Prévia do material em texto
AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 FARMÁCIA HOSPITALAR: HISTÓRICO, OBJETIVOS E FUNÇÕES 1.1 HISTÓRICO E CONCEITOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR 1.2 OBJETIVOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR 1.3 FUNÇÕES DA FARMÁCIA HOSPITALAR 2 ÁREA FÍSICA TOTAL DA FARMÁCIA E LOCALIZAÇÃO IDEAL 3 PLANEJAMENTO, CONTROLE E FUNÇÃO DO FARMACÊUTICO 4 CENTRO DE ABASTECIMENTO FARMACÊUTICO (CAF) 4.1 LOCALIZAÇÃO DOS MATERIAIS 5 AQUISIÇÃO DE MATERIAIS: LICITAÇÕES 5.1 PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO 5.2 MODALIDADES DA LICITAÇÃO 7 CONTROLE DE ESTOQUE 7.1 ESPECIFICIDADES DO CONTROLE DE ESTOQUES 7.1.1 Parâmetros de compra 7.1.1.1 Média aritmética móvel 7.1.1.2 Último período 7.1.1.3 Média móvel ponderada 7.1.1.4 Média ponderada exponencial 7.1.1.5 Mínimos quadrados 7.1.2 Estoque de segurança 7.1.3 Curva ABC 7.1.3.1 Elaboração da curva ABC 7.1.3.1.1 Coleta de dados 7.1.3.2 Comportamentos da curva ABC 7.1.4 Ponto de ressuprimento 7.1.5 Lote de ressuprimento 7.1.6 Estoque Máximo 7.1.7 Lote econômico AN02FREV001/REV 4.0 4 7.2 MÉTODOS DE CONTROLE FÍSICO DE ESTOQUES 7.2.1 Inventário 8 SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS 8.1 SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO COLETIVO 8.1.1 Desvantagens do sistema de distribuição coletivo 8.2 SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO INDIVIDUALIZADO 8.1.2 Vantagens do sistema de distribuição coletivo 8.2.1 Desvantagens do sistema de distribuição individualizado 8.2.2 Vantagens do sistema de distribuição individualizado 8.3 SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO MISTO OU COMBINADO 8.3.1 Acondicionamento e embalagem de dose unitária 8.3.2 Materiais utilizados no preparo de dose unitária 8.3.3 Considerações específicas de embalagem das seguintes formas farmacêuticas 8.3.3.1 Líquidos para uso oral 8.3.3.2 Sólidos de uso oral 8.3.3.3 Medicamentos para o uso parenteral 8.3.4 Requisitos para implantação do sistema de distribuição por dose unitária 8.3.5 Vantagens do sistema de distribuição por dose unitária 8.3.6 Desvantagens do sistema de distribuição por dose unitária MÓDULO II 9 SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 9.1 O PROCESSO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 9.2 VANTAGENS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 9.3 ETAPAS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 9.4 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 10 COMISSÃO DE PADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS 10.1 COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA 10.2 ESTRUTURA DAS COMISSÕES DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 11 FORMULÁRIO FARMACÊUTICO 12 REALIZAÇÃO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 12.1 SELEÇÃO QUALITATIVA DE MEDICAMENTOS: REVISÃO DE CLASSE AN02FREV001/REV 4.0 5 TERAPÊUTICA 12.2 MÉTODO QUANTITATIVO PARA A SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 12.2.1 Definição do problema, dos objetivos e identificação das alternativas 12.2.2 Definição dos critérios de avaliação 12.2.3 Caracterização das informações necessárias à análise de decisão 12.2.4 Análise de decisão 12.3 SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS REALIZADA POR SISTEMA DE ANÁLISE DE AVALIAÇÃO POR OBJETIVO – SYSTEM OF OBJECTIFIED JUDGMENT ANALYSIS (SOJA) 13 SELEÇÃO DE MEDICAMENTO PARA REDUZIR CUSTOS COM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA 14 INFECÇÕES HOSPITALARES E COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÕES HOSPITALARES (CCIH) 14.1 COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR (CCIH) 15 MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS 15.1 FORMAS FARMACÊUTICAS NÃO ESTÉREIS DE IMPORTÂNCIA NA MANIPULAÇÃO HOSPITALAR 15.2 ESTRUTURA FÍSICA LABORATORIAL PARA MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS 16 QUIMIOTERAPIA E AS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO ONCOLÓGICO 16.1 ATENDIMENTO ÀS PRESCRIÇÕES MÉDICAS 16.2 CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS 16.3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS 16.4 SEGURANÇA NA MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA 16.5 CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS 16.6 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO AN02FREV001/REV 4.0 6 MÓDULO III 17 NUTRIÇÃO PARENTERAL: NUTRIENTES E VIAS 17.1 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO 17.2 COMPLICAÇÕES MECÂNICAS, SÉPTICAS E METABÓLICAS 17.2.1 Complicações pela inserção do cateter 17.2.2 Complicações sépticas 17.2.3 Complicações metabólicas 17.2.3.1 Glicosúria 17.2.3.2 Síndrome hipoglicêmica 17.2.3.3 Hipofosfatemia 17.2.3.4 Hipomagnesemia 17.2.3.5 Concentrações séricas de lipídios 17.2.3.6 Deficiência de ácidos graxos essenciais 17.2.3.7 Alterações Hepáticas 17.2.3.8 Vitaminas 17.2.3.9 Alterações ósseas 17.3 COMPOSIÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL 17.3.1 Macronutrientes 17.3.1.1 Fontes nitrogenadas 17.3.1.2 Fontes de carboidratos 17.3.1.3 Fontes de lipídios 17.3.2 Micronutrientes 17.3.2.1 Vitaminas 17.3.2.2 Eletrólitos 17.3.2.3 Oligoelementos 17.4 OSMOLARIDADE DAS SOLUÇÕES 17.5 NOVOS SUBSTRATOS EM NUTRIÇÃO PARENTERAL 17.6 REQUISITOS ESTRUTURAIS, AMBIENTAIS E FÍSICOS DO SETOR DE NUTRIÇÃO 17.6.1 Estrutura física 17.6.2 Barreira de isolamento 17.6.2.1 Estrutura física da barreira de isolamento AN02FREV001/REV 4.0 7 17.6.2.2 Ambiente interno da barreira de isolamento 17.6.2.3 Tecnológica de interação da barreira de isolamento 17.6.2.4 Sistema de monitoramento da barreira de isolamento 17.7 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL 17.7.1 Estrutura organizacional 17.7.2 Recursos humanos e responsabilidade 17.7.3 Saúde, higiene e conduta 17.7.4 Vestuário 17.7.5 Material 17.7.6 Seleção do recipiente 17.7.7 Técnicas de preparo da nutrição parenteral 17.7.7.1 Preparo com misturadores automáticos 17.7.7.2 Preparo utilizando soluções parcialmente prontas 17.7.7.3 Preparo de lotes 17.7.7.4 Rotulagem e embalagem 17.7.7.5 Conservação e transporte 17.7.7.6 Validação 17.7.7.7 Prazo de validade 17.8 ESTABILIDADE E COMPATIBILIDADE DA NUTRIÇÃO PARENTERAL 17.8.1 Incompatibilidade entre íons cálcio e fosfato 17.8.2 Magnésio 17.8.3 Sódio, potássio, acetato e cloreto 17.8.4 Bicarbonato 17.8.5 Interações entre nutrientes e medicamentos 17.8.6 Interações entre nutrientes 17.9 GARANTIA E CONTROLE DE QUALIDADE DA NUTRIÇÃO PARENTERAL 17.9.1 Garantia da Qualidade 17.9.2 Controle de Qualidade 18 POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS E RENAME 18.1 DIRETRIZES E PRIORIDADES DA PNM 18.1.1 Adoção de uma relação nacional de medicamentos essenciais 18.1.2 Regulamentação sanitária de medicamentos 18.1.3 Reorientação da assistência farmacêutica AN02FREV001/REV 4.0 8 18.1.4 Promoção do uso racional de medicamentos 18.1.5 Desenvolvimento científico e tecnológico 18.1.6 Promoção da produção de medicamentos 18.1.7 Garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos 18.1.8 Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos 18.1.9 Responsabilidades das esferas de governo 18.2 MEDICAMENTOS GENÉRICOS 19 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA: ATENÇÃO FARMACÊUTICA E FARMÁCIA CLÍNICA 19.1 A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA HOSPITALAR E O SURGIMENTO DA FARMÁCIA CLÍNICA 19.2 FARMÁCIA CLÍNICA: DEFINIÇÃO, OBJETIVOS E METODOLOGIA 19.2.1 Objetivos da Farmácia Clínica 19.2.2 Metodologia da Farmácia Clínica 19.3 ATENÇÃO FARMACÊUTICA: CONCEITO, FILOSOFIA E PRINCÍPIOS MÓDULO IV 20 FARMACOECONOMIA 20.1 CUSTOS 20.1.1 Custos diretos 20.1.2 Custos indiretos 20.1.3 Custos intangíveis 20.2ANÁLISE FARMACOECONÔMICA 20.2.1 Análise de custo-benefício 20.2.2 Análise de custo-efetividade 20.2.3 Análises de custo-utilidade 20.2.3.1 Avaliação da qualidade de vida associada à saúde 21 FARMACOVIGILÂNCIA 21.1 ESTUDOS DE FARMACOVIGILÂNCIA 21.1.1 Caso Controle 21.1.2 Coorte 21.1.3 Ecológicos AN02FREV001/REV 4.0 9 21.1.4 Transversais 21.2 PROJETO HOSPITAL SENTINELA 22 CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE MEDICAMENTOS (CIM) 22.1 A UTILIZAÇÃO E A PRODUÇÃO DA INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS PELO CIM 22.2 CENTROS DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS NO BRASIL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 10 MÓDULO I 1 FARMÁCIA HOSPITALAR: HISTÓRICO, OBJETIVOS E FUNÇÕES A atuação do farmacêutico nas instituições hospitalares é importante para garantir uma assistência farmacêutica adequada dentro de critérios técnico- científicos. Além disso, o farmacêutico hospitalar está habilitado, por meio de mecanismos gerenciais, a contribuir na redução de custos por intermédio de uma administração eficaz e racional. A modernização das atividades hospitalares acarretou a necessidade da participação cada vez mais efetiva deste profissional na equipe de saúde. 1.1 HISTÓRICO E CONCEITOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR No início do século XX, o farmacêutico atuava e exercia influência sobre todas as etapas do ciclo do medicamento. Para a sociedade, era um profissional de referência nos aspectos do medicamento sempre consultado por todas as classes de cidadãos. Responsável pela guarda e dispensação de medicamentos, nesta fase inicial, o farmacêutico hospitalar, também, manipulava praticamente todo arsenal terapêutico disponível na época. Com a expansão da indústria farmacêutica, a prática de formulação pela classe médica foi abandonada, somando-se a diversificação do campo de ação do profissional farmacêutico, levaram-no a se distanciar da área de medicamentos, descaracterizando a farmácia. Entre 1920 e 1950, as farmácias hospitalares converteram-se num canal de distribuição de medicamentos produzidos pela indústria devido à intensificação da descaracterização das funções do farmacêutico. AN02FREV001/REV 4.0 11 A partir de 1950, os serviços de farmácia, representados na época pelas Santas Casas de Misericórdia e Hospital das Clínicas de São Paulo, passaram a desenvolver-se e modernizar-se. Um nome inesquecível na luta pela reestruturação da farmácia hospitalar no país é o do professor José Sylvio Cimino, que dirigia o serviço de farmácia do Hospital das Clínicas de São Paulo e que publicou em 1973 o livro Iniciação a Farmácia Hospitalar, primeira obra científica da área. Em 1975, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) introduziu no currículo do curso de Farmácia a disciplina Farmácia Hospitalar, tornando-se mais tarde uma realidade em diversas universidades. Além disso, em 1980, foi implantado o curso de pós-graduação em Farmácia Hospitalar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A partir de 1982, o Ministério da Educação (MEC), passou a incentivar programas de desenvolvimento para a farmácia hospitalar, colaborando para a formação de um número elevado de profissionais. Em 1985, o Ministério da Saúde, preocupado com os problemas de infecção hospitalar, passou a incentivar a reestruturação das farmácias hospitalares, promovendo cursos de especialização. Já em 1995, foi criada a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH), contribuindo intensamente para a dinamização da profissão e para o desenvolvimento da produção técnico-científica nas áreas de assistência farmacêutica hospitalar. Nesse momento, vivemos uma fase clínico-assistencial da farmácia hospitalar, como expressa o conceito da SBRAFH: “Unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por profissional farmacêutico, ligada, hierarquicamente, à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades de assistência ao paciente”. A atuação da farmácia hospitalar se preocupa com os resultados da assistência prestada ao paciente e não apenas com a provisão de produtos e serviços. Como unidade clínica, o foco de sua atenção deve estar no paciente, nas suas necessidades e no medicamento, como instrumento. AN02FREV001/REV 4.0 12 1.2 OBJETIVOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR Em uma farmácia hospitalar, os objetivos devem ser definidos visando a alcançar eficiência e eficácia na assistência ao paciente e integração às demais atividades desenvolvidas no ambiente hospitalar. São objetivos básicos da farmácia hospitalar: Desenvolver, em conjunto com a Comissão de Farmácia e Terapêutica, ou similar, a seleção de medicamentos necessários ao perfil assistencial do hospital; Contribuir para a qualidade da assistência prestada ao paciente, promovendo o uso seguro e racional de medicamentos e correlatos. Considerado o principal objetivo da farmácia hospitalar pela SBRAFH; Estabelecer um sistema eficaz, eficiente e seguro de distribuição de medicamentos; Implantar um sistema apropriado de gestão de estoques; Fornecer subsídios para avaliação de custos com a assistência farmacêutica e para elaboração de orçamentos; Propiciar suporte para as unidades de produção de propedêutica e terapêutica. Com o intuito de atingir seus objetivos, a farmácia hospitalar deve contar com um sistema eficiente de informações, dispor de sistema de controle e manipular corretamente os fatores de custos. É essencial, também, o planejamento e gerenciamento adequado do serviço. AN02FREV001/REV 4.0 13 FIGURA 1- QUADRO RESUMO DOS OBJETIVOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR FONTE: Arquivo pessoal do autor. 1.3 FUNÇÕES DA FARMÁCIA HOSPITALAR A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde do Brasil definem como funções fundamentais da farmácia hospitalar: Seleção de medicamentos, germicidas e correlatos necessários ao hospital, realizada pela comissão de farmácia e terapêutica (CFT) ou correspondente e associada a outras comissões quando necessário; Aquisição, conservação e controle dos medicamentos selecionados estabelecendo níveis adequados para a aquisição por meio de um gerenciamento apropriado dos estoques. O armazenamento de medicamentos deve seguir as normas técnicas para preservar a qualidade dos medicamentos; SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS FARMÁCIA HOSPITALAR DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS USO SEGURO E RACIONAL DE MEDICAMENTOS SUPORTE AS UNIDADES DE PRODUÇÃO AVALIAÇÃO DE CUSTOS E ORÇAMENTOS GESTÃO DE ESTOQUES AN02FREV001/REV 4.0 14 Manipulação, produção de medicamentos e germicidas, seja pela indisponibilidade de produtos no mercado, para atender prescrições especiais ou por motivos de viabilidade econômica; Implantação de um sistema de informação sobre medicamentos para obtenção de dados objetivos que possibilitem à equipe de saúde otimizar a prescrição médica e a administração de medicamentos. O sistema deve ser útil na orientação ao paciente no momento da alta ou nos tratamentos ambulatoriais. Essas funções são prioritárias em uma farmácia hospitalar e, portanto, suporte fundamental para o desenvolvimento de vários programas assistenciais na instituição. Podemos estabelecer, de forma didática, uma proposta de desenvolvimento escalonado da farmácia hospitalar em quatro fases. Na fase um, dedica-se à estruturação do serviço; na fase dois, inicia-se a especialização dos serviços; na fase três, aprimora-se a especialização; e, na fase quatro, implementam-se as ações clínico assistenciais (Figura 2). FIGURA 2 - PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO ESCALONADO DA FARMÁCIA HOSPITALAR FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem emFarmácia Hospitalar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 15 2 ÁREA FÍSICA TOTAL DA FARMÁCIA E LOCALIZAÇÃO IDEAL Há na literatura algumas publicações que relacionam a área física da farmácia com o número de leitos hospitalares: 1,5m²/leito (JOSÉ SYLVIO CIMINO), 1,2m²/leito (OPAS) e 1,0m²/leito (SOCIEDADE ESPANHOLA DE FARMÁCIA HOSPITALAR). Ao prever o dimensionamento de uma farmácia hospitalar, o ideal, é considerar, além do número de leitos, outros fatores de suma importância que influenciarão no desenvolvimento das atividades a serem executadas. Destacam-se entre esses fatores: Tipo de hospital (especializado, geral, policlínico, de ensino, filantrópico); Nível de especialização da assistência médica prestada no hospital; Fonte mantenedora e tipo de atendimento (particulares, convênio com o SUS e outros); Programação das necessidades da farmácia em função das atividades propostas; Região geográfica onde se localiza o hospital, considerando as dificuldades de aquisição e transporte de medicamentos. Devido às suas peculiaridades e independentemente da diretoria a que esteja vinculada, a farmácia deve desenvolver um relacionamento integrado com as divisões clínicas e administrativas. A localização da farmácia deve ser tecnicamente correta, devendo ser observados os seguintes aspectos: Facilidade de circulação e reabastecimento; Equidistância das unidades usuárias e consumidoras, permitindo um fácil acesso; Certo grau de isolamento devido aos ruídos (quando houver produção industrial ou semi-industrial), assim como odores e poluição; Critérios técnicos e administrativos empregados. AN02FREV001/REV 4.0 16 3 PLANEJAMENTO, CONTROLE E FUNÇÃO DO FARMACÊUTICO Instrumento de gestão indispensável em uma farmácia hospitalar é o planejamento, processo de estabelecer objetivos e linhas de ação adequadas para alcançá-los. O controle, por sua vez, encarrega-se de assegurar o êxito dos planos elaborados. O planejamento na farmácia hospitalar, como em todas as organizações, se inter-relaciona com as demais funções administrativas. O sucesso do planejamento depende da eficiência de outras funções, e essas existem em consonância com o planejamento. Portanto, a organização, a direção e o controle não têm razão de ser se não existir um planejamento para assegurar a organização e que defina a direção a caminhar e o que controlar. Um serviço de farmácia deverá ser administrado por um profissional farmacêutico com qualificação e experiência em farmácia hospitalar. O serviço de farmácia deve dispor de um número adequado de farmacêuticos e profissionais de apoio (nível médio) qualificados e competentes. A SBRAFH preconiza que a unidade de farmácia hospitalar deve contar com, no mínimo, um farmacêutico para cada 50 leitos. O número de auxiliares de farmácia dependerá da disponibilidade de recursos e do grau de informatização da unidade. Na ausência destes recursos, deve existir, no mínimo, um auxiliar para cada dez leitos. O perfil do farmacêutico hospitalar deve abranger as habilidades, destrezas, comportamentos e atitudes consideradas fundamentais para o farmacêutico moderno segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), que inclui na descrição das características do farmacêutico moderno: Capacidade técnica de prestação de serviço O farmacêutico é um prestador de serviços clínicos, analíticos e tecnológicos aos indivíduos, comunidades e instituições. A prática assistencial deve ser contínua, de alta qualidade e integrada aos sistemas de saúde. Portanto, exige-se boa formação técnica. AN02FREV001/REV 4.0 17 Poder de decisão A base de trabalho do farmacêutico deve ser a utilização adequada, eficaz, com análise de custo e efetividade dos recursos (materiais e humanos) empregados. Para atingir esta meta é necessária habilidade de avaliar, sintetizar e decidir pela estratégia de ação mais eficaz. Capacidade de comunicação Habilidade de comunicação verbal, não verbal, escrita e escuta são essenciais para a prática assistencial, pois o farmacêutico interage com pacientes, com as equipes de saúde e administrativa. Liderança O farmacêutico deve assumir, muitas vezes, uma posição de liderança para desenvolver suas atividades. Liderança envolve solidariedade e empatia, assim como a habilidade para decidir, comunicar e gerenciar de forma efetiva. Habilidade gerencial O farmacêutico deve gerenciar de forma eficaz os recursos (humanos e físicos) e a informação. Como gerente de nível intermediário deve possuir boa integração e relação com os níveis hierárquicos da instituição. Aperfeiçoamento profissional O avanço tecnológico e a produção técnico-científica do mundo moderno exigem a atualização constante dos profissionais. A disponibilidade para aprender novas metodologias e reciclar conhecimentos é essencial. Capacidade de ensinar O farmacêutico, na vida profissional, necessita transmitir o conhecimento e elaborar procedimentos, visando melhorar as habilidades da equipe de trabalho. Os níveis de autoridade e áreas de responsabilidade devem ser claros; a supervisão e o controle do pessoal devem ser desenvolvidos adequadamente. As atribuições de cada categoria profissional devem estar bem estabelecidas e deverão AN02FREV001/REV 4.0 18 ser revisadas quando necessário. É importante o serviço dispor de manual contendo essas atribuições para conhecimento e consulta de todos os funcionários. Uma gestão de recursos humanos adequada, coordenada pelo chefe do serviço com auxílio dos supervisores, irá garantir aos funcionários uma satisfação no trabalho e cumprimento dos planos de atividade, colaborando, assim, para que a farmácia da instituição atinja seus objetivos. Gerenciamento de recursos materiais A gestão dos recursos materiais deve ser executada pela seção administrativa do serviço de farmácia e supervisionada pelo farmacêutico. Na dinâmica hospitalar contemporânea o impacto dos preços dos medicamentos nos gastos assistenciais é muito grande, impondo uma gestão de estoques de controle rígida, capaz de obter, coordenar e analisar fatos, para tomar decisões corretas a tempo e a hora, visando a redução dos custos sem prejuízo da assistência ao paciente. A administração de estoques de medicamentos compreende gerir estoques essenciais e padronizados, exigindo, para sua especialidade, a atuação de profissionais qualificados e conhecimento profundo em: bases farmacológicas dos medicamentos em estoque; similaridade; condições ideais e exigências de conservação; controle do prazo de validade dos medicamentos estocados, de modo que com habilidade profissional conduza ao escoamento mais rápido os estoques mais antigos e cujos prazos de validade estão mais próximos. Dessa forma, torna-se imprescindível a implantação de um sistema bem estruturado em todas as fases do processo de controle de estoque, para que a continuidade do processo de assistência farmacêutica seja assegurada e não haja ruptura do estoque, garantindo o atendimento da demanda das prescrições. Análise de prescrição e distribuição eficiente A farmácia deve ser responsável pela aquisição, distribuição e controle de todos os medicamentos utilizados no hospital. AN02FREV001/REV 4.0 19 Deve ser prioridade a implantação de sistemas apropriados de distribuição de medicamentos. O farmacêutico deve analisar as prescrições de medicamentos antes de serem dispensadas, exceto em situações de emergência. As dúvidas devem ser resolvidas com o prescritor e as decisões tomadas precisam ser registradas para que o resultado seja a distribuição correta do medicamento. Fornecimento de informações sobre medicamentos O farmacêutico é responsável pelo fornecimento de informações adequadas sobre medicamentos paraa equipe de saúde. Para tal, os farmacêuticos devem se manter atualizados por meio de literatura, visitas técnicas, participação em grupos de estudos e em grandes eventos científicos. A equipe deve elaborar e divulgar boletins informativos sobre o uso de medicamentos. Otimização de terapia medicamentosa Visando melhorar e garantir a qualidade da farmacoterapia, o farmacêutico tem participação importante na elaboração de uma política de uso racional dos medicamentos. Este trabalho deve ser executado com o apoio da diretoria clínica e a colaboração da comissão de farmácia e terapêutica. O uso racional de medicamentos consiste em obter o efeito terapêutico adequado à situação clínica do paciente utilizando o menor número de fármacos, durante o período mais curto e com o menor custo possível. A otimização da terapia medicamentosa é função precípua da unidade de farmácia hospitalar. Contribui para diminuir a permanência do paciente no hospital e para a melhoria de sua qualidade de vida. 4 CENTRO DE ABASTECIMENTO FARMACÊUTICO (CAF) A Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) é a unidade de assistência farmacêutica que serve para o armazenamento de medicamentos e correlatos, onde são realizadas atividades quanto à sua correta recepção, estocagem e distribuição. AN02FREV001/REV 4.0 20 A CAF exerce atividades operacionais e de planejamento, tais como: Receber os produtos comprados acompanhados das notas fiscais e conferi-los, adotando as normas técnicas de recebimento de produtos farmacêuticos. O recebimento deve seguir a rotina descrita no manual da farmácia; Realizar os lançamentos de entrada por meio de sistema informatizado ou manualmente e guardar os produtos em locais apropriados de acordo com as normas técnicas; Receber requisições das unidades assistenciais e da dispensação promovendo a separação, distribuição e registro de saída; Realizar as atividades relacionadas à gestão de estoques; Conservar os medicamentos em condições seguras, preservando a qualidade e permitindo o uso do sistema PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair, considerando o prazo de validade) para movimentação dos medicamentos; Realizar levantamentos periódicos dos estoques e elaborar relatórios gerenciais. 4.1 LOCALIZAÇÃO DOS MATERIAIS A perfeita identificação e localização dos materiais estocados sob responsabilidade da CAF é o principal objetivo da utilização de um sistema racional de localização de materiais, utilizando os seguintes aspectos: Rotatividade do item Os itens que apresentam grande rotatividade, que entram em grandes volumes e com elevado peso devem ser armazenados próximos à área de expedição, facilitando assim a distribuição. Ordem de entrada e saída AN02FREV001/REV 4.0 21 Os medicamentos com menor prazo de validade devem ser armazenados à esquerda e na frente para serem dispensados primeiro. Utilização de pallets Consistem em estrados de material resistente de dimensões diversas que evitam o contato dos produtos com o piso, evitando, assim, a ação da umidade e da poeira sobre os medicamentos. Utilização de prateleiras Devem ser utilizadas prateleiras de material resistente de preferência de metal por serem imunes a ação de insetos e roedores, por suportarem maior peso e por apresentarem grande durabilidade. Forma de empilhamento O empilhamento é uma forma de armazenamento de caixas que diminui a necessidade de divisões nas prateleiras (ou formando uma espécie de prateleira por si só) e permitindo assim o aproveitamento máximo do espaço vertical. Ordenação do estoque O sistema de ordenação mais indicado é o dividido por forma farmacêutica em ordem alfabética. Equidistância O armazenamento deve ser feito mantendo-se certa distância entre os produtos para facilitar a circulação de ar e permitir a limpeza. 5 AQUISIÇÃO DE MATERIAIS: LICITAÇÕES A aquisição no setor público é regulamentada por conceitos e princípios do direito administrativo que, no conjunto, são denominados de licitações. AN02FREV001/REV 4.0 22 A licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a administração pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. Visa a proporcionar iguais oportunidades aos que desejam contratar com o Poder Público. 5.1 PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO Procedimento formal Significa que a licitação está vinculada às prescrições legais que a regem em todos os seus atos e fases. Publicidade de seus atos Não há nem pode haver licitação sigilosa. A publicidade da licitação abrange desde a divulgação do aviso de sua abertura, até a adjudicação do edital. Igualdade entre os licitantes A igualdade entre os licitantes é o princípio irrelegável na licitação. Nem o Estado pode oferecer condições especiais a um fornecedor, nem o fornecedor pode se colocar em uma situação de privilégio. Sigilo na apresentação das propostas O sigilo há de ser guardado até a apresentação de documentação e propostas, no final do prazo fixado pela administração. Vinculação ao edital A vinculação ao edital é princípio básico de toda licitação. Servindo para a administração divulgar a existência e as condições para licitar, o edital é um dos instrumentos mais importantes da licitação. Julgamento objetivo A avaliação deve ser realizada, dentro do possível, com critérios verificáveis, levando em conta sempre a qualidade, o rendimento, o preço, os prazos de entrega AN02FREV001/REV 4.0 23 e o pagamento. Devido à diversidade e à especificidade dos materiais utilizados nos hospitais, o julgamento não pode ser feito somente por compradores. É necessária a participação do farmacêutico e de outros profissionais da equipe multidisciplinar para elaboração dos pareceres técnicos. Adjudicação compulsória ao vencedor A adjudicação compulsória do objeto da licitação ao vendedor é, também, princípio irrelegável no procedimento licitatório. Ao vencedor fica reservado o fornecimento. Não se pode comprar de quem não venceu, enquanto o procedimento licitatório tiver validade. 5.2 MODALIDADES DA LICITAÇÃO A legislação brasileira prevê as seguintes modalidades: Lei 8666/1993 Concorrência É a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital. Deve ser utilizada para compras acima de R$ 650 mil e seu edital deve ser publicado com antecedência mínima de 45 dias. Tomada de preço É a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atendem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação. Utilizada para valores entre R$ 80 mil e R$ 650 mil. Seu edital deve ser publicado com antecedência mínima de 30 dias. Convite AN02FREV001/REV 4.0 24 Modalidade de licitação entre interessados cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de três pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório (com antecedência mínima de cinco dias) e o estenderá aos demais cadastrados que manifestem seu interesse com antecedência de 24 horas da apresentação da proposta. Modalidade realizada para comprar de até R$ 80 mil. Lei 10520/2002 Pregão O pregão é realizado mediante propostas e lances em sessão pública para qualquer valor de contrato. O autor da oferta de menor valor e os das ofertas de até 10% superiores a ela poderão fazer novos lances verbais e sucessivos, até a proclamação do vencedor, sempre pelo critério de menor preço. Seu edital deve ser publicado com antecedência mínimade oito dias úteis. 