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Vigilância em saúde bucal Apresentação O Sistema Único de Saúde (SUS) trouxe importantes mudanças para a organização da saúde no Brasil. A necessidade de abordar o processo saúde-doença em sua complexidade demandou ferramentas que considerassem os diferentes determinantes da saúde. Diante disso, a vigilância em saúde despontou como um desses mecanismos de atuação. A vigilância em saúde envolve todo o processo de identificação e monitoramento de agravos e condições de saúde. É a partir dela que são produzidos os dados necessários para o planejamento de ações e intervenções em diferentes comunidades. No campo da saúde bucal, a vigilância está presente no cotidiano da população brasileira, assim como no contexto das práticas dos profissionais de saúde bucal em seus locais de trabalho. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre a atuação da vigilância em saúde no Brasil, com maior ênfase no campo da saúde bucal. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir vigilância em saúde e sua aplicação em saúde bucal.• Identificar os campos de atuação da vigilância em saúde bucal. • Relacionar a atuação da vigilância em saúde bucal às diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. • Desafio A vigilância em saúde bucal se enquadra como uma importante aliada na condução de políticas públicas de saúde. As diretrizes da Política Nacional de Saúde dizem que as políticas devem ser pautadas em informações epidemiológicas sobre o território. Sabendo disso, acompanhe a situação a seguir: Nesse cenário, como você deve conduzir suas decisões? Lembre-se: os recursos são escassos e você deverá realizar decisões da forma mais equânime possível. Infográfico Um dos principais braços da Política Nacional de Saúde Bucal é a vigilância em saúde bucal, tendo o projeto SB Brasil como fio condutor desse processo. Sua primeira edição, em 2003, foi responsável por sustentar o planejamento e execução de uma política de saúde bucal orientada por critérios epidemiológicos. Agora que você já sabe que uma das formas de vigilância em saúde bucal é a realização de inquéritos epidemiológicos, é hora de conhecer um pouco sobre a maior pesquisa de saúde bucal realizada no Brasil até hoje: o SB Brasil 2010. Neste Infográfico, você vai se aprofundar no SB Brasil 2010, conhecer mais de perto as condições clínicas avaliadas por ele e os critérios utilizados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/b4957a4a-e394-4566-a3da-0eefd13b635f/9eccfc21-cbfd-4f35-8631-df6b48efca19.jpg Conteúdo do livro A vigilância em saúde é uma das responsabilidades do Sistema Único de Saúde (SUS), atuando de forma transversal no cotidiano dos serviços. Diante de sua importância, não se pode deixar de abordá-la quando se fala de saúde bucal coletiva. No capítulo Vigilância em saúde bucal, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai compreender o conceito de vigilância em saúde, com foco na atuação da vigilância em saúde bucal e seu papel como orientadora das políticas de saúde no Brasil. Boa leitura! SAÚDE BUCAL COLETIVA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir vigilância em saúde e sua aplicação em saúde bucal. > Identificar os campos de atuação da vigilância em saúde bucal. > Relacionar a atuação da vigilância em saúde bucal às diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Introdução A institucionalização de um sistema universal de saúde no Brasil se deu após muitos anos de reivindicações do Movimento da Reforma Sanitária. Nesse contexto, o momento mais reconhecido foi a VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada em 1986, quando foram debatidas e pautadas as orientações para a construção de um sistema universal de saúde brasileiro. A VIII CNS trouxe uma nova conceituação de saúde, compreendo-a como resultado de diferentes condições de vida, como alimentação, meio ambiente, trabalho e acesso aos serviços de saúde. Além disso, reconheceu a saúde como direito de cidadania, devendo, então, ser assegurada pelo Estado mediante políticas de saúde, econômicas e sociais (BRASIL, 1986). Uma