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GESTÃO DE PESSOAS Caroline Capaverde Processos do sistema de gestão de pessoas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você será capaz de: Identificar os processos que integram a gestão de pessoas. Reconhecer a importância dos processos do sistema de gestão de pessoas. Desenvolver um olhar crítico sobre a necessidade de os processos da gestão de pessoas acontecerem de forma coordenada. Introdução A área de gestão de pessoas responsabiliza-se por um conjunto de pro- cessos e tem a tarefa de coordenar, acompanhar e orientar todos os aspectos que envolvem as pessoas no ambiente de trabalho em termos de comportamento e seus impactos no alcance dos objetivos. Entretanto, cada vez mais, esses processos têm sido descentralizados, de modo que a gestão de pessoas é compartilhada entre a área especializada (setor de recursos humanos) e as demais áreas da organização. Dessa forma, todo gestor, nos diferentes níveis hierárquicos, passa a ser corresponsável pela gestão de pessoas de seu grupo. Para dar conta desses desafios, é imprescindível conhecer melhor os processos que compõem a gestão de pessoas, sua importância no conjunto de elementos que possibilitam a eficácia organizacional, bem como a interação entre esses sistemas para alcançar os resultados almejados. Neste capítulo, você vai entender o papel que a gestão de pessoas assume no contexto organizacional, particularmente no mundo con- temporâneo, no qual a aceleração do desenvolvimento tecnológico e os imperativos por inovação demandam postura atenta e estratégica. Assim, as organizações passam a investir em pessoas que possam conferir flexibilidade, além de agregar agilidade e competência para lidar com os altos níveis de competição. Por isso, você vai ver a importância dos processos do sistema de gestão de pessoas e vai ter a oportunidade de desenvolver um olhar crítico sobre a necessidade de os processos da gestão de pessoas acontecerem de forma sistemática e integrada. Gestão de pessoas: processos A área de gestão de pessoas ocupa-se de todos os aspectos que envolvem a atuação daqueles que nela trabalham, desde a sua admissão até seu desli- gamento, passando por etapas intermediárias que visam a qualifi cação das relações estabelecidas e dos resultados obtidos. Para alcançar esses objetivos, a área organiza suas ações em torno de, basicamente, seis processos: agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar. O processo de agregar pessoas visa a captação dos trabalhadores para a organização por meio de recrutamento e seleção. O recrutamento envolve a comunicação com pessoas que estão no mercado de trabalho com a finalidade de atrair candidatos para os processos seletivos e para composição de cadastros de reserva. Pode ser realizado de diversas formas, tais como: recomendação, agências de emprego, anúncios, divulgação em escolas e universidades e, principalmente, na atualidade, por meio das redes sociais. O aspecto funda- mental da escolha do canal de recrutamento é a adequação ao público-alvo, isto é, é preciso ter clareza sobre qual o público se deseja alcançar e, assim, decidir o melhor veículo de comunicação para tal. O recrutamento realizado dessa forma é o recrutamento externo, em que se busca atrair pessoas de fora da organização. No entanto, o recrutamento também pode ser interno, quando envolve a movimentação dos próprios colaboradores em oportunidades de promoção e/ou transferência. As vantagens relacionadas ao recrutamento interno são os custos mais baixos; o conhecimento prévio dos candidatos e os aspectos motivacionais envolvidos quando talentos são reconhecidos. Porém, há também desvanta- gens que dizem respeito à possibilidade de conflitos e dificuldades futuras de relacionamento: com aqueles que não são aprovados; entre colegas que estavam disputando a vaga; e, eventualmente, gestores no setor em que a pessoa trabalhava originalmente. Os processos de recrutamento interno de- vem ser realizados com manejo adequado para minimizar esses possíveis efeitos colaterais, da mesma forma que é preciso garantir que o processo seja legítimo. É comum