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Apg 6 – Ascaridíase, teníase, esquistossomose e enterobíase Objetivos: 1- Compreender a epidemiologia, etiologia, ciclo biológico, via de transmissão, fisiopatologia, manifestações clínicas e tratamento da ascaridíase, teníase, esquistossomose e enterobíase. Esquistossomose Etiologia A infecção por Schistosoma é contraída por meio de contato com corpos de água doce que abrigam o hospedeiro intermediário caramujo infectado. As cercárias, o estágio larval infectante liberado pelo caramujo, penetram na pele humana intacta em poucos minutos após aderir à pele. Após a penetração, as cercárias se transformam em esquistossômulos, os quais entram em uma pequena veia ou vaso linfático, circulam na corrente sanguínea através de capilares pulmonares e são bombeados pelo coração para todas as partes do corpo para chegar até o sistema portal. Lá, os vermes amadurecem tornando-se adultos machos ou fêmeas, unem- se e migram para sua localização final no plexo venoso mesentérico ou pélvico. O intervalo entre a penetração da cercária até a maturação sexual e produção de ovos, chamado de período pré-patente, dura 5 a 7 semanas (até 12 semanas para S. haematobium). O verme fêmea começa a produzir ovos, os quais são excretados nas fezes ou, no caso do S. haematobium, na urina. Cerca de 50% dos ovos são retidos nos tecidos, onde são responsáveis por morbidade orgânica específica. Quando os ovos excretados alcançam a água, eles eclodem e liberam um estágio larval nadante livre (miracídio), o qual, após penetrar em um caramujo hospedeiro, passa por várias etapas de multiplicação assexuada. Após cerca de 4 a 6 semanas, as cercárias infectantes são espalhadas na água pelo caramujo infectado. Um caramujo infectado por um miracídio pode espalhar milhares de cercárias por dia durante vários meses; assim, o potencial de transmissão dos esquistossomas é enorme. O ovo de esquistossoma é o único estágio do ciclo vital do parasita que pode ser detectado em humanos, nos produtos excretados ou em biópsias de tecidos. Os ovos são grandes e podem facilmente ser diferenciados morfologicamente daqueles de outros helmintos. Os ovos de S. haematobium têm cerca de 140 mm de comprimento, com uma espinha terminal; os ovos de S. mansoni têm cerca de 150 mm de comprimento com uma espinha lateral; e os ovos de S. japonicum são menores, mais arredondados e com cerca de 90 mm, com uma pequena espinha ou botão lateral. Os esquistossomos adultos têm cerca de 1 a 2 cm de comprimento. O verme masculino é plano e o corpo forma um sulco ou canal ginecóforo no qual a fêmea adulta madura é mantida como uma salsicha em um cachorro-quente. As fêmeas são mais compridas, finas e arredondadas. As fêmeas produzem centenas (espécies africanas) a milhares (espécies asiáticas) de ovos por dia. Cada ovo contém uma larva miracídio ciliada, a qual secreta enzimas proteolíticas que ajudam os ovos a migrar para a luz da bexiga (S. haematobium) ou do intestino (outras espécies). A longevidade de um esquistossomo adulto é, em média, de 3 a 5 anos, mas pode ser de até 30 anos. Os vermes de esquistossomos se alimentam de eritrócitos; os debris são regurgitados no sangue do hospedeiro, onde podem ser detectados como antígenos circulantes. Os esquistossomos persistem na corrente sanguínea por anos e desenvolveram estratégias para escapar dos ataques usando mecanismos efetores imunes. Essa evasão imune é resultado de vários processos, como a ligação de proteínas do hospedeiro à superfície do esquistossomo, o que torna o parasita invisível ao sistema imune do hospedeiro. Epidemiologia Estima-se que 230 milhões de pessoas estejam infectadas no mundo todo, com cerca de 800 milhões de pessoas vivendo em regiões onde há risco de infecção. Mais de 70% das pessoas infectadas vivem na África Subsaariana. A esquistossomose é a mais importante entre as doenças tropicais negligenciadas, ficando atrás apenas da malária em termos de impacto em saúde pública. Trata-se