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CONCEITOS A TVP geralmente envolve as veias profundas das pernas ou braços, mas pode ocorrer em outros locais. A oclusão das veias profundas em um membro por trombo prejudica a drenagem de sangue, causando dor e edema distal à obstrução. A trombose também pode ocorrer em veias superficiais, estender-se para as veias profundas, levando assim a TVP e embolia pulmonar. A embolia pulmonar refere-se à obstrução de uma artéria pulmonar por trombo que se deslocou de outras partes do corpo, através da corrente sanguínea e para os pulmões. EPIDEMIOLOGIA Um primeiro episódio de TEV ocorre em cerca de 1 a 2 pessoas por 1.000 a cada ano nos EUA. A incidência aumenta com a idade, com 5 a 10 casos por 1.000 pessoas por ano aos 80 anos. A prevalência de TEV é de aproximadamente 17% nos pacientes hospitalizados com infecção pelo SARS-CoV-2. Aproximadamente um terço dos pacientes com TEV sintomático apresentam embolia pulmonar, enquanto o restante apresenta TVP. A TVP geralmente começa nas veias da panturrilha. Em pacientes com sinais/sintomas sugestivos de TVP, o diagnóstico é confirmado em até 25%. FATORES DE RISCO Limiar de trombose. Fatores de risco hereditários e adquiridos se combinam para criar um risco intrínseco de trombose para cada indivíduo. Esse risco é aumentado por fatores desencadeantes extrínsecos. Se as forças intrínsecas e extrínsecas excederem um limiar crítico em que a geração de trombina supere os mecanismos de proteção, ocorre trombose. TEV = tromboembolismo venoso. FISIOPATOLOGIA A estase sanguínea é um dos mais importantes itens da tríade, uma vez que a associação entre pacientes acamados, seja por cirurgia ou impossibilidade de movimentar-se. O paciente em repouso fica com a musculatura relaxada, permitindo um maior volume sanguíneo acumulado nos membros inferiores, além da própria dilatação da parede venosa. Estes itens, associados à redução do débito cardíaco no repouso e a não utilização dos mecanismos de retorno venoso da contração da panturrilha, causam uma queda da velocidade de fluxo local e consequente instalação da estase sanguínea local. A estase promovida pelo repouso prolongado é responsável pela ativação da agregação plaquetária e, consequentemente, pela ativação da cascata de coagulação neste local. Este yyttt TROMBOSE VENOSA PROFUNDA(TPV) E EMBOLIA (TEP) ANDRESSA LIMA- MEDICINA mecanismo causaria uma rede de fibrina que, por sua vez, seria responsável pelo aprisionamento de hemáceas nos seios das válvulas venosas e, através da agregação plaquetária local com liberação de ADP e tromboxano A2, causaria progressão da coagulação local e do trombo na luz do vaso. Lesão endotelial A lesão endotelial é trombogênica pela própria ativação da cascata da coagulação. O endotélio em condições normais, impede a formação de trombos, mantendo o sangue em sua forma líquida através da produção de óxido nítrico (NO), prostaglandina I2 (prostaciclina), ADP- defosfatase. Essas substâncias impedem a adesão plaquetária local ao inativar os receptores da plaqueta (NO e prostaciclina) e causar quebra do ADP (ADP-defosfatase). Além disso, o endotélio impede a adesão plaquetária, uma vez que constitui uma barreira entre o sangue e a matriz extracelular Diversos fatores, como traumas (iatrogênicos ou não), radiação, infecção, drogas, lesões térmicas, citocinas e anticorpos, além de outros, podem ser responsáveis pela lesão do endotélio vascular saudável, causando exposição da matriz extracelular, produção de tromboxano A2 e ADP, adesão e agregação plaquetária, com formação de trombina (que estimula a agregação) e, por sua vez, a ativação da cascata de coagulação, com formação de fibrina através da ativação dos fatores VII, IX e X. O próprio trauma cirúrgico e a reação inflamatória com leucocitose podem ser suficientes para lesão do endotélio e pela consequente formação de trombos em pacientes pós-operatórios. Trombofilias A hipercoagulabilidade sanguínea, ou trombofilia pode ser de origem genética ou adquirida. Na origem genética podemos encontrar uma deficiência de fatores que impedem a coagulação, como a antitrombina, a proteína C e a proteína S, alterações no gene da protrombina, que é encontrada e a hiper-homocisteinemia, que encontra sua origem na mutação do gene da metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR), além de causas adquiridas, como deficiências de vitamina B12, B6 e folato. Existem