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Carla Bertelli – 5° Período Convulsão e Epilepsia 1 - Conhecer os princípios de hereditariedade das epilepsias; 2 - Diferenciar epilepsia de convulsão. 3 - Diferenciar crise convulsiva febril de crise convulsiva em vigência de febre. 4 - Conhecer os aspectos farmacodinâmicos anticonvulsivantes. A convulsão é um evento único de descarga anormal que resulta em um estado de alteração abrupta do funcionamento cerebral. A epilepsia é uma doença crônica de descargas recorrentes de neurônios. A se trata de uma desordem cerebral, onde acontecem descargas elétricas anormais e excessivas. Causada pelo mau funcionamento dos neurônios, pode ou não vir acompanhada de quadros de convulsões, espasmos musculares e das perdas de consciência e memória. • Doença cerebral crônica • Não é uma doença específica ou síndrome única • Sintoma de um grupo de condições neurológicas diversas que tem como característica a presença de crises epilépticas recorrentes na ausência de fatores desencadeantes (condições tóxicas, metabólicas ou febre) • Caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas • Consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais • Podem se manifestar com alterações da consciência ou eventos motores, sensitivos/sensoriais, autonômicos ou psíquicos involuntários • Pode ser devido a lesão estrutural cerebral • Predisposição individual • Alterações bioquímicas ou elétricas cerebrais Já a ã , é um tipo mais severo de Epilepsia, em que ocorrem alterações involuntárias e transitórias da consciência, do comportamento, da atividade motora e da função autonômica, causadas por uma atividade anormal do cérebro. Isso, porque acontece uma falha na condução elétrica cerebral, que leva a movimentos grosseiros dos membros, desvio dos olhos, perda da consciência e liberação da urina ou evacuação, por exemplo. Pode ser desencadeada por hipocalemia, diabetes, hipoglicemia, etc, causando contrações musculares involuntárias • É um tipo de ataque epitético • Tipo mais intenso, perda dos sentidos, se debate, podendo morder a língua e urinar na roupa • Podem existir crises mais fracas, caracterizadas por breves desligamentos, formigamento ou contrações restritas a alguns grupos musculares • Se ocorrem de maneira recorrente, configuram epilepsia É um comportamento anormal provocado por uma descarga elétrica de neurônios no córtex cerebral, é ume vento clínico específico com sinais e sintomas associados que variam de acordo com o local da descarga neuronal no encéfalo. Podem surgir no curso de quase todas as doenças ou lesões graves que afetem o encéfalo – transtornos metabólicos, infecções, tumores, uso abusivo de substâncias psicoativas, lesões vasculares, deformidades congênitas e lesão encefálica. O atual sistema de classificação classifica as crises convulsivas em duas categorias: • Generalizada - à medida que ocorrem e rapidamente envolvem redes distribuídas bilateralmente • Focal - redes limitadas a um hemisfério e têm localização mais específica ou distribuição mais ampla Crises focais começam em uma área específica do hemisfério cerebral. Existem dois grandes grupos de convulsões focais: sem comprometimento da consciência (consciente) e com prejuízo da consciência (consciência prejudicada) Crises generalizadas começam simultaneamente nos dois hemisférios cerebrais. Elas incluem inconsciência e envolvem diferentes graus de respostas motoras bilaterais simétricas, sem sinais de localização em um dos hemisférios. Essas convulsões são divididas em dois grupos: motor e não motor. Convulsão e Epilepsia Carla Bertelli – 5° Período Etiologia As convulsões podem ser causadas por alterações na permeabilidade da membrana celular ou na distribuição de íons através das membranas de células neuronais. Outra causa pode ser a redução da inibição da atividade neuronal cortical ou do tálamo ou mudanças estruturais que alteram a excitabilidade dos neurônios. Desequilíbrios de neurotransmissores, como excesso de acetilcolina ou deficiência de ácido gama-aminobutírico (GABA, um neurotransmissor inibitório), têm sido propostos como causas. Crise convulsiva febril de crise convulsiva em vigência de