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Currículos e Programas 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos CURRÍCULO E PROGRAMAS Currículos e Programas 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos MARTINS, Leandro Wendel, 2020. Currículos e Programas - Jupiter Press - São Paulo/SP 44 páginas; Palavras chaves: 1. Currículo escolar 2. Dimensões curriculares 3. Currículo e tecnologias Currículos e Programas 2 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos s SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................4 1. APROXIMAÇÃO DO TERMO ...............................................................................................................7 1.1. OS PRIMEIROS CURRÍCULOS NO BRASIL ...............................................................8 1.2. BREVE HISTÓRIA DO CURRÍCULO ESCOLAR NO BRASIL ..............................9 2. DIMENSÕES CURRICULARES ..........................................................................................................12 2.1. TERRITÓRIO DISPUTADO ......................................................................................................12 2.2. TERRITÓRIO DE AUTORIAS .................................................................................................15 2.3. TEORIAS DE CURRÍCULO ....................................................................................................17 3. CURRÍCULO EM HABILIDADE E COMPETÊNCIAS .............................................................22 3.1. A ORIGEM EUROPEIA DO TERMO ..................................................................................22 3.2. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR ................................................................23 4. SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO ................................................................................................28 4.1. LEGISLAÇÃO .................................................................................................................................28 4.2. FINANCIAMENTO .....................................................................................................................30 5. TECNOLOGIAS E CURRÍCULO ........................................................................................................31 5.1. TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ...............32 6. METODOLOGIAS ATIVAS .....................................................................................................................36 CONSIDERAÇÕES .........................................................................................................................................40 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................42 * * A navegação deste e-book por meio de botões interativos pode variar de funcionalidade dependendo de cada leitor de PDF. Currículos e Programas 3 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos INTRODUÇÃO Há muitas histórias relacionadas ao contexto de aproximação dos currículos e programas escolares, um dos termos que perpetuaram essas histórias se tratava da “grade”. No entanto quando nos aproximamos do entendimento mais apurado a separação entre currículo (caminho) e organização de conteúdos é a primeira história que emerge. Neste sentido, currículo se refere ao contexto de todas as ações que ocorrem nos ambientes educativos, posto o entendimento que tudo ali está com propósito de interação humana. As soluções de conflitos fazem parte do currículo real, emergente no cotidiano, os projetos são parte do currículo que não estavam determinadas em prescrições (documentos orientadores e normativos), e por aí se pode seguir com muitas inferências dos elementos que englobam os currículos escolares. A segunda aproximação pode ocorrer no entendimento do termo “proposta” que remete ao fazer coletivo, validado por pares, assim como ocorre em outras áreas como a medicina na decisão de tratamento de um caso complexo. Logo, a proposta, de um caminho (currículo) é complexa e validada por pares. Neste sentido, exige estudo de teorias, de legislação, de caminhos avaliativos e o engajamento de uma equipe pedagógica e da comunidade escolar. Não se trata de elencar pontos em quadradinhos intermináveis que, por vezes, são socados no papel sem sequer perguntas em relação ao tempo e condição de execução. É o entendimento da palavra viva, ou seja, o que está no papel se traduz em um plano de execução que deve ser refletido sobre os caminhos em tempos e formas variadas, em previsões de possibilidades múltiplas. Para além, a aceitação que os planos não refletem exatamente o ocorrido, mas isso não quer dizer que o caminho não foi válido: neste sentido, o currículo real é aquele que se fez em ações durante uma trajetória. Posto isso, e certo de aproximações do leitor com o currículo ao menos nas situações como estudante, esse estudo tratará de aproximações do “termo” em vários períodos históricos, posto que currículo está na cultura em qualquer época. Seguindo, a aproximação com a história do Brasil e as práticas educacionais, a viagem, mesmo que breve, resgata o sentido de educação como forma de domínio e de múltiplos interesses políticos e econômicos, e ao mesmo tempo resgata a luta de muitos educadores que tentaram transformar o sentido de inclusão e o papel da Educação para o cumprimento dos valores humanos. As dimensões curriculares, em aproximação de estudo de pesquisadores/ autores, auxiliarão nos caminhos de reflexão sobre a não neutralidade do currículo Currículos e Programas 4 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos escolar, mas da disputa de vários interesses e camadas que buscam a contemplação de seus objetivos no caminho de educação massiva, ou excludente. Isso trata de uma possibilidade de desmistificar a história do currículo como fruto de ideologia dominante, pois é impossível culturalizar sem haver ideologia (pensamento) no processo. Posto que, isso seria não levar ao contexto de reflexão, o ir para algum lugar sem intenção alguma. Logo, quando o senso comum, oriundo da falta de estofo, coloca questões de ideologia curricular, a desconfiança deve surgir, pois provavelmente de maneira grotesca a intenção é de prevalência de seus próprios interesses: de sua ideologia. No entanto, o caminho democrático apresentado no estudo, pode, elucidar por práticas discutidas entre as comunidades, que tendem ao contexto da assertividade por meio do diálogo. Logo, o currículo é lugar de discussão e construção coletiva, de mediação para caminhos possíveis entre pares (sociedade). Há muitos dispositivos postos na legislação que garantem os caminhos democráticos na construção de currículos: assembleias, conselhos, eleições de gestores, grêmios entre outras ações. As aproximações dos currículos prescritos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) podem, em entendimento particular, serem pautadas em olhares de mediação, uma vez que, é possível autorar e coautorar currículos escolares nas comunidades. Neste sentido, é preciso lembrar que as pesquisas realizadas por pares, também, estão postas nestes documentos: agora com força de lei para aplicação. Logo, não se trata de gostar ou desgostar simplesmente, mas de mediar para que o currículo da comunidade seja o que melhor atende ao contexto de necessidades dos estudantes e de todos os membros. O financiamento da Educação Pública e Laica é uma conquista da população brasileira, e será muito importante o entendimento de seu funcionamento, origem e caminhos de manutenção. Outra importante aproximação, trata da teorias curriculares, para o entendimento que não existe caminho único ou certo e errado, mas há muita pesquisa que trata de currículo escolar: relacionadas em tempos específicos, aos condicionantes econômicos, a inúmeras correntes sociológicas,filosóficas, fenomenológicas, e também, as que partiram das práticas na realidade de problemas que a educação precisava solucionar. Neste momento, de escrita deste estudo, o problema está nos currículos por habilidades e competências, e isso não quer dizer que problema seja algo negativo, mas que é uma equação que necessita de tratamento, para a melhoria continuada. As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) podem ser Currículos e Programas 5 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos aliadas no processo de fazeres escolares coletivos, neste sentido, o verbo importa quando o aprendizado querer desenvolvimento de habilidades e competências: é preciso pensar como fazer para fomentar os mementos de ações individuais e coletivas. Por fim, neste estudo, o tratamento por aproximação assistemática dos protagonismos, com desmistificação de modismos, no resgate de práticas pedagógicas de muitas aproximações em tempo, e com novas possibilidades que podem ser planejadas e ofertadas por pares nas comunidades escolares. No entanto, para o estudo sempre é tempo de ir além com protagonização do próprio caminho de estudo: na pesquisa e na troca com pares para muito além do que é apresentado em apenas um texto. Currículos e Programas 6 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 1. APROXIMAÇÃO DO TERMO O estudo de Hamilton (1993) colabora com o entendimento das origens dos termos: classe e curriculum, de origem do Latim que