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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 1 Hepatopatia crônica SP 3.3 – EXCESSO... 1) COMPREENDER A HEPATOPATIA CRÔNICA (ALCOÓLICA) E AS COMPLICAÇÕES; A doença hepática crônica (DHC) ocorre quando o fígado é exposto a diversas formas de lesão, que persistem por no mínimo 6 meses. As causas mais comuns de hepatopatia crônica, em ordem geral de frequência, são hepatite C crônica, doença hepática alcoólica, esteato-hepatite não alcoólica, hepatite B crônica, hepatite autoimune, colangite esclerosante, colangite biliar primária, hemocromatose e doença de Wilson. O vírus da hepatite E é uma causa rara de hepatite crônica e esses casos são observados principalmente em indivíduos imunossuprimidos ou imunodeficientes. Os achados típicos do exame físico na doença hepática são icterícia, hepatomegalia, hipersensibilidade hepática, esplenomegalia, angiomas aracneiformes, eritema palmar e escoriações da pele. Os sinais de doença em fase avançada incluem atrofia muscular, ascite, edema, veias abdominais dilatadas, hálito hepático, asterixe, confusão mental, estupor e coma. Nos homens com cirrose, particularmente quando está relacionada com o uso de álcool, podem ser observados sinais de hiperestrogenemia como ginecomastia, atrofia testicular e perda do padrão masculino de distribuição dos pelos. Ocorrem angiomas aracneiformes e eritema palmar nas doenças hepáticas agudas e crônicas; essas manifestações clínicas podem ser particularmente proeminentes nos pacientes cirróticos, mas podem surgir em indivíduos normais e, com frequência, são observadas durante a gravidez. Os angiomas aracneiformes consistem em arteríolas superficiais e tortuosas que – diferentemente das telangiectasias simples – costumam encher-se a partir do centro para a periferia. Os angiomas aracneiformes ocorrem apenas nos braços, na face e na parte superior do tronco; podem ser pulsáteis e a sua detecção pode ser difícil nos indivíduos de pele escura. Hepatomegalia não é um sinal muito confiável de doença hepática, devido à variabilidade no tamanho e formato do fígado, bem como às dificuldades físicas para avaliar o tamanho do fígado por percussão e palpação. Hepatomegalia volumosa é típica de cirrose, síndrome de obstrução sinusoidal, doenças infiltrativas (p. ex., amiloidose, cânceres primários ou metastáticos do fígado) e hepatite alcoólica. A avaliação cuidadosa da borda do fígado também pode demonstrar consistência firme incomum, irregularidade da superfície ou nódulos óbvios. Talvez, o achado físico mais confiável no exame do fígado seja a sensibilidade hepática. O desconforto com o toque ou pressão aplicada ao fígado deve ser cuidadosamente pesquisado e comparado com a percussão dos quadrantes superiores direito e esquerdo. A graduação refere-se a uma avaliação da gravidade ou atividade da doença hepática, seja aguda ou crônica; ativa ou inativa; e leve, moderada ou grave. A biópsia de fígado é o meio mais preciso para determinar a gravidade, sobretudo na doença hepática crônica. Hepatite crônica O termo “hepatite crônica” engloba um conjunto de distúrbios hepáticos com causas e gravidade variáveis, nos quais a inflamação e a necrose do fígado persistem por 6 meses, no mínimo. As formas mais leves não são progressivas ou progridem apenas lentamente, enquanto as formas mais graves podem estar associadas com fibrose e reorganização da arquitetura do fígado que, nos casos avançados, acabam resultando em cirrose. Várias categorias de hepatite crônica foram reconhecidas. Estas incluem a hepatite viral crônica, a hepatite crônica induzida por fármacos e a hepatite crônica autoimune. Em muitos casos, as manifestações clínicas e laboratoriais não são suficientes para permitir sua inclusão em uma dessas três categorias; admite-se, também, que esses casos “idiopáticos” sejam de hepatite crônica autoimune. Por fim, as manifestações clínicas e laboratoriais de hepatite crônica são algumas vezes observadas em pacientes com distúrbios hereditários/metabólicos como doença de Wilson (sobrecarga de cobre), deficiência de α1-antitripsina e doença hepática gordurosa não alcoólica e, ocasionalmente, até mesmo pacientes com doença hepática alcoólica. Embora todos os tipos de hepatite crônica compartilhem certas características clínicas, laboratoriais e histopatológicas, a hepatite viral crônica e a hepatite crônica autoimune são diferentes o bastante e justificam sua descrição separadamente. Todas as formas de hepatite crônica têm em comum características histopatológicas baseadas na localização e extensão da lesão hepática. Isso varia desde formas mais leves até formas mais graves. A classificação da hepatite crônica baseia-se nos seguintes elementos: (1) sua causa; (2) sua atividade histológica, ou grau; e (3) seu nível de progressão baseada na gravidade da fibrose, ou estágio. Desse modo, isoladamente, as manifestações clínicas ou histológicas – estas últimas requerem biópsia hepática ou marcadores não Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 2 invasivos de fibrose – não são suficientes isoladamente para caracterizar e diferenciar os diversos tipos de hepatite crônica. Classificação com base na causa As manifestações clínicas e sorológicas permitem estabelecer o diagnóstico de hepatite viral crônica, causada pelos vírus das hepatites B, B mais D ou C; hepatite autoimune, incluindo várias subcategorias (I e II) com base na diferenciação sorológica; hepatite crônica induzida por fármacos; e uma categoria com causa desconhecida, ou hepatite crônica criptogênica. Classificação com base no grau O grau da hepatite – uma evidência histológica da atividade necroinflamatória – baseia-se no exame da biópsia hepática. Uma avaliação das características histológicas mais importantes inclui o grau de necrose periportal e a violação da placa limitante dos hepatócitos periportais pelas células inflamatórias (denominada necrose em saca-bocado ou hepatite da interface); o grau de necrose confluente que conecta ou forma pontes entre as estruturas vasculares – entre um espaço portal e outro ou, ainda mais importante, pontes entre um trato portal e uma veia central –, a denominada necrose coalescente; o grau de degeneração dos hepatócitos e necrose focal dentro do lóbulo; e o grau de inflamação portal. Foram elaborados vários sistemas de pontuação que levam em conta essas características histológicas, dos quais os mais populares são o índice de atividade histológica (IAH), usado comumente nos Estados Unidos, e o escore METAVIR, empregado na Europa. Com base na presença e no grau desses elementos de atividade histológica, a hepatite crônica pode ser classificada como leve, moderada ou grave. Classificação com base no estágio O estágio da hepatite crônica, que reflete o nível de progressão da doença, baseia-se no grau de fibrose hepática. Quando a fibrose é tão extensiva a ponto de os septos fibrosos circundarem os nódulos parenquimatosos e alterarem a arquitetura normal do lóbulo hepático, a lesão histológica é definida como cirrose. O estadiamento baseia-se no grau de fibrose determinada com base em uma escala numérica de 0- 6 (IAH) ou de 0 a 4 (METAVIR). Hepatite viral crônica As duas formas de hepatite viral transmitidas por via entérica (hepatites A e E) são autolimitadas e não causam hepatite crônica (não obstante alguns raros relatos nos quais a hepatite A aguda funcionou como desencadeante do início da hepatite autoimune em pacientes geneticamente suscetíveis, ou nos quais a hepatite E pode causar doença hepática crônica em hospedeiros imunossuprimidos, p. ex., depois de transplante de fígado). Em contrapartida, todo o espectro clinicopatológico da hepatite crônica é observado nos pacientes com hepatitesB e C virais crônicas, assim como nos portadores de hepatite D crônica sobreposta à hepatite B crônica. Hepatite B crônica A probabilidade de cronicidade depois da hepatite B aguda varia em função da idade. A contaminação por ocasião do nascimento está associada à infecção aguda clinicamente silenciosa, porém a uma probabilidade de 90% de infecção crônica, enquanto a infecção no início da vida adulta de indivíduos imunocompetentes está associada à hepatite aguda clinicamente evidente, mas a um risco de cronicidade de apenas cerca de 1%. Entretanto, a maioria dos casos de hepatite B crônica dos adultos ocorre em pacientes que nunca tiveram um episódio reconhecido de hepatite viral aguda clinicamente aparente. O grau de lesão hepática dos pacientes com hepatite B crônica é variável, oscilando de nenhum acometimento nos portadores inativos até um grau leve a moderado a grave. Entre os adultos com hepatite B crônica, as características histológicas têm importância prognóstica. Mais importante que apenas a histologia dos pacientes com hepatite B crônica é o grau de replicação do vírus da hepatite B (HBV). A infecção crônica pelo HBV pode ocorrer com ou sem antígeno e da hepatite Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 3 B (HBeAg) no soro e, em geral, para os indivíduos com hepatite B crônica HBeAg-reativos e HBeAg-negativos, o nível do DNA viral correlaciona-se com o grau da lesão hepática e o risco de progressão. O espectro das manifestações clínicas da hepatite B crônica é amplo, variando de infecção assintomática até doença debilitante ou mesmo insuficiência hepática fatal em estágio terminal. Fadiga é um sintoma comum, e icterícia persistente ou intermitente também é uma característica comum nos casos graves ou avançados. A piora intermitente da icterícia e a recidiva de mal-estar e anorexia, assim como piora da fadiga, são elementos reminiscentes