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Carolina R. Dobrotinic APG 08 SOI V Hipo e hipertiroidismo Objetivos: 1. Revisar a morfofisiologia da tireoide 2. Compreender fisiopatologia, etiologia, epidemiologia, manifestações clínicas e diagnóstico do hiper e hipotiroidismo 3. Conhecer o tratamento do hipo e hipertiroidismo Revisão da tireoide A glândula tireoide, em formato de borboleta, está localizada logo abaixo da laringe. É composta pelos lobos direito e esquerdo, um em cada lado da traqueia, conectados por um istmo, anteriormente à traqueia. Cerca de 50% das glândulas tireoides apresentam um pequeno terceiro lobo, chamado de lobo piramidal, que se estende superiormente a partir do istmo. A massa normal da tireoide é de aproximadamente de 30 g. Microscópicos sacos esféricos chamados de folículos da tireoide constituem grande parte da glândula tireoide. A parede de cada folículo é constituída principalmente por células foliculares, cuja maioria se estende até o lúmen do folículo. Uma membrana basal envolve cada folículo. Quando as células foliculares estão inativas, seu formato varia de cúbico a pavimentoso, porém, sob a influência do TSH, passam a secretar ativamente e sua forma varia de cúbica a colunar. As células foliculares produzem dois hormônios: tiroxina, também chamada de tetraiodotironina (T4), pois contém quatro átomos de iodo, e tri-iodotironina (T3), que contém três átomos de iodo. T3 e T4 juntas também são chamadas de hormônios da tireoide. Entre os folículos, podem ser encontradas algumas células chamadas de células parafoliculares ou células C. Elas produzem o hormônio calcitonina (CT), que ajuda a regular a homeostasia do cálcio. A glândula tireoide é composta por um grande número de folículos tireoidianos (de 100 a 300 micrômetros de diâmetro), que são preenchidos por uma substância denominada coloide e revestidos por células epiteliais cuboides, que secretam seus produtos para o interior dos folículos. O constituinte principal do coloide é a grande glicoproteína tireoglobulina, que contém os hormônios da tireoide. Uma vez que a secreção chegue aos folículos, deve ser reabsorvida através do epitélio folicular para o sangue, a fim de realizar suas funções no organismo. A glândula tireoide tem fluxo sanguíneo cinco vezes maior do que seu peso a cada minuto, fluxo sanguíneo maior do que qualquer outra área do corpo, com a possível exceção do córtex adrenal. Formação dos hormônios O primeiro estágio na formação dos hormônios da tireoide é o transporte de iodeto do sangue para as células e folículos glandulares da tireoide. A membrana basal das células tireoidianas tem a capacidade específica de bombear, ativamente, o iodeto para o interior da célula. Esse bombeamento é realizado pela ação de um cotransportador (NIS), que cotransporta um íon iodeto junto com dois íons sódio através da membrana basolateral (plasma) para a célula. A energia para transportar iodeto contra um gradiente de concentração vem da bomba de sódio-potássio trifosfatase de adenosina (Na+/K+ ATPase), que bombeia o sódio para fora da célula, estabelecendo, assim, uma baixa concentração de sódio intracelular e um gradiente para difusão facilitada para dentro da célula. Esse processo de concentração do iodeto na célula é chamado de captação de iodeto. Em uma glândula normal, a concentração de iodeto gerada pela bomba é de cerca de 30 vezes maior do que sua concentração no sangue. Quando a glândula tireoide se torna maximamente ativa, essa concentração pode aumentar para até 250 vezes. A captação de iodeto pela tireoide é influenciada por diversos fatores, dos quais o mais importante é o TSH; este hormônio estimula a atividade da bomba de iodeto nas células da tireoide, enquanto a hipofisectomia a reduz de forma considerável. O iodeto é transportado para fora das células da tireoide através da membrana apical para o folículo, por meio de uma molécula contratransportadora de íons cloreto-iodeto, chamada pendrina. As células epiteliais da tireoide também secretam tireoglobulina para o folículo, que contém aminoácidos de tirosina, a qual o iodo se ligará As células da tireoide são típicas células glandulares secretoras de proteínas. O retículo endoplasmático e o complexo de Golgi sintetizam e secretam para os folículos uma grande glicoproteína, chamada de tireoglobulina Cada molécula de tireoglobulina contém cerca de 70 aminoácidos