pele; a pele e o fígado podem estar envolvidos no mesmo processo patogênico (tais como vistos na doença dos histiócitos, hemangiomas, sarcoidose, deficiência de α1-antitripsina, hemocromatose); doenças de pele podem levar a alterações hepáticas (tais como implantes secundários de tumores malignos de pele); e o fígado pode ser lesado por drogas do tratamento de doenças de pele (e.g., metotrexato na terapia da psoríase) ou vice- versa (e.g., interferon [IFN] para o tratamento na infecção pelo vírus C). A doença hepática de qualquer origem pode levar a típicos achados na pele. Icterícia, prurido, telangiectasiasdo tipo "aranha vascular" (spider angioma), leuconiquia e baqueteamento digital são características bem conhecidas. Eritema palmar, rosácea e rinofima são achados comuns, porém muitas vezes negligenciados em um exame clínico pouco minucioso. Sinais mais sutis incluem marcas de arranhões, perda de pelos axilares e ginecomastia. A ascite pode ainda levar a estrias e à hérnia umbilical. http://www.anaisdedermatologia.org.br/pt-manifestacoes-cutaneas-associadas-doencas-sistemicas-articulo-S2666275221002113 http://www.anaisdedermatologia.org.br/pt-manifestacoes-cutaneas-associadas-doencas-sistemicas-articulo-S2666275221002113 Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! As hepatites infecciosas crônicas estão fortemente relacionadas a outras lesões cutâneas. Alguns achados incluem: crioglobulinemia mista, porfiria cutânea tardia (PCT), líquen plano (LP), poliartrite nodosa (PAN), eritema acral necrolítico, síndrome de Raynaud, e outras condições, como prurido e urticária. Quando essas lesões dermatológicas são encontradas, infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) deve ser considerada. A hepatite B, por sua vez, está mais relacionada à urticária e angioedema (serum sickness like syndrom), síndrome de Gianotti Crosti (acrodermatite papular da infância) e também à PAN e vasculite crioglobulinêmica. Além do efeito direto da infecção viral em pele, linfócitos, células dendríticas e vasos sanguíneos; do epifenômeno resultante da interrupção da resposta imune e da disrupção da infecção em outros órgãos, gerando uma resposta de pele típica, a própria terapia biológica para o tratamento das hepatites virais (como a terapia com IFN) associa-se a inúmeras desordens dermatológicas. OUTRA FONTE As manifestações clínicas da cirrose ocorrem devido às alterações morfológicas (hipertensão porta) e bioquímicas (declínio na produção de fatores de coagulação e albumina, hiperestrogenismo, hipogonadismo etc.). Essas manifestações frequentemente refletem a gravidade da lesão hepática, mas não da etiologia da doença hepática subjacente. O hiperestrogenismo é responsável pelas alterações vasculares cutâneas, como as telangiectasias (tipo aranhas vasculares [Fig. 16.3]), encontradas no pescoço, na porção superior do tronco e dos membros superiores; como também pelo aumento das parótidas e do eritemar, devido a uma vasodilatação cutânea, principalmente nas regiões tenar e hipotenar, podendo ocorrer também na região plantar ou mesmo na face (pletora facial). O hipogonadismo é causado pelo aumento da formação periférica de estrogênio, gerado por depuração hepática diminuída do precursor de androstenediona. Geralmente, independe da etiologia da cirrose, embora seja mais frequente na etiologia alcoólica (resulta também do dano gonadal secundário ao álcool), podendo decorrer também da sobrecarga de ferro quando a etiologia da cirrose é a hemocromatose, da deficiência de zinco asso ciada à cirrose, do mau estado metabólico induzido pela falência hepática, medicamentosa ou pela presença de outras doenças. O hipoandrogenismo é responsável pela queda da libido, atrofia testicular, impotência masculina, atrofia dos interósseos, rarefação dos pelos (distribuição feminilizada) e ginecomastia. Hiperestrogenismo Telangiectasia, eritema palmar, pletora facial, aumento das parótidas. Hipoandrogenismo Queda da libido, atrofia testicular, impotência masculina, atrofia dos interósseos, rarefação dos pelos (distribuição feminilizada), hipergenesia mamária. A circulação porta tipo cabeça de medusa visível na região periumbilical (Fig. 16.5) é encontrada com facilidade no exame físico de pacientes com cirrose junto aos outros achados de hipertensão porta, como a ascite. O prurido é o sintoma da pele de incidência mais frequente na doença hepática, podendo preceder a icterícia de qualquer causa. Ele é mais proeminente na cirrose biliar primária, na colangite esclerosante ou em qualquer outra causa de obstrução do trato biliar ou de doenças Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! que causem colestase. Os sintomas são mais intensos no período noturno, em regiões acrais e em locais que ficam em contato com as roupas. A alteração de cor da pele mais comum é a da icterícia (Fig. 16.6), que é primeiramente visível na esclera e no palato mole antes de se tornar generalizada, e ocorre devido à hiperbilirrubinemia. A concentração elevada de bilirrubina no sangue pode acontecer quando uma inflamação ou outras alterações dos hepatócitos impedem a sua excreção para a bile ou devido à obstrução dos ductos biliares extra-hepáticos por cálculo biliar ou tumor. Menos comumente, pode ocorrer devido aos elevados níveis de bilirrubina em decorrência