de uma doença relacionada à pobreza, e a infecção é prevalente em regiões sem suprimento de água adequado e sem instalações sanitárias. Patogênese A invasão das cercárias pode estar associada com dermatite que surge por reações inflamatórias dérmicas e subdérmicas em resposta a cercárias que morrem desencadeando respostas imunes inatas. Porém, a maioria das manifestações da esquistossomose – nas fases aguda, estabelecida e crônica da infecção – se devem a reações imunológicas aos ovos retidos nos tecidos do hospedeiro. Na época de começar a oviposição pode ocorrer esquistossomose aguda (febre de Katayama). O excesso de antígeno dos ovos resulta na formação de complexos imunes solúveis, que podem ser depositados em vários tecidos, iniciando uma doença semelhante à doença do soro. Todas as evidências sugerem que os ovos de esquistossomos, e não os vermes adultos, induzem a morbidade orgânica específica causada pela esquistossomose. Cerca de metade dos ovos não são excretados nas fezes ou na urina, mas ficam presos em tecidos intestinais ou hepáticos (S. mansoni, S. japonicum e S. mekongi) ou na bexiga e sistema urogenital (S. haematobium). Os ovos induzem uma resposta imune granulomatosa do hospedeiro, composta primariamente de linfócitos, eosinófilos e de macrófagos ativados alternativamente. Os linfócitos produzem várias citocinas TH2, como as interleucinas (IL) 4, 5 e 13. Mais tarde, na fase crônica da infecção, as citocinas reguladoras são responsáveis pela imunomodulação ou sub-regulação das respostas do hospedeiro aos ovos de esquistossomos, desempenhando um papel importante na redução do tamanho dos granulomas. Quando os ovos de S. mansoni ou S. japonicum são varridos para dentro dos ramos portais pequenos do fígado pela veia porta, eles se alojam nos tecidos periportais pré-sinusoidais. A formação de granulomas ao redor dos ovos pode causar aumento significativo do baço e do fígado. As infecções de alta densidade em crianças costumam ser acompanhadas por hepatoesplenomegalia, a qual costuma diminuir com o passar do tempo, parcialmente porque o número de ovos depositados nos tecidos diminui gradualmente após o início da adolescência com o desenvolvimento de imunidade parcial a novas infecções, e parcialmente devido à sub-regulação imunológica da resposta granulomatosa. Porém, em algumas pessoas infectadas, as respostas granulomatosas induzidas pelos ovos levam a fibrose periportal intensa (fibrose em haste de cachimbo de barro de Symmers) com deposição de colágeno ao redor da veia porta, oclusão dos ramos portais menores e patologia grave e geralmente irreversível. A oclusão dos ramos portais pode resultar em marcada hipertensão portal. Os sinais e sintomas da infecção por S. haematobium estão relacionados com a predileção dos vermes pelas veias do plexo urogenital, resultando da deposição de ovos na bexiga, ureteres e órgãos genitais. Durante a infecção ativa estabelecida, agregados de ovos vivos nos tecidos urogenitais podem ser encontrados circundados por intensa reação inflamatória e intensa eosinofilia tecidual. O movimento de agregados de ovos na luz da bexiga costuma ser seguido por descamação do epitélio superficial, ulceração e sangramento. A intensa inflamação tecidual induzida pelos ovos pode resultar em espessamento da parede vesical e desenvolvimento de massas e pseudopólipos. A inflamação e a formação de granulomas ao redor do óstio ureteral podem levar a hidronefrose. Em geral, as infecções tardias em estágios crônicos se caracterizam pelo acúmulo de ovos mortos calcificados nos tecidos. Lesões características são encontradas no colo uterino nas infecções por S. haematobium, incluindo lesões em estágios ativos cominflamação tecidual intensa ao redor de ovos vivos e placas arenosas em estágio crônico com agregados de ovos calcificados. Manifestações clínicas Em geral, as manifestações da esquistossomose ocorrem em três estágios – aguda, ativa e crônica – conforme a duração e intensidade da infecção. Dermatite