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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO DE FAMÍLIA Yy0 Aluno: EaD - Educação a DistânciaPortal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE DIREITO DE FAMÍLIA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 CONCEITO DE DIREITO DE FAMÍLIA? 2 DIPLOMAS LEGAIS 3 O CASAMENTO 3.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO 3.2 CAPACIDADE PARA O CASAMENTO 3.3 QUEM PODE CASAR? 3.4 INVALIDADE DO CASAMENTO 3.4.1 Casamento Nulo 3.4.2 Momento e Legitimidade para Alegação do Impedimento 3.4.3 Casamento Anulável 3.4.4 Momento e Legitimidade para Alegação da Suspensão 3.5 MODALIDADES DE CASAMENTO 3.6 PROCEDIMENTO PARA REALIZAÇÃO DO CASAMENTO CIVIL 3.7 A CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO CIVIL 3.7.1 Celebração no Cartório 3.7.2 Celebração Realizada Fora do Cartório 3.8 CUSTAS 3.9 CELEBRAÇÕES ESPECIAIS DE CASAMENTO 3.9.1 Moléstia Grave 3.9.2 Risco de Vida 3.9.3 Casamento por Procuração 3.9.4 Casamento de Brasileiro no Exterior 3.9.5 Casamento Perante Autoridade Consular Brasileira 3.9.6 Casamento Perante Autoridade Estrangeira 3.9.7 Casamento de Estrangeiro no Brasil 3.9.8 Casamento Religioso com Efeitos Civis 4 UNIÃO ESTÁVEL 5 CASAMENTO HOMOAFETIVO E A RESOLUÇÃO Nº 175/2013 (CNJ) AN02FREV001/REV 4.0 4 MÓDULO II 6 O QUE ÉPARENTESCO? 6.1 OS TIPOS DE PARENTESCO E A PREVISÃO LEGAL 6.2 TRÊS REGRAS SOBRE O PARENTESCO 6.3 PARENTES EM LINHA RETA 6.4 PARENTES NA LINHA COLATERAL 6.5 PARENTES AFINS EM LINHA RETA 6.6 PARENTES AFINS EM LINHA COLATERAL 7 ADOÇÃO 7.1 QUEM PODE ADOTAR? 7.2 PROCEDIMENTO PARA ADOÇÃO 7.3 IRREVOGABILIDADE DO ATO 7.4 ADOÇÃO POR PESSOAS DO MESMO SEXO (RELAÇÃO HOMOAFETIVO) 7.5 PARENTESCO SOCIOAFETIVO 8 A FILIAÇÃO 8.1 IGUALDADE DE DIREITOS E CONDIÇÕES 8.2 PROVA DA FILIAÇÃO 8.3 PRESUNÇÃO DE PATERNIDADE 8.3.1 Reprodução Assistida 8.3.2 Inseminação Artificial Homóloga e Heteróloga 8.3.4 Fertilização In Vitro 8.3.5 Reconhecimento dos Filhos 8.3.6 Formas de Reconhecimento dos Filhos 8.1.7Contestação da Paternidade 8.1.8Contestação da Maternidade 8.1.9Posse do Estado de Filho MÓDULO III 9 REGINE DE BENS 9.1 A PREVISÃO LEGAL 9.2 DISPOSIÇÕES GERAIS 9.3 REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS AN02FREV001/REV 4.0 5 9.4 REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS 9.5 REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS 9.6 REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS 10 PACTO ANTENUPCIAL 10.1 ESCRITURA DE PACTO ANTENUPCIAL 11 OUTORGA UXÓRIA 12 ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS 12.1 REGIME DE BENS NA UNIÃO ESTÁVEL 12.2 REGIME DE BENS E O DIREITO DAS SUCESSÕES MÓDULO IV 13 INTRODUÇÃO 14 PREVISÃO LEGAL 14.1 MORTE DE UM DOS CÔNJUGES 14.2 NULIDADE OU ANULAÇÃO DO CASAMENTO 14.3 SEPARAÇÃO 14.4 DIVÓRCIO 15 O FALECIMENTO DE UM DOS CÔNJUGES 16 A NULIDADE DO CASAMENTO 17 OS IMPEDIMENTOS PARA O CASAMENTO 18 A ANULAÇÃO DO CASAMENTO 19 COAÇÃO 20 SEPARAÇÃO 20.1 O PROCESSO DE SEPARAÇÃO 20.2 SEPARAÇÃO EXTRAJUDICIAL 20.3 SEPARAÇÃO CONSENSUAL JUDICIAL 20.4 SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA 20.5 MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAÇÃO DE CORPOS 21 PARTILHA DE BENS 22 RECONCILIAÇÃO 23 DIVÓRCIO 23.1 DIVÓRCIO DIRETO AN02FREV001/REV 4.0 6 23.2 DIVÓRCIO CONVERSÃO 23.3 DIVÓRCIO CONSENSUAL 23.3.1 Procedimento Extrajudicial 23.3.2 Procedimento Judicial 23.4 DIVÓRCIO LITIGIOSO 24 O DIVÓRCIO DE ACORDO COM A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 7 MÓDULO I APRESENTAÇÃO Neste módulo vamos estudar o conceito e a amplitude do Direito de Família e nos dedicar ao primeiro tema que envolve este ramo do direito: o casamento. A partir de agora vamos nos dedicar aos seguintes assuntos: Conceito de Direito de Família; Conceito de casamento; Principais características do casamento; Capacidade para o casamento; Quem pode casar; Invalidade do casamento; Modalidades de casamento; Procedimento para realização do casamento civil; A celebração do casamento civil; Custas; Celebrações especiais de casamento; Casamento de brasileiro no exterior; Casamento de estrangeiro no Brasil; Casamento religioso com efeitos civis. AN02FREV001/REV 4.0 8 1 CONCEITO DE DIREITO DE FAMÍLIA? Direito de Família é um ramo do Direito Civil que regula as questões familiares. Para entendermos melhor este conceito precisamos conhecer a abrangência do conceito de família. Até pouco tempo atrás, a família era constituída pelo homem e pela mulher, que se uniam pelo vínculo do casamento, e seus respectivos descendentes. Este era o conceito trazido pelo Código Civil de 1916. A Constituição Federal de 1988, porém, em seu artigo 226, passou a conceituar a entidade familiar como o resultante da união de vida de um homem e uma mulher ou, ainda, de qualquer dos pais e seus respectivos descendentes. Já a Carta Magna amplia o conceito de família, abrangendo não só as relações de casamento, como também as relações afetivas havidas entre um homem e uma mulher não formalizadas pelo casamento. O atual Código Civil também traz o conceito de entidade familiar como aquele decorrente da união de vida de um homem e uma mulher, decorrentes ou não do casamento. Também como a Constituição Federal, este Diploma entende como entidade familiar o núcleo formado por um dos pais e seus descendentes. A mais recente norma que abarca este conceito é ainda mais abrangente. Para a Lei 11.340/2006, também conhecida como Lei Maria da Penha, família é o núcleo de pessoas que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. Como se pode perceber, ao longo do tempo o conceito de família vem sendo alterado em razão de mudanças nas estruturas sociais, passando o Direito de Família a tutelar outras situações que AN02FREV001/REV 4.0 9 foram sendo criadas social e paulatinamente reguladas pela lei. Todavia, em razão das constantes transformações sociais, há ainda diversas situações que não foram normatizadas e, por isso, não estão amparadas pelo Direito de Família. Era o caso da união homoafetiva. Hoje já existe a união estável entre casais homoafetivos, que foi reconhecida em 2011 pelo STF, que julgou a ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 132/RJ e a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 4.277/DF. Com isso o STF quis afastar a expressão “homem e mulher” da lei e permitir a interpretação extensiva aos casais de mesmo sexo, reconhecendo a união homoafetiva como família. Isto é, a Corte interpretou o art. 1723 do CC à luz da CF, possibilitando assim o reconhecimento da união homoafetiva contínua, pública e duradoura como verdadeira família, em pé de igualdade com as famílias heteroafetivas, conforme preceito legal acerca da união estável. 2 DIPLOMAS LEGAIS O Direito de Família consta do Livro IV do Código Civil e está previsto na Constituição Federal, nos artigos 226 a 230. Outras leis também versam sobre o Direito de Família, tal como a Lei 6.015/1977 (que trata do divórcio), Lei 8.089/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); Lei 8.971/1994 (que regula o direito dos companheiros a alimentos e à sucessão); Lei 9.278/1996 (que regula oartigo 226 da Constituição Federal); Lei 12.133/2009 (que trouxe alteração que afeta diretamente o serviço do registrador civil, simplificando e desjudicializando o procedimento de AN02FREV001/REV 4.0 10 habilitação para o casamento), Lei nº 12.318/2010 (que dispõe sobre a alienação parental) e a Emenda Constitucional n° 66/2010(dando nova redação ao § 6º do art. 226 da Constituição Federal, que dispõe sobre a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio). 3 O CASAMENTO Casamento é o vínculo jurídico existente entre o homem e a mulher que, obedecendo às formalidades da lei, unem-se com o objetivo de constituir família. É a união solene entre sujeitos de sexos diversos entre si, para a constituição de uma família e a satisfação dos seus interesses personalíssimos, bem como de sua eventual prole. Quanto à natureza jurídica do casamento, há três teorias: contratualista: o casamento é um negócio jurídico bilateral; institucionalista: o casamento não é um contrato porque não se pode negociar e não visa ao lucro. O casamento foi criado pela sociedade e, portanto, é uma organização social preestabelecida; eclética ou mista: o casamento é contrato e é instituição; é ato complexo: é um contrato na formação e uma instituição na duração. AN02FREV001/REV 4.0 11 3.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO O casamento é um ato formal, com características peculiares, que devem ser registradas para que você entenda os fundamentos deste vínculo jurídico. As principais características do casamento são: o casamento é ato pessoal, porque deve ser realizado por pessoa. Todavia, em razão de ser possível sua realização por meio de procurador, não é ato personalíssimo; o casamento é ato civil; o casamento é ato gratuito, o que significa que a celebração do casamento é gratuita. A habilitação para o casamento, porém, só é gratuita para os reconhecidamente pobres; o casamento é ato solene; o casamento é ato público; o casamento é ato exclusivo, porque as pessoas só podem casar uma vez no mesmo momento; o casamento é ato puro e simples, já que não admite termo ou condição. 