da destruição de grandes quantidades de eritrócitos. As alterações nas unhas, secundárias à doença hepática, são inúmeras. O baqueteamento digital talvez seja a mais comum dessas alterações. Contudo, as unhas de Terry (parte proximal da unha branca e distal rósea) representam uma alteração bastante singular. A lúnula pode estar azulada na degeneração hepatolenticular do fígado (doença de Wilson). A púrpura é uma mancha causada devido ao pigmento hemático por hemorragia dos vasos da derme e/ou da hipoderme, cujas hemácias extravasadas são fagocitadas pelos macrófagos, que transformam o pigmento hemoglobínico em hemossiderina, resultando em coloração castanho- amarelada e dividindo-se em petéquias (lesão puntiforme), víbice (formato linear) e equimose (lesões maiores em lençol). Todas elas são caracterizadas por não desaparecer à digitopressão, ao contrário da telangiectasia. 3. Compreender a fisiopatologia das icterícias. A icterícia é uma coloração amarelada da esclera (parte branca dos olhos), pele e túnicas mucosas em decorrência do acúmulo de um composto amarelo chamado bilirrubina. Depois que a bilirrubina é formada a partir da decomposição do pigmento heme de eritrócitos envelhecidos, é transportada para o fígado, onde é processada e eventualmente excretada na bile. As três principais categorias de icterícia são a (1) icterícia pré-hepática, decorrente do excesso de produção de bilirrubina; (2) icterícia hepática, decorrente da doença congênita do fígado, cirrose hepática ou hepatite; e (3) icterícia extra-hepática, decorrente do bloqueio da drenagem de bile por cálculos biliares ou câncer intestinal ou pancreático. Como o fígado de um recém-nascido funciona mal na primeira semana ou próximo disso, muitos bebês têm uma forma leve de icterícia chamada icterícia neonatal (sͅiológica), que desaparece conforme o fígado amadurece. Normalmente, é tratada expondo a criança à luz azul, que converte a bilirrubina em substâncias que os rins são capazes de excretar. Formação da bilirrubina A icterícia resulta de distúrbios em uma ou mais etapas do metabolismo da bilirrubina, com elevação das concentrações de bilirrubina direta e/ou indireta. Bilirrubinas são catabólitos potencialmente tóxicos cuja metabolização depende de um mecanismo fisiológico complexo. Estudos recentes começam a revelar papel fisiológico mais amplo das bilirrubinas, com efeitos benéficos antidiabéticos. As bilirrubinas participam da regulação do metabolismo do colesterol, dos níveis de adipocinas e da expressão de PPAR gama. Em ratos, a administração de bilirrubinas revelou-se capaz de aumentar a sensibilidade à insulina, melhorar o controle glicêmico e induzir a obesidade induzida por alimentação.3 Existem três etapas principais do metabolismo das bilirrubinas: pré-hepática, intra-hepática e pós-hepática. Fase pré-hepática Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! A bilirrubina provém do heme liberado com a degradação da hemoglobina, proteína que atua no transporte e no metabolismo do oxigênio das hemácias. A produção diária de bilirrubina no adulto é de aproximadamente4 mg/kg de massa corpórea, 70 a 90% provenientes da reciclagem de hemácias senescentes degradadas em baço e fígado. O restante provém de outras fontes, como mioglobina, citocromo P-450, catalase e peroxidase. Na periferia, o heme é convertido em biliverdina pela enzima heme-oxigenase; posteriormente, transforma-se em bilirrubina sob atuação da biliverdinaredutase. Nessa etapa, a bilirrubina está na forma não conjugada, também denominada forma indireta. Cerca de 96% da bilirrubina plasmática está na forma indireta, que, não sendo hidrossolúvel, liga-se à albumina para chegar ao fígado. Fase intra-hepática No fígado, a bilirrubina indireta é captada por um processo de transporte facilitado e também por difusão. No interior do hepatócito, permanece ligada às proteínas da família da glutationa- S-transferase. Sofre, então, o processo de conjugação com ácido glicurônico pela ação da enzima UGT1A1, que é uma UDP-glicuronosil-transferase, e converte-se em mono e diglicuronato de bilirrubina, também denominadas bilirrubina direta. A conjugação torna-a hidrossolúvel e, portanto, incapaz de se difundir através de membranas celulares. A atividade enzimática total da UGT1A1 deve ser reduzida a menos de 50% do normal para chegar a produzir hiperbilirrubinemia não conjugada. A excreção biliar depende de uma ATPase transportadora de bilirrubina, conjugada através da membrana do polo biliar do hepatócito, denominada MRP2 (proteína associada à resistência a múltiplas drogas 2) ou cMOAT (transportador canalicular multiespecífico de ânions orgânicos). Fase pós-hepática Na bile, a fração direta representa 95% das bilirrubinas, 90% constituída por diglicuronato. A bilirrubina é conduzida pelos ductos biliar e cístico, atingindo a vesícula, onde pode permanecer armazenada. Pode, também, prosseguir através da ampola de Vater e atingir a luz do duodeno. Nos intestinos, parte da bilirrubina é excretada com o bolo fecal; o restante é metabolizado pela flora intestinal em urobilinogênios e é reabsorvido. A maior parte dos urobilinogênios do sangue é filtrada pelos rins e excretada na urina. Apenas uma pequena fração dos urobilinogênios é reabsorvida nos intestinos e novamente excretada para a bile. Toxicidade