das responsabilidades do Sistema Único de Saúde (SUS) é a vigilância em saúde, cujo objetivo central é informar e analisar as condições de saúde da população brasileira nos níveis municipal, estadual e nacional. Com isso, a vigilância em saúde atua diretamente em determinantes que influenciam as condições de saúde das comunidades. Funciona, portanto, em uníssono Vigilância em saúde bucal Joaquim Gabriel de Andrade Couto com o planejamento em saúde, uma vez que gera importantes dados a serem utilizados neste (BRASIL, 2010). Neste capítulo, será abordada a atuação deste importante braço do SUS, a vigilância em saúde. A princípio, é feita uma breve contextualização sobre a sua situação no Brasil, seguindo para a vigilância em saúde bucal. Na sequência, será discutido como você, um profissional de saúde bucal, pode atuar seguindo as diretrizes da vigilância em saúde no seu contexto de trabalho. A vigilância em saúde no Brasil A regulamentação do SUS por meio da Lei Orgânica nº 8.080, de 19 de setem- bro de 1990, já previa, entre os objetivos do sistema, a execução de ações de vigilância (BRASIL, 1990). Porém, foi com a Norma Operacional Básica nº 96 (publicada pela Portaria nº 2.203, de 5 de novembro de 1996) que, seguindo o princípio de descentralização, houve a delimitação de como cada ente federa- tivo deveria atuar, inclusive no campo da vigilância em saúde. Nesse sentido, municípios, estados e União trabalham juntos para construir e executar essas ações, cada qual com as suas responsabilidades (BRASIL, 1996). Dessa forma, as ações de vigilância em saúde se tornaram cada vez mais capilarizadas no SUS e, assim, mais próximas dos territórios onde vivem as pessoas. Em 2018, foi instituída a Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS), então conceituada como “uma política pública de Estado e função essencial do SUS, tendo caráter universal, transversal e orientador do modelo de atenção nos territórios, sendo a sua gestão de responsabilidade exclusiva do poder público” (BRASIL, 2018, documento on-line). Nesse contexto, a vigilância em saúde executa todo o processo de produção de dados, análise e disseminação de informações referentes aos agravos em saúde de interesse da população, atuando em todos os níveis de atenção à saúde, incluindo os serviços de saúde privados, assim como em estabelecimentos cujos produtos tenham alguma implicação na saúde das populações (BRASIL, 2018). Especificamente, a vigilância em saúde atua em todo o processo que envolve doenças e agravos em saúde, desde a sua identificação e o seu monitoramento, até o planejamento de ações e intervenções, incluindo a detecção de emergências em saúde pública, como no caso da pandemia por covid-19. Além disso, a vigilância trabalha na prevenção e na diminuição de riscos à saúde por problemas sanitárias decorrentes do ambiente, bem como da produção e circulação de bens e serviços, como na fiscalização de estabelecimentos de alimentação ou até mesmo em estabelecimentos de saúde públicos e privados. Ainda, a vigilância está presente em ações de Vigilância em saúde bucal2 promoção, prevenção e redução de riscos à saúde decorrentes dos ambientes de trabalho (BRASIL, 2018). De forma resumida, o campo de ações da vigilância em saúde subdivide-se nas seguintes aéreas: � vigilância em saúde ambiental; � vigilância epidemiológica; � vigilância sanitária; � vigilância em saúde do trabalhador. Apesar da divisão, útil em âmbito didático e visando ao planejamento e ao controle das ações, a atuação entre as diferentes áreas da vigilância se dá de forma conjunta e articulada, sempre levando em consideração a realidade e as especificidades dos territórios. Os entes federativos exercem as suas atividades deacordo com as suas atribuições, definidas pela PNVS. A vigilância em saúde bucal A implementação, em 2004, da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) trouxe, como eixo estratégico, a vigilância em saúde bucal, cujo principal objetivo é traçar o perfil epidemiológico em saúde bucal da população brasileira, de modo que se possa pensar em ações para minimizar os problemas de