de tirosina, que são os principais substratos que se combinam com o iodo para formar os hormônios da tireoide. Assim, os hormônios tireoidianos se formam (são montados) ao longo da molécula de tireoglobulina. Os hormônios tiroxina e tri-iodotironina são formados a partir dos aminoácidos tirosina, e compõem parte da molécula de tireoglobulina durante a síntese dos hormônios tireoidianos, até mesmo enquanto estão armazenados no coloide folicular. Oxidação do íon iodeto é essencial na formação dos hormônios tireoidianos e se da conversão dos íons iodeto para a forma oxidada de iodo, que é, então, capaz de se combinar diretamente com o aminoácido tirosina. Essa oxidação do iodo é promovida pela enzima tireoperoxidase acompanhada de peróxido de hidrogênio, que fornece um sistema potente, capaz de oxidar iodetos. A tireoperoxidase está localizada na membrana apical da célula ou ligada a ela, proporcionando, assim, o iodo oxidado, exatamente no ponto da célula no qual a molécula de tireoglobulina surge, egressa do complexo de Golgi e através da membrana celular, sendo armazenada no coloide da tireoide. A síntese e a secreção de T3 e T4 ocorrem da seguinte forma: 1. Retenção de iodeto 2. Síntese de tireoglobulina 3. Oxidação de iodeto 4. Iodação da tirosina Conforme moléculas de iodo (I2) se formam, elas reagem com as tirosinas integrantes das moléculas de tireoglobulina. A ligação de um átomo de iodo produz monoiodotirosina (MIT) e a de dois produz di-iodotirosina (DIT). A TGB com átomos de iodo fixados é um material viscoso que se acumula e é armazenado no lúmen do folículo da tireoide, chamado de coloide. 5. Acoplamento de DIT e MIT Durante a última etapa da síntese dos hormônios da tireoide, duas moléculas de DIT se juntam para formar T4 ou uma de MIT com uma de DIT se unem para formar T3. 6. Pinocitose e digestão de coloide. Gotículas de coloide penetram de novo nas células foliculares por pinocitose e se juntam aos lisossomos. Enzimas digestivas nos lisossomos degradam a TGB, separando moléculas de T3 e T4. 7. Secreção de hormônios da tireoide. Como são lipossolúveis, T3 e T4 se difundem através da membrana plasmática para o líquido intersticial e, em seguida, para o sangue. Em geral, T4 é secretada em maior quantidade que T3, mas T3 é muitas vezes mais potente. Além disso, depois que a T4 entra no corpo celular, a maioria dela é convertida a T3 por remoção de um iodo. Transporte no sangue Mais de 99% de T3 e T4 se combinam a proteínas transportadoras no sangue, principalmente à globulina transportadora de tiroxina (TBG). Ações dos hormônios da tireoide Uma vez que a maioria das células corporais apresenta receptores para hormônios da tireoide, T3 e T4 exercem seus efeitos por todo o corpo. 1.Os hormônios da tireoide aumentam a taxa metabólica basal (TMB), que consiste no consumo de oxigênio em condições basais ou padrão (acordado, em repouso e jejum) por meio da estimulação do uso de oxigênio celular na produção de ATP. Quando a taxa metabólica basal aumenta, o metabolismo celular dos carboidratos, lipídios e proteínas se torna mais intenso. 2.Outro efeito importante dos hormônios da tireoide é o de estimular a síntese de bombas adicionais de sódio e potássio (Na+-K+ ATPase), o que utiliza grandes quantidades de ATP para continuamente ejetar íons sódio (Na+) do citosol no líquido extracelular e íons potássio (K+) do líquido extracelular no citosol. Com a produção e a utilização de mais ATP pelas células, mais calor é liberado e a temperatura corporalsobe. Esse fenômeno é chamado de efeito calorigênico. Dessa maneira, os hormônios da tireoide têm participação importante na manutenção da temperatura corporal normal. 3.Na regulação do metabolismo, os hormônios da tireoide estimulam a síntese de proteína e aumentam o uso de glicose e ácidos graxos para a produção de ATP. Além disso, intensificam a lipólise e a excreção de colesterol, reduzindo, desse modo, o nível de colesterol sanguíneo. 4.Os hormônios da tireoide intensificam algumas ações das catecolaminas (norepinefrina e epinefrina), pois promovem a suprarregulação dos receptores beta (β). 