Prévia do material em texto
MÉTODO DO INSHT FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A 1 MÉTODO DO INSHT INTRODUÇÃO A metodologia do Instituto Nacional de Segurança e Higiene no Trabalho (INSHT- Espanha) permite a quantificação da magnitude dos riscos existentes a partir das deficiências detectadas com relação a um dado perigo. Para isso, parte-se da detecção das deficiências existentes nos locais de trabalho ligadas a um determinado perigo. A seguir, estima-se a probabilidade de ocorrência de um acidente e, considerando-se a magnitude esperada das consequências, avalia-se o risco associado a cada uma dessas deficiências. A informação trazida pelo método é meramente orientativa, pois, a rigor, se deveria comparar a probabilidade de incidente apresentada pelo método a partir das deficiências detectadas com o nível de probabilidade estimável a partir de fontes mais precisas, por exemplo, dados estatísticos de acidentabilidade ou de confiabilidade de componentes. Com o objetivo de simplificar o método, não serão empregados valores absolutos de risco, probabilidade e consequências, mas seus “níveis” numa escala de três possibilidades. Assim, falaremos de “nível de risco”, de “nível de probabilidade” e de “nível de consequências”. Por outro lado, há um compromisso entre o número de níveis escolhidos, o grau de especificação e a utilidade do método. Com efeito, caso se opte por poucos níveis, não se poderá discernir entre diferentes situações; em contrapartida, uma ampla classificação de níveis torna difícil posicionar uma situação em um ou outro nível, sobretudo quando os critérios de classificação estejam baseados em aspectos qualitativos. 2 FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A MÉTODO DO INSHT Nessa metodologia, consideraremos que o nível de probabilidade depende do nível de deficiência e da frequência ou do nível de exposição a essa deficiência. Assim sendo, o nível de risco (NR) dependerá do nível de probabilidade (NP) e do nível de consequências (NC), e que pode ser assim expresso: NR=NP x NC O procedimento de atuação é o seguinte (Bestratén & Pareja, 1995)1: 1. Identificação do perigo e consideração do risco a analisar. 2. Elaboração do questionário de checagem sobre os fatores de risco que possibilitem sua positivação. 3. Atribuição do nível de importância a cada um dos fatores de risco. 4. Preenchimento do questionário de checagem no local de trabalho e estimativa da exposição e das consequências normalmente esperáveis. 5. Estimativa do nível de deficiência do questionário aplicado (tabela 1.2). 6. Estimativa do nível de probabilidade a partir do nível de deficiência e do nível de exposição (tabelas 1.4 e 1.5). 7. Comparação do nível de probabilidade a partir de dados históricos disponíveis. 8. Estimativa do nível de risco a partir do nível de probabilidade e do nível de consequências (tabelas 1.6 e 1.7). 9. Estabelecimento dos níveis de intervenção (tabelas 1.7 e 1.8), considerando os resultados obtidos e sua justificativa socioeconômica. 10.Comparação dos resultados obtidos com os estimados a partir de fontes de informação precisa e da experiência. NÍVEL DE DEFICIÊNCIA Define-se como nível de deficiência (ND) a magnitude da vinculação esperável entre o conjunto de fatores de risco considerados e sua relação causal direta com o possível acidente. 