Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANÁLISE DE CONJUNTURA AULA 6 Prof. Joaquim Israel Ribas Pereira CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos finalmente agrupar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso e iniciar a montagem de um relatório sobre a conjuntura ou o cenário econômico. Não existe uma forma correta ou única de realizar uma análise de conjuntura, e sim recomendações para atingir uma análise suficiente para os objetivos dados. Iniciaremos esta aula estudando um passo a passo indicado para a montagem de uma análise de conjuntura. Depois, no segundo tema, serão identificados os diversos riscos inerentes ao mercado. Também será abordado o risco político, seu significado para a economia e como as consultorias empresariais criaram um índice para mensurar esse risco. Analisaremos também o famoso Relatório Focus e qual seu papel nas expectativas de mercado. Será abordada ainda a importância do papel da situação econômica regional para a análise de conjuntura e como essa situação deve ser incorporada na análise. Por fim, veremos por meio de um exemplo prático como é construída uma análise de conjuntura. TEMA 1 – INICIANDO A MONTAGEM DE UMA ANÁLISE DE CONJUNTURA Para iniciarmos a montagem da análise de conjuntura, podemos seguir as recomendações propostas por Damodaran (2009), segundo as quais podemos fazer a análise utilizando um esquema baseado em cinco passos: 1. Identificação do objetivo; 2. Identificação dos fatores-chave; 3. Análise dos fatores; 4. Geração dos cenários; 5. Levantamento das consequências. Com base em Damodaran (2009), o passo inicial na análise é a definição do objetivo para o qual os cenários serão desenvolvidos. Para facilitar o encontro desse objetivo, propomos utilizar perguntas como: De qual setor da economia estamos tratando? A empresa está preocupada com o setor externo? Como é a relação da empresa com o setor público? A análise está calibrada com a realidade? Todas essas perguntas auxiliam o analista a iniciar o processo de construção da conjuntura. No princípio dos estudos, é instintivo demarcar os limites da análise considerando qual será o propósito dos estudos. Por modelo, o início de uma companhia de importação de produtos eletrônicos jamais pode abandonar considerações sobre fatores relacionados ao setor externo, como câmbio, regulações, tarifas de importação e acordos comerciais. Outra questão sobre as delimitações que deverão ser realizadas, se estiver se tratando de um empreendimento que está inserido num domínio excessivamente dinâmico, é trabalhar simultaneamente períodos de tempo mais curtos. Por exemplo, se estiver sendo deduzido uma conjuntura econômica para o mercado de softwares ou até de alimentação, devem ser consideradas previsões para seis meses, um ano ou, no máximo, cinco anos devido ao ambiente mudar consideravelmente nesse período, com a entrada de novos produtos ou concorrentes. Diferentemente será se estivermos tratando do mercado de petróleo ou produção de energia elétrica, bem mais constante e costumeiro pelo lado econômico. A identificação das variáveis-chave, ou fatores importantes capazes de influenciar os resultados de uma empresa, segundo Damodaran (2009), será o segundo passo de uma análise de conjuntura. Uma das contribuições desse desse curso foi a apresentação dos principais fatores na economia, como taxa Selic, inflação, desemprego, oferta agregada, demanda agregada, câmbio etc. Serão esses fatores que deverão ser analisados e que requerem conhecimento sobre as interações entre as variáveis. Podemos afirmar que, para escolher as variáveis que serão analisadas, é necessária uma base teórica, todavia também é necessária certa intuição na escolha dessas variáveis, por meio da experiência e capacidade de observação do analista, que poderá ir além ao incluir uma variável diferente. Essa visão teórica é talvez uma das melhores qualidades para qualquer analista financeiro ou econômico. Na sequência, o terceiro passo, para Damodaran (2009), será a análise das variáveis escolhidas no segundo passo. Será também durante essa fase que, após escolhida as variáveis, serão traçadas hipóteses fundamentais com base nas teorias conhecidas. A compreensão da conjuntura será feita analisando a circunstância passada de cada variável, bem como o estado presente e o futuro mais provável de cada variável escolhida no primeiro passo. Destaca-se que os riscos e as incertezas, inerentes à realidade, não deverão ser ignorados, ou seja, uma análise de conjuntura será considerada mais completa quando leva em consideração