da hepatite aguda; essas exacerbações podem ocorrer espontaneamente, na maioria das vezes coincidindo com evidência de reativação virológica; podem resultar em lesão hepática progressiva; e, quando se sobrepõem à cirrose avançada, podem causar descompensação hepática. As complicações da cirrose ocorrem na hepatite crônica em estágio terminal e incluem ascite, edema, hemorragias de varizes gastresofágicas, encefalopatia hepática, coagulopatia ou hiperesplenismo. Ocasionalmente, essas complicações levam o paciente a buscar atendimento médico inicial. As complicações extra-hepáticas da hepatite B crônica, semelhantes às que ocorrem durante a fase prodrômica da hepatite B aguda, estão associadas à deposição de imunocomplexos circulantes de anticorpoantígeno da hepatite B. Isso inclui artralgias e artrite (ambas comuns) e os casos mais raros de lesões cutâneas purpúricas (vasculite leucocitoclástica), glomerulonefrite por imunocomplexos e vasculite generalizada (poliarterite nodosa). Hepatite D (hepatite delta) crônica O vírus da hepatite D (HDV) crônica pode acompanhar uma coinfecção aguda por HBV, porém a um ritmo nunca mais alto que o da cronicidade da hepatite B aguda. Isto é, embora a coinfecção por HDV possa acentuar a gravidade da hepatite B aguda, o HDV não aumenta a probabilidade de progressão para hepatite B crônica. Entretanto, quando ocorre superinfecção por HDV de um paciente já infectado cronicamente pelo HBV, a infecção por HDV em longo prazo constitui a regra e a consequência esperada é agravação da doença hepática. Exceto no que concerne à gravidade, a hepatite B mais D crônica tem características clínicas e laboratoriais semelhantes às observadas na hepatite B crônica isolada. A hepatite crônica relativamente grave e progressiva, com ou sem cirrose, é a regra, enquanto a hepatite crônica leve é a exceção. Contudo, há casos em que pacientes com hepatites B e D crônicas desenvolvem hepatite leve ou, raramente, estado de portador inativo e a doença pode tornar-se indolente depois de vários anos de infecção. Uma característica sorológica diferencial da hepatite D crônica é a presença na circulação de anticorpos contra microssomos de fígado- rim (anti-LKM); entretanto, o anti-LKM observado na hepatite D (anti-LKM3) é dirigido contra a uridina- difosfato-glicuronosiltransferase e difere do anti-LKM1 observado nos pacientes com hepatite autoimune e em uma subpopulação de pacientes com hepatite C crônica. Hepatite C crônica Independentemente da modalidade epidemiológica de aquisição da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV), a hepatite crônica acompanha a hepatite C aguda em 50 a 70% dos casos; a infecção crônica é comum mesmo naqueles com normalização dos níveis das aminotransferases depois da hepatite C aguda, ampliando para 85% a probabilidade de infecção crônica pelo HCV depois da hepatite C aguda. A progressão da doença hepática nos pacientes com hepatite C crônica é considerada mais provável nos pacientes com idade avançada, duração mais prolongada da infecção, estágio e grau histológico avançados, diversidade de semiespécie do HCV mais complexa, maior quantidade de ferro hepático, outros distúrbios hepáticos concomitantes (doença hepática alcoólica, hepatite B crônica, hemocromatose, deficiência de α1-antitripsina e esteato-hepatite), infecção pelo HIV e obesidade. Entre essas variáveis, porém, a duração da infecção parece ser a mais importante e algumas das outras refletem provavelmente, até certo ponto, a duração da doença (p. ex., diversidade das semiespécies, acumulação hepática de ferro). Nenhuma outra característica epidemiológica ou clínica da hepatite C crônica (p. ex., gravidade da hepatite aguda, nível de atividade das aminotransferases, nível de RNA do HCV, presença ou ausência de icterícia durante a hepatite aguda) é capaz de fornecer o prognóstico final. Apesar da natureza relativamente benigna da hepatite C crônica ao longo do tempo em muitos pacientes, a cirrose subsequente à hepatite C crônica foi associada ao desenvolvimento tardio (várias décadas mais tarde) de CHC. Talvez, o melhor indicador prognóstico da hepatite C crônica seja a histologia hepática; a velocidade de progressão da fibrose hepática pode ser lenta, moderada ou rápida. Os pacientes com necrose e inflamação leves, assim como os que têm fibrose limitada, apresentam excelente prognóstico e Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 4 progressão limitada para cirrose. Em contrapartida, entre os pacientes com atividade necroinflamatória ou fibrose moderada a grave, incluindo necrose septal ou confluente, a progressão para fibrose é altamente provável ao longo de um período de 10 a 20 anos. A velocidade de progressão da fibrose pode ser acelerada por fatores como infecção concomitante por HIV, outras causas de doença hepática, ingestão excessiva de álcool e esteatose hepática. Hepatite autoimune Hepatite autoimune é um distúrbio crônico caracterizado por necrose hepatocelular e inflamação persistentes, habitualmente com fibrose, que pode progredir para cirrose e insuficiência hepática. Quando satisfaz os critérios de gravidade, esse tipo de hepatite crônica, se não tratado, pode acarretar mortalidade em 6 meses de até 40%. Com base nas estimativas recentes da história natural da hepatite autoimune, os índices de sobrevida de 10 anos são de 80 a 98% para os casos tratados e de 67% para os pacientes não tratados. Doença hepática alcóolica A ingestão excessiva e crônica de álcool é uma das causas principais de doença hepática, responsável por cerca de 50% da mortalidade de todos os pacientes cirróticos. A patologia da doença hepática alcoólica consiste em três lesões principais, e a lesão progressiva raramente ocorre como uma forma pura: (1) esteatose hepática, (2) hepatite alcoólica e (3) cirrose. A esteatosehepática está presente em > 90% dos alcoolistas crônicos e compulsivos. Um percentual muito menor de alcoolistas graves progride para hepatite alcoólica, considerada um precursor da cirrose. O prognóstico da doença hepática alcoólica grave é sombrio; a mortalidade dos pacientes com hepatite alcoólica concomitante com cirrose aproxima-se de 60% em 4 anos. Apesar de o álcool ser considerado uma hepatotoxina direta, apenas 10 a 20% dos alcoolistas desenvolvem hepatite alcoólica. A explicação para esse aparente paradoxo é obscura, mas envolve a complexa interação de fatores facilitadores como padrões de ingestão, dieta, obesidade e sexo. Não existem recursos diagnósticos que possam prever a suscetibilidade individual à doença hepática alcoólica. Considerações globais O álcool está em terceiro lugar entre os principais fatores de risco de doença em nível mundial. A cada ano, o uso deletério do álcool causa cerca de 3,5 milhões de mortes ao redor do mundo. A maior parte da mortalidade atribuída ao álcool deve-se à cirrose. A mortalidade associada à cirrose está diretamente relacionada com a ingestão de álcool, cujos efeitos deletérios são mais significativos nos países do Leste Europeu. A cirrose e suas complicações estão estreitamente relacionadas com o volume de álcool consumido por habitante e não são influenciadas pelo sexo. Etiologia e patogênese A quantidade e a duração da ingestão de álcool são os fatores de risco mais importantes envolvidos na patogênese da doença hepática alcoólica. Os papéis do(s) tipo(s) de bebida (i.e., vinho, cerveja ou bebidas destiladas), assim como o padrão de consumo (ingestão diária vs. ingestão compulsiva), são menos claros. A progressão além do estágio de esteatose hepática parece exigir a presença de fatores de risco adicionais, que ainda não estão totalmente definidos. Embora existam predisposições genéticas ao alcoolismo, o sexo é um forte determinante da doença hepática alcoólica. As mulheres são mais suscetíveis à lesão hepática alcoólica, quando comparadas aos homens, e desenvolvem hepatopatia avançada com ingestão alcoólica substancialmente menor. Em geral, o tempo que deve transcorrer para o desenvolvimento da doença hepática está diretamente relacionado com a quantidade de álcool consumida. Para estimar o consumo de álcool, é útil saber que uma cerveja, 120 mL de vinho ou 30 mL de uma bebida destilada com teor alcoólico de 80% contêm, todas, cerca de 12 g de álcool. O limiar para desenvolver doença hepática alcoólica é mais alto nos homens (> 14 doses por semana), enquanto as mulheres apresentam risco aumentado de desenvolvimento de lesão hepática quando consomem > 7 doses por semana. As diferenças dependentes do sexo resultam de efeitos pouco compreendidos do estrogênio, do percentual de gordura corporal e do metabolismo gástrico do álcool. Obesidade, dieta rica em gorduras e o efeito protetor do café foram considerados importantes para o desenvolvimento do processo patogênico. A infecção crônica pelo vírus da hepatite C (HCV) é uma comorbidade importante na progressão da doença hepática alcoólica para cirrose em alcoolistas crônicos. A ingestão de álcool, ainda que leve a moderada (15 a 30 g/dia), aumenta o risco de cirrose e Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 5 carcinoma hepatocelular em pacientes infectados pelo HCV. Os pacientes com lesão hepática alcoólica e infecção pelo HCV desenvolvem doença hepática descompensada em idade mais jovem e têm índice de sobrevivência global menor. Os depósitos de ferro aumentados no fígado e, raramente, a porfiria cutânea tardia podem ser consequências dos processos lesivos superpostos secundários ao álcool e à infecção pelo HCV. A patogênese da lesão hepática alcoólica é indeterminada. Segundo o conceito atual, o álcool age como hepatotoxina direta e