significa movimento ou percurso progressivo. No princípio o termo foi utilizado como curriculum vitae que significava o caminho profissional, mas não demorou a servir aos novos modelos educacionais que transformaram a forma como a educação era posta na Idade Média. As scholas que eram moradias de estudantes das universidades passaram a servir para o estudo diário, posto em salas (12 classes/anos). Tal contexto, se construiu com base no ramismo, uma dialética possível em tempo de saberes transmitidos de maneira findada, ao contrário do debruçar no assunto no sentido de descoberta como a tutoria oferecida até então. No entanto, para aproximação do entendimento de curricular, no sentido de verbo (ação), tudo pode estar para o bem e para o mal, pois neste caso a seriação permitiu o ingresso de muitos nas escolas, o que as universidades não conseguiam atender, por serem elitistas e pautadas na tutoria. Neste percurso (currículos/caminhos) os estudantes pesquisavam com professores e, é neste contexto que pode ter ocorrido grande prejuízo na forma como a educação formal se constituiu. Decerto, o currículo ramista serviu para as ações políticas e econômicas da Humanidade: revolução francesa, revolução industrial e aos preceitos do taylorismo, fordismo e toyotismo. Isso significa que a escola para as massas servia ao contexto de trabalho e era eficaz em tempo para que as demandas fossem atendidas, mas como será tratado adiante, também serviu aos modelos políticos no Brasil. O currículo não trata de elencar de conteúdos divididos em disciplinas, mas de um conjunto de pensamentos, normas, ideologias, saberes culturais que pretendem formar cidadãos em determinada perspectiva: tal como o currículo pautado em habilidades e competências como será tratado adiante. Também, está relacionado com correntes de saberes ao longo da história: positivismo, construtivismo e as questões mais recentes que tendem ao contexto de coautorias. Ricci (2002) trata a origem do termo: curriculum como oriunda do verbo latino currere que quer dizer percurso a ser seguido ou correr e, ainda, que na tradição grega Protágoras elaborou a primeira estrutura curricular chamada de trivium: formação em três disciplinas (lógica, gramática e retórica). Pouco depois, surgiu o quatrivium formado por quatro disciplinas (aritmética, geometria, música e astronomia). Posto isso, há arcabouço que permite entendimentos que não se trata de elencar conteúdos divididos por área do conhecimento, ou estabelecer Currículos e Programas 7 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos incontáveis habilidades dispostas em códigos descritores, mas se trata de tudo o que cercar e ocorre no caminho de estudo. Alguns entendimentos levam o currículo ao pensamento global de tudo o que acontece em uma instituição de ensino, ou até mesmo em ambientes não- formais, no entanto, sempre haverá de ter intencionalidade educativa para o desenvolvimento da regulação das aprendizagens. 1.1. OS PRIMEIROS CURRÍCULOS NO BRASIL Quando ocorrida a invasão das terras indígenas pelos portugueses, decerto, os índios possuíam currículos de formação de suas crianças ao menos próximo, talvez, do que se entende por currículo vivido. O fato é que havia língua, modus operandi social e estruturas próprias das culturas locais. Neste sentido, seria injustiça histórica apontar o currículo de além mar como o primeiro no Brasil. Posto isso, os estudos de Ferreira Jr. (2010) apontam que o “Padroado” se estabeleceu por meio da Companhia de Jesus com o objetivo de catequizar as crianças “ameríndias” nas casas de “bê-á-bá”: esse foi o início da imposição das crenças e, sobretudo, da língua europeia (portuguesa) para as culturas que aqui existiam. Se tratava de curricular (ensinar) para o desenvolvimento dos estudantes, mas de demandas colonizadoras e de mão de obra para o extrativismo: de exploração dos nativos. É importante, entender o contexto de aproximações de épocas para a leitura de uma temática, no caso do currículo pode ser produtivo realizar várias idas e vindas nos tempos históricos, com a intenção de relacionar com o presente nas reflexões que nos atenderam no projetar: planejar caminhos (currículos) intencionais. Os currículos jesuíticos, como aponta Ferreira Jr. (2010), seguiram por trezentos anos desde o início em meados de 1549, até o rompimento provocado pelo Marquês de Pombal: pertinente deixar claro que a reforma de Pombal não ocorreu por conta do Brasil, mas foi em Portugal por conta do tamanho da corte (muitas despesas) e do ócio dos monarcas, e neste contexto, buscava aproximação dos interesses dos burgueses e da equilibração de contas para a coroa portuguesa. Posto isso, para o entendimento que nesta aproximação, além da questão política, o cerne estava ligado ao contexto financeiro e o currículo jesuítico que por séculos foi considerado o melhor do mundo, começava a sofrer pressão dos currículos que valorizavam as ciências naturais, ao invés das questões da retórica e da educação para o governo, além da supremacia religiosa. No entanto, as reformas de Pombal não perpetuaram e tempo depois voltaram os currículos jesuíticos, ou apenas assumiram o que apenas mudou de nome durante um curto prazo de tempo. O que mudou apenas com a chegada da corte em 1808 e a instituição de cursos profissionalizantes importantes para Currículos e Programas 8 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos o momento, além de cursos militares, mas o desenho do acesso permaneceu o mesmo: Educação mínima para o trabalho para a grande massa, sem a obrigatoriedade de oferta; Educação regular para o governo e funções da elite para poucos que possuíam posses ou influência política. Decerto, a família real trouxe algumas mudanças para o Brasil com a fundação de uma universidade e bibliotecas. Em 1824, quando foi outorgada a primeira constituição brasileira o sistema de ensino começou a tomar forma de maneira um pouco mais organizada. O império cuidaria do ensino superior e os demais poderes das educação de base, mas sem financiamento claro ou garantia e acesso. Segundo Ferreira Jr. (2010) em 1892 já na república, a reforma paulista de instrução provocou mudanças no sentido de acesso à Educação Básica (quatro primeiros anos escolares), o que reverberou ações em outros dez estados. 1.2. BREVE HISTÓRIA DO CURRÍCULO ESCOLAR NO BRASIL Ferreira Jr. (2010) aponta que no século seguinte houve pressão pela formação de mão de obra e, paraalém, que a educação traria progresso para o País, com isso muitas ações foram desencadeadas em vários estados brasileiros: Sampaio Dória em São Paulo, Lourenço Filho no Ceará, Fernando de Azevedo no Distrito Federal, Anísio Teixeira na Bahia, entre outros. Também, houve a fundação da Associação Brasileira de Educação (ABE) onde ocorreram grandes discussões entre os liberais que defendiam a escola pública e laica e a igreja ainda com fundamentos do padreado. Neste contexto, em entendimento particular, a atenção deve ser nas tentativas de mudanças de várias frentes: de um lado a educação para o trabalho, sobretudo, das demandas industriais surgidas com as grandes guerras que solicitaram produções oriundas de países como o Brasil, de outro defensores do progresso pela emancipação da Educação, ou seja, pelo caminho de plano de nação. A defesa da escola pública e das necessárias reformas educacionais ocorreram com mais vigor em 1932 com o Manifesto dos Pioneiros, e reverberou em pequenas conquistas neste sentido, até o governo de Getúlio Vargas em 1937. Portanto, os bacharelados em Medicina, Direito e Engenharia continua- vam facultados apenas aos concluintes dos cursos propedêuticos, ou seja, eles eram reservados para os jovens das camadas médias urbanas altas e para os das elites econômicas e políticas que haviam cursado o científico e o clássico do ensino médio do 2º ciclo e, por conseguinte, acumulado um “capital cultural escolar” maior. A interdição que impedia a passagem Currículos e Programas 9 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos do ensino profissional para o propedêutico e permitia o acesso aos cursos universitários apenas para os filhos das elites somente foi revogada na dé- cada de 1950, durante o segundo ´período de Getúlio Vargas no governo (1951-1954). (FERREIRA JR., 2010, p. 77) É importante destacar que os ciclos de exclusão eram repetidos na república e que o controle de ascensão das camadas sociais era rigoroso, excludente e escancarado, pois, até então na história do País a educação não servia para todos de maneira igualitária e muito menos com sentido de equidade. O tecnicismo (educação centrada apenas no ensino de um ofício) não oportunizou sequências de estudos, tinha fim político e econômico determinado, um pouco diferente, mas castrador como no início da invasão portuguesa. A primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) foi aprovada em 1961 após anos de disputa ideológica e, mesmo assim, criticada por manter ideologias oriundas do estado novo e do liberalismo com a defesa do elitismo nas bases de ingresso e egresso dos estudantes. Em síntese, para Paulo Freire a sociedade brasileira ainda não havia re- solvido as duas dimensões básicas de qualquer sistema nacional de edu- cação: a expansão quantitativa da escola pública para todas as crianças em idade escolar e a qualidade dos conhecimentos escolares que eram oferecidos às crianças. Pior ainda, para ele, no âmbito das poucas escolas existentes, prevalecia uma concepção de ensino-aprendizagem baseada em conteúdos pedagógicos que estavam totalmente desassociados da realidade socioeconômica concreta vivida pela sociedade brasileira de então. (FERREIRA JR., 2010, p. 90-91) As disputas por uma escola mais justa que valorizasse a formação da população logo foram novamente cerceadas com o Golpe Militar de 1964 que tinha como base a tecnocracia e resgatava a formação para o trabalho destinada às grandes massas: o ensino profissionalizante. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 5692/71 a educação de 1º e 2º graus assumia esse papel de maneira efetiva. O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) substituiu qualquer outro programa vigente e foi um fracasso em desempenho. Para além, foi na chamada educação obrigatória que ocorreu o maior processo de desvalorização do magistério, com formação ineficiente e arrochos salariais. Isso posto, em contrapartida ao sucesso do método desenvolvido por Paulo Freire que alfabetizava, de fato por meio da significação da palavra no contexto social do estudante. Apenas com o processo de redemocratização na década de 1980 começam a surgir propostas com intenção de mudança, pois como posto os ciclos de exclusão para a educação integral foram formados desde sempre no País. No entanto,os Currículos e Programas 10 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos esforços, em entendimento particular, foram centrados na inclusão das crianças em idade escolar, pois mesmo com a Constituição de 1988 os privatistas e os confessionais conseguiram espaço para manter a Educação como negócio e não como bem público garantido integralmente pelo estado. No entanto, novamente em entendimento particular, houve avanços que devem ser considerados em relação ao financiamento da Educação Básica, que será apresentado na legislação posta neste estudo, e aos pressupostos que permitem práticas democrática nos currículos escolares, este como ponto central das possibilidades de mudanças qualitativas. Em todo o período histórico antes da redemocratização as teorias curriculares dominantes foram pautadas no tradicionalismo e no tecnicismo,o que começa a mudar com visões mais próximas do construtivismo de Piaget e nas ideias de Freire. Isso posto para deixar claro que não foi apenas o Brasil que repensou currículos escolares, esse foi um processo mundial diante de necessidades econòmicas como veremos na questão dos estados-nação europeus. Currículos e Programas 11 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 2. DIMENSÕES CURRICULARES O modelo ramista sofreu várias interferências de pensadores que questionavam a educação bancária (Freire) como linha de produção em que o professor dominava retórica findada e transmita ao aluno em aula também findada em tempo. No entanto, o currículo é tensionado por várias correntes de interesse: político, econômico, social, ideológico, religioso, pois está inserido em uma sociedade que se comporta desta forma para quase tudo o que realiza. Neste sentido, é preciso conhecer essas dimensões e entender que a mediação será necessária na prática educativa. Neste sentido, este estudo recorre aos estudos de Gimeno Sacristán (2017) no entendimento dessas dimensões e das necessidades de tratamento na oferta de cursos e planos que ocorrem no cotidiano escolar. 2.1. TERRITÓRIO DISPUTADO Gimeno Sacristán (2017) classificou em âmbitos as dimensões, começando pela questão político-administrativa que regula as ações do sistemas de ensino, isso posto, na Espanha pela experiência do autor, mas que se traduz de maneira quase integral ao sistema educacional brasileiro. O âmbito da atividade político-administrativa. A administração edu- cativa regula o currículo como faz com outros aspectos, professores, es- colar etc. do sistema educativo, sob diferentes esquemas de intervenção política e dentro de um campo com maiores ou reduzidas margens de au- tonomia. Às vezes, chegamos a entender por currículo o que a adminis- tração prescreve como obrigatório para um nível educativo etc., por ser muito presente o alto poder de intervenção que tem esta instância neste tema dentro de nosso contexto, com o consequente poder de definição da realidade e da negação ou esquecimento do papel de outros agen- tes talvez mais decisivos. Este âmbito de decisões deixa bem evidente os determinantes exteriores do currículo, ainda que estejam legitimadas por serem provenientes de poderes democraticamente estabelecidos. (GI- MENO SACRISTÁN, 2017, p. 23) Logo, currículo não pode ser reduzido ao sentido prescrito e cobrado integralmente como previsto no âmbito administrativo, pois dependerá da interações e ações dos curriculistas, postos como integrantes de uma comunidade escolar. Neste contexto, é preciso mediar a qualidade das pesquisas de pares (pesquisadores) que compuseram os currículos prescritos, com as necessidades de cada comunidade escolar. Currículos e Programas 12 Volte ao SumárioNavegue entre os capítulos Desta forma, além da questão da prescrição de conteúdos, há controle desses processos, que tencionam a participação em situações colaborativas e possíveis (conselhos, grêmios, equipes pedagógicas, projeto político pedagógico etc.) e as demandas que são obrigatórias, postas em leis e regimentos, que são cobradas pelo sistema de controle: seja no sistema federal, estadual ou municipal. O subsistema da participação e de controle. Em todo sistema educativo, a elaboração e concretização do currículo, assim como o controle de sua realização, estão a cargo de determinadas instâncias com competências mais ou menos definidas, que variam de acordo com o campo jurídico, com a tradição administrativa e democrática de cada contexto. A admi- nistração sempre tem alguma competência neste sentido. Todas essas funções são desempenhadas pela própria burocracia administrativa, seus corpos especializados, como é o caso da inspeção, mas, à medida que um sistema se democratiza e se descentraliza, deixa para outros agentes al- gumas decisões relativas a certos aspectos ou componentes. As funções sobre a configuração dos currículos, sua concretização, sua modificação, sua vigilância, análise de resultados etc. também podem estar nas mãos de órgãos do governo, das escolas, das associações e sindicatos de pro- fessores, pai de alunos, órgãos intermediários especializados, associações e agentes científicos e culturais etc. Todo currículo se insere num deter- minado equilíbrio de seus conteúdos e formas. (GIMENO SACRISTÁN, 2017, p. 23) É importante observar na colocação do autor que não se trata apenas de um órgão, mas de inúmeros agentes que estão ligados ao contexto de fiscalização, regulação e apoio. Quando o autor trata do subsistema de ordenação fica clara a responsabilidade da sociedade em garantir o acesso de maneira que contemple equidade, pois determinará o acesso ao capital cultural e o contexto de desenvolvimento integral de cada estudante. A ordenação do sistema educativo. A própria estrutura de níveis, ciclos educativos, modalidades ou especialidades paralelas ordenam o sistema educativo, falando em linhas gerais, de forma muito precisa, as mudanças de progressão dos alunos pelo sistema. Regulam as entradas, o trânsito e as saídas do sistema, servindo-se, em geral, da ordenação do currículo, e expressam através dele as finalidades essenciais de cada período de es- colaridade. A distribuição de cultura entre distintos grupos sociais é de- terminada, em boa medida, com base na diferenciação dos currículos de cada ciclo, nível ou especialidade do sistema. É um dos caminhos de inter- venção ou parcela prática em mãos da estrutura político-administrativa que rege o sistema. Os níveis educativos e as modalidades de educação cumprem funções sociais, seletivas, profissionais e culturais diferencia- das, e isso reflete na seleção curricular que tem como conteúdo expresso e nas práticas que se criam a cada caso. À medida que tenha uma descen- tralização de decisões, ou quando existe optatividade curricular no nível de escolas, a ordenação pode ficar em níveis de decisão mais próximos Currículos e Programas 13 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos dos usuários. (GIMENO SACRISTÁN, 2017, p. 24) Outro ponto importante se relaciona com a produção dos meios, pois já há o sistema de controle de prescrição, e a efetivação deste controle pode ocorrer com os materiais didáticos, sobretudo, prontos e findados em tempo. Neste sentido, é importante que as equipes pedagógicas possam autorar e co-autorar materiais didáticos, que atendam melhor os planos de cada comunidade escolar. O sistema de produção de meios posto por Gimeno Sacristán (2017) pode se agravar em contextos de má formação profissional em que a dependência de materiais prontos fica mais visível. Os âmbitos de criações culturais, científicos etc. Na medida em que o cur- rículo é uma seleção de cultura, os fenômenos que afetam as instâncias de criação e difusão do saber têm uma incidência na seleção curricular. Tra- ta-se de uma influência que se exerce mais ou menos diretamente, com mais ou menos rapidez e eficácia, e que se divide de modo desigual em diversas coletividades acadêmicas e culturais. A importância desse sub- sistema é sua comunicação com o currículo