por cercárias (“prurido do nadador”) - A penetração de cercárias na pele pode resultar em erupção maculopapular chamada de dermatite por cercárias ou “prurido do nadador”. A dermatite por cercárias pode ocorrer em pessoas não previamente expostas à esquistossomose (p. ex., viajantes), enquanto ela é rara em pessoas que vivem nas regiões endêmicas. Uma forma particularmente grave de dermatite por cercárias é comumente vista após a exposição a cercárias de esquistossomas aviários. Essas cercárias não conseguem completar seu desenvolvimento em seres humanos e morrem na pele, causando uma reação alérgica inflamatória. Essa forma de dermatite por cercárias pode ocorrer em pessoas que entraram em contato com água de lagos (p. ex., na Europa ou Estados Unidos) onde são encontradas várias espécies de aves aquáticas, como patos, gansos e cisnes. A erupção cutânea pode durar 1 a 2 semanas. Essa condição normalmente não exige tratamento, mas anti-histamínicos sistêmicos ou anti-histamínicos ou glicocorticoides tópicos podem ser usados para reduzir os sintomas. Esquistossomose aguda (febre de Katayama) - A esquistossomose aguda sintomática, também chamada de febre de Katayama ou síndrome Katayama, costuma ser vista em viajantes que contraíram a infecção pela primeira vez. O início ocorre entre 2 semanas e 3 meses após a exposição ao parasita. Os sintomas podem aparecer subitamente e incluem febre, mialgias, mal estar geral e fadiga, cefaleia, tosse não produtiva e sintomas intestinais, como desconforto ou dor abdominal. Várias combinações desses sintomas costumam se acompanhar de eosinofilia e infiltrados pulmonares transitórios. Muitos pacientes se recuperam da esquistossomose aguda após 2 a 10 semanas, mas a doença segue um curso clínico mais grave em algumas pessoas, com perda de peso, dispneia, diarreia e hepatomegalia. Pode haver manifestações cerebrais ou da medula espinal graves, e mesmo infecções leves podem causar doença grave. Em casos raros, a síndrome pode ser fatal. Esquistossomose intestinal (S. mansoni, S. japonicum, S. mekongi) - Na esquistossomose intestinal, os vermes adultos se localizam nas veias mesentéricas, e as manifestações da doença estão associadas com a passagem dos ovos do parasita através do tecido intestinal ou quando os ovos ficam presos no local. Isso induz uma inflamação granulomatosa massiva com microulcerações, sangramento superficial e, algumas vezes, pseudopolipose. Os sintomas tendem a ser mais pronunciados com uma alta intensidade de infecção e incluem dor abdominal intermitente, perda de apetite e, algumas vezes, diarreia sanguinolenta. As manifestações clínicas da infecção por S. intercalatum e S. mekongi costumam ser mais leves. Esquistossomose hepatoesplênica A esquistossomose hepatoesplênica é causada por ovos de esquistossomo presos no tecido hepático, ocorrendo nas infecções por S. mansoni e S. japonicum. Há duas entidades clínicas distintas: hepatoesplenomegalia inflamatória inicial e doença hepatoesplênica tardia com fibrose periportal. A esquistossomose hepatoesplênica inflamatória inicial é a principal entidade vista em crianças e adolescentes. O fígado está aumentado, especialmente o lobo esquerdo, sendo liso e firme. O baço está aumentado, muitas vezes se estendendo até abaixo da cicatriz umbilical, sendo firme ou duro. Em geral, a ultrassonografia não demonstra fibrose hepática. Esta forma de esquistossomose hepatoesplênica pode ser encontrada em até 80% das crianças infectadas. Sua gravidade está intimamente associada com a intensidade da infecção e pode também estar associada com a exposição concomitante à malária. A esquistossomose hepatoesplênica tardia com fibrose periportal ou de Symmers pode ocorrer em adultos jovens ou de meia-idade com exposição de alto nível e longa duração à infecção. Os pacientes com fibrose periportal podem excretar pouco ou nada de ovos nas fezes. Durante o estágio inicial, o fígado está aumentado, especialmente o lobo esquerdo; ele é liso e firme ou