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Estratégias de Negociação Gustavo Magalhães de Oliveira Artigo científico ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO: DA ORIGEM À APLICAÇÃO Gustavo Magalhães de Oliveira* RESUMO O presente artigo visa discutir o tema de Estratégias de Negociação, de modo que foi feita uma divisão em três diferentes capítulos para alcançar esse objetivo. O primeiro capítulo apresenta uma visão geral do tema, com a definição do conceito de negociação, suas características básicas e a influência do fator emocional e psicológico. O segundo capítulo amplia essa perspectiva e descreve diferentes estratégias e táticas de negociação, com variação do contexto, com enfoque no ambiente empresarial e comercial, além de detalhar o método de Negociação de Harvard. O terceiro capítulo traz os fatores que podem levar ao sucesso em uma negociação e a dualidade do competir versus cooperar, além de posicionar a negociação como uma ferramenta de administração de conflitos. Palavras-chave: Estratégias de negociação. Fator psicológico e emocional. Método de negociação de Harvard. Competir e cooperar. Administração de conflitos. INTRODUÇÃO A análise de Estratégias de Negociação inicia-se a partir dos conceitos de negociação e as características básicas. O desenvolvimento posterior foca nos aspectos psicológicos e emocionais, na relevância da comunicação, na construção de confiança e credibilidade, na importância da resiliência e na capacidade de adaptação frente a cenários incertos. Busca-se apresentar diferentes técnicas e táticas de estratégias de negociação. Para isso, o artigo detalha e dá maior atenção a um modelo reconhecido nas relações de conflito e negociação contemporâneas: o modelo *Doutor em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). de negociação Integrativa, também conhecido como Método de Negociação de Harvard. Por fim, com o olhar na administração de conflitos, são expostas as condições nas quais as estratégias de competição ou cooperação surgem, ou seja, quando competir e quando cooperar. 1. NEGOCIAÇÃO: CONCEITO, ASPECTOS BÁSICOS E INFLUÊNCIA PSICOLÓGICA E EMOCIONAL Você já deve ter percebido que as negociações fazem parte do nosso cotidiano, pois constantemente precisamos tomar decisões para os mais variados assuntos. A negociação é um tema tradado em diversos momentos a partir da interação de indivíduos, de modo que vem ganhando notoriedade em diferentes campos do conhecimento. Sendo assim, é necessária uma definição precisa e uma exposição das características comumente utilizadas nessas perspectivas1. Dito isso, as subseções seguintes visam elucidar um conceito claro de negociação e seus aspectos básicos. Na sequência, há uma descrição de como a negociação é influenciada por diferentes fatores psicológicos e emocionais. 1.1 Definição de negociação Negociação pode ser vista como um processo de tomada de decisão no qual as partes envolvidas discutem os termos em questão e chegam a um consenso vantajoso para todos, destacando os interesses comuns e as diferenças entre elas naquele contexto2. Ou seja, negociação é um processo de conciliação entre interesses divergentes e convergentes entre duas ou mais partes. Para Lewicki, Saunders e Barry (2014), um importante passo para entender o conceito de negociação é separar esse termo do seu usual sinônimo, a barganha. Enquanto que a negociação assume o conceito exposto anteriormente, a barganha é vista como um episódio no qual uma das partes alcança mais benefícios, isto é, sai “vitoriosa”. 1.2 Aspectos básicos de negociação Visando identificar o perfil do negociador e esboçar um cenário eficiente para negociação, há alguns aspectos básicos a serem considerados, tais como: verificar as divergências pessoais entre as partes envolvidas e adequá- las para aquele cenário de negociação; comunicar-se claramente e com argumentos objetivos; realizar reflexões analíticas com capacidade de adequação de acordo com cenários de alto risco; desenhar soluções alternativas para cenários de alta complexidade; levantar questionamentos visualizando possíveis problemas futuros, conseguir interpretar o papel da outra parte, ou seja, ter empatia para entender os valores e ideias envolvidos nas decisões do outro; administrar momentos de ansiedade e os obstáculos 1W. M. Negociação. Rio de Janeiro; São Paulo: Editora Record, 2004. 2L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 3. emocionais que emergem; ser criativo; demonstrar capacidade de convencimento sem uso do poder coercitivo; e, por fim, porém tão relevante quanto, deter habilidades de raciocínio com foco no longo prazo3. Lewicki, Saunders e Barry (2014) apresentam seis características básicas de uma negociação: 1) Negociações envolvem duas ou mais partes, sendo um processo de interações entre pessoas, individualmente ou coletivamente. 2) Negociações ocorrem em torno do conflito de necessidades e desejos distintos entre as partes envolvidas, isto é, os objetivos são diferentes, logo, a negociação deve buscar o encontro de uma solução ótima e que satisfaça as condições impostos a partir desse conflito. 3) Negociações são realizadas de maneira deliberada, porém voluntária. Em outras palavras, os envolvidos consideram poder obter melhores resultados ao negociar ao invés de apenas aceitar os termos e condições da outra parte. 4) Negociações envolvem um processo de “dar e receber”, pelo qual ocorrem alterações das exigências e demandas inicialmente expostas. 5) Negociações ocorrem visto que há uma preferência em debater possíveis acordos a criar conflitos inflexíveis. Uma negociação surge quando os envolvidos objetivam se comunicar e dialogar sobre regras e benefícios que cada um deles possui ou prefere. Negociações não são usualmente inflexíveis e autoritárias, ou seja, sem abertura para diálogo. 6) Negociações envolvem a gestão de tangíveis e intangíveis. Tangíveis são os fatores concretos da negociação, tais como os itens negociados, o preço, condições de entrega, pagamento, etc. Os intangíveis são os aspectos psicológicos e emocionais. Alguns exemplos são os cenários em que as pessoas possuem um sentimento de “vencer”, causar uma “boa impressão”, expor valores de “justiça” e “honra”, considerar aspectos sociais do relacionamento como “confiança”. Agentes negociadores devem se atentar não somente para o processo em si, mas também para as interações ou até mesmo o contexto que antecede a negociação4. Para melhor visualizar os aspectos básicos da negociação, pode-se considerar que uma negociação é dividida em três fases: A primeira fase é a pré-negociação, quando há uma compreensão prévia do objetivo dos diálogos que virão a ocorrer. Alguns pontos dessa fase são a análise do objeto a ser negociado, os interesses, possíveis obstáculos, alternativas de solução e as estratégias. Em poucas palavras, a primeira fase é o planejamento que cada uma das partes realiza a partir de sua perspectiva. A segunda fase é a condução da negociação, envolvendo comunicação, troca de ofertas e contraofertas e o fechamento do acordo. A terceira fase é o pós-negociação, que envolve uma análise crítica do que foi inicialmente planejado e o real alcançado pela negociação, além da avaliação dos compromissos firmados e constante manutenção dos termos que envolvem interações ao longo do tempo (por exemplo: garantias futuras, devoluções de produtos ou dinheiro, extensões de prazo, dentre outros.)5. 3H. R. H. Estilos de negociação: As Oito Competências Vencedoras. São Paulo: Saraiva, 2007. 4L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 3. 5K. G. E.; N., S. J. WWW-based negotiation support: design, implementation and use. Decision Support Systems, v. 25, n. 2, p. 135-154, 1999.Outro aspecto básico da negociação é que a razão da sua existência é a clareza dos negociadores quanto ao potencial de vantagens futuras, ou seja, os envolvidos precisam ter a certeza de que a negociação poderá trazer benefícios, mesmo que incertos em determinada extensão (sem o alcance de todos os desejos)6. Os autores ressaltam que os indivíduos de uma negociação devem ter consciência dos resultados possíveis desta, ou até mesmo de outras negociações, a fim de que o processo de tomada de decisão e as escolhas feitas sejam as melhores possíveis. Mesmo que seja um processo que carrega informações que não são suficientes para extinguir toda e qualquer incerteza possível, a construção prévia, a condução e o monitoramento de uma negociação devem ser conscientemente deliberados a partir da avaliação de riscos e retornos. Especificamente, Fisher, Ury e Patton (2018) advogam que “para que você, como negociador, chegue a um acordo que atenda aos seus interesses próprios, é preciso desenvolver uma solução que também seja atraente para os interesses próprios do outro lado”7. Essa avaliação deve ser contínua, considerando que um negociador eficiente é aquele que melhor entende os ajustes e reajustes com base nas adaptações e reações das partes8. Com origem ainda na primeira edição do livro Gettingto Yes: Negotiating Agreement without Giving In”, em 1981, Fisher, Ury e Patton apresentam o conceito de BATNA para avaliação de benefícios em negociações. BATNA é um acrônimo para best alternative to a negotiated agreement (traduzido literalmente como MAPAN – Melhor Alternativa para um Acordo Negociado). O entendimento claro do BATNA faz com que as partes possam desenhar um cenário de modo mais eficiente, alcançando um leque maior de possíveis situações inesperadas e os problemas advindos delas. Para Kersten e Noronha, o conhecimento sobre o BATNA faz com que os negociadores tenham uma melhor percepção de como reagir caso não cheguem a um acordo. É relevante conhecer não apenas o seu BATNA, mas também das outras partes envolvidas, visto que as ofertas e contraofertas vão depender disso9. Watkins (2004) ressalta que caso seja muito oneroso entender o BATNA dos envolvidos na negociação, é necessário, ao menos, buscar informações e detalhes suficientes para formar um retrato, mesmo que limitado, do que se refere a BATNA das outras partes. Em suma, os indivíduos de qualquer negociação devem saber minimamente o que está sendo valorizado pelo outro, tornando, assim, mais fácil o alinhamento dos interesses que divergem a um ponto considerando ótimo para todos. Considerado um pilar na negociação, o conceito do BATNA também é destacado por Lewicki, Saunders e Barry “o valor da BATNA de uma pessoa sempre se relaciona aos acordos possíveis na negociação atual. Uma BATNA pode promover a independência, a dependência ou a interdependência entre as partes”10. 