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1 P1 Pediatria – Maria Luisa ASMA NA INFÂNCIA • Doença crônica mais comum na infância; Pode causar grandes limitações nas atividades do dia a dia da criança, como correr, brincar. • Caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas (leva a edema, hipersecreção de muco – diminuição do calibre as vias aéreas); • Desafio diagnóstico nas crianças com menos de 5 anos: sibilância recorrente (infecções virais, que são corriqueiras nos lactentes pelo calibre da via aérea diminuído – dificulta a diferenciação com um quadro de asma). Importante pesquisar história familiar nesses indivíduos. Impacto: • Acomete cerca de 300 milhões de indivíduos no mundo • Aproximadamente 20 milhões de asmáticos no brasil • Doença crônica mais prevalente na população infantil • Prevalência entre escolares e adolescentes- 19 e 24% respectivamente • As crises agudas são responsáveis por até 10% das admissões em emergências e 2 a 7% das internações em UTI pediátrica • Três mortes/dia. • 4ª maior causa de hospitalização: 300 mil internações por ano • Custo anual de R$ 537 milhões para os cofres públicos, conforme o DATASUS Os lactentes e pré-escolares apresentam características diferentes: menor calibre das vias aéreas nos primeiros anos de vida, infecções frequentes por agentes virais numa fase de amadurecimento do sistema imunológico, exposição passiva à fumaça do cigarro e alérgenos. Cada episódio de infecção viral faz produção intensa de muco, que pode restringir fluxo aéreo e levar ao sibilo. Essas crianças com sibilo frequente, não necessariamente são asmáticas. FISIOPATOLOGIA: Inflamação brônquica: • É o mais importante fator fisiopatogênico da asma • Entre os pacientes asmáticos – 80% apresentam positividade de testes cutâneos imediatos a alérgenos inaláveis com taxas aumentadas de IgE plasmática Doença inflamatória crônica → hiper responsividade das vias aéreas inferiores → limitação variável ao fluxo aéreo (broncoespasmo) → episódios recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse → Interação genética, exposição ambiental e outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas. Processo inflamatório persistente que mantém o calibre das vias aéreas reduzidos. Principal evento: inflamação Outros fatores desencadeantes: • Infecções virais; • Sensibilizantes químicos; • Poluentes ambientais; • Exercício; • Inalação de ar frio; • Inalação de fumaça de tabaco; • Fatores emocionais. O controle ambiental é fundamental para o tratamento Hiperreatividade + Hipersecreção de muco = Broncoconstrição SINTOMAS: História de sintomas respiratório recorrentes e variáveis • Chiado no peito; • Falta de ar; • Aperto no peito; • Tosse seca; • Os sintomas pioram à noite e nas primeiras horas da manhã • Variam com o tempo e intensidade em resposta à prática de exercícios físicos, à exposição a alérgenos, à poluição ambiental e a mudanças climática e infecções respiratórias virais. 2 P1 Pediatria – Maria Luisa DIAGNÓSTICO Clínico/ Laboratorial/ Funcional/Diagnóstico de alergia • Evidência de limitação variável de fluxo aéreo: documentado pela reversibilidade no teste com broncodilatador. • Redução do volume expiratório forçado no 1° segundo (VEF1). • Redução do pico de fluxo expiratório Espirometria é realizada na criança maior que 6 anos. Os menores não são colaborativos para realizar o exame. • Os sintomas são desencadeados ou se agravam na presença de: animais com pelo, aerossóis químicos, mudanças de temperatura, ácaros domésticos, drogas (aspirina, betabloqueadores), exercícios, pólen, infecções (virais) respiratórias, fumaça, emoção forte. • Aspecto funcional: o Espirometria o Pico do fluxo expiratório o Broncoprovocação (produzir broncoespasmo e reverter com o uso de β2 agonista ➔ Resposta positiva ao broncodilatador sugere o diagnóstico de asma). DIAGNÓSTICO CLÍNICO Critérios para diagnóstico de asma em lactentes sibilantes: Critérios maiores Lactente sibilante com: • Pai ou mãe com asma; • Lactente com dermatite atópica; Critérios menores • Diagnóstico médico de rinite alérgica; • Sibilância não associada a resfriado; • Eosinofilia ≥ 4% no hemograma; • Sensibilização alérgica a leite e ovo. Asma = presença de 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores. Critérios para diagnóstico de asma em pré escolares (< 5 anos): Chiado recorrente é frequente devido a infecção viral de vias aéreas superiores, decidir quando é apresentação de asma é difícil. • Chiado ou tosse que ocorre com exercício, rindo ou chorando ou na ausência de uma infecção respiratória aparente; • História de outra doença alérgica (eczema ou rinite alérgica), sensibilização a alérgenos ou asma em parentes de 1º grau; • Melhoria clínica durante 2 a 3 meses de tratamento e piora após interrupção Se há sibilância apenas na presença de quadros de IVAs, não fala a favor de asma. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Teste alérgico: Fala a favor da criança ser atópica. Um teste negativo não descarta asma. • Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata (TCHI) ou prick test; • IgE sérica específica. Funcional: documentação de obstrução ao fluxo aéreo e de reversibilidade brônquica (com uso de broncodilatador); • Prova de função pulmonar (lactente) • Espirometria (crianças > 5- 6 anos de idade); → a criança precisa ser colaborativa para fazer esse exame • Oscilometria de impulso DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Obstrução mecânica de vias aéreas superiores: corpo estranho • Obstrução de vias aéreas superiores e inferiores por traqueobronquite, bronquiolite, fibrose cística, displasia bronco pulmonar, aspiração de conteúdo oral ou gástrico (doença do refluxo ou desmotilidade); • IC esquerda: FC elevada, presença de 3ª bulha, estertores bolhosos, hepatomegalia; • Malformações. ABORDAGEM DA ASMA: • História clínica objetiva: 1ª vez assim ou já teve outros episódios? 3 P1 Pediatria – Maria Luisa • EF detalhado + saturação O2 basal; • Classificação da crise; • Tratamento medicamentoso; • Orientações de alta (plano de ação); • Educação: falar sobre os sinais de alerta. TRATAMENTO Objetivos na crise: • Reverter rapidamente a obstrução aérea pela administração repetida de β2 agonista de curta duração e instituição precoce de corticoide • Correção da hipoxemia (administração de O2) e da hipercapnia (reversão da obstrução ao fluxo aéreo); • Reduzir a probabilidade de recorrência pelo tratamento profilático. CASO CLÍNICO: Escolar de 7 anos, há 1 dia com tosse, chiado no peito, falta de ar e vômitos, apresentou coriza hialina e um episódio de febre. Estava em uso de nebulizações de 6 em 6 horas, com 5 gotas de salbutamol associadas a 10 gotas de brometo de ipratrópio. Como piorava, foi levado ao pronto socorro pediátrico. Exame físico: • Peso: 25 kg; • TA 36,8º • FR: 46 irpm (↑); • FC: 130 bpm (↑); • SatO2: 91% (↓); • Pico de fluxo expiratório (PFE): 48% do previsto (normal: acima de 80%, abaixo de 50% = crise grave de asma); • AR: retração intercostal subdiafragmática, estertores crepitantes discretos e sibilância bilateral difusa (sibilos expiratórios e inspiratórios +++/4+) • AC: sem alterações; • Abdome flácido, indolor e sem massas palpáveis; • Extremidades: bom pulso e boa perfusão AVALIAÇÃO DA EXACERBAÇÃO CONFORME A GRAVIDADE: • Se tiver 1 parâmetro de gravidade já é classificado como asma grave; • Se tiver 1 parâmetro de critério moderado: classificar como asma moderada; • Criança na fase pré verbal: negar aleitamento é um sinal de gravidade; Manejo inicial da crise: O objetivo é reestabelecer o fluxo aéreo Salbutamol: é difícilfazer o puff de forma adequada, pois quando a criança chega ao PS ela está agitada e em angústia respiratória. • 4- 10 puffs a cada 20 minutos na 1ª hora (6- 11 anos); • 2- 6 puffs (≤5 anos); Resgate: fazer puffs de 20 em 20 minutos na primeira hora. Pode ser feito a nebulização como alternativa. Oxigênio: Manter saturação entre 94-98% Corticoide: Parenteral (IV ou IM) se não aceitar VO Nas crises leves pode tentar reversão apenas com o uso de broncodilatador. Nas crises moderadas e graves o uso de corticoide será necessário na abordagem inicial. Utilizar corticoide sistêmico: oral ou venoso – considerar a capacidade da criança deglutir para escolha – criança muito sibilante pode não conseguir se alimentar. • Metilprednisolona- 1 a 2 mg/ kg/ dose (máximo 125 mg); • Hidrocortisona- 5 a 10 mg/ kg/ dose (máximo 200 mg); Corticoide oral: mesmo efeito do injetável • Prednisolona- 1 a 2 mg/ kg/ dose (máxima 40 mg) 4 P1 Pediatria – Maria Luisa • Prednisolona solução oral- 1 a 2 mg/ kg/ dose (máxima 40 mg). Quando classificamos em asma grave: ➔ Associar Brometo de Ipratrópio na abordagem inicial da nebulização de 20 em 20 minutos – só utiliza em associação