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Geovana Sanches, TXXIV CRESCIMENTO INTRAUTERINO RESTRITO INTRODUÇÃO Sinonímias • Crescimento intrauterino restrito (CIUR) • Retardo de crescimento intrauterino (RCIU) Definição O crescimento intrauterino restrito é caracterizado pelo peso estimado do feto (PEF) inferior ao percentil 10 para a idade gestacional correspondente. 𝑅𝐶𝐼𝑈 = 𝑃𝐸𝐹 < 𝑃10 Entretanto, é válido ressaltar que nem todo feto cujo peso estimado está abaixo do percentil 10 tem, obrigatoriamente, restrição de crescimento. Essa condição deve ser diferenciada dos bebês PIG, os quais também apresentam o peso inferior ao percentil 10. Para que essa diferenciação seja feita, faz- se necessário uma avaliação completa e detalhada da mãe, buscando causas que justifiquem uma restrição no crescimento intrauterino. Ao identificarmos alguma causa que faça o feto crescer menos, normalmente menor aporte de sangue oxigenado da placenta para o feto, faz- se diagnóstico de RCIU. Por outro lado, quando nenhuma causa é identificada, trata-se de um bebê PIG, cujo peso reduzido é constitucional. Epidemiologia A incidência de crescimento intrauterino restrito no Brasil varia de 5 a 10%. Essa condição aumenta em até 8x a taxa de morbimortalidade desses bebês, o que se relacionada com diversas condições: • Hipotermia: tendo em vista que o feto tem menor aporte sanguíneo, menores quantidades de glicose chegam até ele. Com isso, há consumo do panículo adiposo na tentativa de gerar energia. O bebê, então, nasce com tecido adiposo fino, tendendo a hipotermia. • Hipoglicemia • Hipocalcemia: assim como a glicose, o cálcio do feto é proveniente do sangue materno, de forma que quando há redução do aporto sanguíneo, também há redução do cálcio disponível • Policitemia: a redução do aporte sanguíneo estimula a eritropoiese extra- medular no feto, visando produzir maior quantidade de células vermelhas. • Hemorragias: risco aumentado em decorrência da polissemia • Aspiração meconial: devido a diminuição de sangue oxigenado disponível, ocorre o fenômeno da centralização, a partir do qual os órgãos nobres (coração, cérebro e suprarrenal) são priorizados. Como o TGI não é um órgão nobre, ele sofre vasoconstrição, o que propicia a eliminação do mecônio. Ao nascer, o bebê pode aspirar esse mecônio e evoluir com infecção neonatal ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO As causas de RCIU se dividem de acordo com a fase do desenvolvimento que está o feto. Tipo I ou Simétrico O RCIU do tipo I ocorre na fase de hiperplasia fetal, a qual compreende o período entre 8 e 16 semanas de idade gestacional (momento em que o feto está se formando). Nesses casos, a restrição é simétrica pois o bebê nasce inteiro pequeno, tendo em vista que os agentes causais atuam sobre a formação do feto. Principais etiologia • Cromossomopatias • Medicamentos utilizados pela gestante no início da gestação • Radiação ionizante • Infecções o Tanto as congênitas, quanto de outras etiologias Tipo II ou Assimétrico O RCIU do tipo II ocorre na fase de hipertrofia fetal, a qual compreende o período entre 22 e 32 semanas de idade gestacional (momento em que o bebê já está completamente Geovana Sanches, TXXIV formado e segue apenas crescendo). Nesses casos, a restrição de crescimento é assimétrica, com a cabeça proporcionalmente maior que o restante do corpo. Isso pois, tendo em vista o fenômeno da centralização, o cérebro tem aporte sanguíneo adequado para crescer normalmente, enquanto o restante do corpo fica restrito. A primeira estrutura fetal que para de crescer, podendo inclusive involuir no RCIU do tipo II é o fígado, pois ele realiza gliconeogênese na tentativa de produzir energia. Por isso, a