Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tutoria 4 - Módulo 2 1. Entender o climatério (fases, mecanismo fisiológico {Fisiopatologia?}, quadro clínico) Dos 40 aos 65 anos, aproximadamente, as mulheres vivenciam uma fase complexa da vida, denominada climatério. Trata-se de uma síndrome que se instala aos poucos, com sintomas que variam quanto ao tipo e à intensidade, e que afeta o organismo como um todo. Durante esse período, os ovários perdem progressivamente sua capacidade de produzir hormônio e de promover ciclos ovulatórios. A transição menopáusica, também chamada perimenopausa, caracteriza-se por ser um período de mudanças fisiológicas à medida que as mulheres se aproximam do final da fase de vida reprodutiva. Esse período de transição menopáusica tem uma importância clínica evidente, caracterizada pelo aparecimento de comorbidades e mudanças na qualidade de vida. É nessa fase que as mulheres podem apresentar sintomas vasomotores (p. ex., fogachos e sudorese), assim como transtornos do sono, depressão, variação de humor. Os sintomas urogenitais, a piora da qualidade óssea, as alterações no metabolismo lipoproteico e o aumento do risco cardiovascular recebem igualmente contribuição do hipoestrogenismo subjacente, ainda que se manifestem mais adiante e também contribuam para piora na qualidade de vida e afetem envelhecimento saudável. O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o período de vida da mulher compreendido entre o final do período reprodutivo até a senilidade, considerado o período não reprodutivo. Apresenta duração variável, mas em geral, ocorre entre 40 a 65 anos. Fisiopatologia: ● Alterações do Eixo Hipotálamo-hipófise-ovários: Durante a vida reprodutiva da mulher, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) é liberado de forma pulsátil pelo hipotálamo e se liga aos seus receptores na hipófise para estimular a liberação cíclica das gonadotrofinas: LH e FSH. Essas gonadotrofinas, por sua vez, estimulam a produção de estrogênio e progesterona, e também do peptídeo hormonal inibina. Durante o ciclo reprodutivo da mulher, o estrogênio e a progesterona exercem feedback positivo e negativo sobre a produção das gonadotrofinas hipofisárias e sobre a amplitude e a frequência da liberação de GnRH. Já a inibina exerce uma importante influência no feedback negativo sobre a secreção de FSH pela adeno-hipófise. Esse sistema endócrino rigorosamente regulado produz ciclos menstruais ovulatórios regulares e previsíveis, como descrito abaixo: Figura 2. Regulação por feedback do eixo hipotála-mo-hipófise-ovariano em mulheres. Os efeitos estimulatórios são indicado por (+) e os efeitos de feedback negativo estão indicados por (-). Os estrogênios e as progestinas exercem tanto os efeitos do feedback positivo quando do negativo, na hipófise anterior e no hipotálamo, dependendo do estágio do ciclo ovariano. A inibina tem efeito de feedback negativo na pituitária anterior. Fonte: Guyton et al. Tratado de fisiologia médica. 13 ed. Rio de Janeiro. (2017) Durante a vida produtiva da mulher, o eixo hipotálamo-hipofisário sofre alterações no metabolismo dopaminérgico e diminuição dos receptores estrogênicos. No final da transição menopáusica, a mulher passa a apresentar redução da foliculogênese e maior incidência de ciclos anovulatórios. Além disso, nesse período, os folículos ovarianos sofrem uma taxa acelerada de perda até que, finalmente, ocorre um esgotamento no suprimento de folículos, reduzindo ainda mais a secreção de inibina. Com a insuficiência ovariana na menopausa, a liberação de estrogênio cessa, ativando o feedback negativo. Como consequência, o GnRH é liberado com frequência e amplitude máximas, sendo assim, os níveis circulantes de FSH e LH aumentam e se tornam quatro vezes maiores que no ciclo reprodutivo. A etiopatogenia deste período envolve todo o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, mas a maior importância é concentrada nas alterações dos folículos ovarianos. A partir do quinto mês de desenvolvimento fetal inicia-se a atresia (inovulação) folicular, que continua até a menopausa. Durante o climatério, há o desaparecimento completo dos folículos e das células germinativas, marcando a esterilidade definitiva, com diminuição progressiva de estrógeno e da inibina. Por outro lado, por mecanismo feedback aumentam-se FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante) na tentativa de manter a foliculogênese. Esses altos níveis de gonadotrofinas levam à atrofia estromal e maior produção de androgênios, que serão