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DPOC DPOC DEFINIÇÃO • A DPOC é uma condição pulmonar heterogênea caracterizada por sintomas respiratórios crônicos, como dispneia, tosse, produção de escarro e exacerbações, devido a anormalidades nas vias aéreas(bronquite ou bronquiolite) e/ou alveolares (enfisema) que causam obstrução ao fluxo aéreo de forma persistente, e ocasionalmente progressiva • Ou seja, a grande diferença da DPOC para a asma é que, enquanto nesta última a obstrução é reversível, enquanto na DPOC a obstrução é irreversível e as vezes progressiva. EPIDEMIOLOGIA • A DPOC é uma doença pulmonar com alta prevalência, sendo estima em torno de 15-17% na população acima de 40 anos • No Brasil, a doença figura entre as 5 principais causas de morte no país HISTÓRIA NATURAL DA DPOC • O desenvolvimento DPOC está intimamente ligada ao tabagismo(ativo ou passivo) e também a exposição à fumaça. O VEF1 das pessoas tende a cair naturalmente com a idade, entretanto, em pessoas tabagistas ou expostas à fumaça a queda do VEF1 com o passar da idade tende a ser mais acentuada, como visto no gráfico abaixo: • Além disso, caso a pessoa cesse o tabagismo, a idade na qual ela parou com tal hábito também está diretamente relacionada aos níveis de VEF1, que tende a se manter em níveis maiores nas pessoas que cessaram tal hábito FISIOPATOLOGIA • A DPOC é uma doença caracterizada por gerar uma inflamação crônica das vias aéreas, provocando estreitamento das mesmas associadas a destruição do parênquima pulmonar • Tudo isto leva a uma perda da conexão do alvéolo com a pequena via aérea, além de promover uma diminuição da retração elástica pulmonar • No parênquima pulmonar os alvéolos estão conectados entre si pelos septos alveolares, mantendo uma tensão na via aérea evitando que durante a expiração as pequenas vias aéreas colabem(visto que essa é a tendência natural dos alvéolos), entretanto, a DPOC por promover uma destruição das paredes dos alvéolos(enfisema) e gerar uma inflamação local, acaba por reduzir a tensão elástica, permitindo com que durante a expiração progressivamente vá ocorrendo a obliteração das pequenas vias aéreas, gerando represamento de ar e aumentando o espaço morto, levando a hiperinsuflação(por isso o tórax em barril) e perda de superfície de trocas gasosas. • Além disso, o paciente com DPOC pode acabar por desenvolver hipertensão pulmonar por conta da hipóxia que está sendo gerada, com isso, não é uma HAP idiopática, portanto os inibidores de PDE-5 não servem para o tratamento. • Por fim, a irritação crônica da mucosa brônquica acaba por gerar uma proliferação das glândulas mucosas e células caliciformes, gerando uma hipersecreção de muco que é um dos achados no quadro clínico de pessoas com DPOC • Deve-se pontuar que o DPOC é diferente de enfisema e bronquite crônica, que são duas coisas que podem estarem presentes na DPOC. O enfisema é a destruição alveolar promovendo um desarranjo arquitetural, sendo o termo enfisema uma descrição anátomo-patológica. Já o termo bronquite crônica diz respeito a tosse e secreção que persiste por pelo menos 3 meses, podendo coexistir com a DPOC. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de DPOC consiste em um quadro clínico e história compatíveis com DPOC, somados a uma espirometria, como é visto abaixo: 1º - AVALIAR O QUADRO CLÍNICO + HISTÓRIA CLÍNICA O quadro clínico sugestivo de DPOC consiste em: • Dispneia: É crônica, progressiva e piora com o esforço. A dispneia crônica é o sintoma mais característico da DPOC. • Tosse crônica: Pode ser intermitente, seca ou produtiva, com ou sem chiado associado • Escarro: Pode ter qualquer padrão, deve-se suspeitar de DPOC em pacientes com PAC de repetição, na qual a secreção não é fruto de infecções mas sim da DPOC • Infecção recorrente do trato respiratório inferior • Tórax em barril Por sua vez, na história clínica, deve-se buscar os fatores de risco para desenvolvimento da DPOC: • Tabagismo: Todos os tipos(Cigarro, cannabis, VAPE, charuto) e também o tabagismo passivo. • Exposição ocupacional • Exposição a fogão de lenha/carvão • Queima de biomassa • Predisposição genética Quando a pessoa possui um quadro compatível somado a história positiva, por exemplo um paciente de 60 anos com dispneia progressiva e história de tabagismo, deve-se proceder a espirometria 2º - ESPIROMETRIA COM BRONCODILATADOR A espirometria com teste de responsividade ao broncodilatador é MANDATÓRIA para o diagnóstico