da bilirrubina A bilirrubina não-conjugada é tóxica para células e suas organelas. Alguns mecanismos fisiológicos protegem contra a toxicidade da bilirrubina, como a ligação à albumina plasmática, a rápida entrada da molécula no hepatócito, sua conjugação e seu clearance pelo fígado. Porém, quando sua concentração aumenta muito, principalmente em neonatos, começam a surgir evidências de danos no sistema nervoso central, como encefalopatia severa. Causas A icterícia é causada por uma elevação da bilirrubina sérica (hiperbilirrubinemia), que pode ser causada por: • Patologias pré-hepáticas o Frequentemente ocorrem devido ao aumento da hemólise o Causa aumento da bilirrubina não conjugada (indireta) o Inclui icterícia neonatal fisiológica Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! ▪ Causada pela imaturidade da UDP-glucuronosiltransferase; ocorre dentro de 24 horas após o nascimento e geralmente resolve sem tratamento em 1 a 2 semanas • Patologias intra-hepáticas o Pode dever-se a ▪ Captação hepática comprometida ▪ Conjugação de bilirrubina comprometida o Causa um aumento na bilirrubina conjugada (direta) e não conjugada (indireta) • Patologias pós-hepáticas o Muitas vezes ocorrem devido a ▪ Diminuição da eliminação de bilirrubina (via trato biliar) ▪ Aumento da recaptação de bilirrubina o Causa um aumento na bilirrubina conjugada (direta) Causas de aumento da bilirrubina indireta Assim, como causas de elevação de BI, podem-se considerar: 1) Aumento da produção de bilirrubina. 2) Diminuição da entrada da bilirrubina no hepatócito. 3) Diminuição da conjugação no hepatócito. O próximo passo é avaliar o hemograma e as provas de função hepática. No hemograma, deve- se observar principalmente o nível de hemoglobina. Se o nível de hemoglobina for baixo, aguda ou crônica, é possível que a causa seja um processo hemolítico. O nível de reticulócitos também pode ajudar a determinar a presença de anemia hemolítica. Se a causa do aumento da BI é hemólise, deve-se diferenciar se é intra ou extravascular. Nesse momento, avalia-se o nível de haptoglobina, proteína que normalmente se liga aos produtos da lise dos eritrócitos. Quando diminuída, a causa da hemólise é intravascular; se normal, é extravascular. Quando os níveis de bilirrubina indireta estão elevados, mas a hemoglobina está dentro do limite da normalidade, pode-se descartar com segurança causa hemolítica. Nesse caso, devem-se analisar os valores dos testes de função hepática. Se alanino aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e fosfatase alcalina (FA) estão normais, conclui-se que o problema está na entrada da bilirrubina no hepatócito ou na sua conjugação. Por outro lado, quando há aumento dos testes de função hepática, pode-se concluir que há dano celular, assim, o hepatócito torna-se incapaz de conjugar a bilirrubina de forma adequada. Dentre as desordens congênitas que resultam em aumento da bilirrubina não-conjugada, a síndrome de Gilbert é a mais freqüente, acometendo 3- 10% da população. É caracterizada por uma hiperbilirrubinemia indireta benigna que ocorre na ausência de hemólise ou doença estrutural do fígado. Manifesta-se por episódios intermitentes de icterícia, desencadeados por exposição a estressores físicos, baixa ingestão calórica, entre outros. A base genética da redução da atividade da enzima UDP- glucoronyltransferase foi descoberta em 1995 em uma população caucasiana, na qual todos os pacientes estudados apresentaram adição dos nucleotídeos TA na região TATAA box, presente no promotor do gene UGT1A1, em ambos os alelos. Embora considerada uma condição benigna, a síndrome de Gilbert tem sido recentemente associada a hiperbilirrubinemia e outros efeitos colaterais na utilização de algumas drogas como o Indinavir e Irinotecan. A síndrome de Crigler-Najjar também cursa com hiperbilirrubinemia indireta. Caracteriza-se por icterícia não-hemolítica, congênita, na qual se observa defeito na conjugação da bilirrubina. Pode ser dividida em dois grupos. A tipo 1 é uma desordem rara, em Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! que a atividade da enzima bilirrubina UGT-1 (bilirrubinaUDP-glucoronosil-transferase) está ausente, é caracterizada por icterícia e severo dano neurológico; já na tipo 2, a atividade enzimática encontra-se reduzida, apresenta evolução benigna, levando apenas à limitação social pela presença de icterícia crônica. A maioria dos pacientes não apresenta dano neurológico ou déficit intelectual. Causas de aumento de bilirrubina direta 1) Distúrbio no transporte para fora do hepatócito. 2) Distúrbio na saída do sistema biliar. Alguns sinais indicam aumento da bilirrubina direta, como presença de prurido e presença de bilirrubina na urina (BD é solúvel em água). Na presença de hiperbilirrubinemia direta, os próximos exames laboratoriais a serem analisados serão fosfatase alcalina (FA) e gamaglutamiltransferase (GGT). Quando BD, FA e GGT estão elevadas, conclui-se que o problema é na árvore biliar. Nesses casos, deve-se sempre pensar em causas obstrutivas, como colelitíase, tumor pancreático, entre outras. Porém, quando há aumento da BD com FA normal, a causa provável é defeito na secreção do hepatócito, como nas síndromes de Dubin-Johnson e de Rotor. A síndrome de Dubin-Johnson é caracterizada por hiperbilirrubinemia direta, não- hemolítica, de caráter autossômico recessivo. Geralmente, é diagnosticada após a puberdade e costuma exacerbar após quadros infecciosos ou após uso de alguns medicamentos. A histologia hepática apresenta pigmento localizadonos hepatócitos, o qual confere coloração típica ao órgão. A síndrome de Rotor é uma desordem congênita, autossômica recessiva que cursa com hiperbilirrubinemia conjugada. É rara, habitualmente diagnosticada durante a infância. Apresenta curso benigno. Os níveis de bilirrubina não costumam ultrapassar entre 2 e 5 mg/dL. A bilirrubina conjugada representa pelo menos 50% da total e ocorre bilirrubinúria. Apresenta histologia hepática normal. 