na primeira sequência, independente se melhorou ou não. • Doses: 1 ml = 250 mcg – 25 mcg/kg • < 10 kg = 125 mcg (10 gotas) • > 10 kg = 250 mcg (20 gotas), máximo 40 goras (dose do adulto) Sulfato de magnésio • Na crise grave • Antagonismo de transporte de Ca2+ em membranas redução da excitabilidade da fibra muscular; • Exacerbações muito graves, sem resposta ao tratamento usual; • Efeitos adversos: rubor cutâneo, náuseas, fraqueza, arreflexia e depressão respiratória; Sulfato de magnésio EV (somente em maiores de 2 anos): 50 mg/ kg (25- 75 mg/ kg - dose máxima de 2 g), infundir em 20 minutos com monitorização da PA. Se respondeu após uso: manter corticoide e broncodilatador no manejo da crise. No paciente em questão (caso clínico) • Salbutamol spray: 4 a 10 puffs 20/ 20 minutos, 3X; • Nebulização com brometo de ipratrópio: 3- 4 ml de SF 0,9% + 20 gotas BI; • Prednisolona VO: 1- 2 mg/ kg- usar 40 mg (máximo) ou Metilprednisolona: 1- 2 mg/ kg/ dose (máximo 125 mg), 2 x 25= 50 mg ou Hidrocortisona: 5 a 10 mg/ kg/ dose (máximo 200 mg). Se após tratamento, na segunda hora, a criança segue sintomática – repetir a sequencia de nebulização. Se segue sem resposta ao tratamento, com técnica adequada, pode lançar mão do sulfato de magnésio. Fatores de risco para exacerbações: • Medicamento: alto uso de SABA, controle de crise inadequado, não prescrição de controle de crise, baixa adesão, técnica incorreta do uso do inalador; • Comorbidades: obesidade, rinosinusite crônica, DRGE, alergia alimentar confirmada, gravidez; • Exposições: tabagismo, exposições a alérgenos se sensibilizadas, poluição do ar; • Contexto: problemas psicossociais; • Função pulmonar: VEF1 baixo (< 60% do valor previsto), reversibilidade com broncodilatador; • Admissão em UTI e intubação, ≥ 1 exacerbação grave no último ano. Tendo qualquer um desses fatores de risco, aumenta o risco de exacerbações mesmo que tenham poucos sintomas de asma. Desencadeantes de crises: • Infecções respiratórias – vírus respiratórios – rinovírus • Exposição a alérgenos: ácaros, animais domésticos, baratas, pólens • Exercício e hiperventilação • Drogas e corantes – AINH, AAS • Fatores ambientais – não alérgicos/ irritantes • Mudanças climáticas • Exposição à fumaça de cigarro/ Exposição a poluentes atmosférico • Falta de uso de medicações de controle. Exames complementares Gasometria: Não precisa colher sempre, mas é importante diante de uma crise grave. • 1ª fase: alcalose respiratória; • 2ª fase: hipoxemia e alcalose respiratória; • 3ª fase: hipoxemia; • 4ª fase: hipoxemia e acidose respiratória; • 5ª fase: hipoxemia e acidose mista (paciente está em eminência de IOT com VM, PCR) Radiografia de tórax: Não é indicação de rotina, exceções: • Doente intubado • Suspeita de: o Barotrauma o Atelectasia o Pneumonia o Sibilância de outra etiologia (ex: aspiração de corpo estranho) Indicação de intubação: • Fadiga progressiva ou exaustão; • Alteração no nível de consciência; • PCR ou PCR iminente; • Hipoxemia grave; 223 5 P1 Pediatria – Maria Luisa • Hipercapnia progressiva. Seguimento após o tratamento inicial: Alta hospitalar Critérios: • Estabilização do esforço respiratório; • SpO2 >95% em ar ambiente; • Melhora da função pulmonar. Procedimentos após a alta: Orientar sobre risco, retirar fatores causadores de exacerbação. • Manter corticoide sistêmico (prednisona, VO) por 3- 7 dias; • Manter B2- agonista inalatório por 3- 5 dias; • Otimizar a terapia de manutenção antes da alta; • Definir um plano de ação no caso de crise; • Referenciar para consulta médica em 7 dias. Erros e deficiências mais comuns por ocasião da alta: • Liberação precoce do pronto socorro • Falta de orientação quanto aos sinais de piora e retorno à emergência se necessário • Não prescrição de prednisona ou equivalente • Falta de orientação da técnica de uso dos aerossóis • Não encaminhamento dos casos graves aos serviços especializados para tratamento profilático. Erros e deficiências mais comuns durante o tratamento no pronto atendimento: • Não identificação de asma de risco • História e exame físico inadequados • Falta de medidas funcionais para avaliação da gravidade e da resposta ao tratamento • Uso de aminofilina como tratamento principal e inicial; • Subdoses de beta 2 agonistas de curta duração ou grande intervalo entre as doses • Dose insuficientes ou demora da administração de