ouvir de pessoas que o processo de recrutamento interno é um “jogo de cartas marcadas”, no qual há formalização da situação e que a pessoa aprovada já estava previamente escolhida. Um processo para inscrição Processos do sistema de gestão de pessoas2 de vários candidatos deve apenas ser aberto se não houver um colaborador que, por seu desempenho e sua competência, deseja a promoção. A clareza do processo vai favorecer a confiança para processos futuros. O recrutamento atrai pessoas para participar das seleções que consistem, em síntese, em escolher o melhor candidato para atender às demandas da organiza- ção e ajudar no alcance dos resultados. A primeira etapa da seleção, em geral, é a análise de currículos, a partir da qual se obtém informações gerais sobre os candidatos. Para aproveitar melhor esse recurso, é importante estabelecer critérios para análise, organizando os currículos dentre aqueles aptos para a vaga, aqueles que podem ser interessantes em outras oportunidades e, ainda, aqueles que podem ser aproveitados em outras áreas. Em geral, por meio do currículo, são analisadas as experiências prévias e a competência profissional. Após a triagem inicial pela análise dos currículos, o processo de seleção pode seguir com a utilização de diversas técnicas, como: testes de conhe- cimento; provas práticas; testes de capacidade física e cognitiva; testes de personalidade. Recomenda-se que as etapas do processo seletivo estejam organizadas de modo classificatório, partindo de técnicas mais simples para as mais complexas e dispendiosas. Uma das etapas que, em geral, fica para o final, são as entrevistas, que possibilitam acesso direto ao candidato e são um recurso valioso, se bem conduzidas. As entrevistas podem ser individuais e ocorrem, comumente, após entrevistas coletivas, nas quais se pode utilizar alguma técnica de grupo para que os candidatos sejam avaliados diante de uma situação prática. O processo seletivo encerra com a tomada de decisão. O processo de aplicação é a etapa seguinte à seleção e consiste na integra- ção dos novos colaboradores, sua adaptação nos cargos para os quais foram designados e, posteriormente, seu acompanhamento e sua avaliação. Essa é uma etapa que, por vezes, não recebe a mesma atenção que a destinada ao processo seletivo, mas é tão importante quanto. A falta de atenção à integração do novo colaborador, às combinações iniciais e aos esclarecimentos acerca de sua atuação pode promover o baixo desempenho de uma pessoa bem selecionada. Nesse momento, os cuidados com a adaptação cultural são imprescindíveis. O novo colaborador precisará conhecer quais são as crenças e os valores que regem as atividades na nova organização tanto quanto a clareza sobre o desenho de seu cargo, que é a descrição da função a ser realizada, considerando as atividades, as responsabilidades, os conhecimentos e as atitudes esperadas. O processo de aplicação envolve, ainda, a avaliação de desempenho, que serve para “[...] estimar o valor, a excelência e as qualidades de uma pessoa e sua contribuição para o desenvolvimento da organização” (VILAS BOAS; ANDRADE, 2009, p. 165). A avaliação deve ser conduzida de tal modo que 3Processos do sistema de gestão de pessoas possa contribuir para o crescimento profissional e gerar impacto na orga- nização. Além disso, deve ser efetuada de modo sistemático, baseada em critérios bem estabelecidos (desenho do cargo) e reconhecidos por ambas as partes, e deve estar inserida em um conjunto maior de ações — a gestão do desempenho —, sobretudo pela importância do acompanhamento ao longo do período entre as avaliações. Nessa etapa, é fundamental que os gestores estejam capacitados a realizar uma boa entrevista de avaliação, sem julgamentos prévios, encarando como oportunidade de melhoria e crescimento. O gestor tambémdeve estar aberto a ouvir feedbacks acerca de sua gestão e disponível para modificar atitudes. Recompensar faz parte dos processos do sistema de gestão de pessoas. A remuneração é uma atividade delicada, pois envolve os recursos financeiros das organizações e, se eles forem mal gerenciados, pode gerar perdas ou promover descontentamento