convertidos em estrona - principal hormônio da mulher no climatério. Além disso, o envelhecimento do eixo hipotálamo-hipófise acarreta alterações no metabolismo dopaminérgico e diminuição dos receptores estrogênicos. Essas modificações se apresentam como insuficiência do corpo lúteo, determinando irregularidades menstruais e evoluindo mais tardiamente para amenorreia, por anovulação temporária ou definitiva. Quadro Clínico: Embora o climatério e a menopausa sejam eventos fisiológicos na biologia da mulher, o aparecimento ou não de sintomas dependerá não somente de variações hormonais próprias desse período, mas também de fatores socioeconômicos. No período do climatério ocorrem alterações na fisiologia da mulher, caracterizadas por alterações hormonais, modificações funcionais, como disfunções menstruais e sintomas vasomotores,modificações morfológicas, como atrofia mamária e urogenital, alterações da pele e mucosas, além de alterações em sistemas hormônio-dependentes, como o cardiovascular e esquelético. Tais mudanças repercutem na saúde geral da mulher, podendo alterar sua autoestima e qualidade de vida, e também na longevidade. ● Manifestações menstruais: No período da perimenopausa o intervalo entre as menstruações pode diminuir devido ao rápido amadurecimento dos folículos, o que ocorre pelos elevados níveis de gonadotrofinas ou os intervalos menstruais podem estar aumentados pela persistência dos níveis de estrógeno e ausência de progesterona. Quando ocorre a menstruação, como o endométrio está hiperplasiado por essas alterações hormonais, o sangramento pode ser abundante e com maior duração. ● Manifestações neurogênicas /vasomotoras: As manifestações neurogênicas compreendem os sintomas mais comuns da síndrome do climatério: ondas de calor, conhecidas como fogachos, sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesia, insônia, perda da memória e fadiga. O fogacho é o segundo sintoma mais frequente na perimenopausa, sendo experimentado por cerca de 80% das mulheres. A sua frequência não segue um padrão, podendo ser diário, semanal ou mensal. Cessa, na maioria das vezes, sem que qualquer tratamento seja feito, entretanto, algumas mulheres irão experimentar estes desconfortos por vários anos após a menopausa. A patogênese dos fogachos não é conhecida, mas é aparentemente originária no hipotálamo e pode estar relacionada com a queda estrogênica, levando à formação diminuída de catecolestrógenos no cérebro. Outra hipótese é que a diminuição nos níveis estrogênicos levaria à queda nas concentrações dos receptores de β-endorfinas, resultando na perda da inibição da atividade noradrenérgica e, consequentemente, estimulação dos neurônios produtores de GnRH. A maioria das mulheres que experimenta os fogachos descreve sensações de ondas de calor que ocorrem no tórax, pescoço e face, esse desconforto dispara a resposta termorreguladora normal para o calor, incluindo sudorese e vasodilatação cutânea, o que leva à ruborização da pele. ● Alterações no ciclo menstrual: A queixa mais frequente na transição menopausal é a irregularidade menstrual, com alteração na intensidade do fluxo, na duração ou frequência da menstruação. Essa irregularidade reflete os ciclos anovulatórios cada vez mais comuns e, por consequência, as alterações no padrão de secreção tanto do estrogênio quanto da progesterona tendem a se iniciar com encurtamento dos ciclos e progredir para períodos de amenorreia cada vez mais longos até a parada total. A amenorreia prolongada é característica da deficiênciade estrogênio. O padrão de fluxo menstrual também pode variar, sendo comum ocorrer sangramento aumentado. ● Sintomas vasomotores: Compreende os episódios de fogachos e suores noturnos, resultando no sintoma mais comum da transição menopausal e pós-menopausa inicial, sendo referido por mais de 80% dessas mulheres. O fogacho se manifesta como uma súbita sensação de calor intenso que se inicia na face, pescoço, parte superior dos troncos e braços, e se generaliza; além disso, é seguida por enrubecimento da pele e subsequente sudorese profusa. Observa-se aumento do fluxo sanguíneo cutâneo, taquicardia, aumento da temperatura da pele devido à vasodilatação e, eventualmente, palpitações. Além do impacto negativo na qualidade de vida, os sintomas vasomotores parecem estar associados ao aumento de risco cardiovascular, ósseo e cognitivo. A fisiopatologia exata do fogacho não é conhecida. Entretanto, sabe-se que a redução dos níveis séricos estrogênicos provoca alterações em neurotransmissores cerebrais causando instabilidade