6 AQUISIÇÃO EM ÓRGÃOS PRIVADOS Hospitais privados podem fazer suas aquisições por meio de pesquisas de preços, contrato de fornecimento com fornecedores previamente selecionados ou adotando normas particulares estabelecidas pela instituição para assegurar competitividade e transparência nas negociações. Nos processos de compras em órgãos privados é recomendável observar os aspectos relacionados a seguir: Número mínimo de cotações Para encorajar novos competidores, recomendam-se, no mínimo, três cotações. Cadastramento de fornecedores AN02FREV001/REV 4.0 25 A pré-seleção dos concorrentes qualificados evita o dispêndio de tempo com um grande número de fornecedores dos quais, boa parte, muitas vezes, não tem condições adequadas para um bom negócio. Preço objetivo O conhecimento prévio do preço justo, além de ajudar nas decisões do comprador, proporciona uma verificação no sistema de cotações. Pode, ainda, ajudar os competidores a serem competitivos mostrando que suas bases comerciais não são reais, e que seus preços estão fora de concorrência. Fornece ao comprador parâmetros para negociar com segurança. Aprovação da compra Estabelece uma defesa da empresa pela garantia de um melhor julgamento, protegendo o comprador ao possibilitar a revisão de uma decisão individual. A aprovação da compra nos aspectos técnicos é feita pelo setor solicitante por meio de parecer técnico. Em algumas instituições é necessária uma aprovação administrativa para avaliação das condições da negociação da compra. Registro da compra A documentação escrita anexa à solicitação de compras permite a revisão do processo e deve estar sempre disponível para esclarecer dúvidas posteriores. O farmacêutico geralmente não executa as compras, mas deve participar do processo de compras elaborando especificações do produto, indicando fornecedores, emitindo parecer técnico e fazendo o recebimento dos produtos. 7 CONTROLE DE ESTOQUE A crise financeira que o Brasil enfrentou nas décadas de 1980 e 1990 e a elevação dos custos da assistência à saúde influenciaram e ainda têm afetado muito os hospitais brasileiros, levando a mudanças significativas na administração AN02FREV001/REV 4.0 26 hospitalar. As instituições hospitalares têm procurado se adaptar às novas realidades, buscando otimizar a aplicação dos recursos financeiros que dispõem. O objetivo atual da administração hospitalar é adaptar-se às contínuas mudanças do mercado para promover meios necessários para assistência aos pacientes de forma efetiva. Nesse contexto, a administração de materiais possui importante papel, já que estes produtos são parte significativa dos gastos dos hospitais, pois os medicamentos comprometem cerca de 5% a 20% dos orçamentos dos hospitais. Embora, aparentemente, o peso das despesas com medicamentos não seja alto, este é um instrumento crucial para a assistência ao paciente e sua participação nas despesas com saúde vem subindo de forma progressiva nos últimos anos. Além do aspecto econômico, a preocupação com a qualidade é um requisito essencial, pois o paciente tem direito a uma assistência de qualidade independentemente da situação financeira da instituição. A participação do profissional de saúde dentro do processo logístico de materiais é imprescindível, pois é ele que normalmente solicita o produto com a correta especificação, controla a qualidade do que vai ser comprado, realiza o recebimento qualitativo e, finalmente, em várias situações, é também usuário destes materiais nas suas atividades. 7.1 ESPECIFICIDADES DO CONTROLE DE ESTOQUES O controle de estoques é um dos componentes de gestão de materiais caracterizado por um subsistema incumbido de determinar “Quando” e “Quanto” comprar para uma aquisição adequada. O quanto comprar é obtido a partir da média aritmética móvel aliada ao estoque de segurança, análise ABC de valor e outros parâmetros. 7.1.1 Parâmetros de compra AN02FREV001/REV 4.0 27 7.1.1.1 Média aritmética móvel O método para a previsão de estoques mais utilizado no meio hospitalar é a média aritmética móvel. Este método permite orientar a previsão de consumo para o próximo período por meio da média aritmética dos valores nos “n” últimos períodos (n = número de meses). A escolha do valor de “n” é arbitrária e depende da experiência do gerente. Quanto maior for o “n”, menor a resposta a variações de consumo e vice- versa. Recomenda-se trabalhar com o “n” superior a 3 e inferior a 12. No meio hospitalar, as variações de consumo, principalmente de medicamentos, ocorre com maior frequência de acordo com o modelo de evolução sazonal. Considera-se a variação como sazonal, quando apresenta um desvio mínimo de 25% do consumo médio mensal (CMM) e surge atrelada a causas específicas (verão, inverno, epidemias e outros). Outra variação de consumo que ocorre com materiais hospitalares é o modelo de evolução de consumo sujeito e tendências. Isso fica em evidência quando o consumo médio aumenta ou diminui com o tempo, retratando itens novos que começam a ter maior aceitação ou itens que vão caindo em desuso. Existe ainda a evolução de consumo modelo horizontal, que retrata uma tendência constante por não sofrer influências. Assim, ao se estabelecer o valor de “n” deve-se ter em conta o modelo de evolução de consumo no período. CMM = consumo médio mensal n = número de meses A cada novo mês, acrescenta-se o mês mais recente e despreza-se o mais antigo. Além da média móvel, têm-se outras formas de previsão de consumo, praticamente não empregadas em hospitais. CMM= consumo de “n” últimos meses n AN02FREV001/REV 4.0 28 7.1.1.2 Último período Baseia-se em uma determinação simples com utilização dos mesmos dados coletados no período anterior. Sua aplicabilidade é direcionada a produtos de consumo uniforme, em que na representação gráfica, constatam-se duas curvas idênticas em períodos de tempos diferentes. 7.1.1.3 Média móvel ponderada Utilizada quando o método do último “período” torna-se inaplicável por ocorrência de grandes variações nos períodos mais próximos. Os pesos são valores decrescentes dos consumos mais recentes para os mais antigos. Objetiva ajustar da melhor maneira a tendência da curva de consumo, sendo uma variação do método da média móvel. Alguns programas para controle de estoque têm trabalhado com este tipo de média. 7.1.1.4 Média ponderada exponencial Considera-se o erro de previsão do período anterior. Determina-se a próxima previsão a partir da “adição da previsão anterior ao produto da constante de amortecimento pelo erro de previsão”. Utilizando a seguinte fórmula: Xt = Previsão de consumo Xt = X(t-i) + α (X(t-i) – X(t-i)) AN02FREV001/REV 4.0 29 X (t - i) = Consumo ocorrido no período anterior X (t - i) = previsão de consumo no período anterior X (t - i) - X (t - i) = Erro de previsão Erro de previsão - é a diferença entre consumo ocorrido no período anterior e a previsão de consumo no mesmo período. α = Constante de amortecimento (dado empírico, estabelecido normalmente entre 0,1 e 0,3). O valor escolhido deve ser menor para consumos uniformes e maior para variações maiores de consumo. 7.1.1.5 Mínimos quadrados Método que permite fazer previsão para mais de um período. É de difícil aplicação por exigir utilização de muitos dados. Não recomendado na área de medicamentos e materiais médico-hospitalares por apresentar o hospital dados de consumo sazonais e pela falta de interesse da administração hospitalar em fazer previsões para grandes períodos. A média aritmética móvel é a média de consumo eleita para funcionar como precursora de outros parâmetrosde dimensionamento de estoques na área hospitalar. Na determinação do quanto comprar é necessário empregá-la juntamente com o estoque de segurança e análise ABC de valor. 7.1.2 Estoque de segurança Estoque de segurança, também conhecido como estoque mínimo, é a quantidade de cada item que deve ser mantida como reserva para garantir a continuidade do atendimento, em caso de ocorrência não previstas – como elevação brusca do consumo e atraso no suprimento. O estoque de segurança evita ruptura do estoque que teria como consequência a queda no nível de atendimento e o próprio custo da ruptura. AN02FREV001/REV 4.0 30 O custo da ruptura de estoque pode ser avaliado levando em conta os seguintes parâmetros: Custo do não atendimento; Custo com o pessoal que estará, temporariamente, subutilizado pela falta do material; Custo adicional do material adquirido para manutenção do nível de atendimento; Custo do trabalho desenvolvido. O estoque de segurança depende do consumo, do tempo de abastecimento e da classificação ABC do produto. O consumo utilizado para esta determinação é geralmente representado pala média móvel. O tempo de abastecimento (TA) é o intervalo de tempo entre o início do processamento interno da compra (incluindo a emissão do pedido) e a chegada do material ao local de armazenamento. O tempo de processamento interno (TPI) compreende o período do planejamento, elaboração do pedido, emissão e processamento da compra. Já o tempo de processamento externo (TPE) abrange o espaço entre a emissão da ordem de fornecimento e a entrega do produto no hospital. TA = Tempo de Abastecimento TPI = Tempo de Processamento Interno TPE = Tempo de Processamento Externo O tempo de abastecimento pode variar de região para região e de uma instituição para outra. Por exemplo, no caso das instituições governamentais, a aquisição de materiais é regida pela Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, e suas alterações que tornam o tempo de abastecimento prolongado devido aos trâmites burocráticos estabelecidos para a licitação. Além do tempo de abastecimento, a determinação do estoque de segurança requer a classificação do item obtida por meio da curva ABC. TA = TPI + TPE AN02FREV001/REV 4.0 31 7.1.3 Curva ABC Itens de um estoque apresentam normalmente diferentes posições no fluxo de materiais e variados graus de utilização. O estudo técnico dessas ocorrências por meio do agrupamento de itens de acordo com seu custo, preferencialmente anual, permite a elaboração da curva ABC. A administração tem utilizado a curva ABC para os programas de suprimento e produção, aplicação do capital de giro e disponibilização de recursos em situações de urgência. A curva ABC, conhecida também como curva 80-20 ou gráfico de Pareto, foi aplicada à administração de empresas, inspirada no estudo de Vilfredo Pareto, realizado na Itália em 1897. O estudo constatou que a grande porcentagem de renda (80%) estava concentrada nas mãos de pequena parcela da população (20%). Daí o princípio foi adaptado à administração de materiais onde a definição das classes ABC obedece a faixas predeterminadas e onde se tem, no máximo, 20% de itens classe A, de 20% a 30% classe B e 50% de itens classe C. Estes valores têm uma correspondência em porcentagens de custo ou investimento. TABELA 1 - CLASSES DA CURVA ABC OU GRÁFICO DE PARETO Classes da curva ABC % de itens % de custos Classe A 20 50 Classe B 20-30 20-30 Classe C 50 20 FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 32 A classificação da tabela 1 demonstra que aproximadamente 20% do total dos itens correspondem a quase 50% do custo ou investimento (classe A). E que 50% do total de itens correspondem a apenas 20% do custo, o que constitui a classe C. A partir desta determinação, conclui-se que a classe A detém maior importância administrativa, devendo cada classe receber tratamento diferenciado. 7.1.3.1 Elaboração da curva ABC Será apresentado um exemplo constituído por dez itens apenas, para exemplificar didaticamente a elaboração de uma curva 80-20 ou curva ABC. Os seguintes dados são necessários para construção da curva ABC: Relação dos itens ou artigos pertencentes a um mesmo grupo ou subgrupo. Por exemplo: medicamentos em geral, materiais médico hospitalares entre outros; Custo unitário médio de cada item, fornecido por uma mesma tabela ou de uma mesma época; Consumo anual de cada item (preferencialmente); Custo anual ou capital investido; As fases para elaboração da curva são: coleta e ordenação de dados. 7.1.3.1.1 Coleta de dados Relacionar todos os itens, seu custo unitário e, preferencialmente, o consumo anual. Por meio do produto destes valores, obtém-se o custo total ou custo anual. A partir do custo anual de cada item, realiza-se a ordenação dos dados e relacionam-se os itens segundo o valor decrescente do custo anual. Segue-se com a relação acumulada dos custos anuais a partir da qual se determinam as porcentagens. AN02FREV001/REV 4.0 33 TABELA 2 - RELAÇÃO DO CUSTO ANUAL FICTÍCIO Relação do custo anual Itens Custo unitário (R$) Consumo anual Custo anual (R$) X1 0,4 600 240 X2 2,3 1000 2300 X3 1,1 300 330 X4 19 10 190 X5 1,2 1200 1440 X6 6,3 800 5040 X7 0,35 4000 1400 X8 0,25 6000 1500 X9 4,1 2000 8200 X10 0,82 500 410 FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 34 TABELA 3 - Montagem da curva ABC de 10 itens fictícios Classificação ABC de 10 itens Grau Item Custo anual (R$) Custo anual acumulado (R$) % acumulada Classificação 1° X9 8200 8200 38,95 A 2° X6 5042 13240 62,89 A 3° X2 2300 15540 73,8 B 4° X8 1500 17040 80,9 B 5° X5 1440 18480 87,7 B 6° X7 1400 19880 94,4 C 7° X10 410 20290 96,3 C 8° X3 330 20620 97,9 C 9° X10 240 20860 99,09 C 10° X4 190 21050 100 C FONTE: Adaptado de Gomes, M.J.V.M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. 7.1.3.2 Comportamentos da curva ABC Os itens classe A são aqueles que correspondem à maior parte do investimento e devem ser priorizados administrativamente e, portanto, se tornam importantes para a determinação do estoque de segurança. O estoque de segurança dos itens A deve ser calculado como o suficiente para garantir o atendimento contínuo durante uma fração do tempo de abastecimento. É recomendável que os itens classe A tenham alto índice de rotatividade para permitir maior capital de giro disponível, evitando imobilização de recursos. Os itens B terão um estoque de segurança maior do que os de classe A e os de classe C maior do que os da classe B. AN02FREV001/REV 4.0 35 Podem ser utilizadas as seguintes fórmulas na determinação do estoque de segurança (ES): ES = estoque de segurança CM = média aritmética móvel TA = tempo de abastecimento (em meses) É necessário calcular o tempo de abastecimento (TA), sendo este sempre transformado em meses, por exemplo: 45 dias correspondem a TA = 1,5; 120 dias correspondem a TA = 4,0. O coeficiente de tempo de abastecimento (fração que multiplica TA) é determinado de forma empírica, baseado na realidade administrativa, podendo ser estabelecidos valores menores que os exemplificados acima. 7.1.4 Ponto de ressuprimento O ponto de ressuprimento (PR), também conhecido como ponto de requisição, é um parâmetro de alerta no dimensionamento de estoques. É um nível de estoque que ao ser atingido sinaliza o momento de se fazer uma nova compra, evitando posterior ruptura do estoque,devendo ser atualizado após cada reposição. O ponto de ressuprimento deve ser determinado para garantir a continuidade do atendimento durante o tempo de abastecimento, respeitando a classificação ABC do item. Nesse caso, o PR coincidirá com o estoque de segurança sendo, normalmente, aplicado às instituições que têm facilidade e rapidez para o ressuprimento. Em outras instituições, cujo processo de aquisição é mais demorado, justifica-se a determinação do PR igual ao estoque máximo. ES item A = CM. 1/3 (estoque para 10 dias) ES item B = CM. ½ TA (estoque para 15 dias) ES item C = CM. T (estoque para 30 dias) AN02FREV001/REV 4.0 36 CM = Média aritmética móvel TA = Tempo de abastecimento (em meses) ES = Estoque de segurança (calculado de acordo com a classificação ABC) Exemplo de um item classe A: CM = 200 unidades TA = 30 dias (1 mês) ES = 33 unidades PR = 200 x 1 + 33 = 233 unidades PR = 233 Portanto , quando o estoque atingir 233 unidades, sinaliza o momento que o novo pedido deve ser processado para que não haja falhas no estoque. 7.1.5 Lote de ressuprimento O lote de ressuprimento, também conhecido como lote de reposição (LR), é a quantidade de itens a ser adquirida para que o estoque atinja seu valor máximo. Fórmula para calculando o LR: Emax = Estoque máximo Es = Estoque de segurança CM = Média aritmética móvel FC = Frequência de compras (transformado em meses) PR – CM . TA + ES LR = Emax - ES LR = CM FC AN02FREV001/REV 4.0 37 7.1.6 Estoque Máximo O Estoque máximo (Emax) é a maior quantidade do item que se pretende manter em estoque. É determinado em função da política financeira da instituição, da frequência de compras, disponibilidade de local adequado para armazenamento ou de acordo com entregas programadas junto ao fornecedor. Calcula-se Emax por meio das seguintes fórmulas: ES = Estoque de segurança LR = Lote de ressuprimento ES = Estoque de segurança CM = Média aritmética móvel FC = frequência de compras (transformado em meses) Para o cálculo do Emax, é necessário conhecer o ES que depende da classificação ABC, assim como o valor de FC. A frequência de compras mais favorável é conhecida por meio da determinação do lote econômico. 7.1.7 Lote econômico Há inúmeros fatores que dificultam o estabelecimento de um número aproximado de compras anuais ou da frequência em que se deve comprar. Esses fatores estão relacionados ao aspecto econômico, ao custo de manutenção de Emax = ES + LR Emax = ES + CM FC AN02FREV001/REV 4.0 38 estoques maiores ou de várias aquisições de estoques menores. Para isso, deve-se basear no processo de LEC para as compras. LEC é o processo que indica, matematicamente, a frequência das compras e a quantidade a ser adquirida. O que oferece maiores vantagens econômicas. O lote econômico é aquele obtido quando o custo de aquisição e o custo de armazenamento estão mais próximos. Esse parâmetro interfere no valor do Emax e no LR. Para a realização dos cálculos, é necessário determinar os custos de aquisição e armazenamento. A determinação com o auxílio do serviço de custos da instituição evita cálculos incorretos ou o fato de minimizar a sua importância. Podemos citar como exemplo a tendência de se desprezar as áreas físicas de armazenamento como componente do custo. O custo de aquisição corresponde ao total dos gastos com salários do pessoal vinculada à programação e à execução das compras, gastos administrativos com artigos de escritório, publicações, comunicações, viagens, recebimento de materiais, inspeção, transporte, contabilização, pagamento de impostos, seguros, fretes entre outros. O custo de armazenamento é calculado em função do custo da área ocupada, capital empatado, seguros sob material estocado, obsolescência, depreciação, desvios, pessoal vinculado, juros sobre financiamento da compra e outros. Pode-se notar que no exemplo a seguir o custo de armazenamento decresce com o aumento do número de aquisição (Tabela 4). O custo de aquisição é inversamente proporcional ao custo de armazenagem. Quanto ao custo total, verifica-se que, com uma aquisição, ele se apresenta alto, com tendência a redução e, logo a partir de um número de aquisições, volta a aumentar. Por meio do menor valor do custo total, obtém-se o número de aquisição para o LEC: AN02FREV001/REV 4.0 39 TABELA 4 - DETERMINAÇÃO DO LOTE ECONÔMICO (LEC) Determinação de LEC Aquisições anuais Quantidade/aq uisição Custo de armazenamento Custo de Aquisição Custo total 1 12000 480 50 530 2 6000 240 100 340 3 4000 160 150 310 4 3000 120 200 320 5 2400 96 250 346 6 2000 80 300 380 FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. 1 ano = 12 meses_______ compra-se três vezes (para quatro meses) 1 mês ____________x = FC FC = Frequência de compras (transformado em meses) FC = 0.25 (significa o número de compras ao mês) Emax = Es + Cm/FC Emax = ES + 1000 0,25 Emax = ES + 4000 Dependendo da classificação ABC o ES será maior ou menor. Para um item classe A no caso exemplificado, considerando-se um tempo de abastecimento 1,5 mês, o Emax será: ES = 1/3 TA. CM TA = 1,5 ES = 0,5 CM se CM = 1000 ES = 500 unidades Emax = 500 + 4000 = 4500 AN02FREV001/REV 4.0 40 A tendência atual é existência de estoques menores e compras mais frequentes. Com essa visão dos parâmetros para dimensionamento dos estoques, conclui-se que a logística deve ser priorizada pela sua importância administrativa. 7.2 MÉTODOS DE CONTROLE FÍSICO DE ESTOQUES 7.2.1 Inventário O inventário é um instrumento utilizado para confrontar o estoque registrado em ficha ou computador com o estoque real ou físico. São diversas as causas de divergências entre o estoque registrado e o estoque físico, sendo possível citar: Saídas e entradas feitas erroneamente; Liberação de material sem o devido registro; Problemas com hardware ou com o software; Erros de contagem; Desvios. Os inventários podem ser classificados como: Permanentes; Periódicos; Rotativos. Ainda é comum no Brasil a realização de inventários periódicos anuais, apurando todas as discrepâncias no final do encerramento do ano fiscal em dezembro. Em uma farmácia hospitalar que trabalha com sistema de distribuição por doses individualizadas ou unitárias, há milhares de movimentações de itens por ano, pois as saídas e entradas (ou devoluções) se dão pela unidade de produto. O AN02FREV001/REV 4.0 41 inventário anual não é a melhor estratégia, pois as divergências de estoques que normalmente acontecem, serão descobertas tardiamente dificultando a apuração das causas em tempo hábil. É aconselhável fazer inventário utilizando-se a classificação ABC e também incluir alguns tipos de medicamentos que interessam à administração, realizando sobre estes um controle mais rigoroso. Os itens A (maior custo), produtos sujeitos a controle legal (por intermédio da Portaria 344/1998, do Ministério da Saúde) e itens que são imprescindíveis ao inventário devem ser realizados todo mês. Os itens B poderão ser controlados a cada dois meses e os itens C a cada seis meses. Atualmente, com os recursos cada vez mais poderosos da informática e o advento do código de barras, pode-se ter uma redução dos erros de contagem e do tempo gasto para ser feito um inventário, sendo possível obter a qualquer momento os estoques atualizados de todos os itens. A administração deve planejar com antecedência que tipo de inventário que irá utilizar na farmácia e resolver, também, o que será feito com as divergências deestoque que são possíveis e esperadas, dentro de um limite em um inventário. 8 SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS Atualmente, os medicamentos representam uma alta parcela no orçamento dos hospitais e são de suma importância no tratamento de grande parte das patologias, o que justifica a implementação de medidas que assegurem o uso racional destes produtos. Uma das medidas de grande impacto neste contexto é uma efetiva dispensação e/ou distribuição dos medicamentos. Deve-se ressaltar que a dispensação de medicamentos é uma atividade técnico-científica de orientação ao paciente, de importância para a observância ao tratamento e, portanto, eficaz, quando bem administrada, devendo ser exclusividade de profissional farmacêutico. E que a distribuição racional de medicamentos consiste em assegurar os produtos solicitados pelos usuários na quantidade e especificação solicitadas, de forma segura e no prazo estabelecido, empregando métodos de melhor custo versus eficácia e custo versus eficiência. AN02FREV001/REV 4.0 42 Nos hospitais, o contato diário do serviço de farmácia com as unidades de internação e demais serviços acontece, principalmente, por meio do setor de distribuição, fazendo dele o setor de maior relevância da farmácia hospitalar. Vários fatores interferem na implantação e/ou implementação de um sistema de distribuição de medicamentos (SDM), e os principais são: Supervisão técnica adequada; Características do hospital como complexidade, tipo de edificação e fonte; Mantenedora; Existência de padronização de medicamentos atualizada; Gestão de estoque eficiente; Existência de controle de qualidade de produtos e processos; Manual de normas e rotinas aplicável. Os sistemas de distribuição de medicamentos podem ser classificados em: coletivo, individualizado, dose unitária, combinado ou misto. Em qualquer um destes sistemas, se houver farmácia satélite, o mesmo será considerado como descentralizado e, quando não houver, centralizado. 8.1 SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO COLETIVO O sistema de distribuição coletivo é o mais arcaico dos sistemas, entretanto, ainda existem alguns hospitais brasileiros que o adotam por diversos motivos. O sistema de distribuição coletivo é caracterizado pelo fato de os medicamentos serem distribuídos por unidade de internação e/ou serviço a partir de uma solicitação da enfermagem, implicando a formação de vários estoques nas unidades assistenciais. Neste sistema, os medicamentos são liberados sem que o serviço de farmácia tenha as seguintes informações: Para quem o medicamento está sendo solicitado? Por que está sendo solicitado? Por quanto tempo será necessário? AN02FREV001/REV 4.0 43 Neste modelo, a farmácia hospitalar é um mero repassador de medicamentos em suas embalagens originais, segundo o solicitado pela enfermagem. No sistema de distribuição coletivo, constata-se que a assistência ao paciente fica prejudicada pela não participação do farmacêutico na revisão e análise da prescrição médica. E também pelo fato de a enfermagem estar mais envolvida com as questões relacionadas aos medicamentos do que à própria farmácia. Inúmeros trabalhos relatam que a enfermagem, neste sistema, gasta aproximadamente 25% do seu tempo de trabalho em procedimentos relacionados aos medicamentos como: transcrever prescrição, verificar o estoque existente na unidade, preencher solicitação, ir à farmácia, aguardar separação dos mesmos, transportá-los até a unidade, guardá-los nos seus devidos lugares, separar os que são necessários a cada horário, fazer cálculos, prepará-los e administrá-los. Uma grave consequência é o alto índice de erros de administração de medicamentos que este sistema gera, desde o ato da prescrição até o momento da administração dos mesmos. Os principais erros descritos são: Duplicação de doses; Medicamentos, dosagem e/ou via incorretos; Administração de medicamentos não prescritos. Outro aspecto importante é o alto custo deste sistema para a instituição devido às perdas, por existirem vários pontos de estoque facilitando desvios, armazenamento inadequado ou caducidade dos medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 44 FIGURA 3 - FLUXOGRAMA DO SISTEMA DE DOSE COLETIVO FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. 8.1.1 Desvantagens do sistema de distribuição coletivo O sistema de distribuição coletivo apresenta as seguintes desvantagens: Transcrições das prescrições médicas; A não existência de revisão da prescrição por parte do farmacêutico; Maior incidência de erros na administração de medicamentos; Consumo excessivo do tempo da enfermagem em atividades relacionadas ao medicamento; Uso inadequado de medicamentos nas unidades assistenciais; Aumento de estoque nas unidades assistenciais; Médico Enfermagem Solicita por unidade assistencial Prescreve Farmácia Distribui Enfermagem Recebe, estoca, prepara e administra AN02FREV001/REV 4.0 45 Perdas de medicamentos; Impossibilidade de faturamento real dos gastos por paciente; Alto custo institucional. 8.1.2 Vantagens do sistema de distribuição coletivo O sistema de distribuição coletivo apresenta as seguintes vantagens: Grande disponibilidade de medicamentos nas unidades assistenciais; Redução do número de solicitações e devoluções de medicamentos à farmácia; Necessidade de menor número de funcionários na farmácia. 8.2 SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO INDIVIDUALIZADO O sistema de distribuição individualizado se caracteriza pelo fato de o medicamento ser dispensado por paciente, geralmente para um período de 24 horas. Este sistema pode se apresentar como indireto ou direto. Sistema de distribuição individualizado indireto A distribuição é baseada na transcrição da prescrição médica e a solicitação à farmácia é feita por paciente e não por unidade assistencial como no coletivo. Sistema de distribuição individualizado direto A distribuição é baseada na cópia da prescrição médica, eliminando a transcrição. Nesse contexto, é possível uma discreta participação do farmacêutico na terapêutica medicamentosa, sendo já um grande avanço para realidade brasileira, na época em que este sistema foi adotado. As prescrições podem ser encaminhadas à farmácia de diversas formas, como: AN02FREV001/REV 4.0 46 Prescrição com cópia carbonada Prescrição em duas vias, com carbono entre as folhas ou impresso confeccionado de modo a se obter uma cópia direta. Essa forma proporciona ao farmacêutico uma via da prescrição e não requer equipamentos especiais. Prescrição por fotocópias Utilização de máquinas copiadoras para produzir uma cópia exata da prescrição médica. Prescrição via fax Utilização de aparelho de fax para emissão na unidade assistencial e recepção na farmácia. Os inconvenientes do uso desta tecnologia são: Permitir o envio de uma mesma prescrição mais de uma vez; Gerar emissão de documentos ilegíveis induzindo aparecimento de novas fontes de erros de administração de medicamentos; Permitir a perda das informações com o passar do tempo. Porém, diminui o tempo gasto com o transporte de documentos. Prescrição informatizada Em cada unidade assistencial existe um terminal de computador no qual os médicos fazem diariamente a prescrição que é remetida à farmácia. Algumas das vantagens deste processo são à eliminação de falhas devido à má qualidade da grafia médica e a redução do tempo gasto com transporte de documentos. Sistema de radiofrequência interligando computadores e leitores óticos O médico utiliza um terminal com uma tela que pode ser operado por meiode uma espécie de caneta eletrônica. Essa forma permite a verificação imediata de dados do paciente e a agilização da prescrição, que poderá ser feita próximo ao leito. Implica diminuição do número de terminais de computador na área hospitalar, redução de cabos de interligação e agilização da disponibilidade da prescrição para a farmácia e serviços de apoio. AN02FREV001/REV 4.0 47 Atualmente, o sistema de distribuição individualizado é adotado em diversos hospitais brasileiros, existindo algumas variações de acordo com as peculiaridades de cada instituição, como: forma da prescrição médica, o modo de preparo e distribuição das doses e fluxo da rotina operacional. O sistema de distribuição individualizado pode ser operacionalizado de várias formas: Os medicamentos são dispensados em único compartimento, podendo ser um saco plástico identificado com a unidade assistencial, o número do leito, nome do paciente, contendo todos os medicamentos de forma desordenada semelhante ao sistema de distribuição coletivo e para um período determinado que, geralmente, pode ser 12 horas, 24 horas ou por turno de trabalho. Os medicamentos são fornecidos em embalagens, dispostos segundo o horário de administração constante na prescrição médica, individualizados e identificados para cada paciente e para no máximo de 24 horas. Sua distribuição pode ser feita em embalagem plástica, com separações obtidas por termossolda ou em escaninhos adaptáveis a carros de medicamentos adequados ao sistema de distribuição. Para o êxito deste sistema, é fundamental que todos os profissionais envolvidos (farmacêutico, enfermeiro, médico, administrador hospitalar) participem de todo o processo de implantação, elaboração de impressos, aquisição de materiais e equipamentos e definição da rotina operacional. 8.2.1 Desvantagens do sistema de distribuição individualizado O sistema de distribuição individualizado apresenta algumas desvantagens: Erros de distribuição e administração de medicamentos; Consumo significativo do tempo de enfermagem em atividades relacionadas aos medicamentos; Necessidade por parte da enfermagem de cálculos e preparo de doses; AN02FREV001/REV 4.0 48 Perdas de medicamentos devido a desvios, caducidade e uso inadequado. 