5.Junto com o hormônio do crescimento e com a insulina, os hormônios da tireoide aceleram o crescimento corporal, sobretudo o crescimento dos sistemas nervoso e esquelético. Controle da secreção de hormônio da tireoide O hormônio liberador de tireotrofina (TRH) do hipotálamo e o hormônio tireoestimulante (TSH) da adeno-hipófise estimulam a síntese e a liberação dos hormônios da tireoide Níveis reduzidos de T3 e T4 ou taxa metabólica baixa estimulam o hipotálamo a secretar TRH. O TRH entra nas veias porto-hipofisárias e flui para a adeno-hipófise, onde estimula os tireotrofos a secretar TSH. O TSH estimula praticamente todos os aspectos da atividade celular dos folículos da tireoide, inclusive captação de iodeto, síntese e secreção de hormônio e crescimento das células foliculares. As células foliculares da tireoide liberam T3 e T4 no sangue até que a taxa metabólica volte ao normal. Condições que aumentam a demanda de ATP – ambiente frio, hipoglicemia, altitude elevada e gravidez – também intensificam a secreção dos hormônios da tireoide. Calcitonina O hormônio produzido pelas células parafoliculares da glândula tireoide é a calcitonina (CT). A CT diminui o nível sanguíneo de cálcio por meio da inibição da ação dos osteoclastos, células que degradam a matriz celular óssea. Quando o nível sanguíneo de calcitonina está elevado, ocorre queda da concentração sanguínea de cálcio e fosfatos, com inibição da reabsorção óssea (degradação da matriz óssea extracelular) pelos osteoclastos e aceleração da captação de cálcio e fosfatos na matriz óssea extracelular. Hipotiroidismo Etiologia Deficiência ou excesso de iodo, uso de certos medicamentos ou lesão iatrogênica da tireoide A tireoidite autoimune (tireoidite de Hashimoto) é a causa mais comum de hipotireoidismo em populações com iodo suficiente Causas menos comuns de hipotireoidismo primário: ● Deficiência grave de iodo ou consumo excessivo de iodo ● Lesão iatrogênica da tireoide, incluindo radioiodoterapia para tratamento do hipertireoidismo (doença de Graves ou doença nodular tóxica) ● Radioterapia para tratamento de câncer de cabeça ou pescoço ● Cirurgia da tireoide, incluindo hemitireoidectomia Epidemiologia O hipotireoidismo primário ocorre com mais frequência em adultos mais velhos (especialmente > 65 anos) e mulheres Já o hipotireoidismo central é raro e parece igualmente comum em homens e mulheres Pode ocorrer tanto em populações com ingestão excessivamente alta de iodo quanto em populações com deficiência grave de iodo Fisiopatologia ➔ Hipotireoidismo congênito Em todo o mundo, o hipotireoidismo congênito é mais frequentemente resultante de uma deficiência endêmica de iodo na dieta. Outras formas raras de hipotireoidismo congênito incluem erros inatos do metabolismo tireoidiano (bócio disormonogenético), em que qualquer um dos múltiplos passos que levam à síntese do hormônio da tireoide pode estar deficitário, como (1) transporte do iodo para dentro dos tireócitos, (2) “organificação” do iodo (ligação do iodo aos resíduos de tirosina da proteína de armazenamento, tiroglobulina) e (3) acoplamento de iodotirosina para formar T3 e T4 hormonalmente ativos. Em casos raros, pode haver completa ausência de parênquima da tireoide (agenesia da tireoide), ou a glândula pode ser significativamente reduzida em tamanho (hipoplasia da tireoide), devido a mutações da linha germinativa em genes responsáveis pelo desenvolvimento da tireoide ➔ Tiroidite de Hashimoto Quando os tirócitos são danificados, eles adquirem novos antígenos ou epítopos ocultos são expostos, ativando células apresentadoras de antígenos (APCs) positivas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) classe II, incluindo macrófagos e células dendríticas As APCs apresentam antígenos específicos da tireoide para linfócitos nos linfonodos, resultando em expansão clonal de células B autorreativas, células T CD4+ e células T citotóxicas CD8+ Células B e T autorreativas se acumulam na tireoide, danificando as células epiteliais da tireoide apoptose das células epiteliais da tireoide leva à tireoidite de Hashimoto ➔ Hipotireoidismo iatrogênico Isso pode ser causado por uma ablação tanto cirúrgica quanto induzida por radiação. Uma grande ressecção da glândula (tireoidectomia total) para o tratamento do hipertireoidismo de uma neoplasia primária pode levar ao hipotireoidismo. ➔ Hipotiroidismo secundário O hipotireoidismo secundário (ou central) é causado pela deficiência de TSH e, muito mais raramente, TRH. Qualquer uma das causas do hipopituitarismo (p. ex., tumor hipofisário, necrose hipofisária pós-parto, trauma e tumores não hipofisários) ou de danos hipotalâmicos por tumores, trauma, terapia