6Idem. 7F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 59. 8L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 14. 9W. M. Negociação. Rio de Janeiro; São Paulo: Editora Record, 2004. 10L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 13. 1.3 Negociação: fatores psicológicos e emocionais A partir da evolução das relações sociais, as negociações passaram a ser vistas a partir do prisma psicológico e emocional. Sendo assim, estão sendo cada vez mais pautadas em estratégias psicológicas, pelas quais as partes utilizam mecanismos que exploram vantagens de emoções positivas e negativas11. No entanto, a eficiência de uma negociação com estratégia psicológica depende de alguns fatores que a antecede. 1.3.1 A outra parte: necessidades e pontos de vista alheio e empatia Primeiro, as partes devem descobrir a necessidade do outro. Entender a outra parte depende de uma preparação antes da negociação. Lewicki, Saunders e Barry argumentam que: A boa preparação implica o conhecimento profundo das próprias metas e interesses e a capacidade de expressá-los à outra parte com habilidade. Ela também exige que o negociador esteja pronto para compreender as comunicações da outra parte, o que facilita o caminho para um acordo que atenda às necessidades de ambas. Poucas negociações têm chance de terminar em sucesso quando as partes não conseguem alcançar ao menos um de seus objetivos. Nesse sentido, um esforço inicial concentrado em identificar suas próprias necessidades e entender as da outra parte é uma etapa essencial para aumentar as chances de êxito da negociação.12 Resumidamente, esses autores advogam que “a chave da boa preparação exige que o negociador conheça, o melhor possível, seus pontos fortes e fracos, seus interesses e necessidades, a situação e a outra parte”13. O objetivo de entender a necessidade da outra parte está baseado no pressuposto que as negociações ocorrem em uma situação de soma não zero, ou seja, para que uma parte receba mais benefícios não é necessário que a outra perca, levando à existência de situações de ganha-ganha.14 De acordo com Ury: compreender como criar valor para os outros pode nos ajudar a atender às nossas necessidades. Dar não significa necessariamente sacrificar nossos interesses. Não exige que nos tornemos madre Teresa nem Mahatma Gandhi. Também não significa ceder às exigências da outra parte. A generosidade nas negociações significa buscar ganhos mútuos, ajudando os outros ao mesmo tempo que ajudamos a nós mesmos. Essa é a essência da negociação ganha- ganha. Os negociadores mais bem-sucedidos que eu conheço tendem a ser pessoas que se concentram em cuidar dos interesses e necessidades da outra parte, ao mesmo tempo que procuram atender às próprias necessidades. Agindo assim, encontram maneiras de criar valor e de aumentar o bolo para os dois lados, e acabam conseguindo, 11S. L. M. de M. A Mediação de Conflitos–lidando positivamente com as emoções para gerir conflitos. Pensar-Revista de Ciências Jurídicas, v. 21, n. 3, p. 965-986, 2017. 12L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 270. 13Idem. 14U. W. Como chegar ao sim com você mesmo. Rio de Janeiro: Sextante, 2015. p. 84. em geral, acordos melhores do que os alcançados por quem tenta conquistar o máximo possível para si próprio às custas dos outros.15 Descobrir a necessidade do outro depende também da compreensão do ponto de vista alheio e empatia. É necessário utilizar perguntas para conhecer a outra parte e se colocar em seu lugar. Sales dá destaque ao ponto de vista alheio e argumenta que: É preciso ouvir o outro para compreender se de fato conseguiu entender o ponto de vista da outra pessoa. Ao ouvir a outra parte é importante perceber para além das palavras que são ditas. Deve-se perceber, por exemplo, o tom com que são faladas. Com essas observações, as pessoas conseguem perceber mensagens tácitas, como o que não foi dito, mas que deve ser considerado. As palavras que se repetem ou o tom mais forte em determinada palavra mostra o que a mensagem quer dizer realmente.16 De modo adicional, a empatia é ressaltada por Freitas: Perceber a situação do outro e se colocar em seu lugar é uma habilidade importantíssima. A visão da outra parte e o entendimento da sua situação (empatia) ajudam na busca de alternativas de solução que sejam possíveis de serem operacionalizadas conjuntamente. Os ganhos podem ser mútuos e fortalecerão o relacionamento e a confiança entre as partes. Fazer concessões não é sinal de fraqueza, mas de abertura, de confiança, de comprometimento com a busca de solução. Quando uma parte faz uma concessão, espera, e até exige, uma reciprocidade.17 1.3.2 Capacidade investigativa: mentiras e verdades O segundo fator que antecede a criação de uma negociação com estratégia psicológica é a capacidade investigativa e persistência.Ainda interligada com o primeiro fator (descobrir a necessidade do outro), a capacidade investigativa faz com que o negociador seja capaz de identificar possíveis mentiras ou verdades sobre o que é, de fato, a necessidade do outro. Tal avaliação usualmente ocorre por meio de técnicas verbais que estudam se as partes envolvidas estão utilizando “truques sujos”.18 Conforme apresentado por Lewicki, Saunders e Barry19, as formas mais usuais para tomar conhecimento dos truques sujos por meio de persistência e capacidade investigativa são: 1) Fazer perguntas. Não há necessariamente um número mínimo a ser feito, porém, aqui vale a regra do “mais é mais”. A intenção de fazer um número considerável de perguntas é que a outra parte vai ter que lidar 15Idem. 16S. L. M. de M. A Mediação de Conflitos – lidando positivamente com as emoções para gerir conflitos. Pensar-Revista de Ciências Jurídicas, v. 21, n. 3, p. 965-986, 2017. p. 973. 17F. M. E. de. Organização: um espaço de negociação. Revista de Administração de Empresas, v. 34, n. 5, p. 13-20, 1994. p. 16. 18F. R.; U., W.; P., B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 106. 19L. R. J.; S. D. M.; B., B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 201- 204. com uma complexidade cada vez maior, caso as respostas sejam mentiras. As informações fornecidas deverão seguir um raciocínio, facilitando a percepção em casos de manipulação das necessidades ou até omissão de dados relevantes. 2) Faça perguntas de diferentes formas. O modo de realizar uma pergunta pode trazer à tona uma determinada resposta, direcionando-a e destacando certo viés. A complexidade em torno de uma mentira aumenta quando um negociador realiza a “mesma” pergunta em modos diferentes, resultando em uma possível aparição de informações verdadeiras. 3) Force a outra parte a parar de mentir ou desistir. A depender do contexto, as partes envolvidas em uma negociação não se sentem mais confortáveis em ocultar ou mentir quando coagidas. Há um “efeito da consciência”, quando uma parte analisa seu comportamento, arrepende- se, e decide recuar caso esteja agindo de má fé ou até mesmo de um modo ético, mas que prejudique fortemente os outros envolvidos. Perguntas que indiretamente colocam em xeque um comportamento duvidoso, podem fazer com que um indivíduo pare de mentir e desista da posição assumida anteriormente. 4) Teste a outra parte, reflita se há certa dúvida quanto à omissão de informações ou mentiras. Em caso positivo, o negociador pode realizar perguntas para as quais já possui a resposta, visando confirmar se a outra parte irá responder conforme o esperado. 5) Denuncie a tática da mentira ou omissão. Seja objetivo e firme, e demonstre que você tomou conhecimento do fato e que o desaprova. Porém, tenha certeza que a situação realmente é correta, pois tal acusação pode vir a destruir interações futuras quando mal fundamentada. 