Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ADMINISTRAÇÃO IMOBILIÁRIA Autor Paulo Roberto de Souza Junior Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI ADMINISTRAÇÃO IMOBILIÁRIA 1 INTRODUÇÃO Fachin (1998) menciona que, cronologicamente, a propriedade começou pela posse. Geralmente, a posse gera a propriedade, isto é, a usucapião. Vinculada à propriedade, a posse é um fato com algum valor jurídico, mas, como conceito autônomo, a posse pode ser aceita como um direito. A qualificação da posse leva em conta sua competência em instaurar uma nova situação jurídica. Ela é a causa e a necessidade do direito de propriedade. A posse e a propriedade são conceitos de Direito Civil, entretanto, o próprio Código Civil não conceitua a propriedade, e sim apenas o proprietário. Por outro lado, há diferenças entre os dois institutos, a propriedade possui as seguintes funções: usar, fruir, dispor e reivindicar a coisa, desde que cumpra sua função social; a posse é o exercício, pleno ou não, de alguma das faculdades pertencentes à propriedade. A faculdade que a referida posse não possui é a de dispor, ou seja, não pode ser dada em garantia ou alienada, característica pertencente apenas à propriedade, ou seja, o direito real por excelência. 2 A POSSE: CONCEITO E ELEMENTOS A posse refere-se ao exercício de fato, pleno ou não, da aptidão de usar, gozar e usufruir da coisa, ou seja, deter a posse não significa ter a propriedade de uma coisa, como acontece na relação entre locador e locatário, em que este tem a posse física da coisa em questão; enquanto o locador terá a propriedade sobre este. A mesma situação acontece no comodato e com o usufruto. 2.1 A POSSE E SEUS ELEMENTOS CARACTERIZADORES A posse se difere da detenção, pois esta, embora exerça os poderes inerentes ao domínio, não é amparada por lei. FIGURA 1 – A POSSE REFERE-SE À UTILIZAÇÃO DO BEM FONTE: <https://uniasselvi.me/31wevoN>. Acesso em: 11 out. 2021. Descrição da imagem: uma figura que possui ao fundo um desenho desfocado parecendo pessoas, uma casa de telhado vermelho, uma bicicleta, moedas figuras e um coração. Posse, segundo Gomes (2012, p. 23), é: [...] um direito exercido tal como direito de propriedade, ou qualquer outro direito real, consequentemente, sem exigência de animus domini , de modo incidência abrange várias espécies de pessoas, dentre as quais cita o usufrutuário, o locatário, o transportador, o mandatário, o depositário, o administrador, o testamenteiro e tantos outros que utilizam coisa alheia por força de um direito ou obrigação. Este instituto pode ser dividido em: • Posse direita e posse indireta: o Direta ou imediata: aquela refere-se a quem a detém a coisa (bem). Ex.: O locatário ou comodatário. o Indireta ou mediata: pertence ao legitimo proprietário, que conversa os atributos de disposição e reivindicação. Ex.: Proprietário de um bem. • Posse justa ou posse injusta: o Justa: não estando maculada. o Injusta: adquirida através da violência (esbulho possessório), clandestina (invasão sem violência) ou precária (abuso de confiança, alude-se à posse da herança (CC, art. 1.791). Eis algumas situações de detenção: fâmulo da posse (art. 1.198, CC); atos de mera tolerância (art. 1.208, CC); e a situação de quem adquire a posse com violência ou clandestinidade, enquanto essas não cessam (art. 1.208, CC). Com relação ao possuidor a e à posse, podemos mencionar que o Código Civil, em seu art. 1.196, reza que o possuidor é aquele que detêm o exercício, pleno ou não, de um dos poderes que são conferidos à propriedade, assim, a pessoa que possui a posse de um bem é tido como possuidor deste, podendo, assim, propor ação possessória, inclusive contra o proprietário. O conceito de posse e propriedade são estudados por Friedrich Calr von Savigny (Teoria Subjetiva) e Rudolf von Ihering (Teoria Objetiva) ao deba- terem a questão do corpus (bem) e o animus domini (intensão do possuidor em reter o bem). A Teoria Subjetiva define que a posse necessita do corpus e do animus domini, assim, ausente o corpus, a posse não passaria de um fenômeno psí- quico, inexistente no mundo fático ou físico que difere do mundo jurídico; e se ausente o animus domini, a posse seria uma questão natural, ou seja, seria considerada como detenção. Já a Teoria Objetiva entende que o ele- mento corpus é suficiente para caracterizar a posse. Assim, quem possui um imóvel em um município e o leva a registro passa a ter o seu direito a propriedade, já que sem o devido registro, apenas será o possuidor do bem. A palavra posse advém do latim “potere”, que sig- nifica “poder”. 