Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 1 SP 2.2 → Beta HCG - Medicina Laboratorial A Gonadotrofina Coriônica humana é um hormônio glicoproteico, conhecido comumente como hCG, que é fisiologicamente produzido pela placenta durante a gestação. Sua função é manter o corpo lúteo durante o início da gestação, aproximadamente por 10 semanas (quando alcança seu pico), e estimular a produção de esteroides, impedindo que ocorra a perda do endométrio e haja o fim da gravidez. A gonadotrofina coriônica humana (hCG) é estruturada pela combinação de duas subunidades (ou frações), alfa (αhCG) e beta (βhCG), sintetizadas separadamente pelo tecido trofoblástico normal, mola hidatiforme, coriocarcinoma, células hipofisárias e tecidos tumorais de diversos tipos histológicos. A fração βhCG é utilizada para investigar gravidez. A análise do soro (sangue) apresenta maior sensibilidade que a análise de urina. A dosagem laboratorial de βhCG pode ser quantitativa (quando os resultados são numéricos, determinando a concentração sérica) ou qualitativa (quando os resultados são reagente/não reagente, baseados em um limiar padronizado). O teste imunocromatográfico usado para detectar hCG em soro, plasma ou urina utiliza o princípio do método de fixação de duplo anticorpo. O hCG presente na amostra forma inicialmente um complexo com o anticorpo monoclonal anti-α-hCG marcado com ouro coloidal. Então, o complexo formado migra através da membrana por capilaridade. Quando o complexo alcança a linha teste, ele se liga ao anticorpo monoclonal anti-β-hCG, que recobre a zona de detecção. Os resultados obtidos nesse teste serão qualitativos, se for reagente, aparecerá uma linha vermelha na região teste. Se o resultado for não reagente, não ocorrerá formação de linha vermelha nessa região. Resultado Reagente: Se a linha controle (C) VERMELHA e a linha teste (T) VERMELHA aparecerem, o teste indica a presença de hCG na amostra. O resultado é reagente para hCG. A presença da linha teste, mesmo em coloração fraca, indica resultado reagente. Resultado Não Reagente: Se somente a linha controle (C) VERMELHA aparecer, a ausência de coloração na linha teste (T) indica que não foi detectado hCG na amostra. O resultado é não reagente para hCG. Inválido: Se a linha C não aparecer, o teste é inválido mesmo com o aparecimento da linha T. A linha controle deverá sempre aparecer se o procedimento for realizado adequadamente e os reagentes do teste forem funcionais. Repetir o teste com uma nova tira teste. → Histologia Folículo primordial: formado por um ovócito primário envolvido por uma única camada de células foliculares achatadas. A maioria desses folículos se localiza na região cortical, próximo à túnica albugínea. A lâmina basal envolve as células foliculares e marca o limite entre o folículo e o estroma conjuntivo adjacente. Folículo primário unilaminar: folículo em crescimento, há aumento das células foliculares (cúbicas). Folículo primário multilamelar: células foliculares se multiplicam formando as células da granulosa (síntese hormonal); aparecimento da teca externa e interna (síntese hormonal); secreção da zona pelúcida (proteínas e glicoproteínas) pelo ovócito e pelas células da granulosa; Folículo secundário antral: tecas interna e externa bem definidas; corona radiata começa a ser formada pelas células da granulosa; formação das cavidades antrais (acúmulo de líquido rico em ácido hialurônico); o cumulus oophorus (pedículo constituído por células foliculares) fixa o ovócito à parede do folículo. Folículo maduro ou de Graaf: Tamanho grande, camadas da granulosa esticam (diminuem espessura), presença do antro; no ovócito secundário a primeira Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 2 fase da meiose é completada e inicia-se a segunda divisão meiótica. → Fase proliferativa (folicular) e secretória (lútea) O ciclo endometrial mensal tem duração média de 28 dias e pode ser dividido em: (1) fase menstrual; (2) fase proliferativa; e (3) fase secretória. O início da fase menstrual marca o 1º dia do ciclo endometrial. A fase menstrual ocorre devido a involução do corpo lúteo e consequente queda abrupta dos níveis de estrogênio e progesterona. A queda nos níveis de estrogênio e progesterona causa a contração das artérias espirais (seu rompimento gera sangramento), levando-as à hipóxia e necrose da camada funcional do endométrio. Toda a camada funcional se desprende da camada basal, ocasionando à diminuição da espessura endometrial. *Com níveis de estrogênio e progesterona em baixa o feedback negativo sobre o hipotálamo (GnRH) e hipófise (FSH e LH) chega ao fim. A fase proliferativa (folicular ou estrogênica) consiste na renovação da camada funcional do endométrio (reepitelização e reconstrução das glândulas secretoras e artérias espirais), sob a influência do estrogênio secretado pelo ovário. Na lâmina pode-se observar glândulas uterinas retas, luz estreita e pouca secreção no interior. *(1) Secreção de GnRH pelo hipotálamo; (2) consequente secreção de FSH e LH pela hipófise anterior; (3) aumento da secreção de estrogênio e progesterona (hormônios gonadais) devido ao crescimento do folículo – sob ação do FSH. A fase secretória (lútea) depende da produção de progesterona pelo corpo lúteo. O pico de LH e FSH na fase proliferativa desencadeia a ovulação, consequentemente ocorre aumento moderado do nível de estrogênio (causará proliferação celular adicional ao endométrio) e aumento significativo do nível de progesterona (causará inchaço e desenvolvimento secretor acentuados do endométrio) à medida que o corpo lúteo se desenvolve. Sob ação da progesterona as glândulas uterinas iniciam uma intensa atividade secretora (secreção de glicogênios, proteínas e gordura – importantes para a nidação). Na lâmina as glândulas uterinas encontram-se tortuosas, com luz dilatada e secreção interna. O endométrio atinge sua espessura máxima (cerca de 5 a 6 mm). *(1) Altas concentrações de estrogênio e progesterona devido ao corpo lúteo; (2) feedback negativo sobre hipotálamo e hipófise anterior. O corpo lúteo possui vida de 12 dias + 2 dias de involução, resultando em 14 dias fixos para a fase lútea (secretora) até o início do próximo ciclo (menstruação). → Climatério O climatério é a fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher, caracterizado por uma gama de modificações endócrinas, biológicas e clínicas. O período do climatério é dividido em três principais estágios: a perimenopausa, a menopausa e a pós- menopausa. A perimenopausa é o primeiro estágio do climatério e antecede a menopausa. Neste estágio, as mudanças se iniciam. A perimenopausa é marcada por uma queda gradual do estrogênio. A irregularidade menstrual costuma ser o primeiro sintoma aparente. Depois, com o corpo produzindo cada vez menos estrogênio, outros sintomas aparecem: ondas de calor, insônia, ganho de peso, mudanças de humor, ressecamento vaginal e queda na libido. A menopausa é reconhecida retrospectivamente, quando há 12 meses consecutivos de amenorreia (ausência de menstruação). Nesta fase ocorre a cessação permanente da menstruação, resultante da perda da atividade folicular ovariana, e consequente produção mínima de estrogênio. A pós-menopausa corresponde ao período após o evento da menopausa. Durante esse estágio, os sintomas climatéricos (ondas de calor, insônia, ganho de peso, mudanças de humor, ressecamento vaginal e queda na libido) permanecem e podem se intensificar. O diagnóstico do climatério é clínico, não havendo necessidade de dosagens hormonais para confirmá-lo quando há irregularidade menstrual ou amenorreia e quadro clínico compatível. