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CONHECIMENTO FILOSÓFICO E A MODERNIDADE

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ACESSE AQUI O SEU 
LIVRO NA VERSÃO 
DIGITAL!
PROFESSOR
Me. Matheus Marcus Gabriel Mellado
Conhecimento 
Filosófico e a 
Modernidade
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/10946
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
DIREÇÃO UNICESUMAR
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head 
de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e 
Planejamento Educacional Tania C. Yoshie Fukushima Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela 
Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção Digital 
Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Design 
Educacional e Curadoria Yasminn T. Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de 
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino 
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
EXPEDIENTE
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. MELLADO, Matheus Marcus 
Gabriel.
Conhecimento Filosófico e a Modernidade. Matheus 
Marcus Gabriel Mellado. Maringá - PR.: UniCesumar, 2021. 
308 p.
ISBN 978-65-5615-593-7
“Graduação - EaD”. 
1. Conhecimento 2. Filosófico 3. Modernidade. 4. EaD. I. 
Título. 
CDD - 22 ed. 300.1 
Impresso por: 
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Coordenador(a) de Conteúdo 
Priscila Campiolo Manesco Paixão
Projeto Gráfico e Capa
André Morais, Arthur Cantareli e 
Matheus Silva
Editoração
Lucas Pinna Silveira Lima
Design Educacional
Patrícia Ramos Peteck
Curadoria
Cleber Rafael Lopes Lisboa
Revisão Textual
Ariane Andrade Fabreti
Ilustração
André Azevedo
Fotos
Shutterstock
FICHA CATALOGRÁFICA
A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história 
avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade, 
ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria-
mente para que nossa educação à distância continue 
como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre 
quatro pilares que consolidam a visão abrangente 
do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o 
profissional, o emocional e o espiritual.
A nossa missão é a de “Promover a educação de 
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, for-
mando profissionais cidadãos que contribuam para o 
desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. 
Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio impor-
tante para o cumprimento integral desta missão: o 
coletivo. São os nossos professores e equipe que 
produzem a cada dia uma inovação, uma transforma-
ção na forma de pensar e de aprender. É assim que 
fazemos juntos um novo conhecimento diariamente.
São mais de 800 títulos de livros didáticos como este 
produzidos anualmente, com a distribuição de mais 
de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos-
sos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700 
polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, 
Ponta Grossa e Corumbá), o que nos posiciona entre 
os 10 maiores grupos educacionais do país.
Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima 
história da jornada do conhecimento. Mário Quin-
tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem 
muda o mundo são as pessoas. Os livros só 
mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportu-
nidade de fazer a sua mudança!
Reitor 
Wilson de Matos Silva
Tudo isso para honrarmos a 
nossa missão, que é promover 
a educação de qualidade nas 
diferentes áreas do conhecimento, 
formando profissionais 
cidadãos que contribuam para 
o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária.
Matheus Marcus Gabriel Mellado
Olá Aluno(a), tudo bem com você? Meu nome é Matheus 
Mellado e sou professor de Filosofia. Além da filosofia, 
possuo interesses em outras áreas de humanas, mas es-
tas somente para passar o tempo. Sou um ávido leitor 
de literatura, gosto de ler obras em seu idioma original; 
amo filmes clássicos, mas também não ignoro os mais 
recentes; e gosto muito de música, até me arrisco a tocar 
guitarra. 
Possuo graduação em Filosofia pela Universidade Esta-
dual de Maringá (2017), mestrado em Filosofia pela Uni-
versidade Estadual de Maringá (2020) e atualmente sou 
doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de 
São Paulo. Integrante do grupo de ensino Filosofia e Li-
teratura do Departamento de Filosofia da UEM, membro 
do GT de Filosofia Francesa Contemporânea da ANPOF. 
Tenho experiência na área de Filosofia, atuando princi-
palmente nos seguintes temas: filosofia contemporânea, 
filosofia francesa e estética.
Espero que você tenha um ótimo aprendizado nesta dis-
ciplina, um abraço e um bom estudo!
http://lattes.cnpq.br/8871494822202869
https://orcid.org/0000-0002-2541-407X
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/10527
Frente às novas tecnologias e a inovação dos meios de comunicação, as noções de 
informação e processos pelos quais podemos adquirir e produzir conhecimento se 
encontram em uma encruzilhada. Como proceder para se pensar uma questão? Como 
verificar um método de investigação? Por fim, qual o ponto basilar onde podemos 
fundamentar que uma ideia ou contribuição a uma discussão seja verdadeiramente 
sua e vinda de suas próprias reflexões?
Por vezes, podemos nos encontrar em uma simples discussão sobre alguma notí-
cia do dia. Entretanto, para que possamos desenvolver uma análise de algum tema e, 
posteriormente, expressar algum juízo verdadeiro, precisamos verificar as fontes que 
nos são passadas, a confiabilidade do discurso e sua correlação com a realidade que 
ele busca descrever. O pensamento filosófico busca esse tipo de discurso, pautado 
por uma significação que tenda a verdade ou veracidade, de acordo com um proceder 
rigoroso e conceitual. 
Por exemplo, imagine que você está pesquisando sobre um assunto qualquer, pode 
ser para a formulação de algum trabalho da graduação, relacionado a uma tarefa do 
seu emprego ou até mesmo sobre algo que é do seu interesse ou de alguém que te 
interesse. Quando você recolhe as informações, percebe que algumas delas são con-
flitantes, onde uma não concorda de jeito nenhum com a outra. 
Sendo assim, será preciso realizar uma verificação das fontes, confirmar qual é mais 
confiável, qual delas destoa mais das outras informações. Para então poder julgar, com 
base nessa verificação, o que seria mais plausível ou verdadeiro sobre esse assunto. 
Nós precisamos realizar esse processo de validação das informações, bem como do 
método utilizado, justamente para que possamos sermos mais fiéis à realidade. A in-
vestigação sobre um tema, em grande parte das vezes, implica em como concebemos 
o conhecimento e como nos constituímos como sujeitos de conhecimento. E tal noção 
de subjetividade e verdade, foi amplamente desenvolvida nas correntes filosóficas da 
Idade Moderna, onde justamente se inicia a separação entre sujeito e objeto e onde 
se inauguram as ciências modernas e o método científico.
CONHECIMENTO FILOSÓFICO E A MODERNIDADE
Caro(a) aluno(a), nesta disciplina iremos debater acerca dos pressupostos e modelos 
de pensamento que permearam o pensamento filosófico no período da Idade Moder-
na. Tentaremos traçar uma linha de pensamento cronológica de algumas discussões 
essenciais sobre a constituição do sujeito, no que se refere a composição da ideia de 
individualidade e nos aspectos básicos para se pensar a aquisição do conhecimento de 
modo autônomo. Para que, assim, possamos refletir não apenas sobre a história dos 
conceitos e ideias, mas tambémem como podemos empregá-los e ressignificá-los, de 
acordo com as demandas da atualidade.