3 A PROPRIEDADE: CONCEITO E ELEMENTOS O homem, no passado, podia usar, gozar e dispor da coisa, segundo Monteiro (2016), sem qualquer restrição. Hoje, a propriedade deverá cumprir a sua função social, ou seja, não pode ser subutilizada ou não utilizada. Essa propriedade é um direito real por excelência, que possui as seguintes características: usar, gozar, usufruir e dispor de alguma coisa. Desse instituto advém os demais presentes ao Código Civil e na legislação específica. Os elementos nucleares da propriedade estão previstos no art. 1.228 do Código Civil de 2002: usar, gozar/fruir, dispor e reivindicar da coisa de forma absoluta, exclusiva e perpétua. Segundo Monteiro (2016, p. 79), a propriedade: [...] é inerente à própria natureza humana e ela representa condição de exis- tência e de liberdade de todo homem e ao contrário do que se pensa nasce no seio civil justamente para evitar a desordem quanto à utilização dos bens e riquezas da terra. Cria-se então um modo civilizado de se manter a ordem. FIGURA 2 – CARACTERÍSTICAS DA PROPRIEDADE FONTE: O autor Descrição da imagem: uma figura com retângulos em azul e letras em branco com as características da propriedade. O proprietário poderá perder sua propriedade com base no art. 1.275 do Código Civil através da: alienação, renúncia, abandono, perecimento da coisa e desapropriação. A pessoa que possui o título de propriedade de um bem é o seu titular. Já a pessoa que detém o domínio sobre este e, por isso, terá o direito ao exercício das faculdades de usar, gozar ou fruir, dispor e reaver. 3.1 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE: NA ZONA URBANA E NA ZONA RURAL A Constituição Federal de 1988, em no inciso XXII do art. 5º, define a propriedade como um direito fundamental, todavia, neste mesmo artigo determina que esta deverá cumprir sua função social, tornando-o um direito relativo, já que possui um limitador. A função social da propriedade, segundo Grau (1983, p. 65): Corresponde a um poder-dever e compreende a imposição de comportamentos negativos e positivos ao proprietário, razão por que não há como entendê-la mera extensão do poder de polícia. Com a função social, visa-se à promoção do exercício do direito de propriedade de modo mais compatível com a utilidade social, ou, em outras palavras, não pode a propriedade ser usada de modo nocivo ou contrário à utilidade social. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende as determinações previstas no Plano Diretor que exprime as exigências fundamentais de ordenamento da cidade, conforme determina o § 2º do art. 182 da Constituição Federal. Vejamos a decisão judicial a seguir que demonstra uma situação que fere a Constituição Federal, pois o imóvel não está cumprindo sua função social: QUADRO 1 – SITUAÇÃO QUE FERE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL FONTE: Adaptado de <https://uniasselvi.me/2YeUAt4>. Acesso em: 17 out. 2021. Descrição da imagem: um quadro com fundo branco e escrito em letras pretas contendo duas decisões judiciais. Já a propriedade rural subutilizada ou improdutiva poderá ser alvo de desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, segundo o art. 184 do referido texto. Neste caso, o pagamento ocorrerá em até 20 anos. 3.2 O NÃO CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE: DESAPROPRIAÇÃO Assim, um terrenonão construído ou subutilizado, como a figura, poderá ser desapropriado para assentamentos de pessoas que não possuem local para a moradia. FIGURA 3 – A DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA BUSCA TERRENOS SEM CONSTRUÇÃO OU SUBUTILIZADOS FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/old-farm-building-all-forgotten-600w-1569352750.jpg>. Acesso em: 11 out. 2021. Descrição da imagem: uma figura com um galpão velho e na frente um terreno sem utilização. Em resumo, a posse deverá ser provada através de documentos que a materializam, como: fornecimento de água ou energia, depoimentos de testemunhas, fotos ou documentos legais, entre outros. Já a propriedade é demonstrada através de uma escritura pública registrada no RGI. O proprietário poderá não possuir a posse do bem, pois esta poderá estar com um terceiro, que a utiliza legalmente (ex.: contrato de locação) ou não (entrada sem autorização do dono). 