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Incidentes Processuais no Direito Penal

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CONCEITO: INCIDENTES PROCESSUAIS 
O objeto do processo é a lide penal. Via de regra, o processo desenvolve-se sempre no sentido de resolvê-la, decidindo-se acerca dos fatos que constituem sua causa de pedir. Entretanto, não raro surgem, no curso do processo, questões que, não obstante sejam acessórias (não constituam o objeto principal do processo), afiguram-se relevantes para o deslinde da causa, devendo ser resolvidas antes da prolação da sentença final. São as questões incidentais, que originam os incidentes processuais.
Incidentes processuais são questões e procedimentos acessórios que, surgindo no curso do processo, devem ser solucionados antes do julgamento da causa principal.
O Código de Processo Penal classifica os incidentes em duas categorias:
1. As questões prejudiciais
2. Os processos incidentes.
QUESTÕES PREJUDICIAS 
A raiz do termo “prejudicial” sugere algo que deva ser julgado previamente (pre judicare). União do prefixo latino “prae” (antes) com o termo “judicium” (processo e julgamento), designando, portanto, as questões que precedem o processo, exercendo influência sobre o seu desenvolvimento e sua decisão. Assim, são questões prejudiciais aquelas que, embora não constituam o conteúdo principal da lide, versam sobre aspecto de direito material (penal ou extrapenal) que acaba por condicionar o julgamento do pedido principal.
As questões prejudiciais não se confundem com as questões ditas preliminares, porquanto têm por conteúdo ponto controvertido de direito material, enquanto as questões preliminares têm por conteúdo questões de direito processual. Algumas das questões prejudiciais, no entanto, constituem questões preliminares, como, por exemplo, as exceções de ilegitimidade de parte, de coisa julgada e de litispendência.
Características 
A doutrina costuma arrolar como características da questão prejudicial: 
a) a sua anterioridade, pois sua decisão constitui antecedente lógico para a decisão da causa principal, vinculando-a; 
b) a sua autonomia, já que seu conteúdo também pode ser objeto de ação autônoma;
c) a sua essencialidade ou necessariedade, porquanto sem a decisão da questão prejudicial não é possível resolver a decisão principal.
Questões prejudiciais homogêneas ou heterogêneas
Quanto à matéria acerca da qual versam, as questões prejudiciais podem ser classificadas em homogêneas (comuns, imperfeitas) ou heterogêneas (perfeitas, jurisdicionais). 
São homogêneas as questões prejudiciais que versam sobre matéria do mesmo ramo de direito da questão principal, motivo pelo qual poderão ser solucionadas pelo juiz da causa principal. 
Exemplo: a exceção da verdade no crime de calúnia, ou controvérsia acerca da existência de crime patrimonial anterior ao crime de receptação. 
São heterogêneas, por sua vez, quando tiverem por conteúdo matéria de outro ramo do direito, podendo por isso ser julgadas por juízo que não seja criminal. 
Exemplo: questão relativa à nulidade de casamento em relação ao crime de bigamia.
Questões prejudiciais devolutivas ou não devolutivas 
Alguns sistemas processuais e doutrinadores ainda na atualidade defendem o histórico modelo francês de que o juiz que conhece a ação deve ser o mesmo magistrado a julgar a exceção – le juge de l’action est juge de l’exception –, compreendendo-se, assim, que os órgãos jurisdicionais teriam o direito e o dever de apreciar todas as circunstâncias constitutivas do fato submetido a seu conhecimento. Dessa forma, resolveriam cada uma das questões que se refiram ao tema da lide, derrogando as regras gerais de competência na medida em que o órgão jurisdicional penal conheceria de questões em geral não entregues à sua competência. O Brasil não adotou tal sistema, mas sim um sistema misto de competência (vide tópico adiante), pelo que podemos classificar as questões prejudiciais, quanto ao juízo a quem cabe resolvê-las, em devolutivas ou não devolutivas. 
As questões devolutivas são aquelas que devem, em regra, ser apreciadas no juízo não penal. As questões prejudiciais não devolutivas, aquelas que, embora se afigurem como prejudiciais ao mérito da causa penal, não preenchem os requisitos estatuídos nos arts. 92 e 93 do Código de Processo Penal. Essas serão necessariamente decididas pelo juiz do processo penal.
As questões devolutivas, por sua vez, serão absolutas (também referidas na doutrina como “questões prejudiciais obrigatórias”), quando sujeitas obrigatoriamente ao juízo extrapenal, ou relativas, caso em que caberá ao juiz criminal decidir sobre a conveniência de remetê-las ao juízo cível (motivo pelo qual são chamadas de “questões prejudiciais facultativas”).
Pressupostos para o reconhecimento das questões prejudiciais obrigatórias 
O art. 92 do Código de Processo Penal cuida das questões prejudiciais obrigatórias ou devolutivas absolutas, estabelecendo seus pressupostos: 
a) a controvérsia deve versar sobre o estado civil das pessoas (político, familiar, civil e individual);
b) a questão deve influir sobre a própria existência da infração penal; 
c) a questão deve ser séria e fundada, isto é, deve possuir fundamento jurídico e fático, afastando-se a prejudicial meramente protelatória. Esta deve ser levantada no momento da instrução processual. 
