Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1. Cirrose Hepática com foco na Cirrose Hepática Alcóolica SP1–UCII . • DEFINIÇÃO DE CIRROSE: fibrose hepática difusa com a substituição da arquitetura hepática normal por nódulos, caracteriza-se como via final da doença para ampla variedade de doenças crônicas do fígado. • A taxa de progressão da doença hepática crônica para cirrose pode ser bastante variável, de semanas a décadas, dependendo da história natural de cada doença. • EPIDEMIOLOGIA: A cirrose afeta pessoas particularmente em anos mais produtivas de suas vidas e é uma das principais causas de mortalidade no Brasil e no mundo. • A cirrose e suas complicações foram responsáveis no ano de 2010, em 187 países, por cerca de 1 milhão de mortes. • Mais comum em homens (40 -68 anos). • ETIOLOGIA: • FISIOPATOLOGIA: • Embora as causas de cirrose sejam multifatoriais, existem algumas características comum a todas as etiologias de cirrose, tais como: degeneração e necrose de hepatócitos, substituição do parênquima hepático normal por tecido fibrótico, forma de nódulos de regeneração e perda de função hepática. • Vários fatores celulares e moleculares estão envolvidos na progressão de fibrose hepática, entretanto, a ativação das células estreladas hepáticas é um evento crucial para o desenvolvimento de cirrose. • Esse evento se caracteriza pela proliferação e migração celular, contração após a transformação em miofibroblastos, geração de colágeno e matriz extracelular e por fim levando à fibrose. • A distorção da arquitetura hepática pelos nódulos de regeneração é responsável pelo componente mecânico e a ativação das células estreladas hepáticas é responsável pelo componente dinâmico da hipertensão portal. • QUADRO CLÍNICO: • Hipertensão portal (HP) e insuficiência hepática são as duas principais síndromes decorrentes da cirrose e são responsáveis pelas principais manifestações clínicas de cirrose: ascite, hemorragia digestiva, encefalopatia hepática e icterícia, respectivamente. • A cirrose se distingue dois estágios principais e distintos: cirrose compensada e cirrose descompensada. • No primeiro estágio, podem ser identificadas dois grupos de pacientes, de acordo com a presença ou ausência de varizes gastroesofágicas. • Por outro lado, a cirrose descompensada é definida pelo desenvolvimento de manifestações clinicamente evidentes. • A transição da cirrose assintomática (compensada) para a fase descompensada acontece com taxa de 5% a 7% por ano. • Após o primeiro evento de descompensação, a cirrose torna-se uma doença sistêmica, com potencial disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. • Nessa fase o paciente torna-se susceptível a infecções devido ao comprometimento do sistema imune com altas taxas de mortalidade. • A média de sobrevida de paciente com cirrose compensada é de 12 anos e para os casos de cirrose descompensada é de dois anos. • DIAGNÓSTICO: • Diagnóstico laboratorial: • No diagnóstico laboratorial da cirrose hepática alguns exames poderão indicar a presença de lesão hepatocelular, colestase ou déficit de função hepática. Enzimas associadas à lesão hepatocelular. • As aminotransferases são enzimas que quando se apresentam com níveis séricos elevados indicam lesão do hepatócito representada pela perda da permeabilidade seletiva ou a morte da célula, sendo, portanto, associadas à presença de atividade necroinflamatória. • Nos pacientes cirróticos, as aminotransferases estarão alteradas se o fator etiológico da cirrose e/ou sistema imune estiver ativo, por exemplo, hepatite C, hepatite B, hepatite autoimune, etc. • Predominância dos níveis séricos da aspartato aminotransferase (AST) sobre os níveis séricos da alanina aminotransferase (ALT). Esse fato resulta da diminuição da massa celular hepática produtora de ALT, considerando-se que a ALT ocorre predominantemente no fígado, enquanto a AST estará presente também em outros tecidos, como o músculo esquelético, miocárdio etc. que poderão estar menos comprometidos pela enfermidade presente. • Enzimas associadas à colestase: • Fosfatase alcalina e gama glutamil transferase (GGT) são enzimas presentes nos colangiócitos. • Seus níveis séricos poderão estar alterados nos pacientes cirróticos quando o fator etiológico estiver associado à colestase, por exemplo, colangite biliar primária, colangite biliar secundária, colangite esclerosante etc. • A interpretação dos resultados associados a essas enzimas deverá ser feita quando ambas estiverem conjuntamente elevadas, pois elevações isoladas poderão representar condições não associadas ao fígado ou às vias biliares. • Indicadores da atividade sintética do fígado: • As bilirrubinas, a albumina e a protrombina são os verdadeiros indicadores da função hepática, pois representam a capacidade sintética do fígado. • Quando os níveis séricos das bilirrubinas estiverem elevados, deverá sempre ser identificada qual é a fração predominante, se é a conjugada ou a não conjugada. • Em um paciente cirrótico, ocorrendo alteração da bilirrubina com predomínio da fração conjugada, deverá ser considerada a presença de colestase associada ao fígado cirrótico, especialmente se GGT e fosfatase alcalina estiverem elevadas conjuntamente. • De outro modo, se em um paciente com cirrose hepática surge icterícia com predomínio da bilirrubina não conjugada, esse fato poderá indicar dificuldade do hepatócito para realizar a conjugação da bilirrubina, indicando a possibilidade de estar presente a insuficiência hepática. • A albumina é uma proteína produzida exclusivamente pelo fígado e apresenta vida média variando de 19 a 21 dias. • Portanto, é um indicador de insuficiência hepática crônica, não prestando para avaliar a insuficiência hepática aguda. Habitualmente, encontra-se com valores abaixo do normal em pacientes cirróticos. • A protrombina é uma proteína plasmática inativa produzida exclusivamente pelo fígado. • Também é referida como fator II da coagulação, sendo precursora da trombina, e tem como cofator a vitamina K. • O estudo da protrombina é realizado pelo teste chamado tempo de ativação da protrombina. • O prolongamento anômalo do tempo de ativação da protrombina poderá estar associado a duas situações: 1. insuficiência hepática, o que ocorre no fígado cirrótico insuficiente; e 2. deficiência da vitamina K, como poderá ocorrer nas colestases ou nas condições que reduzem a oferta de vitamina K para a luz intestinal. • Diagnóstico não invasivo da cirrose por meio de exames laboratoriais: • De posse destes e de outros exames laboratoriais (hemograma completo, creatinina etc.) e dos dados clínicos obtidos pela anamnese e pelo exame físico, poder-se-á estimar o diagnóstico de cirrose ou o prognóstico evolutivo de um paciente cirrótico realizando