3.2 CAPACIDADE PARA O CASAMENTO Capacidade matrimonial é o grau de discernimento ou aptidão que permite à pessoa casar-se, se essa for a sua vontade. AN02FREV001/REV 4.0 12 O Código Civil informa que a partir de 18 anos as pessoas podem, por livre e espontânea vontade, casar. Pessoas maiores de 16 e menores de 18 anos também podem casar desde que autorizadas pelos pais, tutores ou curadores. Neste caso: se houver divergência entre os pais é assegurado a qualquer um deles recorrer ao Poder Judiciário para solução do desacordo; até a celebração do casamento, os pais, tutores ou curadores podem revogar a autorização; se a denegação do consentimento for injusta, o Poder Judiciário pode suprimi-lo. Em caso excepcional de gravidez, a lei permite o casamento de pessoas menores de 16 anos. Ressaltando que o casamento desses menores que não atingiram a idade núbil se faz mediante autorização judicial, denominada suprimento judicial de idade. O juiz sempre analisará a convivência do casamento para os nubentes e para a criança que irá nascer. E os emancipados? Podem casar sem autorização dos pais? Há duas correntes para este caso: Para a primeira corrente, os emancipados não dependem de autorização porque com a emancipação tornaram-se capazes para o exercício dos atos da vida civil, o que inclui o casamento. Para a segunda corrente, é necessário haver autorização, já que o critério utilizado pela lei ao estabelecer a idade para o casamento é a idade e não a capacidade e a incapacidade dos contraentes. Para esta corrente, portanto, a idade e a capacidade são institutos diferentes para fins de casamento. AN02FREV001/REV 4.0 13 3.3 QUEM PODE CASAR? Atingida a idade prevista na lei, podem casar as pessoas solteiras, as viúvas e divorciadas. As viúvas, caso tenham filhos do cônjuge falecido, devem fazer o inventário antes de casar. Caso contrário, somente poderão casar sob o regime da separação de bens. O mesmo ocorre com as pessoas divorciadas: enquanto não for feita a partilha dos bens, o novo casamento só pode ser realizado sob o regime de separação de bens. As pessoas separadas de fato ou judicialmente não podem casar. Elas devem fazer o divórcio para que contraiam novo casamento. 3.4 INVALIDADE DO CASAMENTO A invalidade do casamento pode ocorrer quando o mesmo for nulo ou anulável. AN02FREV001/REV 4.0 14 3.4.1 Casamento Nulo O casamento é nulo quando: contraído por enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil, independentemente da idade. não se observam os impedimentos legais. Os impedimentos legais são circunstância que: proíbem a realização do casamento; ou, acarretam a nulidade do casamento realizado na sua presença. No primeiro caso a função do impedimento é suspensiva e, no segundo, a função é sancionaria. O Artigo 1521 do Código Civil traz as hipóteses de impedimento para o casamento. De acordo com este artigo, não podem casar: os ascendentes com os descendentes; seja o parentesco natural ou civil. os parentes afins em linha reta (enteados e sogras). Mas, os parentes afins em linha colateral (cunhados) podem se casar. o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem foi cônjuge do adotante. os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais parentes colaterais até o terceiro grau. Parte da doutrina entende que o Decreto 3200/41 que permitia o casamento entre parentes colaterais de terceiro grau mediante exame médico não foi revogado pelo Código Civil de 2002, sendo, portanto, possível o casamento neste caso. o adotado com o filho do adotante. as pessoas casadas, mesmo que o casamento tenha ocorrido no exterior e não tenha sido registrado no Brasil. o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o consorte. O tipo de homicídio a que se refere o legislador é o doloso, porque é o único que admite a tentativa. Nesse caso, para que se possa alegar o impedimento é AN02FREV001/REV 4.0 15 necessário que haja condenação do consorte, mas não é necessário que haja o trânsito em julgado da sentença. Por outro lado, enquanto ele é apenas indiciado ou pronunciado, o casamento é permitido; todavia, para parte da doutrina, a condenação posterior retroage e torna nulo o casamento. 3.4.2 Momento e Legitimidade para Alegação do Impedimento Quando a função do impedimento for suspensiva, ele pode ser alegado por qualquer pessoa até o momento da celebração do casamento. No caso de função sancionaria, porém, o impedimento pode ser alegado após a celebração do casamento e somente por meio de ação declaratória de nulidade. São legitimados a propor esta ação qualquer pessoa e o Ministério Público. 3.4.3 Casamento Anulável O casamento anulável implica em circunstâncias suspensivas que: Adiam a realização do casamento até que certa providência seja tomada. Acarretam a imposição do regime da separação de bens. As circunstâncias suspensivas do casamento são recomendações legais que informam determinadas pessoas que o casamento não é aconselhado. Assim, informa a lei que não devem casar: AN02FREV001/REV 4.0 16 O viúvo que tiver filhos do cônjuge falecido, enquanto não fizer o inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. A viúva ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez ou dissolução da sociedade conjugal. O divorciado, enquanto não houver sido homologada a partilha dos bens do casal.O tutor ou curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela e a curatela e não estiverem saldadas as respectivas contas. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas no primeiro, terceiro e quarto tópicos, desde que comprovem a inexistência de prejuízo para o herdeiro, ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada. No caso do segundo tópico, a nubente deverá provar nascimento de filho ou inexistência de gravidez no prazo estabelecido pela lei. 3.4.4 Momento e Legitimidade para Alegação da Suspensão As causas suspensivas do casamento podem ser arguidas pelos parentes em linha reta, consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, consanguíneos ou afins. No caso do segundo e do terceiro tópicos, as causas suspensivas também podem ser alegadas pelo ex-cônjuge do nubente. O prazo para alegação estende-se até o último dia da publicação dos proclamas. AN02FREV001/REV 4.0 17 3.5 MODALIDADES DE CASAMENTO O casamento pode ser civil ou religioso. Somente o casamento civil gera efeitos jurídicos, mas a lei permite a conversão do casamento religioso em civil. O casamento civil ainda pode ser celebrado de forma especial em caso de doença grave ou risco de vida. 3.6 PROCEDIMENTO PARA REALIZAÇÃO DO CASAMENTO CIVIL Para realizar o casamento civil, os interessados precisam procurar o Cartório de Registro Civil e fazer a habilitação para o casamento. AN02FREV001/REV 4.0 18 Para a habilitação, cinco passos devem ser seguidos: 1º passo: o homem e a mulher firmarão requerimento para casamento, de próprio punho ou por procurador, ao oficial de registro civil, acompanhado dos seguintes documentos: Certidão de nascimento; Autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra, quando o nubente tiver entre 16 e 18 anos de idade; Declaração de duas testemunhas, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento para o casamento; Declaração do estado civil, do domicílio e residência dos dois e de seus pais; Certidão de óbito do cônjuge falecido, sentença declaratória de nulidade ou anulação de casamento transitada em julgado ou registro de sentença de divórcio; Documentos pessoais. 2º passo: apresentados o requerimento e os documentos, os proclamas serão publicados por 15 dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os interessados e, obrigatoriamente, na imprensa local, quando houver. Obs.: em caso de urgência, o juiz poderá suspender a publicação. 3º passo: os documentos serão analisados pelo Ministério Público. 4º passo: o juiz fará a homologação do casamento. AN02FREV001/REV 4.0 19 Obs.: os 3º e 4º passos não são observados em São Paulo. 5º passo: se não aparecer ninguém que oponha impedimento, após a análise pelo Ministério Público e pelo juiz, será expedido o certificado de habilitação para o casamento com validade de 90 dias. Com este certificado, no prazo máximo de 90 dias, deve-se agendar, no próprio Cartório de Registro Civil, a data de celebração do casamento. 3.7 A CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO CIVIL A celebração do casamento civil pode ocorrer no cartório ou em outro local escolhido pelos nubentes, mas em ambos os casos deve atender aos requisitos da lei, que são: AN02FREV001/REV 4.0 20 Presença dos nubentes, do oficial, do celebrante (juiz de paz) e de duas testemunhas ou quatro, se o prédio for particular ou quando um dos nubentes não puder assinar. Pergunta do celebrante se é de livre e espontânea vontade a união. Respostas afirmativas dos nubentes. Declaração solene do celebrante. Lavratura do assento no livro de registro. O casamento só se consuma com a declaração solene do celebrante. Antes disso, não há casamento. Durante a celebração do casamento, não pode haver dúvidas quanto à vontade dos nubentes. Por isso, o celebrante será obrigado a parar a celebração de casamento se um dos contraentes se recusar a dar solene afirmação de sua vontade ou se um dos contraentes declarar que a vontade não é livre e espontânea, ou ainda se um dos contraentes manifestar-se arrependido. Nestes casos, ao nubente que der causa a suspensão da celebração não será permitido retratar-se no mesmo dia. 3.7.1 Celebração no Cartório A celebração no próprio cartório deve ocorrer com toda a publicidade, de portas abertas e na presença de pelo menos duas testemunhas (padrinhos), parentes ou não dos interessados, ou quatro se um dos contraentes não souber ou não puder escrever. 