Assim, à evidência, não cabe trancamento de inquérito policial sob a alegação de que a matéria enfocada está sendo discutida no juízo civil; nesse caso, não há falar em constrangimento ilegal, uma vez que a prejudicial só pode ser alegada no curso da ação penal.
Procedimento 
Uma vez satisfeitas as condições apontadas, deverá o juiz suspender obrigatoriamente o curso da ação penal, de ofício ou a requerimento das partes (art. 94 do Código de Processo Penal) até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado. A suspensão, entretanto, não impedirá a inquirição de testemunhas e a produção de outras provas de natureza urgente. 
Se o crime processado implicar ação penal de iniciativa pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados. Nos casos de crime de ação penal privada exclusiva, caberá ao querelante intentar a ação civil cabível.
Fica suspenso o curso da prescrição da pretensão punitiva enquanto não resolvida a questão prejudicial (art. 116, I, do Código Penal). Uma vez retomado o curso da ação penal, a contagem do prazo prossegue, computando-se o tempo transcorrido antes da suspensão.
A decisão que suspende o processo desafia o recurso em sentido estrito (art. 581, XVI, do Código de Processo Penal). Noutro giro, a decisão que indefere a suspensão obrigatória do processo desafiará habeas corpus ou até mesmo correição parcial, quando verificado que o indeferimento da suspensão foi injustificado.
Pressupostos das questões prejudiciais facultativas 
O art. 93 do Código de Processo Penal cuida das questões prejudiciais facultativas ou devolutivas relativas, que poderão ser decididas pelo juiz criminal ou solucionadas no juízo cível. É devolutiva relativa a questão que atender aos seguintes pressupostos:
a) a questão deve influir na existência da infração penal; 
b) versar sobre matéria diversa do estado civil das pessoas; 
c) a ação civil que tenha por objeto a questão prejudicial já deverá estar em curso; 
d) a questão prejudicial deve ser de difícil solução (em geral, deve envolver questão fática, transcendendo a mera controvérsia de direito); 
e) a questão não pode versar sobre direito cuja prova a lei civil limite; e 
f) a questão deve ser passível de apreciação pelo juízo cível, ou seja, deverá o juízo cível ser competente para dirimi-la.
Procedimento
Presentes todos esses pressupostos, é facultado ao juiz suspender o curso do processo, o que poderá ser determinado de ofício ou a requerimento das partes (art. 94 do Código de Processo Penal), após a inquirição das testemunhas e a realização de outras provas de caráter urgente. O juiz fixará prazo, durante o qual ficará suspenso o curso do processo penal. Expirado o prazo assinado sem que hajadecisão no juízo cível, o juiz criminal fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação e da defesa (art. 93, § 1º), inclusive a prejudicial. O prazo, entretanto, poderá ser prorrogado, se a demora não for imputável à parte.
Tratando-se de crime de ação pública, suspenso o processo, caberá ao
Ministério Público intervir imediatamente na causa cível, a fim de promover--lhe o rápido andamento (art. 93, § 3o). Nos casos da ação penal privada, caberá ao querelante tomar as providências previstas no dispositivo em questão.
A decisão proferida pelo juízo cível acerca da questão reconhecida como prejudicial vinculará o juízo penal, devendo prevalecer ainda quando atinja a própria existência da infração penal. Parte da doutrina, entretanto, reconhece que a obrigatoriedade da decisão cível no âmbito penal fica condicionada a que a prova determinante da decisão na esfera civil seja aceitável segundo o princípio da verdade real, que impera no processo penal. Caso o juiz opte por não suspender o processo, ele próprio decidirá a questão, sem que a decisão quanto ao aspecto prejudicial tenha, no entanto, efeito erga omnes.
A decisão do juiz que indefere o pedido de suspensão do processo é irrecorrível (art. 93, § 2º). Existem, finalmente, as questões prejudiciais não devolutivas, que são aquelas que, embora se afigurem como prejudiciais ao mérito da causa penal, não preenchem os requisitos estatuídos nos arts. 92 e 93 do Código de Processo Penal. Essas serão necessariamente decididas pelo juiz do processo penal.
Sistema misto de competência 
Configura-se, dessa forma, um sistema misto quanto à competência para solucionar as questões prejudiciais. A legislação pátria prevê tanto situações em que a questão deverá ser remetida ao órgão extrapenal quanto casos em que caberá ao juiz penal a solução da prejudicial e, por fim, hipóteses nas quais poderá ou não o juiz da lide principal decidir acerca da questão prejudicial.