a desnutrição é um fator menos importante. A ingestão de álcool inicia uma cascata inflamatória que se segue ao seu metabolismo, resultando em diversas respostas metabólicas. A esteatose causada por lipogênese, síntese de ácidos graxos e redução da oxidação de ácidos graxos surge secundariamente aos efeitos sobre o fator de transcrição regulador do esterol e receptor ativado pelo proliferador dos peroxissomos α (PPAR-α, de peroxisome proliferator-activated receptor 2). A endotoxina derivada do intestino começa um processo patogênico por meio do receptor semelhante ao Toll 4 (TLR-4, de Toll-like receptor 4) e do fator de necrose tumoral α (TNF-α, de tumor necrosis factor 2), facilitando a apoptose de hepatócitos e a necrose. A lesão celular e a liberação de endotoxina iniciadas pelo etanol e seus metabólitos também ativam as vias da imunidade inata e adaptativa, com liberação de citocinas pró-inflamatórias (p. ex., TNF-α) e quimiocinas, além de proliferação de células T e B. O efeito da ingestão crônica de etanol sobre a permeabilidade intestinal influencia a entrada dos lipossacarídeos no fígado, assim como a disbiose do microbioma, contribuindo também para o processo patogênico. A formação de adutos tóxicos de proteínaaldeído, a produção de equivalentes redutores e o estresse oxidativo também desempenham algum papel. A lesão dos hepatócitos e sua regeneração comprometida após a ingestão de álcool estão associadas à ativação das células estreladas e à produção de colágeno, que são elementos essenciais na fibrogênese. A fibrose resultante do uso continuado de álcool determina as anormalidades da arquitetura hepática e a fisiopatologia associada. Patologia O fígado exibe um repertório limitado em resposta à lesão. A esteatose hepática é a resposta histológica inicial e mais comum aos estímulos hepatotóxicos, inclusive ingestão excessiva de álcool. O acúmulo de gordura dentro dos hepatócitos perivenulares coincide com a localização da álcool-desidrogenase, a principal enzima responsável pelo metabolismo do álcool. A ingestão contínua de álcool resulta no acúmulo de gordura em todo o lóbulo hepático. Apesar da extensa degeneração gordurosa e da distorção dos hepatócitos com gordura macrovesicular, a interrupção da ingestão resulta na normalização da arquitetura hepática e do conteúdo de gordura. Tradicionalmente, a esteatose hepática alcoólica era considerada absolutamente benigna, mas assim como ocorre com o espectro da doença hepática gordurosa não alcoólica, o desenvolvimento de esteato-hepatite e alguns elementos patológicos (p. ex., mitocôndrias gigantes, fibrose perivenular e gordura macrovesicular) podem estar associados à lesão hepática progressiva. A transição entre esteatose hepática e desenvolvimento de hepatite alcoólica é obscura. O elemento mais característico da hepatite alcoólica é lesão dos hepatócitos, que se caracteriza por degeneração abalonada, necrose salpicada (irregular), infiltrado de polimorfonucleares e fibrose dos espaços perivenular e perissinusoidal de Disse. Os corpúsculos de Mallory-Denk estão presentes com frequência nos casos mais exuberantes, porém são inespecíficos e desnecessários para o estabelecimento do diagnóstico. Admite-se que a hepatite alcoólica seja um precursor do desenvolvimento de cirrose. Entretanto, à semelhança da esteatose hepática, é potencialmente reversível com a cessação do consumo de álcool. A cirrose está presente em até 50% dos pacientes com hepatite alcoólica comprovada por biópsia e sua regressão é duvidosa, mesmo depois da abstenção. Manifestações clínicas As manifestações clínicas da esteatose hepática alcoólica são sutis e, de forma típica, costumam ser identificadas em consequência da consulta do paciente para avaliar um problema aparentemente sem qualquer conexão. Em muitos casos, uma hepatomegalia até então ignorada é com frequência o único achadoclínico. Às vezes, os pacientes com esteatose hepática referem desconforto no quadrante superior direito, náuseas e, raramente, icterícia. É difícil diferenciar entre esteatose hepática alcoólica e não alcoólica, exceto quando há história bem definida de ingestão de álcool. Em todos os casos com hepatopatia, deve ser obtida uma história abrangente e específica relacionada com o uso de bebidas alcoólicas. Perguntas padronizadas e já validadas identificam com exatidão problemas relacionados ao álcool. A hepatite alcoólica está associada a uma gama variada de manifestações clínicas. Febre, nevos aracneiformes, icterícia e dor Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 6 abdominal que simula abdome agudo representam um extremo do espectro, embora muitos pacientes sejam totalmente assintomáticos. Podem ocorrer hipertensão portal, ascite ou sangramento de varizes, mesmo que não haja cirrose. O reconhecimento das manifestações clínicas da hepatite alcoólica é essencial para que possa ser iniciada uma estratégia diagnóstica e terapêutica eficaz apropriada. É importante reconhecer que os pacientes com cirrose alcoólica frequentemente têm manifestações clínicas idênticas às de outras causas de cirrose. Encefalopatia hepática A encefalopatia hepática é uma complicação neuropsiquiátrica potencialmente reversível da insuficiência hepática com uma ampla variedade de manifestações clínicas, desde alterações mínimas na função cognitiva até complicações graves de estupor e coma. A encefalopatia hepática geralmente ocorre em pacientes com cirrose, mas pode ocorrer com outras causas de shunt portossistêmico ou na insuficiência hepática aguda, onde pode evoluir com edema cerebral. Na encefalopatia hepática (EH), as concentrações elevadas de amônia levam ao aumento da síntese de glutamina nos astrócitos, com edema osmótico, falência energética mitocondrial, produção de espécies reativas do nitrogênio e oxigênio, aumentos no neurotransmissor inibitório ácido γ-aminobutírico (GABA) e síntese de supostos “falsos neurotransmissores”. Os primeiros sinais de encefalopatia hepática podem ser sutis e inespecíficos – alterações do padrão de sono ou da personalidade, irritabilidade e embotamento mental. Mais tarde, os pacientes apresentam confusão, desorientação, estupor e, por fim, coma. Na insuficiência hepática aguda, pode haver excitabilidade e mania. Os achados físicos incluem asterixe (spiders) e tremor adejante (flapping) do corpo e da língua. O hálito hepático refere-se ao odor amoniacal ligeiramente adocicado que pode ser observado nos pacientes com insuficiência hepática, sobretudo se houver desvio do sangue entre a veia porta e as veias ao redor do fígado. Outras causas de coma e desorientação devem ser excluídas, principalmente desequilíbrios eletrolíticos, uso de sedativos e insuficiência renal ou respiratória. O desenvolvimento de encefalopatia hepática durante a hepatite aguda é o principal critério para fazer o diagnóstico de hepatite fulminante e indica prognóstico desfavorável. Na hepatopatia crônica, a encefalopatia costuma ser desencadeada por uma complicação clínica como hemorragia gastrintestinal, diurese excessiva, uremia, desidratação, desequilíbrio eletrolítico, infecção, constipação ou uso de analgésicos narcóticos. 2) ESTUDAR A HIPERTENSÃO PORTAL ASSOCIADA A CIRROSE; Cirrose é uma condição definida por sua histopatologia e que tem ampla variedade de manifestações clínicas e complicações, das quais algumas podem ser fatais. No passado, acreditava-se que a cirrose nunca era reversível; contudo, ficou claro que, quando o estímulo deletério básico que causou a cirrose é removido, pode haver reversão da fibrose. Isso é mais evidente com tratamento eficaz da hepatite C crônica; no entanto, a reversão da fibrose também é observada em pacientes com hemocromatose cujo tratamento foi bem-sucedido, assim como nos pacientes com doença hepática alcoólica que pararam de ingerir álcool. Independentemente da causa da cirrose, as características patológicas consistem no desenvolvimento de fibrose até o ponto em que se observa distorção arquitetônica com formação de nódulos regenerativos. Isso resulta na diminuição da massa hepatocelular e, portanto, em sua função, assim como em alteração do fluxo sanguíneo. A indução da fibrose ocorre com a ativação de células estreladas hepáticas, resultando na formação de maior quantidade de colágeno e outros componentes da matriz extracelular. As manifestações clínicas da cirrose são o resultado das alterações patológicas e refletem a gravidade da doença hepática subjacente. A maioria dos hepatopatologistas, ao avaliar as amostras de biópsia do fígado, procura fornecer uma avaliação do grau e estágio da fibrose. Esses esquemas de graduação e estadiamento variam com cada estado patológico e foram desenvolvidos para a maioria das doenças, incluindo hepatite viral crônica, doença hepática gordurosa não alcoólica e cirrose biliar primária. A fibrose avançada geralmente inclui fibrose confluente com formação de nódulos, que é designada como estágio 3, enquanto a cirrose é referida como estágio 4. Os pacientes cirróticos têm graus variáveis de função hepática compensada, e os clínicos devem estabelecer a diferença entre os que apresentam cirrose estável compensada e os que têm cirrose descompensada. Os pacientes que desenvolveram complicações de sua hepatopatia e se tornaram descompensados devem ser avaliados quanto à possibilidade de transplante de fígado. Muitas das complicações da cirrose exigem tratamento específico. A hipertensão portal é um fator Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 7 agravante significativo da cirrose descompensada e é responsável pelo desenvolvimento de ascite e sangramento de varizes esofágicas – duas complicações que indicam a existência de cirrose descompensada. A perda da função hepatocelular resulta em icterícia, distúrbios da coagulação e hipoalbuminemia, e contribui para as causas de encefalopatia portossistêmica. As complicações da cirrose são essencialmente as mesmas, independentemente da etiologia. No entanto, é útil classificar os pacientes de acordo com a causa da doença hepática; os pacientes podem ser classificados nos seguintes grupos gerais: cirrose alcoólica; cirrose decorrente de hepatite viral crônica; cirrose biliar; e outras causas menos comuns, como cirrose cardíaca, cirrose criptogênica e outras etiologias. Cirrose alcóolica A ingestão crônica de álcool pode causar fibrose na ausência de inflamação e/ou necrose concomitante. A fibrose pode ser centrolobular, pericelular ou periportal. Quando a fibrose alcança determinado grau, ocorre desorganização da arquitetura normal do fígado e substituição das células hepáticas por nódulos regenerativos. Com a cirrose alcoólica, os nódulos geralmente têm diâmetro < 3 mm; esse tipo de cirrose recebe a designação de micronodular. Com a cessação do uso de álcool, podem formar-se nódulos maiores, resultando em cirrose micro e macronodular mista. O etanol é absorvido principalmente pelo intestino delgado e, em menor grau, pelo estômago. A álcool- desidrogenase (ADH) gástrica inicia o metabolismo do álcool. Três sistemas enzimáticos são responsáveis pelo metabolismo do álcool no fígado, incluindo a ADH do citosol, o sistema microssomal de oxidação de etanol (MEOS, de microsomal ethanol oxidizing system) e a catalase dos peroxissomos. A maior parte da oxidação do etanol acontece via ADH para formar acetaldeído, que é uma molécula altamente reativa capaz de induzir múltiplos efeitos. Por fim, o acetaldeído é metabolizado em acetato pela aldeído-desidrogenase (ALDH). A ingestão de etanol acarreta maior acúmulo intracelular de triglicerídeos,porque aumenta a captação de ácidos graxos e reduz sua oxidação, assim como a secreção de lipoproteínas. A síntese, a glicosilação e a secreção de proteínas são prejudicadas. A lesão oxidativa às membranas dos hepatócitos ocorre em razão da formação de espécies reativas do oxigênio; o acetaldeído é uma molécula altamente reativa que se combina com proteínas para formar adutos de proteína-acetaldeído. Esses adutos podem interferir na atividade de enzimas específicas, incluindo a formação microtubular e a movimentação (trânsito) das proteínas hepáticas. Com o dano dos hepatócitos mediado pelo acetaldeído, algumas espécies reativas do oxigênio podem resultar na ativação das células de Kupffer. Consequentemente, são produzidas citocinas pró- fibrogênicas que desencadeiam e perpetuam a ativação das células estreladas, resultando na formação de quantidades excessivas de colágeno e matriz extracelular. O tecido conectivo acumula-se nas zonas periportais e pericentrais e, por fim, conecta as tríades portais com as veias centrais, formando nódulos regenerativos. Ocorre perda de hepatócitos e, com a produção e deposição cada vez maiores de colágeno aliada à destruição contínua de hepatócitos, o fígado contrai e diminui de tamanho. Em geral, esse processo leva anos a décadas para acontecer e requer estímulos deletérios repetidos. Os pacientes com doença hepática alcoólica podem apresentar-se com sintomas inespecíficos como dor abdominal difusa no quadrante superior direito, febre, náuseas e vômitos, diarreia, anorexia e mal-estar. Alternativamente, podem apresentar-se com complicações mais específicas da hepatopatia crônica, incluindo ascite, edema ou hemorragia gastrintestinal (GI) alta. Muitos casos são reconhecidos casualmente por ocasião da necrópsia ou de uma cirurgia eletiva. Outras manifestações clínicas incluem o desenvolvimento de icterícia ou encefalopatia. O início súbito de qualquer uma dessas complicações pode ser o primeiro evento que leva o paciente a procurar assistência médica. Outros pacientes podem ser diagnosticados no transcorrer de uma avaliação dos exames laboratoriais de rotina que se revelam anormais. Ao exame físico, o fígado e o baço podem estar aumentados de volume com borda hepática firme Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 8 e nodular. Outros sinais frequentes são icterícia das escleras, eritema palmar, angiomas aracneiformes, aumento de volume das parótidas, baqueteamento digital, atrofia muscular ou acumulação de edema e ascite. Os homens podem ter redução dos pelos corporais e ginecomastia, assim como atrofia testicular, que pode ser consequência de anormalidades hormonais ou um efeito tóxico direto do álcool sobre os testículos. Nas mulheres com cirrose alcoólica em fase avançada, costumam ocorrer irregularidades menstruais e algumas delas podem ter amenorreia. Essas alterações comumente são revertidas com a cessação da ingestão de álcool. A evolução clínica dos pacientes com cirrose avançada frequentemente é complicada por inúmeras sequelas importantes, que podem ocorrer independentemente da causa subjacente da doença hepática. Isso inclui hipertensão portal e suas consequências, como hemorragia varicosa gastresofágica, esplenomegalia, ascite, encefalopatia hepática, peritonite bacteriana espontânea (PBE), síndrome hepatorrenal (SHR) e carcinoma hepatocelular. Hipertensão portal A hipertensão portal é definida por elevação do gradiente de pressão venosa hepática (GPVH) > 5 mmHg. A hipertensão portal é causada por uma combinação de dois processos hemodinâmicos que ocorrem simultaneamente: (1) resistência intra- hepática aumentada à passagem do fluxo sanguíneo pelo fígado em função da cirrose e dos nódulos regenerativos, e (2) fluxo sanguíneo esplâncnico aumentado secundário à vasodilatação dentro do leito vascular esplâncnico. A hipertensão portal é diretamente responsável pelas duas principais complicações da cirrose: hemorragia varicosa e ascite. A hemorragia varicosa é um problema imediato e ameaçador com taxa de mortalidade associada de 20 a 30% a cada episódio de sangramento. O sistema venoso portal drena normalmente o sangue proveniente do estômago, intestinos, baço, pâncreas e vesícula biliar, enquanto a veia porta é formada pela confluência das veias mesentérica superior e esplênica. O sangue desoxigenado proveniente do intestino delgado drena para dentro da veia mesentérica superior junto com o sangue proveniente da cabeça do pâncreas, cólon ascendente e parte do cólon transverso. Por outro lado, a veia esplênica drena o baço e o pâncreas, e comunica-se com a veia mesentérica inferior, que traz sangue proveniente dos cólons transverso e descendente, assim como dos dois terços superiores do reto. Assim, a veia porta recebe normalmente sangue proveniente de quase todo o trato GI. As causas de hipertensão portal geralmente são subdivididas em préhepáticas, intra-hepáticas e pós-hepáticas. As causas pré-hepáticas de hipertensão portal são as que afetam o sistema venoso portal antes de entrar no fígado; isso inclui trombose da veia porta e trombose da veia esplênica. As causas pós-hepáticas reúnem as que afetam as veias hepáticas e a drenagem venosa para o coração; isso inclui SBC, doença venoclusiva e congestão cardíaca crônica do lado direito. As causas intra- hepáticas são responsáveis por > 95% dos casos de hipertensão portal e são representadas pelas principais formas de cirrose. As causas intra-hepáticas de hipertensão portal podem ser subdivididas em causas pré-sinusoidais, sinusoidais e pós-sinusoidais. As causas póssinusoidais incluem doença venoclusiva, enquanto as causas pré- sinusoidais incluem fibrose hepática congênita e esquistossomose. As causas sinusoidais estão relacionadas com diversas causas de cirrose. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 9 Cirrose é a causa mais comum de hipertensão portal nos Estados Unidos, e > 60% dos pacientes cirróticos têm hipertensão portal clinicamente significativa. A obstrução da veia porta pode ser idiopática ou está associada à cirrose ou infecção, pancreatite ou traumatismo abdominal. Os distúrbios da coagulação que podem causar trombose da veia porta incluem policitemia vera; trombocitose essencial; deficiências de proteína C, proteína S, antitrombina 3 e fator V de Leiden; e anormalidades do gene que regula a produção de protrombina. Alguns pacientes podem ter um distúrbio mieloproliferativo subclínico. As três complicações principais da hipertensão portal são varizes gastresofágicas com hemorragia, ascite e hiperesplenismo. Desse modo, os pacientes podem apresentar-se com hemorragia digestiva alta que, ao exame endoscópico, demonstra ser decorrente de varizes esofágicas ou gástricas; ascite com edema periférico; ou baço aumentado de volume com redução associada das plaquetas e dos leucócitos nos exames laboratoriais de rotina. 