6) Se possível, ignore a tática da mentira ou omissão. Caso haja ciência, ignore que a outra parte esteja mentindo, caso isso não tenha um impacto relevante na negociação. Além disso, utilize a ciência desse fato a seu favor, caso seja possível. As mentiras ou blefes em uma negociação podem ser conscientes ou não, sendo que os seus efeitos são usualmente negativos na negociação (caso descobertos), isto é, quando vier à tona é necessário considerá-las e até explorá-las. 1.3.3 Comunicação: gerando confiança e credibilidade O terceiro fator é a comunicação para gerar credibilidade e confiança. Assim como o conhecer a necessidade do outro e a capacidade investigativa, a comunicação, confiança e credibilidade são de suma importância na comunicação de uma estratégia psicológica, já que para alcançar emoções, sejam positivas ou sejam negativas, é necessária uma clara transmissão de mensagens. De acordo com Lewicki, Saunders e Barry (2014), o resultado de uma estratégia de negociação depende fortemente de um processo adequado de comunicação, que pode levar a nível subótimo de resultado quando utilizado de modo inadequado. Para Fisher, Ury e Patton (2018), “sem comunicação, não há negociação. Negociação é um processo de comunicação de duas mãos, cujo propósito é atingir um acordo conjunto. Comunicação jamais é uma tarefa fácil”20. Lewicki, Saunders e Barry (2014) ressaltam que a comunicação é um processo dinâmico que: pode apresentar diferentes ofertas e contraofertas ao longo do tempo; pode alterar o BATNA de cada uma das partes, modificando a percepção de valor e benefícios dos negociadores; pode aliviar situações- problema que trazem notícias ou resultados ruins a partir do modo como é conduzida; pode trazer um forte impacto a partir da imagem gerada desde o início de uma negociação (“primeira impressão”); pode facilitar ou dificultar a transparência a partir do fornecimento de informações, tendo que equilibrar a quantidade de detalhes fornecidos; pode ser traduzida em diferentes formas – contato visual, posição do corpo, movimento do corpo, pode ser realizada em diferentes canais de comunicação – e-mail, pessoalmente, telefone etc. Esses autores apresentam três técnicas auxiliadoras na comunicação em uma negociação: perguntas, prática de escutar e a inversão de papéis. Particularmente: As diversas maneiras pelas quais a comunicação pode ser interrompida e distorcida apontam para o esforço que os negociadores precisam fazer para conseguirem compreender uns aos outros. Falhas e distorções na percepção, cognição e comunicação são as principais causas de problemas nas negociações. As pesquisas demonstram que mesmo as negociações envolvendo partes cujas metas são compatíveis ou integrativas podem não terminar em acordo, ainda que subótimo, devido às percepções equivocadas da outra parte, ou por conta de falhas no processo de comunicação.21 O paradigma da comunicação em negociações interliga-se principalmente aos dilemas levantados por Harold Kelley22. O autor apresenta a existência de dois dilemas: sinceridade e confiança. O primeiro é relacionado ao quanto de elevações e informações verdadeiras devem ser expostas para a outra parte, ou seja, um controle estratégico de informações omissas. Enquanto que ser mais transparente pode vir a gerar oportunidades para a outra parte lhe lesar, um uso reduzido de transparência pode acarretar em confusão dos reais interesses e desejos na negociação. Já o dilema da confiança se refere à credibilidade constantemente em choque, isto é, até em que extensão uma parte deve confiar na outra e nas informações transmitidas. Porém, mesmo com tal desconfiança, há certa credibilidade em questão que facilitará a confiança na negociação, tais como a reputação/boa imagem do negociador, interações passadas que foram transparentes, mesmo que com resultados negativos. 20F. R.; U. W.; P. B.. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 41. 21L. R. J.; S. D. M.; B. B.. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 155- 156. 22K. H. H. A classroom study of the dilemmas in interpersonal negotiation. In. K. A. (Ed.). Strategic interaction and conflict: Original papers and discussion. Berkeley, CA: Institute of International Studies, 1966. p. 49-73. Ainda nesse viés, Martinelli destaca que “relações duradouras nas negociações podem levar a novas negociações no futuro, além de manter e aperfeiçoar o contato já existente entre as partes envolvidas no processo”23. 1.3.4 Estratégias psicológicas da negociação: o papel das emoções Finalmente, após a exposição dos fatores mencionados, é possível avaliar as estratégias psicológicas de uma negociação. Assim como o próprio conceito ressalta, esse tipo de estratégia é relacionado ao psicológico e emoções dos envolvidos, os quais se originam do entendimento do outro, a capacidade investigativa e persistência e a comunicaçãoe o seu potencial de destacar transparência e confiança. Lewicki, Saunders e Barry (2014) chamam a atenção para a dualidade das emoções em negociações: as emoções positivas e as emoções negativas. Os autores descrevem a felicidade como uma emoção positiva, levantando a possibilidade de criação de afeto entre as partes, benefícios e compartilhamento de interesses comuns de modo mais amigável devido à empatia. Já as emoções negativas são associadas à possibilidade de ações agressivas ou até desistência. Exemplos de emoções negativas são frustação, insatisfação, ameaça, dentre outras24. De modo adicional, Sales também detalha a importância das emoções e como elas podem afetar uma negociação: A negociação e a tomada de decisão envolvem tanto a razão como a emoção. Em geral, as pessoas buscam justificativas palpáveis, concretas, para justificar uma decisão. Normalmente, são frutos de relatórios, documentos, provas. Números, planilhas, questões objetivas e fatos oferecem argumentos racionais e são importantes para a negociação, possibilitando uma decisão “mais segura”. Na lida com pessoas, na resolução de conflitos ou na tomada de decisão, percebe- se, no entanto, que as perspectivas emocionais estão sempre presentes e devem ser reconhecidas e geridas para facilitar o alcance de decisões consensuais. Em todos os momentos das negociações, os seres humanos estão sujeitos aos sentimentos positivos ou negativos resultantes de uma fala, de um comportamento, de uma ação ou reação. As emoções positivas trazem sentimentos bons e confortáveis de alegria e tranquilidade, por exemplo. As emoções negativas, por outro lado, estimulam sentimentos de angústia, medo e rancor. As primeiras trarão repercussões de aproximação, de facilitação de uma tomada de decisão para o consenso. As segundas dificultarão a cooperação ou qualquer diálogo pacífico entre as partes.25 As emoções estarão presentes e, muitas vezes, definirão suas ações e reações. Elas poderão afetar seu corpo – transpiração, enrubescimento, sorriso e choro. Elas poderão afetar seu raciocínio, muitas vezes fazendo com que você perca o foco da negociação ou com que você otimize sua habilidade de negociar (dependendo se são 23M. D. P. Negociação, administração e sistemas: três níveis a serem inter- relacionados. RAUSP Management Journal, v. 41, n. 4, p. 353-368, 2006. p. 354. 24L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 155- 156. 25S. L. M. de M. A Mediação de Conflitos – lidando positivamente com as emoções para gerir conflitos. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, v. 21, n. 3, p. 965-986, 2017. p. 970-971. negativas ou positivas) e consequentemente afetam suas ações e comportamento.26 Devido ao fato de que seres humanos são seres racionais e emocionais, Lewicki, Saunders e Barry chamam a atenção para a necessidade de gestão de intangíveis em uma negociação, conforme mencionado anteriormente. A base da estratégia psicológica se dá em dois pontos: primeiro, a percepção psicológica dos negociadores, que pode dificultar ou facilitar a compreensão e clareza sobre o contexto em questão; segundo, o processo de cognição em negociações, visto como a forma que os negociadores utilizam determinadas informações para fazer escolhas. De acordo com esses autores, é possível realizar a separação desses pontos em duas vertentes. A primeira é denominada como enquadramento, visto como a criação de uma questão ou cenário de negociação que pode causar favorecimento a partir de decisões estratégicas e com forte impacto. O segundo são os vieses cognitivos, que são as percepções a partir do processamento de informações, bem como a percepções formadas a partir da análise de dados. O uso adequado de uma perspectiva psicológica na construção de uma estratégia de negociação pode, portanto, não somente maximizar benefícios, como também minimizar efeitos negativos. Freitas indaga que as condições psicológicas não podem ser negligenciadas, sugerindo que negociadores devem estar atentos a alguns fatores psicológicos específicos que poderiam afetar qualquer negociação, tais como credibilidade e simpatia, antecedentes dos relacionamentos passados, confiança, stress pessoal e profissional, pressões externas de influência e de tempo, dentre outros27. Os aspectos psicológicos podem servir de base para um bom desempenho em negociações. Lewicki, Saunders e Barry (2014) exemplificam que “negociando com uma pessoa que esteja competindo com um colega de trabalho por uma promoção, ela pode impor grandes dificuldades se a negociação for feita na presença do chefe dela, para gerar uma imagem de pessoa”. Dessa forma, o caráter psicológico pode ter uma forte interferência em diferentes negociações e contextos, sendo que uma negociação com estratégia psicológica é aquela que consegue explorar as vantagens e minimizar as desvantagens das emoções – positivas e negativas. Em suma, este primeiro capítulo apresentou a definição de negociação, os aspectos básicos e, por fim, detalhou os fatores psicológicos. A explicação dos fatores psicológicos foi inicialmente debatida a partir do olhar de descobrir a necessidade do outro, considerar o ponto de vista alheio e ter empatia. Nos argumentos seguintes foram apresentadas características de capacidade investigativa e a comunicação como um processo relevante na construção de confiança. Por fim, foram expostos argumentos sobre as emoções e como elas devem ser avaliadas em um ambiente de negociação. 26Idem. 27F. M. E. de. Organização: um espaço de negociação. Revista de Administração de Empresas, v. 34, n. 5, p. 13-20, 1994. p. 19. 2. ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO: DIFERENTES TÁTICAS E O MÉTODO DE NEGOCIAÇÃO DE HARVARD As negociações podem ocorrer em diferentes cenários e de diferentes formas. Os tipos mais comuns de negociações são aqueles com teor comercial ou empresarial. O primeiro é visto como uma transação entre cliente e comerciante. O segundo pode ser visto como negociações entre empresas ou até mesmo dentro de uma empresa (por exemplo, um empregado negociando com o seu chefe). Além dos tipos de negociações, é possível observar uma variedade de táticas e métodos. Um dos métodos mais reconhecidos atualmente é o método de negociação de Harvard, que deu origem ao Harvard Negotiation Project (HPN), com o objetivo de alinhar a prática e os preceitos teóricos na resolução de conflitos e negociação, pautada em contextos e situações usuais do mundo real. Visando explorar os pontos supracitados, este capítulo é dividido em três partes. A primeira parte apresenta uma discussão acerca de negociações em um ambiente comercial ou empresarial. Além disso, serão também expostos os diferentes níveis de uma negociação, com uma abordagem sistêmica, dando destaque aos diferentes níveis de uma empresa. A segunda parte apresenta diferentes táticas de negociação, e apresenta detalhadamente o método de negociação de Harvard. 2.1 Negociações: empresarial e comercial e os diferentes níveis de tomada de decisão Uma negociação pode ter diferentes características a depender do seu objetivo, bem como do contexto em que ocorre. A classificação de negociação como sendo simples ou complexa vai depender se: envolve uma ou várias questões, há duas ou várias partes envolvidas (multipartes), é autônoma ou inter-relacionada com outras negociações28. Essa lógica pode ser aplicada ao contexto empresarial ou comercial. Em um cenário comercial, as relações usualmente são vistas em uma transação de um cliente com um vendedor com base em preços de reserva. O preço de reserva é o limite mínimo de um valor em uma determinada negociação. Para um cliente, o preço de reserva é o máximo que a pessoa estaria disposta a pagar em uma determinada compra. Para o vendedor, o preço de reserva é o mínimo que a pessoa aceita na venda de um determinado bem. A faixa de valor abaixo do preço de reservado cliente e acima do preço de reserva do vendedor é onde ocorre a negociação. A habilidade de negociação e uma boa gestão dessa “reserva” é que vai apontar se o preço final vai ser mais vantajoso para o cliente ou para o vendedor. Por exemplo, uma boa “reserva” do cliente também poderia ser uma 28W. M. Shaping the game: The new leader's guide to effective negotiating. Harvard Business Press, 2006. oferta em um preço mais baixo do concorrente. Especificamente, Wheeler (FALTOU O ANO) argumenta que: A questão é analisar as ofertas que estão na mesa para decidir de maneira realista o melhor que você pode fazer se não houver acordo. Ter uma boa reserva, naturalmente reforça sua mão de troca. Se você tem cartas ruins na mão, então você pode ter de aceitar termos pelos quais você não está tão interessado.29 De modo enfático, Wheeler endossa a necessidade de opções comparativas e diferentes alternativas em negociações comerciais: “Quando você está negociando com um vendedor, a reserva que você tem é muitas vezes uma prospecção incerta do quão bem você poderia negociar com outro”30. Por outro lado, a negociação com viés empresarial possui outras características. Kladis e Freitas31 chamam atenção ao fato de que esse tipo de negociação é usualmente considerado como um processo de tomada de decisão dentro ou entre empresas. E, dentro do ambiente empresarial, a tomada de decisão ocorre em diferentes níveis, a saber: estratégico, tático e operacional32. As negociações e decisões empresariais em cada um desses níveis são consideravelmente distintas. Kladis e Freitas (FALTOU ANO) afirmam que essa reflexão deve estar apoiada nos seguintes aspectos em cada um dos níveis: Nível operacional – significando o uso eficaz e eficiente das instalações existentes e de todos os recursos para executar as operações. A decisão no nível operacional é um processo pelo qual se assegura que as atividades operacionais sejam bem desenvolvidas. O controle operacional utiliza procedimentos e regras de decisões pré- estabelecidas. Uma grande parte destas decisões é programada e os procedimentos a serem seguidos são geralmente muito estáveis. As decisões operacionais e suas ações geralmente resultam em uma resposta imediata; Nível tático – englobando a aquisição genérica de recursos e as táticas para a aquisição, localização de projetos e novos produtos. As decisões no nível tático são normalmente relacionadas com o controle administrativo e são utilizadas para decidir sobre as operações de controle, formular novas regras de decisão que irão ser aplicadas por parte do pessoal de operação e designação de recursos. Neste nível são necessárias informações sobre o funcionamento planejado (normas, expectativas, pressupostos), variações a partir de um funcionamento planejado, a explicação destas variações e a análise das possibilidades de decisão no curso das ações; Nível estratégico – englobando a definição de objetivos, políticas e critérios gerais para planejar o curso da organização. O propósito das decisões no nível estratégico é desenvolver estratégias para que a organização seja capaz de atingir seus macros objetivos. As atividades deste nível não possuem um período com ciclo uniforme. Estas 29W. M. A arte da negociação: como improvisar acordos em um mundo caótico. Portugal: Leya, 2014. 30Idem. 31K. C. M. ; F. H. M. de. O processo decisório: modelos e dificuldades. Revista Decidir, v. 2, n. 8, p. 30-34, 1995. atividades podem ser irregulares, ainda que alguns planos estratégicos se façam dentro de planejamentos anuais ou em períodos pré- estabelecidos.33 Por outro lado, é possível analisar os níveis de negociações empresariais de outra forma, com uma abordagem sistêmica. Martinelli indaga que “na verdade, podem-se considerar negociação, administração e visão sistêmica como três níveis hierárquicos básicos a serem interconectados”34. O autor coloca a presença de seis níveis a serem considerados em uma negociação mais empresarial, partindo do nível mais micro analítico ao mais geral: Nível 1: negociador. Aspectos inerentes às partes envolvidas na negociação. Características de comportamento, personalidade etc. Nível 2: atividades do negociador/administrador. Características também do indivíduo, porém voltadas a habilidades interpessoais no espectro profissional. Nível 3: atividades da empresa. Verificar em quais funções-chave de uma empresa a negociação está conectada. Por exemplo, se a negociação é sobre um aspecto no planejamento, controle etc. Nível 4: ramo de atividade da empresa. Analisar o setor em que a negociação empresarial está acontecendo. Negociações voltadas a empresas do setor de tecnologia podem ser totalmente diferentes das negociações para a manufatura, por exemplo. Nível 5: os ramos inter-relacionados ao ramo de atividade da empresa. Isto é, os setores que se relacionam ao contexto da negociação empresarial em questão. Nível 6: ambiente social. Características referentes à cultura, religião, política ou outros aspectos sociais que podem afetar o comportamento das partes daquela negociação. Adicionalmente, Caldana et al. (2012) complementam essa visão da negociação no ambiente empresarial. Os autores advogam que o processo de negociação deve considerar uma perspectiva sistêmica, na qual há considerações em diferentes níveis de análise, tais como: estratégia da empresa, competências do negociador, variáveis/termos da negociação, ferramentas de negociação, integração das áreas/departamentos da empresa, parceiros e concorrentes35. Martinelli (2006) ainda destaca que a visão da negociação empresarial focaliza no papel de negociador do administrador. Com base no tradicional modelo de Mintzberg36, Martinelli ressalta dois possíveis caminhos nesse tipo negociação. O primeiro “relaciona-se com negociações externas, com outras unidades ou organizações. Mas é também igualmente importante o segundo 33K. C. M.; F. H. M. de. O processo decisório: modelos e dificuldades. Revista Decidir, v. 2, n. 8, p. 30-34, 1995. p. 4. 34M. D. P.. Negociação, administração e sistemas: três níveis a serem inter- relacionados. RAUSP Management Journal, v. 41, n. 4, p. 353-368, 2006. p. 354. 35C. A. C. F. et al. Negociação estratégica: uma abordagem sistêmica das competências e dos relacionamentos envolvidos no processo. Revista de Administração, Contabilidade e Economia da Fundace, v. 3, n. 1, 2012. p. 10. 36M. H. The nature of managerial work. New York: Harper & Row, 1973. aspecto, o das negociações internas à sua unidade, com seus próprios subordinados”37. Essa complexidade em entender negociações se dá pelo fato de que grande parte delas pode envolver não somente aspectos comerciais, mas também questões governamentais, jurídicas, sociais/comunitárias. Conforme Lewicki, Saunders e Barry apontam: A maior parte da teoria e das pesquisas sobre negociações é baseada no que aprendemos em cenários experimentais com duas partes que não se conhecem, não esperam negociar outra vez no futuro e efetuam uma transação comercial envolvendo preço e volume. Contudo, uma parcela expressiva das negociações ocorre em cenários de negócios que envolvem questões jurídicas, governamentais, comunitárias ou internacionais, nas quais as partes têm um relacionamento passado (e futuro), e onde esse relacionamento tem forte impacto no processo de negociação.38 Diante do cenário ilustrado, é notável a diferença de uma análise de negociações empresariais e comerciais, bem como os diferentes níveis na tomada de decisão. 