febre As convulsões febris são divididas em três tipos: convulsões febris simples, convulsões febris complexas e estado de mal epiléptico febril. As õ são de início generalizado e de curta duração. As convulsões febris simples não ocorrem mais de uma vez em 24 horas e se resolvem espontaneamente. As convulsões febris complexas são mais duradouras, apresentam sintomas focais (no início ou durante a convulsão) e podem recorrer em 24 horas ou na mesma doença febril. Geralmente febre >38° • Convulsão do tipo generalizada na vigência de febre em crianças entre 6 meses e 5 anos de idade, sem evidência de infecção do sistema nervoso ou causas definidas, sem diagnóstico de epilepsia, com duração inferior a 15 minutos e sem recorrência nas próximas 24 horas. õ são caracterizadas por qualquer uma das seguintes características: >10 ou 15 minutos de duração (dependendo da definição utilizada), sintomas focais (no início ou durante a convulsão) e recorrência dentro de 24 horas ou dentro da mesma doença febril. • A convulsão febril é considerada complexa caso apresente manifestações focais, com duração superior a 15 minutos ou com recorrências em 24 horas na vigência de febre. Pode ter período pós- ictal patológico, com paresia de Todd, por exemplo. O risco de desenvolvimento de epilepsia futura é maior que nas convulsões febris simples. A definição do National Institutes of Health (NIH) de uma convulsão febril é "um evento na infância ou infância geralmente ocorrendo entre 3 meses e 5 anos de idade associado a febre, mas sem evidência de infecção intracraniana ou causa definida para sua convulsão .após exclusão de crianças com crises afebris prévias. Sua fisiopatologia envolve alguns fatores: O sistema nervoso central imaturo na infância e na primeira infância aumenta a excitabilidade neuronal, o que pode aumentar ainda mais a vulnerabilidade aos efeitos da febre Importante avaliar fatores genéticos em alguns casos Mecanismos específicos incluem: • Canais Iônicos sensíveis a temperatura que alteram a função neuronal • Inflamação levando ao aumento da secreção de citocinas que são conhecidas por aumentar a excitabilidade neuronal • O risco de convulsão parece correlacionar-se com a altura da febre, não com a taxa de aumento da temperatura O normal da atividade elétrica do córtex cerebral é ser assíncrona, porém, na convulsão, a atividade elétrica se torna sincronizada. A transição da comunicação neuronal cortical de fundo normal para o ritmo epileptiforme pode ser causada pelo recrutamento e disseminação neuronal devido à combinação de: conectividade aprimorada, transmissão excitatória aprimorada, falha de mecanismos inibitórios, mudanças nas propriedades neuronais intrínsecas. A atividade neuronal excessiva ou síncrona anormal no cérebro resulta em sinais e/ou sintomas característicos As crises de início focal se originam em redes limitadas a 1 hemisfério Carla Bertelli – 5° Período Convulsões de início generalizado se espalham rapidamente do ponto de origem para envolver redes distribuídas bilateralmente Epilepsia Epilepsia não é uma doença específica ou uma síndrome única, mas, sim, o sintoma de um grupo de condições neurológicas diversas que têm como característica comum a presença de crises epilépticas recorrentes, na ausência de fatores desencadeantes como condições tóxicas,metabólicas ou febre. Entre as doenças do sistema nervoso central, quase todas as que atingem a substância cinzenta e alguns processos da substância branca, assim como várias doenças sistêmicas, podem causar crises epilépticas. Na gênese das crises epilépticas, três fatores podem estar envolvidos: predisposição individual, presença de lesão estrutural cerebral e alterações bioquímicas ou elétricas cerebrais. A crise epiléptica decorre de uma descarga neuronal aguda focal, acometendo determinada área cerebral, ou generalizada, quando envolve os dois hemisférios cerebrais, podendo haver alterações sensitivas, motoras, autonômicas, com ou sem perda da consciência. Há duas definições de epilepsia: uma conceitual e a outra operacional – Distúrbio cerebral caracterizado pela predisposição persistente do cérebro para gerar crises epiléticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais dessa condição. A ocorrência de uma única crise epiléptica é suficiente para o diagnóstico de epilepsia desde que seja demostrada predisposição à sua recorrência, como alterações epileptiformes no EEG ou lesão em estudos de neuroimagem. – Condição caracterizada por crises epilépticas recorrentes (duas ou mais), não provocadas por qualquer causa imediata. Crises múltiplas que ocorrem em um período de 24h são consideradas um evento único. Um episódio de estado de mal epiléptico é considerado um evento único. Na gênese das crises epilépticas 3 fatores podem estar envolvidos: • Lesão Estrutural Cerebral • Alterações Bioquímicas ou Elétricas • Predisposição Individual Crise epiléptica: ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas em razão da atividade neuronal anormal excessiva e síncrona cerebral. Epilepsia: distúrbio cerebral caracterizado por uma predisposição persistente de gerar crises epilépticas, associadas as consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais. Síndrome epiléptica: conjunto de características incluindo tipos clássicos de crises epilépticas, EEG e neuroimagem, que tendem a ocorrer em conjunto. Relacionadas, principalmente, a idade, fatores desencadeantes, variação durante o dia, prognóstico e comorbidades. Podem ter implicações etiológicas, prognósticas e terapêuticas. A nova Classificação das Crises Epilépticas da ILAE considera quatro grupos de crises epilépticas: 1 - Crises focais: são aquelas que se originam em redes neuronais limitadas a um hemisfério cerebral, as quais podem ser restritas ou distribuídas de forma mais ampla. São divididas em perceptivas, quando a percepção de si próprio e do meio ambiente é preservada e disperceptivas ou com comprometimento da percepção quando a percepção é comprometida. As crises focais, podem ser motoras (sete subtipos) ou não motoras (cinco subtipos), e ambos os tipos podem evoluir para crises tonicoclônicas bilaterais. 2 - Crises generalizadas: são aquelas que se originam em algum ponto de uma rede neuronal e rapidamente envolvem e se distribuem em redes neuronais bilaterais. Crises generalizadas são também subdivididas em crises motoras e não motoras (ausências). Há oito subtipos de crises generalizadas motoras e quatro subtipos de ausências como não motoras. 3 – Crises de início Desconhecido 4 – Crises não classificáveis Embora crises epilépticas possam ocorrer em várias doenças neurológicas geneticamente determinadas – como a esclerose tuberosa, a síndrome do X frágil, as encefalopatias mitocondriais, entre outras –a maioria das epilepsias “isoladas” não apresenta um padrão evidente, e sua herança é considerada multifatorial. O risco genético Carla Bertelli – 5° Período é dependente do tipo de epilepsia. Para indivíduos com crises focais, o risco de que seus filhos desenvolvam epilepsia é de 3 a 5%, e para aqueles com crises generalizadas, de 6 a 12%. A propensão genética determina, por exemplo, a predisposição de um determinado indivíduo a apresentar crises quando exposto a fatores exógenos ou endógenos como febre, infecções, medicamentos ou traumatismo craniano. Até agora, uma mutação genética é reconhecida em algumas poucas formas de epilepsias e uma mesma mutação pode determinar várias síndromes epilépticas. Em poucas destas síndromes as mutações são familiares. A maioria delas é de mutações de novo, ou seja, que ocorrem apenas em um indivíduo de uma família. Assim, o termo genético não é sinônimo de hereditário, e na maioria das epilepsias não há, ainda, demonstração inequívoca do fator genético determinante da doença Etiologia genética: São epilepsias que tiveram comprovação por uma mutação genética ou em que podem ser deduzidas por uma etiologia genética, em que as crises são o principal sintoma da doença. Na grande maioria dos casos os genes implicados não são ainda conhecidos, podendo a etiologia genética basear-se somente numa história familiar sugestiva de hereditariedade autossômica dominante, como por exemplo, na síndrome de epilepsia neonatal benigna familiar, muitas famílias têm mutações de um dos genes dos canais de potássio. Já a síndrome da epilepsia do lobo frontal noturna autossômica