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PATOLOGIAS BENIGNAS DO CORPO DO ÚTERO LEIOMIOMAS UTERINOS → Tumores benignos provenientes da camada muscular (fibras musculares lisas) do útero. → Tecidos que recobrem o útero: o Endométrio: possui 2 camadas de células (superficial ou funcional - responde a hormônios, logo prolifera na primeira fase do ciclo menstrual e secreta na segunda fase do ciclo; camada basal ou profunda - regenera a camada funcional). o Camada muscular na parte posterior do endométrio - responsável por contratilidade uterina (útil no pós-parto, evitar sangramento pós quitação). Leiomiomas atingem essa camada. → Incidência desconhecida, maioria das pacientes é assintomática (descoberta de leiomioma por USG transvaginal, anatomia patológica ou histerectomia realizadas por outro motivo). → Mais frequentes em mulheres negras, nulíparas (nunca engravidaram). → São tumores estrogênio-dependentes, pois crescem no período da menacme (período reprodutivo da mulher) - hormônios no seu nível mais alto e involuem no período do climatério. o 4 períodos da mulher: infância, adolescência, menacme (marco: menarca) e climatério (marco: menopausa). o Associação com outras síndromes hiperestrogênicas: endometriose, adenomiose. ETIOPATOGENIA → Hormônios que agem na sua evolução (sinergismo): o ESTROGÊNIO (3 tipos: estradiol - mais potente; estrona - não é tão potente, produzida a nível periférico pela aromatase - transforma tecido adiposo em estrona; estriol - sem função) • 17-β-hidroxidesidrogenase: transforma estradiol em estrona; está diminuída em mulheres com leiomioma. o GH: em mulheres negras tem uma resposta metabólica maior; hormônio com ação hiperglicemiante (anti insulínico); mulheres com leiomioma tem tendência a hiperglicemia, por isso essa associação. o HPL (HORMÔNIO LACTOGÊNIO PLACENTÁRIO): produzido a partir da 8ª semana gestacional pela placenta e com estrutura molecular semelhante ao GH; leiomiomas tendem a crescer durante a gravidez (se importante, deve-se tratar), até a 20ª semana gestacional e tende a se estabilizar. → Hormônios que agem na involução: o PROGESTERONA: diminui os receptores estrogênicos (por se acoplar a esses receptores, impedindo a ligação do estrogênio) e aumenta a 17-β- hidroxidesidrogenase (↑ estrona); CLASSIFICAÇÃO VOLUME → PEQUENO: atinge a sínfise púbica. → MÉDIO: não ultrapassa a metade da linha que conecta a cicatriz umbilical e a sínfise púbica. → GRANDE: ultrapassa a linha e fica acima da cicatriz umbilical. LOCALIZAÇÃO NO ÚTERO → CERVICAIS: localizam-se no colo do útero (2%). → ÍSTMICOS: ficam entre o corpo e colo (7%). → CORPÓREOS: localizam-se no corpo do útero; mais frequente (95-96%). CORPORAIS → Classificação mais utilizada. → INTRAMURAL: dentro da parede do útero. o Leiomioma intramural com componente subseroso: apresentação também fora da cavidade uterina. o Leiomioma intramural com componente submucoso: apresentação dentro da parede do útero e da cavidade uterina. → SUBMUCOSO: dentro da cavidade uterina. o Leiomioma parido: quando pediculado, leiomioma pode se exteriorizar para o orifício externo do colo do útero (urgência ginecológica, pois a paciente sangra muito - mioma bastante vascularizado - aumento da área vascular do endométrio; tratamento se dá por histeroscopia para evitar reincidência - base do pedículo é cauterizada). → SUBSEROSO: por fora da cavidade uterina; o Leiomioma parasitas: acoplamento em órgãos adjacentes do útero (bexiga ou intestino) por pedículo - recebimento de fluxo sanguíneo desses outros órgãos. Não há sangramento, mas trata-se com histeroscopia. → Leiomiomas submucoso e subseroso podem ser pediculados ou séssil (acopla diretamente à parede, sem a existência de um pedículo). legenda: submucoso séssil. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → Alterações menstruais: comum no submucoso. o Leiomiomas submucosos causam quadros de sangramento uterino irregular (METRORRAGIA). o Miomas intramurais podem cursar com aumento da intensidade e/ou duração do fluxo menstrual (menorragia ou hipermenorragia), devido aumento da cavidade uterina, pela menor contratilidade das fibras miometriais, pela estase venosa endometrial e pelo aumento das prostaciclinas no endométrio, que causam vasodilatação e dificultam a formação de trombos. → Distúrbios urinários e intestinais: mais frequente no subseroso. o Leiomiomas subserosos, quando volumosos, podem cursar com aumento da frequência urinária, noctúria, retenção ou incontinência urinária e até compressão ureteral, com comprometimento da função renal. → Infertilidade: submucoso, pois está dentro da cavidade uterina (dificulta processo de nidação). → Dor: submucoso e subseroso (mais comum). o Leiomiomas subserosos, quando volumosos, podem cursar com dor pélvica e sintomas de compressão extrínseca, como lombossacralgia. → Aumento do volume abdominal: frequente tanto no subseroso (contorno uterino irregular e superfície - pode ser sentido na palpação do corpo útero - toque combinado) quanto no submucoso (por aumento do útero). DIAGNÓSTICO → Anamnese e exame ginecológico bem realizados garantem 50% do diagnóstico. → USG transvaginal: maior acurácia para leiomiomas intramural e submucoso. o Associado a abdominal: leiomioma subseroso e volumoso. → Histeroscopia: avaliação da cavidade uterina, logo, dá diagnóstico de leiomiomas submucosos. → Laparoscopia: utilizado em casos de leiomioma subseroso; exame realizado através do umbigo. → RM: auxilia durante a cirurgia; aponta grau de invasão na parede do útero dos intramurais e leiomiomas sésseis; avalia se é possível retirar a massa. → Anatomia patológica: diagnóstico de certeza. TRATAMENTO → Vai depender da paciente: idade, tamanho do leiomioma, localização e sintomatologia. → Pacientes assintomáticas ou oligossintomáticas devem ser apenas acompanhadas clínica e ultrassonograficamente, para monitorar o surgimento de queixas, além do volume e crescimento dos miomas. → Clínico: em jovens que desejam engravidar e em mulheres no período do climatério. o Uso de medicamentos anovulatórios - ANTICONCEPCIONAIS: • Ação: bloqueio do eixo hipotálamo- hipófise-gônadas - produção de estrogênio. • Progestogênios: Oral Injetável DIU medicado • Contraceptivos combinados: Oral Anel vaginal Adesivo Injetável o ANÁLOGOS DO GNRH: Zoladex. • Ação: inibição da secreção de LH pela hipófise, o que leva a uma queda nas concentrações séricas de estradiol nas mulheres. • Não é utilizado como tratamento. Utilizado antes de procedimentos cirurgicos de leiomiomas muito grandes, para evitar grande sangramento nas miomectomias e histerectomias. • Diminui bastante o leiomioma (redução do volume tumoral em 50- 60% das vezes), mas tem efeito rebote - após 3 meses, tem que retirar útero, pois pode duplicar de tamanho após interrupção do uso do medicamento. • Efeitos colaterais: pacientes sentem o mesmo sintomas de mulheres em período de climatério e tem risco de osteoporose. • Vantagens: recuperação espontânea dos níveis hemáticos (melhora dos níveis de hemoglobina) e permite incisão de Pfannenstiel ou Histerectomia vaginal. → Cirúrgico: o Radical: histerectomia subtotal (dificuldade técnica de retirar o colo) ou total (retirada de corpo + colo) - via abdominal e vaginal (menos complicações, mas é contraindicado em pacientes obesas ou mulheres que fizeram muitas cesáreas - presença fibrose e aderência do útero). o Conservador: miomectomia - exérese do mioma com manutenção do útero, preservando a função menstrual e possibilitando a gravidez futura. EMBOLIZAÇÃO DAS ARTÉRIAS UTERINAS (EAU) → Tratamento conservador de leiomiomas sintomáticos por meio da oclusão da irrigação sanguínea para os miomas. → 40 a 60% de redução do volume uterino em 2-4 meses. → 15% de persistência do sangramento. →Não há tamanho uterino crítico. → Mais falhas quando o mioma é > 8,7 cm. o Aumento de 10% de falhas para cada 1 cm. → Adenomiose é fator de risco para falha. → Risco de recidiva (10-15%). → Indicações: o Miomas sintomáticos ou volumosos. o Pacientes com prole definida - com a redução da vascularização uterina, a embolização pode comprometer a irrigação endometrial, prejudicando a nidação e o desenvolvimento da gestação. o Desejo de preservação do útero, quando não for possível realização da miomectomia. o Em mulheres com contraindicação à cirurgia (diabetes, hipertensa, obesa) ou resistência a esse procedimento. → Complicações: o SÍNDROME PÓS-EMBOLIZAÇÃO ( 15% dos casos) - infecção: febre (1/3 dos casos), leucocitose, náuseas, vômitos, anorexia, mal-estar e dor abdominal difusa. o Dor: Em 5 a 10% pode se prolongar por até 15 dias. ALTERAÇÕES SECUNDÁRIAS OU DEGENERAÇÃO DO LEIOMIOMA → Vasos sanguíneos tortuosos em casos de leiomiomas grandes (dificulta chegada de sangue no centro do leiomioma, dando origem a essa degeneração). o HIALINA o CÍSTICA o VERMELHA ou CARNOSA: acontece na gestação (por ação do estrogênio + HPL) e com mais frequência em miomas intramurais; pode levar a abortamento antes das 20 semanas. Se grande, há sangramento extenso (urgência obstétrica). o CALCIFICAÇÃO: em pacientes climatéricas - leiomioma diminui e calcifica. o SARCOMATOSA: não é explicada pela tortuosidade dos vasos; degeneração maligna do leiomioma - raro; diagnóstico de certeza se dá pela anatomia patológica; crescimento rápido do volume uterino; tratamento por histerectomia. ENDOMETRIOSE → É uma doença benigna, crônica, que se caracteriza pelo crescimento anormal de tecido histologicamente semelhante ao endométrio (glândulas e estroma endometrial) em localizações diferentes do leito uterino habitual (focos ectópicos): ovários (mais comum de serem acometidos - ENDOMETRIOMA; altera a foliculogênese), fundo de saco posterior e trompas uterinas (problema na movimentação ciliar das trompas - dificulta encontro do óvulo com sptz). → Crescimento anormal para camada do miométrio: ADENOMIOSE. → Doença estrogênio-dependente e de natureza multifatorial. EPIDEMIOLOGIA → Mulheres no período da menacme (30 a 45 anos). → 10 a 15% da população feminina. → Acomete mulheres brancas de melhor nível social. → Nulíparas e herança familiar. → Uma das maiores causas de infertilidade feminina (varia de 2% a 50%). CAUSAS → TEORIA DE SAMPSON: regurgitação transtubária do material menstrual. o Fluxo menstrual retornaria pelos óstios tubários e esse sangue se implantaria em locais fora da cavidade uterina. → TEORIA IMUNOLÓGICA: o Mulheres com sistema imune comprometido permitem que as células do fluxo retrógrado da menstruação (descamação do endométrio) se depositem nos órgãos adjacentes, logo não há destruição de células endometriais em locais improváveis. o No entanto, essa teoria não explica a endometriose em órgãos distantes do útero (como ouvido, pulmão, umbigo). → TEORIA DA DISSEMINAÇÃO LINFÁTICA OU SANGUÍNEA: células endometriais seriam levadas pela linfa aos órgãos distantes do útero. → Estrogênio no tratamento de CA de próstata: desenvolvimento de endometriose no homem. o TEORIA DA METAPLASIA CELÔMICA: multiplicação de células imaturas por estrógenos exógenos, que posteriormente se tornam células endometriais. CLASSIFICAÇÃO → O estadiamento (gravidade da endometriose) mais comumente usado é a classificação da American Society of Reproductive Medicine (ASMR): leva em consideração tamanho dos focos ectópicos, profundidade, localização dos implantes