2.2 Estratégias e táticas de negociação As negociações, de acordo com suas singularidades, podem trazer diferentes estratégias ou táticas para serem conduzidas. Especificamente, uma estratégia em uma negociação é um fator-chave para o sucesso e fechamento de um acordo. As estratégias consideram aspectos externos e internos à organização, ou seja, as pressões que podem virdo ambiente (ex.: cobranças de um chefe no aumento de vendas, crise econômica, etc.) ou características do relacionamento entre as partes negociadoras (ex.: confiança, experiências passadas, etc.)39. De acordo com Boff40 (apud Lewicki; Hiam; Olander)41, há cinco estratégias de negociação que variam de acordo com o nível de importância dos resultados e nível de importância do relacionamento: 1) Estratégia de evitar. Esse tipo de negociação tende a levar a um resultado de perde-perde, isto é, quando os dois lados perdem. Essa estratégia usualmente ocorre quando há pouca importância em ambos, no relacionamento e nos resultados. Um retrato para essa situação é quando o negociador evita a negociação, seja por questões de custo ou psicológica, tal como acreditar que aquele cenário não irá se alterar e que a negociação seria uma perda de tempo. 2) Estratégia de acomodação. Esse tipo de negociação considera uma maior importância no relacionamento do que no resultado. É um contexto de perde-ganha, ou seja, os envolvidos descartam o aspecto 37M. D. P. Negociação, administração e sistemas: três níveis a serem inter- relacionados. RAUSP Management Journal, v. 41, n. 4, p. 353-368, 2006. p. 359. 38 L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 224. 39B. R. J. Negociação: técnicas para a obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, 2015. 40Idem. 41L. R. J.; H. A.; O. K. W. Think before you speak: a complete guide to strategic negotiation. New York: John Wiley, 1996. dos resultados visando preservar o relacionamento. Nesse caso há um olhar voltado para oportunidades futuras a partir dessa preservação. 3) Estratégia competitiva. Essa negociação ocorre quando o negociador objetiva alcançar o ganho a qualquer custo, o que resulta em uma categoria de ganha-perde. Em outras palavras, o envolvido visa alcançar resultado, mesmo que isso venha a prejudicar o relacionamento. Os cenários mais comuns em que tal negociação aparece são quando há uma preocupação exacerbada com a competitividade de empresas. 4) Estratégia colaborativa. Essa estratégia é uma negociação ganha- ganha, na qual há anseio pela manutenção do relacionamento, bem como o alcance de resultados. A negociação com esse viés busca atender e satisfazer a necessidade de todos os envolvidos. 5) Estratégia do compromisso. Esse tipo de estratégia possui um nível intermediário de relevância para preservação do relacionamento e resultados. Esse cenário ocorre quando há uma dificuldade em chegar a um consenso, porém com objetivo de atingir resultados e preservar o relacionamento. Pressões externas quanto a tempo podem ser um indicativo comum. Usualmente, partes que utilizam esse tipo de estratégia buscam ceder (ambos) um pouco de seus desejos e necessidades, a fim de encontrar um ponto comum do acordo final. É a estratégia que “deixa as diferenças de lado”. Com uma perspectiva um pouco mais detalhada, Lewicki, Saunders e Barry (2014) apresentam uma variedade considerável de táticas nas negociações. Nas palavras dos autores, escolher a melhor tática para cada situação é uma “questão tanto de habilidade quanto de arte”42. Algumas das táticas ressaltadas para fechar um acordo são oferecer alternativas, assumir o fechamento, dividir a diferença, fazer uma oferta apertada e apresentar suavizantes43. A descrição dos autores sobre cada uma das táticas é realizada conforme apresentado a seguir44. Oferecer alternativas: os negociadores podem ofertar uma variedade de opções, ao invés de uma única e exclusiva. Esse leque facilita a avaliação da outra parte e também fornece um sentimento de maior liberdade, oposto ao tradicional “estar contra a parede”, ou seja, deixar a outra parte sem outra opção45. Assumir o fechamento: essa situação é exemplificada pela situação em que os vendedores assumem um aceite do acordo pela parte compradora, sem que haja uma análise calma e detalhada, como se a decisão já tivesse sido feita46. Dividir a diferença: considerada uma das táticas mais populares, essa tática apresenta uma visão geral da negociação, apontando os termos aceitos e pontos que ainda podem ser explorados de modo conjunto, isto é, dividir a diferença do que foi proposto inicialmente e o acordo fechado47. 42L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 55. 43Idem. 44Idem. 45Idem. 46Idem. 47Idem. Fazer uma oferta apertada: uma tática para conseguir fechar um acordo é a oferta de termos com prazos curtos para decisão. O exemplo clássico que Lewicki, Saunders e Barry (2014) ilustram é quando uma pessoa recebe uma oferta de emprego e uma contraproposta do emprego atual, com um prazo de validade de 24 horas para decisão. O pilar dessa tática é fazer com que a outra parte não analise e investigue diferentes alternativas e ofertas de outras negociações48. Apresente suavizantes: oferecer benefícios que estavam fora da negociação, como um meio de fechar o acordo. Por exemplo, incluir um acessório adicional em um carro caso a venda se concretize. Além dessas táticas, Lewicki, Saunders e Barry (2014) também descrevem o que eles chamam de táticas duras, aquelas que “são concebidas para pressionar os negociadores a fazer o que não fariam em outras situações”49, ou seja, são táticas que não assumem uma natureza cooperativa, pelo contrário. Os autores detalham oito diferentes táticas duras que podem ser utilizadas em negociações. 1) Mocinho/bandido: essa tática é ilustrada pela situação de policial mau e policial bom. O policial mau oferece uma proposta com pontos hostis, ameaças e um tom de inflexibilidade. O policial bom entra na sequência após essa primeira exposição, levando uma proposta oposta, com uma abordagem mais sútil e com maior flexibilidade na negociação dos termos. 2) Jogo alto/jogo baixo: é quando a negociação se inicia com uma oferta exacerbada, seja alta, seja baixa. Essa oferta extrema pode facilitar a um acordo mais benéfico para uma das partes. Entretanto, é possível também que uma das partes considere a proposta como absurda e já cancele toda a negociação. Formas de responder a esse tipo de tática dura são: insistir em uma adequação para um cenário razoável antes mesmo de começar a negociar, fazer um comparativo com base em um valor de referência, ameaçar abandonar a negociação, ou até responder com uma contraoferta tão extrema quanto a oferta do outro lado. 3) A importância de algo sem importância: quando uma das partes tenta utilizar a psicologia reversa, isto é, fingem dar um nível de relevância baixo para um ponto que, na verdade, é muito importante. Além disso, outra forma de implementação dessa tática é quando a outra parte identifica um termo que pode ter pouca importância para si, mas muita para o outro lado, o que resulta em uma boa posição para negociação50. 4) A mordida: é uma tática na qual os negociadores solicitam uma concessão relativamente pequena em um termo que ainda não foi discutido. Por exemplo, quando um acordo está praticamente fechado e um lado solicita a inclusão deoutro termo que o beneficia, mas traz poucos custos para a outra parte. Um defeito dessa tática é que ela pode afetar relações futuras, visto que não há um impacto muito forte em termos de resultado, mas no relacionamento. A outra parte que está cedendo pode se irritar e até mesmo concluir que o outro agiu de má-fé e, portanto, excluir a possibilidade de negociações futuras. Uma forma eficiente para responder é utilizar a mesma tática, isto é, quando um 48Idem. 49Idem. 50L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 60. lado exigir um ponto, o outro levanta seus desejos e dá uma “mordida” também51. 5) A galinha: o pilar dessa tática é o medo. Ao adotar a tática da galinha, os negociadores realizam um blefe considerável sobre algum ponto e ao mesmo tempo impõe uma ameaça que coloca a outra parte “contra a parede”.O ponto fraco dessa tática é que ela é envolta de mentiras, logo, a percepção do que é real ou falso se torna cada vez mais complexa. Uma forma de lidar com essa tática é a adoção de agentes externos que podem confirmar as informações, bem como o investimento elevado na fase de pré-negociação para entender detalhadamente a outra parte52. 6) A intimidação: é uma categoria de tática genérica, que pode ser enquadrada em muitas outras, porém, tendo o uso da emoção como um aspecto comum a todas. Os sentimentos mais usuais utilizados são a raiva e culpa. Uma forma de lidar com essa perspectiva via autoridade é recorrer a uma equipe para negociar, ao invés de realizar a negociação individualmente. Solicitar detalhes e discutir amplamente também é considerada uma boa alternativa, visto que a outra parte pode mudar o comportamento ao notar que o negociador não está demonstrando que está sendo intimidado53. 7) O comportamento agressivo: envolve demonstrar uma posição de ataque. Por exemplo, repetir e forçar demandas incansavelmente até que a outra parte as conceda. Essa tática sinaliza que o negociador possui uma postura rígida. Uma forma de gerir esse tipo de tática e lidar com ela é interromper a negociação e discutir os detalhes sobre o processo, como ele está ocorrendo. 