duro. O baço está aumentado, às vezes massivamente, e é firme ou duro. O paciente pode relatar uma massa em hipocôndrio esquerdo com desconforto e anorexia. A ultrassonografia revela fibrose periportal típica e dilatação da veia porta. Outras complicações incluem atraso de crescimento e puberdade, especialmente em infecções por S. japonicum, e anemia grave. A esquistossomose hepatoesplênica grave pode levar a hipertensão portal, mas a função hepática costuma ser normal mesmo em casos com marcada fibrose periportal e hipertensão portal. Pode haver ascite atribuível a hipertensão portal e hipoalbuminemia, especialmente na infecção por S. japonicum. Os pacientes com doença hepatoesplênica grave e hipertensão portal podem desenvolver varizes esofágicas detectáveis por endoscopia ou ultrassonografia. Esses pacientes podem experimentar crises repetidas de hematêmese, melena ou ambas. A hematêmese é a complicação mais grave da esquistossomose hepatoesplênica, e a morte pode resultar de perda sanguínea massiva. Esquistossomose urogenital (S. haematobium) Os sinais e sintomas da infecção por S. haematobium se relacionam com a predileção dos vermes pelas veias do trato urogenital. São reconhecidos dois estágios da infecção. Um estágio ativo, que ocorre principalmente em crianças, adolescentes e adultos mais jovens, se caracteriza pela excreção de ovos na urina, com proteinúria e hematúria macro ou microscópica, além de deposição de ovos no trato urinário. Um estágio crônico em pessoas mais velhas se caracteriza por excreção esparsa ou ausente de ovos na urina apesar de haver patologia no trato urogenital. Um sinal característico no estágio ativo é a hematúria indolor terminal. Disúria e desconforto ou dor suprapúbicos estão associados com esquistossomose urogenital ativa, podendo persistir por toda a evolução da infecção ativa. Os ovos depositados na mucosa vesical pode levar a uma resposta inflamatória intensa da parede vesical, podendo causar obstrução ureteral com hidroureter ou hidronefrose. Essas lesões inflamatórias iniciais, incluindo a uropatia obstrutiva, podem ser visualizadas na ultrassonografia. À medida que a infecção progride, o componente inflamatório diminui e a fibrose fica mais proeminente. Os sintomas desse estágio são noctúria, retenção urinária, gotejamento de urina e incontinência. A cistoscopia revela “placas arenosas” compostas de grandes números de ovos calcificados circundados por tecido fibrótico e uma superfície mucosa atrófica. Os ureteres são menos comumente afetados, mas a fibrose ureteral pode causar uropatia obstrutiva irreversível que pode progredir para uremia. A deposição de ovos pode causar granulomas e lesões nos órgãos genitais, mais comumente no colo uterino e na vagina nas mulheres e nas vesículas seminais nos homens. Outras manifestações Algumas vezes, vermes e ovos podem estar localizados em sítios ectópicos, causando manifestações e sintomas sítio-específicos. A neuroesquistossomose é uma das formas clínicas mais graves de esquistossomose, sendo causada pela resposta inflamatória ao redor de ovos no plexo venoso cerebral ou espinal. Os vermes de S. mansoni e S. haematobium podem terminar no plexo venoso espinal, onde podem causar mielite transversa – uma complicação aguda algumas vezes vista em viajantes que retornam para casa com esquistossomose. O S. japonicum está principalmenteassociado com lesões granulomatosas no cérebro, causando crises epilépticas, encefalite com cefaleia, comprometimento visual, déficit motor e ataxia. A esquistossomose pulmonar é causada por derivação portocava de ovos para os capilares pulmonares, onde induzem granulomas na região perialveolar. As consequências podem ser fibrose, hipertensão pulmonar e cor pulmonale. Tratamento Como princípio geral, todos os pacientes com esquistossomose aguda devem ser tratados com praziquantel. Glicocorticoides podem ser acrescentados na febre de Katayama para suprimir a reação de hipersensibilidade. Porém, o tratamento da esquistossomose