entre colaboradores, interferindo em índice de turnover (rotatividade), bem como no clima organizacional. Segundo Vilas Boas e Andrade (2009, p. 66), “[...] o gerenciamento do sistema de remuneração envolve o estudo e a análise de cargos e salários nas organizações, dando ênfase à remuneração fixa, à remuneração variável ou estratégica e aos benefícios e serviços que as organizações disponibilizam aos seus funcionários, o que pode ser denominado de composto salarial”. A remuneração envolve o salário, que consiste na parcela fixa, acrescida dos possíveis incentivos salariais, denominados remuneração variável, e outros benefícios ou serviços. A administração salarial, como parte sensível para sustentabilidade do negócio, requer um estudo aprofundado para aqueles que se dedicam a essa atuação. Além dos elementos técnicos mais atrelados aos estudos contábeis e de viabilidade, há uma dimensão importante que impacta diretamente nas relações entre trabalhadores e destes com a organização, a justiça distributiva: os colaboradores devem perceber como justa a distribuição e a alocação de recompensas. Quanto mais claras as regras de remuneração e promoções e quanto mais justas e adequadas elas forem, melhor será para o clima organizacional. Outro processo do sistema de gestão de pessoas é o desenvolvimento, que implica treinamento e capacitação. O treinamento apresenta um enfoque mais específico de preparação para o desempenho qualificado, tornando o colaborador hábil para o desempenho de suas funções, enquanto as ações de desenvolvimento promovem o pensamento crítico, a atitude analítica e uma postura de maior proatividade no ambiente de trabalho, com visão de médio e longo prazo (VILAS BOAS; ANDRADE, 2009). A área de gestão de pessoas e as áreas afins devem estar constantemente monito- Processos do sistema de gestão de pessoas4 rando as demandas de treinamento e desenvolvimento para alcançar os resultados esperados. Parte das informações para subsidiar esse subsistema são coletadas nas avaliações de desempenho e acompanhamento funcio- nal. As atividades de treinamento e desenvolvimento (T&D) devem estar alinhadas às demandas dos processos de trabalho, pelo levantamento de necessidades atuais e também antevendo demandas futuras conforme o planejamento estratégico. Outros índices que são indicadores nessa área são: a produtividade alcançada; o percentual de erros na execução das tarefas; a ocorrência de problemas de relacionamento; a introdução de novos procedimentos e os avanços tecnológicos; o índice de afastamentos e acidentes de trabalho, dentre outros. As ações de T&D devem estar em consonância com a função exercida, com os objetivos da área e, mais amplamente, com a missão, a visão e os valores da organização. Essa adequação é necessária para que os efeitos positivos das atividades sejam maximizados e o retorno percebido. Esse é um ponto crucial, pois ações de T&D são, em alguns casos, encaradas como custos, ao invés de como investimento. Excetuando os treinamentos que são previstos em legislação e, portanto, obrigatórios (em geral relacionados a normas de saúde e segurança no trabalho), as demais atividades precisam ser criteriosamente definidas e planejadas. Além disso, tais ações devem ser monitoradas com avaliações de reação e de impacto. De todo modo, organizações que investem na qualificação de seus colaboradores atingem bons índices de produtividade, assim como favorecem a manutenção das pessoas na organização, o quinto processo do sistema de gestão de pessoas. A organização precisa ficar atenta às condições e ao clima de trabalho para manter seus colaboradores, sobretudo, motivados e satisfeitos. Essas condições envolvem relações com empregados, cuidados com aspectos de higiene e segurança, enfim, tudo que engloba a qualidade de vida do trabalhador. Como qualidade de vida no trabalho, entende-se que “[...] é a percepção de bem-estar pessoal no trabalho, composta de dimensões relativas às necessidades humanas biológicas, psicológicas, sociais e organizacionais” (LIMONGI-FRANÇA, 2015, p. 550). Os aspectos desse subsistema da gestão de pessoas têm sido monitorados por