8) O trabalho na neve: quando uma das partes tenta criar uma “bola de neve”, com o fornecimento exacerbado de informações, em que o outro lado não consegue avaliar a tempo, o que é de real interesse ou o que está apenas figurando naquele contexto. É uma tática que usa o oposto de objetividade e clareza. O negociador que adota essa tática objetiva omitir detalhes que podem impactar fortemente na negociação. A melhor solução para lidar com tal tática é dispor tempo e paciência para realizar um número considerável de perguntas até obter a transparência desejada, bem como buscar consistência nas informações transmitidas54 De modo adicional, Fisher, Ury e Patton (2018) classificam táticas de negociação em três categorias: trapaça deliberada, guerra psicológica e táticas de pressão posicional. O bloco da trapaça deliberada se baseia na transmissão de fatos falsos, autoridade ambígua, intenções dúbias e omissão de dados relevantes. Quanto à guerra psicológica, há o uso de situações de estresse, ataques pessoais e ameaças. Já na pressão posicional, é quando uma das partes recusa negociar, realiza demandas extremas, realiza demandas 51Idem. 52Idem. 53Idem. 54L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 64. continuamente sem parar, utiliza a tática de entrincheiramento (“colocar contra a parede”), além de outras55. Diante da exposição dos argumentos apresentados, um indivíduo que está prestes a negociar pode utilizar diferentes táticas e estratégias, sendo que cada uma poderá trazer vantagens ou desvantagens. Além disso, essa seção apresentou soluções e alternativas no caso de enfrentamento dessas táticas. 2.3 Negociação Integrativa: Método de Negociação de Harvard Embora haja uma larga cesta de opções de táticas e estratégias de negociação, há uma que se destaca: a negociação Integrativa, também chamada de Método de Negociação de Harvard. Fisher, Ury e Patton (Faltou o ano) afirmam que: No Projeto de Negociação de Harvard, desenvolvemos uma alternativa à barganha posicional: um método de negociação explicitamente concebido para produzir resultados sensatos, de forma eficiente e amigável. Esse método, denominado negociação baseada em princípios ou negociação baseada em méritos, pode ser resumido a quatro pontos básicos. Esses quatro pontos definem um método objetivo de negociação que pode ser usado em quase qualquer circunstância. Cada ponto se relaciona a um elemento básico da negociação e sugere o que você deve fazer a respeito. - Pessoas: Separe as pessoas do problema. - Interesses: Concentre-se em interesses, não em posições. - Opções: Invente múltiplas opções, em busca de ganhos mútuos, antes de decidir o que fazer. - Critérios: Insista em que o resultado tenha por base algum padrão objetivo.56 Explorando o método de Harvard, Boff destaca que a separação das Pessoas e do problema é de extrema relevância, pois “é muito comum, ou por incompreensão, ou por contrariedade, ou mesmo por falta de atenção ou respeito da outra parte, o trâmite ser levado para o lado pessoal o que, [...] prejudicará [...] a estratégia do processo de negociação”57. Fisher, Ury e Patton detalham que: Um fato básico a respeito de uma negociação, facilmente esquecido em transações corporativas e internacionais, é que você está lidando não com representantes abstratos “do outro lado”, mas com seres humanos. Eles têm emoções, valores profundamente arraigados, experiências distintas e diferentes pontos de vista; além de serem imprevisíveis. Estão sujeitos a desvios cognitivos, percepções partidárias, pontos-cegos e delírios ilógicos. Assim como nós. Esse 55F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 108. 56F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 26. 57B. R. J. Negociação: técnicas para a obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, 2015. p. 124. aspecto humano da negociação tanto pode ser útil quanto desastroso.58 Quanto ao foco nos Interesses e não nas posições, o intuito é otimizar o processo de negociação. Boff argumenta que a diferenciação ocorre pelas distintas definições: “interesse é o resultado que se quer obter com a negociação. Posição é a decisão adotada em conformidade com os interesses. Para cada interesse têm-se várias posições”59. De modo complementar, Lewicki, Saunders e Barry ressaltam que “a identificação de interesses é uma etapa essencial no processo de negociação integrativa. Os interesses são as preocupações, necessidades, [...] que motivam um negociador a assumir determinada posição”60. Fisher, Ury e Patton apresentam um exemplo clássico e claro adotado em diversos livros: Considere a história contada por Mary Parker Follett sobre dois homens discutindo em uma biblioteca. Um deles quer a janela aberta e o outro a quer fechada. Discutem interminavelmente sobre o quanto a janela pode ficar aberta: uma fresta, um terço, metade. Nenhuma solução agrada a ambos. Chega a bibliotecária. Pergunta a um por que deseja que a janela fique aberta. “Para entrar um pouco de ar fresco”. Pergunta ao outro por que deseja que fique fechada. “Para evitar a corrente de ar”. Depois de pensar por um instante, ela abre a janela da sala adjacente, deixando entrar ar fresco, sem corrente de ar. [...] Essa história é típica de muitas negociações. Como os problemas das partes emergem na forma de conflito de posições e como o objetivo é chegar a um acordo, é natural que o modo de pensar e de falar seja focado em posições – e que, durante o processo, se chegue a um impasse. A bibliotecária não poderia ter inventado a solução acima se tivesse se concentrado apenas na posição declarada dos dois indivíduos, de manter a janela fechada ou aberta. Em vez disso, ela se fixou nos interesses subjacentes de ar fresco e ausência de corrente de ar. Essa diferença entre posições e interesses é crucial.61 No que tange às Opções, Fisher, Ury e Patton (2018) ressaltam a existência corriqueira de negociações nas quais as partes não se preocupam com alternativas distintas, mas sim focam em uma única e exclusiva opção com alguns mecanismos de adaptação. Os autores destacam que “apesar da importância de ter muitas opções, as pessoas envolvidas em negociações raramente sentem necessidade delas. Em uma disputa, as pessoas geralmente acreditam saber a resposta certa — sua opinião deve prevalecer”62. Boff apresenta alguns obstáculos na busca de múltiplas opções nas negociações: O que prejudica essa busca de opções com ganho mútuopode ser a busca de resposta única, ou algum julgamento prematuro, ou analisar 58F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.. p. 31. 59B. R. J. Negociação: técnicas para a obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, 2015. p. 124. 60L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 64. 61F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 46. 62F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 57. só os interesses de uma das partes ou, ainda, acreditar na existência de jogo com soma zero, que se alguma parte ganha, a outra tem que perder. Na resposta única, a negociação tende ao impasse, pela falta de opções, pela falta de espírito de criar novas alternativas. No julgamento prematuro, são eliminadas alternativas sem sua correta avaliação. Observar só os próprios interesses causará, com grande probabilidade, dificuldades no processo de negociação. No chamado jogo de soma zero, o foco deve ser nos benefícios mútuos e não em perdas e ganhos.63 Por fim, temos os Critérios. O uso de parâmetros objetivos em uma negociação reduz a chance de problemas futuros. A negociação pautada nessa abordagem possui maior fluidez, bem como acordos mais justos e sensatos, mesmo que de forma não amigável. O fechamento de um acordo com critérios objetivos também reduz a realização de compromissos na pós-negociação, tal como ter que fazer compromissos não firmados, ou até o ato de desfazer aqueles já negociados64. Boff advoga que o método de Harvard só pode ser realizado respeitando esses quatro princípios – pessoas, interesses, opções e critérios. Particularmente, o autor descreve que a objetividade é parte importante do método, pois evita imparcialidade, senso de injustiça por uma das partes, bem como reduz a possibilidade de concluir que as decisões foram parciais, frutos de pressão, e não de princípios e equidade na negociação65. Baseado em Lewicki, Saunders e Barry (2014), pode-se dizer que o método de negociação integrativo de Harvard possui características de cooperação, ganhos mútuos e solução de problemas conjuntos. O enfoque é no alcance de resultados que sejam ganha-ganha, ou seja, não mutuamente excludentes. Alguns fatores que afetam o sucesso no uso desse tipo de negociação são: ter um objetivo em comum, confiança, legitimidade, motivação para cooperar e comunicação transparente66. Resumindo, o segundo capítulo trouxe uma descrição de negociações no ambiente empresarial e comercial, e os diferentes níveis no processo de tomada de decisão. Em sequência, foi exposta uma gama de diferentes estratégias e táticas de negociação. Por fim, foi apresentado o famoso modelo de negociação integrativa de Harvard. 3. NEGOCIAÇÃO: COMO SER EFICIENTE E COMO ADMINISTRAR CONFLITOS Conforme apontado nos capítulos anteriores, há uma variedade considerável de diferentes estratégias e táticas de negociação. Essa diversidade de opções pode levar a situações em que não haja fechamento de acordo. Analisar as similaridades é um caminho para entender os fatores que levam ao sucesso de uma negociação. Essa é a primeira parte do presente capítulo. 63B. R. J. Negociação: técnicas para a obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, 2015. p. 125. 64F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 75. 65B. R. J. Negociação: técnicas para a obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, 2015. p. 125. 66L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014.p. 88. Nos argumentos posteriores, são expostas as situações que podem levar a conflitos, bem como uma explicação de casos em que deve haver maior cooperação ou competição. Por fim, o capítulo se encerra descrevendo como os conflitos gerados a partir da negociação podem ser administrados. 