4 PARCELAMENTO DO SOLO, DIREITO DE VIZINHANÇA E DIREITO DE SUPERFÍCIE E SUA FUNÇÃO DENTRO DA CIDADE O parcelamento do solo e estruturação urbana serão capazes de solucionar a estruturação da cidade e seus espaços, os quais serão necessários para seu loteamento com finalidade de congregar nesses espaços os interesses dos proprietários de terras, dos construtores, dos demais interessados que entendem a cidade como um negócio e de seus habilitantes que mencionam a cidade como o lugar do habitat e o lugar de habitar congregando gerações atuais e futuras. FIGURA 4 – DIFERENÇAS ENTRE GLEBA E LOTE FONTE: O autor Descrição da imagem: uma figura com dois retângulos com fundo em azul e escritos em branco apresentando os conceitos de gleba e lote. Este parcelamento divide-se em: loteamento, desmembramento, desdobramento e reparcelamento. FIGURA 5 – A FUNÇÃO DO PARCELAMENTO URBANO DENTRO DE UMA CIDADE FONTE: <https://uniasselvi.me/3CMUEiS>. Acesso em: 11 out. 2021. Descrição da imagem: uma imagem com desenho de casas de telhado laranja e terrenos em cinza claro e divididos por ruas em cinza escuro. FIGURA 6 – PARCELAMENTO E SUAS DIVISÕES FONTE: O autor Descrição da imagem: uma figura com setas de fundo azul e escritas em branco e retângulos com fundo branco e escrito em preto demonstrando a divisão do parcelamento. 5 O ESPAÇO URBANO E SUA CONSTRUÇÃO O direito de construir dentro de um espaço urbano que está delineado no art. 1.299 do Código Civil, que autoriza ao proprietário realizar a construção dentro do seu imóvel, desde que respeite as normas do direito de vizinhança, que estão expressas no Estatuto da Cidade (Lei Federal de n° 10.257 de 2001) e na legislação municipal que define o controle de zoneamento referente a coisa própria em questão. O Estatuto da Cidade visa regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal que tratam da política de desenvolvimento urbano e da função social da propriedade como forma de garantir a democratização da gestão das cidades brasileiras. Esse direito de construir, à luz da função social, vincula os direitos de vizinhança para com a função social da propriedade, já que visam o interesse da coletividade e o respeito à habitação e à moradia digna, como base do princípio da dignidade da pessoa humana. Os proprietários deverão respeitar os direitos de seus vizinhos conforme determinação da legislação municipal em vigor privilegiando a segurança, o sossego e a saúde. Assim, há limitações quando impostas podem permitir certos atos como também não os realizar. Monteiro (2016, p. 147) salienta que a vizinhança é: [...] um fato que, em Direito, possui o significado mais largo do que na linguagem comum. Consideram-se prédios vizinhos os que podem sofrer repercussão de atos propagados de prédios próximos ou que com estes possam ter vínculos jurídicos. São direitos de vizinhança os que a lei estatui por força desse fato. Os conflitos entre proprietários surgem em decorrência do não respeito a este direito de vizinhança e das regras impostas por tal direito que pese como limitadoras dos direitos de uso e gozo da propriedade pelo proprietário. Gonçalves (2020, p. 127) apresenta uma síntese para a composição dos conflitos na vizinhança: [...] Se o incomodo é normal, tolerável, não deve ser reprimido, a reclamação da vítima será aferida segundo o critério do homo medius. Só serão atendidas questões relativas a danos considerados insuportáveis ao home normal; se o dano for intolerável, deve o juiz, primeiramente, determinar que seja reduzido a proporções normais, fixando horários de funcionamento (somente durante o dia, p. ex.), exigindo a colocação de aparelhos de controle de poluição, levantando barreiras de proteção etc. [...]; se não for possível reduzir o incômodo a níveis suportáveis, por meio de medidas adequadas, então determinará o juiz a cessação da atividade, fechando a indústria ou o estabelecimento ou até demolindo a obra, se forem de interesse particular; se, no entanto, a causadora do incômodo for indústria ou qualquer atividade de interesse social, não se determinará o seu fechamento ou a cessação da atividade. Se o incômodo não puder ser reduzido aos graus de tolerabilidade mediante medidas adequadas, será imposto ao causador do dano a obrigação de indenizar o vizinho. Assim, o respeito ao direito de vizinhança é fundamental para que evite dissabores entre os vizinhos, já que se constitui como base do direito à moradia, previsto no art. 6º da Constituição Federal que garante à moradia como um dever dos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). 