outras causas genéticas raras, como as desfibrinogenemias, deficiência de co-fator II e de plasminogênio que não serão abordadas neste capítulo Na origem adquirida temos fatores teoricamente temporários como gravidez, uso de anticoncepcionais orais (em especial os combinados com estrogênio e progestágenos), cirurgias, tabagismo, obesidade e infecções. Temos, também, doenças adquiridas como a síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF), neoplasias, vasculites, poliglobulias e outras. A MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os pacientes com TVP tipicamente apresentam edema, dor, calor e vermelhidão no membro acometido, O diagnóstico diferencial inclui traumatismo, infecção, cisto de Baker rompido SAAF é uma doença autoimune na qual anticorpos se ligam a proteínas plasmáticas, em fosfolípides de membrana. As proteínas que são reconhecidas como antígeno são: a protrombina (fator II) e a β2-glicoproteína I (β2GPI), além da proteína C, proteína S, fator X, fator XI, dentre outras. Esta síndrome causa trombose venosa e arterial (na maioria das vezes venosa) e tem uma manifestação clínica variada devido à quantidade de proteínas com potencial antigênico. As manifestações clínicas incluem as tromboses de pequenos vasos. Os sinais e sintomas mais comuns de embolia pulmonar incluem dispneia aos esforços, dor torácica que frequentemente é de natureza pleurítica, taquipneia e tosse. Muitos pacientes com embolia pulmonar têm sinais e sintomas concomitantes de TVP. Os sinais e sintomas menos comuns incluem febre, hemoptise, cianose, hipotensão e choque. Outros sintomas inespecíficos incluem palpitações, ansiedade e sensação de desmaio. Pode ocorrer cianose central e periférica, e um ritmo de galope pode se desenvolver como consequência da insuficiência cardíaca. As veias jugulares estão distendidas se houver desenvolvimento de insuficiência cardíaca direita. A segunda bulha cardíaca (B2) pode ser amplamente desdobrada e o componente pulmonar (P2) pode estar hiperfonético em razão do retardo do esvaziamento do ventrículo direito. Complicações Insuficiência venosa crônica: disfunção da bomba muscular e das válvulas venosas, que causam a obstrução do fluxo venoso. Síndrome pós-flebítica: é a insuficiência venosa crônica sintomática após TVP. Embolia pulmonar: oclusão de artérias pulmonares por trombos originados em outro local. Depois que a TVP se desenvolve, o coágulo pode se deslocar e se mover pelo sistema venoso e coração, se alojando diretamente nas artérias pulmonares. Embolia Pulmonar Os vasos pulmonares recebem sangue venoso de todo o organismo, dentro de um sistema que se estreita progressivamente à medida que se aproxima do território alveolar. Partículas sólidas, líquidas ou gasosas trafegando no território arterial (êmbolos) impactam-se em algum segmento do leito vascular pulmonar, caracterizando o quadro de embolia pulmonar. Embolia pulmonar pode ser de origem trombótica (tromboembolia), gordurosa ou gasosa. Tromboembolia pulmonar, portanto, não deve ser considerada uma doença isolada dos pulmões, pois representa quase sempre complicação da TVP. Embolia pulmonar e TVP são componentes de um mesmo processo patológico de tromboembolia venosa, devendo a doençade base ser tratada para prevenção de novos fenômenos embólicos. As principais manifestações da embolia pulmonar são: Lembrando que a gravidade do evento embólico depende dos fatores do individuo e das características dos embolo. Além de prejuízos na perfusão pulmonar, sobrecarga do coração direito e isquemia do parênquima. • morte súbita por: (1) hipóxia aguda e/ou colapso circulatório, quando a embolia oblitera grandes ramos da artéria pulmonar (p. ex., embolia a cavaleiro na bifurcação do tronco da artéria pulmonar ou grande número de êmbolos menores); (2) falência aguda do ventrículo direito (cor pulmonale agudo); • infarto pulmonar, especialmente na embolia não fatal de ramos médios da artéria pulmonar ou nos casos em que há doença cardiopulmonar preexistente; • hipertensão pulmonar, quando ocorrem episódios repetidos de embolia DIAGNÓSTICO O diagnóstico começa com a determinação da probabilidade pré-teste usando modelos de avaliação de risco validados para TVP. ou embolia pulmonar Exames de diagnóstico dímero d Um produto de degradação derivado da plasmina da fibrina reticulada, o dímero D pode ser medido no sangue total ou plasma e é um biomarcador que reflete a