primeira medida fetal que se altera nessa patologia é a circunferência abdominal. Principais etiologias • Doenças maternas que cursam com insuficiência placentária, tais quais: o Hipertensão arterial o Diabetes mellitus o Lúpus eritematoso sistêmico Tipo III ou Intermediário ou Misto No RCIU do tipo III, os agentes causais atuam tanto sofre a fase de hiperplasia, quanto na fase de hipertrofia, o que ocorre entre a 16ª e 22ª semanas de idade gestacional. Esse tipo é de extrema importância, pois compreende a principal causa de crescimento fetal restrito no Brasil: a desnutrição materna. Principais etiologias • Álcool • Fumo • Drogas ilícitas • Desnutrição DIAGNÓSTICO A suspeita clínica da restrição do crescimento uterino ocorre quando, durante a consulta do pré-natal, identifica-se uma altura uterina inferior ao esperado para a idade gestacional. Instrumento para correlacionar o peso estimado do feto no ultrassom e a idade gestacional Diante disso, devemos obrigatoriamente incluir o RCIU dentre as hipóteses diagnósticas, iniciando investigação dessa condição através da solicitação ultrassonografia para estimar o peso do feto – caso o PEF seja inferior ao percentil 10, devemos prosseguir com a investigação para um possível crescimento intrauterino restrito, buscando afastar todas as condições supracitadas. CONDUTA Ao fecharmos o diagnóstico de restrição do crescimento intrauterino, o pré-natal se torna de alto risco e é necessário vigiar a vitalidade fetal. Além disso, assim que o feto atingir a maturidade fetal, está indicada a interrupção da gestação. Para interrupção da gestação, teoricamente faz-se a indução do parto normal; caso durante a indução haja agudização do sofrimento fetal, indica-se a cesárea. Na prática, entretanto, diante de um quadro de RCIU, indica- se diretamente a cesárea pois, durante o trabalho de parto, a cada contração diminui-se mais o aporte sanguíneo para o feto, de forma que temos certeza de que o sofrimento fetal tornar-se-á agudo. Exames • Ultrassom morfológico o Deve ser realizado para descartar a presença de malformações, tendo em vista que as cromossomopatias são causa de restrição do crescimento intrauterino • Ecocardiograma fetal o Deve ser realizado precocemente, a partir da 20ª a 22ª semanas de idade gestacional, visando identificar um possível bloqueio atrioventricular total no coração do feto (ocasionado pelo LES materno) • Avaliação da vitalidade fetal o Cardiotocografia a cada 3 dias o Perfil biofísico e Doppler com velocimetria 1x por semana o É importante lembrar que um dos parâmetros do perfil biofísico – o índice de líquido amniótico – estará sempre alterado, pois ele é um marcador de sofrimento fetal crônico e o RCIU consiste na expressão máxima dessa condição. Com a centralização, os rins sofrem vasoconstrição, filtram menos Geovana Sanches, TXXIV sangue e produzem menos urina, diminuindo a quantidade de líquido amniótico • Avaliação da maturidade pulmonar do feto o É realizada de uma amniocentese, através da relação ente lecitina/esfingomielina. o A lecitina é o principal fosfolípide de membrana do pneumócito tipo II; assim, quanto mais maduro o pulmão do feto, maiores as quantidades de lecitina no líquido amniótico. o Quando a relação é > 2, indica que a maturação pulmonar foi atingida Fluxograma 1. Diagnóstico de CIUR 2. > 34 semanas? a. Sim = parto b. Não = segue o fluxograma 3. Controle de vitalidade fetal a. Alterado = parto (sofrimento fetal agudo) b. Sem alterações = segue fluxograma 4. Amniocentese a cada 15 dias para verificar maturidade pulmonar a. Relação lecitina/esfingomielina > 2 = parto b. Não = repetir exame até que o pulmão amadureça
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