3.1 Fatores que levam ao sucesso de uma negociação Lewicki, Saunders e Barry (2014) indagam que a habilidade de ser um bom negociador pode ser desenvolvida, não é necessariamente inerte a um talento nato de um indivíduo. Os autores apresentam um guia com 10 práticas que levam ao sucesso em qualquer negociação67. 1) Esteja preparado: a preparação envolve a definição de objetivos adequados, o planejamento das ações durante a negociação (por exemplo, reações ao comportamento da outra parte), realizar uma autorreflexão para entender quais são os pontos fortes e fracos que você tem, quais são as reais necessidades e desejos, priorizar de acordo com as relevâncias dessas necessidades. Porém, ao mesmo tempo, a preparação não pode ser exagerada, pois há um dispêndio elevado com essa ação, e o desenrolar da negociação é bem volátil, logo, prepare-se de acordo com o que você considera ser o mínimo necessário68. 2) Conheça a estrutura básica da negociação: é necessário um entendimento sobre a natureza da negociação em questão. Por exemplo, se é um ambiente que visa o ganha-ganha, ganha-perde, perde-ganha ou perde-perde. Essas diferentes naturezas vão se traduzir em comportamentos distintos, com maior ou menor disponibilização de informações, maior ou menor agressividade nas propostas, além de trazer um contexto mais cooperativo ou competitivo69. 3) Identifique e trabalhe a BATNA: conforme exposto antes, a BATNA é a melhor alternativa do acordo negociado. Conhecer sua BATNA faz com que você seja capaz de obter melhores resultados, abrindo mão de pontos não tão relevantes, bem como sendo intransigente quando um detalhe é de suma importância. Ao mesmo tempo, é eficiente não apenas identificar sua própria BATNA, mas também a BATNA da outra parte. Há três ações que são sugeridas nesse processo: monitorar o andamento da negociação de acordo com o limítrofe da BATNA, apontar os pontos em negociação e seus benefícios quanto à BATNA da outra parte, apontar as fragilidades da BATNA do outro negociador e detalhar o porquê de ela não ser tão boa quanto ele pensa70. 4) Esteja disposto a abandonar a negociação: não se esqueça do principal objetivo de uma negociação, que é alcançar bons resultados, não apenas fechar um acordo, qualquer que seja. É importante ter em mente que caso o caminho da negociação esteja indo para um caso irreversível, sem benefícios, é inevitável abandoná-la71. 67L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014.p. 269. 68Idem. 69Idem. 70L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014.p. 272. 71Idem. 5) Domine os principais paradoxos da negociação: os grandes dilemas de qualquer negociação é saber como reivindicar os termos ou criar valor por meio deles. O primeiro diz respeito à definição de que lado leva o que. O segundo é o uso do trabalho conjunto e as complementariedades para um esforço coletivo que leva a resultados melhores. Essa última parte destaca também que o “todo não é a soma das partes”, ou seja, o esforço coletivo pode levar a resultados melhores do que se somado os esforços individuais. Ainda, outras dualidades são: as discussões acerca de comportamentos estratégicos (e éticos) vs. comportamentos oportunistas (má-fé); a honestidade e transparência e o uso de confidencialidade e sigilo; confiança e desconfiança72. 6) Lembre-se dos intangíveis: em qualquer momento durante uma negociação não se esqueça das interferências dos fatores psicológicos e emoções. A má gestão dos intangíveis pode levar a impactos e resultados negativos, bem como a falta de sua compreensão pode ser utilizada como uma vantagem pela qual o outro negociador explora uma oportunidade de manipulação. O estado emocional e os sentimentos podem ser utilizados como mecanismos de defesa e de ataque. Não se esqueça de fazer uma gestão apropriada deles73. 7) Administre asalianças de modo ativo: muitas negociações dependem de referências externas ou até mesmo colaboração e suporte, como no caso de obtenção de informações e validação de dados (mentiras ou verdades). É necessária a realização de monitoramento de alianças que estão contra você, alianças que te dão suporte, alianças que estão em cima do muro, mas, podem vir a tomar partido de uma das partes. A máxima que o mundo dá voltas e que você pode precisar daquela aliança, é verdadeira no mundo das negociações. Dessa forma, preservar relacionamentos e alavancar sua base de apoio é de extrema necessidade74. 8) Desfrute e proteja sua reputação: interligado com as alianças, a sua reputação também afeta as negociações. A imagem que a outra parte tem de você pode definir uma maior ou menor flexibilidade nos acordos. Caso você tenha uma reputação ruim, a outra parte inicia a negociação na posição de defesa, assumindo que muitas de suas informações são inverdades e que você pode ter um comportamento oportunista ou ação de má fé em qualquer instante. Sua reputação vai ser traduzida como credibilidade e confiança que os outros podem ter em você75. 9) Lembre-se de que a racionalidade e a justiça são relativas: avalie que o seu senso de justiça e o que é racional é diferente do de outros negociadores. A sua avaliação pode sofrer adaptações de acordo com o cenário da negociação em questão. Não se esquecendo dos seus valores e princípios, ambos os sensos de racionalidade e justiça devem ser modificados a partir de feedbacks de terceiros. Essa evolução pode auxiliar na construção de uma melhor reputação e credibilidade76. 72Idem. 73Idem. 74Idem 75Idem. 76L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014.p. 277. 10) Continue aprendendo com sua experiência: em outras palavras, seja humilde. Admita que você não sabe tudo. Faça uma reflexão de pontos que você ache que precisa melhorar. Solicite críticas construtivas sobre seu comportamento. Lembre-se: a negociação é uma mistura de arte e ciência. Não pense que você terá um manual de regras que te levará ao sucesso. Improvisos e organicidade são requisitos para o alcance do sucesso em negociações77. 3.2 Competir ou cooperar? Na seção anterior, abordamos alguns fatores que podem levar ao sucesso de uma negociação. Entretanto, não há um destaque para a principal disputa em negociações: quais as características de competir e cooperar? Foram apresentados pontos de vantagens e desvantagens de ambas as situações em alguns exemplos, mas ainda não é possível afirmar um padrão de quando a negociação é competitiva ou cooperativa. Por negociação competitiva leia-se negociação distributiva, ou seja, um jogo de soma zero, em que alguém precisa perder para que a outra parte ganhe. Esse tipo de estratégia é aquele em que há uma busca do resultado, sem medo das consequências na manutenção do relacionamento, uma ótica lado tipo “os fins justificam os meios”78. Por negociação cooperativa leia-se negociação integrativa, o método de Harvard, ou seja, um jogo de soma não zero, que alguém pode ganhar sem que a outra parte precise perder79. Embora explicadas anteriormente, essas categorias gerais não ressaltavam quais os determinantes de competição e cooperação, sequer suas consequências, o que é o objetivo desta seção. Com base nessa perspectiva, Freitas (faltou o ano) apresenta a seguinte diferenciação: O grau de determinação, ou seja, a energia que é investida na disputa e na busca de solução, é função do poder relativo (grau de sobrevivência, quantidade e qualidade dos incentivos que podem ser oferecidos ao outro lado, potencialidade de fazer alianças, disponibilidade psicológica) de cada parte, bem como da importância que é dada ao objeto do conflito, isto é, os custos e benefícios. O nível de cooperação é resultado da qualidade do relacionamento entre as partes e do grau de interdependência entre elas (o nível em que atingir os resultados de uma parte depende da outra parte).80 Para elucidar claramente os pilares da competição ou cooperação, Lewiccki, Saunder e Barry (2014) apresentam diferentes dimensões de uma negociação que devem ser analisadas. São elas: sistemas de compensação, metas, relacionamentos, motivação, confiança, compreensão das necessidades, previsibilidade, agressividade, busca por soluções, medidas de 77Idem. 78B. R. J. Negociação: técnicas para a obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, 2015. p. 121. 79Idem. 80F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.p. 18. sucesso, situações prejudiciais extremas, postura principal, soluções em casos de impasses81. Para facilitar a compreensão, é inicialmente exposta a explicação de cada uma dessas categorias na face de uma negociação pautada em competir. Na sequência, apresenta-se o cenário do cooperar. Na ótica de competição: 1) Sistemas de compensação: usualmente há um valor pré-fixado que irá ser dividido entre as partes, o que justifica o cenário ganha-perde82. 2) Metas: o negociador visa alcançar suas metas mesmo que isso custe penalizar o outro lado. O importante é obter os resultados que estava esperando para si, sem se preocupar com o outro83. 3) Relacionamentos: não há preocupação de preservar o relacionamento e manter relações futuras. O objetivo é no curto prazo84. 4) Motivação: maximizar o seu próprio retorno e resultado85. 5) Confiança: usualmente não há confiança na outra parte. Há certo receio na transparência, mesmo que haja uma autoconfiança elevada. A postura, de forma geral, é defensiva86. 6) Compreensão das necessidades: os envolvidos buscam compreender seus próprios desejos, mas não deixam isso claro durante a negociação, com o receio de isso ser utilizado contra eles87. 