4. Entender a icterícia no contexto das hepatopatias. Classicamente está associada às hepatopatias, porque a conjugação da bilirrubina ocorre em uma taxa relativamente constante no hepatócito, e a elevação dos níveis séricos desse metabólito pode ser marcador de alteração da função do fígado. Icterícias por hiperbilirrubinemia direta ou mista sinalizam a existência de disfunção hepatobiliar, que pode ser aguda ou crônica. Mais raramente, podem decorrer de distúrbios isolados do metabolismo da bilirrubina, sem repercussão em outros aspectos das funções do fígado. As hepatopatias, associadas às hiperbilirrubinemias diretas ou mistas, podem ser hepatocelulares (que resultam de inflamação e necrose lobular) ou colestases (cujas características centrais são a inibição do fluxo biliar e a retenção de ácidos biliares tóxicos). A análise das bilirrubinas, isoladamente, não permite distinguir entre etiologias hepatocelulares e colestáticas.7 A presença de bilirrubina na urina é marcador sensível para a detecção de doença hepatobiliar subjacente, devendo sempre ser valorizada pelo clínico. A bilirrubina conjugada pode ser detectada precocemente na urina, mesmo quando os níveis séricos ainda estão normais, porque a capacidade renal de reabsorção é reduzida. Da mesma maneira, a diminuição dos níveis de bilirrubinúria também é um indicador favorável de regressão da doença hepatobiliar, mesmo quando os níveis séricos de bilirrubina permanecem elevados, o que pode ser atribuído à bilirrubina delta. Os níveis de hiperbilirrubinemia geralmente se correlacionam com a intensidade da icterícia; essa regra, porém, não é linear. A concentração sérica de bilirrubina pode ser reduzida transitoriamente por salicilatos, sulfonamidas e ácidos graxos Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! livres, deslocando a bilirrubina da albumina plasmática, impregnando mais os tecidos. Por sua vez, a elevação da concentração sérica de albumina, como na desidratação, pode causar deslocamento de bilirrubinas teciduais para a circulação. Os níveis de hiperbilirrubinemia também podem guiar o raciocínio clínico. Hepatopatias parenquimatosas ou coledocolitíase com obstrução parcial extra-hepática manifestam elevações mais amenas que obstruções malignas do ducto biliar comum. Poucos estudos controlados avaliaram a utilidade de conhecer os níveis e a duração da hiperbilirrubinemia para avaliar prognóstico. Nas hepatites virais, níveis mais elevados de bilirrubinas correspondem a agressão hepatocelular mais intensa e curso mais prolongado da doença. Maiores níveis de bilirrubinemia também estão associados a pior prognóstico na hepatite alcoólica e na cirrose biliar primária. Porém, existem casos de insuficiência hepática fulminante com icterícia discreta que evoluem para óbito. Ocasionalmente, a intensidade da icterícia pode induzir o clínico a superestimar a disfunção hepática existente, como quando há hemólise ou insuficiência renal associadas. Icterícia no cirrótico A icterícia no paciente cirrótico decorre de alterações em diversas etapas do metabolismo da bilirrubina. Há perda de capacidade de transporte das bilirrubinas conjugadas, bem como liberação das bilirrubinas hepatocitárias para a circulação pela agressão aos hepatócitos, em razão da hepatopatia crônica de base. Além disso, parte das bilirrubinas oriundas do baço é desviada do fígado pelas vias colaterais portossistêmicas. Mesmo quando seguem o fluxo para o interior do fígado, deparam com um sistema sinusoidal capilarizado, isto é, empobrecido de fenestras, e, assim, com menores chances de adentrarem os hepatócitos. Como agravantes, a esplenomegalia pela hipertensão portal incrementa a hemocatérese, e a redução volumétrica de parênquima hepático diminui a capacidade de o indivíduo conjugar a bilirrubina. 5. Descrever a fisiopatologia da hepatite alcóolica relacionando ao quadro clínico. PATOLOGIA HEPÁTICA NO ALCOOLISMO A lesão hepática inicial e a mais frequentemente encontrada, quando há consumo agudo ou crônico de etanol, é a esteatose hepática. Sua patogênese, como visto anteriormente, está ligada aos processos bioquímicos de metabolização do etanol. Fundamentalmente, ocorre diminuição na degradação das gorduras, aumento de sua síntese e uma resposta lipoproteica inadequada no transporte da gordura para fora do fígado. Tanto a quantidade quanto o tipo de gorduras da dieta, como os ácidos graxos poli-insaturados, parecem ter importância para o grau de lesão. Na fase de esteatose, encontra-se grandes quantidades de lipídios neutros acumulados no interior dos hepatócitos, com distribuição inicial e preferencial na área