Sendo assim, começaremos nossas observações a partir de um estudo histórico em 
nossa primeira unidade. Procuramos partir de uma visão do quadro social e cultural 
da época por um motivo bem simples, contextualizar o mundo em que os autores 
modernos se encontravam, as mudanças que o mundo passou ao se abrir as grandes 
navegações e também a reformulação do pensamento após a delimitação da ideia de 
um sujeito separado das coisas. Falar em uma distinção entre sujeito e objeto pode 
parecer óbvia para nós atualmente, mas em realidade esse tipo de diferenciação afir-
ma-se com mais veemência no período moderno.
Neste sentido, gostaríamos de salientar que o estudo a ser desenvolvido tomará 
emprestado o diálogo com algumas obras célebres deste período histórico tão vasto e 
diversificado. Partiremos, na segunda unidade, do estabelecimento de alguns pontos 
centrais do racionalismo cartesiano e do empirismo inglês. Tais visões de como podemos 
adquirir o conhecimento, também possuem como pano de fundo um sistema de compo-
sição diferente do que seria o indivíduo e de suas limitações para se pensar a verdade.
Em nossa terceira unidade, abordaremos o início do idealismo alemão com Kant. 
Trataremos desse autor separadamente, pois o mesmo tem grandes contribuições para 
se pensar não só um novo modelo de subjetividade, mas também as consequências 
no âmbito das recém fundadas ciências modernas e na composição da autonomia do 
indivíduo, aqui em seu escopo moral, social e cognitivo.
Dando sequência, em nossa quarta unidade discutiremos o estabelecimento da 
Estética como um novo ramo da filosofia por si só, ou seja, que pode ser discutida sem 
a interferência direta de outras áreas da filosofia. O enraizamento do pensamento esté-
tico, como um novo campo livre, é uma significativa para se pensar o sujeito moderno, 
pois discutiremos as relações entre objetividade e subjetividade dentro da composição 
do próprio indivíduo e dele em suas relações culturais.
Por fim, em nossa quinta unidade, nós estudaremos o pensamento de Nietzsche. 
Com esse autor podemos vislumbrar uma crítica ao pensamento moderno ocidental 
como um todo, seja no campo da moral, científico, estético e até metafísico. Suas obras, 
consideradas muito disruptivas para sua época, foram severamente criticadas e, desse 
modo, deixadas de lado. Mas nem por isso, sua visão da realidade e do sujeito não 
são menos inovadoras e interessantes. Tais críticas e modos de posicionar e olhar a 
cultura foram aspectos fundamentais para vários autores no período contemporâneo, 
tais como Heidegger, Foucault, Deleuze, Bataille, etc.
A partir da compreensão do conteúdo apresentado, será possível, primeiramente, 
refinar melhor nossas bases de argumentação e de reflexão, seja no âmbito da pro-
dução e pesquisa acadêmica, ou em nossas relações políticas e sociais. Em segundo 
lugar, reconhecer as fontes de nosso conhecimento e nos entendermos como sujeitos 
que produzem conhecimento, somos habilitados a ter uma autonomia sobre nosso 
próprio pensamento.
Nosso intuito não será apenas que você aluno(a) aprenda o conteúdo desta disci-
plina de forma mecânica, mas proporcionar as ferramentas básicas para se produzir e 
responder, da melhor maneira possível, questões que permeiam a ideia de verdade e 
validade. Isso tendo como pano de fundo uma visão cronológica de como os pensado-
res contribuíram com tais temas. Sendo assim, vamos iniciar nossos estudos.
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar 
Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do 
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
Ao longo do livro, você será convida-
do(a) a refletir, questionar e trans-
formar. Aproveite este momento.
PENSANDO JUNTOS
NOVAS DESCOBERTAS
Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos 
de maneira interativa usando a tec-
nologia a seu favor.
Sempre que encontrar esse ícone, 
esteja conectado à internet e inicie 
o aplicativo Unicesumar Experien-
ce. Aproxime seu dispositivo móvel 
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex-
plore as ferramentas do App para 
saber das possibilidades de intera-
ção de cada objeto.
REALIDADE AUMENTADA
Uma dose extra de conhecimento 
é sempre bem-vinda. Posicionando 
seu leitor de QRCode sobre o códi-
go, você terá acesso aos vídeos que 
complementam o assunto discutido.
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
OLHAR CONCEITUAL
Neste elemento, você encontrará di-
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos, 
esquemas e fluxogramas os quais te 
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara
Professores especialistas e convi-
dados, ampliando as discussões 
sobre os temas.
RODA DE CONVERSA
EXPLORANDO IDEIAS
Com este elemento, você terá a 
oportunidade de explorar termos 
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881
A IDADE 
MODERNA E AS 
SUAS INOVAÇÕES
11 63
APRENDIZAGEM
CAMINHOS DE
1 2
SUBJETIVIDADE E 
CONHECIMENTO
123
O SUJEITO 
CONTRA A 
METAFÍSICA
3 4 183
O SUJEITO 
ABSOLUTO
5 249
O SUJEITO 
APÓS A 
MODERNIDADE 
1A Idade Moderna e 
as Suas Inovações
Me. Matheus Marcus Gabriel Mellado
Nesta unidade, discutiremos alguns pontos principais acerca da história 
geral da Idade Moderna. Dentre estes marcos, salientaremos quatro 
movimentos principais: o Renascimento; as Reformas Protestantes; o 
surgimento do Estado Moderno e, por fim, o Iluminismo.
UNIDADE 1
12
Ao começarmos a estudar um novo assunto ou a investigar um tema diferente do 
que estamos, geralmente, habituados, é muito importante criarmos um contexto 
para aquilo que queremos verificar. Todo objeto de pesquisa possui um pano de 
fundo, pensar algo é, também, pensar os motivos que levaram a aquilo ser o que 
é, hoje. Entretanto podemos nos perguntar: qual é a vantagem em saber a origem 
de algo? Como isso nos afeta? Podemos utilizar este aprendizado, se houver, de 
fato, algum, para algo diferente em nossas vidas? 
Um exemplo seria quando conhecemos uma pessoa nova, quando criamos 
laços com essa pessoa. À medida que a conhecemos melhor, entendemos a sua 
história e os acontecimentos que proporcionaram a ela ser quem é, hoje. Eviden-
ciar o contexto de um estudo é o mesmo; sendo assim, para entendermos melhor 
as correntes de pensamento de uma época, é necessário compreender os fatos 
que levaram as pessoas a pensar de tal modo. É fácil visualizar a importância de 
conhecer a história de um amigo ou familiar, agora, quando se trata de aspectos 
implícitos em nossa realidade, de como as ideias que citamos, em nosso dia a dia, 
reverberam em nossas vidas, nos deparamos com uma questão mais complicada. 