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina2022.2 Página | 3 Consequências do hipoestrogenismo Receptores estrogênicos existem em diferentes concentrações em vários locais do organismo – como pele, ossos, vasos, coração, diversas regiões do cérebro, mama, útero, vagina, uretra e bexiga – e a redução nos níveis de estrogênio circulante gera efeitos diferentes para cada mulher. As características individuais determinam perfis diferentes de biodisponibilidade de estrogênios com repercussões próprias no metabolismo e quadro clínico-laboratorial de cada paciente, podendo resultar no comprometimento da qualidade de vida. Alterações no ciclo menstrual A queixa mais frequente na transição menopausal é a irregularidade menstrual, com alteração na intensidade do fluxo, na duração ou frequência da menstruação. Sintomas vasomotores Compreende os episódios de fogachos e suores noturnos, resultando no sintoma mais comum da transição menopausal e pós-menopausa inicial, sendo referido por mais de 80% dessas mulheres. O fogacho se manifesta como uma súbita sensação de calor intenso que se inicia na face, pescoço, parte superior dos troncos e braços, e se generaliza; além disso, é seguida por enrubecimento da pele e subsequente sudorese profusa. Observa-se aumento do fluxo sanguíneo cutâneo, taquicardia, aumento da temperatura da pele devido à vasodilatação e, eventualmente, palpitações. A fisiopatologia exata do fogacho não é conhecida. Entretanto, sabe-se que a redução dos níveis séricos estrogênicos provoca alterações em neurotransmissores cerebrais causando instabilidade no centro termorregulador hipotalâmico, tornando-o mais sensível a pequenos aumentos da temperatura corporal relacionados a alterações intrínsecas e ambientais. Alterações cognitivas Durante a transição menopausal, há marcado aumento nas queixas referentes ao declínio das funções cognitivas, com ênfase nas queixas de diminuição da atenção e alterações da memória. Sabe-se que o estrogênio tem papel modulatório nos sistemas neurotransmissores, influenciando o desempenho nas tarefas de aprendizagem e memória. Sua ação no hipocampo e lobo temporal também já é conhecida. Apesar de o hipoestrogenismo estar intimamente relacionado a essas alterações, a fase de transição – caracterizada por oscilações nos níveis hormonais – parece ser a mais sintomática. Parece que o efeito da deficiência estrogênica na memória e outras funções cognitivas não são permanentes nas mulheres após menopausa natural. Qualidade de vida Em mulheres na pós-menopausa, a presença de sintomas climatéricos está fortemente associada à diminuição da qualidade de vida quando se utilizam instrumentos específicos de avaliação. As mulheres que são sintomáticas no momento inicial dos ensaios clínicos mostram melhora significativa com uso da TH na qualidade de vida. Riscos da terapêutica hormonal O uso da Terapia Hormonal estroprogestativa é limitado pelo aumento do risco de câncer de mama em três a cinco anos, enquanto a terapia estrogênica isolada teria maior período de uso com segurança. Em consenso, a Associação Brasileira de Climatério considera que não há duração máxima obrigatória para o uso da TH e que ela deve ser suspensa quando os benefícios não forem mais necessários ou quando a relação risco-benefício for desfavorável. O uso de TH é uma decisão individualizada em que a qualidade de vida e os fatores de risco, como idade, tempo de pós-menopausa, e risco individual de tromboembolismo, de DCV e de câncer de mama, devem ser avaliados. SP 2.3 → VDRL e IgG, IgM (toxoplasmose) - Med Lab Para o diagnóstico da sífilis podem-se utilizar os testes treponêmicos e os não treponêmicos. Testes não treponêmicos apresentam mais resultados falso- positivos que os testes treponêmicos. Testes treponêmicos detectam anticorpos contra antígenos do Treponema pallidum. O FTA-abs (Fluorescent treponemal antibody absorption) é um teste treponêmicos com a técnica de imunofluorescência indireta. Os testes rápidos (treponêmicos) utilizam a técnica de imunocromatografia. Testes não treponêmicos detectam anticorpos não treponêmicos (anticardiolipínicos, reagínicos ou lipoídicos). Esses anticorpos não são específicos para Treponema pallidum, porém estão presentes na sífilis. Os testes não treponêmicos podem ser qualitativos (reagente/não reagente) ou quantitativos (titulações). O VDRL (Venereal Disease Laboratory) é um teste não treponêmicos com a técnica de floculação. Os testes de floculação baseiam-se em uma suspensão antigênica que contém cardiolipina, Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 4 colesterol e lecitina. No preparo da suspensão antigênica, a ligação desses componentes ocorre ao acaso e resulta na formação de estruturas arredondadas denominadas micelas. Os anticorpos não treponêmicos presentes na amostra ligam-se às cardiolipinas (a cardiolipina sódica utilizada no preparo do antígeno VDRL é obtida de coração de boi) das micelas. A ligação de anticorpos em várias micelas resulta na floculação, que pode ser observada ao microscópio. As amostras reagentes devem ter o título reportado no laudo, e deve seguir de solicitação de um teste treponêmico. A toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário intracelular obrigatório denominado Toxoplasma gondii, cujo hospedeiro definitivo é o gato. IgG: anticorpos de memória, quando reagente a infecção aconteceu há semanas ou meses e pode ou não estar ativa IgM: imunoglobulina marcadora de infecção recente/ativa IgM IgG Interpretação (–) (–) Indivíduo suscetível (–) (+) Infecção pregressa curada, indivíduo imune (+) (–) Infecção em curso sem anticorpos de memória (+) (+) Infecção em curso com anticorpos de memória → Gestação de alto risco Risco habitual → Atenção Primária à Saúde • Idade entre 16 e 34 anos; • Aceitação da gestação; • Ausência de complicações clínicas prévias à gestação; • Ausência de intercorrências clínicas ou obstétricas na gravidez anterior e/ ou na atual. Médio risco/Risco intermediário → APS c/ apoio de equipe multiprofissional ou APS c/ apoio de ambulatório pré-natal de alto risco • Idade menor que 15 anos ou maior que 35 anos; • Condições de trabalho desfavoráveis: esforço físico excessivo, carga horária extensa, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos nocivos, níveis altos de estresse; • Indícios ou ocorrência de violência doméstica ou de gênero; • Situação conjugal insegura; • Insuficiência de apoio familiar; • Capacidade de autocuidado insuficiente; • Não aceitação da gestação; • Baixa escolaridade (< 5 anos de estudo); • Uso de medicamentos teratogênicos; • Altura menor que 1,45 m; • IMC < 18,5; • Transtorno depressivo ou de ansiedade leve; • Uso ocasional de drogas e ilícitas; • Etilismo sem indicativo de dependência; • Tabagismo com baixo grau de dependência; • Gestante em situação de rua ou em comunidades indígenas, quilombolas ou migrantes; • Gestante negra (cor de pele preta ou parda); • Outras condições de saúde de menor complexidade. • Abortos precoces (até 12 semanas) em gestações anteriores (até 2 abortos consecutivos); • Histórico de pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia em gestação anterior; • Insuficiência istmo-cervical; • Alterações no crescimento intrauterino (restrição de crescimento fetal e macrossomia); • Malformação fetal; • Nuliparidade ou multiparidade (5 ou mais partos); • Diabetes gestacional; • Síndromes hemorrágicas ou hipertensivas sem critérios de gravidade; • Infertilidade; • Cesáreas prévias (2 ou mais); • Intervalo interpartal < 2 anos; • Depressão e ansiedade leves sem necessidade de tratamento medicamentoso; • Asma controlada sem uso de medicamento contínuo; • Hipotireoidismo subclínico diagnosticado na gestação; • Gestação resultantede estupro; • Gestação gemelar dicoriônica-diamniótica; • Diabetes gestacional controlada sem medicação e sem repercussão fetal; • Hipertensão gestacional ou préeclâmpsia sem sinal de gravidade materno-fetal; • Infecção urinária (até 2 ocorrências) ou 1 episódio de pielonefrite; • Ganho de peso inadequado (insuficiente ou excessivo); • Doenças infecciosas: sífilis (exceto sífilis terciária ou suspeita de sífilis congênita), toxoplasmose aguda sem repercussão fetal, herpes simples; • Suspeita ou confirmação de dengue, vírus zica ou chikungunya (quadro febril exantemático); • Restrição de crescimento fetal suspeita; • Feto acima do percentil 90%; • Anemia leve a moderada (hemoglobina entre 9 g/dl e 11 g/ dl). Alto risco → Ambulatório pré-natal de alto risco ou ambulatório de pré-natal especializado • Etilismo com indicativo de dependência; • Tabagismo com indicativo de dependência elevada; • Dependência e/ou uso abusivo de drogas; Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 5 • Agravos alimentares ou nutricionais: IMC ≥40 kg/m², desnutrição, carências nutricionais (hipovitaminoses) e transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia, outros); • Abortamento habitual/recorrente (ocorrência de 3 ou mais abortamentos consecutivos); • Aborto tardio ou morte perinatal explicada ou inexplicada; • Isoimunização Rh; • Acretismo placentário; • Pré-eclâmpsia grave, síndrome HELLP. • Prematuridade anterior; • Cesariana prévia com incisão clássica/corporal; • Doença psiquiátrica grave: psicose, depressão grave, transtorno bipolar, outras; • Hipertensão arterial crônica; • Diabetes mellitus 1 e 2; • Doenças genéticas maternas; • Antecedente de tromboembolismo (TVP ou embolia pulmonar); • Cardiopatias (valvulopatias, arritmias e endocardite) ou infarto agudo do miocárdio; • Pneumopatias graves (asma em uso de medicamento contínuo, doença pulmonar obstrutiva crônica – doença pulmonar obstrutiva cronica e fibrose cística); • Nefropatias