8.2.2 Vantagens do sistema de distribuição individualizado O sistema de distribuição individualizado apresenta as seguintes vantagens: Possibilidade de revisão das prescrições médicas; Maior controle sobre o medicamento; Redução de estoques nas unidades assistenciais; Pode estabelecer devoluções; Permite faturamento mais apurado do gasto por paciente. AN02FREV001/REV 4.0 49 FIGURA 4 - FLUXOGRAMA DO SISTEMA DE DOSE INVIDUALIZADO FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. 8.3 SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO MISTO OU COMBINADO Prescreve Remete a cópia Enfermage m Prescreve Médico Indireto Direto Farmácia Transporte Entrega Entrega Analisa, separa e acondiciona Analisa, separa e acondiciona Transcreve Recebe e administra Enfermage m Recebe e administra AN02FREV001/REV 4.0 50 No sistema de distribuição combinado, também conhecido como misto, a farmácia distribui alguns medicamentos mediante solicitação e outros por cópia de prescrição médica, portanto, parte do sistema é coletivo e parte individualizado. As unidades de internação, de forma parcial ou integral, são atendidas pelo sistema individualizado e os serviços (radiologia, endoscopia, ambulatórios, serviços de urgência e outros) são atendidos pelo sistema coletivo. É indicado que, neste sistema, as solicitações encaminhadas pelas unidades assistenciais sejam embasadas em relação de estoque previamente estabelecida entre farmácia e enfermagem. Estes estoques deverão ser controlados e repostos pela farmácia mediante documento justificando o uso do medicamento. 8.3.1 Acondicionamento e embalagem de dose unitária No sistema de distribuição de medicamentos por dose unitária, os medicamentos são acondicionados e embalados de uma forma bastante característica. Portanto, a escolha do acondicionamento e/ou da embalagem é bastante importante e, consequentemente, devem-se considerar os seguintes fatores: A adequação às condições físicas do hospital; As condições financeiras da instituição; As considerações farmacológicas, tais como estabilidade, fotossensibilidade, entre outros; As vantagens econômicas. 8.3.2 Materiais utilizados no preparo de dose unitária AN02FREV001/REV 4.0 51 Para garantir a qualidade dos produtos preparados por dose unitária, é de suma importância que, para cada produto, seja verificado em publicações científicas atualizadas o tipo de envase mais apropriado. O fracionamento ou reembalagem de medicamentos para o sistema de distribuição individualizado e/ou por dose unitária deve se efetuar em condições semelhantes às utilizadas pelo fabricante, de forma a impedir, tanto uma possível alteração de estabilidade como a contaminação cruzada ou microbiana. Entre os materiais mais utilizados são: o plástico, laminados, vidros e alumínio. 8.3.3 Considerações específicas de embalagem das seguintes formas farmacêuticas 8.3.3.1 Líquidos para uso oral O envase deve ser suficiente para liberar o conteúdo total etiquetado. É aceitável que seja necessário um acréscimo de volume conhecido, dependendo da forma de envase, do material e da formulação do medicamento. A concentração do fármaco deve ser especificada em unidade de peso por medida (mg/ml; g/ml). As seringas para administração oral devem ser específicas para estes usos, não devendo permitir a colocação de agulha. Os envases devem permitir a administração de seu conteúdo corretamente ao paciente. 8.3.3.2 Sólidos de uso oral Para embalagem tipo blister, deve-se ter um verso opaco que permita imprimir informações e o outro deverá ser de material transparente. O mesmo deve permitir fácil remoção do medicamento. AN02FREV001/REV 4.0 52 8.3.3.3 Medicamentos para o uso parenteral Uma agulha de tamanho apropriado deve ser parte integral da seringa. A seringa deve estar pronta permitindo que o seu conteúdo seja administrado ao paciente sem necessitar de instruções adicionais. A proteção da agulha deve ser impenetrável, preferencialmente de um material rígido, evitando acidentes. A seringa deve permitir fácil manuseio e visualização de seu conteúdo. Quanto a outras formas farmacêuticas, os medicamentos para uso oftálmico, supositórios, unguentos, entre outros, devem ser adequadamente etiquetados, indicando seu uso, via de administração e outras informações importantes. 8.3.4 Requisitos para implantação do sistema de distribuição por dose unitária Farmacêutico hospitalar com treinamento específico para este fim; Laboratório de farmacotécnica; Central de preparações estéreis; Padronização de medicamentos; Dispositivos para entrega de doses unitárias (carrinhos, cestas e outros); Impressos adequados; Máquinas de soldar plásticos; Material de embalagens: sacos e potes plásticos; frascos de plásticos, de vidro, de alumínio; caixas de madeiras ou acrílico; Envelopadora – máquina de selagem e etiquetagem de comprimidos; Envasadora (líquidos, cremes e pomadas); Máquina de cravar frascos; Rotuladora; Impressora; AN02FREV001/REV 4.0 53 Máquina para lavar frascos; Terminal de computador. 8.3.5 Vantagens do sistema de distribuição pordose unitária O sistema de distribuição por dose unitária apresenta as seguintes vantagens: Identificação do medicamento até o momento de sua administração, sem necessidade de transferência e cálculos; Redução da incidência de erros de administração de medicamentos; Redução do tempo de enfermagem com atividades relacionadas ao medicamento, permitindo maior disponibilidade para o cuidado do paciente; Diminuição de estoques nas unidades assistenciais com consequente redução de perdas; Otimização do processo de devoluções; Auxílio no controle da infecção hospitalar devido à higiene e à organização no preparo de doses; Grande adaptabilidade e sistemas automatizados e computadorizados; Faturamento mais exato do consumo de medicamentos utilizados por cada paciente; Maior segurança para o médico em relação ao cumprimento de suas prescrições; Participação efetiva do farmacêutico na definição da terapêutica medicamentosa; Melhoria do controle sobre o padrão e horário de trabalho desenvolvido pelo pessoal de enfermagem e farmácia; Redução do espaço destinado à guarda do medicamento nas unidades assistenciais antes da administração aos pacientes; Melhoria da qualidade da assistência prestada ao paciente. AN02FREV001/REV 4.0 54 8.3.6 Desvantagens do sistema de distribuição por dose unitária O sistema de distribuição por dose unitária apresenta as seguintes desvantagens: Dificuldade de se obter no mercado farmacêutico todas as formas e dosagens para uso em dose unitária; Resistência dos serviços de enfermagem; Aumento das necessidades de recursos humanos e infraestrutura da farmácia hospitalar; Necessidade da aquisição de materiais e equipamentos específicos; Necessidade inicial de alto investimento financeiro. AN02FREV001/REV 4.0 55 FIGURA 5 - FLUXOGRAMA DO SISTEMA DE DOSE UNITÁRIA FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. Médico Enfermagem Apraza o horário Prescreve Transporte Encaminha a cópia Farmacêutico Elabora o perfil farmacoterapêutico Farmácia Farmacêutico Revisa e confere Separa Transporte Entrega Enfermagem Confere, registra e administra AN02FREV001/REV 4.0 56 FIM DO MÓDULO I AN02FREV001/REV 4.0 58 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 59 CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 60 MÓDULO II 9 SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimula seus membros para que estabeleçam e apliquem uma política direcionada aos medicamentos, desde suas especificações técnicas até as condições propícias para seu uso racional. No Brasil, a Política Nacional de Medicamentos (PNM) obrigatoriamente deve ser implementada pela Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) em todas as unidades hospitalares, para isso, é essencial a elaboração de uma padronização de medicamentos. Padronização de medicamentos pode ser entendida como a constituição de uma relação básica de medicamentos, que deve constituir os estoques das farmácias hospitalares, objetivando o atendimento médico-hospitalar, de acordo com suas necessidades e peculiaridades locais, acarretando na sua utilização racional. O processo de seleção de medicamentos deve assegurar o cumprimento de uma terapêutica racional e de baixo custo. Para garantir o uso racional de medicamentos, é necessário elaborar a lista de medicamentos padronizados e desenvolver, com muita intensidade e continuidade, um processo de educação farmacológica dos profissionais de saúde do hospital, induzindo uma reflexão crítica sobre a escolha e a utilização dos fármacos. 9.1 O PROCESSO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A Seleção de medicamentos é um processo dinâmico, contínuo, multidisciplinar e participativo. Tem o intuito de assegurar ao hospital acesso aos medicamentos mais necessários, adotando critérios de eficácia, segurança, qualidade e custo. Promove a utilização racional dos medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 61 A seleção de medicamentos é um processo complexo. É importante que seja realizado considerando a contribuição das seguintes ciências: Farmacoeconomia; Farmacoepidemiologia; Farmacologia e Terapêutica Clínica; Farmacovigilância; Biofarmacotécnica; Farmacocinética. Este enfoque multidisciplinar colabora para que os diversos elementos que interferem na utilização dos medicamentos sejam contemplados na escolha do arsenal terapêutico. 9.2 VANTAGENS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A realização da seleção de medicamentos reduz custos e melhora a qualidade da farmacoterapia desenvolvida na instituição hospitalar. As vantagens da seleção de medicamentos são: Reduzir o custo da terapêutica, sem prejuízos para a segurança e efetividade do tratamento; Racionalizar o número de medicamentos e produtos correlatos, com consequente redução de custos com a aquisição; Facilitar as atividades de planejamento, aquisição, armazenamento, distribuição e controle, com redução dos custos operacionais; Disciplinar o receituário médico-hospitalar e uniformizar a terapêutica, colaborando como instrumento de ensino na área de saúde; Aumentar a qualidade da farmacoterapia e facilitar a vigilância farmacológica, o que pode ser incentivado por meio da adoção do Programa de Farmacovigilância do Ministério da Saúde (que será discutido no Módulo IV). AN02FREV001/REV 4.0 62 9.3 ETAPAS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS Na implantação de um processo de seleção de medicamentos, é recomendável seguir as seguintes etapas: Conscientização da equipe de saúde por meio de reuniões e informativos; Designação da comissão de seleção de medicamentos pelo diretor clínico; Levantamento do perfil dos problemas de saúde atendidos pela unidade hospitalar; Análise do padrão de utilização de medicamentos; Definição dos critérios de seleção a serem adotados; Seleção dos medicamentos, definindo a estratégia de desenvolvimento do formulário e os métodos a serem empregados; Edição e divulgação do formulário farmacêutico; Atualização periódica do formulário farmacêutico, que deve ser revisado no mínimo a cada dois anos. 9.4 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A seleção de medicamentos depende de vários fatores, destacando-se o perfil das doenças prevalentes, a infraestrutura para o tratamento, o treinamento e a experiência da equipe disponível. Portanto, devem ser empregados no processo de seleção de medicamentos os seguintes critérios: Selecionar medicamentos com evidência de eficácia clínica – estas informações devem ser obtidas através de ensaios clínicos; Eleger entre os medicamentos da mesma indicação e eficácia, aquele de menor toxicidade e maior comodidade posológica; AN02FREV001/REV 4.0 63 Padronizar medicamentos cujo custo do tratamento/dia e o custo da duração do tratamento sejam pequenos,preocupando-se sempre com a eficácia do produto; Padronizar medicamentos que possuam estudos sobre biodisponibilidade e parâmetros farmacocinéticos; Escolher, sempre que possível, entre os medicamentos de mesma ação farmacológica, um representante de cada categoria química ou com característica farmacocinética diferente, ou que possua característica farmacológica que represente vantagem no uso terapêutico; Evitar a inclusão de associações fixas, exceto quando os ensaios clínicos justificarem o uso concomitante e o efeito terapêutico da associação for maior do que a soma dos efeitos dos produtos individuais (por exemplo, no uso da associação entre sulfametoxazol e trimetropima); Priorizar formas farmacêuticas que proporcionem maior possibilidade de fracionamento e adequação à faixa etária, principalmente em unidades hospitalares que atendem o público pediátrico; Padronizar, preferentemente, medicamentos encontrados comercialmente e formas farmacêuticas acondicionadas em dose unitária; Realizar a seleção de antimicrobianos em conjunto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), verificando os s prevalentes, padrões de sensibilidade e selecionando aqueles antimicrobianos que permitam suprir as necessidades terapêuticas; Reservar novos antimicrobianos para o tratamento de infecções por microrganismos resistentes a antimicrobianos padrões ou para infecções em que o novo produto seja superior aos anteriores, fundamentado em ensaios clínicos comparativos; Padronizar medicamentos pelo nome do princípio ativo adotando a denominação comum brasileira (DCB) e, na falta desta, a denominação comum internacional (DCI). AN02FREV001/REV 4.0 64 10 COMISSÃO DE PADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS Há duas comissões hospitalares responsáveis pela seleção de medicamentos: a Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) e a Comissão de Padronização de Medicamentos (CPM). As duas comissões têm o mesmo objetivo, mas as atividades que desenvolvem são diferentes. O ideal é que as CPMs se transformem em CFTs. A CPM é a junta deliberativa designada pela diretoria clínica com a finalidade de regulamentar a padronização de medicamentos utilizados no receituário hospitalar. As atribuições da CPM são: Padronizar os medicamentos para uso no hospital; Publicar a padronização de medicamentos e mantê-la atualizada; Divulgar informações sobre medicamentos. 10.1 COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA A responsabilidade pelo desenvolvimento e supervisão de todas as políticas e práticas de utilização de medicamentos na unidade hospitalar com intuito de assegurar resultados clínicos ótimos e um risco potencial mínimo é da CFT. A CFT assessora a diretoria clínica nos assuntos relacionados a medicamentos e terapêutica e serve como uma ligação entre a farmácia e a equipe de saúde. Essa é a comissão hospitalar mais importante para a farmácia, pois promove ações educativas, assessoria técnica e divulgação sobre medicamentos devendo executar as seguintes atividades no hospital: Estabelecer normas e procedimentos relacionados à seleção, à distribuição, à produção, à utilização e à administração de fármacos e agentes diagnósticos; AN02FREV001/REV 4.0 65 Padronizar, promover e avaliar o uso seguro e racional dos medicamentos prescritos no hospital; Elaborar um guia farmacoterápico ou formulário farmacêutico; Avaliar periodicamente o arsenal terapêutico disponível, promovendo inclusões ou exclusões segundo critérios de eficácia, eficiência clínica e custo; Normalizar procedimentos farmacoclínicos que se relacionam com a terapêutica medicamentosa; Coordenar avaliações clínicas e estudos de consumo de medicamentos em pesquisa ou recém-lançados; Sugerir medidas que possibilitem a disponibilidade de recursos materiais e humanos, assegurando a viabilidade da política de medicamentos dentro da instituição; Disciplinar a ação dos representantes da indústria farmacêutica dentro do hospital; Estudar medicamentos sob o ponto de vista clínico, biofarmacêutico e químico, emitindo parecer técnico sob sua eficácia terapêutica como critério fundamental de escolha; Divulgar informações relacionadas a estudos clínicos relativos aos medicamentos incluídos e excluídos do formulário farmacêutico; Fazer estudos e/ou revisões bibliográficas sobre medicamentos; Elaborar programas de notificação e acompanhamento de reações adversas. AN02FREV001/REV 4.0 66 10.2 ESTRUTURA DAS COMISSÕES DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS As comissões de padronização e de farmácia e terapêutica têm a mesma estrutura básica, garantindo um caráter multidisciplinar e dinâmico ao processo de seleção de medicamentos. Devem ser compostas de: O farmacêutico deve ser o secretário da comissão, os demais membros não devem ser escolhidos em função de motivação e experiência na área de terapêutica e farmacológica. Torna-se bastante interessante ter como membro permanente desta comissão, um representante da comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH). A equipe de saúde deve ser rotineiramente comunicada das decisões da CFT por meio de reuniões ou informativos. É recomendável que a CFT se reúna pelo menos seis vezes ao ano. Um médico que atuará como presidente; Um médico de cada especialidade (Clínica Médica, Clínica Pediátrica, Clínica Cirúrgica e/ou outras clínicas de acordo com as características do hospital); Um membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH); Um farmacêutico; Um enfermeiro. AN02FREV001/REV 4.0 67 11 FORMULÁRIO FARMACÊUTICO O Formulário Farmacêutico é uma publicação, geralmente em forma de manual, que traz a relação atualizada de medicamentos selecionados para uso no hospital e informações essenciais sobre medicamentos. O formulário deve ser completo e de fácil consulta, e sua revisão deve ser periódica. O sistema de formulário é um processo contínuo por meio do qual a farmácia e a equipe de saúde em conjunto com a CFT ou equivalente avalia e seleciona os medicamentos necessários para assistência aos pacientes. Os produtos selecionados devem estar disponíveis na farmácia. O objetivo primário da CFT é garantir o uso racional de medicamentos e reduzir os custos sociais e institucionais, ao se implementar o sistema de formulário. Estes dois objetivos aparentemente conflitantes representam um desafio para o sucesso da implementação do sistema de formulário. A atuação do farmacêutico, sugerindo ao médico substituição terapêutica ou farmacêutica e prescrição de medicamentos incluídos no formulário, implementa o sistema e reduz custos (Tabela 5). A capacidade dos membros da CFT para escolher os melhores fármacos e conscientizar os médicos sobre a relevância da seleção é importante para o êxito da implementação do formulário. Os profissionais da equipe de saúde devem ser incentivados a participar do processo de seleção de medicamentos. A ampla divulgação da revisão do formulário é importante para permitir que os profissionais do hospital enviem sugestões. As sugestões devem ser encaminhadas por meio do formulário de inclusão e exclusão de medicamentos à secretaria da CFT (Figura 6), que pode ser realizada a qualquer tempo, fato que pode trazer a necessidade de mais uma reunião da comissão para rever a padronização realizada. AN02FREV001/REV 4.0 68 TABELA 5 - ALTERNATIVAS E TIPOS DE SUBSTITUIÇÃO DE MEDICAMENTOS Definição de Alternativas e Tipos de Substituição de Medicamentos Alternativa Farmacêutica: medicamentos que contêm o mesmo fármaco, a mesma dosagem e diferem em relação ao sal, éster, forma farmacêutica ou via de administração. Alternativa Terapêutica: medicamentos que contêm diferentesfármacos, mas que pertencem à mesma classe farmacológica. Apresentam os mesmos efeitos terapêuticos quando administrados em doses terapeuticamente equivalentes. Substituição Farmacêutica: ato de fornecer uma alternativa farmacêutica no lugar do medicamento prescrito. Ex.: Estolato de eritromicina por estearato de eritromicina. Sulfato de codeína por fosfato de codeína. Ampicilina suspensão por ampicilina cápsula. Substituição Terapêutica: ato de fornecer uma alternativa no lugar do medicamento prescrito. Ex.: Enoxiparina por Fraxiparina, Omeprazol por Pantoprazol FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. O uso de medicamentos não incluídos no formulário (conhecidos como medicamentos não padrão) deve ser controlado pela CFT. Estes medicamentos só devem ser liberados para utilização, após a solicitação contendo justificativa avaliada e aprovada pela CFT. Essas medidas visam inibir o uso de medicamentos não incluídos no formulário e incentivar o uso de padronizados, com intuito de controlar a prescrição médica e reduzir custos. O farmacêutico que atua na dispensação de medicamentos do hospital deve estar consciente do importante papel da padronização de medicamentos devendo estar capacitado e disposto a interagir com os médicos em um esforço de evitar a utilização de medicamentos não padronizados. As decisões da CFT devem confirmar a prática clínica da instituição para o sistema de formulário ser efetivo. Contato direto com os médicos, distribuição de boletins e informações ajudam a motivar os médicos a prescreverem apenas medicamentos padronizados. AN02FREV001/REV 4.0 69 FIGURA 6 - FORMULÁRIO DE PADRONIZAÇÃO OU DESPADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS À LISTA DE MEDICAMENTOS PADRONIZADOS FONTE: Arquivo pessoal do autor. HOSPITAL PORTAL EDUCAÇÃO SOLICITAÇÃO DE PADRONIZAÇÃO OU DESPADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS INCLUSÃO EXCLUSÃO 1. Nome do Fármaco: ________________________________________________________________________________ 2. Nome(s) Comercial(is):_____________________________________________________________________________ 3. Fabricante(s):_________________________________ 4. Forma(s) farmacêutica(s) e concentração(ões) a incluir ou excluir:_____________________________________ 5. Indicações Terapêuticas: ___________________________________________________ 6. Classe(s) Terapêutica(s):____________________________________________________________ 7. Esquema terapêutico recomendado: ____________________ Duração do tratamento: _____________________________________ 8. Justificativa da escolha em relação a outro substituto incluído na padronização: __________________________________________________________________________________ 9. Efeitos observados: Benéficos: __________________________________________________________________________________ Maléficos: __________________________________________________________________________________ 10. Relacionar as contra-indicações: ______________________________________________________________________________ 11. Citar estudos clínicos que justifique sua alteração: _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Nome e função do solicitante: ________________________________________ Solicitante:___________________________________________________________ Data:___/___/___ Chefe do Serviço ou Unid. de Internação:___________________________________ Data:___/___/___ AN02FREV001/REV 4.0 70 12 REALIZAÇÃO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 12.1 SELEÇÃO QUALITATIVA DE MEDICAMENTOS: REVISÃO DE CLASSE TERAPÊUTICA O método de revisão de classe terapêutica consiste na avaliação comparativa de fármacos de uma determinada classe terapêutica. O farmacêutico, com o suporte do Centro de Informações de Medicamentos (CIM), elabora uma monografia dos fármacos da classe terapêutica em análise. Os aspectos mais relevantes a serem abordados na monografia estão dispostos na Tabela 6. A monografia deve ser realizada com base em uma ampla revisão da literatura. Um informativo técnico sintético deve ser encaminhado à CFT visando subsidiar as deliberações. Neste informativo, é recomendável incluir tabelas para facilitar a comparação e dar enfoque, principalmente, às indicações, eficácia clínica, posologia reações adversas, ensaios clínicos, níveis de evidência do uso terapêutico e custo. O método de revisão de classe terapêutica pode ser empregado tanto nas revisões como na elaboração inicial da padronização. A maior vantagem deste método é propiciar avaliação sistemática de cada classe terapêutica organizando o processo de seleção e assegurando uma análise adequada dos fármacos disponíveis para o arsenal terapêutico do hospital. Os métodos qualitativos, como a revisão de classe terapêutica em situações que envolvem fármacos com características muito semelhantes, muitas vezes, não permitem uma escolha adequada. Para evitar uma seleção de medicamentos baseada em critérios subjetivos, a alternativa para essas situações é o emprego de métodos quantitativos que veremos ainda neste módulo. AN02FREV001/REV 4.0 71 TABELA 6 - ASPECTOS IMPORTANTES PARA AVALIAÇÃO DE MEDICAMENTOS Informações Importantes para Avaliação de Medicamentos Identificação do medicamento: denominação comum brasileira e/ou denominação comum internacional especialidades farmacêuticas formas farmacêuticas fornecedores Classe farmacológica (o ideal é empregar a classificação anatômico- terapêutica clínica — ATC) Indicações terapêuticas do medicamento autorizadas no país e outras indicações do medicamento aprovadas em outro país de referência (geralmente são utilizadas como referência as autorizações do FDA) Farmacologia clínica Farmacocinética Reações adversas Cuidados, precauções e contraindicações Esquemas posológicos, inclusive em situações especiais: neonatologia, pediatria, geriatria gestação, insuficiência renal ou hepática e outras Ensaios clínicos publicados na literatura e, se disponíveis, metanálises Comparação com alternativas terapêuticas incluídas na padronização Custo do tratamento e análise do impacto econômico na instituição FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 72 12.2 MÉTODO QUANTITATIVO PARA A SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS Os medicamentos novos, frequentemente, oferecem poucas vantagens em relação aos antigos, mas podem diferir em segurança, esquema de administração e custo. Em consequência dessa homogeneidade das características dos fármacos, a seleção de medicamentos pode se tornar subjetiva. Na seleção de medicamentos é necessário um método objetivo e quantitativo que abranja todas as variáveis que influenciam na seleção do fármaco adequado, como por exemplo, a análise de decisão clínica, um método que auxilia a tomada de decisões definindo o modo mais efetivo de lidar com problemas específicos. A seleção de medicamentos empregando o método de análise de decisão envolve as etapas detalhadas a seguir. 12.2.1 Definição do problema, dos objetivos e identificação das alternativas O primeiro passo deve ser a definição do problema em questão, o objetivo pretendido e a partir disto identificar as alternativas, isto é, os possíveis fármacos para o tratamento pretendido, como exposto no exemplo abaixo:Problema — seleção de um inibidor da bomba de prótons. Objetivo — escolher o fármaco inibidor da bomba de prótons de maior eficácia, segurança e de baixo custo para o tratamento de úlcera. Alternativas — omeprazol e pantoprazol. AN02FREV001/REV 4.0 73 12.2.2 Definição dos critérios de avaliação O segundo passo é definir critérios com o objetivo de quantificar a eficácia, a segurança e o custo de tratamento com os fármacos em estudo. Os critérios são definidos especificamente para um determinado problema. Por exemplo, na seleção de um inibidor de bomba de prótons da histamina podem ser adotados os seguintes critérios: Eficácia em úlcera duodenal; Eficácia X custo; Farmacocinética; Interação medicamentosa; Reações adversas; Ensaios clínicos com o fármaco e outros. 12.2.3 Caracterização das informações necessárias à análise de decisão Os critérios de avaliação recebem certo peso e então são classificados em ordem crescente do peso. Em seguida, um grupo de médicos e farmacêuticos escolhidos pela CFT estabelece o valor utilitário de cada critério. O valor utilitário é a expressão quantitativa do valor relativo do critério. É definido também o valor probabilístico do fármaco que é uma estimativa numérica de como o fármaco preenche o critério de avaliação. A próxima etapa é a multiplicação do valor utilitário de cada critério pelo respectivo valor probabilístico e a realização da soma dos critérios. O fármaco com a maior pontuação final é o selecionado. O que pode ser aplicado ao nosso caso: omeprazol X pantoprazol. A partir da determinação dos pesos de cada critério a ser analisado, são dados os valores referentes a cada fármaco baseado em evidências científicas e somados os pontos, AN02FREV001/REV 4.0 74 um dos fármacos pode então ser selecionado como o mais adequado, dentre os critérios priorizados pela CFT desta unidade hospitalar em particular. 12.2.4 Análise de decisão Podem ser introduzidos na avaliação alguns erros, pois determinados valores numéricos, especialmente os utilitários, podem ser subjetivos. Portanto, é necessário realizar uma análise estatística empregando análise de sensibilidade. A análise de sensibilidade avalia a estabilidade das conclusões em relação a uma faixa de valores plausíveis para o valor probabilístico e o utilitário. Ausência de alteração significativa da conclusão em função das variações dos valores indica que a alternativa de maior valor preenche melhor os critérios de avaliação. Os resultados de uma análise de decisão são aplicáveis apenas no hospital onde foi realizada. As conclusões de análise de decisão variam de uma instituição para outra, principalmente devido às diferenças na definição dos critérios e na definição da importância. A importância da análise de decisão consiste em forçar os membros da CFT a considerar os critérios e as alternativas objetivamente antes de chegar a uma decisão. A quantificação de todos os atributos dos fármacos permite um processo de seleção lógico e racional, evitando longas discussões e minimizando erros pessoais. 