meio de pesquisas de clima organizacional, um valoroso instrumento porque permite que os colaboradores possam manifestar seus interesses e seus descontentamentos. Os resultados da pesquisa permitem que a organização implemente medidas acertadas para favorecer a melhoria das relações e das condições de trabalho. Além da pesquisa de clima, relatórios de índices de turnover, de acidentes e afastamentos do trabalho são fontes importantes de 5Processos do sistema de gestão de pessoas monitoramento. Uma boa atuação nesse sentido não apenas mantém as pessoas, mas as mantém com qualidade a partir de ações que aumentem o bem-estar e diminuam o mal-estar. Por fim, o sexto processo no sistema de gestão de pessoas é monitorar, o que implica observar, acompanhar e orientar as ações dos integrantes da organização, de modo a obter, tanto quanto possível, controle do que ocorre na mesma, sobretudo buscando que a variabilidade de comporta- mentos esteja dentro dos limites aceitáveis e correspondam aos valores organizacionais. O monitoramento pode ser efetivado a partir de banco de dados e sistemas de informação. A gestão de pessoas requer a utilização de vários bancos de dados interligados que permitam obter e armazenar dados. Tradicionalmente, tem-se os seguintes registros: cadastro de pessoal, com os dados pessoais sobre cada colaborador; cadastro de cargos e de seções, identificando os dados sobre quem ocupa cada cargo em cada seção ou departamento; o cadastro de remuneração e benefícios, com o registro dos dados sobre os salários, incentivos salariais, os benefícios e serviços sociais; o cadastro de treinamento, com as informações sobre programas de treinamento; o cadastro de candidatos, com currículos e fichas de inscrição de candidatos a emprego; o cadastro médico, com dados sobre consultas e exames médicos de admissão, periódicos, etc. Para auxiliar no processo de monitoramento dessas e outras tantas informações, atualmente, estão disponíveis diversos sistemas, o que facilita a geração de relatórios que subsidiam o gerenciamento e a tomada de decisão. Veja, na Figura 1, os processos básicos de recursos humanos. Figura 1. Processos no sistema de gestão de pessoas. Fonte: Processos... (2017, documento on-line). Processos do sistema de gestão de pessoas6 A atuação de gerir pessoas, no cenário contemporâneo, demanda não apenas os conhecimentos técnicos relativos ao exercício da função, mas, primordialmente, a habilidade social. Os gestores precisam ampliar sua capacidade de comunicação, de assertividade, empatia, civilidade, sobretudo a partir do autoconhecimento, em prol da melhoria das relações e da promoção de um bom clima de trabalho, favorecendo a produtividade. A importância dos processos de gestão estratégica de pessoas Os processos que compõem o sistema de gestão de pessoas precisam estar alinhados à visão, à missão e aos valores organizacionais. Nesse sentido, é preciso ter clareza de que a área não atua para si, mas atende aos interesses do negócio, devendo assumir uma perspectiva cujo enfoque seja de fora para dentro (ULRICH et al., 2013), com base nas expectativas das áreas e dos clientes. Assim, a área deve se direcionar seus esforços no sentido dos eixos que seguem. Efetividade econômica, por meio de ações que busquem a redução de custos e a maximização de lucros. Efetividade técnica, pela qual mantém pessoas e reforça atitudes que estejam em acordo com os padrões estabelecidosde qualidade. Efetividade comportamental, buscando a motivação e a satisfação dos interesses dos colaboradores. Essa perspectiva de atuação posiciona a área cada vez mais de modo es- tratégico, distanciando-se de suas características operacionais, típicas de sua constituição. A preocupação inicial com as pessoas na situação de trabalho, formalizada em um departamento, teve sua fundação na fase das “relações industriais”, quando a administração dos recursos humanos surgiu com o objetivo de regulamentar as relações de trabalho. Os “departamentos de rela- ções industriais” intermediavam as relações das pessoas com a organização, resolvendo os conflitos existentes. A alocação de pessoas respeitava a