saúde bucal das pessoas. A PNSB trouxe mais espaço para o debate sobre a saúde bucal no Brasil, que passou a ser objeto de debate também na área de vigilância em saúde, trazendo a discussão sobre estratégias técnicas de vigilância em saúde bucal (MOYSÉS et al., 2013). Diante disso, percebeu-se a importância de construir um modelo de vigilân- cia em saúde bucal que articulasse a produção de dados primários, oriundos de inquéritos, e dados secundários. Tendo em mãos dados consistentes, é possível produzir indicadores capazes de avaliar a condição de saúde bucal do povo brasileiro e, com essas informações, construir estratégias baseadas em dados epidemiológicos. De acordo com Roncalli, Côrtes e Peres (2012, p. 63): Aqui no Brasil, no âmbito da Política Nacional de Saúde, a criação do Comitê Técnico Assessor (CTA) em Vigilância da Saúde Bucal iniciou um importante debate a respeito da construção de indicadores de saúde bucal, com base em dados de inquéritos e do uso dos mesmos em modelos de vigilância nos diferentes níveis de gestão. Vigilância em saúde bucal 3 A PNSB acarretou importantes mudanças na condição de saúde bucal dos brasileiros. Essas alterações foram determinadas pelas discussões em torno da vigilância em saúde bucal, uma vez que, a partir dela, seria possível reconhecer a realidade da população e traçar as ações em busca das melhorias. No que tange à vigilância em saúde bucal, o Comitê Técnico Assessor (CTA) promoveu uma agenda de debates sobre a temática, pautando assuntos como: [...] perfilização epidemiológica dos problemas de saúde bucal; integração; pro- postas de monitoramento e avaliação de intervenções em nível local, regional e nacional; projeções de demandas e organização da oferta de serviços; formação profissional; e a formulação de política específica de vigilância à saúde bucal (MOYSÉS et al., 2013, p. 165). Nesse contexto de debate, os levantamentos de saúde bucal foram a prin- cipal atuação na vigilância em saúde bucal, cuja resposta em âmbito nacional foi a construção do Projeto SB Brasil 2010. Esse projeto é uma estratégia de produção de dados primários, responsáveis por nortear as ações em saúde bucal e construir uma política assentada em bases epidemiológicas (MOYSÉS et al., 2013). Veja mais sobre ele na próxima seção. O papel do Projeto SB Brasil na vigilância em saúde bucal Antes mesmo do SB Brasil 2010, já tinham sido realizados outros levanta- mentos de saúde bucal no Brasil, podendo-se citar aqueles realizados em 1986, 1996 e 2003. No caso de 1986 e 1996, os projetos eram de menor alcance e com limitações metodológicas. Após essas duas experiências, planejou- -se um novo inquérito a ser realizado no ano 2000, mas que, por questões operacionais, só pode ser executado entre 2002 e 2003. Os inquéritos mais recentes avançaram na inclusão de um maior número de municípios a serem investigados, realizando a avaliação dos principais agravos em saúde bucal, como cárie dentária, doença periodontal, edentulismo, oclusopatias e fluorose. Além disso, os levantamentos também se propuseram a realizar a avaliação socioeconômica, do acesso aos serviços de saúde e da autopercepção de saúde bucal (SOUZA et al., 2021). Vigilância em saúde bucal4 Tendo como referência o último inquérito realizado, o projeto do SB Brasil 2010 foi elaborado em 2009 e submetido a uma consulta pública, incluindo diferentes atores sociais na construção do inquérito. A pesquisa realizada foi de base amostral, incluindo as 26 capitais brasileiras, o Distrito Federal e mais 150 municípios de diferentes portes populacionais. Foram examinadas 37.519 pessoas, entre as faixas etárias de 5, 12, 15 a 19, 34 a 45 e 65 a 74 anos. O processo envolveu cerca de 2.000 trabalhadores do SUS com o objetivo de caracterizar a situação de saúde bucal da população brasileira urbana. As equipes de campo eram formadas por um examinador e um anotador, todos capacitados em oficinas de trabalho e calibração (BRASIL, 2012). Veja, portanto, todo o preparo que foi necessário para termos informações o mais fidedignas possível. A vigilância em saúde como um todo envolve um processo de