12.3 SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS REALIZADA POR SISTEMA DE ANÁLISE DE AVALIAÇÃO POR OBJETIVO – SYSTEM OF OBJECTIFIED JUDGMENT ANALYSIS (SOJA) A Seleção racional de medicamentos é um fator essencial na elaboração do formulário farmacêutico. Além dos critérios racionais de seleção de medicamentos (eficácia clínica, custo, tolerância, esquema de administração etc.), fatores emocionais, financeiros e relacionados ao marketing farmacêutico interferem na AN02FREV001/REV 4.0 75 seleção de medicamentos. O processo de tomada de decisão é uma alternativa para excluir a interferência desses fatores. O Sistema de Análise de Avaliação por Objetivo (SOJA) é um método de tomada de decisão para seleção de medicamentos. Este método consiste na definição prospectiva de critérios de avaliação para uma determinada classe terapêutica. A extensão com que cada fármaco preenche o critério é analisada. A cada critério é atribuído um peso relativo; quanto maior a relevância do critério, maior o peso. Um painel de especialistas escolhidos pela CFT estabelece o peso relativo de cada critério e o valor relativo para o fármaco frente ao critério. No método SOJA os seguintes critérios de avaliação do fármaco devem ser incluídos: A pontuação total do SOJA é de no máximo mil pontos, que são divididos entre os critérios considerados relevantes para classe terapêutica em estudo. A principal vantagem do SOJA é selecionar os medicamentos empregando exclusivamente critérios racionais. O método subsidia as decisões da CFT tornando o processo de tomada de decisão mais concreto. Esse método tem limitação de ser tempo-dependente, pois sofre alteração em virtude das publicações de ensaios clínicos, estudos de farmacovigilância e do registro e do tempo de comercialização. Para superar essa limitação, o método deve ser atualizado periodicamente, daí a necessidade de reunião da CFT. AN02FREV001/REV 4.0 76 13 SELEÇÃO DE MEDICAMENTO PARA REDUZIR CUSTOS COM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA A CFT possui uma meta em especial, reduzir as despesas com medicamentos, evitando gastos que resultam em elevação desnecessária do custo do tratamento, sem contribuir com retorno à saúde do paciente. A CFT para atingir esta meta deve adotar as seguintes estratégias: garantir, por meio de medidas educativas e programas de estudo de utilização de medicamentos (EUM), que os medicamentos selecionados estão sendo adequadamente prescritos; incentivar o uso do medicamento de baixo custo quando a eficácia e a segurança não foram alterados; elaborar revisões periódicas das diversas classes de fármacos, fazendo alterações visando garantir que os medicamentos usados no hospital irão refletir a terapêutica mais econômica; promover a utilização eficiente dos medicamentos, adotando mecanismos de restrição de fármacos para serviços específicos, situações clínicas determinadas e credenciamento de médicos autorizados a prescrever. Nos últimos anos, administradores hospitalares e farmacêuticos têm observado que uma grande parte da elevação das despesas dos hospitais nos últimos anos é devida às farmácias. Entretanto, muitas das causas são por fatores externos e a CFT é vista como um instrumento com capacidade para controlar os fatores internos. O sistema de formulário oferece excelente controle dos fármacos utilizados no tratamento dos pacientes. O reconhecimento deste controle pelos administradores frequentemente resulta em pressão para CFT priorizar a redução de custos devido aos enormes gastos com medicamentos. Mas a CFT deve conscientizar os administradores que a redução dos gastos não pode ocorrer em detrimento da qualidade da farmacoterapia prestada ao paciente. Tradicionalmente, a CFT tem avaliado a inclusão de medicamentos nos formulários com base na eficácia, segurança e custos de aquisição. A utilização de informações de análise farmacoeconômica nos processos de tomada de decisão AN02FREV001/REV 4.0 77 sobre os medicamentos a serem incluídos ou excluídos do formulário irá auxiliar a CFT a garantir a redução de custos e a seleção de medicamentos eficazes. A farmacoeconomia é uma área em desenvolvimento dentro das ciências farmacêuticas de grande importância, que pode ser também realizada pela própria unidade hospitalar com seus próprios dados e, por isto, as CFTs e as CPMs devem se conscientizar da importância da farmacoeconomia e capacitar profissionais para atuar nessa área nos hospitais. Podemos concluir após a exposição deste tema que o processo de seleção de medicamentos visa: Portanto, a padronização de medicamentos de um hospital é um instrumento facilitador da implementação de um programade uso racional de medicamentos e por este motivo o serviço de farmácia hospitalar deve incentivar a implantação de uma comissão de seleção de medicamentos atuante. E quaisquer que sejam os critérios empregados, a forma de planejar este trabalho, a divulgação, o formato, a denominação, a facilidade em se encontrar as Facilitar a escolha de fármacos seguros, eficazes e baratos; Promover a utilização racional de medicamentos; Custo do medicamento; Eficácia clínica; Incidência e intensidade de efeitos adversos; Esquema posológico; Interações medicamentosas; Estudos clínicos, indicações aprovadas; Tempo de comercialização; Farmacocinética; Aspectos farmacêuticos; Reduzir o custo da assistência farmacêutica; AN02FREV001/REV 4.0 78 informações de forma rápida e objetiva, nada será válido se não for utilizado efetivamente e se os resultados desta tarefa não forem revertidos de forma satisfatória para trazer benefícios ao elemento mais importante de todo este processo: o paciente. 14 INFECÇÕES HOSPITALARES E COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÕES HOSPITALARES (CCIH) As infecções hospitalares é problema antigo, havendo relatos desde 325 d. C., quando foram criados hospitais nas catedrais, confinando os doentes em ambientes restritivos que propiciavam a transmissão das moléstias da época. Com a descoberta da penicilina, no início do século XX, houve uma redução significativa das infecções. Para tanto, a partir dos anos 50, começaram a aparecer bactérias resistentes e as infecções hospitalares passaram a despertar maior interesse e atenção. Embora existam centros de excelência em controle de infecção hospitalar, uma grande parte dos hospitais brasileiros ainda não possui uma comissão ou serviço de controle de infecção hospitalar funcionando de maneira efetiva, indicando a necessidade de reavaliação da política de controle de infecções hospitalares. As infecções hospitalares são geralmente associadas aos diversos procedimentos invasivos, como os cirúrgicos, os cateterismos, a ventilação mecânica, entre outros. De acordo com os critérios gerais, as infecções hospitalares são definidas e descritas da seguinte forma: Quando na mesma topografia em que for diagnosticada infecção comunitária, for isolado um germe diferente, seguido do agravamento das condições clínicas do paciente; Quando se desconhecer o período de incubação do microrganismo e não internação, convenciona-se infecção hospitalar toda manifestação clínica que se apresentar a partir de 72 horas após a admissão; AN02FREV001/REV 4.0 79 Quando se manifestam antes de 72 horas de internação, sendo associadas a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos realizados durante este período; Em recém-nascidos, com exceção das transmitidas de forma transplacentária e aquelas associadas à bolsa rota superiores a 24 horas; Os pacientes provenientes de outro hospital que se internam com infecção são considerados portadores de infecção hospitalar do hospital de origem. As principais causas das infecções hospitalares são: Condição clínica do paciente; Falta de vigilância epidemiológica adequada; Uso irracional de antimicrobianos; Utilização excessiva de procedimentos invasivos; Métodos de proteção anti-infecciosa, ineficazes ou inexistentes; As características do programa de controle de infecções hospitalares são: Possuir vigilância epidemiológica ativa, sistemática e contínua das infecções, buscando ações oportunas de prevenção e controle; Racionalizar o uso dos antimicrobianos e de outros medicamentos que possam favorecer o desenvolvimento de infecções hospitalares; Monitorar e controlar os procedimentos invasivos; Utilizar métodos de proteção anti-infecciosa efetivos; Promover a educação continuada sobre o controle de infecções hospitalares; 14.1 COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR (CCIH) A portaria 196, de 24 de junho de 1983, foi a primeira legislação sobre infecções hospitalares no Brasil que estabeleceu conceitos e parâmetros para o controle de infecção nos hospitais. Esta portaria determinou que todos os hospitais AN02FREV001/REV 4.0 80 do país, independentemente da natureza da entidade mantenedora, deveriam possuir uma Comissão de Controle de Infecções hospitalares (CCIH). Em 1992, foi publicada a portaria 930, que determinou a constituição, em todos os hospitais do país, dos Serviços de Controle de Infecções (SCIH), mantendo a exigência de existir também a CCIH. A CCIH é um órgão colegiado obrigatório, subordinado à Diretoria Clínica, com papel deliberativo. Já o SCIH apresenta papel executivo das tarefas emanadas pela CCIH. Todas as reuniões e providências tomadas pela CCIH/SCIH devem ter seu registro feito de forma adequada e estes documentos devem ficar arquivados para posterior verificação pela fiscalização ou possível utilização se houver algum processo judicial. A participação do farmacêutico nas comissões de controle de infecção é importante não somente no aspecto técnico, como está prevista legalmente no Brasil, por meio da portaria 2.616/1998, do Ministério da Saúde, que define o farmacêutico como membro consultor e executor da CCIH. Segundo a portaria 2.616/1998, a farmácia tem participação importante no controle de infecções hospitalares: Promovendo o uso racional de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares; Definindo políticas de utilização de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares; Cooperando com o setor de treinamento ou responsabilizar-se pelo treinamento de funcionários e profissionais no que diz respeito ao CCIH.(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998) Funções da CCIH - Revisão da padronização do elenco de antibióticos; - Elaboração de protocolos clínicos para tratamento de infecções; - Elaboração de relatórios com perfil de utilização, demanda e custos dos tratamentos; - Monitoramento de pacientes em uso de antimicrobianos, por meio das fichas de controle; - Definir critérios para seleção e aquisição de desinfetantes, antissépticos, saneantes, produtos para saúde e medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 81 15 MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS Dentro das ciências farmacêuticas, a manipulação em hospital é uma atividade especial. Envolve áreas da farmácia que não são comuns em estabelecimentos de atendimento ao público. A manipulação de medicamentos não estéreis é um serviço que propicia grande economia para a instituição, disponibilizando medicamentos e soluções que o mercado não possui ou que têm alto custo, em diferentes concentrações, quantidades e volumes. O hospital leva a vantagem de poder controlar precisamente a administração de medicamentos preparados exclusivamente para um paciente, por possuir laboratórios de manipulação especializados. A importância da manipulação de medicamentos não estéreis é vista nas seguintes ocasiões: É de extrema importância para o Sistema de Distribuição de Doses Unitárias (SDDU), podendo ser considerada uma área pré-requisito para Dose Unitária; Proporciona a qualquer momento medicamentos com qualidade aceitável, adaptados à necessidade da população que atende; Permite fracionar ou reenvasar medicamentos a fim de racionalizar sua administração e distribuição. Permite preparar, diluir ou “reenvasar” germicidas necessários para realização de antissepsia, limpeza, desinfecção e esterilização. AN02FREV001/REV 4.0 82 15.1 FORMAS FARMACÊUTICAS NÃO ESTÉREIS DE IMPORTÂNCIA NA MANIPULAÇÃO HOSPITALAR Há algumas formas farmacêuticas não estéreis que podem ser produzidas na farmácia hospitalar como: Comprimidos; Cápsulas; Papéis; Soluções; Xaropes; Suspensões. E algumas que sãoobtidas no mercado farmacêutico, já manufaturadas, que podem ser submetidas ao fracionamento na farmácia hospitalar, como: Comprimidos; Líquidos orais (soluções, xaropes e suspensões). O número de farmácias onde existe a manipulação de medicamentos não estéreis vem crescendo significativamente por apresentar inúmeras vantagens, como: Medicamento personalizado satisfazendo às necessidades do paciente; Associações benéficas; Vínculo entre paciente / médico / farmacêutico fortalecido; Custo reduzido. Algumas observações na manipulação de medicamentos não estéreis que devem ser levadas em consideração: Os equipamentos a serem utilizados na manipulação devem estar devidamente calibrados e aferidos; Vidrarias e materiais de porcelana devem estar íntegros; Deve haver um termostato nos refrigeradores permitindo monitoramento da temperatura; AN02FREV001/REV 4.0 83 Os insumos devem ser armazenados de acordo com as orientações do fabricante; A embalagem deve garantir a estabilidade do produto. 15.2 ESTRUTURA FÍSICA LABORATORIAL PARA MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS Sala de paramentação com lavatório. Interior subdividindo os laboratórios de líquidos, semissólidos, sólidos e controle de qualidade, com acesso independente para evitar a contaminação cruzada. Piso liso e lavável, cantos e rodapés arredondados, paredes lisas pintadas de cor clara com tinta acrílica ou epóxido, sistema de circulação de ar. Sistema de circulação de ar composto pó: ventilador insuflador de ar e exaustor. Presença de pré-filtros HEPA para proporcionar ambiente classe 100 mil, com 20 trocas de ar por hora. Bancadas com tampo de material liso e lavável, pia de aço inoxidável, fonte de água potável e de água purificada, box de pesagem com balança eletrônica, armários para estoque de vidrarias e utensílios de manipulação. AN02FREV001/REV 4.0 84 16 QUIMIOTERAPIA E AS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO ONCOLÓGICO Nos Estados Unidos, depois da doença cardíaca, o câncer constitui a principal causa de morte. Aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo desenvolvido poderá morrer de câncer nas próximas décadas. De acordo com estatísticas apresentadas em todo mundo, o aumento crescente da incidência do câncer é consequência do crescimento demográfico, da longevidade e provavelmente da entrada de novos fatores cancerígenos causais ou concausais cuja natureza é pouco conhecida. O câncer é um distúrbio celular caracterizado por alterações no processo de duplicação do DNA, resultado em proliferação celular alterada, de forma desordenada. A terapia oncológica consiste no tratamento dos pacientes portadores de câncer, por meio de qualquer das modalidades disponíveis à prática médica. Atualmente, o recurso mais empregado é o da quimioterapia, o qual utiliza os medicamentos antineoplásicos, por intermédio de protocolos de um ou mais medicamentos, dependendo do tipo e do estágio do tumor. 16.1 ATENDIMENTO ÀS PRESCRIÇÕES MÉDICAS Conjunto de solicitações escritas pelo médico ao farmacêutico, para a preparação e entrega de um ou mais medicamentos, a prescrição ou receituário médico é redigida contendo informações direcionadas ao farmacêutico, visando ao atendimento do doente. Um receituário médico contém partes imprescindíveis, que o torna personificado e específico para cada paciente: Nome do paciente; Fármacos; Vias de administração; AN02FREV001/REV 4.0 85 Forma farmacêutica; Indicações de uso; Forma de administração do medicamento. O farmacêutico ao receber uma prescrição deve se certificar de que todas as informações, necessárias a dispensação do medicamento, estão claras e de acordo com o protocolo predefinido pelo médico. Os fármacos devem ser prescritos pelo médico em letra legível de forma explícita, indicando as concentrações desejadas para o tratamento. Cabe ao farmacêutico conferir as doses prescritas de acordo com a superfície corporal do paciente. Caso as doses estejam aparentemente elevadas, o médico deverá sublinhar a dose desejada, demonstrando consistência do fato. Em se tratando de agentes antineoplásicos, estes dados devem ser cuidadosamente avaliados devido às suas características citotóxicas. O atendimento da prescrição médica inclui a confecção de rótulo, o qual deve conter todas as informações necessárias à identificação do paciente, características referentes à reformulação preparada à orientação para a enfermagem na assistência ao paciente. Seguindo o protocolo de cada paciente, o esquema posológico deve estar claro na prescrição médica. Formulado pelo médico, o protocolo quimioterápico combina diversos medicamentos antineoplásicos destinados ao paciente oncológico e enviados ao farmacêutico para execução das diluições. O tratamento é repetido a um dado intervalo de tempo, denominado ciclo, de acordo com a evolução do paciente. O protocolo deve expressar com clareza: Os fármacos; O veículo; A concentração; A posologia; Via de administração; Tempo de infusão; Informações sobre sequência e duração do tratamento; Periodicidade dos ciclos; Altura; Peso; AN02FREV001/REV 4.0 86 Superfície corporal; Diagnóstico do paciente. Para os esquemas de altas doses, é importante que o farmacêutico certifique-se junto ao médico de que a dose prescrita é a desejada. A via endovenosa é a mais utilizada, no entanto, outras vias podem ser utilizadas, como tópica, oral, muscular, intratecal, intraperitoneal, intrapleural, intravesical e intrarretal. 16.2 CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS Setor onde são realizadas todas as atividades envolvendo a operação farmacêutica de preparo das soluções parenterais destinadas ao tratamento do câncer. As soluções são manipuladas de acordo com a prescrição médica destinada a cada paciente, de forma individual e personalizada. São extremamente complexas as técnicas empregadas para diluir os antineoplásicos, tornando-se aconselhável a centralização das atividades de manipulação desses fármacos. A manipulação centralizada apresenta as seguintes vantagens: Melhor controle dos riscos decorrentes da exposição dos trabalhadores envolvidos com agentes antineoplásicos e meio ambiente; Garantia de qualidade das soluções parenterais e dos serviços prestados aos pacientes oncológicos; Redução dos cistos com recursos humanos, fármacos e material utilizado na manipulação dos antineoplásicos; Melhor gerenciamento do setor, visando a alcançar eficácia, eficiência e efetividade nos serviços prestados. É necessária a elaboração de um projeto claro, conciso e coerente com a realidade de cada hospital ou clínica, para a implementação de uma Central de Manipulação de Antineoplásicos. Cada parte do projeto deve ser explicada com argumentos técnicos para justificar os equipamentos, a área física e os recursos humanos apresentados. AN02FREV001/REV 4.0 87 A central de manipulação deve ser bem planejada, buscando atender a característica de cada hospital e visando a proporcionar segurança ao trabalhador. Em linhas gerais, deve possuir os seguintes espaços físicos: Área de limpeza do material a ser utilizado Este espaço destina-se ao armazenamento de limpeza de todo material utilizado na manipulação (Figura 7). FIGURA 7- SALA DE LAVAGEM DE MATERIAL FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Área destinada a paramentação do trabalhador Esta sala é composta por duas áreas separadas por um banco corrido ou por uma porta. Na primeira parte, são deixadas as vestes, sapatos, joias e outros acompanhamentos de uso pessoal. Na segunda área, o trabalhador faz a antissepsiadas mãos com água e sabão neutro e se equipa com os equipamentos de proteção individual (EPI) (Figura 8). AN02FREV001/REV 4.0 88 FIGURA 8- SALA DE PARAMENTAÇÃO DO TRABALHADOR FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Sala contendo a câmara de segurança biológica Nesta área, além da câmara de segurança biológica classe II tipo B2, instalam-se as bancadas onde são colocados os materiais necessários às atividades de manipulação farmacêutica (Figura 9). São também colocadas nas bancadas as soluções já preparadas para processar a rotulagem. As paredes devem ser laváveis, com as bordas arredondadas e pelo menos uma das divisórias deve ser de vidro para manter contato visual com a área externa. O ar de dentro da sala deve ser filtrado. AN02FREV001/REV 4.0 89 FIGURA 9 - SALA DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Área de transferência Após a limpeza, o material é colocado nesta área de onde é transferido para a sala de manipulação e para receber dessas as soluções já preparadas para serem conduzidas às clínicas. Na divisória de vidro que separa as duas salas há uma janela com sistema corrediço por onde é feita a transferência dos produtos. É uma sala que impede a formação de correntes de ar que irão influenciar decisivamente na estabilidade do fluxo de ar da câmara. Esta sala tem contato com a sala de limpeza por meio de uma porta. Deve ainda fazer parte do planejamento de implantação e reestruturação das centrais de manipulação de antineoplásicos, um espaço destinado a recepção, cálculos e análises das prescrições. Nesta área, devem-se localizar as estantes com as fichas dos pacientes oncológicos, o registro com a lista dos agentes desativadores de cada antineoplásico, as normas e procedimentos adotados em AN02FREV001/REV 4.0 90 caso de acidentes, cópia dos certificados de manutenção da câmara e fichas contendo os dados de cada trabalhador, tais como dados pessoais e exames do programa de controle médico e saúde ocupacional (PCMSO), cadastro de cada paciente e um terminal de computador para processamento de dados. Câmara de segurança biológica As câmaras de segurança biológica (CSB) classe II B 2, são sistemas eletromecânicos, com pressão negativa de exaustão e filtragem absoluta do ar descendente e ou ascendente capazes de criar ambiente de fluxo laminar vertical, em pequenas áreas de trabalho, independentemente das condições do meio. As câmaras de ar classe II são as que possuem fluxo laminar vertical. As CSBs são desenhadas especificamente para o trabalho com agentes de risco biológico e adaptadas para o manuseio de agentes antineoplásicos. Portanto, é de suma importância a obediência rigorosa de técnicas de manipulação, a fim de minimizar os riscos de exposição a esses agentes. A ventilação, a temperatura do ambiente e o controle microbiológico, dentro da área de manipulação da câmara, devem ser rigorosamente monitorados. Para limpeza dos equipamentos devem-se utilizar agentes adequados e em intervalos regulares de tempo, observando-se as técnicas de procedimentos recomendadas pelo fabricante. Os desinfetantes devem ser trocados periodicamente para não devolver formas de microrganismos resistentes. A limpeza da câmara deve ser feita por pessoal devidamente treinado e conhecedor do risco a que está expondo seguindo as instruções do fabricante. O certificado contendo o laudo de manutenção da câmara deve ser fornecido por empresa idônea. A câmara deve ser instalada em uma área sem turbulência e sem frequente tráfego de pessoas. A movimentação excessiva das mãos, o excesso de materiais, ou objetos de grandes volumes distribuídos no espaço destinado à manipulação dos fármacos, dificulta a circulação do ar e gera um ambiente de ventilação instável, que prejudica a eficiência da câmara. AN02FREV001/REV 4.0 91 16.3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS Os antineoplásicos para uso oral não são prescritos com muita frequência, e muito embora os fármacos nesta apresentação já estejam prontos para a dispensação, são necessários alguns cuidados ao manuseá-los. A operação mecânica de fracionamento dos comprimidos ou individualização das cápsulas para dispensação faz liberar pó, cuja composição é semelhante a das formas farmacêuticas que lhes deram origem. Quando o fracionamento requer ajuste da dose, a operação farmacêutica envolve atividades minuciosas, como pulverização, pesagem e/ou dissolução de fármaco. É conveniente que se tenha um local exclusivo, com ventilação natural adequada para esta operação, dotado de um sistema exaustão de tal forma que as partículas não contaminem o ambiente de trabalho. É indispensável que o trabalhador esteja equipado com o EPI adequado. Na execução das atividades de manipulação de quimioterapia é aconselhável que o farmacêutico tenha auxiliares, tendo como atribuições: Ligar e preparar CSB; Separar o material; Suprir a sala de manipulação com todos os materiais necessários ao preparo das soluções, rotulá-las e acondicioná-las adequadamente; Limpar e desligar a câmara; Adicionar adequadamente todos os resíduos de antineoplásicos. Essas atribuições possibilitam maior segurança ao manipulador, uma vez que este não precisa se levantar ou se movimentar muito enquanto manipula podendo desenvolver sua atividade com destreza e a rapidez que a técnica exige. Além disso, viabiliza um trabalho mais racional, evitando erros, desperdícios e diminuindo custos. São necessárias algumas precauções para minimizar a formação de aerossol no ambiente de trabalho, tais como: a diluição deve ser rápida, cuidadosa e com rigorosa técnica asséptica; deve-se ter cuidado de não deixar ar dentro da AN02FREV001/REV 4.0 92 seringa, colocando o bisel em contato com o líquido de dentro do frasco-ampola; afim de não aspirar o ar existente; a seringa deve ser selecionada de acordo com o volume a aspirar. A sequência para a manipulação dos antineoplásicos segue, em linhas gerais, os seguintes passos: Análise das prescrições, realização dos cálculos e confecção dos rótulos; Separação e limpeza do fármaco e da bolsa de diluente. Conduzi-los à sala de transferência e desta à sala de manipulação; Após se desfazer de todos os adornos pessoais, faz-se a antissepsia das mãos e antebraços. Segue-se a paramentação com os EPIs; Cubra a bancada com um campo de plástico e, sobre este, outro campo de papel absorvente, ambos estéreis; O auxiliar vai distribuindo o material sobre a bancada à medida que forem sendo desenvolvidas as atividades de manipulação; Posicionar-se junto à câmara e calçar as luvas cirúrgicas; Proceder à reconstituição do fármaco e à sua diluição de acordo com as técnicas de manipulação farmacêutica, observando a dose prescrita pelo médico; Conectar o equipo e verificar a ocorrência de vazamento; Entregar ao auxiliar para a rotulagem; A utilização de gazes estéreis é sempre recomendada para dar mais segurança, no momento de quebrar a ampola, aspirar a solução do frasco- ampola e ao adicionar o medicamento reconstituído à bolsa de sistema fechado, contendo soro fisiológico, glicosado ou outro diluente. AN02FREV001/REV 4.0 93 16.4 SEGURANÇA NA MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA Diante da evidência do risco de exposição ocupacional em que ocorre a possibilidade dos antineoplásicos causarem mutação e câncer em trabalhadores expostos, muitos países têm elaborado recomendações para a manipulação segura destes agentes. Alguns trabalhadores se expõem desnecessariamente a esses agentes, porquenão são devidamente treinados e educados para trabalhar com agentes potencialmente tóxicos. FIGURA 10 - MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERÁPICOS FONTE: Arquivo pessoal (manipulação realizada no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) AN02FREV001/REV 4.0 94 Técnicas perfeitas de manipulação são muito difíceis de serem executadas, os equipamentos de manipulação não são absolutamente infalíveis. Por isso, é muito importante que seja adotado um programa bem estruturado para a proteção do meio ambiente e do trabalhador que manuseia antineoplásicos. Os agentes antineoplásicos devem ser preparados em CSB classe II, tipo B2, de uso exclusivo, obtida de empresa idônea, instalada por pessoal devidamente habilitado e treinado. Deve ser instalada em uma área sem turbulência, com ar filtrado, devendo ser ligada de 15 a 30 minutos antes de iniciar os trabalhos e desligada de 15 a 30 minutos após terminá-los, ou conforme orientação do fabricante. Deve-se incluir na manutenção da câmara a troca de pré-filtro e do filtro HEPA, seguindo rigorosamente as orientações do fabricante, de forma a garantir a eficiência operacional e a integridade dos processos eletromecânicos. O tempo de duração dos filtros de alta eficiência (HEPAs) é, em média, de três anos, dependendo dos cuidados utilizados na técnica de manipulação dos produtos. A limpeza da área crítica deve ser feita com produto apropriado, antes do trabalho e após o término das atividades, em concordância com as boas práticas da Farmácia. A parte externa da câmara deve ser limpa com detergente suave e a parte interna com álcool 70%, lembrando que este produto em excesso pode danificar as borrachas de vedação. O trabalhador deve utilizar capote de tyvec com gorro e botas, fechado na frente, com mangas longas e punhos. Deve usar ainda luvas cirúrgicas, óculos panorâmico de segurança e respirador classe P3. As soluções preparadas devem ser colocadas em recipientes impermeáveis rígidos, com tampa, e transportados até o local de administração em carrinhos, de modo a prevenir quebra e/ou vazamentos. O trabalhador deve estar adequadamente equipado. O lixo contendo antineoplásicos deve ser coletado em lixos resistentes à perfuração e a vazamentos de líquidos ou vapores, os quais são colocados em sacos de plástico grosso, identificados como lixo tóxico e conduzidos à incineração. O lixo contaminado com esses agentes não deve ser misturado com outro material a ser descartado. A desativação química do material contendo resíduos de antineoplásicos só deve ser feita por pessoal habilitado e devidamente treinado. A estocagem deve ser feita em prateleiras com proteção frontal, desenhadas especificamente para AN02FREV001/REV 4.0 95 produtos perigosos, para prevenir quebras e vazamentos. Os agentes termolábeis devem ser guardados em geladeira, separados dos demais medicamentos e devidamente identificados. As normas escritas de manipulação e procedimentos técnicos de segurança devem ser colocadas em local de fácil acesso aos trabalhadores de antineoplásicos e sempre que houver dúvidas, as mesmas devem ser dirimidas. Deve-se desenvolver uma política de aderência dos trabalhadores ao programa de segurança do trabalho. A farmácia deve possuir documentos que contenham informações sobre a toxicidade aguda, tratamento em caso de exposição acidental, inativadores químicos e características fisioquímicas dos antineoplásicos manuseados. É preciso desenvolver atividades de treinamento e educação de todos os trabalhadores envolvidos com antineoplásicos. Os trabalhadores expostos devem relatar, em fichas individuais, os acidentes de trabalho, nomeando os antineoplásicos envolvidos e a forma de exposição. 