definição dos cargos, em geral, definida de modo bastante rígido. As pessoas deveriam ajustar-se a eles, para operacionalizar o que estava sendo prescrito. O trabalho humano era visto como apêndice da máquina e deveria atuar de modo padro- 7Processos do sistema de gestão de pessoas nizado. As organizações da época, no início do século XX, funcionavam de modo mecanicista, departamentalizadas e com estrutura vertical, centralizada (VILAS BOAS; ANDRADE, 2009). Gradualmente, sobretudo com a reconstrução do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), as mudanças no cenário organizacional levaram a uma reorganização da área. A estrutura piramidal cedeu lugar a uma estrutura mais funcional, com a articulação entre departamentos, maior interação entre os cargos e melhora no processamento e fluxo de informações. Entretanto, apesar dos avanços, ainda operava em bases burocráticas, em ritmo mais lento. Nessa época, fase da administração de recursos humanos (VILAS BOAS; ANDRADE, 2009), a área passou a desempenhar tarefas mais especializadas, sendo responsável pelo recrutamento e pela seleção, avaliação de desempenho, remuneração e treinamento. O foco estava voltado à produtividade, mas começando a valorizar as pessoas como recursos vivos e capazes de interferir na produtividade. Vilas Boas e Andrade (2009) afirmam que a fase seguinte nesse processo de transformações da administração de pessoas foi a “fase de gestão de pes- soas”. O avanço da tecnologia promoveu mudanças rápidas e imprevistas. O paradigma combinatório indivíduo-cargo mostrou-se insuficiente, assim como o modelo de gestão racional e da autoridade impessoal. O novo paradigma pressupunha lidar com a complexidade em diversos campos, incluindo o com- portamento humano (MASCARENHAS, 2008). A atuação da área voltou-se à busca por profissionais bem informados e com visão geral dos processos, com incentivo ao comprometimento e ao engajamento, e uma priorização da gestão do conhecimento. As organizações passaram a ser estimuladas a promover a horizontalização de suas estruturas, com descentralização hie- rárquica e organização do trabalho em equipes. As operações mais simples começaram a ser realizadas por robôs e computadores, dispensando a mão de obra humana em muitos casos. As posições mantidas são as que fazem diferença ao negócio, ocupadas por pessoas com potencial e capacidade de entrega, reconhecidas como capital humano. Nesse contexto, cabe considerar as pessoas como recursos padronizados e substituíveis. Dessa forma, a ação de gerenciar o capital humano assume lugar estraté- gico, capaz de oferecer vantagem competitiva. Mascarenhas (2008, p. 31–32) indica que: [...] gestão estratégica pode ser definida como os esforços para a formulação implementação das estratégias empresariais. [...] No nível da gestão de pessoas, o planejamento estratégico de pessoas pode ser conceituado como os processos por meio dos quais são antecipadas demandas ambientais e dos negócios, bem como direcionadas essas demandas em suas dimensões de gestão de pessoas. Processos do sistema de gestão de pessoas8 A atuação estratégica da gestão de pessoas impulsiona a passagem de uma atuação reativa e concentrada nos problemas no presente para uma atuação que também inclui a visão dos objetivos futuros e metas de médio e longo prazo. Há, assim, a necessidade de coerência na gestão de pessoas, recurso mais custoso e de difícil gestão. Para alcançar a posição estratégica, cada um dos processos do sistema deve estar alinhado com o negócio. O recrutamento investe na atração de profissionais que possam desempenhar diferentes papéis e que tenham prontidão para aprender, ao invés de buscar empregados para desempenhar cargos. A seleção não visa mais a contratação apenas pela habilidade, mas a associa, de modo significativo, às atitudes, consideradas como compe- tências duráveis, incluindo integridade, autocrítica, aprendizado contínuo, determinação, criatividade. O processo de treinamento e desenvolvimento também sofre alterações. A organização instiga um comportamento mais proativo do colaborador. A partir da identificação de suas necessidades de capacitação, o