3) EXPLICAR A ASCITE E A ANÁLISE DE LIQUIDO ASCÍTICO; Ascite é acumulação de líquido na cavidade peritoneal. Incontestavelmente, a causa mais comum de ascite é hipertensão portal relacionada com a cirrose; contudo, os clínicos devem lembrar-se de que também pode haver causas malignas ou infecciosas de ascite, sendo obviamente importante para a assistência ao paciente a diferenciação minuciosa dessas outras causas (outras causas incluem malignidade, síndrome nefrótica, insuficiência cardíaca, desnutrição e infecções, como tuberculose peritoneal). Patogênese A existência de hipertensão portal contribui para o desenvolvimento de ascite nos pacientes cirróticos. Há aumento da resistência intrahepática, que é responsável pela pressão portal alta, mas também ocorre vasodilatação do sistema arterial esplâncnicoque, por sua vez, aumenta a entrada de sangue venoso portal. Essas duas anormalidades resultam em maior produção de linfa esplâncnica. Fatores vasodilatadores, como o óxido nítrico, são responsáveis pelo efeito vasodilatador. As alterações hemodinâmicas resultam em retenção de sódio pelo fato de acarretarem ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, que leva ao desenvolvimento de hiperaldosteronismo. Os efeitos renais das quantidades maiores de aldosterona que acarretam retenção de sódio também contribuem para a formação da ascite. A retenção de sódio causa acumulação de líquido e expansão do volume líquido extracelular, que resulta na formação de edema periférico e ascite. A retenção de sódio é consequência de uma resposta homeostática causada pelo enchimento insuficiente da circulação arterial devido à vasodilatação arterial do leito vascular esplâncnico. Como o líquido retido escapa constantemente e sai do compartimento intravascular para a cavidade peritoneal, a detecção do enchimento vascular não é alcançada e o processo continua. A hipoalbuminemia e a pressão oncótica reduzida do plasma também contribuem para a perda de líquido pelo compartimento vascular e para sua transferência para a cavidade peritoneal. A hipoalbuminemia deve- se à redução da função sintética do fígado cirrótico. Manifestações clínicas Nos casos típicos, os pacientes percebem um aumento da circunferência abdominal acompanhado com frequência pelo desenvolvimento de edema periférico. A instalação da ascite costuma ser insidiosa e é surpreendente que alguns pacientes esperem por períodos tão longos e tornem-se tão distendidos antes de procurar assistência médica. Em geral, os pacientes Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 10 acumulam pelo menos 1 a 2 L de líquido no abdome antes de perceber algum aumento. Quando o líquido ascítico é volumoso, a função respiratória pode ser comprometida e os pacientes queixam-se de falta de ar. Nessas circunstâncias, pode ocorrer também hidrotórax hepático, que contribui para os sintomas respiratórios. Com grande frequência, os pacientes com ascite volumosa estão desnutridos e têm atrofia muscular, assim como fadiga e fraqueza excessivas. Diagnóstico O diagnóstico da ascite é estabelecido pelo exame físico e, muitas vezes, complementado por exames de imagem do abdome. Os pacientes têm flancos proeminentes, podem evidenciar uma onda líquida, ou podem demonstrar a presença de macicez móvel de decúbito. Isso é determinado passando-se o paciente da posição supina para decúbito lateral esquerdo ou direito e observando-se a mudança da macicez à percussão. Quantidades menores de ascite podem ser detectadas por ultrassonografia ou TC. Considere a ultrassonografia para diagnóstico duvidoso e para avaliar o fígado quanto a cirrose, sinais de hipertensão portal (como esplenomegalia), tumores e trombose da veia porta ou hepática. O hidrotórax hepático é mais comum no lado direito e significa uma abertura no diafragma com fluxo livre do líquido ascítico para dentro da cavidade torácica. Quando os pacientes apresentam-se com ascite pela primeira vez, recomenda-se realizar uma paracentese diagnóstica a fim de caracterizar o líquido. Isso deve incluir a determinação da concentração total de proteínas e albumina, contagens de células sanguíneas, assim como a contagem diferencial e cultura. Nos casos apropriados, pode-se dosar a amilase e realizar a citologia. A avaliação laboratorial pode incluir eletrólitos séricos, função renal, função hepática, albumina, testes de coagulação, hemograma completo e proteína e sódio na urina de 24 horas. Realize paracentese diagnóstica em pacientes com ascite moderada (grau 2) ou grande (grau 3) de início recente (recomendação forte) ou em pacientes hospitalizados por doença hepática descompensada. Avalie o líquido ascítico para contagem de células com diferencial, proteína total e albumina (recomendação forte). GASA = valor albumina soro - valor albumina ascite O gradiente de albumina soro-ascite (SAAG/GASA) correlaciona-se diretamente com as pressões portais. • Um gradiente SAAG ≥ 1,1 g/dL sugere hipertensão portal, provavelmente decorrente de cirrose. Outras causas incluem congestão venosa, como insuficiência cardíaca do lado direito. • Um gradiente SAAG < 1,1 g/dL sugere outras causas de ascite, como carcinomatose peritoneal, infecção peritoneal crônica, síndrome nefrótica, ascite pancreática e enteropatia perdedora de proteínas. Ascite associada a mixedema no hipotireoidismo pode ter SAAG alto ou baixo. Considere lactato desidrogenase (LDH) e citologia se estiver preocupado com malignidade, e outros estudos conforme indicado pela probabilidade de doença (recomendação fraca). Solicite coloração de Gram, cultura e glicose se estiver preocupado com infecção antes de iniciar antibióticos (recomendação forte). Quando os níveis de proteínas do líquido ascítico são muito baixos, os pacientes correm maior risco de desenvolver PBE. Contagens altas de hemácias no líquido ascítico significam que foi realizada uma punção traumática, ou talvez que exista um câncer hepatocelular ou varizes omentais rompidas. Quando a contagem absoluta de leucócitos polimorfonucleares é > 250/μL, deve então ser considerada enfaticamente a questão de uma possível infecção do líquido ascítico. As culturas do líquido ascítico devem ser obtidas utilizando a inoculação em meios de cultura à beira do leito. Tratamento Recomende a restrição de sódio na dieta (reduzindo o sal adicionado e melhorando a consciência do alto teor de sódio em muitos alimentos pré-embalados e enlatados) (recomendação forte) juntamente com a cessação do uso de álcool se etiologia hepática (recomendação forte). Tratar a ascite com gradiente SAAG ≥ 1,1 g/dL com diuréticos juntamente com restrição moderada de sódio em pacientes com cirrose (recomendação forte). • Considere iniciar com espironolactona 100 mg uma vez ao dia e adicionar furosemida 40 mg por via oral uma vez ao dia em pacientes com edema (recomendação fraca). • Considere aumentar as doses a cada 3-5 dias se a perda de peso e a natriurese forem inadequadas, até espironolactona 400 mg/dia e furosemida 160 mg/dia (recomendação fraca). • Considere suspender a furosemida se houver hiponatremia e diminuir a dose de espironolactona se houver hipercalemia (recomendação fraca). Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 11 Considere a suspensão de diuréticos se houver insuficiência renal. Trate a ascite com um gradiente SAAG <1,1 g/dL abordando a etiologia subjacente, pois os diuréticos geralmente são ineficazes e podem levar à depleção de volume. Para tratar ou prevenir a peritonite bacteriana: • Usar antibioticoterapia empírica (como cefotaxima 2 g IV a cada 8 horas) para pacientes com contagem de leucócitos polimorfonucleares em ascite ≥ 250 células/mm 3 ou sinais de infecção (Recomendação forte). • Use profilaxia antibiótica de curto prazo (7 dias) para pacientes com cirrose e sangramento gastrointestinal alto ativo (recomendação forte). • Considerar profilaxia antibiótica de longo prazo para pacientes com cirrose e ascite se o nível de proteína do líquido ascítico for < 1,5 g/dL (15 g/L) e houver comprometimento da função renal (Cr>1,2 mg/dL, BUN>25 mg/dL, ou Na<130 mmol/L) ou insuficiência hepática (escore de Child ≥9 e bilirrubina ≥3 mg/dl) (recomendação fraca). • Considere a profilaxia secundária com antibióticos de longo prazo para pacientes com cirrose e um episódio anterior de peritonite bacteriana espontânea. Realize paracentese terapêutica de grande volume para ascite grande com distensão abdominal acentuada (recomendação forte). Considere albumina (6-8 g/L de líquido ascíticoremovido) (Recomendação forte se > 5 L removidos, Recomendação fraca se < 5 L removidos). Limite a dose de albumina para ≤ 1,5 g/kg/dia. Considere a derivação portossistêmica intra-hepática transjugular (TIPS) para ascite ou hidrotórax associado que não responde à restrição de sódio e terapia diurética, ou pacientes que requerem paracentese mais de uma vez a cada duas semanas. • O TIPS aumenta o risco de encefalopatia hepática. • O TIPS pode não ser apropriado em pacientes com fração de ejeção cardíaca < 60% ou disfunção diastólica, hipertensão portopulmonar, doença do parênquima renal, hemodiálise, carcinoma hepatocelular, episódios repetidos de encefalopatia hepática ou trombose completa da veia porta. Considerar a avaliação do transplante hepático para pacientes com cirrose e ascite, com avaliação acelerada se houver piora da disfunção renal ou rápida descompensação hepática (recomendação fraca). Para ascite refratária, considerar a descontinuação dos betabloqueadores (recomendação fraca) e encaminhar para avaliação de transplante de fígado (recomendação forte). Pacientes com ascite hemorrágica podem necessitar de estabilização hemodinâmica imediata seguida de identificação e controle de sangramento peritoneal. 