aguda ou febre de Katayama deve ser adequadamente ajustado em cada caso e, nos casos mais graves, há necessidade de manejo em ambiente de cuidados agudos. O praziquantel é efetivo nas infecções cerebrais por S. japonicum, resultando em rápida dissipação do edema cerebral e resolução das massas cerebrais. Porém, algumas vezes há necessidade de glicocorticoides e anticonvulsivantes na neuroesquistossomose. Tenia Saginata A tênia da carne bovina, T. saginata, ocorre em todos os países onde carne crua ou mal cozida é comida. Ela é mais prevalente na África Subsaariana e em países do Oriente Médio. A Taenia asiatica é proximamente relacionada com a T. saginata e é encontrada na Ásia, tendo porcos como hospedeiros intermediários. As manifestações clínicas e a morfologia dessas duas espécies são muito semelhantes, e, por isso, elas são discutidas em conjunto. Etiologia e patogênese Os humanos representam o único hospedeiro definitivo para a fase adulta de T. saginata e T. asiatica. As tênias, que podem alcançar 8 metros de comprimento, com 1.000 a 2.000 proglótides, habitam a porção superior do jejuno. O escólex da T. saginata tem quatro ventosas proeminentes, ao passo que a T. asiatica tem um rostelo desarmado. Cada segmento grávido tem 15 a 30 ramos uterinos (em contraste com 8-12 para a T. solium). Os ovos são indistinguíveis dos da T. solium; eles medem 30 a 40 μm, contêm a oncosfera e têm uma casca espessa marrom estriada. Os ovos depositados em vegetação podem viver por meses ou anos até que sejam ingeridos por gado bovino ou outros herbívoros (T. saginata) ou porcos (T. asiatica). O embrião liberado após a ingestão invade a parede intestinal e é carreado ao músculo estriado ou víscera, onde se transforma em um cisticerco. Quando ingeridos na carne crua ou mal cozida, os cisticercos saem e formam uma tênia no intestino humano. Ao longo de cerca de 2 meses, o verme adulto amadurece e começa a produzir ovos. Manifestações clínicas O mais comum é que os pacientes se tornem cientes da infecção ao observar a passagem de proglótides em suas fezes. As proglótides de T. saginata são móveis, e os pacientes podem sentir desconforto perianal quando elas são eliminadas. Dor leve ou desconforto abdominal, náusea, alteração do apetite, fraqueza e perda de peso podem ocorrer. Diagnóstico O diagnóstico é feito pela detecção de ovos ou proglótides nas fezes. Os ovos também podem estar presentes na região perianal; assim, se proglótides ou ovos não forem encontrados nas fezes, a região perianal deve ser examinada com o uso de um swab em fita de celofane . Distinguir T. saginata ou T. asiatica de T. solium requer o exame de proglótides maduras. Todas as três espécies podem ser diferenciadas pelo exame do escólex. Os testes sorológicos disponíveis não são úteis para fins diagnósticos. Eosinofilia e níveis séricos elevados de IgE costumam estar ausentes. Tratamento Uma dose única de praziquantel (10 mg/kg) é altamente efetiva. Teníase Solium E Cisticercose A tênia do porco, T. solium, pode causar duas formas distintas de infecção em seres humanos: as tênias adultas no intestino ou as formas larvárias nos tecidos (cisticercose). Os humanos são os únicos hospedeiros definitivos para a T. solium; os porcos são os hospedeiros intermediários usuais, embora outros animais possam albergar as formas larvárias. A T. solium é encontrada mundialmente em áreas onde porcos são criados e têm acesso a fezes humanas. Entretanto, ela é mais prevalente na América Latina, África Subsaariana, China, Índia e Sudeste Asiático. A cisticercose ocorre em nações industrializadas em consequência da imigração de pessoas infectadas vindas de áreas endêmicas. Etiologia e patogênese A tênia adulta geralmente reside na parte superior do jejuno. O escólex se fixa tanto por ventosas como por duas filas de ganchos pequenos. O verme adulto geralmente vive poucos anos. A tênia, geralmente com cerca de 3 metros de comprimento, pode ter até 1.000 proglótides, cada uma das quais