o cálculo do APRI (AST to Platelet Ratio Index), do FIB-4 e do escore Child-Pugh-Turcotte. • Diagnóstico da cirrose hepática com utilização de exames por imagens: • Ultrassonografia simples e com estudo hemodinâmico por Doppler: • Tamanho do fígado. • Irregularidade do bordo hepático (serrilhamento). • Consistência do parênquima hepático (ecotextura heterogênea). • Nodularidade da superfície hepática. • Velocidade do fluxo sanguíneo na veia porta. • Calibre da veia esplênica. • Identificação de colaterais. • Identificação de nódulos sólidos no fígado cirrótico. • O estudo das alterações hemodinâmicas poderá ser realizado com a utilização do Doppler, que permitirá obter os seguintes dados: • Volume de sangue presente na veia porta. • Velocidade média ou máxima do sangue na veia porta. • Evidência de fluxo sanguíneo portal. • Índice de congestão da veia porta. • Perfusão portal efetiva no fígado. • Índices de resistência das artérias do fígado e do baço. • Deve-se observar que o fluxo do sangue na veia hepática direitanormalmente apresenta ondas trifásicas, e quando for evidenciado fluxo de padrão bifásico ou monofásico em geral ele estará associado à fibrose avançada. • Existem quatro métodos de estudo que avaliam a rigidez do fígado: dois têm por base o estudo pela elastografia, destacando-se a elastografia transitória e a elastografia com ressonância magnética; outros dois utilizam a tecnologia ARFI (acoustic radiation force impulse), que são o pSWE (point shear wave elastography) e o SWE bidimensional (2D). • Tomografia computadorizada e ressonância magnética: • A tomografia computadorizada e a ressonância magnética complementam o diagnóstico de hepatopatia crônica com a reprodução de sinais semelhantes aos observados por meio da US – serrilhamento de bordos, heterogeneidade do tecido hepático. • Entretanto, outros dados como o calibre das veias hepáticas, a relação lobo caudado/lobo direito e o diâmetro do baço demonstraram clara diferenciação entre o fígado normal e o fígado cirrótico, mas o principal papel destinado para esses instrumentos diagnósticos é o rastreio e o estudo de nódulos eventualmente presentes no fígado cirrótico cujo tamanho venha a ultrapassar 1 cm, pois poderá tratar-se de um hepatocarcinoma em fase inicial, cujo diagnóstico em fase inicial possibilitará a utilização de terapias curativas. • Do mesmo modo, estses métodos auxiliam no diagnóstico diferencial de outros nódulos sólidos eventualmente presentes no fígado. • Endoscopia digestiva alta: • Uma vez estabelecido o diagnóstico de cirrose hepática, dentre os variados estudos diagnósticos, torna-se imprescindível a realização de endoscopia digestiva alta (EDA), mesmo que o paciente esteja assintomático. • O objetivo da realização da EDA é definir se o paciente apresenta sinais indicativos da presença de hipertensão portal, como varizes esofagogástricas, gastropatia congestiva, estômago em “watermellon”, além de outras alterações menos frequentes. • As varizes estão presentes em 30 a 40% dos pacientes portadores de cirrose compensada e em 65 a 85% dos pacientes com cirrose descompensada no momento do diagnóstico. • Se as varizes não forem identificadas e se não forem adotadas medidas preventivas para evitar sua ruptura e sangramento, esses pacientes ficarão sob grande risco. • O objetivo do exame endoscópico é inicialmente identificar a presença ou não das varizes. • Pacientes cirróticos que se apresentam sem varizes esofago-gástricas, com doença ativa, deverão realizar EDA a cada 2 anos; estando a doença inativa, realizar a cada 3 anos. • De outro modo, pacientes com varizes de fino calibre e doença ativa deverão realizar EDA anualmente; e os que estiverem com a doença inativa, a cada 2 anos. • Exames específicos associados às diferentes etiologias da cirrose: • ESCORES DE AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA • Escore de Child-Pugh-Turcotte • Nesse escore são consideradas três variáveis numéricas e 2 variáveis clínicas. De acordo com a pontuação, os pacientes que obtiverem 5 ou 6 pontos serão classificados como Child A, os que obtiverem de 7 a 9 pontos serão classificados como Child B e os que obtiverem de 10 a 15 pontos serão classificados como Child C, sendo estes últimos os que apresentarão pior prognóstico evolutivo. • Escala MELD • Representa um escore prognóstico numérico que tem sido muito útil para avaliar o prognóstico de pacientes com cirrose descompensada. • Também tem sido utilizado para alocação dos pacientes cirróticos em filas de transplante hepático. • Na composição de sua fórmula são utilizados os resultados das determinações séricas da creatinina, da bilirrubina total e da INR. • Há também a proposta de acrescentar a esse cálculo o Na sérico (MELD-Na), realçando desse modo o importante papel da hiponatremia na definição do prognóstico em pacientes cirróticos descompensados. • ≥ 40: 100% de mortalidade. • 30 a 39: 83% de mortalidade. • 20 a 29: 76% de mortalidade. • 10 a 19: 27% de mortalidade. • ≤ 9: 4% de mortalidade. • ESTADIAMENTO CLÍNICO DA CIRROSE HEPÁTICA • A cirrose hepática, independentemente de seu agente causador, é considerada o estágio final da evolução de uma doença hepática crônica. • As manifestações clínicas associadas à presença da cirrose poderão variar de condições assintomáticas até estágios caracterizados pela falência múltipla de órgãos. • As manifestações clínicas da cirrose são decorrentes principalmente da hipertensão portal e de suas consequências hemodinâmicas e/ou insuficiência hepática. • Considerando a evolução clínica, os pacientes cirróticos poderão ser classificados em dois grandes estágios: estágio de cirrose compensada e estágio de cirrose descompensada. • Estágios de cirrose compensada: • O paciente em geral está assintomático e não apresenta ascite, sangramento das varizes, encefalopatia hepática ou icterícia. • Nesses pacientes a insuficiência hepática é mínima ou ausente e a hipertensão portal é o mecanismo patogênico predominante que leva à descompensação. Tomando por base o gradiente de pressão porto/cava, esses pacientes poderão ser subclassificados em: o Cirrose compensada com hipertensão portal leve (clinicamente não significante) – são definidos como aqueles pacientes que apresentam gradiente de pressão (pressão da veia porta – pressão da veia cava) entre 5 e 10 mmHg. Nessa fase predomina a resistência intra-hepática. O objetivo no acompanhamento desses pacientes é eliminar o agente causal com objetivo de evitar o desenvolvimento das complicações. Nesse estágio os pacientes não apresentam varizes esofagogástricas ou qualquer outra complicação (ascite, encefalopatia hepática etc.). o Cirrose compensada com hipertensão portal clinicamente significante – está presente em pacientes