4) CONHECER A ICTERÍCIA E A AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE BILIRRUBINAS; Metabolismo da bilirrubina Após 120 dias, as hemáceas são fagocitadas pelo Sistema Reticulo Endotelial (baço, fígado e medula óssea) e a fração heme da hemoglobina serve de fonte para a formação da bilirrubina, que é conjugada no fígado para depois ser eliminada na bile. Assim, cerca de 80% da bilirrubina formada no organismo deriva da hemoglobina de hemáceas. O restante (20%) são produtos da degradação de hemoproteínas não hemoglobínicas como catalase e citocromos. O metabolismo hepático da bilirrubina envolve quatro etapas: produção, captação, conjugação e excreção, onde este é a etapa limitante e mais susceptível de falha em doenças hepáticas. A bilirrubina, principal componente dos pigmentos biliares, é o produto do catabolismo da hemoglobina e outras hemoproteínas, após a destruição normal ou patológica das hemáceas. Quando os eritrócitos chegam ao fim dos seus 120 dias e se tornam muito frágeis para permanecerem na circulação sanguínea, suas membranas se rompem e a hemoglobina liberada é fagocitada por macrófagos teciduais ou sistema reticulo endotelial (S.R.E.) em todo organismo. A hemoglobina é inicialmente desdobrada em globina e heme, e o anel heme é aberto, produzindo ferro livre, que é transportado pela transferrina e uma cadeia linear de quatro núcleos pirrólicos, que constitui o substrato a partir do qual será formada, a bilirrubina (heme). A primeira substancia formada é a biliverdina, que é rapidamente reduzida à bilirrubina livre, que é liberada gradualmente no plasma pelos macrófagos. A bilirrubina livre combina-se imediatamente com a albumina plasmática e, nesta combinação, é transportada para o sangue e líquidos intersticiais. Mesmo quando ligado à proteína plasmática, esta bilirrubina é ainda denominada bilirrubina livre. Dentro de poucas horas, a bilirrubina livre é absorvida através da membrana celular hepática e ao passar para o interior das células hepáticas, é liberada da albumina plasmática e, pouco depois, cerca de 80%, são conjugados com ácido glicurônico para formar Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 12 glicuronídeo de bilirrubina, enquanto cerca de 10% são conjugados com sulfato, formando sulfato de bilirrubina, e os 10% restantes, são conjugados com numerosas outras substancias e desta forma são excretadas dos hepatócitos por um processo de transporte ativo nos canalículos, biliares e em seguida, no intestino. Se no intestino a bilirrubina voltar a ficar livre, sofre uma redução por enzimas da flora bacteriana, tornando-se estercobilinogênio. Este é oxidado pelo oxigênio atmosférico, convertendo-se a estercobilina, que da cor às fezes, por ser muito solúvel em água, uma parte do estercobilinogênio é reabsorvido e eliminado na urina. Somente a forma conjugada de bilirrubina, que é solúvel em água, é eliminada pelo fígado e rins. Como consequência tem varias ocorrências fisiopatológicas de considerável importância clínica: na insuficiência de glicuroniltransferase ocorre hiperbilirrubinemia porque a bilirrubina indireta não se transforma em direta; icterícia por hiper-hemólise não há eliminação urinária de bilirrubina (urina clara) porque nesses casos, o pigmento retido no sangue é de tipo indireto; nas icterícias causadas por lesão hepatocelular ou hepatocanalicular, bem como na obstrução biliar externa, esta presente a eliminação urinaria de bilirrubina (urina escura), já que o pigmento retido é do tipo direto. Icterícia O termo icterícia refere-se à coloração amarelada dos tecidos, incluindo a amarelidão da pele e dos tecidos profundos. Em geral, a icterícea é causada por grandes quantidades de bilirrubina nos líquidos extracelulares, na forma de bilirrubina livre ou conjugada. A concentração plasmática de bilirrubina, que se encontra quase que totalmente na forma livre, é em media 0,5 mg/dL de plasma. Em certas condições anormais, esta concentração pode aumentar e atingir 40,0 mg/dL, e grande parte pode ser transformada na forma conjugada. Em geral, a pele começa a mostrar-se ictérica quando a concentração aumenta para cerca de três vezes o valor normal, isto é, quando ultrapassa 1,5 mg/dL. Há quatro tipos de icterícia: hemolítica, parenquimatosa, obstrutiva e neonatal. A icterícia parenquimatosa resulta da lesão do hepatócito sejam por vírus, drogas, podendo ser toxicas ou autoimunes. Apresentam o aumento da bilirrubina direta e nas formas mais graves podem apresentar colúria e acolia fecal. Bilirrubina sérica A bilirrubina – um produto da quebra do anel de porfirina de proteínas que contêm heme – está presente no sangue em duas frações – conjugada e não conjugada. A fração não conjugada, também denominada fração indireta, é insolúvel na água e está ligada à albumina no sangue. A fração da bilirrubina conjugada (direta) é hidrossolúvel, podendo, portanto, ser excretada pelos rins. Os valores normais de bilirrubina sérica total são relatados entre 1,0 e 1,5 mg/dL, mas 95% da população normal têm níveis entre 0,2 e 0,9 mg/dL. Quando a fração direta representa < 15% do total, a bilirrubina pode ser considerada indireta em sua totalidade. O limite superior da normalidade mais frequentemente relatado para a bilirrubina conjugada é de 0,3 mg/dL. A elevação da fração da bilirrubina não conjugada raramente se deve à doença hepática. A elevação isolada da bilirrubina não conjugada é observada principalmente em distúrbios hemolíticos, bem como em várias doenças genéticas como as síndromes de Crigler-Najjar e de Gilbert. A hiperbilirrubinemia não conjugada isolada (bilirrubina elevada, porém < 15% de bilirrubina direta) deve levar a uma investigação quanto à possível presença de hemólise. Na ausência de hemólise, a hiperbilirrubinemia não conjugada isolada em um Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 13 paciente sadio pode ser atribuída à síndrome de Gilbert e nenhuma avaliação adicional é necessária. Em contrapartida, hiperbilirrubinemia conjugada significa quase sempre doença do fígado ou do trato biliar. A etapa limitante da taxa de metabolismo da bilirrubina não é sua conjugação, mas sim o transporte da bilirrubina conjugada para dentro dos canalículos biliares. Por essa razão, a elevação da fração conjugada pode ocorrer com qualquer tipo de doença hepática, inclusive insuficiência hepática fulminante. Na maioria das doenças hepáticas, as frações conjugada e não conjugada da bilirrubina tendem a estar elevadas.Exceto na presença de hiperbilirrubinemia unicamente da fração não conjugada, o fracionamento da bilirrubina raramente tem utilidade para determinar a etiologia da icterícia. Embora o grau de elevação da bilirrubina sérica não tenha sido criticamente avaliado como marcador prognóstico, é importante em várias condições. Na hepatite viral, quanto mais elevado o nível sérico de bilirrubina, maior a lesão hepatocelular. A bilirrubina sérica total correlaciona-se com prognósticos desfavoráveis na hepatite alcoólica. Além disso, esse parâmetro é um componente fundamental do escore do Modelo para Doença Hepática Terminal (MELD, de Model for End-Stage Liver Disease) – um instrumento utilizado para estimar a sobrevida dos pacientes com doença hepática terminal e avaliar o risco cirúrgico de pacientes com cirrose. A obtenção de um valor elevado de bilirrubina sérica total em pacientes com doença hepática induzida por fármacos indica uma lesão mais grave. A bilirrubina não conjugada está sempre ligada à albumina no soro e não é filtrada pelo rim. Por isso, qualquer bilirrubina encontrada na urina é representada por bilirrubina conjugada; a presença de bilirrubinúria implica a presença de doença hepática. Teoricamente, um exame de urina com fita reagente pode proporcionar a mesma informação conseguida com o fracionamento da bilirrubina sérica. Esse teste tem precisão de quase 100%. As fenotiazinas podem acarretar resultado falso-positivo com o comprimido Ictotest. Nos pacientes que estão na fase de recuperação da icterícia, a bilirrubina urinária normaliza antes da bilirrubina sérica. 5) ESTUDAR OS EXAMES UTILIZADOS PARA AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO HEPÁTICA; Existem alguns exames que podem ser usados para avaliar a função hepática, incluindo exames bioquímicos, exames radiológicos e análises anatomopatológicas. Para os pacientes sob suspeita de doença hepática, uma abordagem apropriada à avaliação consiste em solicitar as provas de função hepática rotineiras iniciais – por exemplo, dosagens dos níveis séricos de bilirrubina, albumina, alanina-aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e fosfatase alcalina (ALP). Esses resultados (às vezes complementados pela dosagem da gama-glutamiltranspeptidase; GGTP) determinam se o padrão das anormalidades é hepático, colestático ou misto. Além disso, a duração dos sintomas ou das anormalidades indica se a doença é aguda ou crônica. Quando a doença é crônica, a biópsia do fígado pode ser útil não apenas para estabelecer o diagnóstico, mas também para determinar o grau de atividade e estágio de progressão da doença. Essa abordagem geralmente pode ser aplicada a pacientes sem imunodeficiência. Para os pacientes HIV-positivos ou receptores de transplantes de medula óssea ou órgãos sólidos, a avaliação diagnóstica também deve incluir a investigação de infecções oportunistas. Os testes bioquímicos séricos, também referidos comumente como “provas de função hepática”, podem ser utilizados para: (1) detectar a existência de doença hepática; (2) diferenciar os diversos tipos de doença hepática; (3) determinar a extensão da lesão hepática diagnosticada; e (4) acompanhar a resposta ao tratamento. Entretanto, os testes bioquímicos séricos têm inconvenientes. Sua sensibilidade e especificidade são baixas, ou seja, podem ser normais nos pacientes com doença hepática grave e anormais nos pacientes com doenças que não afetam o fígado. As provas de função hepática raramente sugerem um diagnóstico Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 14 específico; na verdade, sugerem uma categoria geral de doença hepática, como hepatocelular ou colestática, quando fornecem uma orientação adicional para a avaliação. O fígado desempenha milhares de funções bioquímicas, a maioria das quais não pode ser medida facilmente pelos exames de sangue. Os exames de laboratório medem apenas um número limitado