planejamento e execução de extrema responsabilidade. A vigilância em saúde, o planejamento e a execução de políticas pú- blicas andam de mãos dadas. Por exemplo, para planejar a expansão de equipes de saúde bucal no SUS em um cenário de restrição orçamentária, é importante conhecer as diferentes realidades, possibilitando uma melhor alo- cação desses recursos. Todo o processo de planejamento e tomada de decisões deve ser sustentado por bases de dados confiáveis. No plano da saúde bucal, foram investigadas as seguintes condições: � cárie dentária, utilizando os índices CPO-D médio (dentição permanente) e CEO-D (dentição mista), preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS); � condição periodontal, lançando mão do Índice Periodontal Comunitário (CPI), também proposto pela OMS; � traumatismo dentário, avaliado de forma separada na idade de 12 anos e considerando critérios que indicavam sinais de fratura coronária e avulsão; � oclusão dentária, avaliada aos 12 anos e na faixa etária dos 15 aos 19 anos utilizando o Índice de Estética Dental (a dentição decídua foi avaliada com o Índice de Foster e Hamilton); � fluorese dentária, avaliada pelo Índice de Dean; � edentulismo, avaliado pela necessidade do uso de próteses. Vigilância em saúde bucal 5 Além das avaliações clínicas, o inquérito aplicou questionários para le- vantar informações sobre a caracterização demográfica e socioeconômica, a utilização dos serviços de saúde bucal, a morbidade bucal referida e a autopercepção de saúde bucal. Todos os dados foram coletados em um dis- positivo eletrônico cedido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), otimizando o processo de anotação e análise dos dados, uma vez que o próprio banco de dados foi produzido no decorrer da coleta. Foram realizadas as análises estatísticas dos dados e a publicação dos resultados em documento oficial (BRASIL, 2012). Dessa forma, a realização do SB Brasil 2010 marcou a consolidação de um ciclo de retroalimentação entre o planejamento e a implementação de uma política pública de saúde bucal, tendo a vigilância em saúde como fio condutor. Além disso, o respaldo técnico e científico trouxe ainda maior credibilidade ao inquérito, uma vez que foram produzidos dados sensíveis o suficiente para orientar as políticas públicas (MOYSÉS et al., 2013). Como observam Moysés et al. (2013, p. 165), “O Projeto SB Brasil, portanto, é uma estratégia central de vigilância no eixo da produção de dados primários de saúde bucal, contri- buindo para a construção de uma Política Nacional de Saúde Bucal pautada em modelos de atenção de base epidemiológica”. Assim, podemos concluir que o SB Brasil tem atuação central na vigilância em saúde bucal no país. Os resultados do SB Brasil 2010 estão disponíveis para acesso público. Para consultar a publicação oficial, acesse o portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), faça a busca por “SB Brasil 2010” e, no lado esquerdo da plataforma, aplique o filtro de base de dados, selecionando a opção “Ministério da Saúde”. Selecione qualquer uma das duas opções encontradas e abra o documento no botão “texto completo”. Nele, você encontra todos os índices no âmbito nacional, bem como por cada região do Brasil. São dados muito importantes para se ter um panorama da condição de saúde bucal dos brasileiros, possibilitando identificar as diferenças entre faixas etárias e as diferenças regionais. A vigilânciaem saúde bucal, a ampliação do acesso e a melhoria na condição de saúde bucal Tendo como mecanismo os levantamentos epidemiológicos, o processo de vigilância em saúde bucal tem demonstrado a melhora na condição de saúde Vigilância em saúde bucal6 bucal dos brasileiros. O primeiro levantamento, realizado em 1986, encontrou um CPOD-D aos 12 anos de 6,7 (quase sete dentes afetados pela doença), o que indicava uma prevalência de cárie considerada alta pela classificação da OMS. Já em 2003, o levantamento abrangendo uma amostra maior demonstrou que o CPO-D aos 12 anos era de 2,78. Entre 2003 e 2010, houve uma redução de 26,2% nesse mesmo índice, chegando a um número de CPO-D igual