colaborador pode buscar por formação dentro e fora da empresa, em um processo de aprendizado constante. Um importante avanço são as ações direcionadas à motivação e ao reconhecimento, em que os talentos passam a ser considerados tão valiosos quanto os clientes. Assim, as organizações criam programas e condições de trabalho em que isso seja favorecido. Nesse cenário em que o trabalho humano ganha destaque, a gestão começa a valorizar as competências, conforme observam Vilas Boas e Andrade (2009, p. 183): Trata-se de uma prática estratégica que tem como objetivo melhorar o de- sempenho global da organização por meio do incremento do desempenho individual dos funcionários. Em termos gerais, pode-se dizer que alguém ou alguma empresa é competente quando tem capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade para realizar algo. Sob uma ótica mais ampla, competência pode ser definida como o saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar e transferir conhecimentos. A noção de competências vem sendo desenvolvida e aprimorada ao longo dos anos. Em geral, busca configurar novas práticas de gestão de pessoas em resposta tanto à reorientação das práticas empresariais, privilegiando a criação de valor e resultados, quanto às pressões de um contexto cada vez mais com- plexo e turbulento. Ainda que tenha surgido como uma evolução do conceito de qualificação, há muito a visão de competências individuais deixou de ser apenas o somatório de conhecimentos, habilidades e atitudes. Foram incluídos nessa noção outros aspectos, como a mobilização, o contexto e o resultado (entrega). 9Processos do sistema de gestão de pessoas Processos de gestão de pessoas: práticas coordenadas A gestão de pessoas, com a fi nalidade de valorizar a atuação humana nas organizações e atingir as metas estratégicas, necessita atuar sob alinhamento sistêmico em seus processos internos, assim como na sua relação com os de- mais processos organizacionais. Essa perspectiva, embora bastante difundida na atualidade, ainda precisa romper com as barreiras herdadas do sistema mecanicista, no qual os processos ocorriam com a sobreposição de ações fragmentadas. Existe, portanto, uma cultura a ser recriada. A visão de maior coordenação entre os subsistemas é impulsionada por fatores que demandam maior efetividade e eficácia das ações, em um cenário de globalização, revolução tecnológica, mudanças demográficas, transforma- ção das relações entre empregador-empregado — um cenário no qual não se conta com estabilidade nem previsibilidade, dificultando as estratégias de planejamento. O mundo em constante transformações exige organizações atentas aos sinais e que se adaptem com facilidade. Nesse contexto, é preciso considerar os impactos recíprocos das ações em cada um dos processos de gestão de pessoas. Para esclarecer essa reciprocidade, usaremos como exemplo as interações necessárias para efetivar o processo de agregar. Como mencionado anteriormente, agregar pessoas é a etapa que promove a inclusão de novos colaboradores na organização. Entretanto, o processo de recrutamentoe seleção (R&S) não pode ser estar fechado em si mesmo. Em primeiro lugar, a organização, representada pelos responsáveis pela área de gestão de pessoas, deve estar ciente e validar a necessidade de contratar um novo colaborador. Nesse caso, cabem algumas questões, como: quem deve ser contratado? Qual é o seu perfil? Precisa ser alguém externo ou há internamente alguém que possa interessar-se por essa posição? Vale a pena abrir processo de recrutamento interno? Para responder a essas e outras perguntas, os gesto- res precisam conhecer em profundidade a área em questão, assim como suas demandas de trabalho e a dinâmica do grupo que ali trabalha. Essa percepção acerca do perfil comportamental é, muitas vezes, negligenciada em detrimento da avaliação das competências técnicas, o que pode comprometer todo o processo de seleção. Essa é uma das heranças que a fragmentação do sistema de gestão de pessoas carrega ainda hoje, sobretudo quando as organizações terceirizam o processo de R&S. Empresas externas (consultorias) nem sempre dispõem do