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Você é chamado (a) para fazer atendimento a ruminantes que apresentam sinais e sintomas característicos de algum distúrbio envolvendo o sistema digestório. Com base no que foi apresentado e estudado, responda: (10,0 pontos) * A) Como você deve conduzir o exame clínico desse animal? Pegar dados sobre histórico do animal durante a anamnese (ex. quando começaram os sinais, se mais animais do rebanho apresentam, como está o comportamento, como é feita a dieta, como estão as fezes deste animal, dentre outros). Deve ser feito um exame físico geral (Verificar temperatura, FR, FC, hidratação, ausculta do pulmão) e posteriormente um exame físico especial do sistema digestório: Fazer o exame do abdome (verificar se há abaulamento, fazer teste de balotamento, verificar se há timpanismo ), examinar o rúmen (auscultação do rúmen, avaliar se há presença de som metálico, avaliar movimentos ruminais, pode ser feito a palpação transretal para avaliar o conteúdo ruminal), avaliar cavidade oral (ver se há presença de úlceras, avaliar a arcada dentária, dentre outros). Deve ser feita a anamnese, pegar o histórico deste animal entendendo qual tipo de alimentação esse animal recebe, como está o apetite, como está a lactação (caso seja fêmea), vacinação, vermifugação, se está apresentando dor, se está prostrado ou alerta, verificar se já passou por algum problema/teve alguma doença anteriormente, se vive em rebanho, se o sistema é intensivo ou extensivo, se existem plantas tóxicas por perto, quando o problema da queixa se iniciou, como estão as fezes (consistência e coloração), se já foi feito o uso de algum fármaco… No exame físico deverá ser auscultado coração e pulmão, verificar frequência respiratória e cardíaca, auscultar os movimentos intestinais e ruminais (verificar se há hiper ou hipomotilidade), verificar a hidratação, temperatura retal. No exame visual do abdômen (Devemos nos posicionar atrás do animal olhar de posterior para anterior) para ver se está normal ou se há aumento, onde está localizado esse aumento, se é característico de timpanismo, ascite. Se tem aquela aparência de "pêra" ou "maçã", fazer o teste de balotamento. No exame da cavidade oral e esôfago verificar TPC e coloração de mucosa, verificar se há presença de úlceras, se é um animal que apresenta sialorréia, como estão os dentes. No exame do rúmen deve ser feita palpação externa, transretal.. Avaliar o conteúdo que está dentro do rúmen, consistência, coloração, odor. Auscultação tanto do lado direito como do lado esquerdo, com atenção para ver se haverá som metálico, ou “ping”, ou se há líquido, verificar movimentos ruminais B)Quais sinais clínicos você pode encontrar? Úlceras, distensão abdominal, anorexia, depressão, inapetência, hipertermia, desidratação, alteração de fezes, diminuição da lactação, dor abdominal, alterações de frequência cardiaca e respiratoria, dentre outros Diminuição de apetite, apatia, febre, diarreia, emagrecimento progressivo, abaulamento de abdômen, alterações em motilidade, queda na produção, dor, desidratação, constipação, hipomotilidade ruminal, parada da ruminação, acidose, alcalose, etc... C) Com base nos sinais clínicos você pode associar com quais doenças? Úlceras orais: Acidose, ruminite Distensão abdominal: Deslocamento de abomaso, indigestão vagal, acidose ruminal aguda ou subaguda, ascite, hidrâmnio, hidroalantoide, timpanismo intestinal Presença de sons borbulhantes: torção de abomaso, Obstrução intestinal, Enterite, Dilatação do abomaso Auscultação de pings: Dilatação e deslocamento ou torção de abomaso para a direita, Dilatação e torção cecal, Torção de cólon, Timpanismo intestinal, Torção de mesentério, Intussuscepção, Pneumoperitônio Ausência total de fezes: Intussuscepção, torção de cólon e mesentério Fezes escassas: Reticuloperitonite traumática, indigestão vagal, impactação de omaso ou abomaso, deslocamento ou torção de abomaso, toxemia, timpanismo intestinal, peritonite Anorexia, depressão, inapetência, hipertermia, emagrecimento, desidratação: Inespecíficos São inúmeras doenças! Deslocamento de abomaso à direita ou esquerda, peritonite aguda difusa, indigestão vagal, torção de abomaso, intussuscepção, timpanismo ruminal, Intoxicação por amônia, acidose láctica ruminal aguda, ruminite, compactação abomasal, enterites, obstruções intestinais. Por exemplo, um animal que tem distensão abdominal do lado esquerdo e ausculta de ping, é patognomônico de deslocamento de abomaso à esquerda. Um animal que come alimentos de difícil digestão e apresenta falha na contração abomasal, abdômen distendido + Baixo ECC + Desidratação + Fezes secas e duras pode indicar compactação abomasal, mas também nos levam a pensar em indigestão vagal. A auscultação de pings pode estar ligada a dilatação e deslocamento ou