INCIDENTES PREVISTOS NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
São previstos expressamente no Código de Processo Penal: exceções, incompatibilidades e impedimentos, conflitos de jurisdição, conflito de atribuições, restituição de coisas apreendidas, medidas assecuratórias (sequestro, arresto e hipoteca legal), incidente de falsidade e incidente de insanidade mental. Cada um deles será estudado em detalhe a seguir.
Exceções 
O termo “exceção” (do latim, exceptio), em direito processual, tem vários significados. Em sentido lato, a exceção é entendida como o direito do réu que se contrapõe à ação. Alguns a definem como a “ação do réu”, o meio pelo qual o acusado se defende do exercício do direito-poder de ação. Em sentido menos amplo, define-se por exceção qualquer alegação da defesa que busca neutralizar a pretensão do autor. 
No sentido adotado pelo Código de Processo Penal, a exceção designa a defesa indireta, ou seja, aquela que não diz respeito ao mérito do pedido. As exceções podem, assim, fundar-se na alegação de inexistência dos pressupostos processuais e das condições da ação. Podem ter por finalidade prolongar o curso do processo (exceção dilatória), ou mesmo extingui-lo (exceção peremptória).
Parte da doutrina, ainda, identifica como subcategoria das exceções em sentido amplo as objeções. As objeções são exceções que, a rigor, não precisam ser arguidas, já que a matéria que lhes serve de conteúdo pode ser conhecida de ofício pelo juiz. As objeções são também chamadas de impedimentos processuais (não confundir com o impedimento que constitui causa de incompetência do juízo).
Por essa razão, para alguns autores o Código de Processo Penal prevê somente hipóteses de objeções processuais, que podem, inclusive, ser arguidas pelo autor da ação. 
Nos termos do art. 95 do Código de Processo Penal, poderão ser opostas exceções de: 
I. Suspeição;
II. Incompetência de juízo; 
III. Litispendência; 
IV. Ilegitimidade de parte; 
V. Coisa julgada.
Procedimento
Constituindo incidentes processuais, as exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em regra, o andamento da ação principal (art. 111 do Código de Processo Penal). A situação é diversa da que ocorre no processo civil, em que, uma vez recebida a exceção, o processo fica suspenso até que seja definitivamente julgada, nos termos do art. 306 do Código de Processo Civil. 
Nas exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada, serão observadas, no que forem aplicáveis, as disposições relativas à exceção de incompetência de juízo (art. 110, caput). 
A oposição de mais de uma dessas exceções em um mesmo processo far-se-á por meio de uma única petição (art. 110, § 1º).
Exceção de suspeição
É princípio largamente sedimentado do direito processual que o julgador deve ser imparcial, ou seja, social e psiquicamente equidistante de ambas as partes, de modo a evitar que suas eventuais ligações com qualquer das partes ensejem favorecimento ou prejuízo a elas e, indiretamente, à administração da justiça. 
Trata-se de exceção de natureza dilatória que visa afastar o juiz do processo criminal.
Fundamento da suspeição
A suspeição se funda, portanto, na falta de imparcialidade do julgador, retirando-lhe a aptidão para funcionar no processo. De acordo com o art. 564, I, do Código de Processo Penal, a suspeição do juiz é causa de nulidade, cabendo às partes alegá-la por meio da exceptio suspicionis. 
A suspeição circunscreve-se aos fatos e circunstâncias subjetivos e objetivos que possam comprometer a imparcialidade do julgador.
Hipóteses de suspeição 
O art. 254 do Código de Processo Penal enumera as hipóteses de suspeição:
I. Se o juiz for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes. Não configura hipótese de suspeição ser o magistrado amigo íntimo ou inimigo capital do advogado da parte ou do membro do ministério Público.
II. Se o magistrado, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia. III – Se o julgador, seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes. Há controvérsia na doutrina acerca de a referência ao cônjuge incluir, também, a companheira (amásia) ou companheiro que viva com o julgador em união estável. Em favor da hipótese, a evidente analogia entre os institutos do casamento e da união estável, protegida em sede constitucional (art. 226, §§ 3º e 4º). Contra a inexistência de previsão legal acerca da equiparação entre os institutos, já que o próprio art. 226 da Constituição Federal determina que o reconhecimento da união estável se faz “para efeito da proteção do Estado”, não se lhe estendendo, portanto, todos os efeitos do casamento civil. 
III. Se o juiz tiver aconselhado qualquer das partes. 
IV. Se o juiz for credor ou devedor, tutor ou curador de qualquer das
partes. 
V. Por fim, se o magistrado for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. Sobre o rol do art. 254 do Código de Processo Penal, parte da doutrina entende ser ele taxativo. Assim, é inadmissível, por exemplo, a arguição de suspeição em casos de error in procedendo, devendo ser utilizada a via correta, isto é, a correição parcial. 