conjunto necessário de informações sobre o funcionamento da área e do grupo para conhecer a realidade de modo mais apurado. Como consequência, enfrenta-se a ampliação da possibilidade de não permanência de um talento Processos do sistema de gestão de pessoas10 ou a minimização de seu potencial pelos ajustes realizados no processo grupal posterior. Um processo de R&S será melhor efetuado, portanto, se tiver conexão com os processos de aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar. A conexão do processo de aplicar com o processo de agregar acontece por meio do esclarecimento sobre as expectativas em torno do desempenho esperado pelo cargo. Para recrutar e selecionar, é fundamental ter clareza com relação às atribuições e às competências esperadas do novo colaborador. A análise do cargo subsidia o processo com as informações descritas a respeito da função, mas, além do que é explícito, é relevante conhecer os aspectos tácitos requeridos pela função. Para tanto, pode-se recorrer às avaliações de desempenho do colaborador que exercia anteriormente a função, se for o caso de uma substituição. Ou seja, é importante saber o que deve ser feito e o como deve ser feito. O que o antigo colaborador fazia e que obtinha bons resultados e o que não funcionava tão bem? Reconhecendo esses elementos, pode-se buscar as competências (técnicas e comportamentais) mais adequadas e que levem a um melhor resultado. O processo de recompensar também deve ser analisado quando se contrata alguém: a organização está sendo competitiva nesse critério e é capaz de agregar alguém qualificado, sendo atrativa pelas recompensas que oferece? É difícil recrutar e selecionar bons candidatos sem uma contrapartida que esteja, pelo menos, de acordo com as médias oferecidas no mercado de trabalho. Outra possibilidade nesse contexto é contar com um novo colaborador com menor experiência e preparar-se para desenvolver talentos potenciais. Assim, desenvolver colaboradores, desde seu ingresso na organização, é fundamental. O processo de agregar tem uma forte ligação com o processo de desenvolver, sobretudo considerando os treinamentos introdutórios. A integração de um novo colaborador não deve ser concebida com mera formalidade, geralmente realizada em um dia de apresentação das esferas institucionais; consiste na gradativa aculturação do novo colaborador que não apenas aprende os valores explícitos, mas também absorve as normas implícitas. O colaborador, ao sentir-se acolhido nessa etapa inicial, entende que é valorizado e inicia seu engajamento com a organização. No que tange à parte objetiva desse processo, o treinamento introdutório proporciona o desenvolvimento das competências necessárias ao desempenho da função e o ajuste das expectativas recíprocas. Além do acompanhamento do novo colaborador, o gestor deve estar atento à forma como o grupo recebe esse novo integrante. A dinâmica de qualquer grupo é sensível à entrada e à saída de membros. A substituição de um colaborador ou a introdução de mais uma pessoa afeta o equilíbrio estabelecido previamente, o que demanda um tempo de ajuste à nova configuração. Nesse período de ajustes, o acompanhamento do gestor é 11Processos do sistema de gestão de pessoas imprescindível, considerando suas contribuições, bem como possíveis situações de boicotes. Em geral, grupos maduros, com boa interação entre si e com a orga- nização, tendem a receber bem novos membros. Os reflexos da atuação eficiente do processo de manter pessoas são perceptíveis, já que um grupo que se sente amparado em seus direitos e com qualidade de vida no trabalho pode estabelecer uma relação de menor competitividade interna e maior comprometimento. Por fim, o processo de monitorar subsidia o processo de agregar pessoas com informações cruciais para a tomada de decisão. Diferentes tipos de relatórios po- dem ser obtidos dos sistemas de acompanhamento, mas o importante é que sejam alimentados com informações consistentes e atualizadas pelos gestores das áreas. A condução dos processos do sistema de gestão de pessoas de modo coordenado requer a aproximação da área de recursos humanos aos demais setores ou