UNICESUMAR
13
Sendo assim, fica a seguinte questão: como as ideias de 500 anos atrás impac-
taram a realidade daquela época e como elas podem ser problematizadas, hoje?
A confiabilidade que damos a um estudo se encontra tanto na estrutura quan-
to no método que empregamos. Ao querermos salientar os aspectos históricos e 
culturais da Modernidade, queremos fornecer um estofo conceitual. Digamos que 
seria como ler o manual de instruções de um carro novo: podemos estudar cada 
aspecto dele e cada parte que ele possui, mas é, totalmente, diferente usar o carro. 
Dirigir um carro novo seria pôr em prática ou contextualizar o conheci-
mento que adquirimos, anteriormente. Este é o nosso objetivo, nesta unidade: 
mostrar os acontecimentos que motivaram e alimentaram as discussões filo-
sóficas da Idade Moderna.
Compreender o contexto em que certos pensamentos ou ações ocorreram é 
essencial. Não incluir os pressupostos de como as coisas se deram, pode ser muito 
prejudicial para o que pretendemos conhecer. Dessa maneira, imaginaremos que 
duas pessoas que você, aluno(a), conhece muitobem, começam a discutir. Nesta 
discussão, uma acusa a outra de ter falado algo que a desagradou, mas ambas negam 
ter dito qualquer coisa ofensiva. Então, diante de tal impasse, pedem que, você, obser-
vador(a), tome partido e decida quem está certo e quem está errado nessa discussão. 
Nesse contexto, conhecer o que as levou a discutir é muito importante? 
Ao não compreendermos os motivos que levaram à discussão, muito, pro-
vavelmente, cairemos em um julgamento raso sobre as ações de uma dessas 
pessoas, ou, até mesmo, de ambas. O mesmo ocorre com uma pesquisa: ao 
focarmos, apenas, nos conceitos e não no contexto onde eles se desenvolveram, 
perdemos de vista as suas motivações e razões de ser, o que poderia nos levar 
a pensamentos e considerações equivocados.
Sendo assim, é necessário buscar uma reflexão sobre os antecedentes históricos, 
como tais antecedentes influenciaram os costumes, os pensadores da época, o tipo 
de regime político vigente etc. Em suma, verificar as necessidades que permeiam 
o cotidiano de um pensador, os seus problemas e as suas fontes, torna-se essencial 
naquele aspecto que afirmamos, anteriormente. Conhecimento sem contexto seria, 
apenas, a junção de conceitos dispersos, na qual não haveria a necessidade de tais 
conceitos fazerem sentido. Agora, se pensarmos como os conceitos aderem à rea-
lidade de quem os formularam, somos permitidos a ter uma visão mais completa 
e empática dos acertos e erros que cada escola filosófica, ou, mesmo, um autor, em 
particular, buscou, por meio da história, discutir e transmitir. 
UNIDADE 1
14
Desse modo, gostaria de convidá-lo(a) a esboçar, aqui, no Diário de Bordo, as 
suas dúvidas e impressões sobre o que pensa e almeja aprender em nossa primeira 
unidade. Sem mais delongas, vamos começar.
DIÁRIO DE BORDO
UNICESUMAR
15
Bem, aluno(a), gostaria de abrir a nossa discussão com a contextualização his-
tórica, para vislumbrarmos como a perspectiva de mundo e de realidade passou 
por inúmeras transformações, ampliando a visão e os horizontes de pensamento.
Figura 1 - Obra A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio (1509).
Podemos dizer que o termo Renascimento é, comumente, empregado para de-
signar o movimento cultural que se iniciou nos séculos XIV e XV e desenvolvido 
na Europa Ocidental, cujo cerne foi o redescobrimento dos preceitos e elementos 
constituintes da cultura greco-romana clássica. Sobre a denominação “Humanis-
mo”, este conceito faz uma referência mais restrita. Eram chamados humanistas 
aqueles pensadores, no interior do Renascimento, que colocavam o ser humano no 
centro do universo, como medida de todas as coisas — movimento então apelida-
do de Antropocentrismo —. Além disso, a cultura humanista esteve, diretamente, 
Descrição da Imagem: na pintura, temos várias pessoas com vestimentas dos antigos gregos e romanos. 
Elas estão em um salão com arquitetura greco-romana, o qual apresenta esculturas na parede. Ao centro 
e no fundo da imagem, temos um senhor de barbas brancas apontando para cima com o dedo indicador 
direito, e a sua mão esquerda segura um livro. Ao seu lado, temos um homem com barba cuja palma da 
mão direita está aberta, virada para baixo, enquanto a sua mão esquerda segura um livro. Em volta deles, 
várias pessoas conversam em grupos, alguns usando livros e fazendo anotações.
UNIDADE 1
16
ligada à redescoberta das letras clássicas (latim, o qual era mais conhecido na 
região da Itália, e o grego antigo, trazido, novamente, a esta região, pelas interações 
com os povos árabes e de cultura fundamentada no Islã). Tal redescoberta das 
letras clássicas possibilitou aos pensadores da época o contato com novas obras 
ou versões mais completas de filósofos cujos os textos não estavam disponíveis na 
Idade Média, como Aristóteles, Platão, Cícero, Pitágoras, Ovídio etc.
Dentre os saberes empregados e desenvolvidos pelos humanistas, estão: a 
Gramática, a Retórica, a Poética, a História Antiga e a Filosofia Moral. Com in-
fluências do pensamento filosófico escolástico bem como de seu rigor lógico, 
os humanistas buscavam o estabelecimento de preceitos formais e universais 
sobre os saberes, anteriormente, citados, mas sempre procurando os empregar, 
de maneira prática, no mundo. 
Aqui, já percebemos a aplicação diferente da própria escolástica, praticada 
nas universidades da época, cujos fins eram mais doutrinais e acadêmicos. Além 
disso, os humanistas, como estudiosos das línguas clássicas, empregaram estu-
dos filológicos extensos, buscando um trabalho rigoroso dos conceitos e pro-
movendo traduções precisas. Desse modo, estes estudiosos foram fundamentais 
à compreensão das formulações das linguagens antigas e como parte delas se 
preservaram na cultura cristã da época, ou, como poderiam ser reincorporadas, 
para verificar quais seriam os pensamentos possíveis de sanar algumas questões 
desse período histórico.
Podemos salientar que o Renascimento trouxe uma nova modalidade de valores. 