Para outros autores, a vigência da regra da imparcialidade deve implicar necessariamente a possibilidade de aplicação da analogia e da interpretação extensiva para incluir outras hipóteses de suspeição não previstas na lei, conforme autoriza o art. 3o do Código de Processo Penal. É o mais recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
Procedimento 
A arguição de suspeição precederá a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo superveniente (art. 96 do Código de Processo Penal), sob pena de ser considerada intempestiva. Desse modo, analogamente, a alegação de suspeição após a prolação da sentença fará com que a arguição
não possa ser conhecida, uma vez que o magistrado já exauriu a atividade jurisdicional, podendo ser,no entanto, ainda suscitada e conhecida em sede de recurso desse ato decisório, ou seja, hipótese em que não mais funcionará no âmbito de escusa. 
Tem legitimidade para opô-la o Ministério Público, o réu, o querelante ou o querelado. A parte deve fazê-lo em petição assinada por ela própria conjuntamente com seu defensor ou advogado que não possua poderes especiais para tanto, ou pelo advogado de cuja procuração constem poderes especiais, aduzindo suas razões acompanhadas de prova documental ou rol de testemunhas (art. 98 do Código de Processo Penal). Nesse sentido, a exigência de poderes especiais em caso de arguição de suspeição alteada por procurador cinge-se ao fato de que se trata de ataque pessoal contra o juiz, fundado em motivos estritamente pessoais, não se admitindo sequer juntada posterior de procuração. Da mesma forma, igualmente inadmissível. Vale ressaltar que a necessidade da oposição da exceção sempre por advogado – sozinho ou conjuntamente com a parte – dá-se pelo fato de que somente este tem capacidade postulatória, a teor do que dispõe o art. 1o, I, da Lei n. 8.906/94. 
No que respeita à legitimidade de o assistente de acusação poder arguir a suspeição, a doutrina é bastante divergente, sendo a posição dominante no sentido de que, no silêncio da lei, deve-se entender pela possibilidade de que o assistente recuse o juiz. 
Registre-se, por oportuno, que já se decidiu não ser cabível a arguição de suspeição do magistrado em sede de habeas corpus, entendendo-se este ser via inadequada para tanto, além do que a suspeição deve ser arguida em relação a determinado juiz e não ao juízo, como ocorre na exceção de incompetência.
Em sendo contra o juiz, este – o próprio juiz suscitado – deverá, de ofício, afirmar a suspeição por escrito, declarando o motivo legal e remetendo imediatamente o processo ao seu substituto, intimadas as partes (art. 97 do Código de Processo Penal). Tal decisão, até por sua natureza, é irrecorrível. Isso porque, se o próprio magistrado reconhece sua parcialidade em virtude de hipótese que subjetivamente o afeta, seria de uma absurdidade lógica e negação ao princípio da imparcialidade obrigá-lo a decidir a lide.
Diz a lei que o juiz deve declarar o motivo de sua suspeição. Dúvida surge quanto à possibilidade de o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo. Parcela da doutrina entende que, nessa hipótese, deve-se aplicar por analogia o disposto no novo Código de Processo Civil, que, após arrolar as causas de suspeição (art. 145, I a IV, do NCPC), afirma: “Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões” (art. 145, § 1º). Tal posição afigura-se coerente ante outra corrente que cobra ao magistrado decline expressamente as razões de sua suspeição. Isso porque, como as razões são de foro íntimo, poderia levar o juiz a omitir a suspeição pela só razão de que a motivação dela possibilitaria, de alguma forma, por exemplo, comprometer-lhe o conceito. Assim, fala a favor da imparcialidade da Justiça a restrição normativa ínsita ao dispositivo processual civil, que desobriga o magistrado a declinar as razões de foro íntimo.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da liminar no Mandado de Segurança n. 28.089/DF, de relatoria do Ministro Joaquim Barbosa, suspendeu a vigência da Resolução n. 82 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que estabelecia que o juiz era obrigado a revelar, em ofício reservado àquele órgão, o motivo de foro íntimo.
Arguida a suspeição por qualquer das partes, caberá ao juiz excepto: 
a) reconhecendo a suspeição, sustar a marcha do processo, mandar juntar aos autos a petição do recusante (excipiente) com os documentos que a instruam e, por meio de despacho, declarar-se suspeito, remetendo os autos ao seu substituto (art. 99 do Código de Processo Penal). Como afirmado, não há nenhum recurso cabível da decisão que reconhece a suspeição; 
b) não reconhecendo a suspeição, mandar autuar em apartado a petição, apresentando, em 3 dias, suas razões, que poderão ser instruídas e acompanhadas de rol de testemunhas, determinando a remessa dos autos da exceção, dentro em 24 horas, ao tribunal a quem competir o julgamento (art. 100, caput, do Código de Processo Penal). Vale lembrar que atualmente apenas os tribunais têm competência para julgar exceção.
Diferentemente do que ocorre no processo civil, a arguição de suspeição não suspende, em regra, o curso do processo, sendo a exceção autuada em apartado. Quando, porém, a parte contrária reconhecer a procedência da arguição, poderá requerer a suspensão do processo principal até o julgamento do incidente da suspeição (art. 102 do Código de Processo Penal). Deve, portanto, o juiz, oposta a exceção, não obstante a lei nada dizer, abrir vista à parte contrária para manifestação. 