6 O RESPEITO AOS VIZINHOS E O DIREITO À MORADIA O Texto Constitucional prescreve que os entes federados deverão garantir a: “promoção e implementação de programas para construções de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico” e o “combate às causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos”(MEIRELES, 2017, s.p.). FIGURA 7 – A MORADIA DE ALGUÉM DEVERÁ SER RESPEITADA POR TODOS FONTE: <https://cdn.brasildefato.com.br/media/30df68aa018dc2d5cb4e8bf4dcf6e6ea.jpg>. Acesso em: 11 out. 2021. Descrição da imagem: uma figura com casas no mesmo formato, cor e tamanho de um lado de uma rua e de outro. 7 DIREITO DE SUPERFÍCIE: O PROPRIETÁRIO E O SUPERFICIÁRIO O Direito de Superfície é uma concessão atribuída pelo proprietário de um terreno, concedente, a outrem, superficiário, com a finalidade de construir e utilizá-lo durante um determinado período. Com relação à natureza jurídica deste instituto há um debate segundo Nelson Rosenvald (2006, p. 403) que salienta: Em virtude da omissão do Estatuto da Cidade e do Código Civil quanto à natureza jurídica do modelo, repercute-se na doutrina uma polêmica. Seria o direito real de superfície uma verdadeira propriedade ou um direito real em coisa alheia? A resposta é: ambos. O direito de superfície é um direito real sobre coisa alheia (lote ou gleba), pois sua formação resulta de uma concessão do titular da propriedade para fins de futura edificação (sobre ou sob o solo) ou plantação, que, quando concretizada pelo superficiário (concessionário), converterá o direito inicialmente incorpóreo, em um bem materialmente autônomo à propriedade do solo da concedente. Loureiro (2002, p. 273) assim define o instituto: A superfície é um direito real, fixado por tempo determinado ou indeterminado, que confere ao superficiário a propriedade da construção ou plantação, ainda que em caráter resolúvel, gratuito ou mediante o pagamento de uma pensão periódica e que pode ser transmitido por ato entre vivos ou causa mortis. O Enunciado nº 93 menciona que “as normas previstas no Código Civil, regulando o direito de superfície, não revogam as normas relativas a direito de superfície constantes do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), por ser instrumento de política urbana”. O proprietário terá a fruição do solo até o início da obra, esse proprie- tário teráo direito de usar e dispor do solo na parte não ocupada pela obra e não prejudicar o uso do superficiário, desde que previsto no contrato de concessão; extinta a concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o terreno, construção ou plantação, independentemente de indenização. É possível a cessão desse direito de superfície a um terceiro, desde que seja dado o direito de preferência na aquisição do direito de superfície, assim, o pro- prietário se desejar alienar terá que oferecer em primeiro ao superficiário; se a alienação foi partir do superficiário, este terá que oferecer ao proprietário para que possa exercer seu direito de preferência. 8 LOCAÇÃO E SUBLOCAÇÃO O Código Civil de 2002 traz consigo a locação de serviços (locatio conductio operarum) e a de empreitada (locatio conductio operis) são consideradas modalidades de contrato autônomos. Os requisitos ou condições de validade dos contratos são de duas espécies: a) de ordem geral, comum a todos os atos e negócios jurídicos, como a capacidade do agente, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável, e a forma prescrita ou não proibida em lei (CC, art. 104); b) de ordem especial, específico dos contratos: o consentimento recíproco ou o acordo de vontades (GONÇALVES, 2017, p. 33). Após entendermos a roupagem que o novo Código trouxe ao contrato de locação decorrente de uma relação jurídica obrigacional (pessoal), que são elementos: o sujeito ativo e o sujeito passivo, o locador e o locatário, respectivamente. 