centrolobular ou zona 3 de Rappaport. Classicamente, distinguem-se dois tipos de esteatose: a microgoticular e a macrogoticular. Esta última é mais frequente na DHA, podendo as gotas de gordura ser tão grandes, que deslocam o núcleo da célula para a periferia, próximo à membrana. Na atualidade, a intensidade da esteatose costuma ser avaliada semiquantitativamente em três graus,13 conforme os porcentuais de hepatócitos com gotas de gordura. No grau I, 5 a 33% de hepatócitos contêm gordura, no grau II, 33 a 66%, e no grau III, > 66% de células estão acometidas. Na esteatose hepática, a estrutura lobular do fígado encontra-se inalterada, a fibrose é ausente ou, quando presente, de grau mínimo, restringe-se às veias centrais, não havendo processo inflamatório associado. A hepatite alcoólica, diferentemente da esteatose, ocorre apenas em casos de etilismo crônico, embora possa ser resultante de uma exacerbação Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! alcoólica recente. A patogênese é multifatorial, e entre os fatores envolvidos cita-se a anoxia, para explicar a predominância da lesão em área centrolobular do fígado, onde os teores de oxigênio são mais baixos. Também a produção de radicais livres durante a oxidação do etanol e do acetaldeído, assim como a formação de agregados proteicos insolúveis (aductos), produzem lesões da membrana hepatocelular. Além do papel central das endotoxinas, já comentado, com aumentos de TNF-alfa (fator de necrose tumoral), IL-6 (interleucina-6), IL-8 (interleucina-8) e várias citocinas, outros fatores são o desenvolvimento de lesão imunológica, com formação de neoantígenos, e linfócitos citotóxicos agredindo as células. A caracterização de hepatite alcoólica é feita preferencialmente pela análise histopatológica de espécime obtida por biópsia ou necrópsia, embora alguns dados clínicos e laboratoriais possam ser bastante sugestivos desse diagnóstico. Na hepatite alcoólica, ocorre fundamentalmente necrose e/ou degeneração balonizante dos hepatócitos com reação inflamatória, na qual predominam caracteristicamente os polimorfonucleares neutrófilos e presença de fibrose fina entre as células hepáticas. Os processos degenerativos do hepatócito podem ocasionar o surgimento de aglomerados intracelulares de substância hialina, também denominados corpúsculos de Mallory.15 Assim como na esteatose, todo esse processo ocorre preferencialmente nas áreas centrolobulares, sendo importante o acometimento da veia central ou hepática, que também pode sofrer processo de esclerose hialina, com oclusão parcial ou total. A fibrose costuma se estender aos sinusoides, mostrando aspecto característico, particularmente na zona 3 de Rappaport.16 Como apenas 20% dos etilistas crônicos,com quantidade e tempo de etilismo semelhantes, desenvolvem cirrose, é possível afirmar que diferentes fatores, além desses, contribuem para essa evolução. Se for considerado o mesmo espaço de tempo, em média 20 a 40 anos de etilismo, sabe-se que, quanto maior a quantidade de etanol ingerido, maiores são as probabilidades de desenvolvimento de cirrose, podendo chegar a 50% dos casos. O grande fator patogênico para o desenvolvimento de cirrose é, certamente, a progressão da fibrose. Recentemente, diversos estudos têm elucidado os complexos mecanismos da fibrogênese e, em menor proporção, da possível degradação da matriz extracelular, tanto por ação das colagenases quanto por outros mecanismos.17 Na cirrose, assim como em outras doenças hepáticas, o dano celular e o processo inflamatório propiciam a evolução para regeneração celular e fibrose. Na cirrose alcoólica, caracteristicamente, os nódulos de regeneração costumam ser pequenos (micronódulos) e a fibrose que os envolve não é extremamente densa. Nas fases finais da cirrose alcoólica, entretanto, principalmente quando o tempo de abstinência é longo, os dados histopatológicos sugestivos dessa etiologia desaparecem totalmente. Assim, apenas em fases “floridas” ou nas associações com hepatite alcoólica, é possível encontrar, em um mesmo fragmento de fígado, as três fases da DHA: esteatose, hepatite alcoólica e cirrose. A hepatite alcoólica tem quadro clínico extremamente variável, usualmente classificado como leve, moderado e grave. Nas formas histologicamente leves ou moderadas, pode haver sintomas inespecíficos em cerca de 60% dos casos, com icterícia em 10 a 15%. As queixas podem ser de: anorexia, fadiga ou dor epigástrica, e os achados de hepatomegalia, com aumentos de enzimas hepáticas. Pelo exposto, verifica-se que o diagnóstico diferencial com a simples presença de esteatose é impossível em bases clínicas. Nos casos de hepatite alcoólica grave, no entanto, os dados clínicos podem ser mais específicos, lembrando insuficiência hepatocelular, ou seja, icterícia, ascite, encefalopatia e hemorragias. De modo geral, na hepatite alcoólica, os pacientes têm mais queixas que na simples esteatose e apresentam-se com aspecto mais enfermo. