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Recursos e Execução no Processo do Trabalho JU R 0 2 3 8 _v 1 _ v2 Disciplina: Recursos e Execução no Processo do Trabalho Autoria: Victor Hugo Nazário Stuchi Estudo de Caso 1. Caso Reinaldo de Souza, brasileiro, é ex-empregado da empresa Literatura Brasil. Ele foi contratado em 15 de março de 2010 a fim de exercer o cargo de Diretor de Logística, um cargo que, apesar de representar uma boa posição dentro da empresa, o fazia ser subordinado ao Diretor Geral e ao Presidente. O salário base de Reinaldo era inicialmente de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), mas desde a sua contratação ele recebia também um valor de gratificação de função, assim como todos os outros diretores da empresa. No caso de Reinaldo, o valor da gratificação era, inicialmente, de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Desse modo, seu salário era de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) mensais, na data de sua contratação. Durante seu contrato de trabalho, as verbas trabalhistas sempre eram pagas com base no salário base, sem a inclusão da gratificação de função, a exemplo do décimo terceiro salário e depósitos mensais ao FGTS. Além disso, Reinaldo, durante todo o contrato de trabalho, nunca gozou de trinta dias de férias, tirando apenas uma semana no final do ano. E, apesar de não haver recibo de férias, a empresa pagava a ele as férias como se ele tivesse gozado os trinta dias, mas também apenas utilizando seu salário base. Em 14 de março de 2015, Reinaldo foi dispensado sem justa causa, recebendo as verbas rescisórias com base em seu último salário, mas novamente sem a inclusão das gratificações. O último salário de Reinaldo foi de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais), sendo R$ 30.000,00 (trinta mil) de salário base, e R$ 15.000,00 (quinze mil) de gratificação de função. No ato da homologação, ele questionou sobre tal fato, bem como afirmou que não havia gozado de férias por todo este período. Em razão disso, as anotações sobre o pagamento sem a inclusão da gratificação e a ausência de férias foram escritas em seu Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho. Em 05 de outubro de 2016, Reinaldo propôs Reclamação Trabalhista, requerendo o reflexo dos valores de gratificação em suas verbas trabalhistas, bem como alegando e requerendo o que de direito em razão de não ter usufruído das férias. Na sentença, publicada em 01 de dezembro de 2017 (sexta-feira), o juízo declarou a ação totalmente improcedente, pois afirmou que a gratificação não é salário, bem como que as férias foram usufruídas, portanto não há nenhum direito a ser requerido. 2. Papel do aluno e sua participação na resolução do problema Você, como advogado de Reinaldo, deve propor o recurso devido, sabendo que não se trata de possibilidade de Embargos de Declaração. Para tanto, cite e explique quais são os pressupostos processuais que devem ser observados para propor o recurso e, em seguida, elabore o recurso ao seu cliente, datando do último dia do prazo legal para tanto, levando em consideração que não havia nenhum feriado ou suspensão de prazo nesse período. Em seguida, supondo que seu recurso não seja recebido, pelo fundamento de que faltam pressupostos recursais, explique qual outro recurso poderia ser interposto, nesta hipótese, expondo os fundamentos legais e a qual juízo a medida recursal deveria ser endereçada. Não é necessário elaborar o modelo desse outro recurso. 3. Objetivos Gerais Desenvolver a prática do autoaprendizado e do trabalho em equipe. Planejar as atividades no tempo disponível. Desenvolver a autonomia na realização de pesquisas. Desenvolver o raciocínio jurídico diante do caso concreto. Específicos Desafiar o aluno a lidar com situações-problemas presentes no cotidiano do advogado atuante nas áreas de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Estimular o aluno a conhecer os pressupostos recursais. Propor ao aluno a elaboração de um recurso trabalhista, com suas especificidades e contagem de prazos. Preparar o aluno para lidar com imprevistos processuais. Instigar o aluno a pesquisar qual a medida recursal no caso concreto. 4. Atividades Considerando as informações contidas no enunciado, este Estudo de Caso deve ser desenvolvido seguindo a etapa a seguir: Estudar o conteúdo ensinado nas aulas. Apoiar-se nas seguintes leituras complementares: BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 17 set. 2018. BRASIL. Súmulas, Orientações Jurisprudenciais e Precedentes Normativos do Tribunal Superior do Trabalho. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/documents/10157/63003/Livro-Internet.pdf>. Acesso em: 17 set. 2018. STUCHI, Victor Hugo Nazário. Prática Trabalhista. 6ª ed. São Paulo: Editora Gen, 2018. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm http://www.tst.jus.br/documents/10157/63003/Livro-Internet.pdf 5. Resolução Os pressupostos recursais existentes, também chamados de pressupostos de admissibilidade, e que devem ser observados pelo advogado de Reinaldo, perfazem as condições mínimas exigidas daqueles que interpõem um recurso. Esses pressupostos dividem-se em subjetivos ou intrínsecos e objetivos ou extrínsecos. Importante mencionar que, no caso de Recurso Ordinário, que será o cabível no presente caso apresentado, não há a exigência de pressupostos especiais. - Pressupostos recursais ou de admissibilidade subjetivos ou intrínsecos: Dizem respeito ao sujeito que interporá o recurso. São eles: Interesse. Tem interesse em recorrer aquele que perdeu, ainda que parcialmente, a ação. Legitimidade. Somente poderá recorrer aquele que perdeu, o terceiro prejudicado e o Ministério Público, quando atuar como fiscal da lei (custos legis). Capacidade. Aquele que apresenta um recurso deverá ser capaz, nos termos da lei. - Pressupostos recursais ou de admissibilidade objetivos ou extrínsecos: Dizem respeito à decisão propriamente dita. São eles: Cabimento. Não são todas as decisões que podem ser objeto de recurso. Adequação. A escolha do tipo de recurso pelo recorrente deve se adequar à decisão a ser impugnada. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo. Tempestividade. A lei prevê um prazo certo para a interposição de recursos. O prazo (todos) para interpor os recursos e apresentar as contrarrazões é de 8 (oito) dias. As exceções estão nos embargos de declaração (5 dias) e no recurso extraordinário (15 dias). Preparo. A lei exige, para alguns recursos, o pagamento das custas processuais, que são de 2% sobre o valor da causa e do depósito recursal, aplicável ao devedor que recorre, para que seja garantida a execução mínima da dívida. A seguir, passa-se à elaboração de Recurso Ordinário: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA ... VARA DO TRABALHO DE ... - ... REGIÃO. (10 linhas) Processo nº: ... REINALDO DE SOUZA, já qualificado nos autos da RECLAMAÇÃO TRABALHISTA que lhe move em face de LITERATURA BRASIL, por seu advogado que esta subscreve vem, respeitosa e tempestivamente, perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 895, I, da CLT, interpor o presente RECURSO ORDINÁRIO, conforme as razões anexas. Requer seja o presente recurso recebido e remetido ao Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da ...ª Região. Termos em que, pede deferimento. Local, 13 de dezembro de 2017. Advogado ... OAB ... ---- RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO Recorrente: Reinaldo de Souza Recorrido: Literatura Brasil Origem: ...ª Vara do Trabalho de ... - ... Região Processo nº: ... Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Ínclitos Julgadores, Em que pese o habitual acerto das decisões proferidas pelo Meritíssimo Juízo de primeira instância, “in casu”, a respeitável sentença merece total reforma. Vejamos: MÉRITO I. DAGRATIFICAÇÃO E SEUS REFLEXOS O Recorrente, desde a sua contratação na empresa Recorrida, sempre recebeu sua remuneração com a mesma composição – parte em salário, parte em forma de gratificação por função. Há que se destacar que o mesmo recebia gratificação de função em razão da função de importância ocupada, qual seja, Direito de Logística, e todos os demais diretores da Recorrida também recebiam a remuneração dessa maneira. A gratificação de função, conforme a Consolidação das Leis do Trabalho, integra a remuneração. Vejamos o texto legal, hoje em desuso em razão da vigência da Lei nº 13.467/2017, mas que se aplica ao Recorrente, vez que a Reclamação Trabalhista fora distribuída antes do início da vigência de tal legislação: Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. § 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. (grifo nosso) Sabendo-se, portanto, que as gratificações integram a remuneração do empregado, as verbas trabalhistas e rescisórias devem ser calculadas com base no salário mais as gratificações, e não apenas sobre o salário base, como a Recorrida agia com o Recorrente. Data vênia, a r. sentença de primeiro grau merece reforma, pois entendeu, em desacordo com a previsão legal, que as gratificações não integravam a remuneração, “não eram salário”, e assim não deviam servir como base para calcular as verbas salariais e rescisórias do Recorrente. Requer-se, desse modo, que se dignem Vossas Excelências a reformar a sentença proferida pelo juízo a quo, de modo a determinar que a Recorrida seja condenada a pagar ao Recorrente os valores devidos pelos reflexos da gratificação de função nas verbas trabalhistas e rescisórias do mesmo. II. DAS FÉRIAS O Recorrente, por todo o tempo de prestação de trabalhos para a Recorrida, jamais usufruiu de seu direito a trinta dias de férias, gozando apenas de uma semana, ao final do ano. A Recorrida, entretanto, pagava ao Recorrente o valor das férias como se esse tivesse gozado os trintas dias, sem a inclusão das gratificações de função. Em sua rescisão, o Recorrente destacou tal situação, e assim restou anotado em seu Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho, que foi assinado por ambas as partes. Desse modo, requer a reforma da r. sentença proferida, a fim de que sejam pagos ao Recorrente os valores devidos em razão da não fruição das férias, ou seja, o pagamento integral das férias, incluído no cálculo as gratificações de função, com acréscimo de 1/3 e em dobro, de acordo com a previsão da Súmula nº 450, Tribunal Superior do Trabalho: É devido o pagamento em dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional, com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o empregador tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal. CONCLUSÃO Aguarda-se a criteriosa decisão de Vossas Excelências que, por certo, conhecerão do presente recurso e lhe darão provimento, para ser declarada a reforma da respeitável sentença, nos pontos que ora são atacados para, ao final, ser a presente reclamatória julgada total procedente, não por complacência, mas em respeito à aplicação da mais lídima justiça! Termos em que, pede deferimento. Local, 13 de dezembro de 2017. ADVOGADO... OAB... ---- Caso o Recurso Ordinário não fosse recebido, com a argumentação de ausência de pressupostos recursais, o advogado de Reinaldo deverá interpor Agravo de Instrumento, com fundamento legal no artigo 897, “b”, Consolidação das Leis do Trabalho. Deverá ser interposto perante o juízo que denegou seguimento ao recurso, ou seja, ao Juiz da Vara do Trabalho de origem, ou ao Desembargador Presidente da Turma do Tribunal Regional do Trabalho da região competente. Cidades, o pleito reivindicatório do Grupo Hoteleiro deverá ser julgado improcedente.