Enquanto a Idade Média era marcada por ideias como: a soberania religiosa, a vida 
em comunidade e valores familiares e patrimoniais, os valores humanistas marcaram 
a transição a ideais laicos e centralizados na individualização. O Humanismo, como 
uma nova conduta, pregou a valorização de escolas de pensamento que se direcio-
Aluno(a), não desenvolveremos, com profundidade, o que foi 
a escolástica, pelo fato de ela ter sido um movimento ante-
rior ao Renascimento. Todavia, como ela foi essencial para 
sedimentar as bases do Renascimento e do modelo univer-
sitário como um todo, lhe convido a verificar este podcast. 
Nele, há uma conversa que tentará apontar alguns pontos 
cruciais da escolástica, como a sua origem e estrutura e os 
seus direcionamentos teóricos.
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/10522
UNICESUMAR
17
naram à secularização, porém, o que, de fato, ocorreu, 
não foi a contraposição entre os ideais da Antiguidade 
Clássica e as concepções cristãs da Baixa Idade Média, 
na realidade, houve um tipo muito particular de sin-
cretismo. Tal mistura, realizada entre conceitos pagãos 
e laicos, deu origem à busca de uma completude do 
ser humano, em seus aspectos morais, científicos e es-
téticos. Sendo assim, vários elementos do pensamento 
antigo foram reintroduzidos na doutrina cristã. 
Temos exemplo desse sincretismo nas Artes 
Plásticas, em como Michelangelo utilizou os conhe-
cimentos matemáticos e anatômicos e, também, a 
técnica de composição clássica, para gerar obras de 
cunho religioso (a Capela Sistina); outro exemplo 
foi a releitura de autores como Maquiavel, acerca 
da Política de Aristóteles, para formular os seus 
tratados (o próprio O Príncipe); Dante utilizou os 
mitos pagãos para erigir a sua monumental Divina 
Comédia; dentre outras inúmeras criações oriundas 
do engenho renascentista.
Para vários pensadores humanistas da época, al-
guns mitos, como o de Orfeu, ou, os estudos pitagóri-
cos e platônicos possuíam as mesmas relações que a 
doutrina cristã, mesmo que formulados de maneiras 
diferentes. Tanto as formulações pagãs clássicas quan-
to a doutrina cristã lidavam com um pensamento rigo-
roso que buscava a fé à luz do pensamento dos autores 
antigos. Esta concepção que agregava à doutrina reli-
giosa o rigor e as ferramentas conceituais da Filosofia, 
ajudaram a fundamentar, ainda mais, a noção antro-
pocêntrica. Querendo, ou não, foi posto em xeque o 
modo com o qual o ser humano passou a ser refletido 
como um ser que convergia as existências materiais e 
espirituais da fé. Porém sem pôr de lado que esse ser 
encontraria paz e alento nos preceitos de Deus.
UNIDADE 1
18
Para sermos mais precisos, a eclosão do Renascimento ocorreu nas regiões 
norte e central da Itália, nos séculos XIV e XV. Em tal período histórico, a Itália 
era dividida em principados ou cidades-Estado, onde cada uma delas possuía 
certa autonomia e tinha vasta influência no poder papal instaurado em Roma. 
O Renascimento chamou a atenção da elite da região, como os membros do altoclero e os regentes e famílias de grandes comerciantes da época. Não podemos 
esquecer que, nessa época, a Itália era um importante polo comercial marinho 
com o Oriente e o norte da África. Sendo assim, diversos mecenas não, somente, 
patrocinaram, como também se empenharam em custear as pesquisas e pro-
duções filosóficas, científicas e artísticas da época. Dentre os principais polos 
culturais da época estavam Roma, Veneza, Milão e Florença.
Com o passar do tempo, os preceitos renascentistas e humanistas se espa-
lharam pela Europa. Como a própria Itália era um polo comercial importante, 
a comunicação com outras regiões do continente foi eminente, todavia levou 
mais tempo para que o Renascimento criasse raízes na Europa Ocidental como 
um todo. O movimento teve o seu início, como já afirmamos, na Itália, no século 
XIV, mas foi, amplamente, difundido, apenas, no século XVI.
Na França, a primeira leva de humanistas teve desenvolvimento tardio e, tam-
bém, muito ligado ao pensamento escolástico e aristotélico, bastante enraizado 
nas correntes conservadoras de pensamento da Universidade de Sorbonne, já 
existente naquela época. Na Inglaterra, o principal nome foi John Colet — que 
influenciou o pensamento de Erasmo de Rotterdam —, ele foi um sacerdote or-
denado pela Igreja Católica e, também, professor na Universidade de Oxford, e 
utilizou o pensamento platônico para dirigir críticas ao pensamento escolástico 
da época, o qual, por sua vez, era impregnado pelo aristotelismo. 
Nos Países Baixos, a introdução do pensamento humanista chegou, apenas, 
no século XV, tendo, como principal expoente, Rodolfo de Agrícola, que traduziu 
as obras de Isócrates e foi um grande defensor da educação moral e da indepen-
dência intelectual. Na Alemanha, Conrad Celtis traduziu obras latinas — como 
as de Sêneca — e foi considerado um dos mais importantes humanistas que 
antecederam a Reforma Protestante. Já na Espanha, a figura mais representativa 
foi Antonio de Nebrija. Ele formou-se em Línguas Clássicas pela Universidade 
de Bolonha e, posteriormente, lecionou nas universidades de Salamanca e Alcalá, 
sendo responsável por boa parte da cultura clássica no país.
UNICESUMAR
19
Sobre as inovações científicas da época renascentista, elas foram marcadas 
por uma renovação de extrema importância. Preceitos como a observação e a 
experimentação da natureza, o desenvolvimento dos modelos matemáticos e 
a profunda influência sobre o misticismo platônico foram marcas basilares do 
período. Porém engana-se quem pensa que essas investigações científicas foram, 
amplamente, aceitas pelos pensadores conservadores da época. Mesmo que os 
novos conhecimentos científicos tenham sido empregados por pensadores cris-
tãos, os humanistas se depararam, inúmeras vezes, com impedimentos da Igreja 
Católica e dos pensadores escolásticos.