Chegando os autos da exceção ao Tribunal (ou Câmara Especial, no caso do Estado de São Paulo), ao relator, se entender manifestamente improcedente a arguição (art. 100, § 2º), caberá rejeitá-la liminarmente. Se, diversamente, reconhecer em análise preliminar a relevância da arguição, determinará a citação das partes e designará dia e hora para a inquirição das testemunhas. Após a instrução do feito, seguir-se-á o julgamento, independentemente de novas alegações (art. 100, § 1º).
Nos termos do art. 101 do Código de Processo Penal, se julgada procedente a suspeição, serão declarados nulos os atos do processo principal e, pelo princípio da causalidade, todos os atos decisórios praticados posteriormente à data em que houver se tornado suspeito o julgador. Se a suspeição remontar a data anterior ao início do processo, todos os atos decisórios nele praticados serão nulos. Assim, a nulidade existirá sempre a partir do momento em que o juiz se tornou suspeito, se o fato que lhe deu origem ocorreu durante a instrução. No entanto, se a suspeição existia desde o início do processo deve ele ser totalmente refeito. Ressalte-se, ainda, que, havendo o juiz declarado suspeição por motivo superveniente aos atos que praticara no processo, não é o caso de invalidá-los.
Declarada a suspeição, deve o processo ser remetido para o primeiro juiz substituto sucessivo, obedecendo-se, assim, ao princípio do juiz natural.
Na hipótese de erro inescusável, a lei prevê que o juiz suspeito estará obrigado ao pagamento das custas. Por outro lado, se rejeitada a exceção, havendo evidente má-fé do excipiente, será este condenado ao pagamento de multa (art. 101 do Código de Processo Penal). 
O art. 103 do Código de Processo Penal determina o procedimento da suspeição quando ocorrer essa em instância superior. As disposições ali previstas aplicam-se ao Supremo Tribunal Federal, ao Superior Tribunal de Justiça, ao Superior Tribunal Militar, ao Tribunal Superior Eleitoral, aos Tribunais Regionais Federais e aos Tribunais dos Estados. 
O juiz, o desembargador ou o Ministro de Tribunal que se julgar suspeito deverá declará-lo nos autos. Se for revisor, passará o feito ao seu substituto na ordem de precedência. Se for relator, apresentará os autos em mesa para nova distribuição (art. 103, caput). Caso não seja relator nem revisor, o membro do tribunal deverá, na sessão de julgamento, declarar-se suspeito verbalmente, registrando-se em ata a declaração (art. 103, § 1º). Se se declarar suspeito o próprio presidente do Tribunal, competirá ao seu substituto designar dia para o julgamento e presidi-lo (art. 103, § 2º).
A arguição por qualquer das partes procede-se de forma análoga ao que ocorre em instância inferior, ou seja, deverá a suspeição ser arguida em petição assinada por ela própria ou por procurador com poderes especiais, observando-se, no que couber, o disposto nos arts. 98 a 101 do Código de Processo Penal (art. 103, § 3º). 
Se o julgador excepto não reconhecer a suspeição, a arguição será julgada pelo pleno do Tribunal. O presidente, se não for o próprio excepto, será relator (art. 103, § 4º). Se o excepto for o presidente do Tribunal, relatará o vice-presidente (art. 103, § 5º).
Suspeição de outros sujeitos processuaisA parte poderá, ainda, arguir a suspeição de outros sujeitos processuais.
O órgão do Ministério Público, por exemplo, incorrendo nas hipóteses de suspeição (art. 258 do Código de Processo Penal), analogamente ao que ocorre com os magistrados, também poderá ser arguido. O fundamento, aqui, não será a exigência de imparcialidade, já que é da essência da função a atuação parcial. Entretanto, o órgão do Parquet deve atuar sempre no interesse da justiça, intuito que poderia restar prejudicado pela existência de relações pessoais desse com o acusado. A rejeição do Parquet deve ser pleiteada ao juiz da causa, por força de texto expresso do art. 104 do CPP.
Já se decidiu que a suspeição ou impedimento do membro do Ministério Público implica nulidade relativa, passível de preclusão, porquanto apenas a suspeição ou impedimento do juiz é causa de nulidade absoluta. 
Nesse caso, o próprio órgão do Ministério Público poderá se abster de atuar no caso, declarando-se suspeito. Inadmissível, contudo, a declaração ex officio de suspeição do órgão do Ministério Público.
No caso em que seja oposta a exceção, o juiz ouvirá o excepto, podendo proceder à realização de provas no prazo de 3 dias, após o que deverá ser prolatada a decisão. Essa decisão é irrecorrível (art. 104 do Código de Processo Penal). 
O processo não se suspenderá, e, mesmo se reconhecida a suspeição, os atos praticados pelo órgão do Parquet reconhecido suspeito não serão anulados, pois não há previsão legal expressa nesse sentido. 