3.7.2 Celebração Realizada Fora do Cartório Se as partes preferirem, o casamento pode ser realizado em outro local, que não o cartório. Nesse caso, o local deverá ficar de portas abertas durante o ato e o casamento será realizado perante quatro testemunhas (padrinhos). AN02FREV001/REV 4.0 21 3.8 CUSTAS A celebração do casamento é gratuita, mas todo o processo de habilitação é pago, exceto para as pessoas reconhecidamente impossibilitadas de pagar. 3.9 CELEBRAÇÕES ESPECIAIS DE CASAMENTO A lei informa alguns procedimentos especiais para o casamento quando um dos interessados for portador de doença grave ou estiver em iminente risco de vida. 3.9.1 Moléstia Grave Quanto um dos contraentes não puder aguardar a data do casamento ou quando o interessado não puder se locomover, o celebrante irá até eles e realizará o casamento na presença de duas testemunhas que saibam ler e escrever. AN02FREV001/REV 4.0 22 3.9.2 Risco de Vida Este casamento é conhecido como nuncupativo e ocorre quando um dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não sendo possível aguardar a presença da autoridade competente para presidir o ato. Neste caso, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas que não tenham vínculo de parentesco com os contraentes. Após a celebração do casamento, no prazo de 10 dias, as testemunhas devem comparecer perante a autoridade judicial e informar que o enfermo em perigo de vida as convocou e, por livre e espontânea vontade, os contraentes declararam a vontade de casar. Feito isso, o juiz verificará a existência de impedimentos para o casamento. Não existindo, será confirmado o casamento, que valerá desde o dia da celebração. Se o enfermo melhorar de saúde, o procedimento anterior pode ser dispensado se ele mesmo fizer a confirmação perante a autoridade competente e o oficial de Registro Civil. 3.9.3 Casamento por Procuração Conforme já estudamos, o casamento é ato pessoal e não personalíssimo; o que significa que ele pode ser realizado por intermédio de outra pessoa, que não o contraente. O Código Civil permite o casamento por meio de procuração e específica os requisitos desta procuração: Poderes especiais e especificação do nome dos contraentes. Seja outorgada por instrumento público. Tenha validade de 90 dias. A procuração pode ser revogada, desde que por instrumento público. Além disso, o casamento realizado após a revogação da procuração é anulável. Neste caso, somente o mandante tem legitimidade para propor ação no prazo de 180 dias AN02FREV001/REV 4.0 23 a contar da ciência da celebração e desde que não tenha havido coabitação entre o casal. Se o mandante falece antes do dia previsto para a celebração do casamento, ocorre a caducidade da procuração e, consequentemente, a inexistência do casamento realizado posteriormente. 3.9.4 Casamento de Brasileiro no Exterior O casamento de brasileiros no exterior pode ser feito perante aautoridade consular brasileira ou perante a autoridade estrangeira competente. 3.9.5 Casamento Perante Autoridade Consular Brasileira Estando os brasileiros em país estrangeiro, poderão casar perante a autoridade consular. Este tipo de casamento é conhecido como casamento consular e só é permitido quando os dois interessados são brasileiros. Para a realização do casamento consular, os brasileiros devem procurar o Consulado Brasileiro no país. O procedimento para a habilitação e celebração é igual ao do casamento realizado no Brasil. Os regimes de bens a serem adotados são os previstos no Código Civil, sendo também possível fazer pacto antenupcial, no próprio consulado. Após 180 dias a contar da volta de um dos contraentes ao Brasil, o casamento deve ser registrado no cartório de Registro Civil do domicílio ou, se não tiverem domicílio conhecido aqui, no 1º Ofício do Distrito Federal. Caso um dos AN02FREV001/REV 4.0 24 interessados ou os dois não possa voltar ao Brasil, o registro pode ser feito por outra pessoa que tenha uma procuração específica para tanto. Se o casamento for registrado no prazo de 180 dias, terá efeitos, no Brasil, desde a data em que foi realizado. Mas, passado este prazo, o casamento só produzirá efeitos no país a partir de seu registro no cartório do primeiro domicílio dos cônjuges no Brasil. 3.9.6 Casamento Perante Autoridade Estrangeira Quando permitido pela lei local, o casamento entre brasileiros pode ser feito por autoridade estrangeira competente. Também podem casar desta forma o brasileiro e o estrangeiro. Nesse caso, após a celebração do casamento, será expedida a certidão do ato, na forma da lei local, que deve ser registrada no Consulado Brasileiro do país. Do registro é extraída a certidão de casamento. Os regimes de bens adotados devem ser os previstos na lei do país onde foi celebrado o casamento. 3.9.7 Casamento de Estrangeiro no Brasil O casamento de estrangeiros realizado no Brasil deve ser feito perante as autoridades diplomáticas ou consulares do país de origem dos contraentes e só é permitido se os interessados forem da mesma nacionalidade. AN02FREV001/REV 4.0 25 3.9.8 Casamento Religioso com Efeitos Civis A celebração do casamento feita por autoridade religiosa pode ter efeitos civis desde que cumpra os requisitos de validade do casamento civil, ou seja, desde que não haja nenhum impedimento ou causa suspensiva para a união. A autoridade religiosa entregará aos contraentes um termo de casamento. Com este termo, os interessados podem dirigir-se ao cartório para dar ao casamento religioso os efeitos da lei. Neste caso, os contraentes deverão passar normalmente pelo procedimento de habilitação para o casamento, apresentando os documentos e cumprindo as formalidades exigidas pela lei, conforme já esclarecido. O processo de habilitação, porém, pode ocorrer em dois tempos diferentes: 1. Antes da celebração religiosa: quando os contraentes primeiro promovem o processo de habilitação perante o oficial do Registro Civil e, após expedida a certidão de habilitação para o casamento, realizam a celebração perante autoridade religiosa. Neste caso, durante os 90 dias de validade da certidão de habilitação, os contraentes devem comparecer ao Cartório, com o termo de casamento emitido pela autoridade religiosa, para registrar o ato. 2. Depois da celebração religiosa: os contraentes primeiro realizam a celebração do casamento perante a autoridade religiosa. Posteriormente, a qualquer tempo, devem comparecer no cartório de Registro Civil e promover a habilitação para o casamento. Seguido o procedimento legal, não havendo oposição e expedido AN02FREV001/REV 4.0 26 o certificado, no prazo de 90 dias, os contraentes devem pedir a conversão do casamento religioso em civil. 4 UNIÃO ESTÁVEL Numa visão retrospectiva, o Código Civil de 1916 ignorou a família de fato, protegendo largamente a família formada pelo casamento. Ficava a companheira desamparada, no que tangia aos efeitos patrimoniais decorrentes da dissolução das uniões de fato. O primeiro passo para a legalização da união estável veio com o Decreto nº 4.737 de 1942, que dispôs sobre o reconhecimento dos filhos naturais. Depois outros benefícios foram paulatinamente sendo concedidos às companheiras, decorrentes de lei. Mas a Constituição de 1988 legitimou a união estável, conferindo- lhe o status família. E, a partir daí, outras leis apareceram, como a Lei nº 8.971/1994, que estabeleceu os requisitos da união estável, impôs o prazo de 5 anos de duração da união ou existência de prole, sendo ainda a primeira lei a reconhecer o direito de alimento e representou importante avanço para o reconhecimento do direito de meação na partilha de bens. Na atualidade, a união estável recebe amparo constitucional no art. 226, § 3°, da Constituição de 1988 e também do Código Civil de 2002 que regula a união estável em seus arts. 1723 a 1727, encontrando-se também disposições esparsas em outros capítulos quanto a certos efeitos, como o direito sucessório dos companheiros (art. 1790) e a obrigação alimentar (art. 1694). Considera-se união estável a entidade familiar estabelecida entre o homem e a mulher, de forma pública, contínua e duradoura, com animus de constituir família, diferente do concubinato, que se restringe às relações entre homens e mulheres impedidos de casar. Note-se que a menção expressa aos termos ”homem” e “mulher” afastava a possibilidade de configura-se união estável entre pessoas do mesmo sexo. Porém, essa característica, veio a ser desobrigada tendo em vista decisão emanada pelo STF em 2011, acolhendo as relações homoafetivas como união estável (ADI 4277 – DF e ADPF 132 –RJ).O STF afastou a expressão AN02FREV001/REV 4.0 27 ”homem” e “mulher” da lei e permitiu a interpretação extensiva aos casais de mesmo sexo. Consiste,portanto, a união estável na ligação marcada pela ausência da celebração do casamento, mas que apresente o animus de se manter uma comunhão de vida estável, durável e pública, com aparência de casamento, em que se atribui aos companheiros o dever de lealdade similarmente