departamentos da organização. A atuação departamental, isolada, inviabiliza a concretização da abordagem sistêmica. É dessa forma que os gestores de área entram como pessoas-chave; sem eles, profissionais do “depar- tamento de gestão de pessoas” ficam limitados a ações técnicas, mas parciais. Bohlander e Snell (2009, p. 30) afirmam que “[...] gerenciar pessoas é tarefa de todo gerente, e as empresas de sucesso são as que combinam a experiência dos gerentes de linha com os conhecimentos específicos de especialistas de RH para desenvolver e utilizar ao máximo os talentos de seus funcionários”. Os gerentes da área de gestão de pessoas são responsáveis pelas seguintes atribuições: formular e implementar políticas institucionais; liderar e executar os processos de gestão de pessoas; orientar e aconselhar demais gestores. Os gerentes de linha e demais funcionários, por sua vez, são responsáveis por por colocar em práticas tais questões. A atuação dos gestores de linha, com o apoio especializado dos profissionais de RH, promove melhoria das ações relacionadas às pessoas da organização. Os efeitos da coordenação dos processos do sistema de gestão de pessoas e da atuação conjunta entre equipe de RH e gestores de linha devem ser monitorados por meio da avaliação de resultados e da auditoria de RH. A auditoria de gestão de pessoas é o “[...] instrumento de verificação do desem- penho de seus diversos subsistemas, visando identificar seu grau de eficácia, criando um sistema de feedback para a alta direção, para que sejam analisados pontos fracos e fortes e se adotem medidas (corretivas e/ou preventivas) mais adequadas a cada caso” (BOHLANDER; SNELL, 2009, p. 207). Essa ação tem efeito preventivo, pois pode evitar a ocorrência de situações negativas e disfunções que afetam o desenvolvimento do trabalho e a consecução dos objetivos. Nesse contexto, a área de gestão de pessoas deve considerar os fatores internos, tais como tecnologia disponível e se está mais ou menos Processos do sistema de gestão de pessoas12 automatizada; a organização do trabalho; sua cultura organizacional; e os fatores externos, como cultura social e momento sociopolítico; aspectos de mercado, seus concorrentes e competências organizacionais demandadas. Por fim, para que a área de gestão de pessoas alcance seus objetivos, seus profissionais precisam estar atentos aos clientes internos e externos, conhecer as novas tecnologias administrativas, proporcionar um ambiente favorável ao bom desempenho e à qualidade de vida, manter comportamento ético e socialmente responsável (BOHLANDER; SNELL, 2009). Dessa forma, profissionais competen- tes em todas as frentes, cooperação entre áreas e coordenação entre as suas ações fortalecem a organizaçãopara enfrentar seus desafios e alcançar seus resultados. Dan Pink faz uma importante reflexão a respeito da motivação no ambiente de traba- lho, trazendo dados de pesquisas que demonstram quais são os elementos a serem considerados por todos gestores, atuantes na área de gestão de pessoas, ou não. Saiba mais no link a seguir. https://qrgo.page.link/vXcA3 BOHLANDER, G.; SNELL, S. Administração de recursos humanos. São Paulo: Cengage Learning, 2009. LIMONGI-FRANÇA, A. C. Qualidade de vida no trabalho. In: BENDASSOLLI, P. F.; BORGES- -ANDRADE, J. E. (org.). Dicionário de psicologia do trabalho e das organizações. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2015. MASCARENHAS, A. O. Gestão estratégica de pessoas. São Paulo: Cengage Learning, 2008. PROCESSOS na gestão de pessoas – colaborando na manutenção e desenvolvimento dos profissionais. Decosys, [s. l.], 28 set. 2017. Disponível em: http://www.deconsys.com.br/ processos-na-gestao-de-pessoas-colaborando-na-manutencao-e-desenvolvimentos- -dos-profissionais/. Acesso em: 26 jun. 2019. ULRICH, D. et al. RH de dentro para fora: seis competências para o futuro da área de recursos humanos, Porto Alegre, Bookman, 2013. VILAS BOAS, A. A.; ANDRADE, R. O. B. Gestão estratégica de pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 13Processos do sistema de gestão de pessoas Conteúdo:
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