8.1 LOCAÇÃO RESIDENCIAL E NÃO RESIDENCIAL Os direitos do locador estão previstos no art. 570, do Código Civil, referem- se à rescisão do contrato e indenização por perdas e danos quando o locatário agir fora dos limites pactuados, bem como ultrapassar os limites do bem senso, ou seja, agir com abuso ou danificar a coisa que estiver em sua posse. FIGURA 8 – UM CONJUNTO DE PRÉDIOS JUNTOS QUE PODEM SER DADOS EM LOCAÇÃO RESIDENCIAL OU NÃO RESIDENCIAL FONTE: Teixeira (2018, s.p.) Já os direitos do locatário estão arrolados no art. 567 do Código Civil, e versam sobre a redução do aluguel ou a resolução deste quando o imóvel sofrer uma deterioração sem sua culpa. Com relação à rescisão antecipada, o locador não poderá pleitear o imóvel antecipadamente, como previsto no art. 571 do Código Civil; caso faça, será alvo de perdas e danos, todavia, isto não acontece com o locatário, pois segundo o art. 4º da Lei do Inquilinato poderá este realizar tal expediente, desde que pague proporcionalmente o que está previsto no contrato ou, na sua falta, a que for judicialmente estipulada. FIGURA 9 – CONCEITO DE LOCADOR E LOCATÁRIO FONTE: O autor Descrição da imagem: uma figura contento duas setas em azul com letras brancas contendo uma o conceito de locador e outra o conceito de locatário 8.2 BENFEITORIAS REALIZADAS PELO LOCATÁRIO As benfeitorias, segundo Tartuce (2021, p. 189), são “bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora da sua utilidade. Enquanto os frutos e produtos decorrem do bem principal, as benfeitorias são nele introduzidas”. FIGURA 10 – BENFEITORIAS FONTE: O autor Descrição da imagem: uma figura com retângulos em azul e letras em branco contendo o art. 96 do Código Civil. As benfeitorias necessárias (art. 96 do Código Civil) feitas ou realizadas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção do bem (art. 35 da Lei do Inquilinato), pois privilegiam os aspectos da conservação e da exploração do bem em questão. São exemplos: a construção de uma parede para evitar o desabamento de um bem imóvel. As Benfeitorias ou despesas úteis (art. 1219 do Código Civil) necessitam de autorização do locador o sem representante legal para que sejam alvo de restituição quando realizadas pelo inquilino. Um exemplo é a construção da rede de esgotamento sanitário. As benfeitorias voluptuárias são as de mero deleite, de mero luxo, para tornar mais agradável o seu uso. Segundo o artigo 36 da Lei n° 8.245/91 este tipo de benfeitoria não é indenizável. Exemplo: piscina. Todavia, este tipo de benfeitorias poderá deixar de ser voluptuárias para necessária, quando for uma piscina dentro de um clube de treinamento para competições. 9 TIPOS DE CONTRATO DE LOCAÇÃO Há dois tipos de contratos de locação: residencial, com o intuito de moradia; e o contrato não residencial, que terá como finalidade a instalação de comércio, indústria, escritórios, depósitos ou qualquer outra atividade que não seja residencial. Com relação à renovação da locação com fins não residenciais, o artigo 51 da Lei n° 8.245/91 prevê regras: • O contrato deve ser celebrado entres as partes por escrito e por prazo determinado. • O prazo mínimo do contrato ou a soma dos prazos ininterruptos deve somar cinco anos. • O ramo do comércio deve ser o mesmo a pelo menos três anos, de forma contínua. Todavia, segundo Teixeira (2020), há hipóteses previstas no artigo 52 da Lei n° 8.245/91 que proíbem a renovação do contrato de locação por parte do locador, são elas: a) fundamenta-se em eventual determinação do Poder Público, quando terá que realizar obras que modifiquem o imóvel; ou obras que impliquem no aumento do valor do negócio ou propriedade; b) caso o imóvel venha a ser utilizado em uso próprio, mesmo que seja uso residencial (se assim comportar); em caso de uso comercial, pelo locador, o imóvel não poderá se destinar ao mesmo ramo de atividade do locatário, exceto se a locação envolvia fundo de comércio; c) se o locador obtiver melhor proposta de terceiro, desde que seja comprovado, caso em que caberá ao locador informar a melhor proposta ao locatário e este, não aceitando, terá direito à indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos lucros cessantes que tiver que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio, se a renovação não ocorrer em razão de proposta de terceiro, em melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da entrega do imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou pretender realizar. 