graves (insuficiência renal e rins policísticos); • Endocrinopatias (hipotireoidismo clínico em uso de medicamentos e hipertireoidismo); • Doenças hematológicas: doença falciforme (exceto traço falciforme), púrpura trombocitopênica idiopática, talassemia e coagulopatias; • Histórico de tromboembolismo. Doenças neurológias (epilepsia, acidente vascular cerebral, deficits motores graves); • Doenças autoimunes (lúpus eritematoso, síndrome do anticorpo antifosfolipídeo – SAAF, artrite reumatoide, outras colagenoses); • Ginecopatias: malformações uterinas, útero bicorno, miomas intramurais maiores que 4 cm ou múltiplos e miomas submucosos, ou cirurgia uterina prévia fora da gestação; • Neoplasias – quadro suspeito, diagnosticado ou em tratamento; • Transplantes; • Cirurgia bariátrica; • Doenças infecciosas: tuberculose, hanseníase, hepatites, condiloma acuminado (no canal vaginal ou no colo uterino, ou lesões extensas/numerosas localizadas em região genital ou perianal); • Diagnóstico de HIV; • Infecção urinária de repetição: ≥3 episódios de infecção do trato urinário (ITU) baixa ou ≥2 episódios de pielonefrite; • Doenças infecciosas: sífilis terciária ou resistente ao tratamento com penicilina benzatina ou com achados ecográficos suspeitos de sífilis congênita, toxoplasmose aguda com suspeita de repercussão fetal, rubéola na gestação, citomegalovírus na gestação, diagnóstico de HIV/aids na gestação; • Restrição de crescimento fetal confirmada; • Desvios da quantidade de líquido amniótico; • Insuficiência istmocervical diagnosticada na gestação atual; • Trabalho de parto pré-termo inibido na gestação atual; • Anemia grave (Hb <9 d/dL) ou anemia refratária a tratamento; • Hemorragias na gestação atual; • Placenta prévia (diagnóstico confirmado após 22 semanas); • Colestase gestacional (prurido gestacional ou icterícia persistente); • Malformação fetal ou arritmia cardíaca fetal; • Qualquer patologia clínica que repercuta na gestação ou necessite de acompanhamento clínico especializado. Outras condições de saúde de maior complexidade. → Ação da progesterona na gravidez A progesterona é também essencial para uma gravidez bem-sucedida; na verdade, é tão importante quanto o estrogênio. Além de ser secretada em quantidade moderada pelo corpo lúteo no início da gravidez, é secretada posteriormente em quantidades enormes pela placenta. A progesterona permite a produção de mucopolissacarídeos para que o endométrio se prepare para receber o óvulo fecundado, promovendo a nidação; promove a tolerância imunológica; estimula o aumento das glândulas mamárias; e causa a inibição da lactogênese. A principal função da progesterona é provocar o relaxamento da musculatura lisa uterina (evitando que contrações causem um aborto espontâneo), entretanto, acaba interferindo em outros órgãos, como o intestino materno, diminuindo a sua motilidade. Essa ação possibilita maior tempo para absorção dos nutrientes, porém desencadeia o quadro de constipação intestinal. Há lentidão do esvaziamento gástrico e relaxamento do esfíncter esofagiano (podendo gerar refluxo, pirose, náuseas e vômito); diminuição do tônus da musculatura (podendo Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 6 contribuir para alterações osteoarticulares e artralgia); relaxamento do ureter (ocasionando escape de urina). A progesterona ainda reduz a resistência periférica venosa; interage com o centro respiratório promovendo hiperventilação e alcalose respiratória compensada; causa modificações cutâneas pela estimulação do hormônio melanotrófico (alterações na pigmentação); e pode provocar cefaleia devido à vasodilatação e edema cerebral. SP 2.4 → Alterações fisiológicas da gravidez Secreção da Glândula Tireoide Aumentada. A glândula tireoide materna aumenta, em geral, até 50% durante a gravidez e eleva sua produção de tiroxina em quantidade correspondente. A maior produção de tiroxina é causada pelo menos parcialmente por efeito tireotrópico da gonadotropina coriônica humana, secretada pela placenta e por pequenas quantidades do hormônio específico estimulante da tireoide, a tireotropina coriônica humana, também secretada pela placenta. Sistema Hematológico. O volume sanguíneo aumenta em proporção ao débito cardíaco, mas o aumento no volume plasmático é maior do que a massa de glóbulos vermelhos, portanto, a hemoglobina é diluída e diminuída. Sistema Cardíaco. A partir da 6ª semana, o débito cardíaco aumenta em 30% a 50%, devido principalmente à demanda por circulação placentária uterina. Ele atinge seu máximo entre a 16ª semana e a 28ª semana (geralmente na 24ª semana). À medida que a placenta e o feto se desenvolvem até o nascimento, o fluxo sanguíneo para o útero deve aumentar. Em média, a partir da 30ª semana até o parto, o débito diminuirá ligeiramente. Durante o trabalho de parto, ele aumentará; após o parto, o útero se contrai, e o débito cardíaco ainda é 15% a 25% maior do que o normal, diminuindo lentamente nas próximas 3 a 4 semanas, até atingir o valor pré-gestacional por volta da 6ª semana após o parto. Para aumentar o DC, a frequência cardíaca é aumentada de um valor normal de 70 bpm para um valor de 90 bpm, e o volume sistólico também é aumentado. Embora o débito cardíaco e os níveis de renina e angiotensina aumentem devido à dilatação da circulação placentária (desenvolvimento do espaço interplacentário) e à diminuição da resistência vascular sistêmica, a pressão arterial geralmente diminui no segundo trimestre (aumento da pressão de pulso se alarga). → Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) Fisiopatologia. A gestação se caracteriza por ser estado de resistência à insulina. Essa condição, aliada à intensa mudança nos mecanismos decontrole da glicemia, em função do consumo de glicose pelo embrião e feto, pode contribuir para a ocorrência de alterações glicêmicas, favorecendo o desenvolvimento de DMG nessa fase. Alguns hormônios produzidos pela placenta e outros aumentados pela gestação, tais como lactogênio placentário, cortisol e prolactina, podem promover redução da atuação da insulina em seus receptores e consequente aumento da produção de insulina nas gestantes saudáveis. Esse mecanismo, entretanto, pode não ser observado em gestantes que já estejam com sua capacidade de produção no limite. Essas mulheres têm insuficiente aumento da insulina e, assim, podem se tornar diabéticas durante a gestação. O DMG é um tipo de diabetes que surge durante a gravidez e pode ou não desaparecer após o parto, ocorre por uma resistência à ação da insulina, sendo por causa dos hormônios da gravidez, os hiperglicemiantes e enzimas placentárias que reduzem a ação da insulina, da mesma forma aumentando o modo compensatório, ou seja, o pâncreas aumenta a produção de insulina para suprir essa redução, sendo que em algumas mulheres grávidas esse processo não acontece, e ocorre como consequência o aumento da glicose no sangue, resultando em DMG, isso devido o pâncreas não produzir insulina ou não agir de maneira correta, sendo que a insulina promove a redução da glicose. O desenvolvimento da DMG pode estar anexo ao aumento dos hormônios contrarreguladores da insulina, que são o hormônio lactogênico placentário; hiperglicemiantes como cortisol; estrógeno; progesterona e prolactina. Sua fisiopatologia também pode estar atrelada ao estresse, fatores biológicos, genéticos e ambientais. Fatores de risco para DMG: • Idade (aumento progressivo com o avançar da idade); • Sobrepeso/obesidade (IMC ≥ 25 kg/m2); • Antecedentes familiares de diabetes mellitus – DM (primeiro grau); • Hemoglobina glicada (HbA1c) ≥ 5,7%; • Síndrome dos ovários policísticos; • Hipertrigliceridemia; • Hipertensão arterial sistêmica; • Acantose nigricans; • Doença cardiovascular aterosclerótica; • Uso de medicamentos hiperglicemiantes; • Duas ou mais perdas gestacionais prévias; • Diabetes gestacional; Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 7 • Polidrâmnio; • Macrossomia (recém-nascido anterior ≥ 4kg); • Óbito fetal/neonatal sem causa determinada; • Malformação fetal. → Diagnóstico de DMG – Medicina Laboratorial Limiar de reabsorção renal da glicose = 160 a 180 mg/dL; quando o limiar renal é ultrapassado pode aparecer glicose na urina. Caso haja aparecimento de glicose (em valores séricos normais) na urina indica má absorção renal, sendo necessária a avaliação da função renal (ureia e creatinina). Para a realização do exame de glicemia de jejum, utiliza-se uma amostra de soro e o kit (reagente enzimático 1 e reagente padrão – preparação de 3 tubos (1) branco, (2) padrão e (3) amostra). A técnica aplicada baseia-se no método colorimétrico enzimático (leitura de absorbância