cujo gradiente de pressão é ≥ 10 mmHg. Nesses pacientes, além da resistência intra-hepática, o aumento do fluxo esplâncnico passa a assumir importante papel na hipertensão portal, com surgimento da circulação hiperdinâmica. Nessa fase, o principal objetivo é evitar a descompensação. Nesse estágio os pacientes poderão ou não apresentar varizes esofagogástricas, definindo desse modo subgrupos que incluirão pacientes com ou sem varizes esofagogástricas, com gradiente de pressão ≥ 10 mmHg. • Estágio da cirrose descompensada: • É o estágio sintomático da cirrose e caracteriza-se pela presença de ascite, sangramento gastrointestinal portal hipertensivo, encefalopatia hepática ou icterícia. • Nesse estágio, o principal mecanismo hemodinâmico é a circulação hiperdinâmica e a hipertensão portal. • Nesse estágio também poderão ser considerados subgrupos, como: • Pacientes que apresentam hemorragia digestiva alta secundária a sangramento das varizes gastroesofágicas – estágio 3. • Pacientes que apresentam ascite e/ou encefalopatia hepática e/ou hemorragia por varizes. Essas complicações poderão se apresentar isoladamente ou associadas – estágio 4. • AÇÕES PREVENTIVAS PARA PROTEÇÃO DO PACIENTE COM CIRROSE HEPÁTICA • Considera-se que o período máximo de intervalo entre uma avaliação e outra deverá ser de até 6 meses. Exames a serem solicitados rotineiramente: • MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO PACIENTE CIRRÓTICO • Completa abstinência quanto ao consumo de bebidas alcoólicas; • Vacinação contra vírus da hepatite A se anti-HVA IgG for negativo (2 doses, com intervalo de 6 meses). Conferir imunidade após última aplicação – anti- HVA IgG deverá ser positivo; • Vacina contra vírus da hepatite B se anti-HBs < 10 mUI/L (3 doses, com intervalos de 30 e 180 dias após aplicação da primeira dose). Conferir imunidade após última aplicação – anti-HBs deverá ser positivo, ou seja > 10 mUI/L. Sendo negativo, novo esquema de vacinação; • Vacina pneumocócica polivalente – dose única; • Vacina contra a gripe – anual, se possível em abril/maio; • Evitarmedicamentos hepatotóxicos, em especial anti-inflamatórios não esteroidais; • Evitar suplementos com ferro, a menos que esteja presente anemia por deficiência de ferro. Preferir polivitamínicos sem ferro; • Dieta com pouca gordura e com restrição de sal. Pacientes cirróticos sem complicações poderão consumir de 1 a 1,5 g de proteínas/dia. Consultar nutricionista; • Evitar cirurgias eletivas caso surjam sinais de descompensação hepática. Compensar o paciente; 2. Complicações da Cirrose Hepática • Encaminhar o paciente para serviço de transplante de fígado se MELD > 15 ou se for < 15, mas com complicações importantes; • Evitar entrar em águas de enseadas ou baías no litoral. Risco de infecção pelo Vibrio vulnificus em soluções de continuidade da pele ou mucosas; • Evitar o consumo de frutos do mar, crus ou mal- cozidos; • Tomar diariamente 3 xícaras de café, preparado em coador (o café inibe a atuação de enzimas que auxiliam no processo de degeneração do fígado) - (EASL, 2018). • HIPERTENSÃO PORTAL • A hipertensão portal é definida pelo aumento do gradiente de pressão portal, ou seja, a diferença de pressão entre a veia porta e a veia cava inferior. • Cirrose é a causa mais comum de hipertensão portal, entretanto, existem outras causas de HP, que são denominadas “não cirróticas”. • Na cirrose, a hipertensão portal é decorrente do aumento da resistência vascular intrahepática ao fluxo portal, devido a distorção da arquitetura hepática (componente mecânico) e aumento do tônus hepático (componente dinâmico). • Uma vez instalada, a HP influencia os leitos vasculares extra-hepáticos tanto na circulação sistêmica como na circulação esplâncnica, levando, respectivamente, à formação de vasos colaterais (angiogênese ou abertura de vasos previamente fechados) e vasodilatação arterial. • Aumento da produção de vasodilatadores como óxido nítrico, prostaciclina, glucagon, dentre outros, associado à resposta anômala aos vasoconstritores e angiogênese decorrentes da HP levam à vasodilatação arterial esplâncnica, que por sua vez leva à diminuição do volume sanguíneo efetivo e hipotensão. • Como consequência, há ativação de fatores neuro- humorais, retenção de sódio e água, hipervolemia e aumento do débito cardíaco. • Esse processo ajuda a aumentar o fluxo sanguíneo na veia porta (“retroalimentação”), agravando a HP. • Com o agravamento da mesma, são ativados outros mecanismos vasoconstritores como hormônio antidiurético, as alterações hemodinâmicas também se agravam e outras complicações também se desenvolvem como hiponatremia, síndrome hepatorrenal, etc. • ASCITE: • Ascite é definida pelo acúmulo anormal de líquido na cavidade abdominal. • Ascite é a causa mais comum de descompensação na cirrose, 5% a 10% dos pacientes com cirrose compensada por ano desenvolver essa complicação. • A principal teoria da formação de ascite é a vasodilatação arterial periférica, levando à retenção de sódio e água, devido à ativação do sistema renina angiotensina aldosterona (RAA) e sistema nervos simpático. • Além disso, na cirrose há diminuição síntese albumina e redução da pressão oncótica vasos esplâncnicos, levando à extravasamento do fluido para a cavidade peritoneal. • Na síndrome de hipertensão portal decorrente de cirrose há alteração da permeabilidade intestinal (pressão capilar), facilitando o acúmulo de líquido na cavidade abdominal. • Além disso, a capacidade de reabsorção líquido ascítico é um processo autolimitado e na cirrose essa capacidade é ultrapassada. • A síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) desempenha um papel importante na formação da ascite e de outras complicações de cirrose. • O principal mecanismo é a translocação bacteriana do lúmen intestinal para os linfonodos mesentéricos e outros órgãos e tecidos. • Produtos microbianos interagem com receptores e promovem a formação e liberação de citocinas pró- inflamatórias. • Consequentemente, há aumento da produção de óxido nítrico em decorrência da resposta inflamatória, agravando a vasodilatação preexistente. • Ascite é graduada com base na quantidade de líquido na cavidade abdominal: o Grau 1 (leve) quando detectável somente por exame de imagem; o Grau 2 (moderada): distensão abdominal simétrica e o Grau 3 (tensa): acentuada distensão abdominal. • Abordagem do paciente cirrótico com ascite: • A abordagem do paciente cirrótico com ascite baseia-se na história, exame físico e exames complementares [Ultrassonografia de abdome; avaliação laboratorial (função hepática e renal, eletrólitos séricos e urinários e análise do líquido ascítico)]. • Paracentese: recomenda-se uma paracentese diagnóstica em todos os pacientes com ascite de início recente