10 CESSÃO E SUBLOCAÇÃO DO IMÓVEL Com a cessão do imóvel não haverá mais vínculo entre o cedente e o locador, ocorrendo verdadeira substituição subjetiva na relação contratual. Assim, se o cessionário, que passou a ser o locatário, deixar de pagar o aluguel, ou violar o contrato, o locador não poderá exigir qualquer providência do cedente, ou seja, do antigo locatário, que já estará exonerado, desde o momento da cessão. Não sendo outro o entendimento de Capanema (2017, p. 94): “[...] o primitivo locatário, que é o cedente, é expelido da relação obrigacional, passando o cessionário a ocupá-la, sub-rogando-se nos direitos e deveres decorrentes do contrato”. Entretanto, a relação contratual inicial não será modificada, o que poderá ser alterado é apenas a questão das garantias contratuais existentes – fiança, garantia real etc. – inicial ou originária. É muito comum a cessão de bens imóveis residenciais para construção de prédios; sendo realizada com imóveis em construção haverá necessidade de que o proprietário possa exercer seu direito de preferência sobre o imóvel após ser construído. Não há proibição legal de cessão de bens imóveis residenciais e não residenciais locados, tomamos como parâmetro o art. 1.148 do Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002), que menciona a cessão de imóveis não residenciais. Essa cessão deverá vir acompanhada do estabelecimento, entretanto, caso haja uma cláusula contratual que vede tal situação, não produziria efeito. A sublocação acontecerá quando o locatário autoriza um terceiro, não figurante na relação locatícia, ocupar o imóvel em seu lugar passando a pagar parte ou totalidade dos encargos deste local, todavia, para que haja a sublocação (legitima) há necessidade autorização expressa dadapelo locador. Tanto o valor do aluguel como no prazo de duração do imóvel sublocado não poderá ser maior do que o previsto no contrato de aluguel. Caso não haja previsão contratual e caso o locatário deseje sublocar o imóvel, deverá, para tanto, notificar o locador, que terá prazo de 30 dias para se manifestar. Tanto o valor do aluguel como no prazo de duração do imóvel sublocado não poderá ser maior do que o previsto no contrato de aluguel. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10406compilada.htm. Acesso em: 18 ago. 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm BRASIL. Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 18 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Justiça. Lei n° 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a elas pertinentes. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8245.htm. Acesso em: 18 ago. 2021. BRASIL. Constituição da república federativa do brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 17 out. 2021. CAPANEMA, S. de S. A lei do inquilinato comentada. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. FACHIN, L. E. A função social da posse e a propriedade contemporânea. Porto Alegre: Fabris, 1998. GOMES, O. Direitos Reais. 18. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2012. GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. GRAU, E. R. Direito Urbano. São Paulo: RT, 1983. LOUREIRO, L. G. Registros Públicos. São Paulo: Ed. Método, 2002. MERELES, C. Direito à moradia. Politize, agosto, 2017. Disponível em: https://www.politize.com.br/direito-a-moradia/. Acesso em: 17 out. 2021. MONTEIRO, W. de B. Curso de Direito Civil. 43. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. ROSENVALD, N. Aplicação no Brasil da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência. Roderic, n. 4-3, p. 123-143, 2016. Disponível em: https://roderic.uv.es/handle/10550/55701. Acesso em: 17 out. 2021. TARTUCE, F. Manual de Direito Civil. 11. ed. São Paulo: Gen, 2021. TEIXEIRA, T. Principais aspectos dos contratos não residenciais. Dom total, maio. 2018. Disponível: https://domtotal.com/noticia/1261638/2018/05/ principais-aspectos-dos-contratos-nao-residenciais/. Acesso em: 18 ago. 2021.
Compartilhar