em espectrofotômetro). A metodologia utilizada no TTG é o ensaio colorimétrico enzimático e a intepretação se dá pela análise da glicemia (curva glicêmica) em cada período. → Fenômenos fisiológicos no pós parto imediato Vagina: Progressiva atrofia do epitélio escamoso de revestimento, independentemente da presença da lactação; Corpo do útero: Logo após o parto, encontra-se pouco acima da cicatriz umbilical. Então sofre acelerado processo involutivo entre o 3º e o 10º dia, quando então reassume sua localização intrapélvica; Istmo do útero: cursa com processo de contração e retração, porem sem a intensidade do corpo uterino; Cérvice uterina: Persiste permeável a um ou dois dedos até o 3º dia pós-parto, e, por volta do 9º ou 10º dia, apenas o orifício externo encontra-se entreaberto; Endométrio uterino: Dentro de 2 a 3 dias após o parto, a decídua remanescente se divide. A camada superficial torna-se necrótica e é eliminada nos lóquios, enquanto a camada basal adjacente ao miométrio permanece intacta e dá origem ao novo endométrio. Esse novo endométrio origina-se da proliferação das glândulas endometriais remanescentes e do estroma do tecido conjuntivo interglandular. É um processo rápido, exceção feita ao leito placentário e, por volta de 1 semana pós-parto, já se identifica um novo epitélio glandular recobrindo a maior parte da cavidade uterina. → Preenchimento do partograma O partograma compreende 4 partes, que devem ser preenchidas de hora em hora, ou quando a gestante for reavaliada. A primeira parte é a identificação da paciente (nome completo, documento, idade da gestante, IG). A segunda parte refere ao acompanhamento da dilatação e a altura (descida) do feto, duas informações que devem ser anotadas a cada toque vaginal que for realizado. O preenchimento dessa parte deve ser uma linha pré-determinada que indicará possível sinal de alerta e/ou de ação. A terceira parte é o registro de Batimentos Fetais e deve ser marcado apenas com um ponto na frequência que o feto apresenta no momento do exame. Em seguida, há o registro das contrações. A quarta e última parte, é onde será anotado se há ou não uso de ocitocina (especificar dose utilizada), o aspecto do líquido amniótico (claro ou meconial) e o aspecto da bolsa (íntegra ou rota). O partograma faz parte do prontuário médico, portanto ao preencher uma coluna (correspondente a uma hora) o examinador deve assinar, indicando que ele realizou o exame. SP 3.1 → Cocaína e maconha – Medicina Laboratorial A cocaína é uma substância natural encontrada nas folhas da planta Erythroxylum coca, conhecida também como coca ou epadú. Esta substância de ação Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 8 dopaminérgica é responsável por um alto índice de dependência, manifestando, assim, um complexo problema de saúde pública. Após ser absorvida, a substância segue pela corrente sanguínea até o seu local de ação, os receptores. Sua velocidade provém da velocidade do fluxo sanguíneo e também pela condição em que a substância transita pelas membranas celulares e pelas barreiras protetoras do corpo. Devido o fluxo sanguíneo no cérebro ser mais intenso do que em outra parte do corpo, as substâncias que conseguem ultrapassar a barreira hematencefálica conseguem chegar com mais agilidade no sistema nervoso central. A cocaína quando absorvida alcança imediatamente o sistema nervoso central (SNC) e age, sobretudo, no sistema dopaminérgico, despertando sua hiperestimulação, intensificando a liberação e ampliando o tempo de ação dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e serotonina. Estes neurotransmissores são secretados para a realização da sinapse, sendo novamente conduzidos para o interior dos neurônios por meio de transportadores inibidos pela cocaína. A noradrenalina e a serotonina estão relacionadas às funções de controle de humor, motivação e cognição/percepção. A noradrenalina está especificamente vinculada ao comportamento motor fino e à manutenção da pressão arterial. O processo natural da neurotransmissão dopaminérgica ocorre quando a dopamina é liberada pelas vesículas sinápticas deslocando-se da sinapse por meio dos transportadores de recaptação de dopamina na membrana pré-sináptica. Com a ação da cocaína ocorre a intensificação da neurotransmissão dopaminérgica, dificultando o transporte de recaptação da dopamina, ampliando a concentração sináptica dopaminérgica, devido à molécula de cocaína bloquear o transportador de dopamina. Este bloqueio provoca o acúmulo do neurotransmissor na fenda sináptica, levando a uma hiperestimulação dos neurônios pós-sinápticos no sistema mesolímbico. Esse processo incita os sintomas de euforia e agitação. Os efeitos imediatos da droga duram de 30 a 40minutos, pode levar o indivíduo ao estado de euforia, sensação de poder, agressividade, perda do apetite, delírios, excitação física e mental. No organismo, suas reações implicam em taquicardia, hiperglicemia, aumento na frequência dos batimentos cardíacos, dentes anestesiados, tremores e midríase (dilatação da pupila). A cocaína é frequentemente autoadministrada através da inalação nasal, injeção intravenosa e inalação de vapor pelo aquecimento da base livre. Ela é excretada na urina como benzoilecgonina em um tempo curto. O teste rápido de cocaína é um imunoensaio cromatográfico qualitativo (reagente/não reagente) baseado na ligação competitiva pelos anticorpos entre a droga conjugada imobilizada sobre a membrana e a droga ou seu metabólito que possa estar presente na amostra de urina. Durante a análise, uma amostra de urina migra através da ação da capilaridade. Uma amostra de urina positiva não formará uma linha vermelha na área teste por causa da competição da droga, enquanto que um resultado negativo da amostra de urina formará um linha na área teste por causa da ausência de competição de droga. Independente da presença da benzoilecgonina, uma linha vermelha na área controle sempre aparecerá. A presença desta linha serve como verificação de volume suficiente de amostra, de fluxo apropriado e como um controle para os reagentes. *Os testes rápidos para maconha e cocaína apresentam o resultado positivo/negativo de forma oposta ao teste de gravidez. O Brasil, maconha é o nome popular dado à planta de nome científico Cannabis sativa; ela pode ser preparada de diferentes formas; o que varia em seu preparo é o conteúdo do ingrediente ativo, o tetrahidrocannabinol (THC), droga psicoativa que afeta a mente e o corpo. Há numerosos receptores de THC no sistema nervoso central, principalmente no cerebelo, núcleos da base e hipocampo, que atuam sobre o equilíbrio, os movimentos e a memória. Os efeitos do THC são no cérebro, coração ou aparelho cardiovascular e pulmões. Um dos efeitos é a liberação de dopamina no cérebro, o que cria uma sensação de prazer. A maioria destas alterações ocorre de maneira aguda e parecem ser reversíveis. Os usuários tendem a desenvolver problemas com a memória recente e podem apresentar um prejuízo da capacidade de desempenhar tarefas com etapas múltiplas. O THC pode desregular o ritmo cardíaco, provocando condições como taquicardia, contração ventricular prematura, fibrilação atrial e arritmias ventriculares. O THC também parece estimular o sistema nervoso simpático, responsável pela resposta de "luta ou fuga", Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 9 resultando em aumento da frequência cardíaca, maior demanda de oxigênio, pressão sanguínea mais alta e disfunções na paredes arteriais. O Imunocrom Maconha (THC) é um imunoensaio cromatográfico de ligação competitiva. O teste consiste de um dispositivo cromatográfico absorvente no qual a droga ou os metabólitos da droga na amostra compete com um conjugado da droga imobilizado sobre uma membrana porosa por sítios limitados de anticorpo. Como a amostra teste flui através do dispositivo absorvente, a droga livre na amostra compete com o conjugado de antígeno imobilizado na área teste pela ligação ao conjugado de cor-anticorpo formando um complexo antígeno-anticorpo e impedindo a formação de uma faixa cor de rosa quando o nível de detecção da droga for igual ou superior a 50 ng/ml. No caso onde a droga livre na amostra estiver abaixo do nível de detecção de 50 ng/ml, o conjugado de cor-anticorpo está livre para ligar ao antígeno imobilizado na área teste, produzindo uma faixa cor de rosa. Além disso, o conjugado de cor não ligado se liga ao reagente na área controle, produzindo uma faixa cor de rosa, demonstrando que os reagentes e o dispositivo estão funcionando corretamente. Droga Amostra Período de duração Álcool Saliva Algumas horas após o uso Urina 7-12 horas Sangue Algumas horas após