torção de abomaso para a direita, dilatação e torção cecal, torção de cólon, timpanismo intestinal, torção de mesentério, intussuscepção, pneumoperitônio. Sons borbulhantes podem estar ligados a obstrução intestinal, enterite, dilatação do abomaso, palpação da víscera sólida no flanco direito podem estar ligadas a Impactação do abomaso. Tudo vai depender da associação do histórico de sinais e exames. D) Como devo diferenciar as doenças do sistema digestório? Muitos dos sinais são inespecíficos e podem ser associados a diferentes patologias (anorexia, inapetência, queda de lactação, dor, depressão, hipertermia), por isso para diferenciá-las deve ser feito uma associação do histórico+anamnese, epidemiologia e sinais clínicos para nos direcionar para o raciocínio correto de alguma patologia (por exemplo a vacinação e vermifugação em dia já nos ajuda a descartar algumas doenças, saber se é uma doença individual ou se afetou o rebanho nos direciona para pensar se vai ser uma doença infecto contagiosa ou não). Além de fazer os exames complementares para confirmação de diagnóstico, ou então por exemplo, uma laparotomia exploratória. Existem alguns sinais também que são mais característicos, por exemplo o abaulamento do abdômen do lado esquerdo + som metálico pode ser associado a deslocamento de abomaso à esquerda, um abdômen em formato característico de pêra pode indicar indigestão vagal. Um animal com abdômen distendido + baixa condição corporal + Desidratação + Baixa produção fecal com um histórico associado a quantidade excessivas de forragens grosseiras e indigeríveis pode estar associada a compactação abomasal, e por aí vai. A diferenciação se dá analisando histórico do paciente, os exames e a clínica. Um timpanismo em um animal que é alimentado somente com leguminosas provavelmente é espumoso, úlceras em boca podem estar associadas à acidose, um animal que tem ureia na alimentação e está apresentando convulsões, atonia ruminal tem grandes chances de apresentar intoxicação por amônia. Na palpação retal também é possível notar algumas diferenças: Se o rúmen estiver muito aumentado, sem contrações, pegando também o antímero direito pode ser devido a indigestão vagal. Mas se o abomaso estiver baixo, mais caudal e entre rúmen e abomaso houver uma separação pode ser indicativo de impactação de abomaso, se palpar o abomaso na fossa paralombar esquerda pode ser deslocamento de abomaso à esquerda. As alças intestinais aumentadas podem indicar uma torção cecal. Além de considerar outros exames que auxiliam na diferenciação como por exemplo a radiografia, detector de metais que pode ser usada para identificar uma reticuloperitonite traumática. E) Em relação ao tratamento, como devemos tratar ruminantes com distúrbios digestivos? O tratamento vai ser sintomático. Para febre utiliza-se antipiréticos, para infecções utiliza-se antibióticos, para inflamação e antibióticos, para dor analgésicos, para desidratação fluidoterapia. Na maioria das vezes, será necessário um melhor manejo de dieta. e às vezes precisará fazer recomposição da microbiota e correção do pH ruminal (como por exemplo nos casos de hipomotilidade).Um animal com acidose precisa ter o manejo da dieta ajustado, sem muito concentrado e o conteúdo ruminal alcalinizado através de Fluidoterapia a base de bicarbonato de sódio (150ml/kg, BID), fazer lavagem do rúmen ou rumenotomia. Em casos de alcalose pode-se acidificar o pH vinagre. Um animal que apresenta timpanismo precisa ser sondado para remoção de gás, um animal com Indigestão vagal por exemplo pode-se fazer a sondagem orogástrica para esvaziar o gás, uso de fármacos como polaxeno 10g/45/kg, acetil butileno, silicone, metilcelulose. O tratamento é individual para cada paciente e também vai depender dos sinais clínicos manifestados. Geralmente são usados antibióticos e antiinflamatórios. Exemplos de tratamentos: Indigestão simples: Cuidar do manejo alimentar, recompor a microbiota do animal. Acidose: correção de pH com óxido de magnésio. - Hipomotilidade: Corrigir a causa alterando dieta, fazendo correção do pH ruminal. Não tem um tratamento específico, mas podem ser usados parasimpaticomiméticos: carbamilcolina, fisostigmina, neostigmina, pilocarpina - Intoxicação por amônia: Remover e NNP gás livre o quanto antes. Acidificar o conteúdo ruminal com 2 litros de vinagre 100kg/pv. Pode ser oferecido água em grande quantidade para se obter um efeito diluidor e diminuir atividade da urease, pode-se optar pela fluidoterapia também. Pode ser feita antibioticoterapia Antibioticoterapia com Neomicina: 5 – 10mg/kg ou Tetraciclina: 10 – 20mg/kg para supressão de atividade da urease. Glicose a 5% - 1 a 2 litros/50kg. 0,5 a 1 litro de solução de borogluconato de Ca a 25% - Acidose láctica ruminal aguda: Fluidoterapia a base de bicarbonato de sódio 1,3%, NaCl 0,9%) 