é evidente por duplo motivo: porque as instituições onde se localiza a criação científica e cultural aca- bam recebendo os alunos formados pelo sistema educativo, o que gera necessariamente uma certa sensibilização e pressão para os currículos escolares, por um lado, pela influência ativa exerce sobre eles, e, por outro selecionando conteúdos, ponderando-os, impondo firmas de organiza- ção, paradigmas metodológicos, produzindo escritos, textos, etc. Os gru- pos de especialistas na cultura formam “famílias” que têm continuidade e criam dependências nas coletividades de docentes, especialmente dos níveis mais imediatos à criação, e, principalmente, quando professores são especialistas em alguma área ou disciplina. (GIMENO SACRISTÁN, 2017, p. 24) Gimeno Sacristán (2017) discorre, ainda, sobre os: Subsistema técnico- pedagógico: formadores, especialistas e pesquisadores, que trata dos processos de formação dos profissionais da educação; O subsistema de inovação que trata das pesquisas com o fim de melhorar permanentemente a qualidade do sistema educativo. Mas é a prática pedagógica que pode alterar o cotidiano da escola em prazos imediatos: O subsistema prático-pedagógico. É a prática por antonomásia, confi- gurada basicamente por professores e alunos circunscrita às instituições escolares, embora se coloque a necessidade de ultrapassar esse campo muitas vezes isolado. E o que comumente chamamos ensino como pro- cesso no qual se comunicam e se fazem realidade as propostas curricula- res, condicionadas pelo campo institucional imediato e pelas influências dos subsistemas anteriores. É óbvio que o currículo faz referência a inte- ração e ao intercâmbio entre professores e alunos, expressando-se em práticas de ensino-aprendizagem sob enfoques metodológicos muito diversos, através de tarefas acadêmicas determinadas, configurando de uma forma concreta o posto de trabalho do professor e o de aprendiz dos Currículos e Programas 14 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos alunos. Naturalmente, através de todos estes subsistemas, em cada um deles, se expressam determinações sociais mais amplas, sendo o currícu- lo um teatro de operações múltiplas, de forças e determinações diversas, ao mesmo tempo em que ele também, em alguma medida, pode conver- ter-se em determinador das demais. Se o sistema escolar mantém parti- culares dependências e interações com o sistema social em que surge, não poderia ocorrer o contrário ao conteúdo fundamental da escolariza- ção. (GIMENO SACRISTÁN, 2017, p. 25-26) Logo, há muitas dimensões que interferem no currículo e fica claro que não se trata, apenas, de elencar conteúdos em ordens e tempos possíveis, mais de atender ao contexto de integralidade, pois a escola é instituição social e tão dinâmica como a organização da vida. A mediação é importante para que os profissionais da educação (professores e gestores) possam “curricular” e atender ao contexto necessário em cada comunidade escolar. Desta forma, em entendimento particular, não seria incorreto dizer que todas as dimensões têm importância para os sistemas educativos e que cabe aos membros das comunidades regular como se aproximar, cumprir, remodelar, autorar o currículo real (oferecido de fato) com fins qualitativos. Por fim, o que não pode ocorrer é submeter a sociedade em situações de aceitação integral sem processos de reflexão sobre o caminho (currículo) e, isso se dá quando não há preparo e tempo para o exercício de estudos coletivos e discutidos em pares. 2.2. TERRITÓRIO DE AUTORIAS A aproximação dos estudos de Gimeno Sacristán (2017) pode levar ao contexto de busca pelos caminhosautorais das comunidades escolares, pois cada instituição possui membros com necessidades específicas, o meio e as condições que influenciam nos caminhos de estudo. A legislação educacional vigente no Brasil, como veremos adiante permite práticas de gestão democrática, o que oportuniza a busca por caminhos de autorias e coautorias, em currículos validados por pares: isso implica na discussão, imersão e aprovação da comunidade em relação aos caminhos propostos. Muitas propostas de construção em cada comunidade podem levar ao tratamento das necessidades e dos desejos da sociedade e, neste contexto, curricular é um ato de servir ao bem comum: valores humanos. Os conselhos escolares presididos pelo diretor podem determinar as ações necessárias para utilização de verbas, solução de casos específicos, eleições para cargos de gestão e outras ações que impactam na proposta de funcionamento da escola. Grêmios estudantis podem ser constituídos pelos discentes com participação da comunidade escolar, assim como os conselhos, e gerir programas culturais, Currículos e Programas 15 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos ações em prol da comunidade e ações que os estudantes desejam executar. Programa de formação continuada oferecidos aos profissionais das instituições que podem englobar momentos de estudo em universidades e cursos de formação profissional e os momentos de formação continuada em serviço: postos em momentos onde as equipes estudam temas que partem de suas necessidades e desejos, ou seja, que nascem na instituição com base em levantamentos. O Projeto Político Pedagógico (PPP) que deve tratar dos desafios e utopias necessárias à comunidade escolar, da manutenção e ampliação da qualidade dos cursos oferecidos, da inclusão integral e das melhorias para um período letivo. Neste sentido, o PPP deve ser palavra via na elaboração pelos pares da comunidade escolar e na execução integral das ações previstas no documento. Para além, há comunidades que revistam o projeto constantemente durante o ano letivo, checando seu cumprimento e alterando para novas necessidades e desejos da comunidade. Posto isso, o que não pode ocorrer é o esquecimento do PPP e a falta de revisitação ao menos anual, pois isso causa a total dependência de fatores externos ao contexto da comunidade: se a comunidade não sabe onde quer chegar, terá que aceitar o que lhe pedem para fazer sem questionar. Planos de curso são elaborados pela equipe pedagógica em todas as situações de início de ano letivo, pois não é possível iniciar uma jornada de estudo sem rumo pautado em dados: as avaliações de sondagem elaboradas e aplicadas nas primeiras semanas de aula são importantes fontes de dados para os planos de curso, além, da obrigatória aplicação dos elementos do currículo prescrito, por exemplo, os objetivos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no caso da Educação Básica. Planos de aula oferecem caminhos de autoria e co-autoria dos professores, para além, comportam o que chamam de “liberdade de cátedra” que permite que caminhos mais qualitativos, retomadas e atendimentos específicos necessários aos estudantes. Assembleia de classe ocorrem com mediação do professor com a participação dos estudantes, neste sentido, levanta pontos de felicitação (o que deve ser elogiado e perpetuado) e pontos de melhoria (pontos a serem melhorados em todos os aspectos das aulas, com os cuidados de preservação dos participantes), postos os pontos ocorrem votações para caminhos de melhoria. Assembleia escolar com eleições de chapas de alunos para reuniões periódicas que discutem os pontos de melhoria da escola, também relacionados aos mais variados tipos de problemas e desejos. Programas e projetos podem ocorrer com intenções que partam dos participantes com abordagem variada em forma e tempo, podem partir da Currículos e Programas 16 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos intencionalidade de solução de problemas da escola, de desejos de estudo dos alunos ou envolverem questões da comunidade. Eleições de gestores escolares podem ocorrer em períodos diversos (anual ou bienal) para escolha dos coordenadores e diretores das escolar, o que permite que a comunidade participe de maneira ativa no papel dos gestores: sempre como agentes fomentadores das ações da escola. Os caminhos apresentados permitem a participação em momentos de criação de assuntos que podem definir pontos de estudo, pesquisa e formação integral dos estudantes para o exercício da cidadania. Posto isso, um exemplo de prática autoral pode ser a instalação de um curso preparatório para um vestibulinho importante para os estudantes, ou de projetos de combate ao bullying, e ainda, um programa de valorização dos espaços urbanos que podem oferecer interação com a escola: praças, bibliotecas, museus, parques etc. Desta forma, sempre será tempo de autorar currículos que atendam melhor aos diversos contextos, e contextualizar com as propostas oficiais posta em forma de normativas (leis). 