de radiação ou doenças infiltrativas pode causar hipotireoidismo central. Manifestação clínica Pode ser assintomático, especialmente hipotireoidismo subclínico Os sintomas são inespecíficos, especialmente em adultos mais velhos que apresentam menos e menos sinais e sintomas clássicos em comparação com pacientes mais jovens Sintomas típicos de hipotireoidismo primário: ● Pele seca ● Sensibilidade ao frio ● Fadiga ● Cãibras musculares ● Mudanças de voz ● Constipação ● Irregularidades menstruais (menorragia, sangramento uterino disfuncional, infertilidade) Letargia ● Ganho de peso ● Atividade mental lenta com memória fraca ● Apatia ● Perda auditiva (mixedema do ouvido médio) Diminuição da libido Apresentação clínica em pacientes com hipotireoidismo grave sinais e sintomas podem incluir: ● Síndrome do túnel carpal ● Apneia obstrutiva do sono ● Hiponatremia O cretinismo se refere ao hipotireoidismo que se desenvolve no período precoce da infância. Os aspectos clínicos do cretinismo incluem desenvolvimento prejudicado do sistema esquelético e do sistema nervoso central, manifestado por retardo mental grave, estatura baixa, características faciais grosseiras, língua projetada e hérnia umbilical. O termo mixedema é aplicado ao hipotireoidismo que se desenvolve em crianças mais velhas ou em adultos O mixedema é caracterizado pela lentidão das atividades física e mental. Os sintomas iniciais incluem fadiga generalizada, apatia e preguiça mental, o que pode mimetizar a depressão. As funções intelectuais se tornam lentas. Os pacientes com mixedema são apáticos, intolerantes ao frio e frequentemente estão acima do peso. A atividade simpática diminuída resulta em constipação e sudorese diminuída. A pele é fria e pálida devido à redução do fluxo sanguíneo. O débito cardíaco reduzido provavelmente contribui para o encurtamento da respiração e a reduzida capacidade de exercício, duas reclamações frequentes. Diagnóstico Suspeitar de hipotireoidismo primário em pacientes (especialmente adultos mais velhos e mulheres) que apresentam sintomas típicos de hipotireoidismo O diagnóstico de hipotireoidismo primário evidente é confirmado por exames de sangue mostrando hormônio estimulante da tireoide (TSH) elevado, frequentemente > 10 miliunidades/ L4 tiroxina livre sérica baixa (T4) O diagnóstico de hipotireoidismo central (secundário e terciário) geralmente é confirmado por exames de sangue que mostram TSH baixo a normal e T4 sérico baixo Tratamento A monoterapia com levotiroxina (LT4) é o tratamento recomendado para o hipotireoidismo primário evidente Levotiroxina (T4) é preferida ante o T3 (liotironina) ou produtos de combinação T3/T4 (liotrix)para o tratamento do hipotiroidismo. O T4 é mais bem tolerado do que as preparações de T3 e tem meia-vida mais longa. A levotiroxina é administrada uma vez ao dia, e o equilíbrio é alcançado entre 6 a 8 semanas. Hipertiroidismo A tireotoxicose é um estado clínico caracterizado por níveis excessivos de hormônio tireoidiano. O hipertireoidismo é uma forma de tireotoxicose resultante de uma síntese e secreção inapropriadamente altas de hormônio tireoidiano pela glândula tireoide. Etiologia ● Doença de graves ● Adenoma tóxico da tireoide (nódulo tóxico/quente) ● Bócio multinodular tóxico Epidemiologia Mais comum em mulheres pessoas e em regiões com deficiência de iodo Fisiopatologia Os mecanismos patogênicos incluem: Estimulação inadequada da tireoide por fatores tróficos (por exemplo, devido a anticorpos do receptor do hormônio estimulante da tireoide [TSH] na doença de Graves ou tireotropinoma [adenoma hipofisário secretor de TSH]) Desenvolvimento de autonomia tireoidiana (por exemplo, devido a mutações ativadoras associadas a bócio multinodular tóxico, adenoma tóxico ou hipertireoidismo congênito) Liberação de hormônio pré-formado em quantidades excessivas devido a danos autoimunes, infecciosos, químicos ou outros danos à glândula tireoide (por exemplo, em tireoidite pós-parto, tireoidite subaguda, tireoidite aguda, terapia com inibidor de checkpoint imunológico) Exposição a fontes extratireoidianas endógenas ou exógenas de hormônio tireoidiano (por exemplo, em câncer de tireoide metastático funcional ou suplementos) Manifestações clínicas As manifestações clínicas do hipertireoidismo são variáveis e incluem mudanças conhecidas como estado hipermetabólico induzido pelo excesso de hormônio tireoidiano