dominante, a mutação responsável é conhecida apenas numa minoria dos indivíduos. Um grande número de genes foi identificado por conta da genética molecular. A mutação dos genes é responsável pelas epilepsias em 30-50% das crianças com encefalopatias epiléticas e do desenvolvimento graves, surgindo mais frequentemente de novo, o exemplo comum é a síndrome de Dravet. Compreender o espetro fenotípico associado a mutações de um gene específico é uma informação crucial, uma vez que a identificação de uma mutação num gene, por si só, pode não permitir predizer o desfecho, devendo considerar a apresentação eletroclínica para interpretar o caso Se o indivíduo tiver uma mutação de novo, a sua descendência terá um risco de 50% de herdar a mutação, mas isso não significa que haverá epilepsia nas crianças, uma vez que a sua expressão ainda vai depender da penetrância dessa mutação. A etiologia genética não exclui uma contribuição ambiental como por exemplo, vários pacientes com epilepsia têm maior propensão a ter crises com a privação de sono, tensão e outros fatores Existem outros potenciais genes descritos para epilepsia na literatura, como BRD2 para epilepsia mioclônica juvenil (EMJ) e ME2 para diferentes epilepsias generalizadas idiopáticas (EGIs). Esses genes foram descobertos por estudo de ligação genética, seguido por análise de associação, mas estudos de mutações causais ainda necessitam confirmar esses resultados. As EGIs abrangem vários fenótipos de crises comuns, incluindo classicamente: epilepsia ausência da infância (EAI), epilepsia ausência juvenil, EMJ e epilepsia com crises tônico-clônicas generalizadas ao despertar. Nessas epilepsias, as características das síndromes se sobrepõem e, além disso, diferentes EGIs ocorrem na mesma família, dificultando achados genéticos. O complexo padrão de herança nas EGIs sugere uma interação de vários genes de susceptibilidade, de tal forma que polimorfismos em diferentes genes de susceptibilidade contribuem de forma aditiva para a desordem. Desta forma, apesar de muitos loci terem sidos identificados, poucos genes foram descritos como causa das EGIs. Um desses genes é o GABRA1, que foi encotrado alterado em indivíduos afetados com EMJ em uma família franco-canadense Anticonvulsivos Fenobarbital (barbituratos anticonvulsivantes) Seu mecanismo de ação é por meio da ligação com o receptor GABAA prolongando a abertura do canal de cloro associado. Prática clínica: o fenobarbital é pouco utilizado por ser um potente indutor enzimático e em decorrência dos efeitos adversos na esfera cognitiva. Entretanto,por ser uma medicação amplamente disponível, ministrada em uma tomada diária e de baixo custo pode ser uma opção para indivíduos com níveis socioeconômicos inferiores Mecanismo de ação: os barbituratos facilitam e prolongam os efeitos inibitórios do GABA. O mecanismo pelo qual o fenobarbital inibe as convulsões provavelmente envolve a potencialização da inibição sináptica por ação no receptor GABAérgico. Em concentrações terapêuticas relevantes, aumenta a duração do tempo de abertura do canal de cloreto, mediado pelo GABA. Carla Bertelli – 5° Período Fenitoína (hiadantoínas) O mecanismo de ação da fenitoína é semelhante ao da carbamazepina. Ela bloqueia os canais de sódio reduzindo o disparo neuronal de alta frequência. É uma medicação com elevada taxa de ligação proteica (90%), portanto sua fração livre pode variar na insuficiência hepática e renal, em situações de hipoproteinemia, durante a gestação, em idosos e na presença de outras medicações com alta ligação proteica como o valproato. Seu metabolismo é saturável resultando em uma cinética não linear. Deste modo, após determinada concentração, geralmente além do limite terapêutico, pequenos aumentos de dose resultam em aumentos desproporcionais da sua concentração. É potente indutor do sistema microssomal hepático. Prática clínica: o uso da fenitoína tem diminuído por ser medicação indutora enzimática e em decorrências de seus efeitos adversos como hipertrofia gengival. Possui apresentação parenteral sendo ainda muito utilizada no tratamento do estado de mal epiléptico. Os fármacos desta classe são fenitoína, etotoína, mefenitoína