Buscar

TEORIA DO DISCURSO-AULA06

Prévia do material em texto

- -1
TEORIAS DO DISCURSO
A LINGUAGEM EM USO
- -2
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Compreender a diferença entre semântica e pragmática.
2. Distinguir frase e enunciado.
3. Aprender alguns aspectos da enunciação: Os dêiticos, os performativos, o uso de conectores e significados da
negação.
4. Conhecer a teoria dos atos de fala proposta por Austin.
5. Distinguir afirmações constativas de afirmações performativas.
6. Compreender os atos locucionários, ilocucionários e perlocucionários.
7. Conhecer os performativos implícitos dos performativos explícitos.
1 Introdução
Até agora, estudamos das aulas 1 até 4, a Semântica; Nossa aula 5 tratou de aspectos concernentes à Linguística
Textual.
Esta aula tratará da Pragmática e vocês devem estar se perguntando: O que é pragmática.
Nesta aula, estudaremos a pragmática e compreenderemos a diferença entre ela e a semântica. Veremos que a
pragmática é uma ciência cujo objetivo é analisar a linguagem em uso, ou seja, ela tenta compreender o que
fazemos quando nos comunicamos, e como veiculamos significados diferentes, dependendo do ambiente que nos
cerca.
Veremos também a diferença entre frase, união de significantes e significados, e enunciados, os significados
adquiridos pelas frases de acordo com o contexto. Veremos também as noções de enunciação, inferência e
instrução, além de conhecermos a teoria dos Atos de Fala de John Austin e sua influência na mudança dos
estudos linguísticos.
2 Afinal, o que é pragmática?
Se abrirmos um dicionário de Linguística, encontraremos uma definição parecida com a que temos a seguir,
retirada do Dicionário de Linguística, organizado por Jean Dubois:
- -3
“O aspecto pragmático da linguagem concerne às características de sua utilização (motivações
psicológicas dos falantes, reações dos interlocutores, tipos socializados da fala, objeto da fala, etc.)
por oposição ao aspecto sintático (propriedades formais das construções linguísticas) e semântico
(relação entre as unidades linguísticas e o mundo).” (2003: 480)
Só pela leitura desse verbete, ainda não conseguimos saber exatamente o que é Pragmática, mas já percebemos
que ela se diferencia tanto da Sintaxe quanto da Semântica porque considera o falante e seu papel na construção
do significado. Francis Jaques (apud Armengaud: 2006,11) afirma que “A pragmática aborda a linguagem como
fenômeno simultaneamente discursivo, comunicativo e social.”
Como nosso interesse nesta aula é tratar das relações de significado, vamos nesse primeiro momento tentar
distinguir duas áreas que lidam com o significado:
- -4
De enunciados reais (estudo de uso ao invés de significado)
Do desempenho e não da competência: Os gerativistas tendem a identificar tanto a distinção sentença
/enunciado quanto a distinção semântica/pragmática com competência desempenho.
O processo de compreensão envolve 2 etapas:
1ª etapa: Semântica ( ) - extraímos do enunciado aquilo que é possível depreender com basesignificado literal
na estrutura formal (morfossintática).
2ª etapa: Pragmática ( ) – A representação semântica se associa a uma série de fatores ligadossignificado final
ao contexto da comunicação e ao conhecimento prévio existente ( ou pressuposto como tal) na memória do
falante e do ouvinte.
O que acontece quando ouvimos frase simples, como a que temos a seguir?
Você sabe que horas são?
Significado literal
Pergunta com resposta sim ou não.
Significado final
O falante deseja saber a hora porque está sem relógio ou seu relógio está com problemas.
3 Frase e enunciado
Frases são unidades abstratas, independentes de contexto: Não estão vinculadas a nenhum tempo ou espaço
particular: São unidades do sistema linguístico a que pertencem.
EXEMPLO
“Está frio aqui” pode ser usada em circunstâncias apropriadas no lugar de “Por favor, feche a janela” (é usada
como uma instrução).
EXEMPLO
“Você sabe que horas são?” – Não tem a estrutura de um pedido de informação; A estrutura é sobre se o
interlocutor sabe que horas são.