de DPOC, sendo que na espirometria a pessoa deve apresentar: VEF1/CVF <0,7 MESMO APÓS USO DE BRONCODILATADOR Isso serve para demonstrar um perfil obstrutivo e irreversível ao broncodilatador Quando existe quadro clínico, história clínica e espirometria sugestivas de DPOC, é possível dar o diagnóstico da doença • A espirometria além de dar o diagnóstico permite classificar a severidade da doença(GOLD 1 a GOLD 4) e servir como uma forma de acompanhamento da progressão da doença e efetividade do tratamento proposto. • Entretanto, o início dos sintomas pode preceder a limitação do fluxo aéreo, por exemplo, um paciente tabagista com quadro clínico de DPOC, mas na espirometria está normal, estes pacientes são chamados de Pré-DPOC, sendo que ainda existem dúvidas quanto a tratar ou não estes pacientes, os estudos no momento apontam que a cessação do tabagismo nestes pacientes é fundamental pois ocorre uma melhora significativa do prognóstico e quadro clínico dos mesmos. • Por sua vez, quando os pacientes que tem alterações espirométricas compatíveis com DPOC, mas sem sintomas, são os pacientes “PRISm”, que não adianta o tratamento farmacológico, apenas as mudanças no estilo de vida DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS A DPOC possui diversos diagnósticos diferenciais, sendo eles: • Asma: Tipicamente possui início na infância, história familiar e a espirometria torna-se normal após o uso de BD. • Bronquiectasia: Possui história infecciosa pregressa e a TC de tórax demonstra a ectasia brônquica que fecha o diagnóstico • Pneumonia: Possui sintomas infecciosos associados(febre, calafrio, dor torácica) e a confirmação é com a visualização da consolidação ou infiltrado no RX-Tórax • Tuberculose: Tem uma tosse crônica secretiva associada a febre vespertina e perda de peso, deve-se confirmar com BAAR ou genexpert • Insuficiência Cardíaca: É o grande diagnóstico diferencial de DPOC pelo quadro clínico semelhante, na IC o paciente queixa-se de ortopneia, pode possuir crepitantes à base na ausculta pulmonar, BNP está elevado, na radiografia pode-se ver cardiomegalia e congestão hilar, e o ecocardiograma confirma o diagnóstico. Já na DPOC se ausculta redução do murmúrio vesicular e sibilos. • Câncer de pulmão: Pode coexistir, visto que o tabagismo também é fator de risco para tal patologia, na TC de tórax pode-se ver um nódulo ou massa pulmonar TC – QUANDO PEDIR A TC não é preconizada para todos os pacientes com DPOC, apenas para: • Diagnóstico Diferencial: Naqueles pacientes com exacerbações frequentes, podendo ser de infecção atípica ou bronquiectasia • Quadro clínico desproporcional com os resultados da espirometria • Rastreio de câncer de pulmão: Todo paciente com mais de 50 anos com carga tabágica >20maços/ano é obrigatório o rastreio de câncer de pulmão • Antes da Cirurgia de redução de volume: Tal cirurgia possui indicações restritas na DPOC AVALIAÇÃO DOS SINTOMAS Existem 2 principais questionários para avaliar os sintomas de DPOC e o impacto na vida da pessoa: • mMRC • CAT Além disso, pacientes com exacerbação também são considerados graves e é motivo para ajuste na terapia, sendo as exacerbações caracterizadas por agravamento agudo dos sintomas da DPOC que resulte em terapêutica adicional mMRC Para avaliar a dispneia é possível utilizar o mMRC, um questionário que tem preditor de risco de mortalidade e avalia em quais situações apessoa sente dispneia, podendo ir de 0 até 4: • 0 – Dispneia apenas em exercícios intensos • 1 – Dispneia somente ao realizar exercícios intensos • 2 – Dispneia ao subir escadas ou ladeira, ou andar apressadamente no plano • 3 – Dispneia no próprio passo no plano ou dificuldade para acompanhar o passo de outra pessoa • 4 – Dispenia no plano em menos de 100m ou após alguns minutos • 5 – Muita dispneia para sair de casa, ou dispneia ao se vestir ou despir Pacientes com 2 ou mais pontos já são considerados muito sintomáticos CAT • É um questionário para ver como está a DPOC da pessoa, fazendo perguntas que pontuam de 1 até 5 e dão uma pontuação ao final, sendo que pacientes com pontuação maior ou igual a 10 são considerados muito sintomáticos EXACERBAÇÕES • Como dito, exacerbações é uma piora aguda nos sintomas da DPOC que motivem terapêutica adicional • Deve-se realizar uma avaliação clínica completa em tais pacientes e procurar potenciais causas respiratórias e não-respiratórias para tal exacerbação, além de avaliar possíveis diagnósticos diferenciais que não