o uso Maconha Urina Uso eventual: 7 dias Uso frequente: 25 dias Sangue Algumas horas após o uso Cabelo 1-6 meses Saliva 12-24 horas Cocaína Urina Uso eventual: 3 dias Uso frequente: 7 dias Cabelo 1-6 meses Sangue Algumas horas após o uso → Inibidores de colinesterase (intoxicação grave) Os compostos organofosforados e carbamatos são inibidores da colinesterase, impedindo a inativação da acetilcolina, permitindo assim, a ação mais intensa e prolongada do mediador químico nas sinapses colinérgicas, a nível de membrana pós-sináptica. A acetilcolina é sintetizada no neurônio a partir da acetilcoenzima A e da colina. É inativada por hidrólise sob ação da acetilcolinesterase, com formação de colina e acido acético que, por sua vez, são reutilizados para formação da acetilcolina. A acetilcolina é o mediador químico necessário para transmissão do impulso nervoso em todas as fibras pré ganglionares do SNA, todas as fibras parassimpáticas pós ganglionares e algumas fibras simpáticas pós-ganglionares. Para que haja a transmissão sináptica é necessário que a acetilcolina seja liberada na fenda sináptica e se ligue a um receptor pós-sináptico. Em seguida, a Ach disponível é hidrolizada pela acetilcolinesterase. Quando há a inibição da acetilcolinesterase, ocorre um acúmulo de acetilcolina na fenda, levando a uma hiperestimulação colinérgica (estimulação excessiva dos receptores da acetilcolina). A intoxicação por inbidores da colinesterase têm um quadro clínico característico de hiperestimulação colinérgica. A maioria dos carbamatos, em geral, não causam sintomatologia exuberante a nível de sistema nervoso central (SNC) entretanto, quando esses sinais estão presentes, são considerados sinais de gravidade. As intoxicações graves por inseticidas inibidores das colinesterases habitualmente estão associadas a distúrbios ácido-básicos, metabólicos e hidroeletrolíticos. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 10 Ainda com relação à intoxicação por inibidores da acetilcolinesterase, ambos os grupos levam à hiperglicemia transitória até 05 vezes superior aos valores normais, sendo contudo contra-indicado o uso de Insulina. Há ainda relatos na literatura de pancreatite com todo o cortejo de manifestações abdominais, elevação da amilase sanguínea em valores três ou mais vezes superiores aos normais, e parotidite, ambas relacionadas à ingestão de organofosforados e/ou carbamatos. Pode ainda ocorrer arritmias cardíacas (fibrilação atrial e ventricular) até 72 horas após a intoxicação. → Carbamatos, organofosforados e colinesterases Há três tipos de colinesterase no organismo humano: a) A Acetilcolinesterase: colinesterase verdadeira, colinesterase específica ou eritrocitária - encontrada no tecido nervoso, na junção neuromuscular e nos eritrócitos. É sintetizada durante a eritropoiese renovada de 60 a 90 dias e tem afinidade específica para a acetilcolina. b) A Pseudocolinesterase: colinesterase inespecífica, plásmatica ou sérica - hidrolisa vários ésteres, entre eles a acetilcolina. Localiza-se principalmente no plasma, fígado e intestinos. Sua síntese ocorre a nível hepático e renovação se dá de 07 a 60 dias. No SNC está presente em células gliais, mas não em neurônios. Na superfície da colinesterase existe um centro ativo para inativação da acetilcolina que contém um sítio aniônico e um esterásico. A inibição da colinesterase se dá através da ligação do composto com o centro esterásico da enzima diferindo apenas o tipo de ligação (fosforilação em organofosforado ou carbamilação em carbamatos). Tais substâncias são posteriormente hidrolisadas e a enzima regenerada. A taxa de regeneração varia de acordo com o composto. Se isso não ocorrer, supõe-se que uma forma fosforiladamuito estável tenha sido produzida pela perda de um grupo alquil. Tal fenômeno denomina-se “envelhecimento” da enzima e quando ocorre, esta não mais se regenera. Esse fato é importante na terapêutica, pois dele depende a utilização ou não de oximas (reativação da enzima). A efetividade das oximas é, então, diretamente proporcional à precocidade de sua administração e inversamente proporcional à taxa de “envelhecimento”. Tal fenômeno ocorre com alguns organofosforados. Os organofosforados são ditos inibidores irreversíveis da acetilcolinesterase, enquanto os carbamatos são ditos inibidores reversíveis (sofrem hidrólise in vivo em 12 a 48 horas). c) A Esterase Neuropática Alvo: “esterase neurotóxica” ou (NTE) - a ação neurotóxica tardia de alguns OF nos nervos periféricos é independente da inibição da colinesterase, mas parece estar intimamente relacionada à fosforilação de uma esterase específica no tecido nervoso. Também no caso da NTE, o “envelhecimento” da enzima, ou seja, o estabelecimento de ligações covalentes estáveis entre a enzima e o grupamento fosfato do OF, provoca ataxia e agrava o desenvolvimento da doença. A NTE pode ser também encontrada em linfócitos periféricos humanos (ainda não estabelecidos como indicadores biológicos de efeito), no fígado, em plaquetas, entre outros tecidos. A função fisiológica dessa enzima é ainda desconhecida. Parece que o efeito neurotóxico ocorre pela inibição na produção da enzima mais do que pela inibição de sua atividade, ou seja, parece interferir nos processos de transporte axoplasmático, manutenção e reparo da integridade das células nervosas (corpo celular e axônio). → Chumbinho (Aldicarb) O Aldicarb (é um carbamato), puro ou misturado com outros carbamatos e/ou organofosforados vem sendo comercializado ilegalmente como raticida, com o nome vulgar de CHUMBINHO. O produto ilícito, por vezes, contém ainda materiais espúrios, como pólvora, semente (alpiste), raticidas cumarínicos, areia, entre outros. Os sintomas típicos de intoxicação por ‘chumbinho’ são as manifestações de síndrome colinérgica e ocorrem em geral em menos de 1 h após a ingestão, incluindo náuseas, vômito, sudorese, sialorréia (salivação excessiva), borramento visual, miose (contração da pupila), hipersecreção brônquica, dor abdominal, diarréia, tremores, taquicardia, entre outros. Mecanismo de efeitos tóxicos: • Inibição da Acetilcolinesterase, resultando no acúmulo de acetilcolina nas sinapses colinérgicas no sistema nervoso central, periférico somático e autônomo, levando ao aumento da resposta nos receptores pós-sinápticos, nicotínicos ou muscarínicos; • No caso dos inseticidas carbamatos, a inibição é reversível e a reativação da enzima é espontânea e rápida, geralmente acontece em menos de 24 horas; • Nas exposições a inseticidas organofosforados, a inibição é quimicamente mais estável quando comparada aos carbamatos e a recuperação da enzima pode ser mais lenta, podendo levar dias a semanas e até ser irreversível, onde a reativação Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 11 dependerá da síntese de novas moléculas de acetilcolinesterase. Dose tóxica: • Varia de acordo com o princípio ativo porém é sempre uma intoxicação potencialmente grave necessitando de um diagnóstico rápido e pronta intervenção terapêutica; Farmacocinética dos Carbamatos Absorção: • Bem absorvidos por ingestão e inalação e através da pele e mucosas; Trabalhos recentes mostram que atravessam a barreira hematoencefálica; • Pico plasmático em cerca de 30 a 40 minutos da ingestão. Distribuição: • São lipossolúveis possibilitando uma boa distribuição em todo os tecidos incluindo o SNC; • O Aldicarb (chumbinho) na forma líquida possui uma elevada lipofilicidade e uma toxicidade dérmica muito maior que a de outros carbamatos. Metabolismo: A maior parte é biotransformada no fígado. Eliminação: Cerca de 90% é excretado na urina dentro de 3 a 4 dias. SP 3.2 → Intoxicação crônica Efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do toxicante; período de exposição > 3 meses. As manifestações da intoxicação crônica decorrem do acúmulo de doses do tóxico no organismo ou do acúmulo de danos. Entre as principais consequências da intoxicação crônica temos as mal formações congênitas, as neoplasias e os problemas hepáticos, hematológicos, imunológicos, neurológicos. A intoxicação crônica pode ser (1) Local, quando atinge áreas específicas como olhos e pele; ou (2) Sistêmicas, quando seus efeitos atingem os sistemas orgânicos. A intoxicação ainda pode ser classificada em (1) Leve, quando é rapidamente reversível e os sintomas desaparecem com o fim da exposição; (2) Moderada, quando é reversível e os sintomas ou distúrbios não provocam danos; (3) Severa, quando as mudanças são irreversíveis causando lesões ou morte. → Efeitos tóxicos do benzeno O benzeno é uma das substâncias mais produzidas industrialmente e utilizadas em muitos setores produtivos. É o 5º produto