no centro termorregulador hipotalâmico, tornando-o mais sensível a pequenos aumentos da temperatura corporal relacionados a alterações intrínsecas e ambientais. Outros fatores parecem estar relacionados, entre eles as alterações nas concentrações hormonais e nos sistemas serotoninérgico, noradrenérgico, opioide, adrenal e autonômico. Cada episódio dura aproximadamente de 2 a 4 minutos e ocorre diversas vezes no decorrer do dia. É particularmente comum à noite, prejudicando a qualidade do sono e contribuindo para irritabilidade, cansaço durante o dia e diminuição na capacidade de concentração. Sabe-se que 87% das mulheres sintomáticas têm episódios diários de fogachos, e 33% delas apresentam mais de 10 episódios por dia. ● Alterações do sono: Distúrbios do sono, incluindo menor duração, aumento nos episódios de despertar noturno e menor eficácia do sono, estão presentes em até metade das mulheres na pós-menopausa, com ênfase ao período perimenopáusico, devido às flutuações hormonais. Sabe-se que os fogachos têm papel definido no quadro clínico, pois os episódios noturnos aumentam o número de despertares noturnos, contribuindo para um sono de menor qualidade. Porém, além da percepção das alterações no sono, há evidências objetivas por meio da polissonografia comprovando alterações no padrão sonográfico dessas mulheres. ● Alterações do humor: Os sintomas depressivos são relatados por 65% a 89% das mulheres que buscam atendimento no período do climatério. O mecanismo responsável pelo aumento do risco ainda é desconhecido, porém a variação dos níveis séricos de estrogênio parece estar mais associada com efeitos depressivos do que com a própria concentração hormonal absoluta. As mudanças evidentes desse período, a perda da capacidade reprodutiva e o próprio envelhecimento propiciam distúrbios psicológicos associados, que também podem contribuir para o quadro depressivo ou ansiolítico. ● Alterações cognitivas: Durante a transição menopausal, há marcado aumento nas queixas referentes ao declínio das funções cognitivas, com ênfase nas queixas de diminuição da atenção e alterações da memória (Wender et al., 2014). Na perimenopausa, 44% das mulheres reportam esquecimento; curiosamente, na perimenopausa tardia e na fase pós-menopausal esse percentual cai para 41%. No menacme, 31% das mulheres apresentam essa queixa. Também há queixas de piora na perda de memória verbal, processamento rápido das informações e demência (Maki e Henderson, 2016). Modificações no âmbito cognitivo são mais prevalentes com o passar dos anos. Contudo, o envelhecimento de forma isolada não explica as alterações percebidas no período peri e pós-menopáusico de forma completa. Sabe-se que o estrogênio tem papel modulatório nos sistemas neurotransmissores, influenciando o desempenho nas tarefas de aprendizagem e memória. Sua ação no hipocampo e lobo temporal também já é conhecida (Maki e Henderson, 2016). Apesar de o hipoestrogenismo estar intimamente relacionado a essas alterações, a fase de transição – caracterizada por oscilações nos níveis hormonais – parece ser a mais sintomática, já que, após o período de piora da performance cognitiva na perimenopausa, se observa o retorno da capacidade usual no período pós-menopausa (Maki e Henderson, 2016) ● 2. Conhecer a menopausa e diferenciá-la de climatério; Define-se menopausa como sendo o último período menstrual, identificado retrospectivamente após 12 meses de amenorreia. Ocorre, em média, aos 50 anos de idade, independentemente de idade da menarca, história familiar, paridade ou uso de contraceptivos anovulatórios, e em alguns casos pode antecipar-se em até 2 anos em mulheres tabagistas. Pode, consoante a maneira como ocorre, ser classificada como menopausa natural, também chamada menopausa espontânea, e menopausa induzida, nos casos de cirurgias, radioterapia ou quimioterapia 3. Relacionar o climatério e a menopausa com a osteopenia e a osteoporose; CONSEQUÊNCIAS DO HIPOESTROGENISMO Receptores estrogênicos existem em diferentes concentrações em vários locais do organismo – como pele, ossos, vasos, coração, diversas regiões do cérebro, mama, útero, vagina, uretra e bexiga – e a redução nos níveis de estrogênio circulante gera efeitos diferentes para cada mulher. As características individuais determinam perfis diferentes de biodisponibilidade de estrogênios com repercussões próprias no metabolismo e quadro clínico-laboratorial de cada paciente, podendo resultar no comprometimento da qualidade de vida. Apenas em torno de 15% das mulheres não apresentaram sintomas