e fosfenitoína. A fenitoína (difenilidantoína) é eficaz em todos os tipos de crises epiléticas parciais e tônico-clônicas, mas não nas crises de ausência. Mecanismo de ação: esta classe de fármacos bloqueia os canais de sódio voltagem-dependentes e inibem a geração de potenciais de ação repetitivos. Carbamazepina Seu mecanismo de ação é por meio da ligação com canais de sódio em estado ativo prolongando o estado de inativação rápida. A carbamazepina é metabolizada no fígado pelo citocromo P450 e principalmente pela enzima 3A4. Seu metabólito mais importante é o carbamazepina12,11epóxido. É um metabólito ativo também responsável por alguns efeitos adversos. A carbamazepina é um potente indutor enzimático. Desta forma, esta medicação reduz o nível sérico de medicações e substâncias endógenas metabolizadas pelo sistema enzimático do citocromo P450. Prática clínica: a carbamazepina permanece como uma das medicações de primeira linha para o tratamento das epilepsias focais. Seu efeito indutor deve ser considerado durante a escolha. Esta medicação também pode ser utilizada para o tratamento da neuralgia do trigêmio, mania aguda e transtorno bipolar É considerado um fármaco de escolha para as convulsões parciais, sendo frequentemente usada para o tratamento das convulsões tônico-clônicas generalizadas. Uma vantagem clínica importante desses fármacos é que não são sedativos nas faixas terapêuticas comuns. Durante o seu uso, as funções renal e hepática e os parâmetros hematológicos devem ser monitorados. Mecanismo de ação: seu mecanismo de ação é análogo ao da fenitoína. Ela bloqueia os canais de sódio e inibe os disparos repetitivos de alta frequência nos neurônios; também age na pré-sinapse ao reduzir a transmissão sináptica, sendo provável que esses efeitos sejam responsáveis pelo seu efeito anticonvulsivante Succinimidas O mecanismo de ação é por meio do bloqueio das correntes de cálcio tipo T explicando sua ação nas crises de ausência. Prática clínica: é a medicação de escolha para epilepsia ausência quando o indivíduo apresenta apenas crises de ausência. Esta classe de fármacos consiste em etossuximida, fensuximida e metossuximida, os principais agentes no tratamento das crises de ausência. Mecanismo de ação: bloqueio de canais de cálcio voltagem-dependentes Ácido valproico Apresenta múltiplos mecanismos de ação incluindo potencialização do GABA, bloqueio dos canais de cálcio tipo T (explicando a eficácia contra crises de ausência) e bloqueio de canais de sódio. Ligase altamente a proteínas (90%). Sua fração livre aumenta com o aumento da dose e com a coadministração da fenitoína que compete pela ligação proteica. É amplamente metabolizado por conjugação e oxidação. O valproato é um potente inibidor enzimático reduzindo o clearance do fenobarbital, lamotrigina e do epóxido da carbamazepina. Apresenta amplo espectro de ação e pode ser utilizado para o tratamento profilático da migrânea e bipolaridade. Prática clínica: o valproato é uma medicação de primeira linha no tratamento das epilepsias generalizadas idiopáticas. Permanece como primeira escolha em homens com estas síndromes. Entretanto, o valproato não deve ser utilizado em mulheres, pois é o FAE mais teratogênico Foi introduzido originalmente como principal agente no tratamento das convulsões generalizadas (de ausência), mas provou ser também eficaz contra as convulsões parciais, tônico-clônicas generalizadas e mioclônicas. Mecanismo de ação: os mecanismos de ação possíveis Carla Bertelli – 5° Período desse fármaco incluem bloqueio de canais de sódio, bloqueio da transaminase GABA e ações nos canais de cálcio tipo T. Os mecanismos variados oferecem um amplo espectro de atividade contra crises epilépticas, sendo eficaz para o tratamento de epilepsias focais e primárias generalizadas. Benzodiazepínicos Atuam principalmente no receptor tipo A do ácido gamaaminobutírico (GABAA) aumentando a frequência de abertura dos canais de cloro. Os mais utilizados para o tratamento das epilepsias são o clobazam e o clonazepam. O clobazam é o único 1,5-benzodiazepínico, os demais são 1,4-benzodiazepínicos. Esta diferença bioquímica pode estar relacionada com os efeitos clínicos