150ml/kg, BID para elevar o pH Sabemos que os sistemas orgânicos dos animais podem apresentar algumas interrelações, ou seja, existe uma afecção do sistema digestório (A) que pode desencadear outra no sistema locomotor (B). Sendo assim, responda: (5,0 pontos) * A) Acidose metabólica/ruminal subclínica pode desencadear laminite. Acidose e laminite. B) Porque a alteração do pH resulta em mecanismos que predispõem a laminite. Com a acidose o pH ruminal diminui, ativando um mecanismo vasoativo que aumenta o fluxo sanguíneo, liberando endotoxinas e histamina, que levam a constrição e dilatação vascular elevando ainda mais a pressão sanguínea, lesionando os vasos. Com isso acaba extravasando líquido pela parede venosa que foi lesionada, provocando edema, que pode causar isquemia e hipóxia, fazendo com que haja pouca chegada de nutrientes na célula, resultando em hemorragia, trombose, edema, isquemia e necrose, causando a laminite. Está relacionada a fatores nutricionais. A alta ingestão de concentrado acaba elevando o crescimento microbiano diminuindo o pH, que faz a liberação de substâncias vasoativas, que liberam histamina e endotoxinas que levam a uma vasoconstrição periférica e posteriormente uma vasodilatação auto mediada causando shunts arteriovenosos. O aumento da pressão vascular lesiona os vasos causando edema e isquemia, que leva a hipóxia diminuindo a quantidade de oxigênio e nutrientes que chegam na célula causando a laminite. Esse mecanismo também pode causar trombose/hemorragia/necrose. C) Acidose: Fazer reajuste da dieta com bom manejo alimentar/nutricional, evitar consumo excessivo de carboidratos, oferecer o concentrado e o volumoso juntos e não de forma separada, se necessário fazer uso de bicarbonato ou carbonato de magnésio para alcalinizar o pH. o animal deve ser muito bem contido garantindo a segurança do animal e do veterinário, deve ser feita a antissepsia do local, limpeza e curativo. O tratamento da laminite pode ser feito com analgesia (ex. aspirina (15-100 mg/kg BID) ou opióides caso a dor seja mais intensa. Antiinflamatório (ex. flunixim meglumine (1,1 mg/kg). Também pode ser feito o casqueamento corretivo. Para evitar a acidose deve-se ter cuidado com a relação concentrado:volumoso, se atentar à formulação de dietas que não predisponham a produção excessiva de ácidos no rúmen, é fundamental que haja fibra efetiva suficiente para estimular a mastigação e consequentemente a saliva que ajuda tamponamento. Pois se controlar a dieta para que não haja acidose, consequentemente evita a laminite. Para tratar a acidose pode ser feita fluidoterapia com bicarbonato de sódio. Caso a laminite esteja estabelecida podem ser feitos curativos + limpeza rigorosa, associados a antibiótico local https://www.milkpoint.com.br/colunas/marina-danes/fibra-efetiva-para-vacas-leiteiras-aspectos-praticos-parte-i-102620n.aspx como a tetraciclina. Em lesões mais agressivas (ex. artrite séptica) podem ser feitos os antibióticos também podem ser por via endovenosa como por exemplo: Cefalosporinas Sulfas Tetraciclinas. Pode ser feita associação de anti-inflamatório para auxiliar na inflamação e dor (ex. flunixin meglumine) E) Para evitar é essencial manter uma dieta equilibrada e que estimule a ruminação e produção de saliva, rica em bicarbonato (para alcalinizar o pH). Por isso deve-se evitar a ingestão de grande quantidade de concentrado e fazer um aumento no teor de fibras (de boa qualidade) na dieta. Cuidado com o tamanho das fibras, se necessário, fazer ajustes para adequar o tamanho. Pode ser feito o uso de aditivos na dieta como bicarbonato de sódio para aumentar a capacidade tamponante da dieta. É importante também que na dieta estejam inclusos os minerais e vitaminas essenciais. O casqueamento funcional também pode ser considerado uma medida preventiva e de controle. É interessante que haja um pedilúvio para os animais passarem após ou antes da ordenha. O ambiente deve ser limpo, higienizado, arejado, para evitar predisposição ao aparecimento de patógenos. O bom manejo dietético irá prevenir o aparecimento dessas lesões. Se atentar para quantidade de CHO e fibra na dieta, se atentar ao tamanho da partícula, se estiver muito concentrado na dieta deve ser feita a administração de tamponantes e alcalinizantes. Não dispensar os minerais essenciais como zinco, cobre, manganês, selênio que auxiliam na cicatrização, síntese de queratina… Fazer suplementação com vitaminas A, E e biotina que também vão auxiliar. É necessário fazer a utilização de alcalinizantes na dieta. Fazer o animal passar pelo pedilúvio com formol 5% ou sulfato de cobre 5 (dependendo da necessidade pode usar antibióticos como por exemplo a tetraciclina) para lavar os cascos (na hora de ir ou voltar da ordenha). Além disso, deve manter o ambiente limpo e com conforto para os animais.