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! A anorexia pode ser intensa e, caracteristicamente, a hepatomegalia costuma ser dolorosa. Também é clássica a referência de uma exacerbação do consumo alcoólico, precedendo o início dos sintomas. Mesmo na ausência de cirrose, pode haver hipertensão portal e, tanto os sangramentos quanto a instalação de encefalopatia hepática, são indicativos de mau prognóstico. Entre as alterações laboratoriais, além das enzimas hepáticas, da macrocitose, dos lipídios e do aumento de bilirrubinas, pode haver leucocitose acentuada por aumento dos polimorfonucleares, com desvio para formas jovens. É necessário descartar a presença de infecções, na presença ou ausência de febre, embora esse quadro laboratorial se explique apenas pela hepatite alcoólica. Após a hospitalização, o paciente com hepatite alcoólica grave pode apresentar súbita e acentuada queda do estado geral, verificada também nos exames laboratoriais. A possível explicação para a deterioração do estado geral desses pacientes reside na retirada do álcool, fonte praticamente única de energia desses indivíduos antes da internação, com suas consequências nutricionais e metabólicas. A readaptação à dieta é dificultada por extrema anorexia associada a náuseas e outras manifestações digestivas. Outro fator complicador na hepatite alcoólica grave é o surgimento de lesões, ao exame de imagem, que sugerem presença de “tumor”; ou mais frequentemente múltiplos tumores. Essa aparência pseudotumoral costuma estar relacionada com intensa hiperplasia regenerativa focal, a qual pode se acompanhar de aumentos de alfafetoproteína sérica, dificultando ainda mais o diagnóstico diferencial com carcinoma hepatocelular. Na evolução do quadro clínico da hepatite alcoólica grave, outra característica fundamental é a lenta reversão dos sintomas. Embora os maiores índices de mortalidade ocorram nos primeiros 30 a 60 dias após a internação, a recuperação do paciente costuma demorar cerca de 6 meses. Ler também: https://sbhepatologia.org.br/pdf/7.pdf 6. Citar os fatores de piora da função hepática dos pacientes cirróticos (falar do hepatocarcinoma). HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA HEPÁTICA ALCOÓLICA (DHA) A maior parte dos indivíduos que faz uso do álcool acima dos teores relatados anteriormente deverá desenvolver esteatose hepática, etapa inicial da enfermidade. A esteatose alcoólica foi extensamente estudada em animais de experimentação,14 mas sua real incidência em humanos é difícil de ser calculada. Embora o acúmulo de gordura nas células hepáticas indique alterações metabólicas acentuadas, estas não se traduzem em sintomas clínicos. Apenas a investigação ativa conduz ao diagnóstico. As evidências histológicas de esteatose costumam desaparecer com 2 a 6 semanas de abstinência, dependendo de sua gravidade. A redução substancial de ingestão alcoólica, sem abstinência total, também é compatível com a regressão da esteatose. A persistência do abuso alcoólico é compatível tanto com a permanência da esteatose quanto com a sua evolução para hepatite alcoólica e cirrose. A degeneração gordurosa dos hepatócitos pode persistir, apesar da abstinência alcoólica, principalmente nos indivíduos obesos e/ou pré- diabéticos. Aceita-se que após 1 a 3 anos de ingestão alcoólica diária, em níveis acima dos aceitáveis, exista a possibilidade do surgimento de hepatite alcoólica, em fígado previamente com esteatose. As hepatites alcoólicas de manifestação clínica, entretanto, muito frequentemente ocorrem 1 ou 2 décadas após o início do consumo alcoólico, como exacerbação do processo inflamatório em fígado com cirrose já estabelecida. O papel da hepatite alcoólica na história natural da DHA ainda é controverso. Inicialmente, aceitou-se que ela seria precursora da cirrose, uma etapa quase obrigatória para sua instalação. Vários estudos, entretanto, https://sbhepatologia.org.br/pdf/7.pdf Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! valorizam outros marcadores histológicos, que podem ou não estar presentes na hepatite alcoólica, como fibrose perissinusoidal, fibrose perivenular ou oclusão de veia terminal. É fundamental ressaltar que o surgimento tanto da hepatite alcoólica quanto de quaisquer dessas outras lesões anatomopatológicas, precursoras da cirrose hepática, pode não ser acompanhado de sintomatologia clínica. Novamente, nessa fase da história natural da DHA, a investigação ativa é indispensável para o diagnóstico do acometimento hepático. Em raras ocasiões, são observadas manifestações clínicas que, unidas aos dados epidemiológicos, podem sugerir DHA, e entre elas febre, icterícia ou dolorimento hepático na hepatite alcoólica ou o surgimento de ascite/hipertensão portal por oclusão de veias terminais, em fase pré-cirrótica. Pela carência de dados clínicos, o estudo da história natural da hepatite alcoólica necessita de repetidas biópsias hepáticas, sempre difíceis de serem obtidas. Alguns autores, procurando as causas de progressão ou involução da hepatite alcoólica, relacionaram-na com o sexo. Enquanto nas mulheres a progressão para a cirrose foi de 58,3%, independentemente da abstinência alcoólica, nos homens foi de apenas 14,3%, sempre relacionada com a continuidade do alcoolismo. Também a gravidade da lesão anatomopatológica, na hepatite alcoólica, parece ser um fator determinante de progressão para a cirrose. Nos graus leve e moderado não houve progressão, que foi sistemática nos graus mais acentuados. O desenvolvimento da cirrose alcoólica costuma ser lento e silencioso. Assim, mesmo com cirrose plenamente instalada, o pacientepermanece assintomático e não procura auxílio