graus 2 ou 3, ou naqueles hospitalizados por piora da ascite ou qualquer complicação da cirrose. • A paracentese é um método rápido; custo-benefício; procedimento seguro, simples realizado à beira do leito, pode ser diagnóstica e/ou terapêutica (de alívio) e fornece subsídios para o diagnóstico etiológico da ascite, diagnóstico de infecção e alívio do desconforto abdominal. • Recomendações de exames para serem solicitados no líquido ascítico dos pacientes com cirrose: • - indispensáveis: citologia (contagem de neutrófilos) e cultura, proteína e albumina; • - opcionais: Glicose; amilase; DHL; coloração BAAR/cultura para BK; citologia oncótica; triglicerídeos, bilirrubinas. • O cálculo do gradiente de albumina soro - ascite (GASA) pode ser útil quando a causa da ascite não é imediatamente evidente, pois GASA ≥ 1,1 g / dl indica que a hipertensão portal está envolvida na formação de ascite. • Manejo do paciente cirrótico com ascite: • Esses pacientes têm balanço positivo de sódio, que pode ser corrigido reduzindo a ingestão de sódio na dieta e aumentando a excreção renal de sódio com diuréticos. • Restrição de sódio: recomenda-se dieta com moderada restrição de sódio (1g/refeição), pois maior rigidez na restrição torna-se a alimentação não palatável, podendo levar a baixa ingestão oral e piora do quadro de desnutrição. • Diuréticos: como o hiperaldosteronismo secundário desempenha um papel fundamental na retenção renal de sódio em pacientes com cirrose, os diuréticos anti-mineralocorticóides (espironolactona) representam um dos pilares do tratamento da ascite. • Recomendação: iniciar tratamento com espironolactona 100 mg / dia com aumento gradual a cada 72 h (em etapas de 100 mg) até um máximo de 400 mg / dia. • Em pacientes que não respondem a antimineralocorticóides, ou em pacientes que desenvolvem hipercalemia, pode ser adicionado furosemida 40 mg/dia, com aumento gradual, se necessário, a um máximo de 160 mg / dia. • E os diuréticos devem ser descontinuados se houver efeito adverso, como: hiponatremia grave (concentração sérica de sódio <125 mmol / L), lesão renal aguda (LRA), encefalopatia hepática ou cãibras musculares incapacitantes. • Paracentese terapêutica: esse é o tratamento de escolha para o manejo de pacientes com ascite de grau 3. • Em pacientes submetidos a paracentese de alívio com drenagem de volume maior que 5 litros de ascite, deve ser realizada expansão plasmática com albumina (6 a 8 g para cada litro drenado de ascite). • PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE) • A PBE é definida como infecção bacteriana do líquido ascítico sem qualquer fonte de infecção intra-abdominal cirurgicamente tratável. • Todos os pacientes com cirrose e ascite estão em risco de desenvolvimento de PBE. • E essa tem prevalência de 1,5 a 3,5% em pacientes ambulatoriais; 10% em pacientes hospitalizados. • Aproximadamente 50% dos episódios de SBP estão presentes na internação hospitalar. • Os sinais e sintomas podem ser: dor abdominal, vômitos ou diarreia, íleo ou sinais de inflamação sistêmica: hiper ou hipotermia,calafrios, contagem de leucócitos alterada. • Outra pode se manifestar com outros sinais de descompensação da função hepática, encefalopatia, choque, insuficiência renal, hemorragia gastrointestinal etc. • Diagnóstico de PBE por contagem de neutrófilos no líquido ascítico: maior ou igual 250 / mm3. • A positividade na cultura do líquido ascítico não é pré-requisito para o diagnóstico de PBE. • Recomenda-se que o tratatamento da PBE, na maioria dos casos, seja feito com antibióticos que tenha cobertura para gram negativos da flora intestinal, atualmente os mais recomendados são as cefalosporina de terceira geração. • Recomenda-se profilaxia de hepatorrenal com albumina 1.5 g/kg primeiras 6 h do diagnóstico + 1.0 g/kg no 3° dia; alguns autores recomendam que essa profilaxia, em particular, seja para pacientes com creatinina > 1mg/dL, ureia > 64 mg/dL ou bilirrubina total > 4mg/dL. • Após o primeiro episódio de PBE, há grande probabilidade de um novo evento infeccioso com altas taxas de mortalidade, assim está recomendada a profilaxia secundária, de modo geral, enquanto o paciente tiver ascite e a medicação mais indicada no momento a quinolona norfloxacino. • LESÃO RENAL AGUDA (LRA) NO PACIENTE CIRRÓTICO • A lesão renal é uma complicação grave em pacientes com cirrose. • O termo LRA é amplo e abrange várias etiologias, que vão desde lesão renal estrutural até comprometimento agudo da função (lesão funcional). • Definição de LRA: Aumento de creatinina ≥ 0,3 mg / dL em 48 horas em comparação com o valor basal ou aumento de creatinina ≥50% (conhecido ou presumido ter ocorrido nos 7 dias anteriores). • Classificação de LRA: o Estágio 1: aumento de creatinina ≥0.3mg/dL; ou aumento ≥1.5x - 2.0x do valor basal. o Estágio 2: aumento de creatinina >2.0x -3.0x do valor basal. o Estágio 3: aumento de creatinina >3.0x do valor basal; ou creatinina ≥4.0mg/dL com aumento ≥0.3mg/dL; ou quando na LRA há indicação de terapia renal substitutiva. • Alterações hemodinâmicas na circulação arterial e à resposta da ativação dos sistemas vasoativos endógenos -> disfunção circulatória e resposta inflamatória sistêmica. • Manejo da LRA no paciente cirrótico: identificação e tratamento de possíveis fatores precipitantes (diuréticos, betabloqueadores, diarreia, anti- inflamatórios ou outras drogas nefrotóxicas). • Quando a lesão renal progride apesar do tratamento inicial ou quando o LRA é diagnosticado em estágios mais avançados (estágios 2 ou 3), recomenda-se expansão de volume com albumina 1g / kg / dia por 48 horas. • Pacientes com SHR devem ser encaminhados para avaliação de transplante de fígado. • ENCEFALOPATIA HEPÁTICA • A encefalopatia hepática (EH) é uma disfunção cerebral causada por insuficiência hepática e/ou shunts portosistêmicos; manifesta-se como um amplo espectro de alterações neurológicas ou psiquiátricas que variam de alterações subclínicas ao coma. • Abordagem do paciente com EH: pacientes com rebaixamento do nível de consciência, devem ser, idealmente, admitidos em Unidade de Terapia Intensiva e receber o suporte adequado. • Segundo identificar e tratar os possíveis fatores desencadeantes (constipação intestinal; infecção; hemorragia digestiva; distúrbios hidroeletrolíticos; diuréticos; etc.). • Terceiro o intuito reduzir a absorção de amônia no intestino: dissacarídeos não absorvíveis (lactulose) é o tratamento de escolha, para que o paciente mantenha 02 a 03 evacuações pastosas ao dia. • Aspartato de ornitina pode ser usado como tratamento alternativo, principalmente naqueles pacientes que não se recuperem com o tratamento convencional. • HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA VARICOSA • Hemorragia digestiva