16.5 CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS Agentes químicos usados no tratamento do câncer para inibir o crescimento celular, atuando sobre as moléculas que controlam a divisão e o desenvolvimento das células. O grupo farmacológico dos antineoplásicos inclui diversos agentes que atuam por mecanismos complexos, por meio de interações desses com o ácido desoxirribonucleico (DNA), ácido ribonucleico (RNA) e proteínas. Apesar do processo de interação não estar bem esclarecido, sabe-se que os agentes antineoplásicos atuam de forma semelhante à irradiação ionizante. Eles não destroem diretamente as células cancerígenas, porém, impedem e/ou diminuem a habilidade de replicação do DNA, não possuindo ação seletiva sobre os tecidos neoplásicos e apresentando efeitos cumulativos. O efeito antineoplásico é dependente da ação citotóxica, afetando indistintamente tanto as células normais quanto às células alteradas, especialmente AN02FREV001/REV 4.0 96 aquelas que se dividem rapidamente, como as da medula óssea, epitélio gastrointestinal, pele folículo piloso, epitélio germinativo das gônadas e as estruturas embrionárias. Os pacientes terapeuticamente expostos a esses agentes podem apresentar reações adversas, como náuseas, vômitos, alopecia, hiperpigmentação, reações cutâneas e efeitos tóxicos em diversos órgãos: coração, rins e pulmões. A classificação dos antineoplásicos é feita de forma empírica, com base no mecanismo de ação sobre o ciclo de reprodução celular. Estão distribuídos entre os grupos: Agentes Alquilantes Constituem um grupo de várias substâncias químicas, cuja característica comum é a alquilação do DNA. As células expostas a um agente alquilante têm átomos de hidrogênio substituídos por um radical alquil, resultando em ligação cruzada e formação de bases anormais nas moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA). Entre esses estão mostarda nitrogenada, ciclofosfamida, ifosfamida, bussulfano, carmustina, estreptozocin, dacarbazina. Todos os antineoplásicos da classe dos alquilantes apresentam reações adversas sobre o sistema reprodutivo, causando amenorreia muitas vezes permanente, particularmente em mulheres com idade próxima à menopausa e, no homem, pode causar azospemia irreversível e oligospermia. Podem causar efeitos irritantes por contato direto com a pele e, dependendo da intensidade da lesão, podem produzir efeitos sistêmicos. São agentes de atuação inespecífica, isto é, atuam em qualquer fase do ciclo de reprodução celular. Agentes antimetabólicos Constituído por fármacos que interferem em diversos processos metabólicos celulares, resultando em interrupção da síntese de ácidos nucleicos. Podem agir por duas maneiras: por incorporação do fármaco em substituição a um constituinte normal da célula; ou por inibição de uma enzima do metabolismo celular. Os efeitos tóxicos originados da ação dos antimetabólitos se manifestam por meio de náuseas, mielossupressão grave, estomatite e alopecia moderada. AN02FREV001/REV 4.0 97 Entre os agentes antimetabólicos estão o metotrexate, 5-fluorouracil, citarabina, tioguanina, mercaptopurina. Estes agentes são tóxicos para todas as células normais, especialmente as que se dividem rapidamente, com potencial teratogênico e mutagênico, e quando administrados por tempo prolongado pode levar à cirrose e a fibrose hepática. Antineoplásicos naturais O grupo dos antineoplásicos naturais é formado por alcaloides derivados da vinca, etoposido e teniposido, antibióticos e paclitáxel. Estas substâncias são agentes ciclocelulares específicos que bloqueiam as células em mitose. As atividades biológicas desses fármacos estão na capacidade de ligar-se tubulina, interferindo no funcionamento dado pelo sistema de microtúbulos, que é um dos componentes do fuso mitótico. Por meio da destruição dos microtúbulos, a divisão celular é detida na metástase. A ação tóxica mais importante é a mielossupressão e toxicidade neurológica. O etoposido e o teniposido estão classificados dentro do grupo dos agentes antineoplásicos naturais, por seremfármacos semissintéticos derivados da podofilotoxina. Esses agentes ligam-se à tubulina em locais diferentes daqueles usados para interação com os alcaloides da vinca. Seu mecanismo de ação parece estar relacionado com a ruptura da alça dupla do DNA. Seu efeito principal ocorre na fase terminal S e inicial G2 do ciclo de reprodução celular. Foram observadas duas diferentes respostas em função da dose: Em altas concentrações – foi observado lise das células entrando em mitose; Em baixas concentrações – foi observado que as células são inibidas ao iniciar a fase de prófase. O etoposido e o teniposido têm a sua ação citotóxica manifestada por leucopenia, trombocitopenia, neurotoxicidade, toxicidade hepática, febre, flebite, dermatite e reações alérgicas. Os antineoplásicos classificados como antibióticos resultaram da triagem de produtos antimicrobianos, que levaram à descoberta de diversos inibidores de crescimento celular, os quais se mostraram úteis no tratamento do câncer. Todos os antibióticos antineoplásicos, clinicamente úteis, são produtos semissintéticos, derivados de várias cepas, do fungo streptomyces. AN02FREV001/REV 4.0 98 Os antibióticos antineoplásicos dactininicina-D, daunorrubicina, doxorrubicina, bleomicina e mitomicina se ligam fortemente à dupla hélice do DNA, por meio da intercalação entre as bases púricas e pirimidínicas, interrompendo o prolongamento da cadeia de DNA e causando graves distorções cromossômicas. Essas distorções bloqueiam a síntese de novo RNA, do DNA ou ambos, provocando a ruptura das fitas de DNA e impedindo a duplicação celular. Os efeitos tóxicos são imunossupressão, cardiotoxicidade (aguda e acumulativa) e alopecia; e são vesicantes ao entrar em contato direto com a pele. Outros efeitos adversos são náuseas, estomatite e nefrotoxicidade. O paclitaxel promove formação e agrupamento anormal e a instabilização dos microtúbulos formados. Liga-se à subunidade beta-tubulina antagonizando a desmontagem dessa proteína, fazendo com que estruturas aberrantes apareçam nas células. Segue-se a parada da mitose podendo ocorrer morte celular. A ação citotóxica é manifestada por reações de hipersensibilidade ao fármaco, como rubor, dispneia, hipotensão, taquicardia, neurotoxicidade, cardiotoxicidade e hepatixicidade. Agentes diversos O grupo de agentes diversos é composto pelos antineoplásticos cisplatina, carboplatina, hidroxiureia, procarbazina, dacarbazina e mitutano, L-asparaginási. Esses compostos possuem um mecanismo de ação variado e pouco elucidado, agindo em fase inespecífica do ciclo celular. Interferem na duplicação do DNA, inibindo a multiplicação das células por meio de alterações cromossômicas em tecidos neoplásicos e em tecidos normais. Podem causar toxicidade neurológica, com efeitos cumulativos, como formigamento e entorpecimento das extremidades, náuseas, vômitos, anorexia, hiperuricemia, granulocitopenia, nefrotoxicidade, desequilíbrio eletrolítico e neutropenia. Inclui ainda leucopenia e trombocitopenia e imunossupressão. A procarbazina é altamente carcinogênica, mutagênica e teratogênica. Tem sido relacionada também infertilidade, particularmente em homens. O agente antineoplástico L-asparaginasi é uma enzima que, ao catalisar a hidrólise da asparagina circulante, priva essas células da asparagina necessária à síntese de proteína, podendo levar à morte celular. Os efeitos tóxicos mais significantes são de hipersensibilidade, hiperglicemia, anormalidades de coagulação e supressão da função imune. AN02FREV001/REV 4.0 99 16.6 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO A eficácia dos fármacos antineoplásicos é alcançada mediante o seu potencial citotóxico, indicando que pequenas variações nas doses podem gerar graves danos ao paciente. Se forem preparadas doses ligeiramente menores do que as prescritas, poderão não produzir o efeito esperado e, se as doses forem ligeiramente maiores, poderão gerar um quadro de toxicidade, que pode ser letal. As doses prescritas devem ser rigorosamente atendidas. Deve-se ainda considerar que os doentes portadores de câncer são imunossuprimidos, quer pela doença de base, quer pelo fármaco que lhe está sendo administrado. É necessário, portanto, a utilização de uma técnica rigorosamente asséptica para o preparo das soluções parenterais, contribuindo dessa maneira para evitar quadros de infecção e septicemia. O farmacêutico que atende ao paciente oncológico ajuda na detecção de sintomas indicativos de sobreposição de toxicidades. É aconselhável que o farmacêutico sugira a diminuição das doses de pelo menos um dos componentes do esquema terapêutico. É também aconselhável que o farmacêutico em qualquer situação acompanhe a evolução clínica do paciente se inteirando das reações colaterais significantes, verificar se o medicamento está sendo administrado no tempo prescrito pelo médico e a forma como está sendo acondicionado na clínica. FIM DO MÓDULO II AN02FREV001/REV 4.0 101 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 102 CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 103 MÓDULO III 17 NUTRIÇÃO PARENTERAL: NUTRIENTES E VIAS A Nutrição Parenteral (NP) consiste na administração total ou parcial, por via intravenosa, dos nutrientes necessários à sobrevivência do paciente, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar. A NP é indicada nos casos em que a alimentação oral não é possível ou é indesejada, quando a absorção de nutrientes é incompleta e, principalmente, quando as condições citadas estão associadas ao estado de desnutrição. Entre as indicações clássicas desta terapia nutricional estão: Pré-operatório – portadores de desnutrição com doenças obstrutivas no trato gastrintestinal alto; Complicações cirúrgicas pós-operatórias – fístulas intestinais, íleo prolongado e infecção peritoneal, síndrome do intestino curto; Pós-traumática – lesões múltiplas, queimaduras graves, infecção; Desordens gastrintestinais – vômitos crônicos e doença intestinal infecciosa; Moléstia inflamatória intestinal – colite ulcerativa e doença de Crohn; Insuficiências orgânicas – insuficiência hepática e renal; Condições pediátricas – prematuros, má-formação congênita do trato gastrointestinal e diarreia crônica intensa. AN02FREV001/REV 4.0 104 17.1 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO O teor calórico da formulação, a osmolaridade e as condições do acesso venoso do paciente são importantes na escolha do acesso preferencial para a administração da formulação. Dessa forma, a NP pode ser administrada por vias central ou periférica. A NP central é administrada por meio de uma veia de grande diâmetro, geralmente veia cava superior, átrio direito, veia cava inferior, subclávia, jugular interna ou a criação cirúrgica de uma fístula arteriovenosa que chega diretamente ao coração. A alta osmolaridade da formulação infundida (três a oito vezes a osmolaridade do plasma, que é aproximadamente igual a 277,5mOs/I) requer que a administração seja feita em veias de grosso calibre, com grande fluxo sanguíneo, para evitar dor, tromboflebite e hemólise. A inserçãode cateter por via percutânea, embora limite a flexibilidade do cotovelo, pode ser usada em pacientes onde a punção da veia subclávia não foi bem-sucedida. A colocação percutânea de um cateter na veia femoral inferior pode ser usada quando outras veias superiores não estão disponíveis, como na ocorrência de trombose de ambas as subclávias ou da veia cava superior. Este tipo de acesso tem sido usado com sucesso variável. A NP periférica é administrada por meio de uma veia menor, geralmente na mão ou antebraço. Pelo acesso venoso periférico podem ser administradas no paciente apenas soluções hipotônicas e hiposmolares (inferior a 600mOsm/l), a fim de evitar o aparecimento de flebite e outras complicações mecânicas e metabólicas. As soluções podem ser infundidas por gravidade por meio de equipos de infusão contendo filtros clarificantes, com capacidade variada de retenção de partículas (15-20µm), bem como podem ser administradas com o auxílio de bombas de infusão, sob a forma contínua ou intermitente. Ambos os métodos são satisfatórios, desde que assegurem a profilaxia das alterações sensíveis nos níveis de glicemia, bem como um controle rigoroso do ritmo AN02FREV001/REV 4.0 105 de gotejamento, de tal forma que o paciente receba o maior percentual possível das calorias e nutrientes prescritos. A NP deve ser infundida em velocidade constante, sendo que grandes alterações na velocidade podem resultar em hiper ou hipoglicemia importantes. Devido às elevadas concentrações de glicose, a infusão deve ser iniciada gradualmente, para evitar a hiperglicemia e permitir uma melhor adaptação metabólica do paciente. Não é muito preocupante a toxicidade cardíaca resultante da infusão na veia cava superior de soluções contendo altas concentrações de glicose e eletrólitos, porque essas soluções são rapidamente diluídas pelo alto fluxo sanguíneo. Entretanto, é importante observar o volume e a velocidade de infusão em pacientes com restrições volêmicas, cardiopatas, hepatopatas e nefropatas. Os pacientes que recebem a NP devem ser submetidos a um rígido controle clínico e laboratorial, antes e durante a administração da NP, para identificar as anormalidades metabólicas que requeiram tratamento. 17.2 COMPLICAÇÕES MECÂNICAS, SÉPTICAS E METABÓLICAS 17.2.1 Complicações pela inserção do cateter A maior parte das complicações está relacionada à lesão das estruturas vizinhas às veias puncionadas. Ocorrendo, também, complicações na punção percutânea da veia subclávia e na veia jugular interna. Além dessas, podem também ocorrer lesões do endotélio vascular, embolias e repercussões cardíacas. A punção da veia danifica a parede venosa, o que estimula a trombose local. A presença de um corpo estranho intravenoso potencializa a trombose. As complicações de trombose da veia central incluem tromboflebite séptica, perda de acesso venoso, síndrome da veia cava superior, extravasamento da infusão, dificuldade de retorno venoso da extremidade superior e embolia pulmonar. AN02FREV001/REV 4.0 106 17.2.2 Complicações sépticas Os pacientes que necessitam de NP são frequentemente predispostos a complicações por infecção como resultado da desnutrição, do uso frequente de antibióticos de largo espectro e pelas infecções concomitantes de ferimentos, do trato urinário ou dos pulmões. E particularmente comum a presença de Candida na urina e cavidade oral desses pacientes. O cateter venoso pode tornar-se infectado pelas causas mais diversas. A contaminação do cateter atinge índices de até 30% e constitui potencial foco de infecção. As bactérias associadas com este tipo de infecção são cocos gram- positivos (Staphilococus aureus, Staphilococus epidermidis, Enterococos) e gram- negativos (Pseudomonas, Serratia marcescens, Kiebsiela pneumoniae). Admite-se até 15 colônias bacterianas por placa em culturas semiquantitativas, como sendo compatível com colonização. Os sinais clínicos da infecção são: febre, calafrios, hipotensão arterial, taquicardia, confusão mental e glicosúria. A taxa de infecção do cateter central pode ser reduzida quando um protocolo é rigorosamente seguido. O cateter infectado pode determinar outros focos de infecção, tais como endocardite bacteriana, tromboflebite séptica, embolia séptica, broncopneumonia, artrite infecciosa. AN02FREV001/REV 4.0 107 17.2.3 Complicações metabólicas Além das complicações mecânicas e sépticas da NP, podem ocorrer numerosas complicações metabólicas. É importante monitorizar os pacientes e detectar quaisquer sintomas clínicos causados pelas anormalidades metabólicas. 17.2.3.1 Glicosúria O adulto normal pode tolerar a infusão de até 400g a 500g de glicose durante 24 horas sem dificuldade. Com o incremento gradual da infusão de glicose em vários dias, podem ser metabolizadas até 1000g/dia. Contudo, os pacientes com estresse grave, desnutrição, sepse, diabetes e pacientes muito jovens ou muito idosos são, frequentemente, intolerantes à glicose e podem desenvolver hiperglicemia acentuada e glicosúria, até mesmo com quantidades mínimas de infusão de glicose. 17.2.3.2 Síndrome hipoglicêmica As concentrações séricas de insulina têm sido medidas antes, durante e após a NP. Em um pâncreas normal ocorre rapidamente uma elevação no nível sérico de insulina com a infusão de carboidratos, alcançando um nível estável de quatro a seis vezes o valor da secreção basal dentro de seis horas. A secreção inicial de insulina é proporcional à quantidade de glicose infundida. Com o tempo, tanto as concentrações sanguíneas de glicose como as de insulina decrescem, talvez como resultado da menor resistência a insulina nos tecidos periféricos. AN02FREV001/REV 4.0 108 A interrupção da infusão de carboidratos, mesmo depois de prolongada administração, está associada com uma queda de insulina aos níveis séricos normais dentro de 30 minutos. Quando a NP é interrompida abruptamente, ocorre geralmente uma rápida diminuição na concentração sérica de insulina e a normalização da concentração sanguínea de glicose. Os sintomas da hipoglicemia na sua forma hiper-reativa se exteriorizam pela sintomatologia de ansiedade, tremores, sudorese, tonteira, cefaleia, palpitação, palidez e taquicardia. 17.2.3.3 Hipofosfatemia O desenvolvimento de hipofosfatemia acentuada, durante a administração de soluções de NP pobres em fosfato, pode ocorrer precocemente nos pacientes, mesmo nas primeiras 24 horas, e isso está bem documentado. O mecanismo pelo qual a concentração de fosfato sérico diminui é apenas parcialmente conhecido. As perdas renais de fosfato medidas são mínimas, a ligação do fosfato com aminoácidos parece ser insignificante, e a concentração sérica de fósforo retorna tipicamente ao normal após o término da NP. Os sintomas de carência de fósforo são caracterizados por fraqueza muscular, parestesia circum-oral e periféricas, disartria e alterações respiratórias, podendo chegar ao coma, convulsões e morte. O tratamento da hipofosfatemia deve ser, inicialmente, preventivo. A manutenção de fósforo nas formulações-padrão de NP total ou parcial é rotineira pela adição de sais de fosfato na forma de fosfato do sódio ou de potássio. AN02FREV001/REV 4.0 109 17.2.3.4 Hipomagnesemia As perdas de magnésio não precisam ser elevadas para levar a hipomagnesemia. Os sintomas clínicos podem ocorrer com uma perda total pequena, como 35mEq a 100mEq. O magnésio tem função no metabolismo intermediário, tem ação fundamental no trabalho do coração, diminuindo a irritação cardíaca e aumentando o fluxo coronariano. A sua carência manifesta-se por alterações do sistema nervoso central e do sistema neuromuscular assemelhando- se bastante com asmanifestações produzidas pela carência de cálcio. Todos os sintomas clínicos são reversíveis com a reposição do magnésio e podem ser evitados pela administração de manutenção. As necessidades para manutenção do magnésio são mais elevadas durante a NP do que durante a nutrição oral normal. 17.2.3.5 Concentrações séricas de lipídios A NP como um sistema misto de fontes energéticas, pode levar ao aumento sérico das concentrações de colesterol e triglicerídeos em pacientes com alterações no metabolismo de lipídios. A infusão de lipídios deve ser interrompida ou reduzida para só evitar as complicações da hiperlipidemia. 17.2.3.6 Deficiência de ácidos graxos essenciais Pacientes em uso prolongado de NP total, tendo como fonte calórica exclusiva a glicose, podem apresentar depois de algum tempo alterações clínicas e laboratoriais características da deficiência de ácidos graxos essenciais. A sua AN02FREV001/REV 4.0 110 carência é traduzida por urna série de alterações, manifestadas principalmente pelo aparecimento de lesões cutâneas características. 17.2.3.7 Alterações Hepáticas As alterações hepáticas costumam ser transitórias e não deixam sequelas. Manifestam-se pelo aumento da transaminase glutâmico-pirúvica (TGP), que costuma estar elevada geralmente cinco vezes o seu valor normal, enquanto que a transaminase glutâmico-oxalocética (TGO) fica em nível mais reduzido. O mecanismo de aparecimento das alterações hepáticas na NP está longe de ser elucidado. O mais certo é que uma soma de fatores seja responsável pelo seu aparecimento. 17.2.3.8 Vitaminas A ocorrência de alterações relacionadas ao excesso ou carência de vitaminas não chega a constituir problema nos pacientes que estão fazendo uso de NP. A observância estrita as indicações quanto ao seu uso, dose requerida e frequência de administração impedem praticamente o aparecimento de quadros clássicos de hipervitaminoses. Pode ocorrer carência provocada pelo armazenamento prolongado de soluções previamente preparadas, por exemplo, ocasionando perda da atividade do retinol, que pode acarretar um quadro de cegueira noturna. O aporte insuficiente do ergocalciferol pode levar ao aparecimento de hipocalcemia. AN02FREV001/REV 4.0 111 17.2.3.9 Alterações ósseas Pacientes recebendo NP total prolongada poderão apresentar alterações do metabolismo ósseo. As manifestações clínicas são caracterizadas por intensa dor periarticular e das extremidades, associadas a alterações ósseas como osteomalácia, hipercalciúria, hipercalcemia intermitente, diminuição do cálcio ósseo e níveis reduzidos de paratormônio circulante. Outra complicação do NP com alterações ósseas é o raquitismo. 17.3 COMPOSIÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL O suporte nutricional ótimo, tanto para a manutenção como para a repleção da composição corporal normal, em um indivíduo normal ou portador de algum tipo de patologia, depende de uma provisão adequada. Deve incluir carboidratos, gorduras, aminoácidos, eletrólitos, minerais, oligoelementos e vitaminas. A formulação de NP é um procedimento que deve ser adaptado às necessidades individuais de cada paciente beneficiário. Assim, a formulação de NP deve sofrer alteração em sua composição na medida da variação das condições mórbidas do paciente. A prescrição inicial baseia-se na determinação das necessidades calórico- proteicas do paciente, e metas do suporte nutricional. Deve-se fazer um requerimento diário de todos os macro e micronutrientes para obter uma indicação adequada. AN02FREV001/REV 4.0 112 17.3.1 Macronutrientes 17.3.1.1 Fontes nitrogenadas Em torno de 95% do nitrogênio corporal total estão localizados nas proteínas do organismo. Por sua vez, a proteína seguindo-se a água corporal total, é o principal constituinte da maioria das células, exceto dos adipócitos. O balanço de nitrogênio depende tanto da administração de N2 como da de energia. Se alguma delas for insuficiente, ocorrerá uma perda real de N2 ou balanço nitrogenado negativo. O aporte diário de nitrogênio e o consequente balanço nitrogenado, que demonstra assimilação ou perda de proteína corporal total, estão intimamente relacionados com a quantidade N2, de energia, e de micronutrientes administrados em conjunto, e deve ser norteado pelo tipo de patologia de cada paciente, em face das alterações respectivas na eliminação urinária de N2. Os aminoácidos para NP estão disponíveis comercialmente, por meio de um grande número de fabricantes, como aminoácidos cristalinos sintéticos. Uma vantagem significativa das soluções de aminoácidos sobre os antigos hidrolisados de proteínas é que existe uma flexibilidade para a alteração das quantidades de vários aminoácidos. Produtos específicos têm sido desenvolvidos para recém-nascidos e lactentes, pacientes hepatopatas, nefropatas e para estados de hipermetabolismo, como sepse. Cada grama de aminoácidos fornece 3,6kcal. AN02FREV001/REV 4.0 113 17.3.1.2 Fontes de carboidratos A glicose é utilizada como fonte calórica exclusiva, por ser a hexose mais termodinamicamente estável. As necessidades calóricas variam para cada paciente e podem ser facilmente atingidas pela alteração no volume da formulação a ser infundida. A glicose encontra-se disponível por meio de grande número de produtos farmacêuticos em concentrações que variam de 5% a 70%, em recipientes de 10ml a 2.000ml. Cada grama de glicose mono-hidratada fornece 3,4kcal. 17.3.1.3 Fontes de lipídios As emulsões de lipídios constituem fontes seguras e eficazes de calorias não proteicas devido à alta densidade calórica, isotonicidade, baixa toxicidade e existência de ácidos graxos essenciais ao ser humano. Essas emulsões intravenosas são preparadas principalmente a partir de triglicerídeos de cadeia longa obtidos da semente de soja ou, ainda, em combinação com os triglicerídeos de cadeia média, provenientes do óleo de coco. Estão disponíveis comercialmente em concentrações de 10% e 20% em frascos de 50, 100, 250 e 500ml. A oferta calórica da emulsão lipídica 10% é de 1kcal/ml enquanto que a da emulsão lipídica 20% é de 2kcal/ml. AN02FREV001/REV 4.0 114 17.3.2 Micronutrientes 17.3.2.1 Vitaminas As vitaminas são compostos orgânicos necessários em pequena quantidade para o crescimento normal, para manutenção do estado físico e para a reprodução. Elas diferem dos outros nutrientes orgânicos, uma vez que não entram para a estrutura tecidual e não sofrem metabolização para o fornecimento de energia. Também possuem papel metabólico importante, atuando como cofatores de enzimas no metabolismo intermediário e também na profilaxia de deficiências clínicas e subclínicas. As necessidades diárias para pacientes em terapia nutricional parenteral são especulativas quanto às demandas específicas, necessárias para cada estado patológico. No entanto, são definidas pela American Medical Association/Nutrition Adersory (AMA/NAG), recomendações diárias para pacientes adultos e pediátricos com saúde estável. Há no mercado farmacêutico polivitamínicos com composição apropriada à manutenção diária de vitaminas para adultos e crianças em terapia nutricional parenteral. 17.3.2.2 Eletrólitos O sódio, o cloro, o potássio, o cálcio, o magnésio e o fosfato são os minerais necessários em quantidades acima de 200mg/dia. Esses micronutrientes são essenciais para a manutenção do balanço hídrico, da função cardíaca, da mineralização do esqueleto, da função dos sistemas nervosos, muscular e enzimático. A repleção nutricional envolve a formação de unidades teciduais, contendo protoplasma e líquido extracelular, em proporção e composição fixas.Se tanto um AN02FREV001/REV 4.0 115 elemento protoplásmico (potássio, fósforo), quanto um elemento extracelular não estiverem presentes, a unidade de protoplasma e o líquido correspondente não poderão ser sintetizados. 17.3.2.3 Oligoelementos Os oligoelementos são os metais inorgânicos que apresentam necessidades diárias menores do que 100mg e cujas reservas no organismo são menores do que 4g. Qualquer elemento é considerado “essencial” se esse for eliminado da dieta e surgir um estado de deficiência clínica, e se esse estado for revertido com a reintrodução daquele elemento na dieta. São considerados oligoelementos essenciais para o organismo humano: ferro, iodo, zinco, cobre, cromo, manganês, selênio, molibdênio e cobalto. 17.4 OSMOLARIDADE DAS SOLUÇÕES A osmolaridade é a medida da concentração das partículas osmoticamente ativas na formulação. Especificamente, osmolaridade refere-se ao número de miliosmoles por litro de formulação. Osmolaridade refere-se ao número de miliosmoles por quilo de água. Ambas são medidas da pressão osmótica exercidas pela formulação. Clinicamente, os dois termos podem ser considerados equivalentes. Os nutrientes que mais influenciam na osmolaridade têm uma formulação, são principalmente os açúcares mais simples (monossacarídeos, dissacarídeos), sais inorgânicos que se dissociam em íons quando em solução dos bivalentes dos monovalentes. Em menor grau, o cloreto de sódio (NaCI), os peptídeos menores e os aminoácidos cristalinos. Os lipídios não influenciam na osmolaridade, tendo em vista serem praticamente insolúveis em água. AN02FREV001/REV 4.0 116 17.5 NOVOS SUBSTRATOS EM NUTRIÇÃO PARENTERAL Novos substratos em NP vêm sendo pesquisados a fim de minimizar os problemas de incompatibilidades entre os nutrientes, bem como trazer benefícios terapêuticos. Formulações a base de fósforo orgânico têm sido utilizadas visando eliminar a clássica incompatibilidade entre cálcio e fósforo, sendo compatível com cálcio sob a forma de gluconato, sem quaisquer limites de concentração e perfeitamente estável em formulações de NP. Com isso, a oferta de íons cálcio e fósforo não ficam restritos a concentrações predeterminadas por estudos de estabilidade, geralmente inferiores às necessidades específicas, notadamente na neonatologia e pediatria. Na conduta clínica, a oferta dos íons cálcio e fósforo fica normalmente restrita a 1,0mMol/kg/dia, enquanto que a taxa de oferta uterina é de aproximadamente de 2,5mMoI/kg dia. Além disso, a utilização do fósforo orgânico evitaria que fossem infundidos no paciente os cristais de fosfato de cálcio resultantes da reação química indesejada entre o gluconato de cálcio e o fosfato de potássio, que poderiam acumular-se nos alvéolos pulmonares levando à embolia pulmonar e ao óbito. Outros substratos, como a arginina, glutamina e ácidos graxos w3, vêm sendo utilizados como suplementos no suporte nutricional de portadores de patologias diversas, entre elas o câncer, com o objetivo não apenas de fornecer substrato nitrogenado e calórico, mas também como imunomoduladores a fim de ampliar os mecanismos de defesa imunológicos e, consequentemente, melhorar o prognóstico do paciente. AN02FREV001/REV 4.0 117 17.6 REQUISITOS ESTRUTURAIS, AMBIENTAIS E FÍSICOS DO SETOR DE NUTRIÇÃO 17.6.1 Estrutura física A farmácia destinada a preparação de NP deve ser localizada, projetada e construída de forma a se adequar às operações desenvolvidas e assegurar a qual idade das preparações, possuindo, no mínimo os seguintes ambientes: Área de manipulação; Sala de limpeza e higienização dos produtos farmacêuticos e correlatos; Sala de manipulação; Vestiários; Áreas de armazenamento; Área de dispensação. Os ambientes devem ser protegidos contra a entrada de aves, animais, insetos, roedores e poeira. Devem possuir superfícies internas (pisos, paredes e teto) lisas, sem rachaduras, serem facilmente laváveis, resistentes aos desinfetantes e que não desprendam partículas. As áreas e instalações devem ser adequadas e suficientes ao desenvolvimento das operações, dispondo de todos os equipamentos e materiais de forma organizada e racional, objetivando evitar os riscos de contaminação, misturas de componentes e garantir a sequência das operações. Na área de manipulação, limpeza e higienização são vedadas a existência de ralos. Nas demais áreas, os ralos devem ser fechados. A iluminação e ventilação devem ser suficientes para que a temperatura e a umidade relativa não deteriorem os produtos farmacêuticos e correlatos, bem como a precisão e o funcionamento dos equipamentos. AN02FREV001/REV 4.0 118 As salas de descanso e o refeitório devem ser separados dos demais ambientes e distantes da área de manipulação. As áreas de manipulação de NP devem ter dimensões que facilitem ao máximo a limpeza, a manutenção e as operações. Nestas áreas, todas as superfícies devem ser revestidas de material resistente aos agentes sanitizantes, lisas e impermeáveis para evitar acúmulo de partículas e microrganismos, possuindo cantos arredondados. Deve ser independente e exclusiva, dotada de filtros de ar para retenção de partículas e microrganismos, garantindo os graus de limpeza do ar recomendados. Além disso, deve ser prevista a instalação de Capela de Fluxo Laminar do tipo horizontal, classe 100. A entrada na área de manipulação deve ser feita exclusivamente por meio de antecâmara (vestiário de barreira). Os vestiários devem ser ventilados, com ar filtrado com pressão inferior à da área de manipulação e superior à da área externa. As portas das câmaras devem possuir um sistema de travas e de alerta visual e/ou auditivo para evitar a sua abertura simultânea. Os lavatórios devem possuir torneiras ou comandos do tipo que dispensem o contato das mãos para o acionamento da água. Junto ao lavatório deve existir provisão de sabão líquido e antisséptico e recurso para secagem das mãos. A área de armazenamento deve ter capacidade suficiente para assegurar a estocagem ordenada das diversas categorias de produtos farmacêuticos, correlatos e materiais de embalagem. Deve ser providenciada área separada para a estocagem de produtos farmacêuticos, correlatos, materiais de embalagem e NP reprovados, recolhidos ou devolvidos. Os equipamentos devem ser localizados, projetados, instalados, adaptados e mantidos de forma a estarem adequados às operações a serem realizadas. A estrutura dos equipamentos deve visar à minimização dos erros e permitir que os mesmos sejam efetivamente limpos e assim mantidos para que sejam evitados a contaminação cruzada e o acúmulo de poeiras e sujeira, e qualquer efeito adverso sobre a qualidade da NP. Além disso, os equipamentos devem ser validados e periodicamente verificados e calibrados, conforme procedimentos e especificações escritas e devidamente registradas. AN02FREV001/REV 4.0 119 17.6.2 Barreira de isolamento Foi proposto o desenvolvimento de uma área para preparação de produtos estéreis que mantivesse a esterilidade com um nível assegurado em conformidade com a Technical Assistance Bulletin on Quality Assurance for Pharmacy Prepared Sterile Products (ASHP). Foi verificado que o emprego de sistemas de barreira de isolamento era o método preferencial para o preparo de produtos estéreis. Este sistema deve ser baseado na concentração específica e no tamanho das partículas de ar. O sistema de barreira de isolamento é formado por quatro componentes: a estrutura física, o ambiente interno, a tecnologia de interação e o sistema de monitoramento. Para criar um ambiente asséptico, o farmacêutico deve entender de cada um dos componentes e decidir quais materiais devem ser usados na construção, quantos filtrosusar e onde devem se localizar, como melhor reduzir a contaminação na área e melhores formas de monitorizar a limpeza da sala de ar. A avaliação de cada componente deve ser feita com base na durabilidade, funcionalidade e custo. A tecnologia da barreira de isolamento foi desenvolvida para remover pessoas do ambiente de preparo de produtos intravenosos e eliminar a forma primária de contaminação. A barreira de isolamento é constituída pela sua estrutura física, pelo seu ambiente interno, a tecnologia de interação e sistemas de monitoramento. 