Também será possível às partes arguir a suspeição dos peritos (art. 280 do CPP), intérpretes, serventuários ou funcionários da justiça, decidindo o juiz de plano e sem recurso, à vista da matéria alegada e prova imediata – isto é, oferecida no momento da arguição (art. 105 do Código de Processo Penal). Deve-se, no entanto, abrir oportunidade para a oitiva do recusado. 
Nada impede, também, que esses órgãos auxiliares se reconheçam, espontaneamente, suspeitos. 
Aos peritos (art. 280) e aos serventuários e funcionários da justiça (art. 274) estendem-se as disposições referentes à suspeição dos juízes. Já os intérpretes, nos termos do art. 281, equiparam-se aos peritos.
No que diz respeito à suspeição dos jurados, o art. 106 determina que sua arguição deve ser procedida oralmente, logo após a leitura da cédula sorteada, decidindo de plano o presidente do Tribunal do Júri, em decisão irrecorrível. Caso expire o prazo, ficará sanada a nulidade.
 Se o jurado negar a suspeição, caberá à parte provar, de imediato, o motivo alegado, sob pena de ser rejeitada, pelo Juiz Presidente, a arguição. Todo o incidente deverá constar da ata do julgamento. Assim, suspende-se o julgamento com a arguição de suspeição, podendo, contudo, ser objeto da apelação por nulidade. 
Também o jurado poderá afirmar-se, espontaneamente, suspeito. Não prevê a lei a possibilidade de arguição da suspeição das autoridades policiais que presidirem os atos do inquérito, mas, ocorrendo motivo legal, têm elas o dever de declarar-se suspeitas (art. 107 do Código de Processo Penal). Caso não o faça, pode o delegado ser sancionado no âmbito administrativo.
Exceção de incompetência de juízo 
Também chamada de declinatoria fori, a exceção de incompetência deverá ser oposta sempre que uma das partes entender incompetente o juízo perante o qual tenha sido oferecida a denúncia. Aceita a declinatória pelo juiz, deve este remeter os autos ao magistrado competente, que, ao recebê-lo, poderá não se julgar competente e propor o conflito de jurisdição.
Sendo a incompetência relativa, o prazo é preclusivo, operando-se a prorrogação da competência se não arguida a tempo. Cumpre salientar que, com o advento da Lei n. 11.719/2008, foi suprimida a “defesa prévia” estabelecida no revogado art. 395. Desta feita, o prazo de defesa mencionado no art. 108 passou a ser compreendido como o da “resposta à acusação”, devendo a exceção ser processada em apartado, nos termos do art. 396-A, § 1o, do Código de Processo Penal.
A incompetência absoluta, entretanto, poderá ser reconhecida de ofício pelo próprio juiz, a qualquer tempo (art. 109 do CPP), já tendo sido acatada, neste caso, inclusive em sede de habeas corpus. A incompetência absoluta, reconhecida, implica a nulidade dos atos decisórios eventualmente praticados pelo juízo incompetente.
Embora não o diga expressamente a lei processual penal, a jurisprudência entende inadmissível o reconhecimento de ofício da incompetência relativa (Súmula 33 do STJ). Entretanto, parte da doutrina e jurisprudência entende ser possível ao juiz que, seja a incompetência absoluta ou relativa, reconhecer, ex officio, sua incompetência. Sustentam, para tanto, que o Código de Processo Penal não faz distinção entre incompetência absoluta e relativa no precitado art. 109, de modo que o juiz poderia, em qualquer caso, declinar de ofício de sua competência.
Frise-se que, se assim for possível, entende-se que o juiz somente poderá fazê-lo até o início da audiência de instrução, debates e julgamento, pois a partir de então estará vinculado à causa, em obediência ao princípio da identidade física do juiz. A exceção deve ser oposta, oral ou verbalmente, no prazo da defesa (art. 108 do CPP). Apesar da menção expressa ao prazo de defesa, a maioria dos autores admite caber também ao Ministério Público arguir a exceção de incompetência, mesmo quando atue como parte processual.
Se, ouvido o Ministério Público, for aceita a exceção, o feito será remetido ao juízo competente, onde, ratificados os atos anteriores, o processo prosseguirá (§ 1º). Os atos decisórios não são passíveis de ratificação, devendo ser anulados, salvo o ato de recebimento da denúncia (art. 567). Se a exceção for rejeitada, o juiz continuará no feito, fazendo tomar por termo a declinatória, se formulada verbalmente (§ 2º).
O assistente de acusação não possui legitimidade para propor a exceção de incompetência do juízo, por não constar entre as possibilidades dispostas no art. 271 do CPP, rol que, a bem da verdade, é taxativo. Da decisão que conclui pela incompetência do juízo cabe recurso em sentido estrito (art. 581, II). Cabe, contudo, igualmente, recurso em sentido estrito da decisão em que o juiz declina-se incompetente de ofício. Da decisão que a recusa, entretanto, não cabe recurso, podendo ser impetrado habeas corpus ou ser a matéria alegada em preliminar de apelação.