ao dever de fidelidade dos cônjuges, não sendo necessária a coabitação para configurá-la. Desse modo, para que se configure união estável é necessária a efetiva formação da família, não sendo suficiente o simples objetivo de constituí-la como existe no namoro e no noivado, assim, é a união estável a manifestação aparente do casamento, caracterizando-se pela comunhão de vidas. A união estável tem natureza jurídica de um contrato não solene, elaborado por escrito ou verbal. Assim, uma das características principais da união estável é a ausência de formalidades para a sua constituição, bastando apenas o início da vida em comum. Uma especial característica da referida entidade familiar é a constituição da prova do seu início, justamente por não conter, como no casamento, uma data base inicial a partir da qual todos os efeitos oriundos da composição familiar começarão a fluir. Desta forma, é importante a elaboração de um contrato de convivência, que funcionará como marco inicial de existência da união, e ainda propiciar a regulamentação do regime de bens que venham a compor o patrimônio familiar. Vários são os requisitos para a configuração da união estável que estão presentes no art. 1723 do CC. A luz do disposto no art. 1723 do CC, embora recentemente o STF tenha autorizado o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, o que representou significativa modificação no quadro jurídico nacional. Antes desse reconhecimento já vinha a jurisprudência outorgando direitos análogos à união estável aos parceiros homossexuais. Uma questão muito discutida na atualidade é diferenciar a uniãoestável do simples namoro. Para que se configure o início do namoro basta que duas pessoas iniciem um relacionamento amoroso, o que abrange desde encontros casuais até relacionamentos mais sérios, em que há publicidade, fidelidade e uma possível intenção de casamento ou constituição de união estável no futuro. AN02FREV001/REV 4.0 28 A doutrina divide o namoro em simples e qualificado. O namoro simples é facilmente diferenciado da união estável, pois não possui sequer um de seus requisitos básicos. É, por exemplo, o namoro às escondidas, o namoro casual, o relacionamento aberto. Já o namoro qualificado apresenta a maioria dos requisitos também presentes na união estável. Trata-se, na prática, da relação amorosa e sexual madura, entre pessoas maiores e capazes, que apesar de apreciarem a companhia uma da outra, e por vezes até pernoitarem com seus namorados, não têm o objetivo de constituir família. Por esse motivo é tão difícil, na prática, encontrar as diferenças entre união estável e o namoro qualificado. Muito embora as semelhanças existentes entre ambos, o que os diferencia é o objetivo precípuo de constituir família, presente união estável e ausente no namoro qualificado. A affectio maritalis deve necessariamente estar presente nessa relação, conforme Gonçalves, Carlos Roberto (Direito Civil Brasileiro, São Paulo, Ed. Saraiva, v. 6, 2008) Para ele, não configuram união estável os encontros amorosos, mesmo que constantes, ainda que os parceiros mantenham relações sexuais, nem mesmo se viajarem juntos ou comparecerem a festas, recepções, entre outros, se não houver, bilateralmente, o intuito de constituir família. Portanto, para que se forme a união estável, o relacionamento amoroso deve ser contínuo e não casual; precisa de animus de constituir família; deve ser público, a discrição não desconstitui a união estável, o que não se admite é a união secreta; a união deve ser duradoura; deve estar marcada pelo dever de fidelidade, pela habitação comum, pela convivência, pela presença de relações sexuais. Assim, para a constituição da união estável o casal deve manifestar a sua vontade de constituir família, vivendo nesse sentido como se casado fosse. Isso significa dizer que deve haver assistência moral e material recíproca irrestrita, esforço conjunto para concretizar sonhos em comum, participação real nos problemas e desejos do outro, etc. Importante salientar, não é possível, pois, que o casal renuncie a qualquer dos requisitos de formação da união estável, mesmo se ambos estiverem de mútuo acordo. Isso significa que o contrato de namoro não tem validade para evitar a configuração da união estável, a qual se constituirá com ou sem contrato, desde que os seus requisitos estejam, de fato, presentes. AN02FREV001/REV 4.0 29 Os efeitos da união estável, uma vez reconhecida pelo juiz, são patrimoniais e pessoais, tal qual sucede com o casamento civil. No que tange aos deveres dos companheiros, estão previstos no art. 1724 do CC: “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”. A nomenclatura utilizada pode levar o intérprete à conclusão de que os direitos e deveres oriundos da união estável são diferenciados dos do casamento, pois enquanto para união estável se preconizam lealdade, respeito e assistência, para o casamento se preconizam fidelidade recíproca, vida comum no domicílio conjugal e mútua assistência (art. 1566 do CC). Já o art. 1725, regula as relações patrimoniais: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”. Cabe ressaltar, aos direitos dos companheiros, abrangem um complexo de direitos de cunho pessoal e de natureza patrimonial, esparsos pela legislação ordinária, dentre os quais se salientam o direito de alimentos, o direito à meação e o regime de bens, o direito à sucessão hereditária. Na família formada pela união estável, no que respeita ao dever de assistência material reciprocamente considerada, tem-se o dever de alimentar como aquele que poderá ser reclamado por qualquer dos companheiros em virtude de comprovada necessidade, tal como dispõe o art. 1694 do CC, direito esse irrenunciável. Por fim, O Código Civil em seu art. 1726, estabelece que a união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no registro Civil, isto é, a conversão da união estável em casamento poderá ser feita, a qualquer tempo, mediante pedido formulado perante o oficial do registro civil. A conversão não produz efeitos retroativos. Assim, as relações pessoais e patrimoniais da união estável permanecerão com seus efeitos próprios, especialmente no que tange à partilha de bens havidos na constância da união estável. E ainda, em julho de 2014, surgiu uma mudança importante para quem vive em união estável por meio do provimento nº 37 do CNJ (Conselho Nacional de AN02FREV001/REV 4.0 30 Justiça) onde assegura a averbação das relações de fato perante o Registro Civil de Pessoas Naturais: CONSIDERANDO o disposto na Resolução nº 175, de 14de maio de 2013, do Conselho Nacional de Justiça; RESOLVE: Art. 1º. É facultativo o registro da união estável prevista nos artigos 1.723 a 1.727 do Código Civil, mantida entre o homem e a mulher, ou entre duas pessoas do mesmo sexo. Art. 2º. O registro da sentença declaratória de reconhecimento e dissolução, ou extinção, bem como da escritura pública de contrato e distrato envolvendo união estável, será feito no Livro "E", pelo Oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais da Sede, ou, onde houver, no 1º Subdistrito da Comarca em que os companheiros têm ou tiveram seu último domicílio, devendo constar: a) a data do registro; b) o prenome e o sobrenome, a data de nascimento, a profissão, a indicação da numeração da Cédula de Identidade, o domicílio e residência de cada companheiro, e o CPF se houver; c) prenomes e sobrenomes dos pais; d) a indicação das datas e dos Ofícios de Registro Civil das Pessoas Naturais em que foram registrados os nascimentos das partes, os seus casamentos ou uniões estáveis anteriores, assim como os óbitos de seus anteriores cônjuges ou companheiros, quando houver, ou os respectivos divórcios ou separações judiciais ou extrajudiciais se foram anteriormente casados; e) data do trânsito em julgado da sentença ou do acórdão, número do processo, Juízo e nome do Juiz que a proferiu ou do Desembargador que o relatou, quando o caso; f) data da escritura pública, mencionando-se no último caso, o livro, a página e o Tabelionato onde foi lavrado o ato; g) regime de bens dos companheiros, ou consignação de que não especificado na respectiva escritura pública ou sentença declaratória. Art. 3º. Serão arquivados pelo Oficial de Registro Civil, em meio físico ou mídia digital segura, os documentos apresentados para o registro da união estável e de sua dissolução, com referência do arquivamento à margem do respectivo assento, de forma a permitir sua localização. Art. 4º. Quando o estado civil dos companheiros não constar da escritura pública, deverão ser exigidas e arquivadas as respectivas certidões de nascimento, ou de casamento com averbação do divórcio ou da separação judicial ou extrajudicial, ou de óbito do cônjuge se o companheiro for viúvo, exceto se mantidos esses assentos no Registro Civil das Pessoas Naturais em que registrada a união estável, hipótese em que bastará sua consulta direta pelo Oficial de Registro. Art. 5º. O registro de união estável decorrente de escritura pública de reconhecimento ou extinção produzirá efeitos patrimoniais entre os companheiros, não prejudicando terceiros que não tiverem participado da escritura pública. Parágrafo único. O registroda sentença declaratória da união estável, ou de sua dissolução, não altera os efeitos da coisa julgada previstos no