7) Previsibilidade: o negociador tenta criar um ambiente confuso, no qual a previsibilidade não é presente. Pelo contrário, as ações visam criar uma incerteza do que pode acontecer, tentando explorar oportunidades que possam emergir desse fator88. 8) Agressividade: o comportamento é normalmente agressivo, baseado em blefes e ameaças coordenando a negociação89. 9) Busca por soluções: o objetivo é alcançar o resultado, não uma busca por soluções boas para ambos os lados. Pautadas em inverdades e manipulação, os envolvidos tentam apresentar certo comprometimento, porém falso90. 10) Medidas de sucesso: avaliam o sucesso de uma negociação a partir da imagem negativa da outra parte, bem como se há um ambiente com comportamento hostil91. 11) Situações prejudiciais extremas: quando há uma situação extrema, um dos lados assume a postura de jogo de soma zero, isto é, que é justificável derrotar o outro a fim de alavancar os seus próprios resultados92. 81L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 101. 82Idem. 83Idem. 84Idem. 85Idem. 86Idem. 87Idem. 88Idem. 89Idem. 90Idem. 91Idem. 92L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014.p. 101. 12) Postura principal: o posicionamento usual é que um perde para que o outro ganhe93. 13) Soluções em casos de impasses: é necessário o uso de um agente externo à negociação para lidar com o impasse, visto que, em muitas das situações, os negociadores não dão o “braço a torcer”. Na ótica de cooperação: 1) Sistemas de compensação: há uma quantidade variável de retornos que serão divididos, sendo que seu aumento ou diminuição pode ocorrer durante a negociação, fazendo que seja necessário um diálogo para acordar uma divisão. 2) Metas: objetivam alcançar metas de modo conjunto, mesmo que considerando suas expectativas individuais, há um anseio pelo alcance de resultados coletivos que são maiores do que a soma dos resultados que poderiam ser alcançados individualmente94. 3) Relacionamentos: há um enfoque no longo prazo, com perspectiva de relações futuras frutíferas95.4) Motivação: maximização dos resultados para todos os envolvidos, não apenas o seu próprio96. 5) Confiança: há um compartilhamento claro de alternativas, com uma confiança no outro97. 6) Compreensão das necessidades: o negociador expõe os seus desejos e necessidades reais, visando conhecer o outro lado para que possam explorar oportunidades de modo conjunto, e não explorar uma oportunidade no sentido de lesar a outra parte98. 7) Previsibilidade: os envolvidos buscam criar um ambiente mais transparente, em que imprevistos são menos recorrentes99. 8) Agressividade: o comportamento é menos agressivo, pautado em respeito mútuo e sinceridade100. 9) Busca por soluções: há uma busca por soluções que satisfaçam ambos os lados, mesmo que para isso um negociador tenha que reduzir os seus próprios resultados101. 10) Medidas de sucesso: quando o negociador não faz uso de imagens ruins do outro lado, bem como está aberto para diálogo, com anseios pautados em meritocracia102. 11) Situações prejudiciais extremas: quando uma das partes esquece sua individualidade, inserindo todos os seus próprios interesses como se fosse coletivo, ou seja, quando não há uma identidade do negociador103. 12) Postura principal: o posicionamento usual é aquele que visa entender o melhor cenário possível que atenda os desejos de todos104. 93Idem. 94Idem. 95Idem. 96Idem. 97Idem. 98Idem. 99Idem. 100Idem. 101Idem. 102Idem. 103L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 101. 13) Soluções em casos de impasses: pode haver discussões internas ou uma intermediação externa mais suave, como um facilitador105. Essa segunda parte apresentou as características detalhadas que permeiam uma negociação competitiva e uma negociação cooperativa. Porém, mesmo com o claro entendimento desses aspectos, o mundo das negociações lida diariamente com conflitos. Ao serem baseadas em relações humanas, as negociações abrem espaço para situações totalmente inesperadas, sendo que, quando mal resolvidas, resultam nesses conflitos e na discórdia. Para entender como e por que isso acontece, a próxima seção explora o tema dos conflitos em negociações. 3.3 Negociação e Administração de conflitos O primeiro passo para conseguir administrar conflitos é entender o que eles são. Conflito é quando há um desacordo sobre um determinado ponto na negociação, podendo emergir de diferentes necessidades ou resultados que estão sendo buscados106. Um conflito é inevitável em uma negociação107. Lewicki, Saunders e Barry (2014) identificam quatro tipos diferentes de conflitos que devem ser geridos: Primeiro, há o conflito intrapessoal ou intrapsíquico. Esse tipo de conflito é interno ao negociador, quando há uma divergência entre o seu racional, emocional e os resultados que busca alcançar. Usualmente é munido de uma natureza psicológica. Aqui, o espectro emocional se faz muito relevante, tanto no controle dos sentimentos, como no uso adequado de competências em algum ponto da personalidade. Por exemplo, habilidade de se manter racional mesmo em situações de extrema emoção108. Segundo, há o conflito interpessoal. Esse conflito ocorre quando há divergência nas relações entre pessoas, em que uma mantém um posicionamento em uma direção e o outro se guia para o sentido oposto. Há uma vasta gama de exemplos nesse sentido. Imagine as relações entre colegas de trabalho, cônjuges, amigos, e diversas outras interações sociais109. Terceiro, surge o conflito intragrupo. O conflito intragrupo aparece nas negociações que envolvem mais do que um indivíduo, ou seja, envolve um grupo. Esse tipo de conflito pode existir ainda que no mesmo lado de uma negociação. Pode ser um conflito interno em um grupo de uma das partes que não estão conseguindo entrar em acordo entre eles mesmos. Mesmo que ainda do mesmo lado, esse tipo de conflito pode trazer consequências negativas graves em uma negociação110. Por último, aparece o conflito intergrupo. Esse tipo de conflito é similar ao interpessoal, porém é sobre um relacionamento entre dois grupos de lados 104Idem. 105Idem. 106L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 20. 107F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 10. 108L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 20. 109Idem. 110L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014.p. 20. opostos. Assim como no conflito anterior, há uma dificuldade e complexidade maior na resolução de problemas conforme aumenta o tamanho do grupo111. Boff (falou o ano) ressalta que: O conflito é a percepção das diferenças entre pessoas. É um processo interacional, que se dá entre duas ou mais partes, em que predominam as relações antagônicas. [...] O conflito pode advir da divergência de uma ideia, opinião, atitude ou comportamento. Por conseguinte, essa divergência pode gerar um problema ou uma oportunidade a quem quer que seja, e pode gerar a semente do processo de negociação.112 Ury (faltou o ano) complementa a visão de resolver diferenças e coloca que, “para construir um mundo melhor, mais seguro e mais saudável para nós mesmos e para nossos filhos, devemos ser capazes de lidar com as nossas diferenças de maneira construtiva e criativa”113. Similarmente, Fisher, Ury e Patton (faltou o ano) advogam que “o desafio não é eliminar conflitos, mas transformá-los”. É mudar o modo como lidamos com nossas diferenças – em vez de conflitos antagônicos e destrutivos, solução de problemas de forma conjunta e pragmática”114. Lewicki, Saunders e Barry (faltou o ano) afirmam há distintas diferenças,apresentando quatro tipos delas: As diferenças nos interesses. Os negociadores raramente valorizam todos os itens em uma negociação por igual. Por exemplo, ao discutir um pacote de benefícios, uma empresa pode demonstrar maior disposição de oferecer um bônus do que um salário alto, porque o primeiro é pago apenas no primeiro ano, ao passo que o segundo é uma despesa permanente. [...] As diferenças nos julgamentos sobre o futuro. As pessoas diferem em suas avaliações sobre o valor presente ou futuro de algo. Por exemplo, um terreno pantanoso representa um investimento bom ou ruim para o dinheiro que você levou tempo para poupar? [...] As diferenças na tolerância ao risco. As pessoas diferem em termos dos riscos que estão dispostas a correr. Uma família jovem com três filhos e em que apenas uma pessoa trabalha tem uma capacidade menor de absorver riscos, comparada a uma família madura, sem filhos, e na qual duas pessoas têm renda [...] As diferenças nas preferências de tempo. Frequentemente os negociadores diferem em relação ao modo como o tempo os afeta. Enquanto um negociador prefere realizar lucros de imediato, outro talvez prefira adiá-los. Enquanto umprecisa de um acordo rápido, outro está satisfeito com a situação atual. As diferenças relativas ao fator tempo criam valor em uma negociação.115 Freitas (faltou o ano) indaga que essas diferenças podem gerar conflitos, visto que as partes fazem uma “avaliação de cálculo sobre a sua situação e a de seu parceiro /adversário. Às vezes ela é intuitiva, principalmente nas 111Idem. 112 B. R. J. Negociação: técnicas para a obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, 2015. p. 112 113U. W. Como chegar ao sim com você mesmo. Rio de Janeiro: Sextante, 2015. p. 98. 114F. R.; U. W.; P. B. Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. p. 10. 115L. R. J.; S. D. M.; B. B. Fundamentos de Negociação. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 19. questões mais subjetivas. Essa avaliação perpassa os pontos acima colocados, ou seja, o que ganho ou perco”116. Greenhalgh apresenta um modelo de resolução de conflitos que ressalta que algumas diferenças podem ser mais fáceis
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