2.3. TEORIAS DE CURRÍCULO A obra “Teorias de Currículo” de Lopes e Macedo (2011) colabora neste estudo com mais uma importante aproximação para reflexões acerca dos estudos sobre currículos. Neste sentido, quando foi apresentado o tecnicismo a pretensão era de elucidar sobre seu caráter voltado exclusivamente ao contexto de formação para o trabalho: ensino específico de um ofício, hoje comum nas propostas de cursos técnicos. No entanto, outras teorias e propostas se aproximaram dos currículos brasileiros, como o “padreado (currículo jesuítico)”, o tradicionalismo oriundo do ramismo no final da Idade Média e da Prússia (Prussiano), com sala e tempos tal qual encontramos hoje em dia. Porém, há arcabouço muito mais profundo apresentado por Lopes e Macedo (2011): • eficientismo (currículo científico explicitamente associado a administração escolar); • progressivismo (com menor controle social e buscando diminuir as desigualdades sociais); • matrizes da Nova Sociologia da Educação (NSE); • matrizes da fenomenologia; pós-estruturalismo. Nos anos 1910, na psicologia, o comportamentalismo, e na administração, o teylorismo, ganharam destaque na sociedade americana que se indus- trializa. As demandas sobre a escolarização aumentam, como forma de Currículos e Programas 17 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos fazer face à rápida urbanização e às necessidades de trabalhadores para o setor produtivo. (LOPES; MACEDO, 2011, p. 21) Neste contexto, há uma nova aproximação histórica que pode levar a percepção de desenvolvimento de novas ideias sobre teorias curriculares, por vezes, oriundas dos contrapontos em relação aos contextos de aplicações vigentes em cada época. Por exemplo, em contraponto ao pensamento eficientista surgem as propostas progressivista. Em 1949, como revelam Lopes e Macedo (2011), Ralph Tyler propõem articular abordagens técnicas como as eficientistas com o pensamento progressista (racionalidade tyleriana), e isso resulta em um procedimento linear administrativo em quatro etapas: objetivos de ensino, seleção e criação das experiencias de aprendizagem, organização dessas experiências e avaliação do currículo. Nos anos 70, também como apontam Lopes e Macedo (2011) houve críticas do currículo como aparato de controle social, chamadas de teorias da correspondência ou reprodução. Isso implica na imposição de cultura, saberes e comportamentos dos determinadores de currículo para as classes sociais, e ainda leva a crença de que a igualdade de oportunidades, quando há divergências em caminhos e condições sociais, sobretudo, de acesso à cultura e experiências diversificadas. As autoras apresentam os estudos de Bourdieu e Pessaron (1975) sobre a violência simbólica que forma sujeitos de maneira continuada, por meio da criação de Habitus duráveis. Abordam, também, a organização da Nova Sociologia da Educação (NSE) com Michael Young e Michael Apple e o entendimento que o currículoforma e se forma constantemente de maneira dinâmica pois é objeto social. O currículo oculto subjaz a muitas manifestações curriculares. Na pers- pectiva técnica do fazer curricular que descrevemos no início deste ca- pítulo, há um ótimo exemplo de currículo oculto inscrito na própria for- ma como os currículos são escritos e pensados. Ao optarem por modelos sistêmicos para a definição do que e de como ensinar, tais perspectivas assumem o fazer curricular como questão técnica, científica, ocultando a dimensão ideológica presente nessa seleção. É como se qualquer de- cisão sobre o que e como ensinar não envolvesse disputas ideológicas. (LOPES; MACEDO, 2011, p. 32) Isso posto, para elucidar que a intencionalidade das teorias ainda sofrem as intenções dos sujeitos envolvidos: oculto, neste caso, são as ações não planejadas que ocorrem no cotidiano, tais como, conflitos, assuntos que emergem em diversas situações, fatos sociais e até as crenças dos participantes da comunidade escolar. Logo temos, o currículo prescrito (o intencionado em dispositivos legais), o currículo intencionado (oriundo dos planejamentos das equipes escolares), o Currículos e Programas 18 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos currículo real (o que realmente foi ofertado no cotidiano) e o currículo oculto (o que emergiu durante o processo). No entanto, como bem colocam Lopes e Macedo (2011) as teorias curriculares são importantes pontos de fomentação de ideias, que influenciam de maneira circunstancial a elaboração de propostas curriculares e metodologias de abordagens. Nesse sentido, as autoras discorrem sobre a importância da não pejorar tanto a origem formal de pesquisa e elaboração de currículos, como o currículo vivido como experiência de vida e para desenvolvimento a partir dela. O pós-estruturalismo partilha com o estruturalismo uma série de pressu- postos, deter os quais o mais relevante para a desconstrução dos concei- tos de currículo que apresentamos até agora diz respeito ao lugar da lin- guagem na construção social. Ambos adotam uma postura antirrealista, advogando que, ao invés de representar o mundo, a linguagem constrói. Invertendo a lógica representacional, estruturalistas e pós-estruturalistas que a linguagem cria aquilo de que fala ao invés de simplesmente nomear o que existe no mundo. (LOPES; MACEDO, 2011, p. 38) No entanto, em novos movimento cíclicos as teorias parecem cercar as propostas curriculares em dimensões que ora defendem ou privilegiam uma dimensão e ora outra: tal como um campo em constante movimento de disputa de interesses. A influência norte-americana nos países latinos durante a guerra fria foi grande e aproximou a realidade brasileira de teorias relacionadas a taxonomias na década de 1950 e nas décadas subsequentes, tanto que não seria surpresa encontrarmos livros texto (livro didático), hoje, com seções na ordem exata da classificação dos domínios cognitivos da taxonomia de Bloom. Isso também não representa que tudo precisa ser mudado, mas que o papel reflexivo das equipes pedagógicas ajudará na oferta de caminhos diversos que contemplem a formação integral, ou a intenção dessa oferta. Lopes e Macedo (2011) apontam que a matriz estruturalista gerou um discurso apoiado na concepção de esquema de Piaget: Um esquema seria o que há de invariante em uma ação ou operação, no entanto, pequenas acomodações permitem que ele se adeque a situa- ções singulares. Os sujeitos possuiriam um conjunto de esquemas mais gerais que lhes permitiriam, quando associados em situações concretas, operações diversas como abstração, conceitualização, comparação, sín- tese, julgamento. Diariamente, os sujeitos acionam, sem notar, vários es- quemas – uma espécie de inconsciente prático ou habitus -, com o qual criam práticas adaptadas a situações novas. Para situações mais comple- xas, em que é necessário lançar mão de vários esquemas que competem entre si e se recombinam, os esquemas estabilizados que compõem o ha- Currículos e Programas 19 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos bitus podem ser insuficientes. Em face de tais situações, torna-se neces- sária uma intervenção educacional com a função de criar competência para que os sujeitos possam acionar esquemas com eficácia frente a uma situação nova. (LOPES; MACEDO, 2011, p. 55) Os psicologismos (construtivismo, interacionismo e behaviorismo) são influenciadores de concepção curricular, neste contexto, é importante entender que metodologia, didática e teoria curricular são campos que se entrelaçam, interdependem e, talvez, não seja possível de separá-los na prática. No entanto, Lopes e Macedo (2011) colocam a discussão sobre a contemporaneidade e a relação performática, ou seja, se a intenção é a formação integral e isso inclui o trabalho (futuro), como desenvolver competência para habitar um mundo em constante transformação? As autoras apontam as pesquisas de Perrenoud com as características da ação humana: saber-fazer, saber-ser, saber-aprender, cooperar e até viver, e as pesquisas de César Coll e os referenciais específicos: a) socioantropológico, que considera os diferentes aspectos da reali- dade social em que o currículo será aplicado; b) psicológico, que se vol- ta para o desenvolvimento cognitivo do aluno; c) epistemológico, que se fixa nas características próprias das diversas áreas do saber tratadas pelo currículo; d) pedagógico, que se apropriado conhecimento gerado na própria sala de aula em experiências prévias. (LOPES; MACEDO, 2011, p. 59) Novamente os psicologismos, com apontam Lopes e Macedo (2011) contribuem no embasamento da proposta de sistematização de currículo apresentada por Coll: psicologia genética de Piaget; zona de proximal desenvolvimento (Vygotsky); conhecimento prévios de aprendizagem significativa (Ausubel). Posta essa pequena aproximação das teorias curriculares será de suma importância a pesquisa do estudante que pode utilizar-se das referências bibliográficas dispostas neste estudo e outros caminhos de revisão sistemática e assistemática de literatura. Outro ponto importante, serão as aproximações desses estudos com as equipes pedagógicas das instituições em que atuarem, no sentido de formação permanente que auxilie a fundamentar as construções entre pares e as intecionalidades das propostas curriculares. Logo, não basta apenas o consumo da prescrição sem o conhecimento da área, suas origens de pensamentos e a avaliação de quais contextos atendem melhor cada comunidade em tempos diversos: neste sentido, o currículo deve ser palavra viva em comunidade escolar, isso significa que é explicado por todos e ao mesmo tempo apontam os reais significados de suas adoções, remixagens e constantes revisitações. Currículos e Programas 20 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Para além, não há caminho único no sentido dessas aproximações de construção nas comunidades escolares, pois são muitos elementos que podem ser aproveitados de uma teoria para a outra, inclusive em possibilidades de novas abordagens que partam da própria equipe, posto que o ato de autorar leva aos novos contextos de entendimento