art. 472 do Código de Processo Civil. Art. 6º. O Oficial deverá anotar o registro da união estável nos atos anteriores, com remissões recíprocas, se lançados em seu Registro Civil das Pessoas Naturais, ou comunicá-lo ao Oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais em que estiverem os registros primitivos dos companheiros. AN02FREV001/REV 4.0 31 § 1º. O Oficial averbará, no registro da união estável, o óbito, o casamento, a constituição de nova união estável e a interdição dos companheiros, que lhe serão comunicados pelo Oficial de Registro que realizar esses registros, se distinto, fazendo constar o conteúdo dessas averbações em todas as certidões que forem expedidas. § 2º. As comunicações previstas neste artigo poderão ser efetuadas por meio eletrônico seguro, com arquivamento do comprovante de envio, ou por outro meio previsto em norma da Corregedoria Geral da Justiça para as comunicações de atos do Registro Civil das Pessoas Naturais. Art. 7º. Não é exigível o prévio registro da união estável para que seja registrada a sua dissolução, devendo, nessa hipótese, constar do registro somente a data da escritura pública de dissolução. § 1º. Se existente o prévio registro da união estável, a sua dissolução será averbada à margem daquele ato. § 2º. Contendo a sentença em que declarada a dissolução da união estável a menção ao período em que foi mantida, deverá ser promovido o registro da referida união estável e, na sequência, a averbação de sua dissolução. Art. 8º. Não poderá ser promovido o registro, no Livro E, de união estável de pessoas casadas, ainda que separadas de fato, exceto se separadas judicialmente ou extrajudicialmente, ou se a declaração da união estável decorrer de sentença judicial transitada em julgado. Art. 9º. Em todas as certidões relativas ao registro de união estável no Livro "E" constará advertência expressa de que esse registro não produz os efeitos da conversão da união estável em casamento. Art. 10. Este Provimento não revoga as normas editadas pelas Corregedorias Gerais da Justiça, no que forem compatíveis. Art. 11. As Corregedorias Gerais da Justiça deverão dar ciência deste Provimento aos Juízes Corregedores, ou Juízes que na forma da organização local forem competentes para a fiscalização dos serviços extrajudiciais de notas e de registro, e aos responsáveis pelas unidades do serviço extrajudicial de notas e de registro. Art. 12. Este Provimento entrará em vigor na data de sua publicação. Brasília - DF, 07 de julho de 2014. Conselheiro GUILHERME CALMON Corregedor Nacional de Justiça, em exercício. Desta forma, o novo regramento permite que os companheiros possam averbar escritura de união estável. Significa que pode inscrever quando começa e quando termina, ou apenas uma das opções. Essa anotação será transcrita também nas certidões de nascimento, casamento e óbito dos envolvidos. Na prática, permite que inicie uma união estável e já faça o registro enquanto ela ocorre. Caso termine, terá a prova inserida em todos os documentos dos envolvidos. Caso um faleça, a certidão de óbito terá essa anotação e impedirá que os herdeiros deixem o (a) companheiro (a) de fora da partilha. Se um deles for interditado por incapacidade civil, a nomeação do curador será feita com mais cautela, pois os filhos não terão como ocultar a existência daquela outra pessoa que vive junto. AN02FREV001/REV 4.0 32 O registro da união estável é diferente da sua conversão em casamento. Não envolve troca de estado civil. Porém, somente as pessoas aptas a se casar, os solteiros, divorciados e viúvos são beneficiados. Quem está separado de fato do ex- cônjuge e vive com outra pessoa, precisa ter o reconhecimento judicial do novo relacionamento. Cabe ressaltar, que a nova regra jurídica ainda tem imperfeições, como excluir o registro dos Contratos de Convivência previstos expressamente no art. 1725 do Código Civil, assim como falha ao não especificar quem tem legitimidade para pedir a averbação no Registro Civil: “os dois companheiros, apenas um deles ou mesmo um credor. De qualquer forma, é uma inovação muito relevante que finalmente permite que as uniões estáveis reconhecidas possam ser transcritas para a certidão de nascimento ou óbito, conferindo um status de maior dignidade para as pessoas que escolheram viver juntas”. 5 CASAMENTO HOMOAFETIVO E A RESOLUÇÃO Nº 175/2013 (CNJ) A homossexualidade existe desde temos remotos, os hebreus a repudiavam, os gregos e os romanos a admitiam, porém não conferiam qualquer regime jurídico a tal situação. A sociedade precisava evoluir e rever seus conceitos e preconceitos. A união homoafetiva são relações íntimas entre pessoas de mesmo sexo e que possuem afeição semelhante, ainda que com orientação sexual diversa. Atualmente, vários países como Argentina, Uruguai e diversos locais dos Estados Unidos aceitaram essa união. O Brasil também evoluiu, depois de anos na esperança de casais homossexuais se livrarem da descriminação, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento conjunto da ADPF n. 132/RJ e da ADI n. 4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002, interpretação conforme a Constituição para dele excluir todo significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Essa decisão ocorreu no dia 5 de maio de 2011 por intermédio de um julgamento e reconhecimento unânime dos ministros do STF. AN02FREV001/REV 4.0 33 Desta forma, ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) n.132/RJ e a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) n.4.277/DF permitiu a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar. Isto é, reconheceu a família homoafetiva, conferindo aos casais homossexuais o direito à união estável. E também conquistaram direitos que até então eram exclusivos aos casais heterossexuais, com isso, terão direitos iguais reconhecidos nos tribunais do país, como herança, pensão previdenciária e alimentícia em caso de separação, licença médica, comunhão parcial de bens e futuramente a facilidade de adoção, entre outros benefícios. Ressaltando que, muitos desses direitos conquistados, alguns já vinham sendo garantidos por outros tribunais em casos isolados, por exemplo, a Previdência Social passou a conceder ao parceiro homossexual a pensão por morte e permitir a declaração conjunta do imposto de renda. Importante frisar que para ser considerada uma união estável, assim como para os casais heterossexuais, serão necessários alguns requisitos. A relação precisa ser uma convivência pública, duradoura, contínua, ter a característica de lealdade e com a intenção de se constituir família, de acordo com o CC. Outro avanço foi uma decisão do STJ no julgamento do RESP (Recurso especial) n. 1.183.378-RS que reconheceu o direito a um casal homossexual a requerer a habilitação direta para casamento. Esse recurso especial foi interposto por duas cidadãs residentes no Rio Grande do Sul, que já viviam em união estável e tiveram o pedido de habilitação para o casamento negado em primeira e segunda instância. A decisão do tribunal gaúcho afirmou não haver possibilidade jurídica para o pedido, pois só o Poder Legislativo teria competência para instituir o casamento homoafetivo. No recurso especial dirigido ao STJ, elas sustentaram não haver impedimento no ordenamento jurídico para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Afirmaram, também, que deveria ser aplicada ao caso a regra de direito privado segundo a qual é permitido tudo o que não é expressamente proibido. A partir daí, a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo foi se tornando uma realidade.Cabe ressaltar, que 12 estados já haviam editado normas favoráveis a esse tipo de união e 15 não se manifestavam em relação ao assunto. Diante disso, o AN02FREV001/REV 4.0 34 Conselho Nacional de Justiça sentiu a necessidade de acabar com essa desigualdade entre os estados que autorizam e os que não autorizam o casamento homoafetivo editando a Resolução n. 175de 14/5/2013: Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições constitucionais e regimentais, CONSIDERANDO a decisão do plenário do Conselho Nacional de Justiça, tomada no julgamento do Ato Normativo nº 0002626-65.2013.2.00.0000, na 169ª Sessão Ordinária, realizada em 14 de maio de 2013; CONSIDERANDO que o Supremo Tribunal Federal, nos acórdãos prolatados em julgamento da ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF, reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões estáveis constituídas por pessoas de mesmo sexo; CONSIDERANDO que as referidas decisões foram proferidas com eficácia vinculante à administração pública e aos demais órgãos do Poder Judiciário; CONSIDERANDO que o Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.183.378/RS, decidiu inexistir óbices legais à celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo; CONSIDERANDO a competência do Conselho Nacional de Justiça, prevista no art. 103-B, da Constituição Federal de 1988; RESOLVE Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo. Art. 2º A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis. Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação. Ministro Joaquim Barbosa É bom frisar que antes da publicação dessa resolução do CNJ, a conversão da união estável em casamento já vinha ocorrendo em alguns estados, segundo levantamento da Anoreg-BR (Associação de Notários e Registradores do Brasil), cerca de 1200 casais do mesmo sexo registraram suas uniões em cartórios de 13 capitais, no ano anterior à Resolução n.175/2013. Essa Resolução acima mencionada surgiu diante da omissão legislativa, visando coibir qualquer resquício de discriminação e promover a cidadania em igualdade de condições, baseando-se em decisões proferidas pelo STF, no julgamento da ADPF 132/RJ e da ADI 4.277/DF, e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do REsp 1.183.378/RS, em outubro de 2011. A Resolução nº 175/2013 evidencia de forma clara a omissão do Poder Legislativo em tratar desse tema. Em resumo, dispõe a decisão nº 175/2013 do CNJ, sobre a habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas do mesmo sexo. Determina aos cartórios de todo o AN02FREV001/REV 4.0 35 país que convertam a união estável homoafetiva em casamento civil. A proposta partiu do próprio presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Joaquim Barbosa, e que foi aprovada por maioria de votos dos conselheiros. O descumprimento ao seu conteúdo implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis, as quais, nos termos do artigo 32 da Lei Federal nº 8.935/94. Art. 32. Os notários e os oficiais de registro estão sujeitos, pelas infrações que praticarem, assegurado amplo direito de defesa, às seguintes penas: I - repreensão; II - multa; III - suspensão por noventa dias, prorrogável por mais trinta; IV - perda da delegação. O texto da resolução é bastante curto, mas representa grande avanço, importante ato normativo, que tem como finalidade a efetivação dos direitos dessas pessoas humanas que, até então, sem qualquer justificativa, não tinham acesso ao casamento civil. Em ano, mais de mil uniões homoafetivas foram oficializadas desde que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou a Resolução 175/2013. Porém, muitas discussões jurídicas surgiram a respeito da resolução 175/2013, que dispõe sobre a obrigatoriedade dos cartórios registrarem e celebrar os casamentos de casais homoafetivos e ainda gerar muitos direitos e garantias para esses casais. Segundo Henrique Rabello Carvalho, acredita que o Conselho Nacional de Justiça agiu para garantir direito à parcela da sociedade: “a resolução do CNJ evidencia de forma clara a omissão do Poder Legislativo em tratar deste tema, cuja inércia, não obstante as diversas manifestações da sociedade civil refletem a homofobia e o preconceito ainda presentes na atuação de grande parte dos parlamentares que os impede de promover direitos à população LGBT. A decisão do CNJ evidencia a desigualdade jurídica em que se encontram os casais homoafetivos, a quem são aplicadas as mesmas obrigações constitucionais e infraconstitucionais que à maioria da população, sobretudo no que diz respeito às obrigações tributárias, cíveis e penais, mas que não tem garantidos os mesmos direitos reservados aos casais heteroafetivos. Assim, resta evidente que os direitos são promovidos de forma desigual aos cidadãos, e no caso específico da população LGBT, este segmento da sociedade possui menos direitos garantidos que o restante da população heterossexual. A falta de atuação do Poder Legislativo perpetua a desigualdade jurídica em que se encontra a população LGBT e o desrespeito ao artigo 5º da Constituição Brasileira”. AN02FREV001/REV 4.0 36 Dentro do próprio colegiado, houve divergências, a exemplo da Conselheira Maria Cristina Peduzzi que votou contra a aprovação da citada norma regulamentadora: “alegando que o Congresso Nacional deveria primeiro aprovar o Projeto de Lei sobre o assunto antes da regulamentação pelo CNJ”. Já o Ministro Joaquim Barbosa enfatizou que seria um contrassenso esperar o Congresso Nacional analisar o tema para se dar efetividade à decisão do STF, uma vez que ao deferir a possibilidade jurídica de reconhecimento de união estável entre parceiros homossexuais, estar-se-ia diante de idêntico tratamento quanto ao casamento, na medida em que o texto constitucional veda qualquer discriminação. O que ainda pode dificultar muito a resolução desse assunto é a questão da igreja, segundo ela, o casamento é para pessoas de sexo opostos e abertas a gerar vida. O relacionamento de pessoas do mesmo sexo não condiz com a tradição cristã. Como vimos, a união homoafetiva ainda gera muita discussão. Sobre o assunto, a Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos) emitiu carta aberta e parecer técnico jurídico de repúdio à Resolução do CNJ que obriga os cartórios de todo o país a celebrar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo: No documento, assinado pelo presidente, Uziel Santana, e endossado pelo CDN - Conselho Deliberativo Nacional da instituição, a entidade explica que a ação é inconstitucional. "Os princípios basilares da democracia moderna, quais sejam, o da separação de poderes (...), não têm sido respeitados pelo Poder Judiciário nacional, como no caso, agora, do CNJ e a edição da resolução 175/13".Ao final da carta, é exposto um conjunto de medidas protetivas a servidores e funcionários de cartórios, para que possam contar com o suporte jurídico da associação, fazendo uso do princípio da objeção de consciência, que se baseia na ideia de que ninguém é obrigado a cumprir uma ordem legal se isso for de encontro a um imperativo de consciência seja religioso, moral ou de outra ordem. Um dos questionamentos sobre a Resolução n. 175 do CNJ foi realizado por meio do Mandado de Segurança n. 32.077, impetrado perante o STF pelo PSC - Partido Social Cristão, sendo que o Relator, Ministro Luiz Fux, em decisão monocrática indeferiu a inicial, extinguindo o processo sem resoluçãodo mérito. Preliminarmente, o Ministro esclareceu que as resoluções do CNJ têm caráter de espécie normativa primária, ou seja, qualificam-se como “lei em tese”, razão por que AN02FREV001/REV 4.0 37 não se submetem ao controle jurisdicional pela via do mandado de segurança, atraindo, por isso, a incidência, na espécie, da vedação contida na Súmula 266 desta Corte (STF-Súmula 266): “Não cabe mandado de segurança contra lei em tese”. Assim sendo, o autor deveria ter realizado o seu questionamento por intermédio de controle abstrato de constitucionalidade e não ter-se utilizado de Mandado de Segurança. O certo é que a maioria os cartórios do país vêm realizando a celebração do casamento entre homossexuais, uma vez que as Corregedorias de Justiças estão determinando o cumprimento, na íntegra, da Resolução nº 175 do CNJ. Em um primeiro momento não se vislumbra qualquer empecilho quando os cartórios celebram a conversão da união estável em casamento, pois essa foi a intenção do legislador pátrio. Para muitos, a Resolução nº 175/2013 não parece o melhor caminho para deliberar sobre um assunto bastante controverso. O ideal mesmo seria que o Poder Legislativo aprovasse uma lei sobre o tema, ou que o Congresso Nacional editasse uma lei sobre o casamento igualitário. Por ora podemos dizer que os pedidos de habilitação de casamento de homoafetivos passaram a ter previsão expressa na Consolidação Normativa da CGJ. Teria o Conselho Nacional de Justiça, de igual forma, ultrapassado todos os limites da razoabilidade jurídica. Por meio de uma simples resolução administrativa promove, autoritariamente, alterações de ordem constitucional e infraconstitucional no sistema jurídico brasileiro, de tal modo que, além de trazer sérias implicações de ordem moral à sociedade brasileira, desrespeita, flagrantemente, a liberdade de consciência dos servidores e funcionários dos Cartórios de todo o país, vez que, nos termos do art. 2º da referida resolução “a recusa (…) implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis”? O CNJ desrespeitou a Constituição Federal e o Código Civil, instituindo-se o casamento civil homossexual sem a devida sustentação jurídica, como também, inovou-se em relação à decisão do próprio STF, que foi no sentido de equiparar a união homoafetiva às uniões estáveis heterossexuais, como nova modalidade de entidade familiar? Sabemos que esse tema configura uma temática muito polêmica. Daí pergunto: Caso essa Resolução seja julgada inconstitucional, como ficariam os AN02FREV001/REV 4.0 38 casamentos já celebrados em todo o país, baseados nessa mesma Resolução 175 do CNJ? Pois é, não se pode precisar de forma absoluta quais seriam as soluções. O que poderia ocorrer um enorme atrito entre o STF e o CNJ e uma enorme instabilidade para o país, onde os limites e os efeitos da decisão do STF e do CNJ não estão completamente pacificados. Diante de tanta discussão o STF recomendou ao congresso Nacional que aprovasse a legislação, mas o projeto de lei da Senadora Marta Suplicy que trata do assunto, foi encaminhado à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania) do senado, até o momento aguardando análise. Ressaltando, que esta resolução ainda poderá ser questionada no Supremo. Por fim, o que podemos extrair dessa decisão é que o CNJ criou uma espécie de efeito vinculante à decisão proferida no Recurso Especial nº1.183.378/RS de 2011,impondo aos cartórios o dever de celebrar casamentos de pessoas do mesmo sexo sem que haja qualquer imperativo de norma ou decisão jurisdicional de efeito vinculante no ordenamento jurídico brasileiro. Como resolução não tem