17.6.2.1 Estrutura física da barreira de isolamento O sistema de barreira de isolamento possui um revestimento duro e outro macio. O revestimento duro pode ser de plástico, vidro ou aço inoxidável, enquanto o revestimento macio é feito por filme de plástico mole. Quando escolher o material AN02FREV001/REV 4.0 120 para o revestimento, deve-se considerar a durabilidade e integrabilidade do sistema com superfícies laváveis e que possibilitem a visualização das operações internas. 17.6.2.2 Ambiente interno da barreira de isolamento O mais importante neste elemento, é a quantidade de sistemas de fluxo de ar necessária para o ambiente interno quando comparada com a tecnologia do fluxo laminar. Sistemas de barreira de isolamento dão a impressão de maior segurança pela natureza da sua construção. Ainda que não existam requerimentos para filtração do ar exaurido, uma boa prática é usar um filtro de partículas de alta eficiência (HEPA) para filtrar algum ar que saia da barreira de isolamento. Barreiras de isolamento são sistemas fechados que precisam de um nível de proteção entre os ambientes externo e interno. A filtração HEPA é capaz de capturar partículas maiores do que 0,3p.m, mas vapores e pequenas gotículas passam através deste nível de filtração. 17.6.2.3 Tecnológica de interação da barreira de isolamento Permite que os operadores interajam com o processo ou equipamentos contidos no sistema da barreira, utilizando luvas. As luvas devem ser selecionadas de acordo com o material, espessura e habilidades manuais. Half-suits, outra tecnologia de interação, são desenvolvidos para aumentar a capacidade e áreas expandidas dentro da barreira de isolamento. As desvantagens são as dificuldades de limpeza e acesso de entrada e saída. AN02FREV001/REV 4.0 121 17.6.2.4 Sistema de monitoramento da barreira de isolamento São usados para determinar se a unidade está operando dentro dos padrões designados. Uma especificação típica das tecnologias de interação é que a barreira de isolamento deve ter uma pressão positiva capaz de manter uma ordem de pressão de ar equivalente a 0,025 a uma polegada da pressão da água. 17.7 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL As Boas Práticas de Preparação da NP (BPPNP) estabelecem as orientações gerais para aplicação nas operações de preparação (avaliação farmacêutica, manipulação, controle de qualidade, conservação e transporte) das NPs bem como os critérios para aquisição de produtos farmacêuticos, correlatos e materiais de embalagem. É indispensável à efetiva inspeção durante todo o processo de preparação das NPs de modo a garantir ao paciente a qualidade do produto a ser administrado. 17.7.1 Estrutura organizacional Toda farmácia deve ter um organograma que demonstre possuir estrutura organizacional e de pessoal suficientes para garantir que a NP por ela preparada esteja de acordo com os requisitos deste regulamento. O pessoal deve ser qualificado e em quantidade suficiente para o desempenho de todas as tarefas preestabelecidas, para que todas as operações sejam executadas corretamente. AN02FREV001/REV 4.0 122 17.7.2 Recursos humanos e responsabilidade As atribuições e responsabilidades individuais devem estar formalmente descritas e perfeitamente compreendidas pelos envolvidos, que devem possuir preparo técnico suficiente para desempenhá-las. Cada prescrição médica deve ser aviada pelo farmacêutico, onde é avaliada a compatibilidade dos componentes e suas concentrações antes da sua manipulação. O farmacêutico e o responsável pela preparação da NP devem possuir conhecimentos científicos e experiência prática na atividade, para assegurar: A aquisição de produtos farmacêuticos, correlatos e materiais de embalagem com qualidade; A manipulação da NP de acordo com a prescrição médica utilizando procedimentos adequados; A implementação dos procedimentos relativos às operações de preparação, de validação do processo e calibração dos equipamentos; A educação continuada do pessoal técnico, farmacêutico, manutenção e limpeza de tal forma que todos os funcionários conheçam a BPPNP. 17.7.3 Saúde, higiene e conduta A admissão dos funcionários deve ser precedida de exames médicos, sendo obrigatória a realização de avaliações médicas periódicas dos funcionários diretamente envolvidos na manipulação da N1, atendendo à NR 7 /MT – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Não é permitido conversar, fumar, comer, beber, mascar ou manter plantas, alimentos, bebidas, fumo e medicamentos pessoais nas áreas de manipulação. Os procedimentos de higiene pessoal e a utilização de roupas protetoras devem ser AN02FREV001/REV 4.0 123 exigidos a todas as pessoas para entrarem na área de manipulação, sejam elas funcionários, visitantes, administradores ou inspetores. 17.7.4 Vestuário A colocação dos uniformes e calçados, bem como a higiene preparatória para entrada nas áreas limpas deve ser realizada em áreas de vestuário e seguir o procedimento recomendado e documentado para evitar contaminação. Os uniformes e calçados utilizados nas áreas limpas devem cobrir completamente o corpo, serem esterilizados e substituídos a cada sessão de trabalho. 17.7.5 Material Deve haver especificação técnica detalhada e documentada de todos os materiais necessários à preparação da NE, de modo a garantir que a aquisição atenda corretamente aos padrões de qualidade estabelecidos. Os recipientes devem manter a esterilidade, estabilidade e apirogenicidade da NP durante a sua conservação, transporte e administração. Todos os materiais devem ser armazenados sob condições apropriadas, de modo a preservar a identidade e integridade dos mesmos, separação dos lotes e a rotação do estoque. 17.7.6 Seleção do recipiente O sistema preparado deve estar protegido de trocas com o meio externo. São utilizados frascos de vidro, bolsas de poli-(etileno-acetato de vinila) – o EVA – e bolsas de cloreto de polivinila (PVC). Os recipientes para o envase devem ser AN02FREV001/REV 4.0 124 transparentes, sem pigmentos ou corantes, quimicamente inertes, estéreis e apirogênicos. As bolsas têm sido muito úteis no preparo e administração das soluções, devido tanto à flexibilidade na capacidade de acondicionamento, como ao fato de serem inquebráveis. Bolsa de poli-(etileno-acetato de vinila), ou EVA O EVA é um policarboneto quimicamente inerte e esterilizável até 108°C. Está sendo muito utilizado no preparo das soluções por não interagir com os constituintes da formulação, sendo o material plástico mais apropriado como recipiente de NP e recomendado para o uso. Bolsa de cloreto de polivinila (PVC) O PVC é uma substância dura, frágil e inflexível; plastificadores como o dietil- hexilftalato (DEHP) são adicionados para dar flexibilidade. O DEHP é um lipídio solúvel, possivelmente carcinogênico, hepatotóxico e teratogênico para produtos que tenham PVC contendo misturas lipofílicas. Foi feito um estudo para inibir a quantidade de DEHP liberado das bolsas de PVC contendo NP total. Neste estudo, verificou-se que a toxicidade da exposição a DEHP em humanosnão foi bem esclarecida. Entretanto, é recomendado que seja evitada a permanência de soluções de NP em bolsas de PVC por longo período que antecede o momento da administração. AN02FREV001/REV 4.0 125 17.7.7 Técnicas de preparo da nutrição parenteral O preparo das formulações difere de acordo com a conveniência da instituição e deve atender às Boas Práticas de Manipulação de Nutrição Parenteral. 17.7.7.1 Preparo com misturadores automáticos Em hospitais que possuem um grande consumo de NP, são utilizados aparelhos especialmente desenvolvidos com bombas de transferência, destinados ao preparo automatizado das soluções. Este método tem a vantagem de trazer rapidez no preparo e ser flexível, atendendo as prescrições individualizadas de cada paciente. Após o preparo da formulação base, alguns misturadores possibilitam de forma programada a adição dos eletrólitos, oligoelementos e vitaminas. Outros misturadores propiciam que os aditivos sejam colocados individualmente, ou ainda, se estiverem sendo preparadas várias bolsas da mesma fórmula, pode ser preparada uma bolsa que sirva de reservatório de aditivos estáveis quimicamente, que pode ser adaptada a uma das entradas do misturador automático. 17.7.7.2 Preparo utilizando soluções parcialmente prontas Para auxiliar no preparo de soluções de NPs nos hospitais que possuem recursos limitados e consumo pequeno, estão disponíveis comercialmente soluções parcialmente prontas de diferentes tipos, com frascos, bolsas ou compartimentos contendo aminoácidos cristalinos e glicose hipertônica, com ou sem eletrólitos. As soluções são misturadas imediatamente antes da administração, fornecendo AN02FREV001/REV 4.0 126 parcialmente os substratos necessários à alimentação do paciente, os quais podem ser acrescidos à formulação ou administrados em misturas intravenosas. 17.7.7.3 Preparo de lotes Alguns hospitais usam o sistema de preparo de lotes no qual são colocadas soluções de aminoácidos e glicose em um grande tanque de aço inoxidável, esterilizados pela passagem em um filtro esterilizante de 0,22µm. São realizadas culturas da formulação no início, durante e no final do procedimento de preparo. A validade das soluções é determinada em 30 dias para cada lote e a formulação deve ser armazenada no escuro, sob refrigeração a 3°C. 17.7.7.4 Rotulagem e embalagem Toda NP deve apresentar rótulo com as seguintes informações: nome do paciente; número do leito e registro hospitalar; composição qualitativa de todos os componentes; osmolaridade; volume total; velocidade da infusão; via de acesso; data e hora da manipulação; prazo de validade; número sequencial de controle e condições de temperatura para conservação e transporte; nome e registro do farmacêutico no conselho de classe. 17.7.7.5 Conservação e transporte Toda NP deve ser conservada sob refrigeração, em geladeira exclusiva para medicamentos, com temperatura de 2°C a 8°C. O transporte das soluções deve ser feito em recipientes térmicos exclusivos de modo a garantir que a temperatura se mantenha em torno de 2°C a 20°C durante AN02FREV001/REV 4.0 127 o tempo de transporte, que não deve ultrapassar 12 horas, além de protegida de intempérie e da incidência direta da luz solar. 17.7.7.6 Validação O procedimento de manipulação asséptica deve ser validado para garantir a obtenção da formulação estéril e com qualidade. A validação deve seguir procedimento escrito que inclua a avaliação da técnica adotada, por meio de um procedimento simulado. Devem abranger a metodologia empregada, o manipulador, as condições da área e dos equipamentos. A validação do procedimento de manipulação deve ser realizada antes do efetivo início das atividades de uma farmácia. Sempre que houver qualquer alteração nas condições validadas, o procedimento deve ser revalidado. É recomendado que a competência técnica do manipulador seja revalidada, pelo menos uma vez ao ano ou toda vez que houver alteração significativa do processo. As validações e revalidações devem ser documentadas e os documentos arquivados durante cinco anos. 17.7.7.7 Prazo de validade Toda formulação de NP deve apresentar no rótulo um prazo de validade com indicação das condições para a sua conservação. A determinação do prazo de validade pode ser baseada em informações de avaliações da estabilidade fisioquímica dos fármacos e considerações sobre a sua esterilidade ou por meio de realização de testes de estabilidade. AN02FREV001/REV 4.0 128 17.8 ESTABILIDADE E COMPATIBILIDADE DA NUTRIÇÃO PARENTERAL A complexidade da formulação de NP é susceptível a incompatibilidades físico-químicas. Incompatibilidade é o fenômeno físico-químico responsável pela formação de um novo produto inadequado (por aumento de toxicidade ou por precipitação) no momento de preparo ou quando estão sendo infundidas as soluções de NP. O maior risco de incompatibilidade na NP é quando macroprecipitados excedem o tamanho de 5µm a 7µm na mistura e passam para a circulação central. Duas formas de precipitados podem aparecer na mistura: sólido ou líquido. Fatores relacionados à formulação de NP – tais como osmolaridade, concentração e ordem dos aditivos, pH, temperatura, luz, tipo de envase e tempo de estocagem – determinam a estabilidade das mesmas. As incompatibilidades podem ser: físicas, químicas e físico-químicas (Tabela 7). TABELA 7 - INCOMPATIBILIDADES EM NUTRIÇÃO ENTERAL Incompatibilidades da Nutrição Enteral Físicas Precipitação, Alteração da cor, Formação de gás, Formação de espuma, Turbidez Químicas Oxidação, Fotólise, Epimerização, Catálise Físico-químicas Complexação, Floculação, Adsorção, Quebra da emulsão FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 129 17.8.1 Incompatibilidade entre íons cálcio e fosfato A incompatibilidade entre os íons cálcio e fosfato implica basicamente dois riscos: Infusão de cristais de fosfato de cálcio – pode ocasionar óbito de pacientes devido à infusão de dietas parenterais com precipitados, por formação de embolia microvascular pulmonar difusa; Oferta insuficiente de cálcio e fósforo – estes eletrólitos são necessários para um crescimento neonatal normal e, uma boa mineralização óssea. As consequências da insuficiência destes íons são principalmente distúrbios de formação óssea, que podem exacerbar displasias broncopulmonares, bem como causar problemas respiratórios no prematuro sem outras causas identificáveis. A fraqueza muscular decorrente da depleção de fósforo pode ainda causar complicações adicionais. 17.8.2 Magnésio O magnésio é compatível em concentrações de até 12mEq/l. O sulfato é a forma preferida para oferecer o íon sulfato necessário. Quando é usado o sulfato de magnésio, o cálcio não deve ser dado como cloreto, uma vez que o sulfato de cálcio precipita-se rapidamente. O gluconato e o gluco-heptonato de cálcio reagem mais lentamente, requerendo vários dias até que o sulfato de cálcio precipite. AN02FREV001/REV 4.0 130 17.8.3 Sódio, potássio, acetato e cloreto Estes eletrólitos são compatíveis em todas as concentrações e com todos os componentes da NP. Devem ser adicionados intercalados com íons bivalentes ou trivalentes, para evitar a formação de precipitados no equipo de transferência durante o preparo. 17.8.4 Bicarbonato Usar sais de acetato e lactato como precursores de bicarbonato. As incompatibilidades mais comuns são a formação de sais insolúveis com cálcio e magnésio e a formação de precipitados com vitaminas C e do complexoB. 17.8.5 Interações entre nutrientes e medicamentos Pacientes em uso de NP poderão necessitar de vários tipos de fármacos para o tratamento da doença primária e/ou associada aos sintomas, complicações da doença e da terapêutica. Sob o ponto de vista farmacológico, é possível a mistura de fármacos na formulação de NP. Este procedimento apresenta vantagens e desvantagens que devem ser avaliadas. A decisão quanto à administração contínua de medicamentos via NP deve contemplar o modo de ação, nível plasmático e eficácia terapêutica do fármaco. Não se recomenda a adição a NP de fármacos que necessitem de titulação cuidadosa da dosagem baseada na resposta clínica. AN02FREV001/REV 4.0 131 Além da via oral ou a administração do fármaco por uma via intravenosa periférica, existem cinco maneiras de aplicar medicamentos em conjunção com a NP: Coadministração usando ou uma Conexão Y direta na junção do cateter ou por uma via Y sobre a via de infusão como uma aplicação secundária; Mistura direta com a formulação de NP; Administração retrógrada quando são requeridos pequenos volumes de medicamento, corno na pediatria e nos neonatos; Correr a NP cíclica durante 12 a 20 horas diariamente para permitir aplicação do fármaco pelo mesmo lúmen durante o intervalo; Administração por um lúmen separado de cateter multilúmen. Algumas interações: Albumina A albumina é estável em concentrações de até 35,5g/L em formulação de NP. Quando a albumina é adicionada, a formulação não pode mais ser filtrada antes da administração. Foi relatada a possibilidade de crescimento de fungos e bactérias nas formulações de NP que contêm albumina. Insulina Deve ser usada apenas a insulina recombinante humana. A insulina é totalmente compatível com ambos os tipos de soluções de NP e todas as concentrações. Ainda permanecem algumas controvérsias a respeito da disponibilidade da insulina devido a sua possível aderência aos frascos de vidro ou a bolsas de plástico, equipos e filtros. Aminofilina A aminofilina é tida como compatível com as formulações de NP por um período de até 48 horas. Deve-se atentar ao fato de que a formulação de NP não deve conter grandes quantidades de cálcio e fósforo juntamente com concentrações de aminoácidos baixas ou de baixos valores do pH, uma vez que pode resultar em precipitação de fosfato de cálcio. AN02FREV001/REV 4.0 132 Antibióticos Como regra geral, nenhum antibiótico intravenoso deveria ser misturado com qualquer formulação nutriente, mas de preferência ser administrado por meio de cateter intravenoso separado. Além das preocupações sobre estabilidade, a rota não é ideal para muitos antibióticos, para os quais são desejadas as infusões intermitentes como um meio de produzir um pico e manter níveis plasmáticos de modo a aumentar a eficácia bactericida ou diminuir a toxicidade. Fármacos cardiovasculares Embora provavelmente sejam estáveis, a mistura de vários vasopressores não é recomendada, especialmente se são necessárias mudanças de emergência na velocidade de infusão. Quimioterápicos A ciclofosfamida 500mg/L, a citarabina 100mg/L e o metrotexato sódico 50mg/L são visivelmente compatíveis com as formulações de NR 0 5-fluorouracil 4g/L é compatível também com a NP. Corticosteroides A hidrocortisona é compatível e estável em todas as concentrações. O succinato de metilprednisolona sódica a 250mg/L é visivelmente compatível por 24 horas nas soluções padrão de NP. Furosemida A furosemida em quantidades de 40mg/L é visivelmente compatível com a NP. Heparina A heparina é compatível com os dois tipos de formulação nutriente em concentrações de até 20.000U/L, e foi por um tempo adicionada comodamente às soluções para prevenir a formação de capas de fibrina ou a trombose da veia subclávia. Hoje, esta prática não é mais utilizada. A heparina pode ser inativada pela vitamina C, isso deve ser considerado quando outros medicamentos precisam ser AN02FREV001/REV 4.0 133 administrados simultaneamente com as soluções contendo heparina, uma vez que por si própria ela pode produzir incompatibilidade. Antagonistas dos receptores H2 A administração de um antagonista de receptor H2 com as soluções de NP é largamente utilizada. E de baixo custo, uma vez que ficam eliminadas as bolsas intravenosas, equipos e vias venosas periféricas, reduzindo assim o tempo gasto pela farmácia e pela enfermagem. Acido clorídrico O ácido clorídrico esterilizado pode ser adicionado em concentrações de até 200mEq/L. Deve-se tomar cuidado, porém, em manter o pH entre 3 e 6,8. Quando é adicionado o ácido clorídrico, as emulsões de lipídios não devem estar presentes, uma vez que um meio ácido favorece fortemente a quebra da emulsão. Finalmente, as vitaminas devem ser dadas por uma veia periférica, pois o meio ácido as inativa. Ferro A suplementação de ferro geralmente é mais bem administrada por via oral. Quando a absorção é inadequada, contudo, a administração intravenosa de ferro pode ser totalmente efetiva. Quando são necessárias infusões de manutenção sem acesso venoso periférico podem ser adicionadas 100mg de ferro dextran na formulação nutriente sem grandes riscos de reações anafiláticas. Metoclopramida As doses de 5 a 20mg/L são quimicamente estáveis nas formulações de NP. Entorpecentes A morfina, a meperidina, a hidromorfina e o levorfanol têm sido infundidos conjuntamente com a NP em pacientes terminais com limitado acesso venoso, tanto em casa como no hospital. AN02FREV001/REV 4.0 134 17.8.6 Interações entre nutrientes Existem interações nutricionais que podem ocorrer de forma pré-absortivas ou pós-absortivas. Pré-absortivas Podem ser intraluminais por meio de combinações químicas, seja pela formação de ligações iônicas ou covalentes, ou pela formação de quelatos; também pode se dar por meio de competições ou antagonismo, competições por ligações a sítios de absorção ou alostéricos de proteínas ou a ligantes intraluminais. Essas interações podem ocorrer no nível das microvilosidades do enterócito por competição ou antagonismo ou por interações metabólicas, pois, muitas vezes, um nutriente é necessário para a utilização de outro. Pós-absortivas Estas interações podem ocorrer quando do transporte e distribuição para os tecidos onde temos competições por ligações a sítios de absorção ou alostéricos de enzimas com proteínas armazenadoras/transportadoras; interações metabólicas também existem porque um nutriente é necessário para a utilização de outro com excesso de um prejudica o metabolismo do outro. No nível do metabolismo do nutriente, temos tanto interações metabólicas quanto trocas, onde dois nutrientes de função semelhante podem se substituir mutuamente em caso de deficiência. Embora sejam praticamente impossíveis os estudos precisos sobre a solubilidade das soluções de NE devido ao número infinito de combinações, devem ser observadas algumas limitações. AN02FREV001/REV 4.0 135 17.9 GARANTIA E CONTROLE DE QUALIDADE DA NUTRIÇÃO PARENTERAL 17.9.1 Garantia da Qualidade A garantia da qualidade tem como objetivo assegurar que os produtos e serviços estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos. Para atingir os objetivos da Garantia da Qualidade na preparação da NE, a farmácia deve possuir um Sistema de Garantia da Qualidade que incorpore as BPPNPs e um efetivo controle de qualidade totalmente documentado e monitorizado por meio de auditorias da Qualidade. Um sistema de garantia de qualidade apropriado para a preparação de NP deve assegurar que: As operações de preparação da NP sejam claramente especificadas por escrito e que as exigências de BPPNP sejam cumpridas; Os controlesde qualidade necessários para avaliar os produtos farmacêuticos, os correlatos, o processo de preparação (avaliação farmacêutica, manipulação, conservação e transporte) e a NP sejam realizados de acordo com procedimentos escritos e devidamente registrados; Os pontos críticos do processo sejam devida e periodicamente validados, com registros disponíveis, os equipamentos e instrumentos sejam calibrados, com documentação comprobatória; A NP seja corretamente preparada, segundo procedimentos apropriados; A NP só seja fornecida após o farmacêutico responsável ter atestado formalmente que o produto foi manipulado dentro dos padrões especificados pelas BPPNP; A NP seja manipulada, conservada e transportada de forma que a qualidade da mesma seja mantida até o seu uso; Sejam realizadas auditorias da qualidade para avaliar regularmente o Sistema de Garantia da Qualidade e oferecer subsídios para a implementação de ações corretivas, de modo a assegurar um processo de melhoria contínua. AN02FREV001/REV 4.0 136 17.9.2 Controle de Qualidade O Controle de Qualidade deve avaliar todos os aspectos relativos aos produtos farmacêuticos, correlatos, materiais de embalagem, formulação, procedimentos de limpeza, higiene e desinfecção, conservação e transporte da NP, de modo a garantir que suas especificações e critérios preestabelecidos estejam atendidos. Os produtos farmacêuticos e correlatos devem ser inspecionados no recebimento para verificar a integridade física da embalagem e as informações dos rótulos. O certificado da análise de cada produto farmacêutico e correlato emitido pelo fabricante deve ser avaliado para verificar o atendimento as especificações estabelecidas. Antes da desinfecção para a entrada na área de manipulação, os produtos farmacêuticos e correlatos devem ser inspecionados visivelmente para verificar a sua validade, a integridade física, a ausência de partículas e as informações dos rótulos de cada unidade do lote. Os procedimentos de limpeza, higiene e sanitização devem ser desenvolvidos e monitorizados para verificar o cumprimento dos requisitos estabelecidos. A manipulação deve ser avaliada quanto à existência, adequação e cumprimento de procedimentos padronizados e escritos. A NP pronta para uso deve ser submetida aos seguintes controles: Inspeção visual em 100% das amostras, para assegurar a integridade física da embalagem, ausência de partículas, precipitações e separação de fases; Verificação da exatidão das informações do rótulo; Teste de esterilidade em amostra representativa das manipulações realizadas em uma sessão de trabalho, para confirmar a sua condição estéril. As amostras para avaliação microbiológica laboratorial devem ser retiradas, estatisticamente, no início e no fim do processo de manipulação e conservadas sob AN02FREV001/REV 4.0 137 refrigeração (2°C a 8°C) até a realização da análise. As amostras para contraprova (referência) de cada NP preparada, devem ser conservadas sob a refrigeração citada, durante sete dias após o seu prazo de validade. As condições de conservação e transporte das soluções da NP e meio de cultura, devem ser verificadas semanalmente para assegurar a manutenção das características da NP. 18 POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS E RENAME A Política Nacional de Medicamentos (PNM) foi aprovada em 30 de outubro de 1998, pela Portaria do Ministério da Saúde 3.916, com o propósito de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade do medicamento, além da promoção do uso racional e do acesso da população aos medicamentos considerados essenciais. O estabelecimento da relação dos medicamentos essenciais, a reorientação da assistência farmacêutica, o estímulo à produção de medicamentos genéricos e a regulamentação sanitária, são as principais diretrizes da política. O sistema de saúde no Brasil é bastante complexo por englobar tanto os estabelecimentos públicos com suas unidades de atenção básica, bem como uma rede privada de prestação de serviços sofisticada com centros hospitalares de alta complexidade. A importância dos serviços de saúde é indiscutível e esses constituem, ao lado de uma série de outros serviços, fator de extrema relevância para a qualidade de vida da população, representando preocupação de todos os gestores do setor devido à natureza das práticas de assistência neles desenvolvidas, ou ainda pela totalidade dos recursos que são por eles absorvidos. Grande parcela da população se acha, hoje, parcial ou totalmente excluída de algum tipo de atenção do sistema de saúde, além de ter que conviver com as constantes mudanças no perfil epidemiológico com doenças típicas de países em desenvolvimento misturadas a doenças características de países desenvolvidos, além de doenças emergentes ou reemergentes, tais como a cólera, a dengue, a malaria, as doenças sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS. AN02FREV001/REV 4.0 138 Portanto, a adequação do sistema de saúde deve ser constante e acompanhar as novas demandas como, por exemplo, o envelhecimento da população. O modelo de atenção prestada deve, portanto, conferir prioridade ao caráter preventivo das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Há de se considerar, ainda, que modificações qualitativas e quantitativas no consumo de medicamentos são influenciadas pelos indicadores demográficos, os quais demonstram clara tendência de aumento na expectativa de vida ao nascer. Acarretando um maior consumo e gerando um maior custo social, tem-se novamente o processo de envelhecimento populacional interferindo, sobretudo, na demanda de medicamentos destinados ao tratamento das doenças crônico- degenerativas, além de novos procedimentos terapêuticos com utilização de medicamentos de alto custo. Igualmente, adquire especial relevância o aumento da demanda daqueles de uso contínuo, como é o caso dos utilizados no tratamento das doenças cardiovasculares, reumáticas e de diabetes, não sendo incomum pacientes sofrerem de todas essas doenças simultaneamente. A desarticulação da assistência farmacêutica brasileira conduz a um cenário de comprometimento da qualidade de vida do cidadão. A falta de prioridade na prescrição de produtos padronizados, constantes da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), pela denominação comum brasileira (DCB) de medicamentos genéricos, é um dos problemas importantes detectados. O maior problema continua sendo a irregularidade no abastecimento de medicamentos em ambulatórios, diminuindo assim a eficácia das ações governamentais no setor saúde. O uso desnecessário e irracional de medicamentos e o estímulo à automedicação, bastante presente no país por meio de propaganda agressiva e enganosa, são fatores importantes na demanda por medicamentos. A promoção do seu uso racional mediante a reorientação destas práticas é objeto de um processo educativo, tanto para a equipe de saúde quanto para a população. O mercado farmacêutico brasileiro é um dos cinco maiores do mundo, com vendas que atingem 9,6 bilhões de dólares/ano. O setor é constituído por cerca de 480 empresas, entre produtores de medicamentos, indústrias farmoquímicas e importadores. Este perfil deve ser consideravelmente modificado pelo programa de medicamentos genéricos. Há no país cerca de 50 mil farmácias, incluindo as AN02FREV001/REV 4.0 139 hospitalares e as homeopáticas, comercializando e dispensando cerca de 5,2 mil produtos com aproximadamente 9,2 mil apresentações. Outro dado relevante a ser citado é o perfil do consumidor brasileiro que pode ser classificado em três grupos, como observado na Tabela 9. TABELA 8 - PERFIL DO CONSUMIDOR BRASILEIRO DE MEDICAMENTOS Renda Porcentagem da população Consumo de Medicamentos Acima de 10 salários mínimos 15% 48% Entre 4 e 10 salários mínimos 34%36% Entre zero e 4 salários mínimos 51% 16% FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. A análise do perfil do consumidor indica a necessidade de que a PNM confira especial atenção aos aspectos relativos ao uso racional, bem como a segurança, a eficácia e a qualidade dos produtos colocados a disposição da população. 