e de fazeres. Isso posto, porque por vezes modismos e rótulos são pregados como se fossem a solução ideal para determinada comunidade, e não é este o objetivo de busca pela qualidade, pois essa busca se relaciona com a capacidade de prática, de transformar o currículo vivido em regulador das aprendizagens de todos os membros da comunidade. Talvez, o tempo de deixar a supremacia do conteúdo decorado, para prestar atenção no progresso de cada estudante, e realmente perceber que ele está se desenvolvendo no caminho de estudo proposto. Currículos e Programas 21 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 3. CURRÍCULO EM HABILIDADE E COMPETÊNCIAS As habilidades estão postas na vida em contextos que se formam de relações da natureza humana (filogênese) e dos processos de aquisição dos elementos da cultura(sociogênese). Neste contexto, a escola como fomentadora das questões relacionadas ao capital cultural, desde sempre, aborda situações de desenvolvimento de habilidades: básicas, operacionais e globais. No entanto, habilidade não é algo que se ensina como conteúdo conceitual, pois envolve o campo procedimental (carece de fazer sem número exato de vezes e variável de pessoa para pessoa), e se relaciona com o atitudinal (para que fazer? Envolve o bem comum?). Quando ocorre a realização de um processo com destreza (savoir-faire) há o entendimento de competência, ou seja, aquilo é bem feito e pode ser melhorado e utilizado em outras inúmeras situações. 3.1. A ORIGEM EUROPEIA DO TERMO Em meados dos anos 1990 como apontam Chizzotti e Casali (2012) a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizou estudos que apontaram a necessidade de mudança nos sistemas de ensino dos estados-nação da União Europeia. O fato é que os países asiáticos estavam investindo em tecnologia para a produção de novos produtos e soluções inovadoras, o que reverberou em investimentos consistentes em educação. Para além, os Estados Unidos já eram produtor de tecnologia, e isso colocava a Europa em situação de desvantagem. O estudo demandou uma equipe multidisciplinar (especialistas) para a elaboração de um relatório que fosse capaz de orientar a construção de currículos escolares que favorecessem o desenvolvimento de estudantes capazes de desenvolver inovações e tecnologias de várias ordens, ou seja, a geração que seria capaz de produzir com tecnologias nos estados-nação europeus. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nos anos 1990 procurou promover a integração cooperativa in- terna para o desenvolvimento econômico do bloco, criando mecanismos de incremento de sua competitividade. A uniformização econômica e cultural interna do bloco introduziu novas concepções e práticas de ge- renciamento dos serviços públicos. Trouxe, na sequência, a necessidade de se pautar uma reforma dos sistemas nacionais de educação e dos cur- rículos escolares, considerados anacrônicos para a requerida moderniza- ção econômica e cultural dos Estados-membros. Entretanto, a pretensão Currículos e Programas 22 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos da OCDE transcendeu seus limites territoriais, políticos e culturais: pau- tou a necessidade de uma urgente reforma do Estado no resto do mundo. (CHIZZOTTI; CASALI, 2012, p. 14). A OCDE lançou em 1997 o Programme for International Student Assessment (PISA) que avalia as competências em leitura, matemática e atualmente em ciências, como apontam os autores. Neste contexto, a Definição e Seleção das Competências-Chave (DeSeCo Project) foi elaborado por especialistas entre 1997 e 2003 e estabeleceu que uma competência é mais complexa do que habilidades, pois reúne habilidades e conhecimentos em prol da solução de um problema específico. Chizzotti e Casali (2012) apontam nove competências-chave distribuídas em três categorias que resultaram no relatório DeSeCo: Categoria 1- Capacidade de (to be able to) usar ferramentas interativa- mente, tanto as físicas, quanto as das tecnologias da informação e as so- cioculturais: a) a linguagem, os símbolos e os textos; b) o conhecimento e a informação; c) as tecnologias. Categoria 2 – Capacidade de interagir com pessoas e grupos heterogê- neos, de diferentes culturas: a) relacionar-se bem com os outros; b) coo- perar e saber trabalhar em equipe; c) saber gerir e resolver conflitos. Categoria 3- Capacidade de agir de modo autônomo, responsavelmen- te: a) saber compreender, decidir e agir considerando o contexto social amplo; b) ser capaz de organizar e realizar planos de vida e projetos pes- soais; c) ser capaz de fazer valer direitos, interesses, limites e necessida- des. (CHIZZOTTI; CASALI, 2012, p. 15) As intencionalidades desses currículos pautados em habilidades e competências ficam claras do ponto de vista político e econômico, e para além, também ofertaram mudanças consistentes no cotidianos das escolas de alguns estados-nação. Logo, será muito interessante a pesquisa de currículos que possam mostrar esse caminho: currículo da Escócia, Finlândia, Alemanha e outros países que podem oferecer leituras de como são ofertados os caminhos formativos com oficinas, tecnologias digitais e analógicas, caminhos colaborativos, metodologias ágeis, planos de vida, tratamento do desenvolvimento socioemocional, e tantas outras ações que podem indicar os caminhos percorridos por estas comunidades. 3.2. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9394/96, previu a construção de um currículo nacional, com o objetivo de estabelecer caminhos mínimos como direito de aprendizagem de todos os estudantes brasileiros na Educação Básica. Currículos e Programas 23 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Logo, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para o bem e para o mal, foi prevista desde 1996 com o objetivo de equidade, ao menos de oferta de uma proposta curricular. Decerto, como todas as ações curriculares anteriores sofreu influência externas e correu os riscos de educação comparada (quando algo funciona em outra comunidade e é aplicado em outro contexto da mesma forma, pois cada comunidade escolar tem especificidades e profissionais diversos: o processo carece de significação e preparo. No entanto, resgatando a vantagem da mediação de contextos, os currículos prescritos são elaborados por pesquisadores e trazem contribuições valiosas para a melhoria da qualidade. Para além, a BNCC se apresenta como normativa, ou seja, tem força de lei e deve ser ofertada nas escolas regulares da Educação Básica. Posto isso, a BNCC se pauta em habilidades e competências pautado em um processo de construção desde a LDBEN 9394/96: A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de cará- ter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendi- zagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham asse- gurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em confor- midade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)1, e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fun- damentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN)2. (BNCC, 2017, p.7) O aporte na definição de competência orienta em relação ao contexto de oferta dos currículos escolares, ou seja, traz indícios da necessidade de contextualização com as ações do cotidiano, da vida e do desenvolvimento para o trabalho e cidadania. Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimen- tos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e so- cioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BNCC, 2017, p. 8) A BNCC apresenta competências gerais, comuns aos estudantes de toda a etapa da Educação Básica, específicas para cada segmento (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e por campos de experiência na Educação Infantil e por áreas no Ensino Fundamental e Médio. Em entendimento particular, a melhor opção de aproximação do documento Currículos e Programas 24 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos é a leitura inicial e a utilização como objeto de consulta na composição de currículos nas comunidades escolares. Não se trata de decorar o documento, mas de sua utilização para a composição dos planos de curso e de aula. Decerto, uma outra aproximaçãonecessária deve ocorrer nos processos formativos, tanto das licenciaturas como nos momentos de estudos coletivos das equipes pedagógicas, talvez, começando pela vivência de caminhos possíveis para as competências gerais: como ofertar processos de desenvolvimento dessas competências? 