e pela exacerbação da atividade do sistema nervoso simpático (ou seja, aumento no “tônus” β-adrenérgico). Os níveis excessivos do hormônio tireoidiano resultam em aumento da taxa metabólica basal. A pele dos pacientes tireotóxicos tende a ser macia, quente e ruborizada por causa do fluxo sanguíneo aumentado e da vasodilatação periférica, adaptações que servem para acentuar a perda de calor. A intolerância ao calor é comum. A sudorese é aumentada por causa dos altos níveis de calorigênese. O metabolismo catabólico intensificado resulta em perda de peso, a despeito do apetite aumentado. As manifestações cardíacas estão entre as características mais precoces e mais consistentes. Indivíduos com hipertireoidismo podem apresentar contratilidade cardíaca e débito cardíaco elevados, em resposta à necessidade periférica de oxigênio aumentada. Taquicardia, palpitações e cardiomegalia são comuns. As arritmias, particularmente a fibrilação atrial, ocorrem com mais frequência e são mais comuns em pacientes idosos. Pode haver insuficiência cardíaca congestiva, especialmente em pacientes idosos com doença cardíaca preexistente. Foram descritas mudanças miocárdicas, como focos de infiltração linfocítica e eosinofílica, fibrose leve, degeneração gordurosa nas miofibras e aumento no tamanho e no número de mitocôndrias. Alguns indivíduos com tireotoxicose desenvolvem disfunção ventricular esquerda reversível e insuficiência cardíaca “de baixo débito”, conhecidas como miocardiopatias tireotóxicas ou hipertireoidianas. A superatividade do sistema nervoso simpático produz tremor, hiperatividade, labilidade emocional, ansiedade, incapacidade de concentração e insônia. Fraqueza muscular proximal e massa muscular diminuída são comuns (miopatia tireoidiana). No sistema gastrointestinal, a hiperestimulação sistêmica do intestino resulta em hipermotilidade, má absorção e diarreia. Mudanças oculares frequentemente chamam a atenção para o hipertireoidismo. Um olhar fixo e arregalado, além de movimentos lentos da pálpebra superior, estão presentes por causa da superestimulação simpática do músculo tarsal superior (também conhecido como músculo de Müller), que funciona junto do músculo levantador palpebral para levantar a pálpebra superior. No entanto, a verdadeira oftalmopatia tireoidiana associada à proptose ocorre somente na doença de Graves O sistema esquelético também é afetado. O hormônio tireoidiano estimula a reabsorção óssea, aumentando a porosidade do osso cortical e reduzindo o volume do osso trabecular. O efeito final é osteoporose e risco aumentado de fraturas em pacientes com hipertireoidismo crônico. Outros achados incluem atrofia do músculo esquelético, com infiltração gordurosa e infiltrados linfocíticos intersticiais focais; hepatomegalia discreta, devido às alterações adiposas nos hepatócitos; hiperplasia linfoide generalizada e linfadenopatia em pacientes com doença de Graves. Diagnóstico O diagnóstico de hipertireoidismo e outras causas de tireotoxicose é baseado na avaliação dos testes de função da tireoide (hormônio estimulante da tireoide [TSH], tiroxina livre [T4], tri-iodotironina total [T3]) O diagnóstico de hipertireoidismo evidente na gravidez é baseado em TSH sérico suprimido ou indetectável e T4 sérico elevado (total [TT4] ou livre [T4]) ou T3 acima dos intervalos de referência específicos do trimestre para hormônios tireoidianos TSH normal ou elevado quase sempre exclui hipertireoidismo Tratamento O objetivo do tratamento é diminuir a síntese e/ou a liberação do hormônio excessivo. Isso pode ser alcançado removendo parte da glândula tireoide ou toda ela, inibindo a síntese dos hormônios ou bloqueando a liberação dos hormônios dos folículos. Remoção de parte da tireoide ou de toda ela: Isso pode ser realizado por cirurgia ou destruição da glândula com iodeto radioativo, que é captado seletivamente pelas células foliculares tireóideas. Inibição da síntese do hormônio tireóideo: As tioaminas, propil- tiouracil (PTU) e metimazol, são concentradas na tireoide, onde inibem os processos oxidativos necessários para a iodinação dos grupos tirosila e a condensação (ou acoplamento) das iodotirosinas para formar T3 e T Bloqueio da liberação dos hormônios: Uma dose farmacológica de iodeto inibe a iodinação das tirosinas (efeito Wolff-Chaikoff), mas esse efeito dura poucos dias.
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