alta (HDA) é o segundo evento mais comum de descompensação dos pacientes com cirrose, sendo a principal etiologia varizes gastroesofágicas (VGE), com altas taxas de morbimortalidade. • As estratégias de manejo dos pacientes cirróticos com varizes gastroesofágicas podem ser divididas em três categorias: profilaxia primária (medidas para evitar o primeiro sangramento), tratamento do sangramento agudo e profilaxia secundária (medidas para evitar o ressangramento). • Profilaxia primária: identificar os pacientes com risco de desenvolvimento de VGE. • Assim, pacientes com cirrose compensada (CC) sem varizes na triagem da endoscopia devem fazer a endoscopia repetida a cada 2 anos (com doença de base ativa) ou a cada 3 anos (se a lesão hepática estiver inativa). • Pacientes com CC com varizes de fino calibre na triagem de endoscopia devem fazer endoscopia repetida a cada ano (com lesão hepática em andamento) ou a cada 2 anos (se a lesão hepática estiver inativa). • Pacientes com CC sem varizes ou com pequenas varizes que desenvolvem descompensação devem fazer uma endoscopia logo que o evento ocorra. • Os betabloqueadores não seletivos (propranolol, nadolol), carvedilol ou ligadura elástica são recomendados para a prevenção da primeira VGE (profilaxia primária) em pacientes com variedades médias ou grandes. • Sangramento agudo: • Medidas gerais: medidas de ressucitação (Vias aéreas; Respiração; Circulação). • A reposição volêmica com coloides e / ou cristaloides deve ser iniciada imediatamente. • Recomenda-se a transfusão restritiva (limiar de Hb, 7 g/dL; faixa alvo de 7 a 9 g / dL). • Medidas específicas: Início imediato da terapia medicamentosa vasoativa (somastotastina ou nálago, octreotite; vasopressina ou análogo, terlipressina); profilaxia antibiótica; assim que o paciente tiver condições clínicas, realizar endoscopia digestiva diagnóstica e terapêutica. • Para aqueles pacientes com alto risco de ressangramento o implante precoce de TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunt) deve ser considerado. • Profilaxia secundária: a combinação de betabloqueadores não seletivos + ligadura elástica é o tratamento de primeira linha na prevenção de novos sangramentos. • O TIPS é a terapia de resgate recomendada em pacientes que apresentam hemorragia recorrente, apesar da terapia combinada. • ESTEATOSE HEPÁTICA • Clinicamente, manifesta-se por hepatomegalia de consistência variável, muitas vezes aumentada, com o fígado apresentando bordas rombas e superfície regular. • Ás vezes, esse aumento de volume do fígado pode ser doloroso -> esteato-hepatite. • Do ponto de vista laboratorial, os doentes evoluem com níveis séricos de aminotransferases (AST, ALT) normais ou discretamente elevados, mas podem exibir taxas até́ 10 vezes superiores ao normal; sempre há́ alterações acentuadas de gamaglutamiltransferase (GGT). Não se modificam os valores de bilirrubina total e frações da albumina, nem a atividade de protrombina. • O aspecto ao ultrassom é típico, com fígado de textura hiperecoica, grosseira, e atenuação de feixes acústicos posteriores. • Anatomopatologicamente, revela-se pela presença de micro ou macrogotículas de gordura no citoplasma. Constitui-se em entidade isolada, ou pode ser detectada associada à fibrose perivenular, à hepatite ou à cirrose. • A esteatose, em geral, é reversível em alguns dias ou semanas de abstinência, e instala-se em virtude das modificações que acarreta no sistema “redox” dos hepatócitos, ocasionadas pela oxidação do etanol e acetaldeído. • A hepatite alcoólica é uma doença inflamatória hepática causada pelo excesso da ingesta de bebidas alcoólicas por tempo prolongado. • O abuso do álcool é a quinta causa de morte, sendo responsável por até 85.000 mortes anualmente. Dessas mortes, 20.000 são atribuídas à cirrose terminal. • Cerca de 90-100% dos alcoólicos desenvolvem doença gordurosa e, destes, 10-35% desenvolvem hepatite alcoólica, enquanto somente 8-20% dos alcoólicos crônicos tem cirrose. • Esteatose, hepatite alcoólica e fibrose podem se desenvolver independentementee não se configuram necessariamente como uma sequência de alterações. • A maior parte dos pacientes com quadro de hepatite alcoólica aguda tem entre 40 e 50 anos e são do sexo masculino, PORÉM SÃO AS MULHERES QUE TEM MAIS CHANCE DE TER A DOENÇA. HEPATITE ALCOÓLICA: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS FATORES DE RISCO E POPULAÇÕES MAIS AFETADAS PELA HEPATITE ALCOÓLICA • A hepatite alcoólica é uma doença hepática que pode afetar principalmente pessoas que consomem álcool. FR: • Gênero feminino; • Duração do consumo, especialmente o tempo de exposição ao álcool de forma abusiva; • Quantidade do consumo; • Genética bem como suscetibilidade individual para o álcool. • Ainda, devido a esse tempo de exposição prolongado, a doença geralmente afeta pessoas com mais de 40 anos, devido à longa duração do consumo excessivo de álcool. FISIOPATOLOGIA DA HEPATITE ALCOÓLICA • A hepatopatia alcoólica é provocada por uso abusivo e prolongado de etanol, sem necessariamente estar ligada a dependência ao etanol, mas com outros fatores predisponentes, genéticos e ambientais, como o vírus da hepatite B e C, que possui prevalência de 30% nessa população. • Por motivos que devem estar relacionados com o metabolismo gástrico do etanol, como a menor concentração de ÁLCOOL-DESIDROGENASE e diferenças na composição corporal, as mulheres são mais suscetíveis a lesão hepática. • A ingestão em curto prazo de até 80 g/dia em homens (5-6 cervejas ou ± 200 mL de destilado com 40% de álcool) e 40g/dia em mulheres, geralmente produz alterações hepáticas brandas reversíveis, como a esteatose alcoólica. • A ingestão crônica de 40-80 g/dia, até mesmo valores mais baixos para mulheres, é considerada um fator de risco para lesão grave. No entanto, nenhum limite superior é seguro no consumo de álcool, devido aos fatores genéticos e ambientais de cada indivíduo. EFEITO HEPATOTÓXICO DO ÁLCOOL: • O álcool afeta diretamente a organização do citoesqueleto, a função mitocondrial e a fluidez de membrana. • O acetaldeído, principal metabólito do etanol, induz a peroxidação lipídica e a formação de conjugados acetaldeído-proteína, afetando a função citoesquelética e de membrana. • Radicais livres são gerados durante a oxidação do etanol, reagindo e danificando as membranas e proteínas. • Inflamação mediada por citocinas e dano celular são a principal característica da hepatite alcoólica e da doença hepática alcoólica de forma geral, sendo TNF o principal efetor da lesão. • O excesso de etanol absorvido pela circulação porta é metabolizado predominantemente na região centrolobular do lóbulo hepático, local onde existe a ↑ concentração da enzima ÁLCOOL- DESIDROGENASE. 