1. Citados por Francesc. X. Catalán Turrión (1997). Curs de Postgrau en Gerència de Riscs. Conferència sobre Reglament dels Serveis de Prevenció. MÉTODO DO INSHT 3FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A Ainda que o nível de deficiência possa ser estimado de várias maneiras, o modo mais adequado é empregando-se um questionário de checagem para analisar os possíveis fatores de risco para cada situação de perigo. Por exemplo, o questionário tipo de checagem da tabela 1.1 serve para controlar periodicamente o risco de golpes, cortes e projeções com ferramentas manuais, em um centro de trabalho, e onde se indicam os quatro possíveis níveis de deficiência: muito deficiente, deficiente, melhorável e aceitável, em função dos fatores de risco presentes. Uma resposta negativa a alguma das questões apresentadas confirmaria a existência de uma deficiência, catalogada segundo os critérios de valoração indicados. Tabela 1.1. Exemplo de questionário de checagem.2 QUESTIONÁRIO DE CHECAGEM SIM NÃO 1. As ferramentas se ajustam ao trabalho a realizar? 1.1. As ferramentas são de boa qualidade? 1.2. As ferramentas se encontram em bom estado de limpeza e conservação? 2. A quantidade de ferramentas disponível é insuficiente em função do processo produtivo e das pessoas? 3. Há lugares e/ou meios adequados à localização ordenada das ferramentas (panelas, caixas,...) 4 Quando não são utilizadas ferramentas cortantes, perfurantes, dispõe-se dos protetores adequados? 5. Observam-se hábitos corretos de trabalho? 5.1. Os trabalhos são feitos de modo seguro, sem superesforços ou movimentos bruscos? 5.2. Os trabalhadores são treinados no manejo de ferramentas? 5.3. São utilizados equipamentos de proteção pessoal quando podendo haver riscos de projeções? Critérios de Valoração A situação será valorada como muito deficiente quando se tendo respondido não a uma ou mais das questões: 5, 5.2, 5.3. A situação será valorada como deficiente quando não sendo muito deficiente, tendo-se respondido negativamente a questão 1. A situação será valorada como melhorável quando não sendo muito deficiente nem deficiente, tendo-se respondido negativamente uma ou mais das questões: 1.1, 1.2, 2, 3, 5.1. A situação será valorada como aceitável nos demais casos. 4 FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A MÉTODO DO INSHT Como se mostra na tabela 1.2, a cada um dos níveis de deficiência se faz corresponder um valor numérico adimensional, exceto para o nível “aceitável”, em cujo caso não se realiza uma valoração, já que não foram detectadas deficiências. Em qualquer caso, é necessário alcançar na avaliação um certo nível de deficiência com a ajuda do critério exposto ou de outro similar. Tabela 1.2. Determinação do nível de deficiência. NÍVEL DE EXPOSIÇÃO O nível de exposição (NE) é uma medida da frequência com a qual se dá a exposição ao risco. Para um risco específico, o nível de exposição pode ser estimado em função dos tempos de permanência em áreas de trabalho, operações com máquinas, entre outros. Como se pode observar na tabela 1.3, os valores numéricos são ligeiramente inferiores ao valor alcançado pelos níveis de deficiências, já que, por exemplo, se a situação de risco está controlada, uma alta exposição não deveria ocasionar, em princípio, o mesmo nível de risco que uma alta deficiência com baixa exposição. 2. Fonte: (Bestratén & Pareja, 1995). NÍVEL DE DEFICIÊNCIA ND SIGNIFICADO Muito deficiente (MD) 10 Foram detectados fatores de risco significativos a determinarem como muito possível a geração de falhas. O conjunto de medidas preventivas existentes com relação ao risco mostra- se ineficaz. Deficiente (D) 6 Foi detectado algum fator de risco significativo que precisa ser corrigido. A eficácia do conjunto de medidas preventivas se vê evidentemente reduzida. Melhorável (M) 2 Foram detectados fatores de risco de menor importância. A eficácia do conjunto de medidas preventivas existentes com relação ao risco não se vê evidentemente reduzida. Aceitável (B) --- Não se detectou qualquer anomalia destacável. O risco está controlado. Não se o valora. MÉTODO DO INSHT 5FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A Tabela 1.3. Determinação do nível de exposição. NÍVEL DE PROBABILIDADE Em função do nível de deficiênciadas medidas preventivas