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realida- de, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma socieda- de justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imagina- ção e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das lo- cais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produ- ção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Li- bras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimen- tos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e co- municação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas prá- ticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e dissemi- nar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciên- cia crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioam- biental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. Currículos e Programas 25 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emo- ções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos hu- manos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, fle- xibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (BNCC, 2017, p.9-10) O site do Ministério da Educação (MEC) oferece o documento para navegação dinâmica no próprio site, para aquisição de cópia em PDF e em planilha dinâmica de consulta. Posta a aproximação da BNCC, o próprio documento prevê que os sistemas de ensino e escolas devem construir suas propostas, sobretudo, pautadas nas necessidades da cultura local, para além, das necessidades relacionados ao contexto socioeconômico. Neste sentido, vários sistemas estaduais, municipais e escolas privadas construíram propostas próprias, como o Currículo Paulista (CP) elaborado pelo sistema de ensino do Estado de São Paulo e adotado por alguns municípios. Isso implica em seguir a BNCC com aportes de autoria que atendam ao contexto dessa região do País. Novamente em entendimento particular, não se trata de seguir de maneira ramista os códigos postos em conjuntos, mas de refletir como a escola se programará para as mudanças necessárias em várias ordens. Isso posto, porque o tempo de desenvolvimento de habilidades não é o mesmo da aula pautada em retórica, os layouts da escola devem oferecer espaços para trocas, utilização de tecnologias variadas e novos programas de projetos e oficinas. Mesmo a escola de tempo integral precisa resolver as questões do currículo integrado, ou seja, é preciso estimular o engajamento dos estudantes e apontar o significado destes caminhos de estudo:precisam ser de interesse desses alunos ao ponto de serem percebidos e defendidos por eles. O caminho de aproximação deste estudo pode ser válido com os estudos de currículos de outros países e de escolas do Brasil (que já atendem ao proposto), no entanto não se trata de copiar as práticas, mas de construí-las com significado em cada comunidade escolar específica. Currículos e Programas 26 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Curricular, neste caso, significa promover aproximação mais autorais e co- autorais que admitam tentativas entre erros e acertos: ação/reflexão/ação, pois não se trata de fazer o que sempre foi feito, ou de fazer a nova proposta em tempos e formas do currículo pautado em conteúdos conceituais: se trata de construir a prática em equipe, de maneira colaborativa em ações do cotidiano. Por fim, novamente em entendimento particular, é importante a reflexão de aproximação, pois não ocorrerá mudança sem tempo possível, neste sentido, é preciso experimentar aos poucos, sem jogar fora o que já se faz, mas estabelecer caminhos que provoquem majorança (Majorar de Piaget). Mudanças drásticas podem provocar o caos desnecessário para a formação da comunidade escolar: mesmo o estudante e o responsável podem questionar propostas com rupturas sem o entendimento do motivo (embasamento). Currículos e Programas 27 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 4. SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO As atribuições de responsabilidades de cada sistema de ensino brasileiro não mudou muito desde a época do império: Sistema Federal: Ensino Superior (Público e Privado), escolas e institutos mantidos pela união ou instituições diretamente ligadas ao governo fe- deral; Sistemas Estaduais: Ensino Superior mantido diretamente pelo estado, Ensino Médio, Ensino Fundamental e Educação Infantil onde ainda não ocorreu a municipalização e regulação das escolas particulares de Ensino Fundamental e Médio; Sistemas Municipais: Educação Infantil e Ensino Fundamental e regula- ção das escolas particulares de Educação Infantil. O Ministério da Educação (MEC) junto com o Conselho Nacional de Educação (CNE) regulam a legislação educacional do País e articulam programas específicos de ações e de medição da qualidade como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). 4.1. LEGISLAÇÃO A Constituição de 1988 é o documento magno, posto como política pública educacional: Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cida- dania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, Art. 205) Para além, a Constituição do Brasil regula inúmeros pontos importantes, como a liberdade de ensinar e aprender, a carreira do magistério e os direitos e obrigações da sociedade com o plano educacional. Isso é importante porque em aproximações de constituições anteriores muitos pontos não ficavam claros ou devidamente tratados, tais como: financiamento e direito integral ao acesso. Art. 206 (*) O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - li- berdade de aprender, ensinar,pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coe- xistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissio- nais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magis- tério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. Currículos e Programas 28 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos (*) Emenda Constitucional Nº 19, de 1998. (BRASIL, 1988, Art. 206) O Poder Legislativo, por meio de emendas constitucionais, pode alterar o texto da constituição, por isso é necessária a ação dos órgãos de classe, entidades e movimentos que demonstram os interesses da população em relação ao contexto de qualquer mudança destas garantias em políticas públicas. Além da leitura dos artigos da Constituição de 1988 será de suma importância a leitura da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9394/96, pois esse arcabouço de políticas públicas foi construído ao longo do processo de redemocratização do País. Isso posto, porque parece que houve pouca evolução no caminho educacional brasileiro, mas a garantia de acesso em massa é um grande passo que, em entendimento particular, deve ser valorizado. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liber- dade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de institui- ções públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de quali- dade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013). (LDB, 1996, Art. 3) Outro fator de importante aproximação se refere ao contexto das deliberações, emendas, pareceres, resoluções e outros documentos com força de lei que complementam as ações de políticas públicas para a legislação educacional do Brasil. Neste caminho, será muito importante o estudo dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), diretrizes curriculares (DCN) que antecederam a BNCC, mas que são suporte para a construção da base, e para além, são referenciados nesse contexto. Por fim, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contem- porâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora. Entre esses temas, destacam-se: direitos da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), educação para o trânsito (Lei nº 9.503/199717), educação ambiental (Lei nº 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 e Resolução CNE/CP nº 2/201218), educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/200919), processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso (Lei nº 10.741/200320), educação em direitos humanos (Decreto nº 7.037/2009, Parecer CNE/CP nº 8/2012 e Resolução CNE/CP nº 1/201221), educação Currículos e Programas 29 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008). (BNCC, 2017, p.19) Isso posto, também, para a atenção necessária ao contexto de currículo em Direitos Humanos, dos tratamentos dos acolhimentos necessários para a inclusão em todas as suas frentes, pois, é preciso entender e tratar igualdade e equidade como direito posto em lei. Logo, se trata de um compromisso legal de humanização, de reversão de injustiças ocorridas por séculos e do respeito ao cidadão no atendimento de suas necessidades específicas para garantia do acesso ao estudo. O Plano Nacional de Educação (PNE) vigente de 2014-2024 deve ser lido integralmente, pois ele é aporte para o que a sociedade e os governos devem seguir para garantir a sequência de ações de melhoria da qualidade, neste contexto, as ações, por vezes, estão longe de atender o mínimo do que foi estabelecido nas metas do plano. Será muito interessante a busca em pesquisa nas leis que garantem a organização democrática da escola pública, com liberdade de cátedra e eleições de membros (gestores escolares e conselheiros), para a percepção de que a importâncias dessas garantias são postas na formas de construção dos currículos. Nesse sentido, a escola não precisa de capataz que cobre processos burocráticos o tempo todo, mas de gestores e membros da comunidade engajados que saibam conduzir processos colaborativos de melhoria, porque é equipamento público de e para a comunidade. 4.2. FINANCIAMENTO Art. 212 (*) A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mí- nimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. § 1.º A par- cela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Mu- nicípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir. § 2.º Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213. § 3.º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao aten- dimento das necessidades do ensino obrigatório, nos termos do plano nacional de educação. § 4.º Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com re- cursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamen- tários. § 5.