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TEMA 4

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LITERATURA BRASILEIRA III
O MODERNISMO LITERÁRIO NO BRASIL – 
A SEGUNDA FASE MODERNISTA
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Verificar as propostas da segunda fase modernista; 2. reconhecer o
amadurecimento literário da segunda fase modernista; 3. identificar a produção poética de Carlos Drummond de
Andrade e Murilo Mendes.
A segunda geração modernista apresenta uma nova postura em relação ao universo artístico e literário. A
necessidade de chocar o público, de destruir o passado literário já não é mais o objetivo desta geração.
Os poetas da década de 30 estão com seus interesses voltados para os temas sociais de seu tempo. Estar no
mundo, ter de se confrontar com a realidade passam, também, a ser temas abordados pelos poetas desta
geração.
Podemos dizer que, em 1930, as propostas defendidas pela fase heroica foram consolidadas. O verso livre, a
poesia sintética, a afirmação de uma língua nacional, brasileira, a abordagem de temas do cotidiano se fazem
presentes.
A segunda geração modernista, por não precisar combater os dogmas artísticos e literários do passado nem se
autoafirmar, pode, com muita tranquilidade, reutilizar recursos poéticos que eram inadmissíveis para a primeira
geração. Foram revalorizados os versos regulares, a métrica, as formas fixas, como exemplo, podemos citar o
soneto, a balada, o rondó e o madrigal.
Muitos podem estar pensando que a segunda geração modernista é, na verdade, uma geração antimodernista
dentro do próprio cenário modernista. Mas é puro engano.
Estes poetas da segunda geração levaram tão a sério as lições da poesia da primeira fase que, com maturidade,
adotaram, nas suas produções poéticas, a liberdade de expressão. E se estamos falando em liberdade de
expressão, por que os poetas da segunda geração não poderiam lançar mão dos recursos estilísticos que lhes
agradassem?
Ao nos depararmos com os poemas desta geração, podemos perceber uma nova preocupação de nossos artistas:
os seus poemas passam a questionar a realidade. Neste questionamento, esses artistas também questionam seu
papel como indivíduo e como artista na sua “tentativa de explorar e de interpretar o estar-no-mundo”.
Dessa forma, a literatura passa a ser mais politizada, se aproxima dos temas sociais de seu tempo. E por falar em
tempo, cabe traçar um breve panorama dos acontecimentos políticos no mundo e no Brasil para entendermos
melhor as problematizações abordadas, por nossos poetas, em suas obras.
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A década de 1930 vivencia a crise iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York (1929). Logo em seguida, vem o
colapso do sistema financeiro internacional, é o período da Grande Depressão. É neste período que ocorrem as
paralisações nas fábricas, falências bancárias, índice de desemprego elevadíssimo, fome e miséria. Os países,
para conter as crises internas, recorrem à intervenção estatal.
Além de problemas econômicos, a Grande Depressão gera problemas no âmbito social: avanço dos partidos
socialistas e comunistas, o que provoca choques ideológicos com a classe burguesa que passa a desejar um
Estado autoritário, um Estado fascista. Como exemplo, podemos citar o ditador italiano Mussolini, Hitler, na
Alemanha, Franco, na Espanha e Salazar, em Portugal.
O desenvolvimento de regimes nazifascistas, o armamentismo e as derrotas sofridas na Primeira Grande Guerra
(1914 – 1918) levam o mundo para a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) e também para outras atrocidades
como ao ataque atômico a Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Enquanto isso, no Brasil, Getúlio Vargas inicia sua ditadura em 10 de novembro de 1937 – o chamado Estado
Novo - e só termina com a renúncia do presidente, em 1945. Este período foi marcado por um nacionalismo
conservador, anticomunista e antidemocrático.
É nesse clima que Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) e Murilo Mendes (1901- 1975) lançam seus
poemas inscritos na segunda geração modernista.
Em 1928, Carlos Drummond de Andrade, afinado com o grupo da primeira geração modernista, publica, na 
, o poema No meio do caminho.Revista de Antropofagia
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Antônio Cândido, em , analisa este poema visto anteriormente da seguinte forma:Vários escritos 
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“a sociedade oferece obstáculos que impedem a plenitude dos atos e dos sentimentos. A leitura optativa a partir
do terceiro verso (que se abre para os dois lados, sendo fim do segundo ou começo do quarto) confirma que o
meio do caminho é bloqueado topograficamente pela pedra antes e depois, e que os obstáculos se encadeiam
sem fim”.
No Meio do Caminho, na época de sua publicação, provocou um verdadeiro escândalo. Hoje em dia não suscita
emoções tão fortes, mas ainda é muito apreciado. Veja a homenagem que o poeta angolano José Luís Mendonça
fez para Drummond:
Poesia verde
Para Carlos Drummond de Andrade
No meio do caminho nunca houve uma só pedra
As pedras nascem na boca e a boca é o seu caminho
Das pedras que comemos as cidades ainda falam
pelos cotovelos da noite Não eram pedras eram pedras
com cabeça tronco e sexo Pariram fábricas
de pedras montadas sobre a língua E as pedras comeram
a pedra que restou no meio do caminho
Drummond, além de poeta, foi contista e cronista, mas foi na poesia que o poeta mais se destacou.
Como sua produção é bem rica, didaticamente costuma-se dividir suas obras em fases: gauche, social, o signo do
não e tempo da memória.