Exceção de litispendência
Há litispendência quando se repete ação que já está em curso, sendo, assim, idênticas as demandas (art. 337, § 3º, do NCPC). 
A litispendência apenas ocorrerá se na primeira ação ajuizada já houver ocorrido a citação válida, tendo-se constituído a relação jurídica processual, e enquanto essa primeira ação pender de julgamento, ou seja, enquanto não for nela proferido julgamento. A doutrina processualista tradicional, referindo-se ao conceito de litispendência estabelecido no âmbito da teoria do processo civil, ensina que se reputam idênticas as ações quando se formem dos mesmos elementos, ou seja, quando sejam iguais em ambas as partes, a causa de pedir e o pedido (art. 337, § 1º, do NCPC).
No processo penal, entretanto, para a identidade entre duas ações, basta que em ambas se impute o mesmo fato ao mesmo acusado. Assim, por exemplo, se o réu foi processado na Justiça Militar não poderá, pelos mesmos fatos, ser processado na Justiça Comum. Todavia, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que não constitui bis in idem o fato dos réus estarem respondendo a processo na Justiça Militar e na Justiça Comum pelo mesmo fato da vida.
A constatação da identidade da causa petendi é feita pela análise da descrição fática que consta da peça acusatória e não pela qualificação legal que recebeu. Quanto às partes, não é preciso que haja coincidência, pois haverá litispendência ainda que o autor de uma das ações seja o Ministério Público, enquanto em outra o autor seja o ofendido ou seu representante legal. No que tange ao pedido, na ação penal, será este sempre no sentido de que seja o acusado condenado pela prática dofato a ele imputado. Jurisprudência mais restritiva, contudo, já entendeu que, faltante qualquer dos elementos tradicionalmente apontados (pedido, partes e causa de pedir), não há falar em litispendência. 
Nos termos do art. 110, caput, do Código de Processo Penal, aplica-se à exceção de litispendência o mesmo procedimento da exceção de incompetência, podendo a parte alegá-la por escrito ou verbalmente, caso em que será reduzida a termo, e devendo o incidente ser autuado em apartado, ouvindo-se a parte contrária. A litispendência, entretanto, poderá ser arguida a qualquer tempo e em qualquer instância, não ocorrendo preclusão. Constituindo matéria de ordem pública, a litispendência poderá ser reconhecida até mesmo ex officio, motivo pelo qual pode, também, ser suscitada por qualquer das partes.
Da decisão que julga procedente a exceção caberá recurso em sentido ou a arguição da matéria em preliminar de estrito (art. 581, III). Se não for acolhida, inexiste recurso, cabendo a impetração de habeas corpus ou a arguição de matéria preliminar de apelação.
Reconhecendo-a o juiz de ofício, o recurso cabível será a apelação, com base no art. 593, II. 
A litispendência é figura aplicável apenas no âmbito do processo. Havendo a instauração de inquérito policial para a investigação do mesmo fato criminoso objeto de processo em curso, imputado, em ambos os casos, à mesma pessoa, o remédio cabível não será a exceção de litispendência, mas sim a impetração de habeas corpus, tendo por objeto o trancamento do inquérito, por falta de justa causa.
Exceção de ilegitimidade de parte 
Usando a lei da expressão “ilegitimidade de parte”, entende a doutrina corrente que podem ser objeto de exceção tanto a ilegitimidade ad causam (condição da ação, consubstanciada na existência de uma relação subjetiva entre os fatos que constituem o objeto do processo e a pessoa que consta como parte no processo) quanto a ilegitimidade ad processum (pressuposto de existência de processo válido, abrangendo a ausência de capacidade postulatória do querelante, a incapacidade para estar em juízo sem representação legal, como, por exemplo, o caso do menor de 18 anos que ajuíza ação penal e, finalmente, na hipótese de falta de condição de procedibilidade na ação penal pública condicionada). Contra, Hélio Tornaghi, para quem a exceção abrange somente a ilegitimidade ad processum.
A exceção de ilegitimidade de parte seguirá o mesmo procedimento da exceção de incompetência (art. 110, caput, do Código de Processo Penal). Poderá ser oposta por escrito ou verbalmente, devendo a petição ser autuada em apartado, ouvindo-se a parte contrária.
Quanto ao prazo, tratando-se de matéria de ordem pública, a ilegitimidade de parte pode ser arguida a qualquer tempo. A rigor da classificação doutrinária, a exceção de ilegitimidade constitui, em sentido estrito, objeção, já que pode o julgador concluir de ofício, a qualquer tempo, pela existência da ilegitimidade, não sendo formalmente necessária sua arguição pela parte.