Primeiramente, podemos verificar que o ímpeto dos humanistas em empre-
gar uma nova visão da realidade começou com as extensivas traduções dos textos 
clássicos. Como aponta Carey (2000, p. 1-13 apud LOPES, 2005, p. 457), o Renasci-
mento teve um extenso trabalho de tradução e readaptação do pensamento clássico:
 “ De um modo geral, a historiografia ocidental identifica, desde, pelo menos, as últimas décadas de 1400, a História Natural como um cor-po de conhecimentos escritos, sistematizados, no que se refere ao re-
gistro dos fatos da natureza. A esse período se atribuem as primeiras 
impressões e reedições dos escritos zoológicos de Aristóteles (384-322 
a.C.), [...] do De plantis de seu discípulo Teofrasto (c. 381-276 a.C.), da 
Materia medica de Dioscorides (c. 40-80) e particularmente da obra 
de Plínio, o Velho (23-79 d.C.) que determinou fortemente a tradição 
dos humanistas do Renascimento. Os trinta e sete livros da “História 
Natural” de Plínio seguiam uma história cronológica, que represen-
tava o ideal do conhecimento enciclopédico da totalidade das con-
quistas do Império Romano. Escrita por autoridades em cosmologia, 
astronomia, geografia, farmacologia, botânica, zoologia, mineralogia, 
a “História Natural” de Plínio esteve disponível na Europa durante 
toda a Idade Média e foi constantemente retomada na origem das 
coletas e das conquistas até o século XVIII. 
Partindo da observação e da experimentação da realidade, os humanistas em-
penharam os seus esforços na verificação dos fatos descritos nos textos clássicos, 
descobrindo, assim, novas facetas da realidade. Desse modo, neste aspecto expe-
rimental, os humanistas começaram a se distanciar das doutrinas escolásticas. 
UNIDADE 1
20
Paolo Rossi aponta, em seu livro O Nascimento da Ciência Moderna na Europa 
(2001), que, inúmeras vezes, os cientistas modernos não desenvolviam as suas 
pesquisas nas universidades, as quais possuíam métodos escolásticos, mas o gros-
so de suas descobertas foram produzidas fora destes espaços. Aliadas a esta nova 
postura científica, as expansões marítimas agregaram novas descobertas: inúme-
ras descrições sobre a fauna e a flora das Américas e do Oriente trouxeram à luz 
uma realidade diversa e inimaginável para o sujeito que viveu na Idade Média. O 
Renascimento tornou-se um período em que, apenas, a especulação — elemen-
to marcante da escolástica — não bastava mais, era necessário experimentar os 
limites dos efeitos da natureza, tal como aponta Lopes (2005, p. 463):
 “ Foi um período em que não se tratava mais só da prática da ex-periência que se aprendia ao observar, mas das práticas da expe-rimentação que “conduziam à verdade” e que também tomavam 
como referentes operativos os ideais baconianos. Tais ideais obje-
tivavam proporcionar benefícios à humanidade. O conhecimento 
deveria ser socialmente útil, em oposição à vã especulação inútil, 
para proporcionar vantagens concretas à sociedade. Associada à 
utilidade estava a verdade. 
Neste período de redescobrimento e de inovações teóricas, nomes como Copér-
nico, Giordano Bruno e Tycho Brahe foram essenciais para o desenvolvimento 
da astronomia, a qual, futuramente, culminaria na revolução científica moderna 
e na instauração da teoria do Heliocentrismo. No campo das Matemáticas, houve 
a efervescente assimilação dos pressupostos pitagóricos, os quais foram aplicados, 
de variadas maneiras, na Arquitetura e nas Artes Plásticas — dentre os pensadores 
que utilizaram, ostensivamente, a Matemática, em sua produção, estava Leonardo 
Da Vinci. No campo da Química, temos o nome de Paracelso. Este, fortemente, 
influenciado pelo pensamento neoplatônico, trabalhou com a diferenciação dos 
elementos e aplicou esses conhecimentos a partir da observação da natureza e do 
rigor matemático, chegando a afirmar que tudo o que ocorria no corpo humano era 
decorrente de processos químicos. Já na Medicina, surge o nome de Vesálio, autor 
de um dos primeiros guias anatômicos da época, De Corporis Humani Fabrica. Ele 
se graduou na Escola de Medicina de Pádua e foi, ainda, professor de grego antigo.
UNICESUMAR
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Dentre as diversas inovações teóricas do período, podemos salientar a de Nicolau 
Maquiavel, o célebre autor de O Príncipe e Discurso Acerca da Primeira Década 
de Tito Lívio. O pensamento do autor gira em torno dos preceitos suficientes 
para realizar a manutenção do poder de um Estado. Dito em outras palavras, 
Maquiavel buscou explicar os melhores modos de um príncipe — ou regente em 
geral — a lidar com as dificuldades e os perigos de seu cargo, o que exigia, muitas 
vezes, que o príncipe agisse de maneira ríspida e cautelosa. Sendo assim, a ordem 
moral deveria, quando forçosa, ser subjugada à ordem e à necessidade do Estado. 
Como afirma a professora Raquel Kritsch (2001, p. 185-187), sobre a questão da 
moral e da violência para o pensador, nas seguintes passagens:
 “ Maquiavel sustenta que a vida política tem exigências próprias, par-ticulares, que não podem se subordinar aos imperativos, pretensa-mente universais, tanto da moralidade cristã quanto do humanismo 
estoico (Cícero e Sêneca). É importante frisar que Maquiavelnão 
Rotas comerciais e o início do Mercantilismo 
Tal movimento foi um reflexo de mudanças econômicas ocorridas desde o final da Baixa 
Idade Média, na Europa. Neste período, houve um renascimento do comércio no interior 
do continente, ao mesmo tempo em que se explorou rotas e relações comerciais com o 
norte da África e com o Oriente. O feudalismo cedeu espaço ao capitalismo mercantil bem 
como ao estabelecimento da burguesia como classe social emergente. Tais relações co-
merciais foram essenciais à redescoberta dos textos da Antiguidade greco-romana, pois, 
os árabes, principalmente, foram os responsáveis pela preservação de tais escritos, os 
quais, posteriormente, foram traduzidos para o latim pelos escolásticos e humanistas.
EXPLORANDO IDEIAS
NOVAS DESCOBERTAS
Para aqueles que desejam aprender mais sobre as origens de algumas 
ideias que a Modernidade legou para a posteridade, recomendamos a 
leitura do livro A Formação do Mundo Moderno de Falcon e Rodrigues. 
Além de tratar de alguns pontos-chave da história moderna, são abor-
dados pensadores que moldaram o debate intelectual da época.
UNIDADE 1
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recusa de forma radical aos valores cristãos. Ele somente se opõe a 
um tipo de ética que exige tratar das ações segundo valores absolu-
tos em qualquer tempo e lugar, sem levar em consideração como e 
para que a ação está sendo executada. Ele não rejeita a visão ética, 
mas põe em primeiro plano a questão da eficácia, sem a qual a po-
lítica, para ele, não tem sentido [...]
Os fins do Estado são supremos. Não requerem terror perpétuo, mas 
podem impor o uso da força e da astúcia. Esta concepção da Razão 
do Estado está fundamentada na convicção de que é impossível ga-
rantir a ordem pública e evitar a anarquia no corpo político sem uma 
autoridade estatal forte capaz de impor aos súditos seus comandos de 
forma irresistível. Por isso a conduta violenta dos “fundadores de Es-
tado”, reivindicada por Maquiavel, se justifica objetivamente: a criação 
de uma autoridade estatal forte é condição indispensável para que o 
Estado possa exercer sua função ordenadora e civilizatória. 