O enunciado é dependente do contexto, e sua compreensão depende:
• Da nossa percepção sobre a situação em que nos encontramos
• De com quem estamos nos comunicando
• Daquilo que sabemos
• Daquilo que acreditamos que nosso interlocutor também saiba.
No capítulo , Fiorin nos apresenta a frase ‘Está chovendo!’A linguagem em uso
Quantos significados ela pode adquirir?
Se você for uma mulher, um homem ou uma criança, podemos ter diferentes enunciados:
• ‘Ai! Vou ter que tirar a sandália e colocar um sapato fechado!’
•
•
•
•
•
- -5
• ‘Ai! Vou ter que tirar a sandália e colocar um sapato fechado!’
• ‘Fiz uma escova e ela vai desmanchar!’
• ‘Vou trocar a saia pela calça comprida!’
• ‘Vou ter que parar de brincar na chuva!’
• ‘Vou tirar a roupa da corda!’
Depois dessa discussão, vamos ler um trecho do livro A Pragmática, de Françoise Armengaud. Na Introdução,
Rudolf Carnaf nos diz sobre essa jovem ciência:
“[...] que fazemos quando falamos? O que dizemos exatamente quando falamos? Por que
perguntamos a nosso vizinho de mesa se ele pode? Quem fala, e para quem? Quem você acha que sou
para me falar desse modo? Precisamos saber o que, para que uma ou outra frase deixe de ser
ambígua? [...] Podemos confiar no sentido literal de uma frase? Quais são os usos da linguagem?”
(2006:9, grifos do autor)
Como a Pragmática vai se diferenciar da semântica? Rudolf Carnaf nos apresenta três conceitos que ele trabalha:
• O conceito de ato. 
“Falar é agir.” Quando dizemos um simples ‘OI!’ executamos um ato, interagimos com alguém e
esperamos uma resposta; Se contamos uma história, esperamos que quem nos ouve, acredite no que
dizemos. Essas são formas de interagir, de usar a linguagem para agir sobre os outros.
• O conceito de contexto
Passou-se a avaliar a situação em que a comunicação ocorre de tal modo, que a inserção do contexto se
torna indispensável.
• O conceito de desempenho. 
Considera-se o papel do falante e seu conhecimento acerca da língua.
Por que a introdução da pragmática é importante nos estudos linguísticos? Vejamos em primeiro lugar a 
.enunciação
Para a pragmática, “[...] há palavras e frases cuja interpretação só pode ocorrer na situação concreta de fala”.
(Fiorin: 2002,166) Vimos que um enunciado é dependente do contexto e que ele é uma realização concreta da
língua: Uma frase é compreendida independentemente do contexto.
EXEMPLO
• Amanhã iremos à festa.
Como sabemos quando será ‘amanhã’? Esse advérbio é um marcador de tempo e funciona como um dêitico.
•
•
•
•
•
•
•
•
•
- -6
“Dêitico é todo elemento linguístico que num enunciado faz referência: À situação em que esse enunciado é
produzido; (2) Ao momento do enunciado (tempo e aspecto do verbo); (3) Ao falante (modalização).
Assim, os demonstrativos, os advérbios de lugar e de tempo, em geral deles derivados, os pronomes pessoais, os
artigos ('o que está próximo” oposto a 'o que está distante") são dêiticos, constituem os aspectos indiciais da
linguagem.” (Dubois et alii: 2003, 167
EXEMPLO
• Eu aposto dez reais que irei à festa.
O que acontece com o verbo “apostar” em termos de significado? Considera-se que esse verbo é 'performativo”,
ou seja, para que a ação expressa pelo verbo aconteça, é preciso que alguém a enuncie: Se ninguém diz *eu
aposto”, o ato de apostar não existe.
EXEMPLO
• Viajarei nas férias, no entanto, não conte a ninguém.
Sabemos que *no entanto" é uma conjunção adversativa, mas qual é o valor dessa conjunção? Ela une ideias que
se opõem? Observando o valor dessa conjunção no exemplo, onde está o foco? A informação mais importante
não é o fato de que eu vou viajar nas férias e sim que eu não quero que ninguém saiba sobre minha viagem.