favoráveis desta medicação. Prática clínica: os benzodiazepínicos, e principalmente o clobazam, são geralmente utilizados na terapia adjuvante de epilepsias refratárias. O clonazepam pode ser utilizado para o tratamento de mioclonias. Em pacientes com epilepsia mioclônica juvenil o uso do clonazepam deve ser feito com cautela, pois as mioclonias podem ser o único aviso de uma crise tonicoclônica generalizada iminente A maioria dos benzodiazepínicos é reservada para emergências ou tratamento de crises agudas, em razão de sua tolerância. O Diazepam e o Lorazepam são usados no tratamento agudo intravenoso do estado epiléptico. O clorazepato é usado ocasionalmente como auxiliar nas convulsões parciais complexas. O clonazepam é um fármaco de ação longa, com eficácia comprovada contra as convulsões de ausência e também é um fármaco alternativo de escolha para as convulsões mioclônicas. O Diazepam também está disponível para administração retal, para evitar ou interromper convulsões tônico-clônicas generalizadas prolongadas ou agrupadas, quando a administração oral não é possível. Mecanismo de ação: os benzodiazepínicos se ligam ao receptor GABA e aumentam a eficiência da inibição sináptica GABAérgica Gabapentina Seu mecanismo de ação é por meio da ligação com a unidade alfa2delta do canal de cálcio voltagem dependente reduzindo o influxo de cálcio e a liberação de neurotransmissores associados em condições hiperexcitáveis. Apresenta espectro de ação estreito atuando contra crises focais. Prática clínica: frequentemente utilizada para dores neuropáticas. No tratamento das epilepsias pode ser utilizada em idosos, geralmente como adjuvante, ou em pacientes com neuropatias dolorosas como comorbidade. A gabapentina émais eficiente como fármaco anticonvulsivante, eficiente como auxiliar no tratamento das convulsões parciais e tônico-clônicas generalizadas. A gabapentina foi desenvolvida como um agonista do GABA de ação central e sua alta lipossolubilidade facilita sua permeabilidade através da membrana hematoencefálica. Mecanismo de ação: embora tenha uma estrutura similar à do GABA, não age sobre os receptores do GABA, podendo, entretanto, alterar o metabolismo desse neurotransmissor, sua liberação não sináptica ou a recaptação pelos transportadores do GABA. É observado um aumento na concentração de GABA no cérebro dos pacientes. Lamotrigina A lamotrigina é útil no tratamento das convulsões parciais e de ausência e mioclônicas em crianças. A lamotrigina é útil como monoterapia e coadjuvante para o tratamento das crises parciais e tônico-clônicas secundariamente generalizadas dos adultos e da síndrome de Lennox- Gastaut das crianças e dos adultos. Essa síndrome é um distúrbio infantil que se caracteriza por vários tipos de convulsões, retardo mental e refratariedade ao tratamento anticonvulsivante. Mecanismo de ação: a lamotrigina bloqueia os canais de sódio, bem como os canais de cálcio alta voltagemdependentes. Provavelmente, tal ação seja responsável pela sua eficácia na epilepsia focal. Sua eficácia nas crises de ausência generalizadas pode envolver ações sobre os canais de cálcio ativados por voltagem. Outros fármacos anticonvulsivantes: Levetiracetam, tiagabina, topiramato, felbamato, vigabatrina, perampanel. REFERÊNCIAS RODRIGUES, Marcelo M.; BERTOLUCCI, Paulo Henrique F. Neurologia para o Clínico Geral. Editora Manole, 2014. 9788520452240. DA SILVA, Luciana R.; COSTA, Luanda Flores. Condutas pediátricas no pronto atendimento e na terapia intensiva 2a ed. Editora Manole, 9788520458013. BRUM, Lucimar Filot da S.; ROCKENBACH, Liliana; BELLICANTA, Patricia L. Farmacologia básica. Grupo A. 9788595025271. Paul SP, Kirkham EN, Shirt B. Recognition and management of febrile convulsion in children. Nurs Stand. 2015 Aug 26;29(52):36-43. doi: 10.7748/ns.29.52.36.e9927. PMID: 26307316. Hirtz, D et al. “Practice parameter: evaluating a first nonfebrile seizure in children: report of the quality standards subcommittee of the American Academy of Neurology, The Child Neurology Society, and The American Epilepsy Society.” Neurology vol. 55,5 (2000): 616-23. doi:10.1212/wnl.55.5.616
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