a 2,07 (uma baixa prevalência de cárie) (BRASIL, 2012). A realização de inquéritos bem estruturados e cientificamente respaldados foi significativa para tomadas de decisões políticas, uma vez que conhecer a realidade é fator imprescindível para propor ações. A execução da PNSB é fruto dos debates que incluíam a questão da vigilância em saúde bucal como forma de orientar as tomadas de decisões. A existência de dados consistentes possibilitou a expansão dos serviços de saúde bucal no Brasil, de modo que, entre 2003 e 2010, foram implementadas 16.163 novas equipes de saúde bucal e 853 Centros de Especialidade Odontológicas. Além disso, entre 2005 e 2008, foram instalados sistemas de fluoretação das águas de abastecimento em 503 municípios (NARVAI, 2020). No que concerte à cobertura populacional das equipes de saúde bucal, entre 2003 e 2010, houve um aumento expressivo, saindo de 20,5% em 2003 e chegando a 36,5% em 2010. O indicador de cobertura de primeira consulta odontológica também aumentou nesse período. Dessa forma, percebe-se que houve a expansão dos serviços de saúde bucal no Brasil, ampliando o acesso à população brasileira (ROSSI et al., 2019). Os resultados dessa expansão foram identificados no SB Brasil 2010, como vimos anteriormente. Além de apresentar o panorama geral, os inquéritos são ferramentas potentes para ampliar a equidade no que diz respeito à distribuição dos serviços em um país de extensão continental como o Brasil. O acesso a dados regionais permite localizar as iniquidades em saúde bucal, levando em conta que as condições socioeconômicas, além das diferenças regionais, têm impacto direto na morbidade em saúde bucal. Um exemplo dessa situação é a redução no índice CPO-D na faixa de 15 a 19 anos na maioria das capitais do Brasil, mas com aumento nas capitais do Norte, como Boa Vista, Belém e Macapá (SOUZA et al., 2021). Vigilância em saúde bucal 7 Veja, portanto, que a vigilância em saúde bucal é parte integrante da PNSB, atuando no processo de avaliação e acompanhamento de riscos e determinantes do processo saúde-doença. A vigilância em saúde bucal se restringe aos levantamentos epidemiológicos? A resposta é não. Como vimos no início deste capítulo, a vigilância em saúde engloba diferentes âmbitos de atuação. No campo da saúde bucal, a vigilância sanitária tem importante papel no controle dos estabelecimentos odonto- lógicos públicos e privados, fazendo a vigilância desses locais no que diz respeito aos riscos físicos, químicos e biológicos, garantindo o seu correto funcionamento (NARVAI, 1998). Além disso, a vigilância sanitária atua no controle de produtos de uso odontológico vendidos no país, como os dentifrícios, as escovas dentais, os fios e as fitas dentais e os colutórios. A vigilância dos alimentos, das bebidas e dos medicamentos também tem forte influência no campo da saúde bucal. Ainda, não podemos nos esquecer da fluoretação das águas de abasteci- mento, garantindo o teor correto de flúor, que previna contra a cárie e não cause danos ao esmalte dentário. Outro campo de atuação é na vigilância das condições de trabalho, de forma a assegurar adequadas condições de trabalho aos profissionais de saúde bucal (NARVAI, 1998). Nesse sentido, a atuação da vigilância em saúde bucal está presente no nosso cotidiano, seja como profissionais do setor público ou privado, seja como consumidores (de alimentos, água, medicamentos e serviços). Este é um exemplo prático do nosso dia a dia como consumidores: a água que bebemos e utilizamos para cozinhar é alvo da vigilância. É ela que garante que não haja o consumo de águas hipo ou hiperfluoretadas. Conforme o conteúdo abordado neste capítulo, a vigilância em saúde representa um importante campo de atuação da PNSB. Com ela, podemos conhecer a realidade das populações e averiguar os produtos que as pessoas consomem e os estabelecimentos de saúde que elas frequentam. A vigilância permite um planejamento em saúde condizente com a realidade, além de Vigilância em saúde bucal8 possibilitar que os avanços sejam mapeados. Assim, por meio deste texto, foi possível conhecer mais uma atividade de responsabilidade do SUS, que não se restringe apenas à assistência à saúde, mas engloba uma multiplicidade de ações com o objetivo de melhorar a vida do povo brasileiro. Referências BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde [...]. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 27 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 588, de 12 de julho de 2018. Brasília, DF: CNS, 2018. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/ resolucoes/2018/Reso588.pdf. Acesso em: 28 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes nacionais da vigilância em saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010. (Série Pactos pela Saúde 2006, v. 13). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_vigilancia_saude. pdf. Acesso em: 27 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.203, de 5 de novembro de 1996. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1996. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/1996/prt2203_05_11_1996.html. Acesso em: 27 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório final da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1986. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/8_conferencia_nacional_saude_relatorio_final.pdf. Acesso em: 27 abr. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. SB Brasil 2010: pesquisa nacional de saúde bucal: resul- tados principais. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012. MOYSÉS, S. J. et al. Avanços e desafios à Política de Vigilância à Saúde Bucal no Brasil. Revista Saúde Pública, v. 47, 2013. NARVAI, P. C. O caso do ‘Brasil Sorridente’ e perspectivas da Política Nacional de Saúde Bucal em meados do século XXI. Revista Tempus: Actas de Saúde Coletiva, v. 14, n. 1, 2020. NARVAI, P. C. Vigilância sanitária e saúde bucal. 1998. Disponível em: http://www.fo.usp. br/wp-content/uploads/UVigilncia.pdf. Acesso em: 27 abr. 2022. RONCALLI, A. G.; CÔRTES, M. I. S.; PERES, K. G. Perfis epidemiológicos de saúde bucal no Brasil e os modelos de vigilância. Cadernos de Saúde Pública, v. 28, p. 58-68, 2012. ROSSI, T. R. A. et al. Crise econômica, austeridade e seus efeitos sobre o financiamento e acesso a serviços públicos e privados de saúde bucal. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 12, 2019. SOUZA, G. C. A. et al. Implantação da Política Nacional de Saúde Bucal e sua influência sobre a morbidade bucal em capitais brasileiras na primeira década do século XXI. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, n. 12, 2021. Vigilância em saúde bucal 9 Leituras recomendadas BRASIL. Ministério da Saúde. 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal: acesso e quali- dade superando exclusão social: relatório final. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. SB Brasil 2020. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://aps.saude.gov.br/ape/brasilsorridente/sbbrasil2020. Acesso em: 27 abr. 2022. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados,e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Vigilância em saúde bucal10 Dica do professor A fluoretação das águas de abastecimento público é reconhecida como uma forma eficiente de prevenção à cárie No Brasil, passou a ser obrigatória em 1974, avançando desde então. Todavia, a fluoretação precisa passar por um cuidadoso processo de vigilância, garantindo o controle das concentrações de fluoreto nas águas de abastecimento. Essa vigilância precisa considerar diversos fatores, como a média de temperatura local, que interfere diretamente no valor ideal de fluoreto nas águas, uma vez que, em regiões com temperaturas mais elevadas, esse valor é menor, enquanto, em regiões com menores temperaturas, é maior. Nesta Dica do Professor, você vai compreender a questão da fluoretação das águas de abastecimento e a vigilância desse processo no Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/57821d3d6c9f432b4ddd9ef9ae2d4457 Exercícios 1) O Sistema Único de Saúde (SUS) tem como um de seus princípios a descentralização político-administrativa. A vigilância em saúde, como política nacional vinculada ao SUS, deve