também as situações menos prováveis. Para deixar isso mais claro, vamos usar um exemplo: se você quer descrever os possíveis cenários do desemprego após uma pandemia, o mais provável, após a sua análise, é um aumento de 6% no desemprego, todavia, ainda haverá riscos que podem levar para situações abaixo ou acima do esperado. Portanto, será o risco de ocorrer um abaixo ou acima da situação mais provável o determinante da criação dos cenários. Na criação desses cenários alternativos, deverá ser levada em consideração a incerteza que permeia os choques externos. Podemos compreender esses choques externos, como incertezas entre mudanças bruscas no governo, impactos ambientais, guerras, entre outros. Nessa etapa do processo, o analista deverá ter um bom conhecimento de fontes estatísticas. Por causa disso, inserimos anteriormente os diversos dados espalhados por diferentes fontes de dados. Não há regras que determinem como deve ser apresentada uma análise de cenários, dando liberdade para o analista procurar o meio mais intuitivo para apresentar os resultados, principalmente em diferentes contextos. O que vamos fazer aqui é conhecer uma maneira básica, que permite condensar de maneira formal os cenários apresentados. Diante disso, seguindo a recomendação de Damodaran (2009), será no quarto passo a própria geração da análise de conjuntura, com suas possíveis variações em cenários. Além de analisar a situação atual e mais possível no futuro, criar desemprego suposições de conjunturas menos prováveis torna a análise mais robusta e interessante para a administração da empresa. Um questionamento muito comum nessa fase é: qual é a quantidade ideal de cenários? Inicialmente e de maneira ainda simples e correta, podemos incluir três (mais provável, riscos positivos, riscos negativos), todavia uma avaliação com somente três cenários, dependente da complexidade e da dinâmica econômica, pode levar a uma análise demasiadamente simplória. Por outro lado, um número excessivo de cenários pode levar a erros e a uma dificuldade de entendimento. Recomenda-se a utilização de seis cenários, ou seja, um cenário que condense a situação mais verossímil, dois cenários para hipóteses positivas na economia, dois para hipóteses negativas na economia, e um levando em conta um choque externo que possa causar grandes danos negativos. Por término, o quinto passo de Damodaran (2009) para a análise de conjuntura é a exibição das consequências para a companhia. Uma vez que é estabelecida uma expectativa de melhoria acima do previsto, o analista deve expor qual é o resultado para a companhia. Por exemplo, se uma companhia trabalha com a produção de produtos têxteis, provavelmente um progresso econômico irá provocar maior busca por seus produtos. Em resumo, devemos orientar que a análise de cenários econômicos não prediz qual deve ser a tomada de decisão da empresa, mas sim quais são os possíveis futuros pela qual a empresa passará. Caberá aos gestores utilizar as informações fornecidas na análise para a tomada de decisão TEMA 2 – ANALISANDO OS RISCOS Além de descobrir a atuação das variáveis que apresentamos no decorrer das aulas, o analista deve invariavelmente calibrar a análise para riscos aos quais a companhia estará exposta. Esse método de desenvolver uma qualificação dos riscos necessita de um exame dos riscos tanto aqueles que gerados pela competição entre os concorrentesquanto aqueles trazidos pelas alterações macroeconômicas. É indispensável que o analista tenha uma precaução metodológica para jamais confundir as consequências de cada risco. Vamos expor três passos para gerenciar os riscos encontrados na estrada de uma companhia, seguindo o método de Damodaran (2009). Primeiramente devemos enumerar os riscos. Vamos conceber que você trabalhe em uma companhia de importação de chá indiano de alta qualidade, que embala e vende o chá para diferentes franquias ao longo do Brasil. Esse tipo de procedimento expõe a companhia a uma multiplicidade de riscos. Há o perigo de insegurança jurídica na Índia, o perigo ambiental no fabrico, como uma nova praga, o risco de instabilidade da taxa de câmbio. Dependendo da quantidade e tipos de trabalhadores contratados, a exposição da companhia a questões trabalhistas. Como nesse caso a companhia vai operar com distribuição de produtos para diferentes estados brasileiros, pode haver problemas de mudanças tributárias, como alterações na regra do ICMS. Por último e não menos imprescindível, devem ser consideradas as possíveis oscilações na busca do produto. Você deve ter notado que quanto maior o volume do