EXEMPLO
• Minha filha não gosta de chocolate, ama-o.
Qual o foco? A negação? Na verdade, o uso do advérbio de negação “não” serve para demonstrar que o
significado do verbo “gostar” não é suficiente para representar a relação da minha filha com o chocolate: Ela não
gostade chocolate, ela ama chocolate.
4 Atos de fala – John Austin
A teoria dos atos de fala foi proposta por John L. Austin que considerava “[...] que a linguística se deixava levar
por uma ilusão descritiva [...]” (Fiorin: 2002, 170). Segundo ele, nem todas as sentenças podem ser julgadas
apenas em termos de verdade e falsidade. Desse modo, Austin propõe a Teoria dos Atos de Fala para discutir a
realidade da ação da fala, ou seja, a relação entre o que se diz e o que se faz.
Segundo Austin, temos dois tipos de afirmações:
• as afirmações constativas
• as afirmações performativas, a base para sua teoria dos atos de fala.
Afirmações constativas – São descrições de estados de coisas que podem ser:
• Exemplo: A blusa é verde
Essa afirmativa é verdadeira se a blusa for verde, e falsa se não existir o estado de coisas que descrevem.
•
•
•
•
•
•
- -7
Afirmações performativas – não são descrições de estados de coisas, mas executam atos que podem ter sucesso
ou fracassar. Para Austin, elas ocorrem na forma afirmativa, na 1ª pessoa do singular, no presente do indicativo e
na voz ativa afirmativa. Além disso:
a) Não descrevem nada e, por isso, não podem ser verdadeiros ou falsos.
b) Correspondem à execução de uma ação.
Vejamos duas sentenças:
• 1 – Eu jogo futebol.
• 2 – Eu me desculpo pelo que ocorreu.
O fato de jogar futebol independe de minha enunciação: Posso não dizer nada a ninguém e ainda assim jogar
futebol.
Só há o pedido de desculpas se eu enunciá-lo, ou seja, caso eu não diga ‘Desculpe-me’ esse verbo não terá efeito.
O que acontece quando enunciamos a sentença (1)? Em que a sentença (1) é diferente da (2), quando
consideramos os significados veiculados?
5 Condição de sucesso para os performativos
Segundo Austin, há ‘condições de sucesso’ para os performativos.
• Enunciação exige que o falante tenha certos sentimentos e intenções, é preciso que ele os tenha de fato.
Exemplo: Desculpe-me pelo atraso. Juro que vou pagar o que devo. Caso você não deseje se desculpar ou não
pretenda pagar a dívida, há um ato verbal.ro, vazio.
• Enunciação deve ser realizada integralmente pelos participantes: Há performativos que exigem outro 
para que sejam realizados.
Exemplo: Se eu digo “Aposto dez reais como vai chover.” É preciso que a pessoa com quem esteja falando diga
“Aceito.” para que o meu performativo seja realizado.
• Circunstâncias de enunciação adequadas: As pessoas e as circunstâncias devem ser adequadas para a 
realização do enunciado em questão.
Exemplo: “Aceitar” é um verbo performativo. Em um casamento, é necessário que os noivos enunciem “eu
aceito”, para que o ato de casar seja consumado. Se o irmão da noiva e não o noivo diz “aceito” na cerimônia de
casamento, o performativo é nulo.
• Enunciação deve ser executada corretamente pelos participantes: A fórmula incorreta torna nulo o 
performativo.
Exemplo: O Padre não pode dizer no batismo ‘Eu te perdoo’, no lugar de utilizar a fórmula correta “Eu te batizo”.
•
•
•
•
•
•
Fique ligado
O verbo pode ser performativo, mas expressar um enunciado do tipo constativo quando ocorre
- -8
Ele ordenou que ele saia. Eu ordenei que ele saísse. Você tinha mandado o aluno ficar quieto.
São constativos que descrevem a realização de um performativo por uma outra pessoa ou pelo próprio falante
em um tempo passado.