produzindo até 50 mil ovos. As proglótides são liberadas e excretadas nas fezes, e os ovos nessas proglótides infectam tanto humanos como animais. Após a ingestão de ovos pelo porco hospedeiro intermediário, as larvas são ativadas, escapam do ovo, penetram a parede intestinal e são carreadas para muitos tecidos; elas são identificadas mais frequentemente nos músculos estriados do pescoço, na língua e no tronco. Dentro de 60 a 90 dias, a fase larvária encistada se desenvolve. Esses cisticercos podem sobreviver por meses a anos. Pela ingestão de carne de porco mal cozida contendo cisticercos, os seres humanos adquirem infecções que levam às tênias intestinais. As infecções que causam cisticercose humana ocorrem após a ingestão de ovos de T. solium. Os ovos são pegajosos e podem ser encontrados sob as unhas de portadores de tênias. A transmissão costuma estar associada ao contato íntimo com um portador de tênia. A autoinfecção pode ocorrer se um indivíduo com uma tênia produtora de ovos ingerir ovos oriundos de suas próprias fezes. Manifestações clínicas As infecções intestinais com T. solium podem ser assintomáticas. A eliminação intestinal de proglótides pode ser notada pelos pacientes. Outros sintomas são incomuns. Na cisticercose, as manifestações clínicas são variáveis. Cisticercos podem ser encontrados em qualquer parte do corpo, mas são detectados mais comumente no cérebro, no líquido cerebrospinal (LCS), nos músculos esqueléticos, no tecido subcutâneo ou no olho. A apresentação clínica da cisticercose depende do número e da localização dos cisticercos, assim como da extensão das respostas inflamatórias associadas, ou da fibrose cicatricial. Manifestações neurológicas são as mais comuns As convulsões estão associadas à inflamação que circunda os cisticercos no parênquima cerebral. Essas convulsões podem ser generalizadas, focais ou jacksonianas. Hidrocefalia resulta de obstrução do fluxo de LCS por cisticercos e pela inflamação acompanhante ou pela obstrução do fluxo de saída do LCS por aracnoidite. Sinais de aumento da pressão intracraniana, compreendendo cefaleia, náusea, vômitos, alterações da visão, tontura, ataxia ou confusão, frequentemente são evidentes. Os pacientes com hidrocefalia podem desenvolver papiledema ou exibir alteração do estado mental. Quando cisticercos se desenvolvem na base do cérebro ou no espaço subaracnoidiano, eles podem causar meningite crônica ou aracnoidite, hidrocefalia comunicante ou acidente vascular cerebral. Diagnóstico O diagnóstico de infecção intestinal por T. solium é feito pela detecção dos ovos ou proglótides, como descrito para T. saginata. Métodos mais sensíveis, inclusive captura de antígeno por ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA), reação em cadeia da polimerase (PCR) e sorologia para antígenos de tênia específicos por estágios, estão disponíveis atualmente somente como técnicas de pesquisa. Na cisticercose, pode ser realizada por observação histológica do parasita em tecido excisado, por visualização oftalmoscópica doparasita no espaço sub- retiniano do olho ou por exames de neuroimagem com evidência definida de lesões císticas contendo um escólex característico. Com a melhora da resolução dos exames de neuroimagem, o escólex pode agora ser identificado em uma grande proporção de casos. Em outros casos, o diagnóstico clínico baseia-se em uma combinação de apresentação clínica, estudos radiológicos e história de exposição (incluindo o sorodiagnóstico). Tratamento A infecção intestinal por T. solium é tratada com uma dose única de praziquantel (10 mg/kg). Entretanto, o praziquantel pode provocar uma resposta inflamatória no SNC caso haja cisticercose oculta concomitante. A niclosamida (2 g) também é efetiva, mas não está amplamente disponível. O manejo inicial da neurocisticercose deve se concentrar no tratamento sintomático das convulsões ou da hidrocefalia. As convulsões geralmente podem ser controladas com tratamento antiepiléptico. Se as lesões do parênquima