Nesta aula, veremos as duas primeiras.
A fase gauche
Os livros que representam esta fase são dois: Alguma poesia (1930) e Brejo das Almas (1934). Ainda estão
presentes, nestas obras, alguns recursos adotados pelos poetas da primeira fase modernista tais como a ironia, o
humor, o poema-piada e a linguagem coloquial. Veja como o poema Cota Zero se aproxima dos poemas-pílula
que Oswald de Andrade produzia nos anos 20. (https://poesiaspoemaseversos.com.br/2014/05/07/cota-zero-
carlos-drummond-de-andrade/)
Cota Zero
Stop.
A vida parou ou foi o automóvel!
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A essência desta primeira fase da poesia de Drummond é o gauchismo: termo de origem francesa que, quando
aplicado a seres humanos, significa “aquele que se sente às avessas, torto”. Podemos perceber nos poemas
drummondianos, desta fase, a presença do pessimismo, do individualismo, da reflexão existencial, da ironia.
Drummond fazia uso, também, da metalinguagem. O Poema de Sete Faces pode ser chamado de carro-chefe do
gauchismo.
E mais!
Este poema de Drummond inspirou Chico Buarque a ponto de ele compor Até o fim, canção que estabelece uma
relação intertextual com o Poema de Sete faces. Vamos ouvi-la?
LINK
https://som13.com.br/chico-buarque/ate-o-fim
1 A próxima fase é a fase social
Sentimento do mundo (1940) é o livro que representa a fase social de Drummond. Segundo depoimento do
próprio poeta, com este livro, ele acreditava ter resolvido as contradições elementares de sua poesia.
Nessa fase, Drummond deixa de lado o gauchismo e passa a se preocupar com problemas da vida social. Com
certeza, esta mudança temática relaciona-se ao contexto político do momento: o nazifascismo europeu, a
Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo, no Brasil, com a ditadura de Vargas, como já tivemos a oportunidade
de ver no início desta aula.
Drummond nutre, nesta fase, um sentimento de solidariedade diante das frustrações e das esperanças dos
homens. Produz, em meio à Segunda Guerra Mundial, um poema que, para muitos críticos e teóricos da literatura
brasileira, representa o melhor de nossa poesia social. Vamos conhecê-lo? http://estaciodocente.webaula.com.br
/cursos/gon106/pdf/os_cortejos_Aula2.pdf
Murilo Mendes, entre outros poetas e artistas, na década de 30, faziaparte de um grupo católico que defendia a
renovação do catolicismo e da arte. O poeta acreditava que o cristianismo politizado e envolvido com as questões
do dia a dia era a única via capaz de fazer valer a justiça, paz e igualdade social.
Murilo Mendes, em seus poemas, cultivou a poesia metafísico-religiosa, a poesia social, e a poesia surrealista.
Para muitas pessoas, Murilo Mendes é considerado um escritor difícil. Talvez este adjetivo se deva pelo fato de
que sua poesia causa estranhamento pela utilização de uma linguagem fragmentada, pela presença de imagens
insólitas e pela visão messiânica do mundo. Na concepção de Murilo Mendes, o mundo é o próprio caos e isto fica
evidente em seus poemas, pois há sempre a subversão da ordem das coisas instituídas para reorganizá-las de
acordo com leis próprias.
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Poemas (1930), obra de estreia de Murilo Mendes, já apresenta dilaceração do sujeito e conflito, estados de
lucidez e delírio. Em 1932, Murilo publicou (1932), uma obra de cunho nacionalista sob oHistória do Brasil 
viés ufanista-irônico (1941) é a obra em que estão presentes sugestões surrealistas e atmosfera. Visionário
onírica. Em 1935, o poeta escreveu com Jorge de Lima, . Esta obra marca a fase deTempo e eternidade
conversão do Murilo ao cristianismo.
A pescaria
Foi nas margens do Ipiranga,
Em meio a uma pescaria,
Sentindo-se mal, D. Pedro
Comera demais cuscuz
Desaperta a braguilha
E grita, roxo de raiva:
“Ou me livro desta cólica
Ou morro logo de uma vez!”
O príncipe se aliviou,
Sai no caminho cantando:
“Já me sinto independente.
Safa! Vi de perto a morte
Vamos cair no fadinho
Pra celebrar o sucesso.”
A Tuna de Coimbra surge
Com as guitarras afiadas,
Mas as mulatas dengosas,
Do Clube Flor de Abacate
Saiba mais
Vejamos, agora, alguns poemas do autor e a tela surrealista de Magritte: http://estaciodocente.
webaula.com.br/cursos/gon106/pdf/poema_dialetico.pdf
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Entram, firmes no maxixe
Abafam o dado com a voz,
Levantam, sorrindo as pernas...
E a colônia brasileira,
Toma a direção da farra.
Para encerrarmos a nossa aula, convém mencionar que Cecília Meireles, Jorge de Lima e Vinícius de Morais
também fizeram parte desta segunda fase modernista.
O que vem na próxima aula
• O modernismo literário da terceira fase;
• a produção literária representativa de Guimarães Rosa;
• a produção literária representativa de João Cabral de Melo Neto.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu as propostas da segunda fase modernista;
• reconheceu o amadurecimento literário da segunda fase modernista;
• analisou poemas representativos da segunda fase modernista.
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