º O ensino fundamental público terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida, na Currículos e Programas 30 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos forma da lei, pelas empresas, que dela poderão deduzir a aplicação rea- lizada no ensino fundamental de seus empregados e dependentes. (*) Emenda Constitucional Nº 14, de 1996. (BRASIL, 1988, Art. 212) Posto isso, o processo de redemocratização foi muito importante para políticas que suportam a origem dos fundos que financiam a educação brasileira, seja como forma redistributiva ou de repasse direto é importante para a garantia dos serviços oferecidos e dos planejamentos para cada ano letivo. O Fundo de Manutenção da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) definido como permanente em 2020 é suporte fundamental para a garantia da oferta educacional, sobretudo, para que os sistemas municipais consigam arcar com os investimentos necessários. Há garantia de repasse per capita (por aluno matriculado) com a composição dos inúmeros repasses de impostos que compõem o fundo, para além o repasse da União deve aumentar já no ano letivo de 2021. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é órgão responsável pela execução de uma série de ações em relação à merenda escolar, livro didático, transporte escolar, Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), construção de escolasetc. O CAQ e o CAQi garantem o investimento inicial para o aluno poder ir à escola e o custo por ano para mantê-lo neste caminho. Neste sentido, as verbas previstas não estão atendendo de maneira efetiva a garantia da qualidade, é preciso melhorar. O arcabouço apresentado não engloba todas as ações que garantem o funcionamento por meio de financiamento legal da Educação Básica, e para além, não tratou do financiamento do Ensino Superior. Logo, é preciso entender os caminhos já estabelecidos para a regulação dos serviços ofertados em todos os sistemas de ensino públicos: é preciso defender a educação pública e laica para não transformar um plano de nação em um plano de negócio, pois cairemos novamente em mais segregação como vimos desde a invasão portuguesa. 5. TECNOLOGIAS E CURRÍCULO A tecnologia está presente na ação humana em todo a sua história, na forma Currículos e Programas 31 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos de construir os abrigos, no fogo, vapor, na agricultura e nas ações do cotidiano das formas de desenvolvimento social. Logo, seria simplório tratar de tecnologias no currículo escolar como se fosse algo novo, pois sempre houve a busca e utilização destas linguagens em propostas. Uma breve aproximação de tecnologias analógicas adotadas no magistério pode nos levar: flanelógrafo, lousa, material dourado, tangram, mimeógrafo, retroprojetor, máquina de escrever, blocos lógicos, laboratórios de ciências, televisão, videocassete, entre outros. Isso posto, para reflexão sobre a escola como parte da sociedade e habitada por seus tempos e modus operandi, por mais que se passe a impressão de que houve rupturas neste processo de interação e interatividade. Quando solicitamos a memória para tratar das tecnologias digitais, na chamada “Era digital”, por vezes, podemos nos deparar com as ações dos estudantes, de alguns professores e em algumas escolas, mesmo antes da pandemia provocada pela COVID-19. Essas ações estão na utilização de hardwares e softwares para momentos de aproximação no cotidiano, envolvendo ou não caminhos de estudo relacionados à escola. No entanto, a comunicação mediada pelas tecnologias tornou o mundo afronteiriço em muitas aproximações, remixes e formas de pesquisa, por exemplo. Decerto, o estudante acessará a informação que lhe convier em tempo que decidir, não mais apenas por oferta em livros e bibliotecas, pois o arcabouço de informações que a internet comportou, realmente, pode trata de quase tudo o que se deseja pesquisar em um primeiro momento. Esse processo de multiletramento e multimodalidade de fazeres no universo tecnológico digital estão, para o bem e para o mal, na escola e em todos os ambientes educativos. Carecem de proficiência em técnicas, de crítica sobre os benefícios do como e quando fazer uso, mas na transversalidade de solução de problemas e criação de utopias. Posto isso, a busca pela aproximação das TDIC e das metodologias ativas serão cíclicas e majorantes. no sentido de entender que são recursos e ao mesmo tempo formas de curricular, e para além, de permitir ao estudante o papel de curriculante, nas coautorias com os colegas e professores. 5.1. TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO As carências e necessidade de inclusão digital foram escancaradas com a pandemia, por exemplo, mas se o acesso aos fazeres com tecnologias forem realidades apenas de alguns, isso provoca mais prejuízo em relação aos processos de exclusão social. Neste sentido, é importante a aproximação das colocações de Almeida e Valente, 2016 no sentido de políticas públicas. É importante notar que as políticas de implantação das tecnologias na Currículos e Programas 32 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos educação tratam de aspectos que são recorrentes. Praticamente todas estabelecem como visão ou objetivo para suas propostas o uso das TIC para a melhoria da qualidade da educação. Invariavelmente, abordam questões de infraestrutura, competências de seus gestores e professo- res e existência de material de suporte. Nesse aspecto, a política atual da Holanda é baseada em um modelo bastante consistente e didático, que não só sintetiza os elementos básicos das políticas dos diferentes países analisados, como pode ser adotado como base conceitual de análise das políticas e ações implementadas no Brasil. Para tanto, é importante que ele seja recontextualizado em uma nova proposta, que leve em conta a estrutura e o funcionamento dos sistemas de ensino e as relações entre as esferas federal, estadual e municipal, bem como a realidade das esco- las brasileiras. (ALMEIDA; VALENTE, 2016, p. 27) Logo, o caminho se relaciona com a adoção de tecnologias digitais, mas de maneira crítica, sobretudo, de políticas públicas que permitam a inclusão digital dos estudantes em qualquer comunidade escolar. Posto isso, não basta a busca por recursos que auxiliem nas formas de construir entre professores e estudantes: é preciso cuidar da tecnologia como forma de resolver problemas, construir utopias (planos), e isso começa pelo direito ao acesso. Em decorrência das mudanças especificadas e da evolução das políti- cas de TIC na educação, destacam-se algumas observações, que se re- lacionam com distintas instâncias do sistema educativo: 1) A alteração das atividades curriculares não é algo que o sistema escolar conseguirá fazer sem o apoio de pesquisaação que a realimente e envolva todos os atores do sistema educativo em parceria com pesquisadores. O mesmo pode ser mencionado sobre os demais eixos. 2) A integração das mídias e tecnologias digitais à educação extrapola o uso de suas ferramentas e de seus recursos para tornar mais eficazes os processos convencionais de ensinar, aprender e gerir a sala de aula, a escola e o sistema de ensino, en- trelaçando-se com o currículo e com a avaliação em seus conceitos, práti- cas e metodologias, provocando transformações em todos os elementos envolvidos. 3) Os quatro eixos mencionados no modelo Four in Balance devem ser alcançados em uma perspectiva de equilíbrio entre eles e per- passados transversalmente por um eixo constituído por currículo, avalia- ção e pesquisa. (ALMEIDA; VALENTE, 2016, p. 27) Caminhando com as proposições de Almeida e Valente, 2016 há percepção da importância da pesquisa (busca de informações para construção de conhecimento). Logo, em entendimento particular, as ações de aproximação devem questionar os motivos da adoção de recursos e metodologias que envolvem as TDICs no contexto de uma comunidade escolar. Pode se tratar da utilização para contextos de fazeres completamentes diferentes dos convencionados pela escola por séculos, pois implica na busca de Currículos e Programas 33 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos significado do uso no processo de estudo, sobretudo, quando posto no sentido de solução de problemas coletivos: interação de todos nas construções. No que concerne ao currículo da cultura digital desponta o clamor de um currículo que se coaduna com as características inerentes às tecnologias digitais de informação e comunicação, em especial, a interação multidire- cional e não hierárquica, a participação, a autonomia na seleção de infor- mações oriundas de distintas fontes, linguagens e culturas, a construção colaborativa de conhecimentos, a colaboração e a partilha. (ALMEIDA, 2019, p. 10) Há percepção clara nas colocações de Almeida, 2019 que não se trata de aulas específicas de tecnologia, mas de sua inserção nos contextos do que ocorre na escola, o que irá desencadear aproximações múltiplas, remixadas em novas perspectivas de currículo escolar. Neste sentido, é uma oportunidade de trabalho colaborativo, de provocar o estudante na solução de problemas e ações para situações de troca entre pares, ou seja, pode ser tirar os estudantes da posição de ouvintes de tempo integral. Estes pressupostos colocam o currículo e as tecnologias ao serviço dos estudos
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