seguir esse mesmo princípio. Considerando a descentralização da vigilância em saúde, assinale a alternativa correta. A) A descentralização da vigilância em saúde significa que todas as ações que envolvem esse campo de atuação são de responsabilidade dos Municípios, sendo que cada um deles deve planejar, financiar e executar as atividades de vigilância. B) O princípio da descentralização, aplicado à vigilância em saúde, promove maior autonomia dos entes federativos, uma vez que as ações são realizadas pela União, Estados e Municípios, cada um com suas responsabilidades, havendo aquelas que são compartilhadas e aquelas exclusivas de cada ente. C) Por descentralização, entende-se que o Ministério da Saúde transfere a responsabilidade de financiar e coordenar as atividades de vigilância aos Estados. Os Municípios fazem o cofinanciamento dessas ações, seguindo as orientações dos Estados no que se refere a sua execução. D) A descentralização está relacionada unicamente à execução das ações de vigilância em saúde pelos próprios Municípios e Estados. O financiamento dessas ações é responsabilidade exclusiva da União, por meio de repasses oriundos do Ministério da Saúde. E) Pelo princípio da descentralização, cada ente federativo faz a gestão das ações de vigilância em saúde, por intermédio de um órgão específico. A União é representada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e os Estados e Municípios pelas vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, respectivamente. 2) A Política Nacional de Vigilância em Saúde tem caráter universal e transversal, sendo responsável pela produção e análise de dados, assim como pela execução de ações referentes a agravos em saúde de interesse da população. Sobre a vigilância em saúde, assinale a afirmativa correta. A) A vigilância epidemiológica é uma das frentes de atuação da vigilância em saúde, e seu trabalho envolve a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, atuando no combate às doenças transmissíveis, como a covid-19. B) A vigilância sanitária faz parte do conjunto de ações de vigilância em saúde, sendo responsável por atuar estritamente no controle e fiscalização de estabelecimentos de saúde, garantindo seu funcionamento de acordo com as normas sanitárias. C) Uma das atuações da vigilância em saúde é a vigilância em saúde ambiental, responsável pelas ações e serviços que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana. D) A vigilância em saúde do trabalhador é uma das frentes de atuação da vigilância em saúde, cujas ações envolvem a fiscalização e monitoramento dos ambientes de trabalho, garantindo que não sejam insalubres aos trabalhadores. Os agravos decorrentes de condições de trabalho são de responsabilidade da vigilância epidemiológica. E) A vigilância em saúde engloba as atuações das vigilâncias em saúde ambiental, epidemiológica, sanitária e em saúde do trabalhador. As diferentes vigilâncias devem atuar de forma articulada, com planejamento compartilhado. Todavia, os protocolos, instrumentos, normas técnicas e atos normativos devem ser sempre construídos separadamente, tendo em vista suas especificidades. 3) No campo da saúde bucal, a vigilância em saúde está presente na Política Nacional de Saúde Bucal, que preconiza que as ações sejam pautadas em dados epidemiológicos. Nesse sentido, os inquéritos de saúde bucal têm papel central no avanço dessa política. Sobre os inquéritos de saúde bucal no Brasil, responda se as afirmações são verdadeiras (V) ou falsas (F): 1. ( ) O primeiro inquérito de saúde bucal foi realizado em 1990 e avaliou apenas os índices de CPO-D e CEO-D das populações. 2. ( ) O segundo inquérito foi realizado em 1996, em todas as 26 capitais estaduais e no Distrito Federal. Avaliou o índice CPO-D, na faixa etária dos 6 aos 12 anos. 3. ( ) O SB Brasil 2000, realizado entre 2000 e 2001, avançou metodologicamente, consolidando-se como um inquérito de base populacional, tendo sido realizado em 250 municípios. 