no período do climatério. ● Alterações ósseas e articulares: A osteoporose é uma doença sistêmica caracterizada pela diminuição da densidade óssea e alterações em sua microarquitetura, levando à fragilidade e predispondo a fraturas por baixo impacto (Radominski et al., 2017; NIH, 2001). O equilíbrio entre formação e reabsorção óssea está afetado, resultando em perda de massa óssea de forma acelerada. O hipoestrogenismo tem papel importante nesse mecanismo. Sua importância está na altíssima frequência em que ocorre e nas graves consequências relacionadas às fraturas osteoporóticas – altos custos, dor crônica, deformidades, limitações na mobilidade, consequências psicológicas e morte (Radominski et al., 2017). Aos 50 anos, 1/3 das mulheres terão uma fratura. Sua prevalência e incidência aumentam de forma exponencial com a idade. Receptores de estrogênio foram isolados nas articulações e sabe-se que sua ação nesses tecidos protege a estrutura biomecânica, porém ainda é controversa a associação da insuficiência estrogênica com a evolução das doenças que envolvem as cartilagens e as articulações (Wender et al., 2014). Evidências sugerem que o estrogênio exerce efeitos positivos sobre o metabolismo dos ossos, dos músculos e da sinóvia, que, em conjunto, melhoram a saúde das articulações (Wender et al., 2014). Estudos, incluindo o Women’s Health Initiative (WHI), demonstraram que mulheres em uso de TH queixaram-se menos de artralgia quando comparadas àquelas em uso de placebo, porém o exato efeito do estrogênio nas alterações articulares ainda é controverso ● O estrogênio pode exercer parte dos seus efeitos antirreabsortivos no osso por meio da estimulação da expressão da osteoprotegerina em osteoblastos e osteócitos. O estrogênio tem papel central na remodelação óssea e sua deficiência acarreta predomínio da reabsorção óssea sobre a formação, decorrente de aumento da osteoclastogênese e também da sua maior sobrevida e, dessa forma, leva à perda progressiva da massa óssea. 4. Entender o tratamento para o climatério e conhecer suas contra indicações. O tratamento é focado no alívio de sintomas climatéricos, sendo os principais sintomas tratados os fogachos e a secura vaginal. A terapia de reposição hormonal (TRH) continua sendo uma possibilidade terapêutica importante para mulheres no climatério, devendo-se sempre lembrar que quando bem indicada, ela deve fazer parte de uma estratégia global que incluarecomendações concernentes a atividade física, alimentação saudável, combate ao tabagismo e ao excesso de peso, entre outros. A orientação é tratar as sintomáticas com menopausa menor que 10 anos ou abaixo dos 60 anos, sendo contraindicada nos casos de câncer de mama, doença hepática ativa, Ca de mama e endométrio, porfiria, sangramento vaginal de causa desconhecida, doenças coronarianas ou cerebrovascular, LES, meningioma, histórico de trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral. O principal hormônio utilizado na terapêutica é o estrogênio, que é o melhor para minimizar os fogachos. A reposição hormonal pode ser por esquema puro estrogênico ou combinado a progesterona. Em pacientes histerectomizadas a reposição deve-se apenas por estrogênio, em contra partida, mulheres com útero a terapêutica é combinação do estrogênio e da progesterona, já que a progesterona é usada para proteção endometrial. Ao se indicar e escolher a forma apropriada de reposição hormonal a cada caso deve-se levar em conta os seguintes parâmetros fundamentais: - Janela de oportunidade para início da terapia de reposição hormonal; A Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC) cunhou em 2004 o termo “janela de oportunidade”, indicando que haveria um momento propício para o início da terapia de reposição hormonal após a menopausa. Dessa forma, a terapia de reposição hormonal deveria ser iniciada nos primeiros meses ou anos após a menopausa para que se pudesse pensar em ausência de risco cardiovascular. Enquanto isso, a International Menopause Society (IMS) publicou recomendações em 2007 que consideraram a existência de tal “janela de oportunidade”. Segundo a posição oficial da IMS, não há evidência de benefício da terapia de reposição hormonal em doença cardiovascular instalada, mas existe potencial para prevenção se iniciada na transição menopáusica, no entanto, não se recomenda a indicação da terapêutica apenas com a finalidade de proteção cardiovascular. - Vias de administração da terapia de reposição hormonal; - Esquemas de terapia de reposição hormonal propriamente ditos;
Compartilhar