força de lei, ainda há a possibilidade de alguns cartórios negarem a realização dessas uniões. ----------- FIM DO MÓDULO I ----------- AN02FREV001/REV 4.0 39 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO DE FAMÍLIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 40 CURSO DE DIREITO DE FAMÍLIA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 41 MÓDULO II Apresentação Diversas situações do dia a dia, como o casamento, a separação, o divórcio, o falecimento, a partilha de bens, o direito e o dever de prestar alimentos, envolvem as relações de parentesco. Por isso, é essencial conhecer as regras sobre o parentesco para entender melhor como são estabelecidos juridicamente os vínculos entre as pessoas. Neste módulo vamos estudar: Conceito de parentesco; Os tipos de parentesco e a previsão lega; As regras que definem o tipo, a linha e o grau de parentesco; Curiosidades sobre o parentesco; Conceito de adoção; Quem pode adotar; Procedimento para adoção; Parentesco socioafetivo; A filiação; Presunção de paternidade; Reconhecimento dos filhos; Contestação da paternidade; Contestação da maternidade; Posse do estado de filho. AN02FREV001/REV 4.0 42 6 O QUE É PARENTESCO? Para o Direito, o parentesco é o vínculo que une duas ou mais pessoas da mesma família, gerando consequências jurídicas, como os direitos de filiação, de sucessão, de alimentos. A origem etimológica da palavra parentesco nos remete ao verbo pario-ere, que significa dar à luz, gerar. Mas, assim como diversos conceitos do Direito de Família, o conceito de parentesco foi sendo reformulado de acordo com as necessidades e mudanças sociais, motivo pelo qual hoje, juridicamente, o parentesco é o vínculo que une as pessoas por consanguinidade, por disposição legal (adoção), pelo casamento e união estável, bem como pela socioafetividade. 6.1 OS TIPOS DE PARENTESCO E A PREVISÃO LEGAL AN02FREV001/REV 4.0 43 O parentesco pode ser consanguíneo, civil ou por afinidade, conforme estudaremos a seguir. As regras sobre o parentesco estão concentradas no Livro IV do Código Civil, a partir do artigo 1591. Todavia, outros ramos do Direito também se utilizam do conceito de parentesco para suas definições. O Direito Processual Civil, tal como o Direito Processual Penal, utiliza-se do conceito de parentesco para tratar sobre o segredo de justiça, sobre os impedimentos e algumas medidas provisionais. Da mesma forma, o Código Penal utiliza-se deste conceito na tipificação de determinados crimes, como o crime de infanticídio. O conceito de parentesco ainda é utilizado pelas legislações previdenciárias e tributárias. A Constituição Federal, por sua vez, utiliza-se do conceito para tratar da entidade familiar, da paternidade responsável, deveres entre pais e filhos, bem como de critérios de inelegibilidade. Por isso a importância de se apropriar desse conceito. Então, mãos à obra! 6.2 TRÊS REGRAS SOBRE O PARENTESCO Há três regras que você precisa saber para entender os tipos de parentescos existentes na lei brasileira e a forma como os graus de parentescos são contados. Vale lembrar que o grau de parentesco indica a proximidade do parentesco. Quanto menor o grau, mais próximo é o parente e, portanto, tem preferência em alguns direitos em relação aos mais distantes, como no caso dos direitos de sucessão. Primeira regra: tipos de parentesco. Para a lei, o parentesco pode ser: AN02FREV001/REV 4.0 44 Consanguíneo:é o parentesco natural, genético. É o caso dos pais com os filhos; avós e netos. Civil: é o que decorre de outra origem, que não a consanguínea. É o caso da adoção; da inseminação artificial heteróloga, ou seja, aquela realizada com material genético de terceiros (geralmente ocorre em bancos de sêmen); e do parentesco socioafetivo, que é o decorrente do comportamento. Por afinidade: é o vínculo existente entre as pessoas que se casam ou estabelecem união estável e os ascendentes, descendentes e irmãos do outro cônjuge ou companheiro. Segunda Regra: linhas de parentesco Além disso, o parentesco pode ocorrer em linha reta ou colateral. São parentes em linha reta: as pessoas que têm relação de ascendência ou descendência. Já os parentes na linha colateral são as pessoas que possuem um parente em comum, mas não têm relação de ascendência ou descendência. É o caso do tio e do sobrinho e dos primos, por exemplo. Terceira Regra: graus de parentesco AN02FREV001/REV 4.0 45 Os graus de parentesco são contados da seguinte forma: Na linha reta: pelo número de gerações. Assim, na contagem ascendente, ou seja, do mais novo para o mais velho, o filho é parente em primeiro grau do pai e em segundo grau do avô. Na linha descendente, ou seja, do mais velho para o mais novo, o avô é parente em primeiro grau do filho e em segundo grau do neto. 6.3 PARENTES EM LINHA RETA O filho é parente consanguíneo, em linha reta, em primeiro grau, dos pais. Mas é parente consanguíneo, em linha reta, em segundo grau, dos avós. Da mesma forma, os pais são parentes consanguíneos, em linha reta descendente, em primeiro grau, de seus filhos e são também parentes consanguíneos, em linha reta ascendente, em primeiro grau, de seus pais. Avós Pais Filhos AN02FREV001/REV 4.0 46 Na linha colateral: a contagem também é feita pelo número de gerações, mas, neste caso, deve-se subir de um dos parentes até o ascendente comum e descer até encontrar o outro parente. Para o caso de um pai que teve dois filhos, o parentesco entre os irmãos se conta da seguinte forma: 6.4 PARENTES NA LINHA COLATERAL O ascendente comum entre os irmãos é o pai. Ele é o parâmetro para a contagem. Do filho 1 até o pai, primeiro grau; do pai até o filho dois, segundo grau. Portanto, os irmãos são parentes consanguíneos na linha colateral em segundo grau. No caso de o filho 1 ter um outro filho. O filho do irmão é o sobrinho. Qual o parentesco do sobrinho com o tio (filho 2)? O ascendente comum entre o sobrinho e o tio é o avô. Então: dele até o pai, primeiro grau; dele até o avô, segundo grau; deste até o tio, terceiro grau. Portanto, são parentes consanguíneos na linha colateral em terceiro grau. Pai Filho 1 Filho 2 AN02FREV001/REV 4.0 47 Se este tio tiver um filho, o seu sobrinho será primo de seu filho. E qual será o parentesco entre eles? O ascendente comum aos primos continua sendo o avô. Então, dele até o pai, primeiro grau; dele até o avô, segundo grau; dele até o tio, terceiro grau; e dele até o primo, quarto grau. Portanto, são parentes consanguíneos na linha colateral em quarto grau. 6.5 PARENTES AFINS EM LINHA RETA Para a contagem do grau em caso de parentesco por afinidade, o cônjuge que é parente consanguíneo dos demais, deve ser substituído pelo outro na posição dos gráficos. Qual é, então, o grau de parentesco entre a sogra e a nora? A nora fica no lugar do seu cônjuge na linha, ou seja, na posição de filho. A partir daí se conta: Do filho para a mãe, primeiro grau. A nora, assumindo o lugar do filho, estabelece com a sogra o parentesco afim em linha reta em primeiro grau também. Mãe Filho Sogra Nora AN02FREV001/REV 4.0 48 6.6 PARENTES AFINS EM LINHA COLATERAL Da mesma forma como na linha reta, o cônjuge ou companheiro que é parente consanguíneo dos demais deve ser substituído pelo outro cônjuge. A esposa assume o lugar do marido em relação aos outros parentes dele. Por se tratar de linha colateral, deve-se achar o parente comum para calcular o grau. Neste caso específico, o parente comum é o pai. Do filho até o pai, primeiro grau; do pai até o outro filho, segundo grau. Fazendo a substituição no gráfico, temos: da nora até o sogro, primeiro grau; do sogro até o cunhado, segundo grau. Portanto, a esposa passa a ser parente afim na linha colateral em segundo grau de seu cunhado. Curiosidades Você pode perder a esposa, mas nunca a sua sogra! Isso acontece porque a lei, para evitar a confusão no parentesco e no patrimônio, estabelece que a Pai Filho 1 Filho 2 Sogro Nora Cunhado AN02FREV001/REV 4.0 49 afinidade na linha reta não se extingue com a dissolução do casamento e da união estável e impede que os parentes afins em linha reta se casem. A afinidade não tem reflexo em relação aos alimentos e ao direito sucessório. O parentesco civil é equiparado ao consanguíneo e, portanto, contado da mesma forma. São chamados de contraparentes aqueles que ostentam entre si laços de família remotos que não chegam a caracterizar o parentesco. 