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25Manual de Orientação – Departamento de Nutrologia III. Como realizar a avaliação nutricional 2. Exame Físico O exame físico minucioso traz dados importantes relacionados direta ou indire- tamente com a queixa principal registrada na anamnese e com possíveis distúrbios nutricionais a ela associados. Além da pesquisa de dados gerais do exame físico é importante a de sinais clínicos específi cos relacionados a distúrbios nutricionais. Vale ressaltar a importância da aferição da pressão arterial sistêmica, em todas as consultas para crianças acima de três anos, utilizando-se manguitos apropriados e classifi cação que leva em conta sexo, idade e estatura. As tabelas para classifi cação encontram-se disponíveis no Manual “Obesidade na Infância e Adolescência” do Depar- tamento Científi co de Nutrologia da SBP que pode ser acessado pelo endereço eletrônico: http://www.sbp.com.br/PDFs/Man%20Nutrologia_Obsidade.pdf. As principais alterações que devem ser observadas no exame físico para identifi cação dos distúrbios nutricionais são: a. Desnutrição grave: A diferenciação entre as formas clínicas kwashiorkor e marasmo deve ser realizada pelos parâmetros clínicos abaixo descritos. a) Marasmo – acomete com mais frequência lactentes jovens (abaixo de 12 meses). Trata-se de criança com emagrecimento acentuado, baixa atividade, membros delgados devido a atrofi a muscular e subcutânea, pele frouxa, costelas proemi- nentes com desaparecimento da bola de Bichat (último depósito de gordura a ser consumido, localizado na região malar), o que favorece o aspecto envelhecido (fácies senil ou simiesca), nádegas atrófi cas e irritabilidade. O abdome pode ser globoso, mas raramente se observa hepatomegalia. Os cabelos são fi nos e escassos e o comportamento apático. b) Kwashiorkor – em geral, acomete crianças acima de 2 anos. Caracteriza-se por alterações de pele (lesões hipocrômicas ao lado de hipercrômicas, com desca- mação), acometimento dos cabelos (textura, coloração e facilidade de se soltar do couro cabeludo), hepatomegalia (decorrente de esteatose), ascite, face de lua (edema de face), edema de membros inferiores e/ou anasarca e apatia. b. Obesidade: é caracterizada por excesso de peso resultante de aumento da massa gorda, 95% das vezes de causa exógena. Deve-se observar se há predomínio da distri- buição de gordura na região truncal ou abdominal (mais associada ao desenvolvimento de doença cardiovascular), presença de estrias, respiração bucal, acanthosis nigricans e hirsutismo (marcadores de resistência insulínica), infecção fúngica em dobras, he- patomegalia (sugestiva de esteatoepatite não alcoólica), edema e dor em articulações, desvios de coluna, alterações de marcha e outros desvios ortopédicos. c. Anemia ferropriva: é a carência nutricional mais prevalente em nosso meio. Antes da instalação da anemia por defi ciência de ferro, o comprometimento dos estoques desse mineral já afeta uma série de processos metabólicos. O apareci- mento de palidez cutânea e de mucosas é tardio e já indica anemia importante. São comuns também apatia, astenia, atraso de desenvolvimento neuropsicomotor (especialmente alteração do equilíbrio e da linguagem) e cognitivo, comprome- timento do crescimento pôndero-estatural e maior suscetibilidade a infecções.