endometrióticos (focos ectópicos) e gravidade das aderências (do útero com outros órgãos). o Estadiamento é realizado por videolaparoscopia; nem sempre condiz com estado clínico da paciente, dificultando diagnóstico. → ESTÁGIO 1 (doença mínima): implantes isolados e sem aderências significativas. → ESTÁGIO 2 (doença leve): implantes superficiais com menos de 5 cm, sem aderências significativas. → ESTÁGIO 3 (doença moderada): múltiplos implantes, aderências peritubárias e periovarianas evidentes. → ESTÁGIO 4 (doença grave): múltiplos implantes superficiais e profundos, incluindo endometriomas (cisto achocolatado - cor devido ao acúmulo de hemossiderina) e aderências densas e firmes. QUADRO CLÍNICO → Sintomas clássicos: o Dismenorreia secundária (78%): progressiva - em geral, início na terceira década. o Dispareunia profunda (39%): presença de nódulos em fundo de saco. o Dor pélvica (32%): cíclica, difusa e variável intensidade. o Infertilidade (2 a 50%): nas formas moderadas e severas. DIAGNÓSTICO EXAME FÍSICO → Endometriose umbilical: sangramento pelos focos ectópicos (coloração por acúmulo de hemossiderina) - tem que biopsiar. → Exame Especular: nódulos ou rugosidades enegrecidas em fundo de saco posterior sugerem a doença. legenda: acúmulo de hemossiderina. → Toque vaginal: útero com pouca mobilidade sugere aderências pélvicas; quando o fundo de saco posterior é ocupado por focos ectópicos, paciente refere dor à palpação. EXAMES DE IMAGEM - COMPLEMENTARES → USG: só ajuda com presença de endometrioma, sem sensibilidade para focos ectópicos superficiais. → TC: mostra os focos ectópicos superficiais, mas nem todos profundos; serve de auxílio antes da videolaparoscopia (mostra quantos focos devem ser biopsiados pela VL). → RM: idem TC. → Laparoscopia: padrão-ouro; retirada de material para biópsia e cauterização. TRATAMENTO → Clínico: é eficaz no controle da dor pélvica; primeira linha de tratamento. o Expectante. o Farmacológico: • Anticoncepcionais (AC): decidualização e atrofia do tecido endometrial ectópico; taxa de gravidez após interrupção 40%. • Progestágenos: uso de forma contínua resulta em bloqueio ovulatório e inibição do crescimento endometrial, com consequente atrofia das lesões. • Gestrinona (antiprogestagênico e antiestrogênico): paciente pode ter queda de cabelo, acne, seborreia; é utilizado como AC e para tratamento da endometriose. • Danazol (alteração do perfil lipídico e não melhora a fertilidade): bloqueio do eixo hipotalâmico-hipofisário- ovariano e da ovulação, criando, assim, um ambiente hipoestrogênico. Não é mais utilizado, por efeitos colaterais como hirsutismo, acne e ganho de peso. • Análogos do GnRH (complexo hormônio-receptor é removido após 1 semana): retorno à ovulação após 1 a 2 meses - utilizados em pacientes que querem engravidar (ovulação volta mais rápido que as demais). Agem no hipotálamo, ocupando os receptores do GnRH, o que provoca a inibição da liberação de FSH e LH pela hipófise, logo, ocorre um estado de anovulação e hipoestrogenismo. → Cirúrgico: o Exérese. o Laparotomia: abertura cirúrgica da cavidade abdominal; realizado em pacientes com contraindicações de laparoscopia. o Laparoscopia: padrão-ouro; realização de cauterização para evitar reincidência. o Ooforectomia - retirada dos ovários (única forma de tratamento pleno da endometriose): fim da produção de estrogênio (medida drástica, não é realizada). → Combinado: o Farmacológico com cirúrgico: utilizado em alguns casos, no qual há focos profundos que se cauterizá-los, pode perfurar a bexiga ou intestino. o Cirúrgico com análogos do GnRH. o Endometrioma ovariano: > 2cm; abertura da cápsula → drenagem da secreção → cauterização e sutura da superfície do ovário.
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