7 ADOÇÃO A adoção é o ato pelo qual uma pessoa, seguindo as formalidades da lei, estabelece com outra um vínculo de filiação, trazendo-a para sua família na condição de filho, mesmo não tendo com ela parentesco consanguíneo ou afim. A adoção atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes consanguíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento. AN02FREV001/REV 4.0 50 7.1 QUEM PODE ADOTAR? Qualquer pessoa maior de 18 anos pode adotar; desde que tenha, pelo menos, 16 anos a mais que o adotado. O adotante pode ser solteiro, viúvo, separado ou divorciado. Também podem adotar, conjuntamente, os cônjuges ou companheiros, desde que pelo menos um deles tenha completado 18 anos e que seja comprovada a estabilidade da família. O cônjuge ou companheiro pode adotar o filho do outro. Neste caso, os vínculos de filiação entre o adotado e o pai ou mãe biológica e os respectivos parentes são mantidos. O estrangeiro também pode adotar, mas o estágio de convivência deverá ser realizado aqui no Brasil. Você precisa saber: O novo Código Civil não distingue mais filhos legítimos de ilegítimos. Dessa forma, o filho adotado tem a mesma proteção jurídica que o filho consanguíneo. Os irmãos, avós e outros parentes consanguíneos não podem adotar. Todavia, podem pedir a guarda dos outros irmãos e netos. Já os tios e primos podem adotar. À mãe adotiva é concedido o direito à licença maternidade. A doutrina e a jurisprudência bem como parte da legislação têm entendido que também o pai adotivo tem direito à licença em caso de adoção. A “adoção” irregular feita diretamente pelos interessados, sem processo judicial de adoção, é atitude ilegal e pode, no futuro, gerar problemas tanto para quem registrou, como para a pessoa registrada. AN02FREV001/REV 4.0 51 É comum os pais biológicos arrependerem-se e procurarem o filho dado à outra família. A adoção depende do consentimento dos pais ou representantes legais de quem se deseja adotar e da concordância deste, se tiver mais de 12 anos. O consentimento, porém, não é necessário se ficar provado que se trata de pessoa exposta, de menor cujos pais são desconhecidos ou estejam desaparecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar sem nomeação de tutor, ou, ainda, quando se trata de órfão não reclamado por qualquer parente por mais de um ano. 7.2 PROCEDIMENTO PARA ADOÇÃO Quando o interessado está em busca de uma criança ou adolescente para adoção, cinco passos devem ser seguidos.O primeiro passo é dirigir-se ao Juizado da Infância e Juventude e inscrever-se para o programa de colocação de crianças e adolescentes em família AN02FREV001/REV 4.0 52 substituta. Posteriormente, o interessado será submetido a uma entrevista com psicólogos e assistentes sociais e indicará o perfil da pessoa que quer adotar. O segundo passo é a análise da ficha pelo Juizado. Sendo deferido o cadastro, o interessado torna-se pessoa apta a adotar. O terceiro passo é a localização da pessoa a ser adotada. Localizada a pessoa, o próximo passo é o estágio de convivência. Este estágio pode ser dispensado se a pessoa for menor de um ano ou se já convive há algum tempo com o interessado. Por fim, cumpridos os passos anteriores, o quinto passo é a concretização da adoção, que ocorre por meio de sentença judicial. Por ordem do juiz, o registro é feito em nova certidão. A adoção não constará do registro, mas os documentos pertinentes ficarão arquivados no Cartório. 7.3 IRREVOGABILIDADE DO ATO A adoção é ato irrevogável, ou seja, o adotante não pode futuramente arrepender-se e devolver a criança. AN02FREV001/REV 4.0 53 7.4 ADOÇÃO POR PESSOAS DO MESMO SEXO (RELAÇÃO HOMOAFETIVO) No que se refere à adoção por homossexuais, a legislação continua com certa resistência com relação à tal questão, mesmo sabendo que a cada dia a está mais aflorada na sociedade o tema orientação sexual. Anteriormente, ninguém podia ser adotado por duas pessoas, salvo se fossem marido e mulher ou se vivessem em união estável. As pessoas que vivem em união homoafetiva, portanto, segundo a lei, não podiam conjuntamente adotar. Mas a Justiça Brasileira tem evoluído no sentido de possibilitar a adoção por casais homoafetivos. Cumpre lembrar, contudo, que, apesar de o ordenamento jurídico brasileiro não prever a união homoafetiva como união estável, essa situação foi alterada pela decisão do STF em 2011 de equiparar a união homoafetiva à união estável (heterossexual) tal como prevista em lei, como veremos a seguir: Não existe legislação específica dizendo que a adoção por casais homossexuais seja permitida ou proibida. Isso vai depender da interpretação do juiz de cada Vara da Infância. Diante da inexistência de proibição na legislação em vigor, a Justiça brasileira tem admitido a adoção de crianças e adolescentes por casais homoafetivos. Em julgamento considerado histórico pelos próprios ministros, a 4ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) reconheceu, por unanimidade, que casais formados por homossexuais têm o direito de adotar filhos. A Turma, formada por cinco ministros, analisou um caso de duas mulheres que tiveram o direito de adoção reconhecido pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul. O Ministério Público do Estado, porém, recorreu ao STJ, o tribunal negou o pedido, ao entender que em casos do tipo é a vontade da criança que deve ser respeitada. Para o STJ, a matéria relativa à possibilidade de adoção de menores por casais homossexuais vincula-se obrigatoriamente à necessidade de verificar qual é a melhor solução a ser dada para a proteção dos direitos das crianças, pois são questões indissociáveis entre si, de acordo com o artigo 43 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Art. 43 - A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos”. AN02FREV001/REV 4.0 54 Esse julgamento é histórico, pois dá dignidade ao ser humano, dignidade aos menores e às duas mulheres, afirmou o relator, Luís Felipe Salomão. Cabe ressaltar que existem projetos de lei na Câmara dos Deputados sendo analisados, que visam facilitar processo de adoção e Projeto que proíbe adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Podemos citar: PROJETO DE LEI Nº 2153/11, DE 2011. (Da Sra. Janete Rocha Pietá) Altera o § 2º do art. 42 da Lei n. 8.069de 13 de junho de 1990, para permitir a adoção de crianças e adolescentes por casais homoafetivos. O Congresso Nacional decreta: Art. 1º O § 2º do art. 42 da Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 42. (...) § 2º Para adoção conjunta é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente, ou mantenham união estável ou homoafetiva, comprovada a estabilidade familiar. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICAÇÃO Inegáveis são as mudanças sofridas pela sociedade brasileira em meio ao dinamismo do mundo globalizado, onde surgem novos núcleos familiares que merecem a proteção jurídica do Estado. Dentre estes núcleos, temos a família homoparental, formada por pares homoafetivos que, diante da impossibilidade biológica de gerarem filhos entre si, recorrem à adoção como meio de realizar o desejo da maternidade ou da paternidade afetiva, contraindo todos os direitos e deveres do referido instituto em face das crianças e adolescentes que, por motivos diversos, não gozam do amparo e do amor dos pais biológicos. De outro lado, “temos, no Brasil, cerca de 200 mil crianças institucionalizadas em abrigos e orfanatos”. A esmagadora maioria delas permanecerá nesses espaços de mortificação e desamor até completarem 18 anos porque estão fora da faixa de adoção provável. Tudo o que essas crianças esperam e sonham é o direito de terem uma família no interior das quais sejam amadas e respeitadas. Graças ao preconceito e a tudo aquilo que ele oferece de violência e intolerância, entretanto, essas crianças não poderão, em regra, ser adotadas por casais homossexuais. Alguém poderia me dizer por quê? Será possível que a estupidez histórica construída escrupulosamente por séculos de moral lusitana seja forte o suficiente para dizer: - "Sim, é preferível que essas crianças não tenham qualquer família a serem adotadas por casais homossexuais?” Ora, tenham a santa paciência. O que todas as crianças precisam é cuidado, carinho e amor. Aquelas que foram abandonadas foram espancadas, negligenciadas e/ou abusadas sexualmente por suas famílias biológicas. Por óbvio, aqueles que as maltrataram por surras e suplícios que ultrapassam a imaginação dos torturadores; que as deixaram sem terem o que comer ou o que beber, amarradas tantas vezes ao pé da cama; que as obrigaram a manter relações sexuais ou atos libidinosos eram heterossexuais, não é mesmo? Dois neurônios seriam, então, suficientes para concluir que a orientação sexual dos pais não informa nada de relevante quando o assunto é cuidado e amor para com as crianças. Poderíamos acrescentar que aquela circunstância também não agrega nada de relevante, inclusive, quanto à futura orientação sexual das próprias crianças, mas isso já seria outro tema. Por hora, me parece o bastante apontar para o preconceito vigente contra as adoções por casais homossexuais com base numa pergunta: - "que valor AN02FREV001/REV 4.0 55 moral é esse que se faz cúmplice do abandono e do sofrimento de milhares de crianças?" Desta forma, devemos pensar muito mais no interesse dos menores do que nos preconceitos da sociedade; isto porque os filhos, gerados ou adotados de forma responsável, como fruto do afeto, merecem a proteção legal, mesmo quando vivam no seio de uma família homoafetiva. Por este motivo, conto com o apoio dos ilustres pares para a aprovação desta proposição. JANETE ROCHA PIETÁ Deputada Federal – PT/SP PROJETO DE LEI Nº PL 7018/10, DE 2010. (Do Sr. Zequinha Marinho) Veda a adoção de crianças e adolescentes por casais do mesmo sexo. O Congresso Nacional decreta: Art. 1º Esta lei altera o parágrafo 2º do artigo 42 da Lei nº 8.069, de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, para proibir a adoção por casais do mesmo sexo Art. 2º O parágrafo 2º do artigo 42 da Lei nº 8.069, de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 42. ................................... § 2º Para adoção conjunta, é indispensável
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