dessas funções. De fato, muitos exames (p. ex., aminotransferases ou fosfatase alcalina) não medem de modo algum a função hepática. Na verdade, esses exames identificam a existência de lesão das células hepáticas ou interferência no fluxo da bile. Por conseguinte, nenhum exame isolado possibilita ao médico avaliar a capacidade funcional total do fígado com precisão. Para aumentar a sensibilidade e a especificidade dos exames laboratoriais na identificação de uma hepatopatia, é preferível utilizá-los na forma de uma bateria. Os exames utilizados habitualmente na prática clínica incluem bilirrubina, aminotransferases, fosfatase alcalina, albumina e tempo de protrombina. Quando mais de um desses exames apresentam resultados anormais ou quando os resultados são persistentemente anormais em determinações seriadas, a probabilidade de existir uma doença hepática é grande. Quando todos os resultados dos exames são normais, a probabilidade de uma doença hepática oculta passar despercebida é pequena. Enzimas séricas O fígado contém milhares de enzimas, algumas das quais estão presentes também no soro em concentrações muito baixas. Essas enzimas não desempenham qualquer função conhecida no soro e comportam-se como outras proteínas séricas. Estão distribuídas no plasma e no líquido intersticial e têm meias-vidas características, medidas habitualmente em dias. Muito pouco se sabe acerca do catabolismo das enzimas séricas, porém é provável que sejam depuradas pelas células do sistema reticuloendotelial. Acredita-se que a elevação de determinada atividade enzimática no soro reflita principalmente sua taxa aumentada de entrada no soro a partir das células hepáticas destruídas. Os exames das enzimas séricas podem ser classificados em dois grupos: (1) enzimas cujas elevações no soro refletem lesão dos hepatócitos; e (2) enzimas cujas elevações no soro indicam colestase. → Enzimas que refletem lesão dos hepatócitos As aminotransferases (transaminases) são indicadores sensíveis de lesão das células hepáticas e são extremamente úteis para detectar doenças hepatocelulares agudas como a hepatite. Essas enzimas são aspartato-aminotransferase (AST) e alaninaaminotransferase (ALT). A AST é encontrada no fígado, miocárdio, músculo esquelético, rins, cérebro, pâncreas, pulmões, leucócitos e hemácias, em ordem decrescente de concentração. A ALT é encontrada principalmente no fígado e, portanto, é um indicador mais específico de lesão hepática. As aminotransferases estão presentes normalmente no soro em baixas concentrações. Essas enzimas são liberadas e lançadas no sangue em maiores quantidades quando há algum dano à membrana das células hepáticas, resultando em maior permeabilidade. Não é necessária a necrose dos hepatócitos para haver liberação das aminotransferases, e existe uma correlação precária entre o grau de lesão dos hepatócitos e o nível das aminotransferases. Por conseguinte, a elevação absoluta das aminotransferases não tem qualquer significado prognóstico nos distúrbios hepatocelulares agudos. As faixas normais das aminotransferases variam amplamente entre os laboratórios, porém em geral são de 10 a 40 UI/L. A variação interlaboratorial da faixa normal deve-se a motivos técnicos; não existe qualquer padrão de referência para estabelecer os limites superiores da normalidade para a ALT e a AST. Alguns especialistas recomendaram revisões dos limites normais das aminotransferases para ajustes quanto ao sexo e ao índice de massa corporal (IMC), enquanto outros assinalaram os custos potenciais e os benefícios incertos da implementação dessa modificação. Qualquer tipo de lesão dos hepatócitos pode causar elevações moderadas das aminotransferases séricas. Níveis séricos de até 300 UI/L são inespecíficos e podem ser encontrados em qualquer tipo de distúrbio hepático. Elevaçõesmínimas da ALT em doadores de sangue assintomáticos raramente indicam doença hepática grave. Estudos mostraram que esteatose hepática é a explicação mais plausível. Elevações notáveis – isto é, aminotransferases > 1.000 UI/L – ocorrem quase exclusivamente em distúrbios associados à lesão hepatocelular extensiva, como (1) hepatite viral, (2) lesão hepática isquêmica (hipotensão prolongada ou insuficiência cardíaca aguda) ou (3) lesão hepática induzida por toxinas ou por fármacos. O padrão de elevação das aminotransferases pode ajudar a estabelecer o diagnóstico. Com a maioria dos distúrbios hepatocelulares agudos, a ALT é mais alta que ou é igual à AST. Embora a razão AST:ALT seja geralmente < 1 em pacientes com hepatite viral crônica e doença hepática gordurosa não alcoólica, vários grupos assinalaram que, com o desenvolvimento da Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 15 cirrose, essa razão aumenta e se torna > 1. Uma razão AST:ALT > 2:1 é sugestiva, enquanto uma razão > 3:1 é altamente sugestiva de doença hepática alcoólica. Nos pacientes com doença hepática alcoólica, a AST apenas raramente alcança níveis > 300 UI/L e a ALT comumente está normal. O nível sérico baixo de ALT resulta da deficiência de fosfato de piridoxal induzida pelo álcool. Em geral, as aminotransferases não estão acentuadamente elevadas nos pacientes com icterícia obstrutiva. Há uma exceção notável durante a fase aguda da obstrução biliar causada pela passagem de um cálculo biliar no ducto colédoco. Nessas circunstâncias, por um curto período, as aminotransferases podem ficar entre 1.000 e 2.000 UI/L. Entretanto, os níveis das aminotransferases diminuem rapidamente e os exames bioquímicos evoluem de imediato para os valores típicos de colestase. → Enzimas que refletem colestase As atividades de três enzimas – fosfatase alcalina, 5ʹ- nucleotidase e gama-glutamiltranspeptidase (GGTP) – em geral se mostram elevadas na colestase. A fosfatase alcalina e a 5ʹ-nucleotidase são encontradas dentro ou perto da membrana dos canalículos biliares dos hepatócitos, enquanto a GGTP fica localizada no retículo endoplasmático e nas células epiteliais dos ductos biliares. Refletindo sua localização mais difusa no fígado, a elevação da GGTP no soro é menos específica para colestase que as elevações da fosfatase alcalina ou 5ʹ-nucleotidase. Alguns especialistas aconselharam utilizar a GGTP para identificar os pacientes que não informam ter usado álcool. Em razão de sua falta de especificidade, o seu uso é questionável nessa situação. A fosfatase alcalina sérica normal é constituída de muitas isoenzimas diferentes encontradas no fígado, no osso, na placenta e, menos comumente, no intestino delgado. Os pacientes com mais de 60 anos de idade têm fosfatase alcalina ligeiramente elevada (1 a 1,5 vez acima do valor normal), enquanto os indivíduos com os tipos sanguíneos O e B podem evidenciar elevação da fosfatase alcalina sérica depois da ingesta de refeição gordurosa, devido à entrada da fosfatase alcalina intestinal na corrente sanguínea. Além disso, essa enzima também está elevada em crianças e adolescentes com rápido crescimento ósseo, devido à fosfatase alcalina óssea, assim como na fase avançada da gestação normal, devido à entrada da fosfatase alcalina placentária. A elevação da fosfatase alcalina proveniente do fígado não é totalmente específica de colestase e elevações menores que três vezes podem ocorrer com quase qualquer tipo de doença hepática. Elevações da fosfatase alcalina acima de quatro vezes o valor normal ocorrem principalmente em pacientes com distúrbios hepáticos colestáticos, doenças hepáticas infiltrativas (p. ex., câncer e amiloidose) e com distúrbios ósseos caracterizados por turnover ósseo acelerado (p. ex., doença de Paget). Com as osteopatias, a elevação é causada por maiores quantidades das isoenzimas ósseas. Com as doenças hepáticas, a elevação devese, quase sempre, a quantidades aumentadas da isoenzima hepática. Quando a fosfatase alcalina sérica elevada é a única anormalidade encontrada em um indivíduo aparentemente sadio, ou quando o grau de elevação é mais alto que o esperado diante da situação clínica, torna-se útil identificar a fonte das isoenzimas elevadas. Esse problema pode ser abordado de duas maneiras. A primeira delas e também a mais precisa consiste no fracionamento da fosfatase alcalina por eletroforese. A segunda abordagem, mais bem substanciada e mais amplamente disponível, envolve a determinação da 5ʹnucleotidase ou GGTP sérica. Essas enzimas raramente estão elevadas em outras condições além da doença hepática. Exames que medem a função de biossíntese do fígado → Albumina sérica A albumina sérica é sintetizada exclusivamente pelos hepatócitos. A albumina sérica tem meia-vida longa: 18 a 20 dias, com degradação de cerca de 4% por dia. Devido a essa renovação lenta, a albumina sérica não é um indicador confiável de disfunção hepática aguda ou Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 16 leve; são observadas alterações apenas mínimas na albumina sérica nas doenças hepáticas agudas como hepatite viral, hepatotoxicidade relacionada com fármacos e icterícia obstrutiva. Na hepatite, níveis de albumina < 3 g/dL devem sugerir a possibilidade de hepatopatia crônica. A hipoalbuminemia é mais comum nos distúrbios hepáticos crônicos como a cirrose, e reflete habitualmente um dano hepático acentuado e síntese diminuída de albumina. Uma exceção é representada pelo paciente com ascite, no qual a síntese pode ser normal ou mesmo aumentada, porém cujos níveis são baixos em razão do maior volume de distribuição. Entretanto, a hipoalbuminemia não é específica de doença hepática e pode ocorrer com desnutrição proteica de qualquer causa, assim como nas enteropatias que acarretam perda de proteína, síndrome nefrótica e