ativação contínua do sistema de coagulação. Os níveis de dímero D podem ser elevados com a idade avançada, condições inflamatórias crônicas e malignidade ultrassonografia com compressão A US com compressão com ou sem imagem Doppler é o exame não invasivo mais amplamente usado para o diagnóstico de TVP em razão de sua acurácia na detecção de trombo envolvendo as veias poplítea ou mais proximais. A sensibilidade da US para detecção de TVP da panturrilha é menor do que para detecção de TVP proximal; consequentemente, alguns centros examinam apenas as veias acima da trifurcação da panturrilha, enquanto outros examinam as veias proximal e da panturrilha. O resultado normal da US de todo o membro inferior exclui o diagnóstico de TVP. venografia contrastada o padrão-ouro para o diagnóstico de TVP, o exame raramente é realizado em função de seu custo, do desconforto para o paciente e do potencial para complicações. angiografia pulmonar por tomografia computadorizada diagnóstico de embolia pulmonar devido à sua ampla disponibilidade, à rapidez de seus resultados e às sensibilidade e especificidade suficientes para seu uso como único exame. Ao contrário da cintilografia pulmonar, a APTC não só possibilita a visualização direta de trombos nas artérias pulmonares de pacientes com embolia pulmonar. cintilografia pulmonar de ventilação- perfusão 1. A fase de ventilação envolve a inalação de um aerossol de isótopos radioativos de xenônio ou tecnécio para avaliar o fornecimento de ar às várias partes do pulmão. Em contrapartida, 2. a fase de perfusão envolve a injeção intravenosa de macroagregados de albumina marcados com tecnécio, o que possibilita a avaliação do fluxo sanguíneo nos pulmões, uma vez que os agregados se alojam na microcirculação pulmonar. As imagens para ambas as partes do exame são adquiridas usando um contador gama. As áreas do pulmão acometidas pela embolia pulmonar não se iluminam na cintilografia de perfusão porque os macroagregados da albumina não conseguem alcançar os locais onde as artérias pulmonares estão obstruídas ressonância magnética a ressonância magnética (RM) com gadolínio não submete os pacientes à radiação ionizante, e o gadolínio pode ser administrado com segurança a pacientes com história pregressa de alergia a contraste, mas não a pacientes com insuficiência renal. A combinação de angiografia pulmonar por RM com venografia por RM tem sensibilidade maior do que a angiografia pulmonar por RM isolada para o diagnóstico de embolia pulmonar. angiografia pulmonar contrastada intervencionista exige injeção direta de contraste nas artérias pulmonares, seguida por captura de imagens usando tecnologia de subtração digital. O achado de trombo, que se apresenta como defeito de enchimento ou corte súbito do fluxo sanguíneo em um ramo da artéria pulmonar, estabelece o diagnóstico de embolia pulmonar. outros exames Exames de sangue de rotina em pacientes com suspeita ou diagnóstico de TEV devem contar com hemograma completo, incluindo contagem de plaquetas, uma razão normalizada internacional (RNI) de base e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa). Os níveis séricos de creatinina e ureia são necessários para ajudar a orientar a escolha da terapia anticoagulante, e os eletrólitos séricos e enzimas hepáticas fornecem informações úteis. O ECG pode mostrar novas alterações sugestivas de distensão ventricular direita, como inversão da onda T nas derivações V1 a V4, o padrão clássico S1, Q3 e T3 TRATAMENTO AGENTES ANTICOAGULANTES; Antagonistas da vitamina K As cumarinas são antagonistas da vitamina K, das quais a varfarina é a mais amplamente utilizada. As cumarinas inibem uma redutase de vitamina K que catalisa a redução de 2,3-epóxido (epóxido de vitamina K), levando assim à depleção de vitamina KH2, que é necessária para a produção de proteínas de coagulação funcionalmente ativas (gamacarboxiladas) (fatores II [protrombina], VII, IX e X) e proteínas anticoagulantes (proteína C e proteína S) INIBIDORES PLAQUETÁRIOS ação: diminuem a formação de um coágulo rico em plaquetas ou diminuem a ação dos sinais químicos promotores da aglutinação . Os inibidores da aglutinação de plaquetas descritos a seguir inibem a cicloxigenase-1 (COX-1) ou bloqueiam os receptores de GP IIb/IIIa ou ADP, interferindo, assim, no sinal que promove a aglutinação plaquetária. Recomendações; Esses fármacos são benéficos na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares oclusivas, na manutenção de transplantes vasculares e na patência arterial e como auxiliares dos inibidores da trombina ou tratamento trombolítico no IAM. Ácido acetilsalicílico(ASS); Mecanismo de ação: A estimulação das plaquetas por trombina, colágeno e ADP resulta na ativação das fosfolipases de membrana das plaquetas que liberam ácido araquidônico dos fosfolipídeos da membrana. inibe a síntese do tromboxano A2 por acetilação do resíduo serina no centro ativo da COX-1, inativando irreversivelmente a enzima Ticlopidina, clopidogrel, prasugrel e ticagrelor Mecanismo de ação: Esses fármacos inibem a ligação do ADP aos seus receptores nas plaquetas e, assim, inibem a ativação dos receptores de GP IIb/IIIa necessários para que as plaquetas se liguem ao fibrinogênio e umas às outras. O ticagrelor se liga reversivelmente ao receptor P2Y12 ADP. Efeitos adversos: Estes fármacos podem prolongar o tempo de sangramento, para o que não existe antídoto Abciximabe, eptifibatida e tirofibana Mecanismo de ação: O receptor GP IIb/IIIa desempenha papel fundamental na estimulação da aglutinação das plaquetas. ANTICOAGULANTE Ação; inibem a ação dos fatores de coagulação (p. ex., heparina) ou interferem com a síntese dos fatores de coagulação (p. ex., antagonistas da vitamina K, como a varfarina). Heparina e heparinas de baixo peso molecular é um anticoagulante injetável de ação rápida, é uma mistura de glicosaminoglicanos aniônicos de cadeias retas, com uma ampla faixa de massas moleculares. Mecanismo de ação: A heparina atua em inúmeros alvos moleculares, mas seu efeito anticoagulante é consequência da ligação à antitrombina III, com a rápida inativação subsequente dos fatores de coagulação. A antitrombina III é uma α-globulina que inibe serinoproteases da trombina (fator IIa) e fator Xa. Efeitos adversos: A principal complicação da heparina e das HBPMs é o sangramento. A argatrobana é um anticoagulante sintéticoÉ um inibidor direto da trombina. Bivalirudina e desirudina são anticoagulantes parenterais análogos à hirudina, um inibidor da trombina derivado da saliva da sanguessuga. Esses fármacos são inibidores diretos seletivos da trombina e inibem reversivelmente o centro catalítico da trombina livre e da ligada ao coágulo. O fondaparinux é um pentassacarídeo anticoagulante derivado sinteticamente. Esse fármaco inibe seletivamente apenas o fator Xa. Ligando- -se seletivamente à antitrombina III, o fondaparinux potencializa (300- 1.000 vezes) a neutralização inata do fator Xa pela antitrombina III. Rivaroxabana e apixabana Mecanismo de ação: são inibidores do fator Xa, de uso oral. Ambos se ligam ao centro ativo do fator Xa, prevenindo, assim, sua habilidade de converter protrombina em trombina Varfarina Mecanismo de ação: Os fatores II, VII, IX e X precisam da vitamina K como um cofator para sua síntese pelo fígado, A vitamina K é regenerada do epóxido pela vitamina K epóxido redutase, a enzima que é inibida pela varfarina. O tratamento com varfarina resulta na produção de fatores de coagulação menos ativos (de 10 a 40% do normal), pois lhes faltam suficientes cadeias laterais γ-carboxiglutamil. TROMBOLÍTICOS Todos atuam direta ou indiretamente convertendo plasminogênio em plasmina, que, então, hidrolisa a fibrina, hidrolisando, assim, os trombo. Alteplase, reteplase e tenecteplase Alteplase (antes conhecida como ativador do plasminogênio tecidual ou APt) é uma serinoprotease originalmente derivada de cultura de células de melanoma humano. Atualmente, é obtida como produto de tecnologia de DNA recombinante. Reteplase é um derivado menor de APt recombinante, engenhado geneticamente. Tenecteplase é outro APt recombinante com meia-vida mais longa e maior afinidade pela fibrina do que a alteplase. A estreptoquinase é uma proteína extracelular purificada de caldos de cultura de estreptococos β-hemolíticos do grupo C. Ela forma um complexo ativo um-a-um com plasminogênio, Além da hidrólise dos tampões de fibrina, o complexo também catalisa a degradação do fibrinogênio, bem como dos fatores V e VII de coagulação. A uroquinase é produzida naturalmente no organismo, pelos rins. A uroquinase terapêutica é isolada de culturas de células renais humanas e tem baixa antigenicidade. A uroquinase hidrolisa diretamente a ligação arginina-valina do plasminogênio, formando plasmina. Degradação de um trombo indesejado e um tampão hemostático útil pelos ativadores de plasminogênio