e do nível de exposição ao risco, determina-se o nível de probabilidade (NP), que pode ser expresso como o produto de ambos os termos: NP=ND x NE Na tabela 1.4, mostra-se a consequente categorização. Tabela 1.4. Determinação do nível de probabilidade. E, na tabela 1.5, mostra-se o significado dos diferentes níveis de probabilidade. NÍVEL DE EXPOSIÇÃO NE SIGNIFICADO Continuado (EC) 4 Continuamente. Várias vezes em sua jornada de trabalho com tempo prolongado. Frequente (EF) 3 Várias vezes em sua jornada de trabalho, ainda que seja com tempos curtos. Ocasional (EO) 2 Alguma vez em sua jornada de trabalho e com curto período de tempo Esporádico 1 Irregularmente Nível de exposição (NE) 4 3 2 1 N ív el d e de fic iê nc ia ( N D ) 10 MA-40 MA-30 A-20 A-10 6 MA-24 A-18 A-12 M-6 2 M-8 M-6 B-4 B-2 6 FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A MÉTODO DO INSHT Tabela 1.5. Significado dos diferentes níveis de probabilidade. Visto que os indicadores trazidos por essa metodologia são orientativos, cabe considerar outros tipos de estimativas quando se dispondo de critérios de valoração mais precisos. Assim, por exemplo, se ante um certo risco se dispõe de dados estatísticos de incidentes ou de outras informações que permitam estimar a probabilidade de o risco se positivar, devem ser aproveitados e comparados, caso caiba, com os resultados obtidos a partir do sistema exposto. NÍVEL DE CONSEQUÊNCIAS Analogamente, tal como se verá a seguir, foram considerados quatro níveis para a classificação das consequências (NC). Assim sendo, estabeleceu-se um duplo significado; por um lado, categorizando-se os danos físicos e, por outro, os danos materiais.3 Ambos os conceitos devem ser considerados independentemente, tendo mais peso os danos a pessoas que aos materiais. NÍVEL DE PROBABILIDADE NP SIGNIFICADO Muito alto (MA) Entre 40 e 24 Situação deficiente com exposição continuada, ou muito deficiente com exposição frequente. Normalmente, a positivação do risco ocorre com frequência. Alto (A) Entre 20 e 10 Situação deficiente com exposição frequente ou ocasional, ou ainda situação muito deficiente com exposição ocasional ou esporádica. A positivação do risco é possível que ocorra várias vezes no ciclo de vida laboral. Médio (M) Entre 8 e 6 Situação deficiente com exposição esporádica, ou ainda situação melhorável com exposição continuada ou frequente. É possível que o dano ocorra alguma vez Baixo (B) Entre 4 e 2 Situação melhorável com exposição ocasional ou esporádica. Não se espera que o risco se positivize, ainda que isso possa ser concebível 3. Não se considerou sua tradução para termos monetários, pois sua importância será relativa em função do tipo de empresa e de seu porte. MÉTODO DO INSHT 7FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A Como se mostra na tabela 1.6, a escala numérica de consequências é muito superior à de probabilidade. Isso decorrente do fato de o fator consequências dever ter sempre um maior peso na valoração. Tabela 1.6. Determinação do nível de consequências. Na tabela se observa que os acidentes com baixa foram considerados como consequências graves. Dessa maneira, pretende-se ser mais exigente na hora de penalizar as consequências sobre as pessoas em virtude de um incidente, do que aplicando um critério médico-legal. Ademais, pode-se acrescentar que os custos econômicos de um incidente com baixa, ainda que geralmente sejam desconhecidos, são muito importantes. NÍVEL DE RISCO E NÍVEL DE INTERVENÇÃO O nível de risco é função do nível de probabilidade e do nível de consequência, de tal maneira que: NR= NP x NC A tabela 1.7 permite determinar o nível de risco e, mediante a agrupação dos diferentes valores obtidos, estabelecer blocos de priorização das intervenções, com o estabelecimento de quatro níveis (indicados com algarismos