negócio, maiores serão os riscos que a companhia enfrentará. O passo secundário proposto por Damodaran (2009) é a qualificação dos riscos. Obviamente que há uma diversa gama de riscos e, diante disso, a recomendação proposta pelo autor é separá-los em categorias. Quando realizamos essa qualidade, a tendência natural é que os que dentro da mesma categoria sejam similares apresentem na média possibilidade e consequências semelhantes, tornando-os assim mais administráveis dentro de cada categoria Por fim, o terceiro passo proposto por Damodaran (2009) para controlar os riscos é aferir como a empresta está exposta ao risco. Uma vez apontados e classificados os principais riscos, a continuidade lógica será a medição da exposição as ameaças. A questão instintiva que irá ocorrer aqui é: o que essa ameaça pode provocar na companhia? Em suma, é possível auferir as repercussões dos riscos sobre os lucros da empresa, ou a própria receita. Além disso, é possível discutir também os efeitos sobre o patrimônio de uma empresa. Por meio dos registros contábeis da empresa é possível ao analista mensurar a sensibilidade da receita ou do lucro para certas variáveis econômicas. Para mensurar essa sensibilidade, o analista deverá utilizar métodos estatísticos. Grandes empresas e empresas de capital aberto, devido à maior necessidade de transparência, possuem registros e dados mais completos permitindo uma melhor análise. Seguindo os passos descritos, caberá, por fim, ao analista transformar os resultados encontrados em um relatório conciso. O tomador de decisão da empresa, geralmente o proprietário, o conselho de administração ou o presidente e diretores, deve encontrar as alternativas para a proteção contra os riscos, além de calcular as despesas dessas proteções, analisando sempre o custo-benefício. TEMA 3 – RISCO POLÍTICO Vamos tratar aqui com mais detalhes do chamado risco político e de um índice que pode ser levado em consideração na análise da conjuntura. Obviamente, o conceito de risco é amplo e há diversos autores que o discutem com profundidade. Todavia poderíamos sintetizá-lo como o risco derivado do comportamento do Estado, considerando leis, políticas, ética e estabilidade institucional. Para facilitar o entendimento, vejamos da seguinte forma: imagine uma empresa que deseje abrir uma filial em outro país. No curto prazo, há dois países de interesse. Pelo viés econômico, eles apresentam variáveis praticamente idênticas, mesmo tamanho do mercado consumidor, mesmas taxas de juros, mesma média de renda da população, bem como outras diversas variáveis econômicas. Diante disso, o que irá diferenciar os países para a escolha da empresa? Fatores como conflitos, tensões étnicas, nível de burocracia, entre outros serão os determinantes do investimento. Como não se trata aqui de uma aula de ciência de política, e sim de análise de conjuntura, não vamos discutir cada variável política, a dúvida nesse caso é: sabendo desse risco político, como é possível, de alguma forma prática, que ele seja incorporado em uma avaliação do analista? Uma das possíveis formas é por meio do Political Risk Index calculado pela Fitch Solutions e divulgado pela consultoria Marsh & McLennan Companies (2019). Esse índice oferece uma classificação de risco em uma escala de 0 (mais arriscado) a 100 (menos arriscado). Os países são em seguida classificados pela medida de risco e divididos em cinco categorias: 1. Risco muito baixo (100 a 80); 2. Risco baixo (79,9 a 70); 3. Risco moderado (69,9 a 60); 4. Risco elevado (59,9 a 50); 5. Risco muito elevado (abaixo de 50). Saiba mais Há diversas empresas que produzem relatórios semelhantes, como a PRS Group e a Fitch Solutions. A mensuração do risco político leva em consideração a capacidade de o governo propor e implementar as políticas, as ameaças a governabilidade, o risco de golpe, entre outras questões. O índice ainda é mensurado para dois períodos, para o próximo ano e para os próximos cinco anos. TEMA 4 – RELATÓRIO FOCUS Vamos apresentar aqui uma das melhores fontes de informações de projeções de uma série de variáveis econômicas, o chamado Relatório Focus, cujo objetivo principal é captar as projeções do mercado para diversos indicadores, desde inflação até balança comercial. O relatório é disponibilizado semanalmente pelo Bacen, cabendo a produção ao Departamento de Relacionamentos com Investidores e Estudos Especiais (Gerin). O relatório é composto pela mediana das expectativas de diversas instituições financeiras (bancos, consultorias e gestoras de recursos), que transmitem projeções por meio do