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Mairiz David da Silva
CONSUMISMO SOCIAL
Consumo, segundo o antropólogo argentino Nestor Canclini, pode ser definido como o conjunto de processos socioculturais nos quais se realizam a apropriação e os usos dos produtos para atender às necessidades de sobrevivência humana. A atividade de consumir passou a ser o ponto central da existência humana quando a capacidade de 'querer', 'desejar', 'ansiar por' e, particularmente, de experimentar tais emoções repetidas vezes passou a sustentar a economia mundial.
Inúmeros autores dedicaram seu tempo a estudar o fenômeno da globalização e sua relação com o consumo. Como o geógrafo brasileiro Milton Santos que considera a existência de pelo menos três mundos num só. Em seu livro, o autor enfoca, através de constatação pessimista, a questão da globalização, para logo após finalizar com uma visão prognostica positiva, resultante do exercício dialético, visando encontrar nas contradições da sociedade atual, possibilidades de superação da mesma.
Um dos fatores que impulsionam o consumo descontrolado é a chamada obsolescência programada. Trata-se de uma estratégia dos produtores em desenvolver produtos que simplesmente param de funcionar ou se tornam obsoletos em um curto prazo de tempo. Assim, os consumidores são levados a adquirir versões mais novas do bem ou serviço em questão.
Podemos dividir esse fenômeno em obsolescência técnica ou psicológica. Na primeira classificação, os aparelhos simplesmente param de funcionar, obrigando os clientes a comprarem um novo produto. O melhor exemplo de obsolescência técnica foi um cartel organizado na década de 20 entre produtoras europeias e americanas de lâmpadas. Seus produtos tinham vida útil reduzida, o que objetivava aumentar as vendas.
Já a obsolescência psicológica acontece quando o consumidor, mesmo com um produto em perfeito estado de conservação, sente-se insatisfeito com a mercadoria. Isso geralmente ocorre porque o dono do produto considera o mesmo ultrapassado por conta do lançamento de novos produtos em curto prazo de tempo. Assim como nos lançamentos dos iPhones, por exemplo, os quais a cada ano são atualizados, gerando o desejo de ter o mais recente.
Outro fator que influencia o crescimento do consumo descontrolado é a chamada Indústria Cultural, termo que foi criado na Escola de Frankfurt por Theodor Adorno e Max Horkheimer. Eles chegaram à conclusão de que a Indústria Cultural obtém lucro a partir da imposição de padrões de interesses. Dessa forma, criam-se padrões de comportamentos de consumo para atender a demanda de venda das empresas.
A publicidade e a propaganda assumem papel determinante nesse modelo global de mercado. Nesse contexto, a produção passa por transformações que alteram a maneira como o sujeito se relaciona com os outros, consigo mesmo e com a mercadoria. Essa última relação é abordada por Carlos Drumond de Andrade, no poema Eu, Etiqueta. As palavras do poeta tão bem dispostas levam a reflexões importantes que culminam na pergunta: Você é uma coisa?
Os impactos do consumismo excessivo são vários. De todas as consequências do consumismo, a mais grave está relacionada com o meio ambiente. Isso porque para atender a demanda da produção e do consumo é necessário retirar matérias-primas da natureza, fabricar e transportar materiais, fazer grande uso de energia elétrica e de água. Tudo isso gera emissão de gases poluentes, degradação e devastação ambiental, poluição geral e, consequentemente, a destruição de ecossistemas.
Além das consequências ambientais, tem as consequências sociais: muitas pessoas relacionam de forma extrema o sentimento de satisfação e alegria com o ato de comprar sem necessidade. Isso pode ser caracterizado como uma compulsão ou vício, semelhante ao sentido por usuários de drogas ou alcoólatras. Em casos mais graves, essa compulsão pode se tornar uma doença – a chamada oneomania. É um desejo de possuir, de ter poder, que fica reprimido. Ao não conseguir dar vazão ao seu desejo, a pessoa sofre uma enorme pressão interna que a leva à necessidade de possuir coisas novas como única forma de prazer.
Tendo em vista tudo isso, tem-se as consequências econômicas, as quais podem acarretar no comprometimento financeiro familiar por meio de uma quantidade excessiva de dívidas, contraídas por meio da compra de produtos desnecessários e supérfluos. Nesse contexto, entender que as atitudes humanas desencadeiam diversos efeitos colaterais para a natureza é imprescindível para desenvolver um consumo consciente. Entretanto, entender que essa prática do consumo insustentável, que hoje nos parece tão natural, tem origens e conceitos pode ser ainda mais efetivo para elucidar a diferença entre a necessidade real e a necessidade construída.
Com a emergência das questões ambientais e a associação do consumismo ao desperdício, novas tendências têm surgido na sociedade. A sustentabilidade, assim como a conscientização, insere-se no pensamento das pessoas e o consumidor tende a não mais se submeter às regras do mercado.
O consumo consciente acontece quando se consegue recursos para utilizá-los na satisfação das necessidades. Nessa filosofia, obter recursos acima das suas necessidades não faz sentido. Esse comportamento se relaciona com todas as áreas da vida: seja utilizando recursos naturais, seja comprando alimentos, seja para qualquer outra coisa. Remover os excessos é fundamental na rotina de um consumidor consciente. Consumir de forma consciente não se trata apenas de comprar o essencial, mas sim de buscar alternativas menos agressivas ao meio ambiente, beneficiando tanto a sua vida pessoal quanto a sociedade como um todo.
REFERÊNCIAS
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