regredirem sem o desenvolvimento de calcificações e os pacientes permanecerem livres de convulsões, a terapia antiepiléptica geralmente pode ser suspensa depois de 1 a 2 anos. Ensaios controlados por placebo estão esclarecendo a vantagem clínica de fármacos antiparasitários para neurocisticercose parenquimatosa. Tendências para resolução mais rápida das anormalidades neurorradiológicas têm sido observadas na maioria dos estudos. Os benefícios clínicos são menos impressionantes e consistem principalmente no encurtamento do período durante o qual ocorrem convulsões recorrentes e na diminuição do número de pacientes que têm muitas convulsões recorrentes. Para o tratamento de pacientes com cisticercos no parênquima cerebral, a maioria das autoridades é a favor de medicamentos antiparasitários, incluindo albendazol (15 mg/kg/dia, por 8-28 dias) ou praziquantel (50- 100 mg/kg/dia, em três doses fracionadas, por 15-30 dias). Uma combinação de albendazol e praziquantel (50 mg/kg/dia) é mais efetiva em pacientes com mais de duas lesões císticas. Um curso mais longo ou terapia de combinação frequentemente é necessário em pacientes com múltiplos cisticercos subaracnoides. Ambos os agentes podem exacerbar a resposta inflamatória em volta do parasita moribundo, agravando as convulsões, bem como a hidrocefalia. Assim, pacientes recebendo esses fármacos devem ser monitorados cuidadosamente. Glicocorticoides em dose alta devem ser usados durante o tratamento. Como os glicocorticoides induzem o metabolismo de primeira passagem do praziquantel e podem reduzir seu efeito antiparasitário, a cimetidina deve ser coadministrada para inibir o metabolismo do praziquantel. ASCARIDÍASE O A. lumbricoides é o maior parasita nematódeo intestinal dos seres humanos, alcançando até 40 cm de comprimento. A maioria dos indivíduos infectados apresenta cargas baixas de vermes e se mostra assintomática. A doença clínica origina-se da migração de larvas nos pulmões ou dos efeitos dos vermes adultos nos intestinos. Ciclo de vida Os vermes adultos vivem no lúmen do intestino delgado. As fêmeas maduras de Ascaris são extraordinariamente férteis, cada qual produzindo até 240 mil ovos por dia, eliminados nas fezes. Os ovos de Ascaris, notavelmente resistentes aos estresses ambientais, tornam-se infecciosos depois de várias semanas de maturação no solo e podem permanecer infecciosos por anos. Depois que os ovos infecciosos são deglutidos, as larvas liberadas no intestino invadem a mucosa, migram por meio da circulação até os pulmões, penetram os alvéolos, ascendem pela árvore brônquica e retornam – por deglutição – ao intestino delgado, onde se desenvolvem em vermes adultos. Passam-se cerca de 2 a 3 meses entre a infecção inicial e a produção de ovos. Os vermes adultos vivem por 1 a 2 anos. Epidemiologia O Ascaris encontra-se amplamente distribuído nas regiões tropicais e subtropicais, bem como em outras áreas úmidas e regiões do mundo mais temperadas. Em geral, a transmissão ocorre por meio do solo contaminado por fezes e se deve à falta de instalações sanitárias ou ao uso de esterco humano como fertilizante. Com sua propensão à transmissão fecal da mão para a boca, as crianças menores geralmente são mais afetadas. A infecção fora de áreas endêmicas, embora incomum, pode ocorrer quando ovos em hortaliças transportadas são ingeridos. Manifestações clínicas Durante a fase pulmonar de migração das larvas, cerca de 9 a 12 dias depois da ingestão dos ovos, os pacientes podem desenvolver tosse seca irritativa e desconforto subesternal em queimação, agravado pela tosse ou inspiração profunda. Dispneia e escarro tinto de sangue são menos comuns. Pode haver febre. A eosinofilia surge durante essa fase sintomática e diminui lentamente durante semanas. A radiografia de tórax pode revelar evidências de pneumonite eosinofílica (síndrome de Löffler), com infiltrados arredondados que medem alguns milímetros a vários centímetros. Esses infiltrados podem ser transitórios e intermitentes, desaparecendo