Sistema de Expectativas de Mercado. Esse sistema é restrito ao Gerin e as instituições cadastradas. Qual é o papel do relatório? Em síntese, além de fornecer para as demais instituições expectativas de como será o comportamento da economia para os próximos períodos, também serve de embasamento técnico para as tomadas de decisões no Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Por exemplo, caso as expectativas do mercado comecem a apontar para uma alta da inflação nos próximos períodos, provavelmente o Copom tomará a decisão de ajustar para cima a taxa Selic. Segundo dados do BCB (2020b), havia cerca de 140 instituições cadastradas no primeiro semestre de 2020 fornecendo expectativas para 24 variáveis macroeconômicas (Quadro 1). Para aqueles que desejam analisar o histórico de projeções, o Bacen disponibiliza uma série histórica desde de janeiro de 2000, sendo possível comparar o comportamento das previsões com os resultados oficiais. Quadro 1 – Variáveis analisadas no Relatório Focus Tipo de Variável Variável a ser projetada Índice de preços IGP-DI, IGP-M, IPA-M, IPCA, IPCA-15, INPC Preços Administrados Atividade econômica Produção Industrial PIB, PIB Agropecuário, PIB Industrial, PIB Serviços Taxa de câmbio Ptax – fim do período (R$/US$) Ptax – média anual (R$/US$) Meta para a taxa Selic Meta – fim do período Meta – média do período Setor externo Exportação e importação Saldo Comercial Balanço de pagamentos Saldo em Transações Correntes Investimento Direto no País Fiscal Resultado Primário do Setor Público Consolidado Resultado Nominal do Setor Público Consolidado Dívida Líquida do Setor Público Fonte: BCB, 2020a. Uma vez que os dados são inseridos no sistema de expectativas de mercado, o Bacen divulga a mediana, a média, o desvio-padrão, o coeficiente de variação, o máximo e o mínimo para cada variável. Os dados são apresentados semanalmente no Relatório Focus. Portanto, não há, nesse relatório, expectativas formuladas pelo governo, somente informações fornecidas voluntariamente pelas instituições financeiras. Se o fornecimento das expectativas pelas instituições é voluntário, qual é a vantagem para a instituição?Existe certo sentimento de competição entre as instituições financeiras, que constantemente aprimoram suas análises e suas metodologias de predição. Aquelas instituições que mais acertam entram na classificação Top five do Bacen; o ranking é baseado no índice de acerto de projeções das instituições. Além disso, o índice é calculado para as previsões de curto, médio e longo prazo. Em suma, uma parte importante de uma análise de conjuntura é a questão das projeções futuras das variáveis econômicas, e para as variáveis mais importantes há disponível o Relatório Focus. Sabendo desse relatório, você poderá utilizá-lo como fonte de informações ou como base para geração de relatórios semelhantes. TEMA 5 – ANÁLISE DE CENÁRIO REGIONAL Até o momento estivemos fazendo descrições metodológicas gerais que podem, em princípio, ser aplicadas a macrossistemas – mundo, país, segmento econômico – cujo futuro se deseja antecipar como apoio à toma de decisão dos gestores. Para a aplicação da metodologia de análise de conjuntura e cenários em nível regional, como explica Buarque (2003), devemos considerar a região como um subsistema de uma cadeia mais ampla e complexa, do qual recebe influências e impactos. A Figura 1 apresenta um esquema representativo de como estão os cenários regionais na situação ao final da análise, após os cenários mundiais e nacionais. Figura 1 – Representação da estrutura de cenários internacionais e nacionais para regionais Fonte: Buarque, 2003, p. 47. Devemos apresentar algumas orientações enquanto estivermos tratando de cenários regionais, estes entendidos como cortes territoriais de algum país. Há, claro, uma relação bilateral entre os subsistemas regionais e nacionais, isto é, existe em algum grau uma influência da região sobre o macrocontexto, por exemplo, uma grande concentração de indústrias em certo município gera uma grande arrecadação fiscal para o país. Todavia, como aponta Buarque (2003), para a análise de conjuntura é interessante considerar que essa influência da região sobre os macrossistemas são limitadas e pouco relevantes. Deve ter ficado claro, portanto, que estamos nos baseando na hipótese de que existe uma hierarquia linear, em que as macrorregiões impactam nas microrregiões. Trata-se, obviamente, de uma simplificação bastante consistente da realidade quando se trata de regiões sem alguma forma de articulação. Portanto, com base nessas explicações, deve-se