No que diz respeito a quem pode argui-la, enquanto para parcela da doutrina a exceção de ilegitimidade da parte é privativa do réu, há autores que reconhecem a qualquer das partes tal faculdade. De fato, admitindo-se que a ilegitimidade pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, com mais razão se deve admitir que a exceção pode ser arguida por qualquer das partes, já que o interesse no seu reconhecimento transcende o interesse de cada uma das partes. 
Sendo reconhecida a ilegitimidade ad causam, o processo será anulado desde o início. A inexistência de uma das condições da ação constitui nulidade insanável. Se, entretanto, o caso for de ilegitimidade ad processum, por ilegitimidade do representante da parte, o processo poderá não ser anulado, hipótese em que deverá haver a ratificação dos atos processuais (art. 568 do Código de Processo Penal). Ocorrerá, portanto, nulidade relativa. Não obstante referido dispositivo mencione que a nulidade pode ser sanada a qualquer tempo, a jurisprudência entende que a ratificação deve ser feita dentro do prazo decadencial. 
A decisão que acolhe a exceção desafia o recurso em sentido estrito, com fundamento no art. 581, III. Caso o juiz reconheça espontaneamente a ilegitimidade de parte (ad causam), poderá ser interposto recurso em sentido estrito, mas com fundamento no art. 581, I, uma vez que tal decisão equivalerá à rejeição da peça acusatória. Contra a improcedência não há recurso, podendo ser impetrado habeas corpus ou, ainda, alegada a matéria em preliminar de apelação.
Exceção de coisa julgada 
“Coisa julgada” é tradução latina de res judicata. Esta, etimologicamente, vem de res – que deriva de reor, indicativo de uma ideia. Compreendendo-se que os verdadeiros pensamentos devam corresponder à realidade, as próprias coisas (reais) foram chamadas de res, significando principalmente o patrimônio do cidadão. Essa concepção de patrimônio estendeu-se a todos os direitos de que o cidadão goza como proprietário, e, dessa forma, o vocábulo “res” passou a significar a segurança das coisas materialmente possuídas, os direitos reais e pessoais. Nesse sentido, das antigas fontes romanas, em sentido jurídico, podemos dizer que res significa questão jurídica, “o complexo da causa que se discute” – res de qua agitur – diante do magistrado. Mas, se colhermos a atual expressão em sua integralidade – “coisa julgada” –, como adiante se verá, teremos uma característica ou efeito da decisão definitiva (sentença ou acórdão que transita em julgado), pela necessidade da manutenção do status quo social, na medida em que este necessita de paz, de liquidação das contendas individuais, prevenindo vinganças privadas, mediante a tutela do direito estabelecido. Eis, portanto, no respeito à segurança jurídica, onde reside uma das funções da autoridade da coisa julgada.
Sentença (acórdão), julgado, coisa julgada
Assim, a sentença – ato formal do juiz, resolvendo a lide penal e aplicando o direito ao caso concreto – ou acórdão ensejam o julgado – o próprio direito fixado na sentença (ou acórdão) –, que se diferencia da coisa julgada, na medida em que esta é o objeto – a “coisa” –, o tema, a matéria posta em julgamento, ou seja, o que foi decidido em julgamento e que, em regra, encerra a discussão, finalizando o tema objeto do pronunciamento.
Conforme distinção doutrinária, há coisa julgada material e coisa julgada formal, terminologia empregada para descrever os diferentes efeitos da sentença (ou acórdão). 
Como regra, a coisa julgada há de ser concebida como a decisão judicial que apreciou o fato principal, objeto da exordial acusatória, independentemente da classificação jurídica dada quando da prolação do édito condenatório.
Coisa julgada material e coisa julgada formal
A coisa julgada material é a qualidade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito, quando esta não mais estiver sujeita a recurso. É efeito que se projeta para fora do âmbito do processo, impedindo que o comando emergente da sentença seja novamente discutido em outro processo. A coisa julgada material traduz, assim, na lição de Oliva Santos, um “efeito próprio de algumas decisões firmes que consiste numa precisa e determinada força de vincular, em outros processos, a todos os órgãos jurisdicionais (o mesmo que julgou e outros distintos) a respeito do conteúdo dessas decisões (normalmente sentenças)”. Destarte, uma nova sentença de mérito é absolutamente vedada pela aplicação do princípio ne bis in idem (bis de eadem re ne sit actio), servindo assim de proteção ao acusado. 
Já a coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão que apenas se estende ao escopo do próprio processo em que foi proferida, quando tal decisão não seja mais passível de impugnação por via recursal.
Extensão da coisa julgada formal 
Pode ser: 
a) coisa julgada absoluta, quando não caiba impugnação da decisão por nenhuma das partes;
b) coisa julgada relativa, que pode ser: 
– Objetivamente relativa, quando somente uma parte da decisão restou firme, por exemplo, no caso de pluralidadede fatos, na medida em que a sentença não seja impugnada em relação a todos eles, ou se somente se recorre no tocante à dosimetria da pena, à medida de segurança etc.; 
– Subjetivamente relativa, se a decisão pode ser somente atacada por uma das partes;