3. Hepatite de Doença Alcóolica (HDA) • Polimorfonucleares (neutrófilos) encontram-se nas vizinhanças das células necróticas e se relacionam com os corpúsculos de Mallory. • Ocorre uma infiltração linfocítica na hepatite alcoólica, a população celular sendo constituída mais por linfócitos T supressores (citotóxicos) de que por linfócitos auxiliadores, o inverso observando-se na fase cirrótica. • Sua distribuição intra-hepática é variável, encontrando-se ao nível da placa limitante, no interior do parênquima, em contato direto com membranas plasmáticas, ou no próprio seio dos hepatócitos. • Participam da agressão hepatocitária, junta- mente com anticorpos circulantes e células killer (K). • São estimuladas a produção de fibroblastos e a síntese de colágeno. • Corpúsculos de Mallory, por sua vez, são inclusões intrcelulares, perinucleares e eosinofílicas. • Há uma divisão desses corpúsculos em tipo 1, quando constituídos de filamentos paralelos, tipo 2, se formados por fibrilas orientadas, e tipo 3, representado por material granular e fibrilas dispersas. • Formam-se a partir das agressões exercidas pelo etanol e seus metabólitos sobre filamentos intermediários do citoesqueleto hepatocitário. • Acumulam-se nessas células como resultado de uma ação antimicrotubulina. • Embora o seu encontro não seja essencial para o diagnóstico, a presença desses corpúsculos no fígado, em maior intensidade, ocorre nas formas mais graves de hepatite alcoólica. • Importante frisar que eles estão também presentes em uma série de outras doenças, tais como doenças de Weber-Christian e de Wilson, cirrose biliar primária, cirrose da criança indiana e por obesi- dade mórbida, carcinoma hepatocelular, e em pacientes que usam drogas, como griseofulvina e amiodarona. • O oxigênio acaba sendo intensamente consumido, gerando hipóxia centrolobular, local mais afetado e visualizado nas biópsias hepáticas. • Diferente da cirrose, a hepatite alcoólica pode ocorrer logo depois de semanas ou meses de consumo excessivo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • O início é tipicamente agudo com sintomas e as alterações laboratoriais que podem variar de mínimos a graves. A maioria dos pacientes apresenta: • Mal-estar, febre e icterícia • Anorexia e perda de peso • Desconforto abdominal superior e hepatomegalia dolorosa à palpação e febre. • Ascite e hemorragia digestiva por rotura de varizes esofagogástricas complicam até 30% dos casos de hepatite alcoólica aguda, mesmo na ausência de cirrose pré-estabelecida. Isso acontece devido à hipertensão portal decorrente do edema hepatocelular difuso. • Casos graves de hepatite alcoólica aguda são mais propensos a desenvolver infecções bacterianas e a falência hepática fulminante, inclusive como primeira manifestação da doença. • Cada surto de hepatite apresenta cerca de 10-20% de risco de morte. Com surtos repetitivos, a cirrose aparece em cerca de 1/3 dos pacientes dentro de poucos anos e pode estar também superposta por cirrose. CLASSIFICAÇÃO DE MADDREY E ESCORES PROGNÓSTICOS DA HEPATITE ALCOÓLICA • A CLASSIFICAÇÃO OU ÍNDICE DE MADDREY é uma fórmula matemática usada para avaliar a gravidade da hepatite alcoólica. Ela é calculada com base nos níveis séricos de bilirrubina e na contagem de plaquetas. DF = 4,6 x (nível sérico de bilirrubina [mg/dL]) + PLAQUETAS (x 10^9/L) • Um valor de DF maior indica maior gravidade da hepatite alcoólica -> DF ≥ 32 indica um risco significativo de mortalidade e é frequentemente usado para decidir sobre a necessidade de tratamento com corticosteroides. • PROGNÓSTICO -> MODELO DE MADDREY (MELD – MODEL FOR END-STAGE LIVER DISEASE) (já citado). • Outro exemplo de escore é o Alcoholic Hepatitis Bilirubin-INR-Creatinine (ABIC), que prevê a resposta ao tratamento e sobrevida do paciente. DIAGNÓSTICO DA HEPATITE ALCOÓLICA • Parte dos casos podem ser assintomáticos e diagnosticados apenas pelos achados laboratoriais típicos: • Hiperbilirrubinemia; • Fosfatase alcalina elevada (< 3x do valor máximo); • Leucocitose neutrofílica; • AST e a ALT séricas elevadas, mas abaixo de 500 U/mL; o AST/ALT > 2 • A biópsia hepática não é necessária quando a história e o exame físico, em associação com os achados laboratoriais, permitem o diagnóstico. Sendo indicada apenas se: • Dúvida diagnóstica; • Necessidade de descartar a coexistência de outros processos patológicos, como a cirrose e a hepatite C e B. • Definir prognóstico. • A ultrassonografia pode ser útil para o diagnóstico diferencial com icterícia obstrutiva. TRATAMENTO DA HEPATITE ALCOÓLICA • A abstinência alcoólica é obrigatória para esses pacientes. Ela melhora o prognóstico, diminui as lesões hepáticas, a pressão portal, a progressão para a cirrose e mortalidade. • Ainda, é frequente a desnutrição calórico-proteica em alcoólicos, deficiências em vitaminas e minerais, como as vitaminas A e D, tiamina, folatos, piridoxina e zinco. MEDIDAS ESPECIAIS • Para os pacientes com encefalopatia e/ou um Índice de Função Discriminante de Maddrey, ≥ 32: • Corticosteroides: inibem a produção de citocinas, reduzem a quimiotaxia de leucócitos, suprimem a produçãode ductos de acetaldeído, diminuem a ativação de células estreladas, aumentam a produção de colagenase, estimulam a ingestão calórica e a síntese de albumina. o Prednisolona, VO, 40 mg/dia durante 4 semanas. Reduzindo a dose durante 2 semanas até a retirada total. o CI: pentoxifilina 400 mg, VO, 3x/dia durante 4 semanas (inibe seletivamente fosfodiesterases e reduz a produção de citocinas) https://www.sanarmed.com/resumo-completo-sobre-cirrose-ligas 4. Carcinoma Hepatocelular TRANSPLANTE HEPÁTICO • Todos os pacientes com doença hepática alcoólica são candidatos se estão em fase avançada e que possuem MELD ≥ 11. • No entanto, é necessário um período de abstenção alcoólica mínimo de 6 meses antes do transplante, o que é um problema para este grupo de pacientes que apresentam surto com o uso recente de álcool. • A recuperação após o transplante hepático pode levar algumas semanas. Os pacientes precisarão tomar medicamentos imunossupressores (antirrejeição) pelo resto de suas vidas para evitar que o sistema imunológico rejeite o órgão transplantado. TERAPIA PALIATIVA • Possuem indicação aqueles pacientes que são refratários ao tratamento medicamentoso e ao transplante hepático, com falência de múltiplos órgãos (≥ 4). • Pacientes com hepatite alcoólica podem apresentar dor abdominal e desconforto. A administração de analgésicos e outras medidas para o alívio da dor é fundamental. • Ainda, devido à complicações como ascite, a realização de uma parecentese, aliviando a pressão abdominal, colabora muito para o conforto do paciente. • PROGNÓSTICO: • O carcinoma hepatocelular (CHC) instala-se como consequência de ampla variedade de