pensar na análise de conjuntura do Brasil, sempre observando o desempenho presente e futuro do sistema internacional e de política externa. Da mesma forma, os cenários regionais serão robustos se considerados os impactos advindos dos cenários nacionais possíveis. Você deve ter notado que, utilizando a visão proposta na Figura 1, essa metodologia acaba por abrir excessivamente o leque de alternativas. Para solucionar de certa maneira, e entendendo que as combinações têm diferentes graus de consistência e de sustentabilidade, deve-se utilizar três critérios, conforme recomendação de Buarque (2003). O primeiro critério será a análise de consistência, isto é, iremos descartar os cenários que não conversam de maneira lógica entre si. Por exemplo, se os cenários internacionais e nacionais estão trabalhando em sua maioria com queda da demanda mundial devido a uma crise mundial, certamente isso irá influenciar as regiões, tanto estados como municípios. Diante disso, devemos reconsiderar cenários em que haveria crescimento da região. O segundo critério é a união das combinações com alto grau de semelhança qualitativa final, ou seja, cenários com consequência semelhantes podem ser agrupados em um só. Por exemplo, o Congresso Nacional, ao alterar as regras do ICMS, afeta individualmente cada estado, mas de uma maneira muito similar. Por fim, o último critério é a seleção das combinações que apresentam maior grau de sustentação política por parte das instituições e da população, isto é, podemos eliminar cenários que, por exemplo, considerem um governo fazendo uma reforma administrativa, caso isso não tenha nenhum apoio político para tanto. NA PRÁTICA Nesta última parte da nossa aula, vamos exemplificar a construção de uma análise de conjuntura. Obviamente, aqui faremos uma análise mais simples, visando mais a didática e levando em conta alguns pressupostos. Vamos imaginar que um gestor de uma grande empresa de varejo no Brasil solicitou a um analista econômico um relatório sobre a geração de emprego formal, do PIB per capita, como também a situação da concessão de crédito livre para pessoas físicas no início de 2020. Nesse caso, o gestor já conhece que o comportamento dessas variáveis econômicas impacta diretamente o desempenho da empresa. Por fim, ele solicitou que fosse indicado o provável cenário dessas variáveis para o próximo ano. Saiba mais O crédito direcionado geralmente é o crédito habitacional ou de capital de giro para empresas. Há uma relação direta entre o crédito livre e os gastos em lojas de varejo. Conforme vimos no tema 2, aqui o gestor já forneceu os objetivos indicados no passo 1 no método apontado por Damoradan (2009). Nesse caso, então, há a necessidade de o analista econômico buscar os dados das três variáveis econômicas mencionadas: 1. Geração de emprego formal; 2. PIB per capita; 3. Concessão de crédito livre. Cada uma dessas variáveis terá uma fonte diferente de informação. Para os dados de geração de emprego formal, é necessário que o analista consulte a base de dados no Ministério do Trabalho (Brasil, 2019) e acesse os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Para o PIB per capita, ele irá acessar o site Sidra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, [S.d.]). Lá irá clicar na seção economia, nesse caso, olhando a variação ano a ano. Por fim, para os dados de concessão de crédito livre, ele terá que acessar o site do Bacen seguindo as opções: estatísticas, séries temporais, indicadores de crédito. Uma vez obtidos os dados, o analista poderá apresentá-los por meio de gráficos, o que irá facilitar a compreensão do gestor. Para tanto, foram criados os gráficos das Figuras 2 e 3. Figura 2 – Geração líquida de emprego formal e PIB (%) Fonte: Brasil, 2019. Como podemos ver no gráfico da figura, o mercado de trabalho e o crescimento do PIB vêm apresentando sinais de melhora desde 2016. Apesar de parte significativa dos empregos ter sido criada no mercado informal, dadas as características burocráticas e de encargos, os dados também apontam para uma melhora relevante do emprego formal. Dada a orientação do gráfico, espera-se que essa tendência continue ao longo de 2020 e 2021, com aumento da formalização. Saiba mais Ressalva-se que no ano de 2020 ocorreu a pandemia do COVID-19, algo totalmente fora do previsto pela economia e que afetou fortemente a geração de empregos. Todavia, o exercício prático proposto aqui pressupõe um analista econômico observando os dados de 2019. Antes da pandemia, de fato, as expectativas de mercado eram positivas para o emprego. O maior nível de