infecções crônicas associadas a aumentos prolongados dos níveis de interleucina 1 sérica e/ou fator de necrose tumoral, citocinas que inibem a síntese da albumina. A albumina sérica não deve ser dosada como rastreamento dos pacientes sem suspeita de terem uma doença hepática. Um estudo de clínica geral com pacientes nos quais não havia indicações para determinação da albumina mostrou que, embora 12% dos pacientes tivessem resultados anormais dos exames, essa alteração tinha importância clínica em apenas 0,4%. → Globulinas séricas As globulinas séricas constituem um grupo de proteínas formadas por γ-globulinas (imunoglobulinas) produzidas por linfócitos B, bem como globulinas α e β produzidas principalmente nos hepatócitos. As γglobulinas mostram-se aumentadas na doença hepática crônica, como hepatite crônica e cirrose. Na cirrose, a maior concentração sérica de γ-globulina é decorrente da maior síntese de anticorpos, alguns dos quais dirigidos contra as bactérias intestinais. Isso ocorre porque o fígado cirrótico é incapaz de eliminar os antígenos bacterianos que normalmente alcançam o fígado a partir da circulação hepática. Os aumentos da concentração de isótipos específicos das γ-globulinas costumam ser úteis para detectar certas doenças hepáticas crônicas. Aumentos policlonais difusos nos níveis das IgG são comuns na hepatite autoimune; aumentos > 100% devem alertar o clínico para essa possibilidade. É comum a ocorrência de elevações dos níveis de IgM na cirrose biliar primária, enquanto ocorrem aumentos dos níveis de IgA na doença hepática alcoólica. Fatores da coagulação Com exceção do fator VIII, que é produzido pelas células endoteliais vasculares, os fatores da coagulação sanguínea são produzidos exclusivamente nos hepatócitos. A meia-vida sérica desses fatores é muito mais curta que a da albumina, oscilando entre 6 horaspara o fator VII e 5 dias para o fibrinogênio. Em razão de seu turnover rápido, as dosagens dos fatores da coagulação constituem a melhor medida aguda isolada da função da síntese hepática, além de serem úteis tanto para o diagnóstico quanto para determinar o prognóstico da doença hepática aguda do parênquima. Com essa finalidade, é útil o tempo de protrombina sérico, que mede coletivamente os fatores II, V, VII e X. A biossíntese dos fatores II, VII, IX e X depende da vitamina K. A razão normalizada internacional (INR, de international normalized ratio) é utilizada para expressar o grau de anticoagulação durante o tratamento com varfarina. A INR padroniza a medida do tempo de protrombina de acordo com as características do reagente de tromboplastina empregado em determinado laboratório, que é expresso como Índice de Sensibilidade Internacional (ISI); o ISI é então utilizado para calcular a INR. O tempo de protrombina pode estar elevado na hepatite e na cirrose, assim como nos distúrbios que resultam em deficiência de vitamina K, como a icterícia obstrutiva ou má absorção de gorduras de qualquer tipo. Um prolongamento acentuado do tempo de protrombina em mais de 5 segundos acima do valor de controle e que não seja corrigido pela administração parenteral de vitamina K constitui um sinal prognóstico sombrio na hepatite viral aguda, assim como em outras doenças agudas e crônicas do fígado. A INR, juntamente com a bilirrubina sérica total e a creatinina, constitui um dos componentes do escore MELD, que é utilizado como medida de descompensação hepática e para alocar órgãos para transplante de fígado. OUTROS EXAMES DIAGNÓSTICOS Embora os exames possam orientar o médico para determinada categoria de doença hepática, muitas vezes são necessários exames e procedimentos radiológicos adicionais para fazer o diagnóstico correto. → Amônia A amônia é produzida no corpo durante o metabolismo normal das proteínas e pelas bactérias intestinais, principalmente as que habitam o intestino grosso. O fígado desempenha um importante papel na destoxificação da amônia por transformá-la em ureia, que é excretada pelos rins. O músculo estriado também desempenha um papel na destoxificação da amônia, que se combina com ácido glutâmico para formar Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 17 glutamina. Pacientes com doença hepática avançada geralmente têm atrofia muscular significativa, que provavelmente contribui para a hiperamoniemia. Alguns médicos utilizam a amônia sanguínea para diagnosticar encefalopatia ou monitorar a função de síntese hepática, porém sua utilização para essas duas indicações apresenta problemas. Existe pouca correlação entre a presença ou gravidade da encefalopatia aguda e a elevação da amônia sanguínea, a qual pode ser útil ocasionalmente para identificar doença hepática oculta nos pacientes com alterações no estado mental. Há também correlação precária entre amônia sanguínea e função hepática. A amônia pode estar elevada nos pacientes com hipertensão portal grave e desvio do sangue portal ao redor do fígado, mesmo na presença de função hepática normal ou quase normal. Estudos demonstraram que níveis arteriais elevados de amônia se correlacionam com o prognóstico da insuficiência hepática fulminante. → Biópsia hepática A biópsia percutânea do fígado é um procedimento seguro que pode ser realizado facilmente à beira do leito, com anestesia local e orientação da ultrassonografia. A biópsia do fígado tem valor comprovado nas seguintes situações: (1) doença hepatocelular de causa desconhecida; (2) hepatite prolongada com possibilidade de hepatite autoimune; (3) hepatomegalia inexplicável; (4) esplenomegalia inexplicável; (5) lesões hepáticas não caracterizadas na imagem radiológica; (6) febre de origem obscura; e (7) estadiamento de linfoma maligno. A biópsia de fígado é mais confiável nos distúrbios que causam alterações difusas em todo o órgão, mas está sujeita a erros de amostragem nas doenças focais. A biópsia do fígado não deve ser o procedimento inicial no diagnóstico de colestase. A árvore biliar deve ser avaliada primeiro quanto a sinais de obstrução. As contraindicações para a realização de biópsia hepática percutânea consistem em ascite significativa e INR prolongada. Nessas circunstâncias, a biópsia pode ser realizada por abordagem transjugular. → Exames não invasivos para detectar fibrose hepática Embora a biópsia hepática seja padrão de referência para avaliar fibrose hepática, foram desenvolvidas medidas não invasivas de fibrose hepática que se mostraram promissoras. Essas medidas incluem testes de múltiplos parâmetros destinados à detecção e ao estadiamento do grau de fibrose hepática e técnicas de imagem. O FibroTest (comercializado nos Estados Unidos como FibroSure) é o mais bem avaliado dos exames de sangue de múltiplos parâmetros. O exame incorpora haptoglobina, bilirrubina, GGTP, apolipoproteína A-I e α2-macroglobulina, e demonstrou ter um alto valor preditivo tanto positivo quanto negativo para o diagnóstico de fibrose avançada em pacientes com hepatite C crônica, hepatite B crônica e doença hepática alcoólica, bem como em pacientes que recebem metotrexato para tratamento da psoríase. A elastografia transitória (ET, comercializada como FibroScan) e a elastografia por ressonância magnética (ERM) foram aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA) para uso no tratamento de pacientes com doença hepática. A ET utiliza ondas de ultrassom para medir a rigidez hepática de modo não invasivo. A ET demonstrou ser precisa na identificação de fibrose avançada em pacientes com hepatite crônica C, colangite biliar primária, hemocromatose, doença hepática gordurosa não alcoólica e hepatite crônica recorrente depois do transplante de fígado. A ERM demonstrou ser superior à ET para o estadiamento da fibrose hepática em pacientes com várias doenças hepáticas crônicas, porém exige acesso a um aparelho de ressonância magnética. → Ultrassonografia A ultrassonografia é o primeiro exame diagnóstico a ser utilizado em pacientes cujos testes hepáticos sugerem colestase para pesquisar a existência de dilatação da árvore biliar intra-hepática ou extra- hepática, ou identificar a presença de cálculos biliares. Além disso, esse exame demonstra a existência de lesões expansivas dentro do fígado, permite ao clínico estabelecer a diferença entre massas císticas e sólidas, bem como ajuda a orientar as biópsias percutâneas. A ultrassonografia com Doppler (ecodoppler) consegue avaliar a permeabilidade da veia porta, artéria hepática e veias hepáticas, assim como determinar a direção do fluxo sanguíneo. Esse é o primeiro exame solicitado para pacientes sob suspeita de síndrome de Budd- Chiari. 6) ESTUDAR O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HEPATOPATIA ALCOÓLICA. Os pacientes com doença hepática alcoólica são diagnosticados comumente com base nos testes de rastreamento rotineiros. As anormalidades laboratoriais típicas observadas na esteatose hepática são inespecíficas e consistem em elevações moderadas da aspartato-aminotransferase (AST), alanina-aminotransferase (ALT) e gama- glutamiltranspeptidase (GGTP), em geral acompanhadas de hipertrigliceridemia e hiperbilirrubinemia. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 18 Na hepatite alcoólica e em contrapartida a outras causas de esteatose, a AST e ALT geralmente estão 2 a 7 vezes acima dos limites normais. Essas enzimas raramente estão acima de 400 UI e a relação AST/ALT é maior que 1. A hiperbilirrubinemia é acompanhada de aumentos moderados do nível de fosfatase alcalina. Um distúrbio na função de síntese dos hepatócitos indica doença mais grave. Hipoalbuminemia e coagulopatia são comuns com a lesão hepática
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