corticosteroides. TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO Asma controlada x Parcialmente controlada x Não controlada Utilizar parâmetros para avaliar a criança nas últimas 4 semanas A exacerbação (crise) em qualquer semana é indicativa de asma não controlada. • Tratamento intercrise: corticoide inalatório em baixa dose (é a primeira opção para o tratamento de crianças com poucas crises, 2x ao ano) ou não tratar e usar broncodilatador de curta duração no momento da crise. • Criança não controlada com corticoide em dose baixa: aumentar a dose do corticoide. Inicialmente, dobra a dose, se mesmo assim a criança não responder, faz associação com outra droga. • Criança ainda não responde: lançar mão de tratamentos mais específicos (ex.: imunológicos), preciso encaminhar essa criança ao especialista. • Menores de 5 anos: não devo usar broncodilatador de longa duração. • Criança com poucos sintomas: pode não tratar no momento da crise ou utilizar baixa dose de 6 P1 Pediatria – Maria Luisa corticoide inalatório. Manter a criança em corticoide inalatório. • No momento da exacerbação: broncodilatador de curta duração e manter corticoide. > 6 anos podem usar formoterol (longa duração, mas ação rápida). Geralmente, conduzir até a dose média de corticoide inalatório. Se não houver controle, encaminhar ao especialista. Doses de corticoide inalado: baixa, média e alta Quando o paciente faz uso de corticoide inalatório e fica bem, por um período de 3 meses, sem nenhum período de crise/exacerbação do quadro, pode-se considerar fazer a suspensão da medicação, avaliando a resposta do paciente. Se com a suspensão as crises retornam, o tratamento deve ser reestabelecido. Se tem poucos sintomas, pode usar o broncodilatador sob demanda, ou seja, quando houver crise - SABA (broncodilatador de curta ação), sem nenhuma medicação entre as crises. Observações: • Antes de mudar de etapa, verificar se o paciente está usando o medicamento prescrito, bem comose sabe usá-lo adequadamente; • A forma de utilização de corticoide e do beta- agonista inalatório deve ser a que mais se ajusta para cada paciente (inaladores de pó seco, diskus, turbuhaler, spray, spray com espaçador, nebulizações) Objetivo: menor número de doses para atingir o controle. Técnica de realização do PFE: • Normal: pelo menos 80% do valor para aquela criança. Espaçadores: 7 P1 Pediatria – Maria Luisa TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: Educação do paciente e da família • Reconhecer sinais e sintomas de exacerbações; • Tratamento domiciliar de crises leves; • Quando procurar a emergência; • Maneira correta de usar as medicações; • Orientação geral sobre a fisiopatologia da doença. Controle ambiental • Forrar todos os colchões e travesseiros com capa impermeável; • Lavar roupa de cama semanalmente; • Limpeza com pano úmido; • Evitar objetivos que acumulem pó; • Pisos laváveis e persianas; • Evitar comer no quarto e sofá; • Evitar animais dentro de casa, produtos com cheiro forte e fumaça de cigarro Covid e Asma: • Aconselhe os pacientes com asma continuar tomando os medicamentos prescritos para asma; • Orientar aumentar a medicação de controle e alívio quando pior a asma; • Evite nebulizadores sempre que possível: eles aumentam o risco de disseminação de vírus para outros pacientes e para os profissionais de saúde; • O inalador pressurizado, através de um espaçador é o tratamento preferido durante exacerbações graves, com bocal ou máscara facial; • Evitar espirometria em pacientes com COVID- 19, confirmado ou suspeito; • Siga rigorosamente os procedimentos de controle de infecção, se forem necessários procedimentos de geração de aerossol: nebulização, oxigenoterapia (inclusive cateter nasal), indução de escarro, ventilação manual, ventilação não invasiva e intubação; • Use EPI. O diagnóstico correto de asma, a adesão ao tratamento, comorbidades associadas, uso correto dos medicamentos e o conhecimento de fatores de risco controláveis (psicológicos e ambientais) são os marcadores e as vigas mestras mais importantes para o conhecimento, diagnóstico diferencial e manejo das várias apresentações da asma grave. O manejo adequado destes itens permitirá um diagnóstico robusto, a definição sobre a necessidade ou não de busca de diagnósticos alternativos, e uma boa qualidade de vida aos pacientes com asma grave.
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