emprego formal é importante para setores como o varejo, pois usualmente a renda do setor privado é maior do que a renda do setor informal, bem como promove mais facilidade para o crédito individual. Dentro desse contexto, ainda devemos levar em conta as diversas liberações de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) que visam estimular o consumo. No gráfico da Figura 3, é possível observar um crescimento robusto da carteira de empréstimos para pessoas físicas. Foram inseridas no gráfico duas retas de tendência que facilitam os possíveis valores para 2020. Mesmo com uma possível queda do total de crédito, espera-se que o valor não fique abaixo dos 180 milhões de reais, bem como, num cenário otimista, esse valor não ultrapasse os 200 milhões de reais. Figura 3 – Concessão total de crédito livre para pessoas físicas (R$ milhões) Fonte: BCB, 2020c. Com relação às expectativas para 2020, o RelatórioFocus apresentava como mediana no início de 2020 um crescimento do PIB de 2,3%, o que, se confirmado, resultará num crescimento do emprego formal acima de 100 mil mensal. Segundo o Relatório Focus, as expectativas para a taxa Selic ficaram no patamar de 4,5 % a.a, situação que manterá a expansão para o crédito. Dada a conjuntura de 2018 e 2019 da economia brasileira e as expectativas para 2020, o cenário é bem favorável ao setor de varejo. Saiba mais Novamente, aqui eram consideradas as expectativas dos economistas no começo de 2020 (antes da pandemia). Todavia, destacamos que o objetivo do exercício prático é mostrar o passo a passo de como montar uma análise de conjuntura. Em suma, esse é um exemplo de análise conjuntura. Obviamente é possível e desejável que o relatório seja mais completo, englobando mais variáveis e análises mais profundas. Conforme sua experiência for crescendo, esse tipo de análise ficará cada vez mais fácil de ser realizada, todavia o objetivo estará completo aqui se você tiver compreendido o passo a passo. FINALIZANDO Nesta aula, vimos um roteiro de como montar uma análise de conjuntura. Relembrando, basicamente são cinco importantes passos: 1. Escolha do propósito; 2. Identificação das variáveis econômicas; 3. Análise dos fatores; 4. Geração dos cenários; 5. Levantamento das consequências. Após isso, as análises devem ser calibradas em relação aos diferentes riscos. Diante disso, observamos os diferentes riscos a que a empresa e o governo estão expostos, como risco de mercado, risco operacional, riscos contínuos, entre outros. Destacamos, entre eles, o risco político, apresentando uma forma de ser inserida, de maneira simples e prática, uma mensuração do risco político na análise. Em seguida, apresentamos o famoso Relatório Focus, explicando como ele é a compilação das expectativas para os próximos anos dos diversos agentes financeiros. Verificamos como podemos incorporar esse relatório na análise e qual o seu papel dele para o Copom. Foi apresentado também como devem ser analisados os fatores regionais na análise de cenários. Por fim, finalizamos a aula com uma montagem de análise de conjuntura, com a escolha das variáveis, a busca dos dados e a síntese das conclusões. REFERÊNCIAS BCB – Banco Central do Brasil. Focus – Relatório de mercado. BCB, 23 out. 2020a. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus>. Acesso em: 30 out. 2020. _____. Expectativas de mercado. BCB, 2020b. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/faqexpectativa>. Acesso em: 30 jun. 2020. _____. Séries temporais. BCB, 2020c. Disponível em: <https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do? method=prepararTelaLocalizarSeries>. Acesso em: 30 out. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho. PDET – Programa de disseminação das estatísticas do trabalho. CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Brasília: Ministério do Trabalho, 2019. Disponível em: <http://pdet.mte.gov.br/caged?view=default>. Acesso em: 30 out. 2020. BUARQUE, C. S. Metodologia e técnicas de construção de cenários globais e regionais. Brasília, DF: IPEA, 2003. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_0939.pdf>. Acesso em: 30 out. 2020. DAMODARAN, A. Gestão estratégica do risco. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sidra – Banco de tabelas estatísticas. IBGE, S.d. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/home/ipca15/brasil>. Acesso em: 30 out. 2020. MARSH & MCLENNAN COMPANIES. Political Risk Map: Rising Geopolitical Tensions. Marsh, 2019. Disponível em: <https://www.marsh.com/us/campaigns/political-risk-map-2019.html>. Acesso em: 30 out. 2019.
Compartilhar