18.1 DIRETRIZES E PRIORIDADES DA PNM 18.1.1 Adoção de uma relação nacional de medicamentos essenciais A adoção de uma relação de medicamentos essenciais faz parte das diretrizes da PNM com o intuito de assegurar o acesso da população a medicamentos seguros, eficazes e de qualidade. Medicamentos essenciais são aqueles produtos considerados básicos e indispensáveis ao atendimento da maioria dos problemas de saúde. Estes produtos devem estar continuamente disponíveis aos segmentos da sociedade que deles necessitem, nas formas farmacêuticas AN02FREV001/REV 4.0 140 apropriadas, e compõem uma relação nacional de referência que servirá de base para o direcionamento da produção farmacêutica e para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. O processo de descentralização da gestão no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) delegou aos estados e municípios a responsabilidade pelo suprimento de suas redes de serviços. Portanto, a existência de uma relação nacional de medicamentos facilitará a organização das listas estaduais e municipais, sendo o meio fundamental para orientar a padronização da prescrição médica e do abastecimento de medicamentos, em especial no âmbito do SUS. Este, portanto, poderá ser um mecanismo para a redução dos custos dos produtos. A consolidação do processo de revisão permanente da RENAME representa medida indispensável, já que a seleção deverá ser baseada nas prioridades nacionais de saúde, bem como na segurança, na eficácia terapêutica comprovada, na qualidade e na disponibilidade dos produtos. A RENAME deve ser organizada de acordo com as patologias e agravos da saúde mais relevantes e prevalentes, respeitadas as diferenças regionais do país. As apresentações dos produtos deverão assegurar as formas farmacêuticas e as dosagens adequadas para a utilização por crianças e idosos. Durante o processo de atualização da RENAME, deverá ser dada ênfase ao conjunto e medicamentos voltados para a assistência ambulatorial, ajustado, em nível local, às doenças mais comuns à população, definidas segundo prévio critério epidemiológico. Por esse motivo, estudos epidemiológicos devem ser realizados periodicamente assim como a atualização da RENAME. AN02FREV001/REV 4.0 141 18.1.2 Regulamentação sanitária de medicamentos O processo de registro de medicamentos e a autorização para funcionamento de empresas e/ou estabelecimentos produtores de medicamentos devem ser objeto de rígido controle por parte do órgão responsável pela vigilância sanitária. Os produtos inadequados ao uso, na conformidade das informações decorrentes da farmacovigilância, devem ter restrições na comercialização ou ser eliminados, conforme o caso. Deve ser dispensada atenção especial à promoção do uso de medicamentos genéricos, identificando os mecanismos necessários e adequando os instrumentos legais específicos tais como: A obrigatoriedade da adoção da Denominação Comum Brasileira (DCB) ou Internacional (DCI) nos editais, propostas, contratos, notas fiscais etc.; A obrigatoriedade da adoção da DCB ou DCI nas compras e licitações públicas dos medicamentos; A exigência da prescrição médica ou odontológica fazendo uso do nome genérico do medicamento, conforme previsto na legislação vigente; A apresentação da denominação genérica nas embalagens, rótulos, cartuchos, bulas, prospectos e demais materiais de divulgação. 18.1.3 Reorientação da assistência farmacêutica O modelo de assistência farmacêutica atual que se restringe a simples aquisição e distribuição de medicamentos tende a ser modificado. As ações incluídas nesse campo da assistência terão por objetivo implementar, no âmbito das três esferas do SUS, todas as atividades relacionadas à promoção do acesso da população aos medicamentos essenciais. A reorientação do modelo de assistência farmacêutica, coordenada e disciplinada em âmbito nacional pelos três gestores do AN02FREV001/REV 4.0 142 sistema, deverá estar fundamentada na descentralização da gestão, na promoção do uso racional dos medicamentos, no desenvolvimento de iniciativas que possibilitem a redução nos preços dos produtos, viabilizando, inclusive, o acesso da população aos produtos no âmbito do setor privado. A assistência farmacêutica no SUS deve englobar as atividades de seleção, programação, aquisição, armazenamento e distribuição, controle da qualidade e utilização (prescrição e dispensação) favorecendo a permanente disponibilidade dos produtos segundo as necessidades da população, identificadas com base em critérios epidemiológicos. No tocante aos agravos e doenças cuja transcendência, magnitude e vulnerabilidade tenham repercussão na saúde pública, buscar-se-á a contínua atualização e padronização de protocolos de intervenção terapêutica e dos respectivos esquemas de tratamento. 18.1.4 Promoção do uso racional de medicamentos A promoção do uso racional de medicamentos passa por um importante processo de educação dos usuários ou consumidores acerca dos riscos da automedicação, da interrupção e da troca da medicação prescrita, bem como da necessidade da receita médica, para a dispensação, quando for o caso. O profissional prescritor e o profissional responsável pela dispensação devem, também, ser objetos desse processo educativo – o que deve ocorrer em suas formações universitárias, quando é o momento de seu contato inicial com os medicamentos. A elaboração de um Formulário Terapêutico Nacional (FTN) poderia servir como instrumento de orientação da prescrição e dispensação dos medicamentos, racionalizando o seu uso. No formulário devem estar contempladas todas as informações relativas aos medicamentos, inclusive os dados de absorção e ação no organismo. Estudos de farmacovigilância, além de tratar dos efeitos adversos, devem ser utilizados, também, para assegurar o uso racional dos medicamentos, reorientando procedimentos relativos ao registro, forma de comercialização, prescrição e AN02FREV001/REV 4.0 143 dispensação de produtos. Assim como estudos de farmacoepidemiologia devem ser incentivados como forma de contribuição para o uso racional de medicamentos. A adoção do programa de medicamentos genéricos, por meio da produção, prescrição e comercialização, poderá ser fator decisivo na promoção do uso racional de medicamentos e deverá trazer segurança ao prescritor, ao usuário e ao responsável pela dispensação, cuja presença deve ser considerada imprescindível nos estabelecimentos comercial ou hospitalar. A propaganda de produtos farmacêuticos, tanto a direcionada à classe médica quanto a voltada para o público leigo, deve ser enquadrada em todos os preceitos legais vigentes e nas diretrizes éticas emanadas do Conselho Nacional de Saúde. 18.1.5 Desenvolvimento científico e tecnológico Pesquisas na área de tecnologia e formulações farmacêuticas, principalmente aquelas consideradas estratégicas para a capacitação e o desenvolvimento tecnológico nacional, devem ser objeto de maiores incentivos do Estado, e o governo deve buscar a integração entre as universidades, as instituições de pesquisa e as empresas do setor produtivo. O potencial terapêutico da flora e da fauna nacionais não pode ser negligenciado, bem como o apoio à pesquisa que vise o seu aproveitamento enfatizando-se a certificação de suas propriedades medicamentosas. O apoio ao desenvolvimento da tecnologiade produção de medicamentos, em especial os constantes da RENAME, bem como o estímulo à produção nacional virá, certamente, assegurar o fornecimento regular ao mercado interno, consolidando assim o parque industrial farmacêutico instalado no país. A Farmacopeia Brasileira constitui mecanismo de fundamental importância para as ações legais de vigilância sanitária e das relações de comércio exterior, tanto de importação quanto de exportação, e, neste sentido, deve ser objeto de revisão permanente com a inclusão de métodos gerais analíticos para produtos elaborados e de monografias validadas que possam atender a laboratórios produtores de medicamentos, de grande, médio e pequeno portes. Deve apresentar métodos alternativos de avaliação da qualidade dos produtos farmacêuticos que atendam a AN02FREV001/REV 4.0 144 demanda nacional dentro de uma lógica instalada do parque industrial nacional em desenvolvimento com o parque mais avançado da indústria transnacional. 18.1.6 Promoção da produção de medicamentos A oferta de medicamentos depende de aspectos relacionados à estrutura e ao perfil industrial no Brasil, composto de três segmentos produtivos: o nacional público, o nacional privado e as empresas de capital transnacional no setor. Os laboratórios farmacêuticos oficiais têm de ser mais bem utilizados, preferencialmente para o atendimento às necessidades de medicamentos essenciais destinados a atenção básica. Deve suprir, por outro lado, as demandas oriundas das esferas estadual e municipal do SUS. O papel desempenhado por este setor, além do abastecimento, em domicílio tecnológico de processos de produção de medicamentos de interesse nacional em saúde pública. Há algum tempo, o segmento nacional público vem atuando como balizador de preços no mercado com grandes benefícios para a saúde pública. Os laboratórios de pesquisa universitária também devem passar por este processo, pois o país enfrenta problemas com medicamentos órfãos, necessários aos hospitais públicos e nos universitários, e não disponíveis no mercado. Devem-se buscar ações governamentais que visem utilizar essa importante capacidade ociosa, pois, além do abastecimento regular, não se pode perder de vista a universidade como celeiro formador de mão de obra extremamente qualificada. Os laboratórios oficiais, por outro lado, devem buscar a modernização de seu parque industrial e de seus sistemas de produção para alcançar os níveis de eficiência e competitividade, em especial no que concerne aos preços dos medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 145 18.1.7 Garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos A eficácia, a qualidade e a segurança de um medicamento são de responsabilidade de quem o fabrica, cabendo aos gestores fiscalizar o cumprimento da regulamentação sanitária por meio de inspeções e fiscalizações regulares e sistemáticas. A implementação dos guias de boas práticas de fabricação e de laboratório levará, certamente, à padronização de processos produtivos e analíticos validados, garantindo a reprodutibilidade nos resultados e a facilidade no rastreamento de problemas quando uma falha é detectada. Papel preponderante nesta atividade deve ser desenvolvido pela Gerência Geral de Laboratórios de Saúde Pública da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a quem está afeto o credenciamento dos laboratórios da rede pública e privada para a execução de análises de qualidade tanto de orientação como de fiscalização. Os laboratórios analítico-certificadores devem se unir aos laboratórios estaduais de fiscalização (LACEMs) em benefício da garantia da qualidade dos medicamentos disponibilizados à população brasileira, estabelecendo, cumprindo e fazendo cumprir as medidas que atendam à estratégia da descentralização e ao financiamento das ações sanitárias. É fundamental a necessidade de o país produzir as substâncias químicas que servirão como padrão de qualidade das matérias- primas utilizadas na fabricação dos diversos medicamentos e, principalmente, para as matérias-primas importadas. AN02FREV001/REV 4.0 146 18.1.8 Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos O desenvolvimento e a capacitação do pessoal envolvido nos diferentes planos, programas e atividades que operacionalizarão a PNM deverão configurar mecanismos privilegiados de articulação intersetorial, de modo que o setor de saúde possa dispor de recursos humanos em quantidade e qualidade no desempenho da tarefa. A Lei 8.080/1990, em seu artigo 14, já prevê uma ação intersetorial articulada para a formação do quadro e a educação continuada como maneira única de constante atualização do quadro de recursos humanos. As universidades, por sua vez, devem estar atentas às demandas emanadas do setor de vigilância sanitária, devendo buscar meios para supri-las, quer por meio de cursos de extensão, de aperfeiçoamento ou atualização, até atingir níveis superiores de mestrado e doutorado, dando ênfase para ações cognitivas de cunho profissional e científico. 18.1.9 Responsabilidades das esferas de governo A PNM, para ser implementada, ultrapassa os limites do setor saúde e prevê ação articulada dos ministérios da Saúde, Justiça, Educação, Ciência e Tecnologia, Planejamento, entre outros, bem como a permanente cooperação técnica com organismos e agências internacionais. No documento emanado do Ministério da Saúde em abril de 1999, sobre a PNM, as estratégias da articulação intersetorial aparecem e são assim definidas: Ministério da Justiça – terá por finalidade efetivar medidas no sentido de coibir eventuais abusos econômicos na área de medicamentos, com base nas leis Antitruste, da Livre Concorrência e de Defesa do Consumidor; Ministérios da área econômica – estarão votados para o acompanhamento das variações dos índices de custo dos medicamentos AN02FREV001/REV 4.0 147 essenciais, com ênfase naqueles considerados de uso contínuo, no sentido de preservar a capacidade de aquisição dos produtos, por parte da população, de forma direta ou indireta (subsídio governamental, seguro saúde); deverá, além disso, buscar o encaminhamento das questões relativas ao financiamento das ações inseridas na operacionalização desta política e que incluam, nos termos da Lei, as respectivas participações dos governos estaduais e municipais; Ministérios da Educação e do Desporto – visarão o desenvolvimento de ações junto aos professores, pais e alunos, relativas ao uso correto dos medicamentos, bem como a reorientação dos currículos de formação dos profissionais de saúde; Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Ciência e Tecnologia e agências internacionais – com essas instituições, se buscará o estabelecimento de mecanismos e compromissos que viabilizem o fomento à cooperação técnica, científica e tecnológica. Além das articulações com os setores mencionados, o documento descreve, ainda, as funções dos gestores federal, estadual e municipal, com as respectivas limitações de ações e de responsabilidades. Lembrar-se do relacionamento que o governo deve manter com as entidades de classe do setor de saúde, se faz mister, por ser canal dos mais importantes para se atingir rapidamente e com segurança os principais parceiros para garantir a aceitação e o pleno sucesso da política. 18.2 MEDICAMENTOS GENÉRICOS O genérico de um fármaco é o nome pelo qual o mesmo deve ser conhecido e referenciado nos compêndios farmacêuticos oficiais, sendo prevista por decreto presidencial (o 74.170), desde 1974, a obrigatoriedade da utilização da denominação genérica nos editais, propostas licitatórias, contratos e notas fiscais de compras e licitações públicas de medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 148 Em 1977, novo decreto presidencial(79.094) definia, em seu artigo 3º, que “a denominação genérica era a Denominação Comum Brasileira (DCB) adotada pelo Ministério da Saúde para uma substância ativa ou fármaco, ou, em sua ausência, a Denominação Comum Internacional (DCI), recomendada pela Organização Mundial de Saúde”. Nesse mesmo decreto, constava a obrigação de todos os medicamentos comercializados no país serem identificados, além do nome e/ou marca, pela denominação genérica. O Decreto 793, de abril de 1993, alterou os decretos anteriormente citados e deu importante passo em direção à política de medicamentos genéricos no país, sendo que, em fevereiro de 1999, foi sancionada a Lei 9.787 alterando a Lei 6.360, de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos, entre outras providências. A revogação do Decreto 793 se deu em setembro de 1999, por meio do Decreto 3.181, regulamentando a Lei 9.787, a qual rege a atual política de medicamentos genéricos. Um medicamento genérico é um produto que contém uma substância ativa ou fármaco já comercializado, na mesma concentração ou dose, destinada às mesmas indicações de outro medicamento registrado e comercializado por outro fabricante, sem, no entanto, ter identidade de marca. Os medicamentos genéricos surgem após o vencimento do período de proteção de patente concedida ao medicamento inovador, sendo comercializados pelos seus nomes comuns ou genéricos. Como os fabricantes de medicamentos genéricos não necessitam realizar investimentos em pesquisa e se utilizam do desenvolvimento do mercado e da divulgação médica, realizados pelo laboratório inovador, devem ter preços comumente inferiores aos seus similares de marca. Preocupada com a qualidade do medicamento dispensado no país, a Agenda Nacional de Vigilância Sanitária vem investindo no programa, estabelecendo critérios que visam assegurar a mesma qualidade que o original com vistas a assegurar a eficácia e a segurança nos tratamentos médicos. A Resolução 391 traz o Regulamento Técnico para Medicamentos Genéricos e abrange as provas de equivalência farmacêutica e bioequivalência, a aferição da equivalência terapêutica, o registro, a intercambialidade e a dispensação AN02FREV001/REV 4.0 149 do medicamento genérico, sendo um instrumento de orientação e acompanhamento da política, podendo ser modificada sempre que alguma alteração surja como necessária para melhor adaptação à realidade nacional. A equivalência terapêutica entre dois produtos farmacêuticos que contenham o mesmo fármaco, na mesma forma farmacêutica e concentração depende da velocidade e do grau com que o ingrediente ativo é absorvido a partir do produto administrado e colocado em disponibilidade no local de ação do fármaco, isto é, depende da biodisponibilidade de cada formulação. Dois produtos serão bioequivalentes se apresentarem para a segurança de que a forma farmacêutica a ser administrada ao paciente tenha um comportamento cinético esperado, para que o medicamento possa ter biodisponibilidades comparáveis. O processo farmacotécnico é um dos principais fatores, liberando o fármaco conforme esperado e, dessa maneira, o mesmo ser intercambiável com o medicamento referência. Um produto de má qualidade pode apresentar redução na eficácia, apresentando insuficiência terapêutica, aumento indesejado da eficácia ou reação adversa, levando, nesses últimos casos, a toxicidade. Dependendo do medicamento e da doença em tratamento, as consequências clínicas podem ser extremas. Segundo classificação do FDA, produtos com equivalência terapêutica devem obedecer a critérios específicos, tais como: eficácia e segurança comprovadas; contenham os mesmos teores de substância ativa na mesma forma de dosagem; demonstrem pureza e identidade; sejam bioequivalentes; apresentem rotulagem adequada com informações aprovadas. Medicamentos somente serão seguramente equivalentes terapêuticos, se os fabricantes seguirem as boas práticas de fabricação, isentos de não conformidades durante o processo produtivo e com um rigoroso controle de qualidade da matéria-prima utilizada na fabricação do medicamento. A política de medicamentos genéricos só se instalará no Brasil se houver confiabilidade do prescritor médico ou dentista, do farmacêutico que o dispensa e, principalmente, do cidadão que faz uso do medicamento. Para tal, se faz necessária uma política mais firme de vigilância sanitária, a qual abrange desde a inspeção nas indústrias de medicamentos (genéricos ou não) e, no caso presente, maior acompanhamento da qualidade dos medicamentos genéricos que começam a ser colocados nas prateleiras. Visto que não será lógico refazer os estudos de AN02FREV001/REV 4.0 150 bioequivalência, as vigilâncias sanitárias estaduais poderão acompanhar de perto a qualidade dos medicamentos genéricos por meio de estudos de equivalência farmacêutica, comparando os resultados obtidos nos lotes de medicamentos genéricos com as especificações farmacopeicas. Para que os verdadeiros genéricos possam existir no mercado brasileiro, é preciso que, em primeiro lugar, deixem de ser simples similares e se transformem em verdadeiros equivalentes terapêuticos, fabricados segundo as boas normas de produção, que apresentem bioequivalência ao medicamento de referência e que exerçam mínimos procedimentos de farmacovigilância. Sendo consolidada a política do medicamento genérico bioequivalente e, portanto, intercambiável, o governo deverá dirigir ações visando exigir o estudo de biodisponibilidade dos medicamentos que pretendam continuar no mercado como similar, pois faz parte da PNM a qualidade total dos produtos farmacêuticos. Deve ser dada atenção especial aos genéricos importados, os quais poderão chegar ao consumidor com preços bem melhores, mas sem, contudo, perder de vista a sua qualidade, sendo que os estudos devem ser realizados no Brasil tendo a referência nacional como fator de comparação. Respeitados os direitos da propriedade intelectual, é perfeitamente legítima e defensável a competição dos genéricos no mercado farmacêutico. Com as dimensões do mercado brasileiro e a importância do Brasil no cenário industrial mundial, esta política é fator primordial para o desenvolvimento econômico, técnico e científico do país, e deve, portanto, ser prioridade governamental, bem como dos profissionais da área da saúde. AN02FREV001/REV 4.0 151 19 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA: ATENÇÃO FARMACÊUTICA E FARMÁCIA CLÍNICA Ocorreram alterações profundas na prática da farmácia hospitalar nas últimas décadas devido a alguns fatores, como: Evolução das técnicas diagnósticas e do arsenal terapêutico disponível para tratamento das enfermidades; Novos sistemas de distribuição e dispensação de medicamentos; Introdução da farmacocinética clínica como instrumento para otimização da farmacoterapia dos pacientes; Insatisfação dos profissionais farmacêuticos em relação às atividades tradicionalmente desenvolvidas para dispensação de medicamentos; Questionamentos sobre o papel do farmacêutico como profissional da equipe de saúde e sua responsabilidade em relação ao piso racional dos medicamentos e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes; Necessidade de racionalização de gastos em saúde devido às características particulares de sistemas de saúde em diversos países e ao envelhecimento da população mundial. Tais fatores, entre outros, foram determinantes para a criação de serviços de excelência na área de farmácia hospitalar, e pelo surgimento de novos conceitos, tais como a farmácia clínica e a atenção farmacêutica. No Brasil – pela sua dimensão continental, estado atual do sistema de saúde e características curriculares regionais –, constatam-sesituações extremas, ou seja, serviços estruturados e especializados, aprimorando-se para realizar a atenção farmacêutica em seu sentido pleno, e hospitais que dispõem de um único farmacêutico que realiza, geralmente, atividades burocráticas e administrativas. AN02FREV001/REV 4.0 152 19.1 A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA HOSPITALAR E O SURGIMENTO DA FARMÁCIA CLÍNICA No final da década de 1950, por iniciativa da Food and Drug Administration (FDA/USA) e da American Medical Association (AMA), iniciou-se a conscientização dos farmacêuticos no sentido de controlar as reações adversas aos medicamentos. Verificou-se, então, que essa tarefa dependia do conhecimento de toda a medicação administrada aos pacientes, durante o período de internação, e que o sistema de dispensação de medicamentos empregado na época também colaborava para erros na administração dos mesmos. Surgiam, portanto, dois conceitos fundamentais para o início da prática da farmácia clínica, ou seja, a elaboração do perfil farmacoterapêutico (registro sistemático de toda medicação administrada aos pacientes) e a criação do sistema de dispensação de medicamentos por doses unitárias. A filosofia da farmácia clínica, surgida no início dos anos de 1960, nos Estados Unidos, caracterizou-a com a atividade farmacêutica desenvolvida em função do paciente, visando à maior eficácia do tratamento medicamentoso. Para tanto, o farmacêutico era obrigado a “deixar” a farmácia e estar ao lado do paciente. Desse modo, os farmacêuticos hospitalares, de acordo com as características de suas instituições, o apoio e o incentivo recebidos e as possibilidades e exigências de aprimoramento, foram, gradativamente, ampliando e aperfeiçoando suas atividades, direcionando-se cada vez mais ao pleno exercício da farmácia clínica. Conforme Whitney Harvey, diretor e editor da Revista Drug Intelligence and Clinical Pharmacy: Sociólogos americanos determinaram que a farmácia não é uma profissão completa por causa de sua maneira de ser semelhante a Janus (deus romano que apresenta duas faces), com uma face comercial e outra profissional. Enquanto a face comercial dominar a farmácia, essa permanecerá uma profissão incompleta. A farmácia clínica apresenta-se como uma oportunidade aos farmacêuticos de se tornarem completamente profissionais. Será ela que a tornará verdadeiramente uma profissão. (HARVEY A. K. WHITNEY, 1986). AN02FREV001/REV 4.0 153 19.2 FARMÁCIA CLÍNICA: DEFINIÇÃO, OBJETIVOS E METODOLOGIA O conceito de farmácia clínica tem evoluído, desde a década de 1960, até incluir todas as atividades dirigidas à utilização racional dos medicamentos, tanto pelos pacientes quanto pelos profissionais da equipe de saúde. Segundo o Comitê de Farmácia Clínica da Associação de Farmacêuticos Hospitalares dos EUA, a farmácia clínica pode ser definida como: Ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimentos e funções relacionadas ao cuidado dos pacientes, que o uso dos medicamentos seja seguro e apropriado; necessita, portanto, de educação especializada e interpretação de dados, da motivação pelo paciente e de interações multiprofissionais.(COMITÊ AMERICANO DE FARMÁCIA CLÍNICA DA ASSOCIAÇÃO DE FARMACÊUTICOS HOSPITALARES) 19.2.1 Objetivos da Farmácia Clínica Os principais objetivos da farmácia clínica podem ser resumidos nos seguintes itens: Fornecer informações sobre medicamentos a outros profissionais da equipe de saúde colaborando para a definição das metas terapêuticas e a seleção do tratamento farmacológico mais adequado, dependendo do estado clínico do paciente; A prescrição de medicamentos eficazes e seguros; a administração dos medicamentos pela via mais apropriada e avaliação dos efeitos do tratamento com base em Índices de eficácia. Nesse aspecto, a implementação de Centros de lnformação de Medicamentos (CIMs) torna-se fundamental. Elaboração do perfil farmacoterapêutico para pacientes internados ou ambulatoriais, visando avaliar a adequação do tratamento prescrito, AN02FREV001/REV 4.0 154 detectar interações medicamentosas e verificar a adesão do paciente ao esquema terapêutico; Monetarização do tratamento farmacológico verificando a eficácia, a presença de reações adversas e realizando, muitas vezes, as dosagens plasmáticas de fármacos para o ajuste da posologia em laboratórios de farmacocinética clínica; Elaboração de programas de educação sanitária a pacientes internados e ambulatoriais, colaborando para a redução do número de reinternações, principalmente no caso de pacientes crônicos; Participação em Comissões de Farmácia e Terapêutica e de Controle de Infecção Hospitalar, visando dar suporte técnico à definição de políticas de uso de medicamentos; Participação em estudos de utilização de medicamentos tendo como base as Doses Diárias Definidas (DDD) e em ensaios clínicos (projetos de pesquisa); lmplementação e manutenção de unidades adequadas a preparação de nutrição parenteral, de misturas intravenosas em doses unitárias e de manipulação de citostáticos; Geralmente, considera-se que o farmacêutico clínico é o profissional que dedica a maior parte de sua jornada de trabalho às atividades clínicas. Reconhece-se, entretanto, que muitos farmacêuticos desenvolvem atividades administrativas, de distribuição e dispensação de medicamentos e de farmacotécnica, esperando-se, todavia, que, no futuro, essas categorias se fundam de modo a definir o perfil do farmacêutico requerido e o reconhecido pela equipe de saúde e pela comunidade. AN02FREV001/REV 4.0 155 19.2.2 Metodologia da Farmácia Clínica A consecução dos objetivos da Farmácia Clínica depende, basicamente, da decisão interna, de um serviço de farmácia hospitalar, iniciar essa prática, do apoio da instituição e da habilidade para obter a aceitação dessa nova postura profissional. Consideram-se, de modo geral, como pilares de sustentação da Farmácia Clínica, as seguintes atividades: Organização do serviço de farmácia com funções e atividades definidas, reavaliação das rotinas de trabalho, eliminação da sobrecarga administrativa, desburocratização, informatização. Controle adequado de estoques de medicamentos e produtos afins, elaboração de manual de procedimentos, programa de garantia de qualidade e planejamento estratégico; Desenvolvimento de recursos humanos, promovendo adequada seleção de pessoal, avaliação de desempenho, programa de educação continuada, motivação e rodízio de atividades, quando necessário; Adoção do sistema de distribuição de medicamentos mais adequado de modo a viabilizar a elaboração do perfil farmacoterapêutico e a farmacovigilância; Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) atuante e comprometida com o uso racional de medicamentos, que prevê o emprego de medicamentos de qualidade assegurada, na menor dose possível. De modo a maximizar a eficácia clínica e minimizar os efeitos indesejados. A CFT também deve participar da elaboração do guia farmacoterapêutico da instituição, estimulando o uso de medicamentos genéricos; Implementação de um CIM nos Serviços de Farmácia Hospitalar. A Sociedade Europeia de Farmácia Clínica publicou, em 1983, o The Clinical Pharmacist: Education Document, que estabeleceu as diretrizes de um programa educacional para a formação de farmacêuticos clínicos. Dois anos mais tarde, tendo como base o referido programa, publicou-se na Inglaterra o Training Manual for Clinical Pharmacists, que foi adaptado e traduzido para o espanhol, publicado sob o AN02FREV001/REV 4.0 156 título de Manual de Formación porn Farmacéuticos Clinicos. Este manual para treinamento orientado divide-se em três partes: atitudes, enfatizando as relações entre o paciente e os profissionaisda equipe da saúde; conhecimentos, ressaltando o planejamento, a documentação, a interpretação e a monetarização do tratamento farmacológico; e a prática profissional, calcada na conduta, na comunicação, nas normas e procedimentos e na promoção do uso racional de medicamentos. No início da década de 1990, a Sociedade Americana de Farmacêuticos Hospitalares publicou também um manual que, traduzido para o espanhol, intitula-se Técnicas Básicas para el Ejerciclo de la Farmacia ClInica, com conteúdo atualizado e abrangente, que incluiu a participação do farmacêutico na equipe de reanimação cardiopulmonar. Em 1995, a já citada sociedade americana publicou as diretrizes da ASPH, Guidelines: Minimum Standard for Pharmacies in Hospitals, estabelecendo os seguintes padrões: Liderança e gerenciamento – indicando que o diretor do serviço de farmácia deve ter capacitação na prática da farmácia hospitalar e ter completado o programa de residência em farmácia em instituição acreditada pela American Society of Health-System Pharmacists (ASPH). Além disso, um grau avançado em gerenciamento também é desejável (M. S.; M. B. A. ou M. H. A., por exemplo). O estabelecimento da missão do serviço de farmácia, bem como os aspectos organizacionais de treinamento e de garantia de qualidade, entre outros, também são citados; Informação sobre medicamentos e atividades educativas (para pacientes e para a equipe de saúde); Otimização da terapia medicamentosa – com registros adequados e fornecimento de consultas orais e/ou escritas para os membros da equipe de saúde, relacionados à seleção de farmacoterapia e seu manejo em situações especiais. Nesse nível, já há a citação da documentação da atenção farmacêutica (pharmaceutical care) e seus resultados; Normas para distribuição, dispensação e controle – ressaltando que o serviço de farmácia deve responsabilizar-se pelo fluxo e controle de medicamentos, produtos com fins diagnósticos e correlatos; AN02FREV001/REV 4.0 157 Instalações, equipamentos e demais recursos – que devem garantir o bom desempenho operacional da equipe, considerando aspectos ergonômicos de segurança e a informatização; Pesquisa – ressaltando que o farmacêutico deve participar ativamente do estabelecimento das normas e políticas de investigação da instituição. No Brasil, também em 1995, foi criada a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH), que, em 1997, tendo como base a publicação da ASPH anteriormente citada, publicou os Padrões Mínimos para a Farmácia Hospitalar, importante guia para o desenvolvimento da assistência farmacêutica nos hospitais brasileiros. Inúmeros trabalhos discutem a importância da atividade de atenção farmacêutica na prática da farmácia clínica, atividade esta que faz parte da assistência farmacêutica. Assistência farmacêutica e atenção farmacêutica são muitas vezes empregadas como sinônimos no Brasil erroneamente, pois assistência farmacêutica é um processo que visa à proteção ou à recuperação da saúde, em nível individual ou coletivo, englobando procedimentos relativos à produção, seleção, preparação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação de medicamentos, dela participando profissionais de diferentes áreas. Já atenção farmacêutica é a prática que diz respeito à relação farmacêutico/paciente, do mesmo modo que a atenção médica não se confunde com assistência médica, mais ampla e abrangente. Desse modo, verifica-se que a atenção farmacêutica está compreendida na assistência farmacêutica. 