Tal preceito, essencial nas obras do autor, subjaz uma notável sepa-
ração do Estado e das instituições religiosas bem como 
qualquer doutrina ou preceito moral, em particu-
lar. Logo, para Maquiavel, a manutenção do 
Estado deveria ter alguns traços laicos e ser 
apartada de uma moral universal, para, 
assim, seguir as orientações destina-
das a garantir a manutenção do po-
der de seu respectivo regente. Há, 
então, no pensamento do autor, 
um relativismo moral fun-
damental, o qual busca fo-
mentar alianças necessárias 
para mitigar os problemas e 
inimigos do Estado, mesmo 
que seja preciso agir de ma-
neira impiedosa e contrariar 
alguns estratos sociais.
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Figura 2 - Capa do livro O Príncipe (edição de 1550) / Fonte: Wikimedia Commons (2017a, on-line).
A obra de Maquiavel é pautada pela observação do mundo e de como um go-
verno deve operar e manter a sua unidade, ou seja, o autor busca elencar as bases 
teóricas sobre o que compõe um Estado, as suas configurações, as disposições das 
autoridades, as formulações das leis e as possibilidades favoráveis e desfavoráveis 
que podem impactá-lo — tudo verificado e elaborado sob um viés científico e não 
no campo da moralidade. Maquiavel olha a política como uma ciência, propria-
mente, dita, em que há um objeto a ser constatado e experimentado, para, desse 
Descrição da Imagem: na figura, temos a capa de um livro antigo, com a escrita em italiano, na parte de 
cima até o meio da capa. Na parte de baixo, temos o busto de um homem calvo, com nariz alongado, que 
segura um livro com em sua mão direita. Nos dois lados do busto, há dois desenhos feitos por carimbos. 
Abaixo do busto, temos as iniciais M. D. L.
UNIDADE 1
24
modo, formalizar os seus aspectos básicos e criar casos hipotéticos para pensar 
os meios de melhor perpetuar o poder do regente. Há um rigor operacional que 
busca conciliar as demandas das diferentes partes de um regime, sejam eles os 
plebeus, sejam os aristocratas, o exército, os clérigos, os servidores do Estado e, até 
mesmo, os estrangeiros. Então, há, nesse autor, a tentativa de compreensão e de 
formalização de uma ló-
gica política, sendo que, 
para alcançar tal ponto, 
os governantes não po-
deriam se pautar pela 
ética. Assim, os costumes 
presentes em um gover-
no deveriam ser consi-
derados um elemento do 
jogo político e não mais 
deixar de ser a bússola 
para agir, politicamente.
Se, por um lado, ti-
vemos Maquiavel como 
um pensador que se-
meou as bases de um 
pensamento político lai-
co, por outro lado, tive-
mos Erasmo de Roter-
dã como um autor que 
procurou incorporar 
o pensamento clássico 
na cultura cristã de sua 
época. Ele era um cléri-
go ordenado na Holan-
da, mas foi introduzido 
aos preceitos humanistas 
quando conheceu John 
Colet, em uma viagem 
feita à Universidade de 
Descrição da Imagem: a figura mostra uma pintura que retrata 
um homem de meia-idade. Ele veste roupão preto bem espesso, 
cuja parte interna é marrom. O homem utiliza um chapéu sem 
aba e as suas mãos estão sobre um livro vermelho, o qual está na 
superfície de uma mesa. Ao fundo, há uma cortina verde, à direita, 
livros e uma garrafa de vidro, à esquerda, uma coluna cinza, toda 
ornamentada e com o topo dourado.
Figura 3 - Retrato de Erasmo de Roterdã
Fonte: Wikimedia Commons (2009, on-line).
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Oxford, ao presenciar um conjunto de palestras na instituição. Após isso, o pen-
sador passou algum tempo na Itália, onde trabalhou na imprensa, tendo contato 
com algumas obras dos pensadores renascentistas da região. Dentre as obras de 
Roterdã, estão Enchiridion e Elogio da Loucura.
A sua dedicação aos estudos das influências greco-romanas, na verdade, levan-
tou críticas tanto dos teólogos tradicionais da Igreja Católica quanto dos protes-
tantes alemães: ambos afirmavam que os preceitos de Roterdã eram ambíguos por 
transitarem entre as leituras bíblicas e as influências clássicas, principalmente, pelo 
fato de criticar o modelo educacional corrente da época, a escolástica. Erasmo era 
um profundo conhecedor da lógica aristotélica, todavia não concordava, de modo 
total, com as leituras dos aristotélicos escolásticos, principalmente, a estruturação 
da teologia cristã. Isso levou o pensador a revisitar a doutrina católica pela ótica 
da patrística de Agostinho de Hipona e São Jerônimo, obras que tiveram contato 
em latim. Sendo assim, o modelo teológico que chamava a atenção de Erasmo não 
era o aristotélico, amplamente, difundido, mas sim, o de influências platônicas 
— pelo fato de Agostinho ter constituído certos aspectos da doutrina cristã a partir 
de suas leituras de Platão, sem ignorar as correntes neoplatônicas, que surgiram no 
renascimento após a redescoberta das obras do autor grego. 
Outro ponto de divergência entre Roterdã e os escolásticos foi o estudo de 
latim, grego e hebraico, para poder compreender, completamente, as escrituras. 
Para o autor, fazia-se forçoso esse estudo das línguas antigas, já que diversos 
autores cristãos escreveram as suas obras em um destes três idiomas na Antigui-
dade ou no começo da Idade Média, textos esses fundamentais à constituição das 
doutrinas católicas. Entretanto os escolásticos não partilhavam desta ideia, pois 
apregoavam que os estudos teológicos deviam ser acerca do conhecimento dos 
mistérios de Deus nas escrituras já estabelecidas, então, não era preciso realizar 
uma digressão à origem dos idiomas antigos.
Roterdã também articulou um pensamento teológico voltado à reforma da 
instituição católica, com enfoque no Novo Testamento, promovendo uma teo-
logia da piedade. Ele buscou erigir uma síntese entre teologia e espiritualidade, 
por meio de meditações pessoais que condenavam a devoção mecânica e a im-
possibilidade de revisão dos dogmas. Além disso, pregou que o conhecimento 
teológico deveria ser difundido em uma linguagem menos rebuscadado que a 
praticada pelos escolásticos. Para Roterdã, os conhecimentos das escrituras e dos 
dogmas deveriam ser difundidos e compreendidos por toda e qualquer pessoa e, 
UNIDADE 1
26
para isso ser alcançado, era necessário que as obras 
que buscavam, ou, ainda, que buscassem fundamen-
tar uma discussão teológica, fossem mais “acessíveis” 
à população. Vemos, em Roterdã, um sopro de re-
novação no pensamento católico de sua época, seja 
pelas aberturas das leituras greco-romanas, seja por 
sua indispensável contribuição ao debate teológico. 