orgânico utilizado no planeta e 1 dos 7 mais utilizados como matéria prima para a produção de milhares de outros produtos. É uma substância tóxica e cancerígena, e admite-se que não há limite seguro de exposição. As vias de exposição ao benzeno são respiratória, oral e absorção dérmica. O benzeno é um mielotóxico regular, leucemogênico e cancerígeno, mesmo em baixas concentrações. Outras alterações podem também ocorrer como descrito a seguir. Não existem sinais ou sintomas patognomônicos da intoxicação. Benzenismo: conjunto de sinais, sintomas e complicações, decorrentes da exposição aguda ou crônica ao hidrocarboneto aromático, benzeno. As complicações podem ser agudas, quando ocorre exposição a altas concentrações com presença de sinais e sintomas neurológicos, ou crônicas, com sinais e sintomas clínicos diversos, podendo ocorrer complicações a médio ou a longo prazos localizadas principalmente no sistema hematopoético. Os sinais e sintomas mais frequentes são: astenia, mialgia, sonolência, tontura e sinais infecciosos de repetição. Os dados laboratoriais hematológicos mais relevantes são representados pelo aparecimento de neutropenia, leucopenia, eosinofilia, linfocitopenia, monocitopenia, macrocitose, pontilhado basófilo, pseudo Pelger e plaquetopenia. O diagnóstico de benzenismo de natureza ocupacional é eminentemente clínico e epidemiológico, fundamentado na história de exposição ocupacional e na observação de sintomas e sinais clínicos e laboratoriais. Entende-se como exposição ocupacional aquela acima de níveis populacionais, decorrente de atividades laborais. A toxicidade do benzeno pode ser aguda ou crônica. Efeitos agudos: o benzeno é um irritante moderado das mucosas e sua aspiração em altas concentrações pode provocar edema pulmonar. Os vapores são, também, irritantes para as mucosas oculares e respiratórias. A absorção do benzeno provoca efeitos tóxicos para o sistema nervoso central, causando, de acordo com a quantidade absorvida, narcose e excitação seguida de sonolência, tonturas, cefaléia, náuseas, taquicardia, dificuldade respiratória, tremores, convulsões, perda da consciência e morte. Efeitos crônicos: principais agravos à saúde. (1) Alterações hematológicas. Vários tipos de alterações sanguíneas, isoladas ou associadas, estão relacionadas à exposição ao benzeno. Devidas à lesão do tecido da medula óssea (local de produção de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 12 células sanguíneas), essas alterações correspondem, sobretudo, à hipoplasia, displasia e aplasia. Metabólitos do benzeno lingam-se covalentemente a GSH, proteínas, DNA e RNA, o que pode resultar em rompimento do microambiente hematopoiético funcional pela inibição de enzimas,destruição de determinadas populações de células, com inibição do processo de replicação celular. O estresse oxidativo contribui para a toxicidade do benzeno, e como a medula óssea é rica em atividade da peroxidase, metabolitos fenólicos do benzeno podem ser ativados a derivados de quinona reativos, que podem provocar danos de DNA, levando à mutação celular ou apoptose. A modulação da apoptose pode levar à hemoptise anômala e progressão neoplásica. O aparecimento de macrocitose, pontilhado basófilo, hipossegmentação dos neutrófilos (pseudo Pelger), eosinofilia, linfocitopenia e macroplaquetas são alterações precocemente apreciadas na toxicidade benzênica. A hipoplasia da medula óssea pode ocasionar, no sangue periférico, citopenia(s). A leucopenia com neutropenia corresponde à principal repercussão hematológica da hipoplasia secundária ao benzeno e, em menor frequência, à plaquetopenia isolada ou associada à neutropenia. Estudos realizados em medula óssea de trabalhadores com benzenismo evidenciaram a relação entre a neutropenia periférica e a hipoplasia granulocítica, numa média de quatro anos de exposição. A aplasia da medula óssea, que corresponde à depressão de todas as linhagens hematológicas, se expressa no sangue periférico por meio de pancitopenia – leucopenia, plaquetopenia e anemia. O caráter leucemogênico do benzeno é amplamente reconhecido. As transformações leucêmicas, precedidas ou não por alterações mielodisplásicas, são objeto de diversas publicações, sendo a leucemia mieloide aguda, entre todas, a mais frequente. Outras variantes são também descritas. Além de leucemogênica, a toxicidade por benzeno está também relacionada ao surgimento de outras formas de doenças onco-hematológicas, como linfoma não-Hodgkin, mieloma múltiplo e mielofibrose, embora em menor frequência. (2) Alterações neuropsicológicas e neurológicas. São observadas alterações de atenção, percepção, memória, habilidade motora, viso-espacial, visoconstrutiva, função executiva, raciocínio lógico, linguagem, aprendizagem e humor. Além dessas disfunções cognitivas, surgem outras alterações como astenia, cefaléia, depressões, insônia, agitação e alterações de comportamento. São também descritos quadros de polineuropatias periféricas e mielites transversas. (3) No sistema auditivo podem aparecer alterações periféricas ou centrais. Podem ser observadas: perdas auditivas neurossensoriais, zumbidos, vertigens e dificuldades no processamento auditivo. (4) Outras alterações. Foram observadas alterações cromossômicas numéricas e estruturais em linfócitos e células da medula óssea de trabalhadores expostos ao benzeno. É possível fazer avaliação de danos cromossomiais por meio de técnicas citogenéticas. Podem ocorrer alterações dermatológicas, tais como: eritema e dermatite irritativa de contato por exposições ocupacionais repetidas e prolongadas ao benzeno. Outras formas de câncer podem ser observadas devido à associação da exposição ao benzeno com gás de coqueria e de vazamentos em indústrias que manipulam correntes de naftas ou produtos petroquímicos. Portaria nº 427, de 7 de outubro de 2021 Os trabalhadores com exposição ocupacional ao benzeno devem utilizar equipamento de proteção respiratória de face inteira, com filtro para vapores orgânicos, assim como equipamentos de proteção para a pele. Aos trabalhadores de PRC com atividades que impliquem em exposição ocupacional ao benzeno, serão fornecidos, gratuitamente, pelo empregador, vestimenta e calçados de trabalho adequados aos riscos. A higienização das vestimentas de trabalho será feita pelo empregador com frequência mínima semanal. O empregador deverá manter à disposição, nos PRC, um conjunto extra de vestimenta de trabalho, para pelo menos um terço do efetivo dos trabalhadores em atividade expostos a combustíveis líquidos contendo benzeno, a ser disponibilizado em situações nas quais seu uniforme venha a ser contaminado por tais produtos. → Lixo industrial A classificação de resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus constituintes e características, e a comparação destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido. A segregação dos resíduos na fonte geradora e a identificação da sua origem são partes integrantes dos laudos de classificação, onde a descrição de matérias-primas, de insumos e do Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 13 processo no qual o resíduo foi gerado devem ser explicitados. A identificação dos constituintes a serem avaliados na caracterização do resíduo deve ser estabelecida de acordo com as matérias-primas, os insumos e o processo que lhe deu origem. Os resíduos são classificados em: a) resíduos classe I - Perigosos; b) resíduos classe II – Não perigosos • resíduos classe II A – Não inertes; • resíduos classe II B – Inertes. Resíduos classe I – Perigosos: Aqueles que apresentam periculosidade ou uma das características (1) inflamabilidade; (2) corrosividade; (3) reatividade; (4) toxicidade; e (5) patogenicidade. Periculosidade é uma característica apresentada por um resíduo que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, pode apresentar: a) risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices; b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada Resíduos classe II A - Não inertes: Aqueles que não se enquadram nas demais classificações. Esses resíduos podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Resíduos classe II B – Inertes: Quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma forma representativa, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. O princípio do poluidor pagador preconiza que os custos decorrentes da prevenção da poluição e controle do uso dos recursos naturais assim como os custos da reparação dos danos ambientais não evitados (“custos da poluição”) sejam suportados integralmente pelo condutor da atividade econômica potencial ou efetivamente degradadora, que, portanto, internalizará os custos