médico. Apenas a investigação ativa é capaz de diagnosticar os casos compensados de cirrose alcoólica. O surgimento de sintoma clínico, ou descompensação, costuma ocorrer em ritmo de 10% ao ano. Em um período de 10 anos, as probabilidades de desenvolver descompensação são de 58%. Tanto nesses estudos quanto em nossa experiência brasileira, o surgimento de ascite é a primeira e a mais comum das descompensações da cirrose alcoólica. O desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, mais frequente no sexo masculino, é um dos agravantes na história natural da cirrose alcoólica, podendo ocorrer em até 26% dos casos. A regeneração hepatocelular, provavelmente associada à abstinência alcoólica, também tem sido referida como um dos fatores que propiciam o surgimento do carcinoma. A sobrevida de cinco anos em pacientes com cirrose alcoólica, a partir de sua primeira descompensação, costuma ser de 30 a 40%, sendo adversamente influenciada pela continuidade do hábito alcoólico, falência hepatocelular, hipertensão portal ou hepatite alcoólica. Separando cirroses compensadas e descompensadas, a sobrevida de seis anos foi de 56% para o primeiro grupo e de 21% para o segundo. Cerca de 75% dos pacientes com cirrose alcoólica têm nessa doença hepática sua causa de óbito. Todo indivíduo com mais de 10 anos de alcoolismo crônico está em risco de desenvolver cirrose. Esse risco aumenta quando há outras doenças associadas, por exemplo, a concomitância com vírus das hepatites, tanto a hepatite C quanto a hepatite B, que cursam de maneira assintomática. Associações com outras doenças hepáticas, como excesso de ferro, deficiência de alfa-1 antitripsina ou mesmo síndrome metabólica, caracterizada por obesidade, diabete tipo 2, hipertensão arterial e alterações do metabolismo dos lipídios também contribuem para acelerar o desenvolvimento de cirrose hepática, quando associados a alcoolismo. Em virtude de grande prevalência, a hepatite pelo vírus C (HVC) é a mais estudada dentre essas associações. Vários autores têm demonstrado que a associação de álcool com HVC acelera a progressão da fibrose hepática. O risco aumenta em 2 a 3 vezes nos indivíduos com HVC e álcool, quando comparados à HVC sem álcool. Enquanto a simples ingestão alcoólica > 80 g/ dia aumenta o risco Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular em 5 vezes, esse risco aumenta para 20 vezes quando a HVC se associa ao álcool. 7. Descrever o tratamento farmacológico e da equipe multiprofissional no alcoolismo. Tratamento Reconhecer que se precisa de ajuda para um problema com álcool talvez não seja fácil. Porém, tenha em mente que, o quanto antes vier a ajuda, melhores serão as chances de uma recuperação bem sucedida. A natureza do tratamento depende da gravidade do alcoolismo do indivíduo e dos recursos disponíveis na comunidade. O tratamento pode incluir a desintoxicação (o processo de retirar o álcool do sistema de uma pessoa com segurança); tomar medicamentos receitados pelo médico para ajudar a evitar o retorno à bebida, uma vez que já parou; e aconselhamento individual e/ou em grupo. Há tipos de aconselhamentos promissores que ensinam a recuperar dependentes de álcool e a identificar situações e sentimentos que levam à necessidade de beber e de descobrir novas maneiras de lidar com a ausência do álcool. Quaisquer destes tratamentos podem ocorrer tanto em um hospital, como em sua própria residência ou ainda ambulatorial (o paciente fica em sua casa e vai às consultas, até todos os dias). Como o envolvimento com a família é importante para a recuperação, muitos programas oferecem aconselhamento conjugal e terapia familiar como parte do processo de tratamento. Alguns programas podem oferecer para o dependente recursos vitais da comunidade como a assistência legal, treinamento de trabalho, creche e aulas para pais. Alcoólicos Anônimos Quase todos os programas de tratamento do alcoolismo também incluem encontros de Alcóolicos Anônimos (AA), cuja descrição é “uma comunidade mundial de homens e mulheres que se ajudam a ficarem sóbrios”. Enquanto o AA é geralmente reconhecido como um programa eficiente de autoajuda para recuperar dependentes de álcool, nem todas as pessoas respondem positivamente ao estilo e mensagens do AA, e outras abordagens podem estar disponíveis. Até mesmo, os que vêm conseguindo ajuda pelo AA geralmente descobrem que a recuperação funciona melhor com outros tratamentos juntos, inclusive aconselhamento e tratamento médico. Medicações As medicações ajudam a regular as substâncias químicas no cérebro responsáveis por aumentar a vontade de beber, além de reduzir a ansiedade ou aliviar os sintomas de abstinência quando se para de beber, como tremores, fraqueza ou alucinações. Atualmente, este tratamento é realizado com base em três fármacos principais: o dissulfiram, a naltrexona e o acamprosato, que são, nos Estados Unidos, aprovados pelo Food and Drug Administration, FDA. Dissulfiram O dissulfiram é uns dos primeiros medicamentos aprovados pela FDA para o tratamento do alcoolismo. Trata-se de um inibidor das enzimas que decompõem o álcool em acetaldeído. A inibição da enzima acetaldeído-desidrogenase provoca um acúmulo de acetaldeído no organismo, levando à reação etanol-dissulfiram, caracterizada por fortes náuseas, vômitos ou até convulsões. Ou seja, essa medicação busca fazer com que o indivíduo crie uma aversão à bebida alcoólica devido aos efeitos colaterais, ou seja, produz reações tóxicas quando o medicamento é ingerido logo após o consumo de álcool. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! Naltrexona A naltrexona é um medicamento utilizado como coadjuvante das intervenções psicossociais no tratamento do alcoolismo. Ela atua farmacologicamente como um antagonista nos receptores opióides, reduzindo os efeitos prazerosos do álcool, os desejos e sentimentos de euforia associados ao uso de substâncias alcoólicas. O álcool estimula indiretamente a atividade dos opióides endógenos ao promover a liberação dos peptídeos endógenos (encefalinas e beta- endorfinas). Através da atividade excitatória destes peptídeos, as sensações prazerosas do álcool seriam mediadas pela estimulação dopaminérgica dos neurônios em uma região do cérebro denominada núcleo accumbens. Um outro mecanismo da naltrexona é a atividade inibitória dos peptídeos endógenos sobre os interneurônios gabaérgicos, localizados numa área do cérebro chamada área tegmental ventral. Tais interneurônios exercem efeitos inibitórios sobre os neurônios dopaminérgicos. Assim, o uso de antagonistas opióides como a naltrexona, reduz o consumo de álcool através do bloqueio pós-sináptico destes receptores nas vias mesolímbicas. Alguns estudos relatam dois tipos de resposta ao tratamento do alcoolismo de acordo com os o tipo de usuário: “bebedores de alívio” e “bebedor de recompensa”. Os “bebedores de alívio” são caracterizados pelo consumo de álcool ser mantido para aliviar os estados afetivos negativos, como a angústia. Já o “bebedor de recompensa” utiliza o álcool por seus efeitos positivos e recompensadores, destacando indivíduos que gostam e desejam excessivamente o álcool, em particular as sensações descritas como “prazerosas” relacionadas a estar sob o efeito do álcool. Para o usuário “bebedor de recompensa”, alguns pesquisadores mostraram que este perfil responde melhor o tratamento com naltrexona. Em adultos jovens, por exemplo, um estudo mostrou que pacientes com alto nível de mecanismos de recompensa e alívio obtiveram melhores respostas com o tratamento, quando comparado ao placebo. Acamprosato O acamprosato também tem se mostrado eficaz no tratamento da dependência de álcool. Ele inibe a atividade excitatória do glutamatono cérebro, agindo, provavelmente, em uma subclasse dos receptores glutamatérgicos (NMDA), especialmente quando há hiperatividade destes receptores. O acamprosato tem sido considerado um coagonista parcial do receptor NMDA. Estudos em animais indicaram que esta medicação reduz a recaptação do cálcio induzida pelo glutamato nos neurônios, suprimindo as respostas condicionadas ao etanol, reduzindo os efeitos aversivos da retirada do álcool além de inibir a hiperexcitabilidade cerebral do glutamato e a expressão gênica do c-fos (um gene de ação ativadora). Também há estudos que descrevem uma atividade sobre o sistema gabaérgico. O acamprosato melhora a recaptação do GABA no tálamo e hipotálamo. Desta forma, parece modular a atividade dopaminérgica no núcleo accumbens, reduzindo o reforço positivo relacionado ao consumo de álcool. É importante reforçar que o tratamento do alcoolismo não ocorre de maneira isolada. O resultado de um tratamento farmacológico também depende da abordagem psicoterápica como a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). Além disso, o tratamento farmacológico do alcoolismo sempre passa por atualizações e que existem possibilidades de combinações de outras classes de medicamentos, visando tratar possíveis comorbidades. Essas medicações devem sempre ser usadas com indicação e orientação de um psiquiatra. O tipo de tratamento mais adequado para cada pessoa depende de suas características pessoais, da quantidade de bebida alcoólica que costuma ingerir e se já apresenta problemas de ordem emocional, física ou interpessoal decorrentes desse uso. https://cisa.org.br/index.php/sua-saude/informativos/artigo/item/320-terapia-cognitivo-comportamental-tcc-no-tratamento-da-dependencia-de-alcool https://cisa.org.br/index.php/sua-saude/informativos/artigo/item/320-terapia-cognitivo-comportamental-tcc-no-tratamento-da-dependencia-de-alcool Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.1 – A vida é dura! 8. Estudar os impactos da HA na vida do indivíduo, da sua comunidade e no sistema de saúde. Além de diversos problemas de saúde provocados pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o alcoolismo também causa problemas sociais graves que está diretamente relacionado à violência no trânsito, violência doméstica, abandono escolar e abandono do emprego, ou seja, causando perdas financeiras e consequentemente familiares. No âmbito familiar o alcoolismo é responsável por desavenças entre casais chegando muitas vezes a agressões verbais e físicas. Os filhos também geralmente são vítimas dos pais alcoólatras sofrendo com violência doméstica o que os prejudica no desempenho escolar e social. O alcoolismo prejudica o indivíduo na sua vida escolar e na vida profissional fazendo com ele perca o interesse em aprender e abandone os estudos e o trabalho, o que acarreta a perca de confiança e autoestima e muitas vezes provocam uma forte depressão no indivíduo.