alterações genéticas, envolvendo fatores de crescimento e seus receptores, perda de oncogenes supressores tumorais p16 e p53 e de fatores que controlam interação da matriz extracelular e angiogênese. • Tais modificações contribuem para um processo de múltiplos estágios que estimulam a oncogênese, gerando a formação de um tumor hipervascular nutrido pela artéria hepática. • Predomina entre homens na proporção de 4:1 em áreas de baixa e de 9:1 naquelas de elevada incidência, tendência evolutiva mais frequentemente observada naqueles pacientes com polimorfismo genético do citocromo P450 2 e 1. • Nesse processo, encontram-se envolvidos as citocinas pró- inflamatórias, tais como interleucina 1, fator α de necrose tumoral e interferona γ, mediadores solúveis, que também interferem no estresse oxidativo, geração de radicais livres de O2 e de malonaldeído, além da secreção de proteína 1 a partir de monócitos (MCP-1, ou monocyte chemoattractant protein-1). • Uma síntese desses mecanismos que levam a que o álcool atue como cocarcinogênico, iniciador, promotor e responsável pela progressão maligna entre etilistas crônicos. • Nesses, as lesões pré-malignas expressam-se por modificações genômicas focais, mais frequentes quando presentes corpúsculos de Mallory e modificações das células ovais originárias nos espaços portais após longa exposição ao etanol. • Indefinição ainda ocorre com relação às mutações observadas no gene p53 nos nódulos regenerativos desses pacientes, sabendo-se que são mais comuns naqueles com cirrose causada pelas infecções dos vírus das hepatites B ou C, potencialmente responsável pelas lesões neoplásicas que vêm a apresentar mais tardiamente. • No caso do Vírus da Hepatite B, ocorre a produção da proteína AgHbx, a qual participa assim da hepatocarcinogênese, evolução que é mais frequentemente observada entre fumantes crônicos. • Também tem sido observada, entre alcoólatras, uma elevada prevalência do anticorpo antivírus da hepatite C, existindo, nesses pacientes, uma clara correlação entre os desenvolvimentos de cirrose e CHC, e ingestão e consumo diário de etanol. • Essa evolução é provavelmente relacionada com a ação mutagênica induzida pela proteína core que se encontra presente no genoma desse agente viral. • HEMOCROMATOSE: distúrbio multigênico relacionado ao metabolismo do ferro, muito comum na população branca, com uma prevalência de 1:200 a 1:500 indivíduos. • O distúrbio caracteriza-se por uma sobrecarga sistêmica de ferro causada devido ao aumento inapropriado da absorção deste pelo intestino. • É caracterizada por acúmulo progressivo de ferro, que provoca geralmente dano estrutural e prejuízo funcional em articulações, pele, coração, diversas glândulas e vários órgãos parenquimatosos, como fígado e pâncreas. • Resultando em desenvolvimento de hiperpigmentação da pele, insuficiência suprarrenal, hipotireoidismo, hipoparatireoidismo, artrose, intolerância à lactose, diabetes melito, perda de pelos corporais, pan-hipopituitarismo e hepatomegalia (com evolução para fibrose, cirrose e hepatocarcinoma), atrofia testicular, amenorreia, cromoníquia, artralgia, perda da libido e insuficiência cardíaca. • O HIPERESTROGENISMO é responsável pelas alterações vasculares cutâneas, como as telangiectasias (tipo aranhas vasculares, encontradas no pescoço, na porção superior do tronco e dos membros superiores; como também pelo aumento das parótidas e do eritema palmar devido a uma vasodilatação cutânea, principalmente nas regiões tenar e hipotenar, podendo ocorrer também na região plantar ou mesmo na face (pletora facial). • O HIPOGONADISMO é causado pelo aumento da formação periférica de estrogênio, gerado por depuração hepática diminuída do precursor de androstenediona. • Geralmente, independe da etiologia da cirrose, embora seja mais frequente na etiologia alcoólica (resulta também do dano gonadal secundário ao álcool), podendo decorrer também da sobrecarga de ferro quando a etiologia da cirrose é a hemocromatose, da deficiência de zinco asso ciada à cirrose, do mau estado metabólico induzido pela falência hepática, medicamentosa ou pela presença de outras doenças. • O hipoandrogenismo é responsável pela queda da libido, atrofia testicular, impotência masculina, atrofia dos interósseos, rarefação dos pelos (distribuição feminilizada) e ginecomastia. HIPERESTROGENISMO Telangiectasia, eritema palmar, pletora facial, aumento das parótidas. HIPOANDROGENISMO Queda da libido, atrofia testicular, impotência masculina, atrofia dos interósseos, rarefação dos pelos (distribuição feminilizada), hipergenesia mamária. • A circulação porta tipo cabeça de medusa visível na região periumbilical é encontrada com facilidade no exame físico de pacientes com cirrose junto aos outros achados de hipertensão porta, como a ascite. 5. Alterações Dermatológicas 6. ICTERÍCIA - Metabolismo da Bilirrubina • O prurido é o sintoma da pele de incidência mais frequente na doença hepática, podendo preceder a icterícia de qualquer causa. • Ele é mais proeminente na cirrose biliar primária, na colangite esclerosante ou em qualquer outra causa de obstrução do trato biliar ou de doenças que causem colestase. • Os sintomas são mais intensos no período noturno, em regiões acrais e em locais que ficam em contato com as roupas. • A alteração de cor da pele mais comum é a da icterícia, que é primeiramente visível na esclera e no palato mole antes de se tornar generalizada, e ocorre devido à hiperbilirrubinemia. • A concentração elevada de bilirrubina no sangue pode acontecer quando uma inflamação ou outras alterações dos hepatócitos impedem a sua excreção para a bile ou devido à obstrução dos ductos biliares extra-hepáticos por cálculo biliar ou tumor. • Menos comumente, pode ocorrer devido aos elevados níveis de bilirrubina em decorrência da destruição de grandes quantidades de eritrócitos. • As alterações nas unhas, secundárias à doença hepática, são inúmeras. O baqueteamento digital talvez seja a mais comum dessas alterações. • Contudo, as unhas de Terry (parte proximal da unha brancae distal rósea) representam uma alteração bastante singular. • A lúnula pode estar azulada na degeneração hepatolenticular do fígado (doença de Wilson). • A púrpura é uma mancha causada devido ao pigmento hemático por hemorragia dos vasos da derme e/ou da hipoderme, cujas hemácias extravasadas são fagocitadas pelos macrófagos, que transformam o pigmento hemoglobínico em hemossiderina, resultando em coloração castanho- amarelada e dividindo-se em petéquias (lesão puntiforme), víbice (formato linear) e equimose (lesões maiores em lençol). • Todas elas são caracterizadas por não desaparecer à digitopressão, ao contrário da telangiectasia. • A bilirrubina, principal componente dos pigmentos