da poluição ao invés de externalizá-los para o Estado e, consequentemente, para a sociedade. A Política Nacional de Resíduos Sólidos obriga as empresas a aceitarem o retorno de seus produtos descartados, além de se responsabilizem também pelo destino desses itens. A lei define a logística reversa como um “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”. São produtos categorizados na logística reversa (1) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; (2) pilhas e baterias; (3) pneus; (4) óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; (5) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e luz mista; e (6) produtos eletrônicos e seus componentes. → Intoxicação por chumbo O chumbo pode induzir uma série de efeitos adversos em humanos. Os efeitos tóxicos variam da inibição de enzimas à produção de patologias graves ou morte. A toxicidade multissistêmica do chumbo é mediada por diversos mecanismos, incluindo inativação ou alteração de enzimas e outras macromoléculas, ligando-as aos radicais sulfidrila, fosfato ou carboxila, e interação comcátions essenciais, principalmente cálcio, ferro e zinco. Efeitos neurológicos, neurocomportamentais e de desenvolvimento: Sintomas de encefalopatia pelo chumbo tem início com letargia, vômito, irritabilidade, perda de apetite, e tonturas progredindo para ataxia e um nível reduzido de consciência que pode levar ao coma e à morte. O chumbo afeta virtualmente todo o sistema neurotransmissor no cérebro, incluído os sistemas importantes na função cognitiva, de aprendizagem e da memória. Em adultos, pode-se apresentar a neuropatia periférica caracterizada pela desmielinização segmental e, possivelmente, degeneração axonal, manifestação como pulsos e pés caídos. O chumbo interfere na síntese do heme, apresentando inúmeros efeitos hematológicos como acúmulo de ALA e quelação de zinco no lugar do ferro nos eritrócitos circulantes. Pode ocorrer nefrotoxicidade aguda ou crônica (fibrose intersticial, perda progressiva dos néfrons e falência renal), afetando a absorção de vitamina D, gerando possíveis repercussões ósseas. O chumbo induz a hipertensão arterial por múltiplos fatores como a inativação do óxido nítrico endógeno e GMPc, mudanças no sistema renina-angiotensina- aldosterona e aumento da atividade simpática. O chumbo age como imunodepressor diminuindo as imunoglobulinas, os linfócitos B periféricos e outro componentes no sistema imune. Além de competir com o cálcio na absorção gastrointestinal. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 14 Na análise radiológica (raio-x) pode-se encontrar linhas de chumbo nas extremidades ósseas. Macroscopicamente a linha de Burton também consiste em um achado presente na clínica de intoxicação por chumbo (ou saturnismo). SP 3.3 → Vigilância Sanitária e medicamentos Em acordo com a Política Nacional de Medicamentos do Ministério da Saúde e com a Lei de criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Agência define as regras para o registro de medicamentos no Brasil e sua renovação. 1. Reconhecimento de três categorias principais para o registro de medicamentos: homeopáticos, fitoterápicos e substâncias quimicamente definidas; 2. Verificação da qualidade quanto à reprodutibilidade (igualdade entre lotes), segurança e eficácia terapêutica dos medicamentos dentro das três categorias, por meio de comprovação laboratorial ou de estudos clínicos; 3. Controle da matéria-prima; 4. Definição das categorias de venda para medicamentos: isentos de prescrição médica, com prescrição médica e controlados; 5. Exigência da certificação de Boas Práticas de Fabricação para a concessão de registro para linha de produção de medicamentos; 6. Redução da assimetria de informação (diferenças dos níveis de informação na cadeia prescritor- farmácia-paciente) e aumento do controle sobre o direcionamento e conteúdo adequados da propaganda de medicamentos; 7. Aumento do controle da venda de medicamentos de tarja preta; 8. Participação nas estratégias que facilitam o acesso a medicamentos pela maioria da população; 9. Informatização e desburocratização do processo de registro e das alterações pós-registro; 10. Ampliação do monitoramento da qualidade dos medicamentos em comercialização; 11. Redução do número de associações irracionais (dois ou mais princípios ativos que possam levar a um aumento da toxicidade sem aumento de eficácia; princípios ativos em quantidade insuficiente para atingir o efeito desejado ou em desacordo com guias de prática clínica); 12. Reforço na fiscalização quanto à utilização de nomes comercias pelos fabricantes que possam induzir erros de prescrição e automedicação. → Interações medicamentosas As interações medicamentosas envolvem farmacodinâmica e farmacocinética. Nas interações farmacodinâmicas, um fármaco modifica a sensibilidade ou a resposta dos tecidos a outro fármaco, por ter o mesmo efeito (agonista) ou efeito bloqueador (antagonista). Habitualmente, esses efeitos ocorrem no nível do receptor, mas podem ocorrer no nível intracelular. Nas interações farmacocinéticas, geralmente, um fármaco modifica a absorção, a distribuição, a ligação às proteínas, a biotransformação ou a excreção de outro fármaco. Assim, ocorre a modificação da quantidade e a persistência do fármaco disponível nos locais dos receptores. As interações farmacocinéticas alteram a magnitude e a duração do efeito, porém não o tipo do efeito. Esse tipo de interação é, com frequência, previsível com base no conhecimento dos fármacos individuais ou detectado pelo monitoramento das concentrações dos fármacos ou dos sinais clínicos. O antagonismo ocorre quando a presença de uma substância diminui a absorção de outra. No sinergismo ocorre interação positiva e a resposta na absorção é maior do que a esperada com a substância isoladamente. → Vias metabólicas do paracetamol O paracetamol é um fármaco antipirético analgésico, bastante seguro em doses terapêuticas (1,2 g/dia para um adulto). Normalmente sofre glicuronidação e sulfatação aos conjugados correspondentes, que juntos compõem 95% do total de metabólitos excretados. A via de conjugação alternativa GSH dependente de P450 dá conta dos 5% restantes. Quando a ingestão de paracetamol excede as doses terapêuticas, as vias de glicuronidação e sulfatação ficam saturadas, e a via dependente de P450 se torna muito importante. Pouca ou nenhuma hepatotoxicidade resulta, contanto que a GSH hepática esteja disponível para conjugação. Contudo, com o tempo, a GSH hepática é gasta mais rápido do que pode ser regenerada, e um metabólito tóxico, reativo, se acumula. Na ausência de nucleófilos intracelulares como GSH, esse metabólito reativo (N- acetilbenzoiminoquinona) não só reage com grupos nucleofílicos de proteínas celulares, resultando em lesão hepatocelular direta, mas também participa na ciclagem redox, gerando assim espécies de O2 reativas (ROS) e consequente estresse oxidativo, que aumenta muito a hepatotoxicidade induzida por paracetamol. A caracterização química e toxicológica da natureza eletrofílica do metabólito reativo do paracetamol levou Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 15 ao desenvolvimento de antídotos efetivos – cisteamina e N-acetilcisteína. Tem sido demonstrado que a administração de N-acetilcisteína (o mais seguro dos dois) em 8 a 16 horas após superdosagem de paracetamol protege as vítimas da hepatotoxicidade fulminante e morte. A administração de GSH não é efetiva, porque o medicamento não atravessa de imediato as membranas celulares. → Tratamento da intoxicação por paracetamol Medidas de suporte • Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio suplementar quando necessário; • Monitorizar sinais vitais; • Obter acesso venoso calibroso e coletar amostras biológicas para exames de rotina e toxicológicos; • Hidratação adequada. Descontaminação • Considerar a realização de lavagem gástrica e a administração de carvão ativado após uma ingestão potencialmente tóxica. É mais eficaz quando realizados no prazo de 1 hora após a ingestão. Habitualmente, o procedimento de descontaminação do Trato Gastrointestinal divide-se em duas etapas: a realização da lavagem gástrica seguida da administração do carvão ativado. (1) Lavagem gástrica: Consiste na infusão e posterior aspiração de soro fisiológico a 0,9% (SF 0,9%) através de sonda nasogástrica ou orogástrica, com o objetivo de retirar a substância ingerida. Dosagem de 250 mL por vez até um volume total de 6 a 8 L ou até que retorne límpido; (2) Carvão ativado: É um pó obtido da pirólise de material orgânico, com partículas porosas com alto poder adsorvente do agente tóxico, que previne a sua absorção pelo