4. ( ) O SB Brasil 2010 foi o último e maior levantamento realizado até o momento, tendo avaliado condições clínicas e socioeconômicas. Assinale a alternativa com a sequência correta. A) V – V – F – V. B) F – V – V – V. C) F – V – F – V. D) F – V – V – F. E) F – V – F – F. 4) O projeto SB Brasil representa um importante avanço no campo da saúde bucal no país. A versão de 2003 trouxe dados consistentes para guiar a recém lançada Política Nacional de Saúde Bucal. O SB Brasil 2010 apresentou dados que puderam avaliar os rumos dessa política, guiada pela vigilância em saúde bucal. Sobre o SB Brasil 2010, analise as seguintes afirmativas: I. O SB Brasil 2010 avaliou as condições clínicas da cárie dentária, a condição periodontal, a oclusão dentária e o edentulismo. II. Houve importante redução no índice CPO-D aos 12 anos, chegando a 2,07 em 2010. III. Há grandes diferenças regionais, uma vez que as Regiões Norte (com 3,16), Nordeste (com 2,63) e Centro-Oeste (com 2,63) têm situação pior do que as Regiões Sudeste (1,72) e Sul (2,06). IV. Na classificação da OMS, o índice CPO-D brasileiro, em 2010, se enquadra como média prevalência de cárie. Apesar disso, o Brasil é o país com menor média de CPO-D na América do Sul. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A) I, II e III. B) II e III. C) II, apenas. D) II, III e IV. E) II e IV. 5) O uso do flúor na prevenção da cárie é uma ação muito conhecida no meio odontológico. Uma das maneiras de levar flúor à população é por meio da fluoretação das águas de abastecimento. Sobre a fluoretação das águas de abastecimento, assinale a alternativa correta. A) A quantidade de flúor nas águas deve ser controlada. O Brasil, por ser um país de clima tropical, precisa manter um padrão de 1,0mgL de flúor nas águas de abastecimento. B) A vigilância das quantidades de flúor nas águas de abastecimento é feita pelas empresas que realizam o tratamento de água. C) A vigilância da fluoretação das águas de abastecimento é importante para garantir que a quantidade adequada de fluoreto esteja sendo utilizada, evitando a ingestão excessiva de flúor, responsável pela fluorose. D) No Brasil, a fluoretação das águas de abastecimento é lei desde 1974. Entretando, a cobertura municipal de fluoretação é de pouco mais de 50%. E) A vigilância da fluoretaçãodas águas no Brasil é feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Na prática A vigilância em saúde é transversal à atuação profissional. Um dentista pode se deparar com diferentes lesões em face e boca decorrentes de outras questões de saúde, não necessariamente de origem odontológica. Assim, é preciso estar atento a esses agravos para reconhecê-los e realizar os encaminhamentos corretos. Acompanhe, Na Prática, um caso que mostra a atuação de vigilância em saúde do cirurgião- dentista. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/31d3a8d6-f643-4a42-8436-9be16f133df2/fd282991-54b4-4d4f-8f1f-ba765831bca6.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Saúde coletiva: políticas, epidemiologia da saúde bucal e redes de atenção odontológica Leia o Capítulo 3, "Epidemiologia da saúde bucal e iniquidades sociais", desta obra de contextualização sobre a epidemiologia da saúde bucal, uma importante disciplina para a vigilância em saúde bucal. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SB Brasil 2020 (vigência 2021-2022) Em 2022, haverá um novo inquérito sobre saúde bucal no país, o SB Brasil 2020, que teve seu cronograma atrasado devido à pandemia de covid-19. Saiba mais sobre esse projeto no link a seguir. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Decurso histórico das políticas de fluoretação como estratégia de enfrentamento à cárie dentária no Poder Legislativo brasileiro, de 1963 a 2019 Leia o seguinte artigo, publicado em 2020, que traz uma importante investigação sobre as discussões acerca da fluoretação das águas no âmbito do Poder Legislativo no Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://aps.saude.gov.br/ape/brasilsorridente/sbbrasil2020 https://doi.org/10.1590/0102-311X00208418 Portaria no 264, de 17 de fevereiro de 2020 Confira a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2020/prt0264_19_02_2020.html
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