biliares, é o produto do catabolismo da hemoglobina e outras hemoproteínas, após a destruição normal ou patológica das hemácias. • Quando os eritrócitos chegam ao fim dos seus 120 dias e se tornam muito frágeis para permanecerem na circulação sanguínea, suas membranas se rompem e a hemoglobina liberada é fagocitada por macrófagos teciduais ou sistema reticulo endotelial (S.R.E.) em todo organismo. • A hemoglobina é inicialmente desdobrada em globina e heme, e o anel heme é aberto, produzindo ferro livre, que é transportado pela transferrina e uma cadeia linear de quatro núcleos pirrólicos, que constitui o substrato a partir do qual será formada, a bilirrubina (heme). • A primeira substância formada é a biliverdina, que é rapidamente reduzida à bilirrubina livre, que é liberada gradualmente no plasma pelos macrófagos. • A bilirrubina livre combina-se imediatamente com a albumina plasmática e, nesta combinação, é transportada para o sangue e líquidos intersticiais. • Mesmo quando ligado à proteína plasmática, esta bilirrubina é ainda denominada bilirrubina livre. • Dentro de poucas horas, a bilirrubina livre é absorvida através da membrana celular hepática e ao passar para o interior das células hepáticas, é liberada da albumina plasmática e, pouco depois, cerca de 80%, são conjugados com ácido glicurônico para formar glicuronídeo de bilirrubina, enquanto cerca de 10% são conjugados com sulfato, formando sulfato de bilirrubina, e os 10% restantes, são conjugados com numerosas outras substancias e desta forma são excretadas dos hepatócitos por um processo de transporte ativo nos canalículos, biliares e em seguida, no intestino. • Se no intestino a bilirrubina voltar a ficar livre, sofre uma redução por enzimas da flora bacteriana, tornando-se estercobilinogênio. • Este é oxidado, convertendo-se a estercobilina, que da cor às fezes, por ser muito solúvel em água, uma parte do estercobilinogênio é reabsorvido e eliminado na urina. • Somente a forma conjugada de bilirrubina, que é solúvel em água, é eliminada pelo fígado e rins. • Como consequência tem várias ocorrências fisiopatológicas de considerável importância clínica: na insuficiência de glicuroniltransferase ocorre hiperbilirrubinemia porque a bilirrubina indireta não se transforma em direta; icterícia por hiper-hemólise não há eliminação urinária de bilirrubina (urina clara) porque nesses casos, o pigmento retido no sangue é de tipo indireto; nas icterícias causadas por lesão hepatocelular ou hepatocanalicular, bem como na obstrução biliar externa, está presente a eliminação urinaria de bilirrubina (urina escura), já que o pigmento retido é do tipo direto. • ICTERÍCIA • Coloração amarelada dos tecidos, incluindo a amarelidão da pele e dos tecidos profundos. • Em geral, a icterícia é causada por grandes quantidades de bilirrubina nos líquidos extracelulares, na forma de bilirrubina livre ou conjugada. • A concentração plasmática de bilirrubina, que se encontra quase que totalmente na forma livre, é em média 0,5 mg/dL de plasma. • Em certas condições anormais, esta concentração pode aumentar e atingir 40,0 mg/dL, e grande parte pode ser transformada na forma conjugada. • A pele começa a mostrar-se ictérica quando a concentração aumenta para cerca de três vezes o valor normal, isto é, quando ultrapassa 1,5 mg/dL. • Há quatro tipos de icterícia: hemolítica, parenquimatosa, obstrutiva e neonatal. Icterícia hemolítica: neste tipo, a função excretora do fígado não é afetada, mas os eritrócitos sofrem hemólise rápida e as células hepáticas simplesmente não podem excretar a bilirrubina com a mesma velocidade em que é formada. • Desta forma, a concentração plasmática de bilirrubina livre aumenta e atinge valores bem acima do normal. • De forma semelhante, a velocidade de formação do urobilinogênio no intestino aumenta acentuadamente e grande parte é absorvida no sangue, e posteriormente, excretada na urina. • As fezes e urina mostram-se escuras. Icterícia obstrutiva: é causada por obstrução dos ductos biliares (ocorre mais facilmente por cálculos biliares e câncer obstruindo o colédoco) ou por lesão das células hepáticas (hepatite). • A velocidade de formação da bilirrubina é normal, porém a bilirrubina não pode passar do sangue para o intestino para ser convertida em urobilinogênio. • Em geral, a bilirrubina livre continua penetrando nas células hepáticas e sofre conjugação de modo habitual. • A bilirrubina conjugada retorna ao sangue, provavelmente devido à ruptura dos canalículos biliares congestionados, desaguando a bile diretamente na linfa que deixa o fígado. • Por conseguinte, a maior parte da bilirrubina no plasma é mais do tipo conjugado do que tipo livre. • As fezes apresentam-se brancas devido à falta de estercobilina e há presença de bilirrubina na urina. Icterícia parenquimatosa: resultam da lesão do hepatócito sejam por vírus, drogas, podendo ser toxicas ou autoimunes. • Apresentam o aumento da bilirrubina direta e nas formas mais graves podem apresentar colúria e acolia fecal. Icterícia neonatal: a bilirrubina formada pelo feto pode cruzar a placenta para dentro da mãe e ser excretada para o fígado desta, mas, imediatamente após o nascimento, o único meio de livrar o recém-nascido da bilirrubina é através de seu próprio fígado, que, durante a primeira semana de vida funciona de modo deficiente e é incapaz de conjugar quantidades significativas de bilirrubina com ácido glicurônico para a excreção da bile. • Consequentemente, a concentração plasmática de bilirrubina sobe de um valor normal de menos 1,0 mg/dL a uma media de 5,0 mg/dL durante os primeiros três dias de vida e, depois gradativamente volta ao normal à medida que o fígado se torna funcional. • Esta condição é chamada de hiperbilirrubinemia fisiológica da pele da criança e escleras dos olhos. • Quando há aumento de bilirrubina livre acima de 20,0 mg/dL passa haver risco de acúmulo desta nos núcleos da base (S.N.C.), levando a lesões irreversíveis ao recém-nascido -> kernicterus. • PRINCIPAIS CAUSAS DE HIPERBILIRRUBINEMIA: Indireta: Hemólise: defeito na membrana dos eritrócitos, defeito metabólico dos eritrócitos, hemoglobinopatias, doença autoimune, fragmentação eritrocitária. Icterícia pré-hepática. -Hereditária: Síndrome de Gilbert, dentre outras. Redução no transporte: hipoxia, drogas. Metabólica: hipoglicemia, hipotireoidismo. • Direta não colestática: -Metabólico: Dubbin-Johnson (reduzida excreção biliar). -Icterícia pós-hepática. Há o aumento da fosfatase alcalina. • Colestases intra e extra-hepáticas: Hepatites, cirrose, drogas, álcool, linfoma, colangiocarcinoma, coledocolitíase, ascaridíase. Na intra-hepatica ocorre aumento da bilirrubina direta, da alanino aminotransferase e da aspartato aminotransferase.
Compartilhar