organismo. Geralmente é utilizado após a LG, mas pode ser utilizado como medida única de descontaminaçãoGI. Nestes casos, a administração pode ser por via oral sem necessidade da passagem de sonda nasogástrica. Antídoto N- acetilcisteina (NAC) A caracterização química e toxicológica da natureza eletrofílica do metabólito reativo do paracetamol levou ao desenvolvimento de antídotos efetivos – cisteamina e N-acetilcisteína. Tem sido demonstrado que a administração de N-acetilcisteína (o mais seguro dos dois) em 8 a 16 horas após superdosagem de paracetamol protege as vítimas da hepatotoxicidade fulminante e morte. A administração de GSH não é efetiva, porque o medicamento não atravessa de imediato as membranas celulares. Deve ser administrado a qualquer paciente com risco de lesão hepática: • Nível sérico de paracetamol acima da linha de possível toxicidade no Normograma RumackMatthew; • História de ingestão de doses tóxicas e concentração não disponível ou tempo de ingestão desconhecido; • Iniciar NAC dentro das 8 primeiras horas após ingestão em pacientes com qualquer possível risco de hepatotoxicidade; • Os pacientes com mais de 24 horas após a ingestão que têm níveis mensuráveis de paracetamol ou evidências bioquímicas de hepatotoxicidade devem receber terapêutica com NAC até melhora da função hepática, mantendo a última fase do protocolo por dias, se necessário. Mecanismo de hepatoproteção da NAC: NAC1 - aumenta a sulfatação. NAC2 - é um precursor da glutationa. NAC3 - é um substituto da glutationa. NAC4 - melhora a função de múltiplos órgãos durante a lesão hepática e possivelmente limita a extensão do dano hepático. Medidas de eliminação Não estão indicadas, pois a terapia com antídoto é suficiente. Sintomáticos • Em intoxicações leves, protetores de mucosa e antieméticos são suficientes; • Transplante hepático: pode aumentar a sobrevivência nos casos de insuficiência hepática fulminante. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 16 SP 3.4 → Parasitos intestinais – Medicina Laboratorial Os principais métodos laboratoriais utilizados na identificação de parasitos intestinais são H.P.J., Baermann e Faust. H.P.J.: sedimentação espontânea em água (gravidade + sedimentação); a amostra deverá ser analisada microscopicamente em 3 lâminas. Baermann: indicado para pesquisa de larvas; a amostra pode ser refrigerada por no máximo 24 horas; técnica de sedimentação. Faust: flutuação com sulfato de zinco; utilizado para identificação de cistos (protozoários). • Helmintos evoluem de ovos a larvas; • Protozoários evoluem de cistos (fezes formadas) a trofozoítos (fezes diarreicas); • A giárdia lamblia causa a giardíase, e a entamoeba histolytica causa a amebíase, as duas são patologias; • Ovos são os achados mais comuns do Schistossoma e do Ascaris, enquanto larvas são os achados mais comuns do Ancylostoma e do Strongyloide; • A entamoeba coli é uma ameba comensal NÃO patogênica (não produz danos ao organismo hospedeiro). → Síndrome de Loeffler A síndrome de Loeffler (pneumonia eosinofílica) representa o comprometimento do trato respiratório, evidenciado por alterações radiológicas, cuja etiologia está relacionada intimamente com as enteroparasitoses (Necator americanus, Ancylostoma duodenale, Strongyloides stercoralis e Ascaris lumbricoides), destacando-se a infecção por Ascaris lumbricoides. Dessa forma, a supracitada doença é bastante frequente, uma vez que os parasitas, principalmente os representantes do filo Nematoda, figuram entre os patógenos mais encontrados em seres humanos. O dano ao tecido pulmonar característico da síndrome está associado a uma resposta alérgica mediada por eosinófilos, os quais liberam citocinas, tais como espécies reativas de oxigênio (EROs), que lesam o parênquima pulmonar. A eosinofilia característica da síndrome é decorrente de um perfil de resposta inflamatória modulada por linfócitos T CD4+ diferenciados na forma Th2, a qual medeia aumento dos níveis de Imunoglobulina E; produção de interleucina 13; ativação, diferenciação, sobrevivência e migração de mais eosinófilos, através do aumento dos níveis de citocinas específicas (IL-4, IL-5), um processo característico de uma reação de hipersensibilidade do tipo I. Os principais sintomas do Loeffler são dispneia asmatiforme, tosse seca, febre baixa e desconforto retroesternal. As alterações radiológicas somadas a crepitações evidenciadas em ausculta pulmonar, à eosinofilia sanguínea, altos níveis de IgE são os achados clínicos e laboratoriais mais comuns no diagnóstico da síndrome, o qual ainda é pouco frequente, devido à baixa associação pelos médicos entre parasitoses e complicações pulmonares. O tratamento para o Loeffler causado por parasitas é feito a base de anti-helmínticos, principalmente da classe dos benzimidazóis, e, na maioria das vezes, utiliza-se também glicocorticoides, os quais agem atenuando a inflamação suprimindo a migração leucocitária e por meio da inibição da produção de eicosanoides como prostaglandinas e leucotrienos. → Ascaris Lumbricoides Ascaridíase é uma doença causada pelo helminto Ascaris Lumbricoides que possui uma ampla distribuição geográfica, presente em mais de 150 países do mundo, sendo um problema de saúde pública em várias localidades. A maior parte dos infectados são crianças de 1 a 10 anos. Sua maior prevalência é na Ásia (73%), África (12%) e na América Latina (8%). Sendo que o clima é um fator extremamente importante para a ascaridíase. Na morfologia há fêmea e macho, com diferenças entre si. Os ovos dos áscaris são brancos, em formato ovoide, possui uma membrana tripla mamilonada. Os ovos expelidos pelas fezes são não embrionados, mas em condições ideais de temperatura (20-30ºC), umidade (70%) e oxigênio (abundante), após duas semanas eles passam a ser embrionados. Então, no ambiente externo, esse ovos podem acabar se espalhando por diversos locais, especialmente locais sem saneamento básico. No caso da ascaridíase é possível também uma transmissão mecânica dos ovos (por meio de poeira, insetos e aves). O único hospedeiro do Ascaris Lumbricoides é o ser humano, sendo um parasito de ciclo monoxênico. No ambiente externo o parasito vai se desenvolvendo dentro do ovo em larva, passando por diversos estágios (L1, L2) até chegar ao estágio L3, sua forma infectante. Após a ingestão do ovo em L3, por ação do suco gástrico a larva eclode no intestino delgado. A larva, em algumas horas após sua eclosão, penetra na parede intestinal, atingindo os vasos linfáticos e chegando ao fígado. Cerca de 2 ou 3 dias após a eclosão as larvas chegam ao coração, e após 4 ou 5 dias elas enfim atingem os pulmões. Cerca de 8 dias após sua eclosão as larvas amadurecem para o estágio L4, em que rompem os capilares (pulmonar) e chegam aos alvéolos, onde amadurecem à fase L5. Essas larvas vão Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 17 então dos alvéolos para faringe, onde podem então serem expectoradas pela tosse para fora do corpo ou deglutidas, voltando para o Trato Digestivo. Ao chegarem no intestino delgado na sua fase L5 (cerca de 30 dias após a eclosão). Após 60 dias da infecção o áscaris fêmea e macho podem copular resultando na liberação de ovos, cerca de 200 mil ovos por dia, e sem tratamento esses vermes adultos podem viver de 1 a 2 anos no intestino delgado do hospedeiro. Os sintomas da ascaridíase estão diretamente relacionados à carga parasitária do indivíduo, e apesar de ser raro a morte por ascaridíase, essa patologia pode causar problemas físicos, cognitivos e mentais. Os sintomas relacionados com a migração das larvas envolvem (1) no fígado - sangramentos no parênquima, necrose e fibrose; (2) nos pulmões - inflamação pulmonar aguda, pontos hemorrágicos, síndrome de Loeffer (quadro pneumático com sintomascomo febre, tosse, dispneia, crise asmática, manifestações alérgicas e bronquite), podendo em crianças ocorrer hemoptise e expectoração das larvas; Os sintomas desencadeados pelos vermes adultos envolvem sua (1) ação espoliadora – desnutrição, problemas físicos e mentais (devido ao “roubo” pelo parasito dos nutrientes ingeridos pelo indivíduo), que pode ser intensificação com o aumento da carga parasitária; (2) ação tóxica - reações imunes como urticárias, convulsão e edema; (3) ação mecânica como irritação da parede intestinal e obstrução parcial ou total do intestino. Comidas condimentadas ou o uso impróprio de algum medicamento pode fazer com que os vermes que estão no seu intestino “fujam” de lá, indo parar em locais atípicos, o que se denomina Ascaris errático. Para o diagnóstico da ascaridíase é fundamental a utilização de métodos laboratoriais como a pesquisa de ovos nas fezes.
Compartilhar