19.3 ATENÇÃO FARMACÊUTICA: CONCEITO, FILOSOFIA E PRINCÍPIOS A expressão atenção farmacêutica foi empregada pela primeira vez em 1984, porém, apenas em 1990, foi devidamente definida como “o fornecimento responsável de medicamentos com o objetivo de atingir o resultado desejado, que levará a uma melhora na qualidade de vida do paciente” (ASHP, 1990). Esta filosofia corresponde a uma troca mutuamente benéfica, na qual o paciente confere autoridade ao farmacêutico e este, por sua vez, oferece ao AN02FREV001/REV 4.0 158 paciente conhecimento e comprometimento com a melhora da sua qualidade de vida. A atenção farmacêutica é elemento essencial aos serviços de saúde e deve estar integrada com as outras partes do sistema e demais profissionais. Segundo a ASHP, os seguintes princípios regem a atenção farmacêutica: Medicamentos – a atenção farmacêutica não envolve apenas o fornecimento correto do medicamento, mas também a participação do profissional nas decisões sobre o tratamento medicamentoso (o medicamento mais indicado, forma farmacêutica, dosagem, via de administração etc.); Cuidado (atenção) – é a preocupação com o bem-estar alheio, no caso, do paciente. Todos os profissionais envolvidos no cuidado do paciente cooperam entre si visando ao benefício do mesmo, cabendo ao farmacêutico garantir bons resultados com o uso de medicamentos; Resultados – na busca da cura, redução dos sintomas, detenção do progresso da doença ou sua prevenção, o farmacêutico deve atuar de três formas: identificando problemas relacionados com medicamentos nas suas diversas manifestações; solucionando-os; prevenindo-os. Qualidade de vida – deve ser medida por meio de ferramentas especiais, com a ajuda do paciente; Responsabilidade – o tratamento do paciente deve ter o comprometimento do farmacêutico, que deve documentar todas as suas ações em relação à obtenção de resultados e a melhora da qualidade de vida do paciente. O profissional farmacêutico deve avaliar as informações obtidas do paciente e/ou seus familiares e, juntamente com os outros profissionais envolvidos, traçar o plano terapêutico específico para cada caso. O paciente também deve ser consultado para a elaboração do plano e, como parte essencial para a obtenção de bons resultados, deve ser devidamente esclarecido sobre seus aspectos principais. FIM DO MÓDULO III AN02FREV001/REV 4.0 160 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 161 CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 162 MÓDULO IV 20 FARMACOECONOMIA Até o início do século XX, a disponibilidade de medicamentos era limitada a pouco mais de duas centenas, o acesso aos medicamentos era restrito a poucas pessoas por motivos geográficos e socioeconômicos e havia uma quantidade relativamente pequena de informações conhecidas sobre cada um deles. Já, a partir da década de 1940, verificou-se grande descoberta de novos fármacos e de informações relevantes sobre o uso, aumentando rapidamente a complexidade do exercício da terapêutica medicamentosa. Além disso, mudanças na estrutura das sociedades e a cultura de massas forçaram importantes alterações no papel de governos e de instituições privadas quanto ao provimento de artigos e serviços de saúde. Na medida em que a cultura se desenvolveu, as exigências sociais se ampliaram tanto no aspecto da demanda quali-quatitativa por medicamentos e serviços adequados quanto pelas exigências de eficácia e segurança de produtos farmacêuticos. No final da década de 1960, alguns países como a Suécia, a Islândia, a Finlândia e a Noruega, pressionados pela existência de um grande númerode produtos farmacêuticos de eficácia duvidosa e custo elevado, iniciaram movimentos no sentido de racionalizar a terapêutica farmacológica, reduzindo a oferta abundante de medicamentos para aqueles que eram realmente indispensáveis, usando critérios de análise comparativa entre custos e avaliação de qualidade de produtos. Para ser aceito, um produto farmacêutico precisava demonstrar que poderia ser mais eficaz e menos dispendioso. No entanto, a experiência acumulada por meio do tempo mostrou que critérios para a avaliação do binômio custo-qualidade tinham de ser muito mais abrangentes do que a simples comparação de preço com eficácia, sob o risco de estar perdendo uma visão ética e humanística da prática clínica. Os estudos de farmacoeconomia surgiram em 1978, porém, este termo “farmacoeconomia” foi utilizado pela primeira vez apenas em 1986. A farmacoeconomia pode ser definida como a descrição, a análise e a comparação AN02FREV001/REV 4.0 163 dos custos e das consequências das terapias medicamentosas para os pacientes, os sistemas de saúde e a sociedade, com o objetivo de identificar produtos e serviços farmacêuticos cujas características possam conciliar as necessidades terapêuticas com as possibilidades de custeio. A análise econômica da saúde deve considerar: Custos da preparação administração e controle dos resultados; Tratamento dos efeitos secundários e indesejáveis; Características clínicas e farmacológicas dos medicamentos; Benefícios na prática clínica real comparada aos seus custos. A avaliação econômica dos medicamentos aborda metodologias utilizadas à avaliação clínica, por meio das análises de custo-benefício e custo-efetividade, aplicadas aos problemas de saúde, promovendo segurança e qualidade dos tratamentos, pela comparação entre dois ou mais medicamentos ou tratamentos, buscando menor dispêndio de recursos. 20.1 CUSTOS É um complexo, que engloba elementos mensuráveis tanto qualitativa quanto quantitativamente, e aos quais podem ser atribuídos valores financeiros, podendo ser dividido como veremos a seguir. 20.1.1 Custos diretos São aqueles pagamentos que implicam em uma retirada financeira real e imediata, como o uso de materiais e medicamentos, salários (horas trabalhadas), exames realizados, despesas administrativas e outros eventos. AN02FREV001/REV 4.0 164 20.1.2 Custos indiretos São representados por ganhos não realizados, fatos sempre presentes na maioria das situações de doença e que envolvem o próprio paciente e seus acompanhantes (perda temporária ou definitiva da capacidade de trabalho). 20.1.3 Custos intangíveis São representados por dor, sofrimento, incapacidade e perda da qualidade de vida. O sentido dado à palavra custo, neste caso, tem a ver com o ônus psicológico que esses fatores representam, mas não podem ser avaliados em valores monetários. No entanto, podem ser englobados em avaliações de consequências e mostram importância no processo de decisão entre condutas diferentes. 20.2 ANÁLISE FARMACOECONÔMICA A análise farmacoeconômica atualmente se faz imprescindível tanto ao sistema público de saúde como no particular. Esta análise busca comparar opções diferentes de conduta em saúde, posto que quando se faz a comparação entre dois ou mais medicamentos (ou outros procedimentos), serão verificadas diferenças nas consequências para a saúde. Essas consequências são os resultados do tratamento que podem ser mensuradas por meio de resultados clínicos (por exemplo, porcentagens de curas obtidas, complicações evitadas, número de vidas salvas, melhorias em parâmetros vitais e outros), econômicos (lucros ou prejuízos) ou humanísticos (mudanças na qualidade de vida dos pacientes). De acordo com o tipo de consequência analisada, as análises farmacoeconômicas podem ser classificadas como: AN02FREV001/REV 4.0 165 Análise de custo-benefício – quando uma opção terapêutica é avaliada em termos de suas vantagens ou desvantagens econômicas; Análise de custo-efetividade – quando a opção terapêutica é avaliada em termos dos resultados clínicos obtidos; Análise de custo-utilidade – quando a opção terapêutica é avaliada em termos do aumento ou redução dos indicadores de qualidade de vida dos usuários. 20.2.1 Análise de custo-benefício Nas análises do tipo custo-benefício, o que se procura é identificar a opção de tratamento que permite reduzir custos ou aumentar lucros, especificamente olhando a resposta financeira obtida por cada opção. Para a sua utilização, é necessário levar em conta que as alternativas sob estudo não trazem em si riscos éticos insuportáveis. Apenas se admitiria a adoção de uma alternativa mais barata, com potencial danoso, se fosse a única opção ou em caso de decisões em prol de uma maioria de indivíduos que poderia ser prejudicada pela adoção de uma alternativa mais cara. Uma avaliação de custo-benefício parte do levantamento de custos de uma opção. Em seguida, devem ser levantados os benefícios econômicos obtidos pela opção, como a quantidade de recursos financeiros que podem ser reduzidos pela adoção da alternativa, por exemplo. 20.2.2 Análise de custo-efetividade As análises de custo-efetividade têm por objetivo identificar a opção terapêutica que consegue obter o melhor resultado clínico por unidade monetária aplicada (Tabela 9). Os resultados clínicos são levantados por meio de ensaios clínicos (de preferência controlados, randomizados e duplo-cegos), estudos de coorte ou AN02FREV001/REV 4.0 166 estudos observacionais; podem provir de publicações científicas ou, simplesmente, de reuniões com comitês de especialistas (embora esta forma seja altamente passível de desvios e imprecisões). TABELA 9 - ANÁLISE DE CUSTO-EFETIVIDADE Medicamentos Custo para tratar 100 pacientes Número de vidas salvas/100 pacientes Razão custo/efetividade (custo/vida salva) A R$ 30.000 10 R$ 3.000 B R$ 20.000 4 R$ 5.000 C R$ 18.000 18 R$ 1.000 FONTE: Adaptado de Neto, J. F. M. Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde pública, 2005. 20.2.3 Análises de custo-utilidade O profissional de saúde, em particular o médico, possui a tendência de se deixar dominar pelos aspectos concretos e objetivos da ciência. Resultados obtidos por ensaios clínicos controlados, mensurados por meio de ferramentas estatísticas, frequentemente se sobrepõem à satisfação dos pacientes como um fator de escolha, pressupondo que o mesmo só está interessado na cura e, quando essa é obtida, sua satisfação será máxima. No entanto, nem sempre um paciente estará disposto ou satisfeito em usar um produto cujas características envolvam qualquer grau de sacrifício e mal- estar, muitas vezes o prolongamento do tempo de vida e os custos adicionais associados à opção por um determinado tratamento não se justificam pelo nível de sofrimento do paciente. Por esse motivo vêm sendo desenvolvidas ferramentas de análise que obtêm e quantificam a satisfação do paciente com relação ao tratamento AN02FREV001/REV 4.0 167 empregado, traduzindo-se estes dados como a mensuração da qualidade de vida associada à saúde. 20.2.3.1 Avaliação da qualidade de vida associada à saúde A qualidade de vida é um conceito muito mais amplo e envolve não apenas a saúde, mas também a percepção global do paciente de um determinado número de dimensões-chaves, com ênfase nos seguintes itens: Características físicas, biológicas, anatômicas e hereditárias; Estado funcional e capacidade de desempenhar as atividades do cotidiano; Estado mental, incluindo a autopercepção da saúde e do estado de ânimo; Potencial de vida individual, que inclui a longevidade e o prognóstico dos eventuais estados mórbidos; Fatoresambientais, que incluem a situação socioeconômica, a educação, os hábitos de higiene, a alimentação e o meio ambiente, entre outros. A avaliação da qualidade de vida associada à saúde é feita por meio de questionários cuidadosamente elaborados para captar o grau de satisfação de um indivíduo com o seu estado atual. Os resultados obtidos são valores quantitativos que representam escores de qualidade de vida (comumente chamados valores de QOL – Quality Of Life). Os indicadores QOL podem ser também usados em associação com o tempo de vida de um paciente portador de uma enfermidade, obtendo-se os valores de QUALY (Quality of Life Years Gained), ou AVAQ (Anos de Vida Ajustados pela Qualidade), que expressam a utilidade percebida pelo paciente no tempo de vida em tratamento ao qual foi submetido, dados esses utilizados em estudos de custo-utilidade (Tabela 10). AN02FREV001/REV 4.0 168 TABELA 10 - ANÁLISE DE CUSTO UTILIDADE Item Antidepressivo A Antidepressivo B Custo/dia de tratamento R$ 1,30 R$ 1,50 Escore de QOL 0,5 0,8 Extensão de vida 20 anos 30 anos Índice AVAQ 10 AVAQ 24 AVAQ Custo anual do tratamento R$ 474,00 R$ 912,50 Relação custo/utilidade R$ 47,40/AVAQ R$ 38,02/AVAQ FONTE: Adaptado de Neto, J. F. M. Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde pública, 2005. 21 FARMACOVIGILÂNCIA A tragédia da Talidomida, no início da década de 1960, modificou radicalmente o processo de novos fármacos no mundo. Em vários países, os governos e as autoridades sanitárias criaram ou aprimoraram suas legislações relativas ao registro de medicamentos. O reconhecimento de limitações dos ensaios clínicos, principalmente de fase III, estimulou os pesquisadores e clínicos a buscarem métodos que permitissem a identificação precoce de reações adversas raras, graves e fatais, na pós-comercialização. Nascia assim a farmacovigilância. Segundo a OMS, farmacovigilância é o conjunto de métodos que tem por objetivo a identificação e a avaliação dos efeitos do uso agudo e crônico, dos tratamentos farmacológicos no conjunto da população ou em subgrupos de pacientes expostos a tratamentos específicos. Esse campo de atividade tem se expandindo e, recentemente, incluiu novos elementos de observação e estudo, como: plantas medicinais; medicinas tradicional e complementar; produtos derivados de sangue; produtos biológicos; produtos médico-farmacêuticos; vacinas. Além das reações adversas a medicamentos, são questões relevantes para a farmacovigilância: AN02FREV001/REV 4.0 169 Desvios da qualidade de produtos farmacêuticos; Erros de administração de medicamento; Notificações de perda da eficácia; Uso de fármacos para indicações não aprovadas, que não possuem base científica adequada; Notificação de casos de intoxicação aguda ou crônica por produtos farmacêuticos; Avaliação de mortalidade; Abuso e uso errôneo de produtos; Interações, com efeitos adversos, de fármacos com substâncias químicas, outros fármacos e alimentos. 21.1 ESTUDOS DE FARMACOVIGILÂNCIA Para auxiliar os estudos de fase IV, ou farmacovigilância, foram desenvolvidos alguns desenhos metodológicos. 21.1.1 Caso Controle Trata-se de um estudo que parte do efeito para chegar às causas. É uma investigação na qual, pessoas com uma dada reação adversa são comparadas com outras sem essa condição, de modo a identificar, no passado, se estiveram expostas a um determinado medicamento que poderia explicar a ocorrência do agravo estudado. Utiliza-se o odds-ratio. AN02FREV001/REV 4.0 170 21.1.2 Coorte É um estudo que parte da causa para observar os efeitos. Um grupo de pessoas que utiliza e outro que não utiliza determinado medicamento são seguidos no tempo com o intuito de determinar quais de seus componentes desenvolveram reações adversas e se a exposição prévia ao medicamento está relacionada à ocorrência do agravo estudado. Utiliza-se o risco relativo. 21.1.3 Ecológicos O efeito de um medicamento na ocorrência de um evento relativo ao seu uso é comparado pelo menos duas vezes, antes e depois de sua retirada do mercado. O objetivo é avaliar se a disponibilidade do fármaco afeta, de alguma forma, a ocorrência de algum tipo de efeito. 21.1.4 Transversais Neste estudo, causa e efeitos são detectados simultaneamente, sendo os dados coletados de uma população de pacientes em um mesmo ponto no tempo, independentemente da exposição ou estado da doença. É um corte no fluxo histórico da doença, evidenciando as características apresentadas por ela naquele momento. Desfecho e exposição acontecem num mesmo ponto no tempo. AN02FREV001/REV 4.0 171 21.2 PROJETO HOSPITAL SENTINELA Criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o projeto Hospital Sentinela constitui uma rede nacional de hospitais, cuja finalidade é a notificação ativa e qualificada de queixas técnicas e efeitos adversos relacionados a produtos de saúde: materiais médico-hospitalares, equipamentos eletroeletrônicos, medicamentos, sangue e hemoderivados, saneantes, kits diagnósticos. As notificações podem ser classificadas como: Notificação voluntária; Profissionais de saúde – médicos, farmacêuticos, enfermeiros, odontólogos e representantes da indústria farmacêutica; Usuários; Notificação compulsória; Profissionais de saúde. Essas notificações podem ser feitas a partir do preenchimento do formulário de notificações de reações adversas que pode ser enviado via internet, correio ou fax aos hospitais que compõem esta rede. AN02FREV001/REV 4.0 172 22 CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE MEDICAMENTOS (CIM) O papel mais importante no sistema de saúde é ocupado pelos medicamentos, pois esses salvam vidas e melhoram a saúde. O amplo emprego dos medicamentos, os altos custos que estes representam na assistência à saúde, a elevada incidência de morbimortalidade atribuída aos medicamentos, a possibilidade de que boa parte possa ser prevenida ou amenizada a partir da difusão e do uso de informação e de uma assistência farmacêutica de qualidade, tornam o uso racional de medicamentos um dos grandes desafios para a saúde pública. Com o avanço das ciências em geral, tem aumentado exponencialmente a quantidade de informação disponível. Na área farmacêutica, a partir da década de 1940, também tem havido a introdução de novos medicamentos em grande escala. A essa quantidade de informação se convencionou chamar de “explosão de informação” ou “avalanche de informação”. Apesar da quantidade, essa informação nem sempre é de boa qualidade e imparcial; além disso, este volume de informação não é difundido de forma eficiente e ágil, de modo que os profissionais da saúde têm dificuldade em se manter atualizados. Este contexto dá origem a estudos que relatam cinco fatores causadores de problemas na farmacoterapia de um hospital: Sistemas deficientes de distribuição e de administração de medicamentos; Aplicação inadequada da informação do produto no que se refere a sua preparação e administração; Informação inadequada do médico prescritor; Falta de conhecimento sobre as características farmacocinéticas dos medicamentos; Falta de interesse e de preocupação no que se refere ao conhecimento e à notificação de reações adversas aos medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 173 Os quatro primeiros fatores estão fundamentalmente ligados à falta de conhecimento e de informação sobre os medicamentos. Nesse caso, o problema não é a inexistência da informação, mas a dificuldade de acesso e de uso da mesma. Em nosso país, o problema é mais grave, já que a informação, em geral, não está disponível por causa dos altos custos que envolvema aquisição e a manutenção da mesma e, também, por existir poucas publicações em português. Um estudo americano cita que estima 7 mil mortes anuais, nos EUA, entre pacientes ambulatoriais e hospitalares devido a erros de uso de medicamentos. No Brasil, o SUS registrou, em 1999, 275 milhões de consultas médicas e 12 milhões de internações hospitalares. Estes dados permitem estimar a importância dos medicamentos nestes procedimentos. A diretora-geral da OMS, em 1999, publica artigo onde expressa que: De 25% a 75% dos antibióticos são prescritos inapropriadamente, mesmo em hospitais universitários; Estudos realizados em farmácias de países em desenvolvimento demonstraram que 90% dos consumidores compram antibióticos para três dias de tratamento ou menos; 50% compram somente para o tratamento de um dia; Em média, 50% dos pacientes do mundo não tomam os medicamentos corretamente, resultando em mortalidade excessiva por infecções comuns, resistência a medicamentos e tratamento inadequado de doenças crônicas, como a hipertensão. Uma das propostas para solução desses problemas é a formação de farmacêuticos, clinicamente treinados como disseminadores de informação sobre medicamentos, serviço que esses profissionais, tanto comunitários como hospitalares, tradicionalmente vêm prestando de modo informal. Nos EUA, os farmacêuticos são os profissionais que mais atuam nos Centros de Informação sobre Medicamentos, o que também se observa no Brasil, uma vez que, como categoria profissional, são eles que têm a formação mais abrangente sobre medicamentos. Em 1962, foi criado o primeiro Centro de Informação sobre Medicamentos do mundo, no Centro Médico da Universidade de Kentucky, nos EUA. O termo “informação sobre medicamentos” foi proposto nesta época, usado em conjunto AN02FREV001/REV 4.0 174 com as palavras Centro e Especialista. O sucesso da experiência resultou na abertura de novos CIMs pelos EUA, depois no Canadá e, hoje, existem mais de 200 centros no mundo. A necessidade de serviços de informação sobre medicamentos é mais evidente quando se considera que a documentação que frequentemente está ao alcance dos profissionais da saúde é aquela proporcionada pela indústria farmacêutica e, portanto, o enfoque tem um alto componente publicitário e comercial. Além disso, a entrega de amostras grátis para os médicos, as quais geralmente acompanham a publicidade dos medicamentos, influi de forma quase compulsiva na prescrição médica, evitando a análise objetiva e científica que se requer na consideração das alternativas de tratamento. O Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM) é uma alternativa para facilitar o acesso e a disponibilidade da informação, diminuindo os custos hospitalares pela racionalização do uso dos medicamentos. 22.1 A UTILIZAÇÃO E A PRODUÇÃO DA INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS PELO CIM A informação sobre medicamentos é a base para o desenvolvimento dos instrumentos imprescindíveis para sua prescrição e uso racional. Entre esses, podemos citar: formulários; guias de tratamentos padronizados; e informação para consumidores, os quais só poderão ser desenvolvidos com informação confiável. As atividades de um Centro de Informação sobre Medicamentos costumam estar divididas em dois grandes grupos: Informação reativa (também denominada de passiva) Aquela que é oferecida em resposta à pergunta de um solicitante. O farmacêutico informador espera passivamente que o interessado lhe faça a pergunta. Desencadear a comunicação é iniciativa do solicitante. Esta é considerada a principal atividade de um CIM. AN02FREV001/REV 4.0 175 Informação proativa (também denominada de ativa) É aquela em que a iniciativa da comunicação é do farmacêutico informador, que analisa qual tipo de informação seus possíveis usuários podem necessitar (médicos, farmacêuticos, odontólogos, enfermeiros, pacientes, outros) e encontra uma via de comunicação para suprir essas necessidades. Estas atividades dão mais visibilidade e causam maior impacto junto aos usuários. Dentre estas atividades, deve-se notar que: Não existe Centro de Informação sobre Medicamentos sem a primeira atividade – responder perguntas. Ou seja, um CIM pode desenvolver todas as atividades descritas, mas não será um CIM o lugar que desenvolver todas as atividades menos a primeira; Responder perguntas deve representar a maior parte dos trabalhos prestados pelo CIM. Esta deve ser a atividade principal. A produção de informação em um CIM obedece a um protocolo que abrange desde a pesquisa em fontes bibliográficas para responder perguntas até a escolha dos temas a serem abordados em boletins, formulários, revisão de uso de medicamentos, farmacovigilância etc. A informação reativa deverá ser utilizada como “termômetro”, mostrando quais as principais dúvidas dos solicitantes do serviço que poderão servir de orientação para a elaboração de material informativo escrito – artigos, boletins, folders etc. – ou sugestão para programas de educação continuada. Levando-se em consideração as vantagens e as limitações das fontes de informação sobre medicamentos, em um CIM, na informação reativa, sugere-se que a sequência de busca de dados obedeça a seguinte ordem: terciárias, secundárias e primárias. As fontes terciárias são as mais utilizadas na atividade de informação reativa por uma série de fatores, tais como: disponibilidade, facilidade de manuseio, agilidade no uso, objetividade, variedade de informações que, porém, podem estar desatualizadas. Dependendo da complexidade e da natureza da pergunta, por exemplo, em novidades terapêuticas, será necessária a utilização das fontes secundárias e primárias. A avaliação crítica do farmacêutico especialista em informação sobre medicamentos deverá ser utilizada neste momento para fornecer a informação mais atual de forma objetiva e ágil. AN02FREV001/REV 4.0 176 Os CIMs podem ser solicitados por telefone, pessoalmente, fax, correspondência, correio eletrônico, dependendo do caso. É necessário que o usuário identifique-se e forneça seu endereço, número do telefone etc., a fim de estabelecer uma via de comunicação que será utilizada na resposta, se essa não for imediata, ou caso um novo contato seja necessário. Quando estiver envolvido um paciente, é de grande importância fornecer os dados adequados, de tal forma que a resposta seja apropriada às necessidades e características particulares de cada um. Na informação reativa, uma das características dos CIMs é o fornecimento gratuito, significando dizer que as consultas feitas não serão cobradas. Excepcionalmente, trabalhos específicos poderão ser cobrados, a critério de cada CIM. Como exemplo, a seguir constam algumas categorias de perguntas respondidas pelos CIMs: Identificação de fármacos e medicamentos nacionais e estrangeiros, de uso comum ou em investigação, sua disponibilidade e/ou equivalência no mercado nacional e internacional; Mecanismo de ação, usos clínicos, eficácia, reações adversas e toxicidade; Posologia, duração e uso correto dos medicamentos, em especial para pacientes pediátricos, idosos, diabéticos, cardiopatas, nefropatias etc.; Liberação, absorção, distribuição, metabolismo e excreção; Possíveis interações dos medicamentos com o álcool, alimentos e outros fármacos; Interferência dos medicamentos com exames de análises clínicas; Uso de medicamentos durante a gravidez e a lactação; Conservação dos medicamentos, principalmente quando se requer condições especiais; Compatibilidade de misturas parenterais. Sabe-se que a principal atividade de um CIM é a informação reativa. Por outro lado, a informação proativa pode ser aquela que cause maior impacto ou reconhecimento do serviço junto à comunidade, seja essa de profissionais da saúde ou pacientes. Entretanto,existe uma estreita relação entre estes dois tipos de atividades e somente a experiência acumulada no exercício do dia a dia do CIM AN02FREV001/REV 4.0 177 poderá determinar o equilíbrio das mesmas, ou seja, qual o tempo que será dedicado a cada uma delas. Um aspecto de destaque dentro da atividade proativa é a publicação de um boletim. Seu papel básico é a disseminação de informação imparcial, científica e avaliada sobre o uso de medicamentos, seja de novidades terapêuticas, novos usos, alertas sobre reações adversas, perguntas e respostas fornecidas na informação reativa que possam ter interesse geral, entre outras. O boletim é importante veículo de divulgação do CIM; por isso mesmo, deve ter qualidade, periodicidade (pelo menos quatro por ano) e ser bem difundido. 22.2 CENTROS DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS NO BRASIL Em 1992, iniciou-se a “sistematização de esforços para o desenvolvimento dos Centros de Informação sobre Medicamentos no Brasil”, quando o Conselho Federal de Farmácia, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde, inicia a implantação do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (CEBRIM) e, mais tarde, a partir deste, o Sistema Brasileiro de Informação sobre medicamentos, constituído atualmente por diversos CIMs. AN02FREV001/REV 4.0 178 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Portaria nº 3.616/MS/GM, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. ______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Institui normas para licitações e contratos de administração pública. ______. Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002. Institui a modalidade de licitação denominada pregão, para a aquisição de bens e serviços comuns. GOODMAN & GILMAN. As bases farmacológicas da Terapêutica. Rio de Janeiro: Mcgraw-Hill Interamericana, 2007. GOMES, M. J. V. M.; REIS, A. M. M. Ciências farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. São Paulo: Atheneu, 2006. NETO, J. F. M. Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde. São Paulo: RX, 2005. FIM DO CURSO