depois de várias semanas. Onde ocorre a transmissão sazonal do parasita, a pneumonite sazonal com eosinofilia pode acometer hospedeiros previamente infectados e sensibilizados. Nas infecções estabelecidas, os vermes adultos no intestino delgado geralmente não causam sintomas. Nas infecções maciças, principalmente em crianças, um grande bolo de vermes emaranhados pode provocar dor e obstrução do intestino delgado, às vezes complicada por perfuração, invaginação ou volvo. Vermes isolados podem causar doença quando migram para dentro de locais aberrantes. Um grande verme pode penetrar e ocluir a árvore biliar, provocando cólica biliar, colecistite, colangite, pancreatite ou (raramente) abscessos intra-hepáticos. A migração de um verme adulto para cima, até o esôfago, pode provocar tosse e expulsão oral do verme. Em áreas altamente endêmicas, a ascaridíase intestinal e a biliar podem rivalizar com a apendicite aguda e com os cálculos biliares como causas de abdome agudo cirúrgico. Diagnóstico Parasitológico de fezes Tratamento A ascaridíase sempre deve ser tratada para evitar as complicações potencialmente graves. O albendazol (400 mg, em dose única), o mebendazol (100 mg, duas vezes ao dia, durante três dias, ou 500 mg, em dose única) ou a ivermectina (150-200 μg/kg, em dose única) são eficazes. Contudo, essas medicações são contraindicadas na gravidez. Diarreia leve e dor abdominal são efeitos colaterais incomuns desses agentes. A obstrução intestinal parcial deve ser tratada com aspiração nasogástrica, hidratação intravenosa e instilação de piperazina por sonda nasogástrica, mas a obstrução completa e suas graves complicações exigem intervenção cirúrgica imediata. ENTEROBÍASE (OXIÚROS) O E. vermicularis é mais comum nos países temperados que nos trópicos. Nos Estados Unidos, cerca de 40 milhões de pessoas se infectam com Enterobius, com maior número de casos entre crianças. Ciclo de vida e epidemiologia Os vermes Enterobius adultos têm cerca de 1 cm de comprimento e habitam o ceco. Vermes fêmeas grávidas fazem migração noturna para a região perianal e liberam até 2 mil ovos imaturos cada uma. Os ovos tornam-se infecciosos dentro de horas e são transmitidos pela passagem da mão à boca. A partir dos ovos ingeridos, as larvas eclodem e amadurecem, tornando-se adultas. Esse ciclo evolutivo leva aproximadamente um mês, e os vermes adultos sobrevivem por cerca de 2 meses. A autoinfecção resulta da coçadura perianal e do transporte de ovos infecciosos nas mãos ou sob as unhas até a boca. Devido à facilidade da propagação interpessoal, as infecções por Enterobius são comuns entre membros da mesma família. Manifestações clínicas A maioria dasinfecções por Enterobius é assintomática. Prurido perianal é o sintoma principal. A coceira, que frequentemente é pior à noite como um resultado da migração noturna dos vermes fêmeas, pode levar a escoriação e infecção bacteriana secundária. Alega-se que infecções massivas causam dor abdominal e perda de peso. Em raras ocasiões, os oxiúros invadem o trato genital feminino, causando vulvovaginite e granulomas pélvicos ou peritoneais. Eosinofilia é incomum. Diagnóstico Como os ovos de Enterobius não são liberados nas fezes, o diagnóstico não pode ser feito pelos exames parasitológicos de fezes convencionais. Em vez disso, os ovos são detectados pela aplicação de fita adesiva transparente na região perianal pela manhã. Depois que a fita é transferida para uma lâmina, o exame microscópico revela os ovos de oxiúros, que são ovais, medem 55 por 25 μm e são achatados em um lado. Tratamento Crianças e adultos infectados devem ser tratados com mebendazol (100 mg, em dose única) ou albendazol (400 mg, em dose única), repetindo o tratamento depois de 2 semanas. O tratamento de todas as pessoas do domicílio também é recomendado a fim de eliminar os reservatórios assintomáticos contra a reinfecção em potencial. Albendazol, mebendazol e ivermectina.
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