romanos). Quando nos referimos às consequências dos acidentes, trata-se das normalmente esperadas em caso de positivação do risco. NÍVEL DE CONSEQUÊNCIAS NC SIGNIFICADO Danos pessoais Danos materiais Mortal ou catastrófico (M) 100 1 morto ou mais. Destruição total do sistema (difícil renová-lo). Muito grave (MG) 60 Lesões graves que podem ser irreparáveis. Destruição parcial do sistema (reparação complexa e cara). Grave (G) 25 Lesões com incapacidade laboral transitória (I.L.T.). Faz-se necessário paralisar o processo para efetuar os reparos. Leve (L) 10 Pequenas lesões que não exigem hospitalização. Reparável sem necessidade de paralisação no processo. 8 FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A MÉTODO DO INSHT Tabela 1.7. Determinação do nível de risco e de intervenção. O significado do nível de intervenção é apresentado na tabela 1.8: Tabela 1.8. Significado do nível de intervenção. Os níveis de intervenção obtidos têm um valor orientativo. Dessa maneira, para priorizar um programa de investimentos e melhorias, é imprescindível introduzir a componente econômica e o âmbito de influência da intervenção. Assim, ante alguns resultados similares, estará mais justificada uma intervenção prioritária quando o custo seja menor e a solução afete um maior coletivo de trabalhadores. Por outro lado, a opinião dos trabalhadores deve ser considerada, pois sua consideração redundará na efetividade do programa de melhorias. Nível de probabilidade (NP) 40-24 20-10 8-6 4-2 N ív el d e C on se qu ên ci as ( N C ) 10 0 I 4000-2400 I 2000-1200 I 800-600 II 400-200 60 I 2400-1440 I 1200-600 II 480-360 II 240 III 120 25 I 1000-600 II 500-250 II 200-150 III 100-50 10 II 400-240 II 200 III 80-60 III 40 III 100 IV 20 NÍVEL DE INTERVENÇÃO NR SIGNIFICADO I 4000-600 Situação crítica. Correção urgente. II 500-150 Corrigir e adotar medidas de controle. III 120-40 Melhorar se possível. Seria conveniente justificar a intervenção e sua rentabilidade. IV 20 Não intervir, salvo se uma análise mais precisa assim justificar. MÉTODO DO INSHT 9FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E R O A M E R IC A N A CONCLUSÕES Uma vez calculada a avaliação e efetuada a identificação dos riscos, deve-se chegar a uma conclusão com referência aos seguintes aspectos: - se o risco está adequadamente controlado; - em caso de não estar, verificar se há alternativas visando-se alcançar a redução dos riscos; - quais são as prioridades; - verificar se podem ser adotadas medidas para melhorar o nível de produção dos trabalhadores em matéria de segurança e saúde; e - terceiros que podem ser afetados. Nesse sentido, é conveniente comparar os resultados com dados históricos de outros estudos realizados. Dessa maneira, pode-se conhecer sua evolução e observar se as medidas corretivas aplicadas foram as adequadas. EXEMPLO DE APLICAÇÃO Tem-se o caso de alguns operários de montagem que utilizam diversas ferramentas manuais para a montagem de peças metálicas. Ao aplicar o questionario de checagem da tabela 1.1, foram detectadas as seguintes deficiências: mesmo sendo as ferramentas adequadas e estando o pessoal treinado em seu emprego, observa-se que são de uso coletivo. Os operários ao se incorporarem a seu trabalho pegam uma caixa de ferramentas entre as disponíveis. Algumas ferramentas não são ordenadamente guardadas em local específico. Foram detectadas algumas que não estavam sendo utilizadas sobre a bancada de uma máquina. Os resultados são: ND: 2 (Melhorável) (Negações aos itens: 2 e 3) NE: 4 (Continuada) NP: 8 (Média) NC: 10 (Leve) NR: 80 NI: III (Melhorar se possível. É conveniente justificar a intervenção e sua rentabilidade). 10 FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO DE RISCOS LABORAIS © F U N D A Ç Ã O U N IV E R S IT Á R IA I B E RO A M E R IC A N A MÉTODO DO INSHT