Como podemos constatar, o Renascentismo es-
tabeleceu um sopro de renovação ao pensamento 
europeu. Mas fica uma questão no ar: quais foram os 
ganhos nas mudanças sociais e, até mesmo, nos cos-
tumes, que tal abertura ao pensamento humanista e 
renascentista operou? Vimos que, na parte das Artes 
e das Ciências Naturais, a mudança foi fundamental, 
todavia há de se pensar a questão política e, também, 
a revisão da teologia católica dominante em tal época. 
Para ilustrarmos melhor tais mudanças, verificaremos 
como elas reverberam em três pontos-chave de virada 
na Modernidade: as Reformas Protestantes, a institui-
ção do Estado Moderno e o movimento iluminista.
Começando pelas ditas Reformas Protestantes, 
ao verificarmos as razões que levaram o pensamento 
europeu a tais reformas, podemos verificar que foram 
respostas à insatisfação de determinados clérigos, 
eruditos e nobres com as políticas administrativas 
da Igreja Católica bem como do abuso de poder de 
alguns de seus membros. A abertura para pensar uma 
crítica à maior instituição que havia na Europa Oci-
dental, naquela época, foi entreaberta pelos precei-
tos humanistas e o seu sincretismo, o qual buscou a 
verdade não, apenas, na doutrina sedimentada pelo 
saber eclesiástico. Fora o questionamento ao pen-
samento corrente, havia uma profunda crise moral 
no interior da instituição católica, desde sacerdotes 
administrando negócios próprios e encabeçando dis-
UNICESUMAR
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putas políticas até a cobrança de indulgências como 
garantia de salvação aos fiéis. 
Esta crise institucional teve início na Baixa Ida-
de Média e se aprofundou, ainda mais, por causa do 
renascimento das rotas de comércio com o Oriente, 
que, como verificamos, foi umas das principais fon-
tes bibliográficas para os humanistas. Mas, além das 
novas ideias do Renascimento e da crise moral inter-
na, outro fator essencial às Reformas Protestantes foi 
o surgimento da burguesia como uma classe social 
emergente. Ela, por sua vez, não se sentia, devidamente, 
representada na Igreja Católica. Isso se deu pelo fato 
de os burgueses se encontrarem em uma posição so-
cial mais elevada do que a população rural, mas sem o 
prestígio e a relevância que a Igreja atribuía à aristocra-
cia e à realeza. Tal indiferenciação com as mudanças 
econômicas da época acarretaram uma crise espiritual 
no interior desta nova configuração social emergente, 
com o advento das grandes navegações. 
Além da ascensão da burguesia, também havia 
a nobreza que ansiava pelas riquezas, principalmen-
te, territoriais, e o poder quase soberano da Igreja de 
Roma. Mesmo com relações mais amistosas com os 
clérigos, as famílias reais se encontravam restringidas 
às delimitações da Igreja Católica. Entretanto, devido 
à ascensão dos movimentos protestantes, estes vislum-
braram o momento para impor mais autonomia de 
seu poder perante a autoridade católica. Desse modo, 
um pensamento nacionalista antirromano começou a 
se levantar em diversas localidades da Europa, como 
um sentimento de rejeição à autoridade e aos desca-
sos da Igreja Católica. Salientaremos três reformas que 
foram essenciais para a mudança dos costumes e da 
ordem social, na Modernidade: o Luteranismo, o Cal-
vinismo e a instauração da Igreja Anglicana.
UNIDADE 1
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Acerca do idealizador do Luteranismo, Martinho Lutero foi um dos princi-
pais nomes das reformas protestantes europeias. Dentre suas bases teóricas, estão: 
a teologia de Agostinho de Hipona e de Guilherme de Ockham. Tais influências 
teóricas foram essenciais para erigir a crítica de Lutero à doutrina escolástica 
predominante em sua época, cujo cerne era pautado por uma leitura aristotélica. 
Lutero foi ordenado sacerdote da Igreja Católica e começou as suas desavenças 
com a instituição em uma viagem que realizou a Roma. Nessa viagem, ele pôde ver, 
com os próprios olhos, os desmandos e a hipocrisia religiosa de nomes importan-
tes para a Igreja, naquele período. Um exemplo foi a política de indulgências que 
o próprio Papa Júlio II empregou. O então papa cedeu indulgências àqueles que 
patrocinaram a construção da Basílica de São Pedro, em 1507. Além disso, a falta 
de contato da instituição com a realidade dos fiéis foi outro ponto mencionado por 
Lutero, em seu julgamento da instituição, pois os clérigos que estudavam a doutrina 
católica pregavam uma religião de cunho moralista e intelectualista (herança da 
escolástica da Baixa Idade Média), cujo discurso era indiferente aos problemas e 
necessidades do povo. Lutero sustentava que os interesses da Igreja se voltaram 
aos problemas seculares ao invés de se direcionarem à salvação eterna e à piedade 
ensinada nas Escrituras. Ao retornar dessa viagem, ele começa a trabalhar em suas 
95 Teses, obra que criticava as incongruências da linha de pensamento detidas pela 
Igreja de Roma. Este texto foi publicado em 1517.
Poderíamos resumir a teologia luterana da seguinte forma: uma justificação 
da fé como um dom de Deus, no qual, apenas, ela teria o poder de conceder o 
perdão e a graça, não, somente, ações que poderiam ser desprovidas de moti-
vação sincera e isenta de caridade. As Escrituras seriam o ponto fundamental 
à fé; todos os seres humanos teriam a capacidade — concedida por Deus a 
todos os sujeitos — de interpretá-las, qualquer outro escrito não poderia ter o 
mesmo peso ou relevância para a salvação do fiel à doutrina cristã. Além disso, 
Lutero mantinha que, apenas, o batismo, a penitência e a eucaristia deveriam 
ser preservados como ritos essenciais ao cristianismo. 
Sendo assim, o pensador rejeitava a configuração de uma igreja como ins-
tituição, pois a fé não residiria em nenhum templo, mas nas palavras e nos 
ensinamentos das escrituras. Logo, o pensador rejeitou ideias como: os votos 
de castidade, a ordem hierárquica e as pregações em latim — sobre este último 
ponto, Lutero acreditava ser desnecessário, pois afirmava que o rito deveria ser 
realizado nos idiomas populares da época.