Há outras formas de realização de performativos?
Fiorin (2002: 172) nos mostra que Austin considera um enunciado como performativo quando esse enunciado
puder transformar-se em outro enunciado que tenha verbo performativo na 1ª pessoa do singular.
Vejamos os exemplos apresentados pelo autor:
6 O que é que se faz quando se diz alguma coisa?
Realizam-se três atos:
• Ato locucionário
É o que realiza enunciando uma frase; Ato linguístico de dizer.
Locucionar [do lat. , ‘locução’ + -ar] – dizer, pronunciarLocutione
• Ato ilocucionário
É o que se realiza linguagem; Tem um aspecto convencional, pois está marcado na linguagem; RefleteNA
a posição do locutor em relação ao que ele diz.
O verbo pode ser performativo, mas expressar um enunciado do tipo constativo quando ocorre
fora do formato 1º pessoa, singular, indicativo, voz ativa, afirmativa.
•
•
- -9
i ( = em) + Locucionar [do lat. , ‘locução’ + -ar] – dizer, pronunciarLocutione
• Ato perlocucionário
É o que se realiza PELA linguagem e produz certos efeitos e consequências sobre os/as alocutários/as,
sobre o/a próprio/a locutor/a ou sobre outras pessoas.
Per (= pela) + Locucionar [do lat. , ‘locução’ + -ar] – dizer, pronunciarLocutione
Exemplo
Eu estarei em casa hoje.
Ato locucionário: Conjunto de sons que se organizam para efetuar uma proposição que diz alguma coisa.
Ato ilocucional: Força que o enunciado produz, que pode ser de pergunta, afirmação, promessa etc.
Daquilo que sabemos
Ato perlocucionário: Efeito causado na pessoa que ouve o enunciado (Só o contexto desfaz um efeito ambíguo).
‘Agrado’ – gostaria de estar mais tempo com quem enunciou ‘Ameaça’ vai se sentir vigiada por aquela presença.
Exemplo
Advirto-o a não mais fazer isso.
Ato locucional de dizer, enunciar cada um dos elementos da frase.
Ato ilocucional de realizar o ato de advertência, que se realiza no próprio ato de dizer.
Ato perlocucional = ato locucional + ato perlocucional.
O que vem na próxima aula
• Os estudos de John Searle.
• As Máximas de Grice.
• A teoria das faces.
•
Saiba mais
Análise dos atos de fala nas tiras de Mafalda, Mônica Lopes Smiderle de Oliveira
Teoria dos atos de fala, Gustavo Adolfo da Silva (UERJ– UGF)
Uma nova concepção de linguagem a partir do percurso performativo de Austin, Eliane de
Fátima Manenti Rangel
•
•
•
http://www.filologia.org.br/xiicnlf/textos_completos/An%C3%A1lise%20dos%20atos%20de%20fala%20nas%20tiras%20de%20mafalda%20-%20M%C3%94NICA.pdf
http://www.filologia.org.br/viiifelin/41.htm
http://www.letramagna.com/elianedefatimamanentirangel.pdf
http://www.letramagna.com/elianedefatimamanentirangel.pdf
- -10
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• compreendeu a diferença entre semântica e pragmática;
• distinguiu frase e enunciado;
• aprendeu alguns aspectos da enunciação: Os dêiticos, os performativos, o uso de conectores e 
significados da negação;
• conheceu a teoria dos atos de fala proposta por Austin;
• distinguiu afirmações constativas de afirmações performativas;
• compreendeu os atos locucionários, ilocucionários e perlocucionários;
• conheceu os performativos implícitos dos performativos explícitos.
•
•
•
•
•
•
•
	Olá!
	1 Introdução
	2 Afinal, o que é pragmática?
	3 Frase e enunciado
	O conceito de ato.
	O conceito de contexto
	O conceito de desempenho.
	4 Atos de fala – John Austin
	5 Condição de sucesso para os performativos
	6 O que é que se faz quando se diz alguma coisa?
	Ato locucionário
	Ato ilocucionário
	Ato perlocucionário
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

Continue navegando