a exacerbação nestas circusntâncias • Atualmente os pacientes exacerbadores são classificados como GOLD-E(Será falado adiante)Caso o paciente apresente catarro(secreção com mudança de aspecto), deve-se realizar cultura para avaliar possível infecção associada CLASSIFICAÇÃO DOS PACIENTES Os pacientes com DPOC podem ser classificados de duas formas segundo o GOLD: 1 - Quanto ao VEF1 em GOLD 1 até GOLD 4, como visto na tabela ao lado e abaixo: • GOLD 1: VEF1 >80% do previsto • GOLD 2: VEF1 entre 50-79% • GOLD 3: VEF entre 30-49% • GOLD 4: VEF1 < 30% 2 - GOLD A, B ou E com base em: • GOLD A: Pacientes pouco sintomáticos (mmRC 0-1 , CAT <10), porem exacerbador • GOLD B: Paciente muito sintomático (mmRC >2 , CAT >10), porém pouco exacerbador • GOLD E: Paciente muito exacerbador (2 ou mais exacerbações ou 1 exacerbação que motivou hospitalização) A classificação acima irá guiar o tratamento TRATAMENTO • Após o diagnóstico de DPOC, deve-se prescrever o tratamento inicial e fazer revisões e ajustes caso necessário OBJETIVO DO TRATAMENTO O tratamento da DPOC tem os seguintes objetivos: • Redução dos sintomas: Através do alívio dos sintomas, melhora da tolerância ao exercício e da qualidade de vida • Redução do risco: Prevenir a progressão da doença e realizar a prevenção e tratamento das exacerbações da DPOC OBS: O OBJETIVO DO TRATAMENTO NÃO É MELHORAR A ESPIROMETRIA. TRATAMENTO INICIAL O tratamento inicial da DPOC não leva em conta o valor do VEF1, sendo esta parâmetro algo apenas para classificar a gravidade O tratamento inicial consiste em: • 1º - Cessação do tabagismo • 2º - Vacinação do paciente • 3º - Incentiva atividade física ou reabilitação(atividade física assistida) • 4º - Manejo das comorbidades • 5º - Terapia farmacológica inicial TRATAMENTO FARMACOLÓGICO O tratamento farmacológico da DPOC consiste em: • Broncodilatadores: É o pilar do tratamento, podendo ser os beta-agonistas de curta ou longa duração(SABA ou LABA) e anticolinérgicos o Os anticolinérgicos diminuem o aprisionamento aéreo através dos poros de Kohn e também reduzem o risco de exacerbações. • Corticoides Inalatórios: Indicado em pacientes GOLD E com eosinófilos >300mm3 • Corticoides sistêmicos: Apenas nas exacerbações • Antibióticos: Caso sugestão de infecção associada, como mudança do aspecto da secreção na exacerbação • Oxigenoterapia: Quando PaO2 <55mmHg ou SaO2 <88%(Na gasometria, não oxímetro), fazer oxigenoterapia domiciliar por 15hrs/dia, com melhora na sobrevida. • Alfa-1-antritripsina: Apenas para pacientes com DPOC genética(SERPINA1) ou com dosagem de alfa-1- antitripsina baixa, devendo-se suspeitar em pacientes com DPOC jovens sem carga tabágica condizente, enfisema nas bases mas não nos ápices • Antitussígenos: Contraindicados na maioria dos casos, uso raro • Vasodilatadores: Contraindicados, sendo maléficos nesta patologia, são fármacos como a sildefanilia • Outros: Azitromicina(como imunomodulador, 3x/semana por 3meses-1ano), antiinflamatórios orais(roflumilaste) Agora será falado do tratamento com base na classificação de GOLD A até C GOLD A São os pacientes pouco sintomáticos, porém exacerbadores, sendo o tratamento preconizado: BRONCODILATADOR (LABA ou LAMA) EM MONOTERAPIA GOLD B São os pacientes muito sintomáticos, porém pouco exacerbadores, sendo o tratamento preconizado LABA + LAMA GOLD E São aqueles pacientes exacerbadores, sendo classificados aqui aqueles pacientes com 2 ou mais exacerbações por ano ou uma exacerbação que necessito de hospitalização, sendo que pode-se utilizar dois tratamentos com base na contagem de eosinófios: LABA + LAMA – PARA PACIENTES COM EOSINÓFILOS <300mm3 LABA + LAMA + CI – PARA PACIENTES COM EOSINÓFILOS >300mm3 VACINAÇÃO Como dito, a vacinação faz parte do tratamento inicial da DPOC, devendo o paciente com DPOC ser vacinado para: • Influenza • COVID • Pneumocócia 20 ou 15-valente e 23-valente • dTPa • Herpes-Zoster: Para pacientes acima de 50 anos TERAPIAS QUE REDUZEM MORTALIDADE Nem todos as terapias acima reduzem mortalidade, sendo os efetivos para este fim as seguintes medidas: • Cessação do tabagismo: Sobretudo para pacientes pouco sintomáticos • Reabilitação pulmonar • LABA+LAMA+CI: Para os casos indicados • Oxigenoterapia por longo tempo: Para os casos indicados(PaO2 <55mmHg ou SaO2 < 88%) • VNI em pacientes com hipercapnia(PaCO2>53mmHg) • Cirurgia de redução pulmonar: Para pacientes com enfisema sobretudo nos ápices
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