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Figura 4 - Impressão das 95 Teses (1517), atualmente, disponível na Biblioteca Estadual de Berlim
Fonte: Wikimedia Commons (2017b, on-line).
Descrição da Imagem: a figura apresenta a fotografia de uma folha antiga, escrita em latim, com título 
e 95 tópicos.
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Após a publicação das 95 Teses, Lutero começou a ter problemas com a Igreja 
Católica. Mais especificamente, após 1520, ele passou a ser intimado a se retratar 
por seus discursos bem como por sua linha de pensamento. Todavia, com o passar 
dos anos, as ideias luteranas começaram a ter muitos adeptos, de camponeses a 
nobres. Até meados de 1530, os ideais reformistas do teólogo se difundiram por 
inúmeras cidades alemãs; a rápida expansão dos preceitos luteranos, a princípio, 
no território alemão, foi pautada por um profundo sentimento de nacionalismo 
antirromano, nutrido desde a Baixa Idade Média. Tal movimento também foi for-
talecido pelas condutas laicas de certos regentes e da aristocracia urbana crescente 
nas cidades germânicas. Desse modo, com o passar do tempo, algumas revoltas 
populares contra a autoridade da Igreja eclodiram, no que, hoje, conhecemos como 
o atual território da Alemanha. Algumas dessas revoltas chegaram aos muros de 
Roma, causando muitas preocupações para os regentes e clérigos da época.
O clima de convulsão social cresceu com o passar do tempo, tornando-se 
um problema ao imperador da época, Carlos V, que tinha a intenção de manter 
o poderda Igreja Romana. Sendo assim, foi realizado um concílio entre lutera-
nos e católicos para alcançar um acordo comum, o qual foi chamado “A Paz de 
Augsburgo”, em 1555. Os luteranos conseguiram concessões do imperador para 
que os sacerdotes pudessem casar e constituir família, professar a sua doutrina, 
incluindo realizar os seus cultos em língua vulgar (os quais, como comentamos, 
eram rezadas em latim) etc. Após esse acordo, mediado pela figura do imperador, 
os regentes das cidades e dos principados alemães puderam estabelecer qual re-
ligião cada um poderia praticar em seus respectivos territórios, garantindo certa 
liberdade de expressão religiosa na região germânica. A concessão da liberdade 
religiosa só precisou seguir o seguinte preceito: os cidadãos alemães deveriam 
seguir o jugo da autoridade do poder do imperador, fora este ponto, a escolha de 
fé não concernia mais às questões e sanções políticas e administrativas.
Pouco depois do início das inquietações na Alemanha, em detrimento do 
movimento luterano, tivemos outro teólogo que fundou outro movimento de 
extrema importância: Ítalo Calvino. Ele foi um pensador francês nascido em 
1509, a sua formação principal foi pautada no Direito e nos estudos sobre as 
humanidades. Calvino não teve educação formal em Teologia, mas, mesmo sen-
do autodidata na área, foi ordenado clérigo pela Igreja Católica. Ele entrou em 
contato com os pensamentos de Lutero, mas, enquanto este último estava preo-
UNICESUMAR
31
cupado com a salvação da alma, mediante a reforma nas doutrinas, Calvino se 
preocupava com uma reforma mais institucional. 
O norte da doutrina de Calvino era a transcendência absoluta de Deus 
como um domínio, extremamente, distante do domínio temporal do ser hu-
mano. Desse modo, ele empregou uma leitura rigorosa dos escritos sagrados, 
em que, mesmo com um método de estudo sistemático, o pensamento de Deus 
seria incompreensível ao intelecto humano. Assim, Calvino chegou à ideia da 
predestinação como conceito central para a fé cristã — tal preceito pregava que 
os acontecimentos que permeiam a existência terrena são, apenas, partes do pla-
no divino. Esta concepção de predestinação não nasceu com Calvino, ela tam-
bém foi discutida por Tomás de Aquino em sua teoria dos futuros contingentes. 
Outro autor moderno que trabalhou com essa teoria foi Leibniz, conhecido 
por sua predileção pela posição racionalista. Diferentemente do Luteranismo, 
o Calvinismo possuía uma ordenação hierárquica bem delimitada, com fins 
de manter o debate e preservar os preceitos da nova igreja.
A expansão dos ideais calvinistas aconteceu após os anos de 1530, quando 
Calvino se exilou da França e se estabeleceu em Genebra, onde ele pôs em prá-
tica a construção de sua igreja. Enquanto o Luteranismo era descentralizado em 
várias comunidades pela Alemanha, o Calvinismo era uma contraposição cuja 
doutrina se ordenava em graus hierárquicos ditados pela instituição. Genebra 
foi a sede do Calvinismo, na época, tornando-se um polo alternativo à Igreja 
Romana e, após 1559, o movimento começou a se espalhar pelo Sacro Império 
Romano-Germânico, atingindo o território francês, depois, se disseminou nos 
Países Baixos e chegou a se estabelecer em territórios como a Escócia.
Diferentemente do Calvinismo e do Luteranismo, a Igreja Anglicana não 
foi sistematizada por um clérigo, mas, pelo então rei inglês, Henrique VIII. Em 
1525, ele encontrou um impedimento da Igreja Católica que não o permitia se 
separar de sua esposa, Catarina de Aragão. Henrique VIII almejava a separação 
pelo fato de não ter conseguido ter um filho homem com a rainha, fato que bar-
raria a dinastia Tudor de prosseguir no poder da nação anglo-saxã. 
Henrique VIII buscou anular o seu casamento na Igreja Romana, mas não 
obteve o que desejou. Cansado de esperar o andamento do processo burocrático, 
o rei rompeu os laços com Roma e nomeou Thomas Cranmer como sacerdote 
da nova Igreja da Inglaterra, o qual, por sua vez, anulou o casamento do rei com 
UNIDADE 1
32
Catarina de Aragão e, posteriormente, promulgou o matrimônio dele com Ana 
Bolena. Logo após o ocorrido, em 1534, o parlamento inglês aprovou a Acta de 
Supremacia, tornando o rei a autoridade máxima da nova igreja, resultando no 
confisco em massa das propriedades da Igreja Católica no território inglês.
Pelo fato de a cisão entre Inglaterra e Roma partiu de preceitos, principalmente, 
políticos, a Igreja da Inglaterra manteve boa parte dos ritos católicos, como as or-
denações, o celibato e as celebrações. Com o passar do tempo, ela assimilou alguns 
preceitos de outras variantes protestantes, inclusive, o Luteranismo. Em 1553, foram 
instituídos os 42 Artigos da Fé como referencial para a fundamentação da igreja. 
Maria Tudor tentou reintroduzir os preceitos católicos na Inglaterra, entre 1553 
e 1558, mas não obteve sucesso, pois a sua repressão aos protestantes resultou em 
inúmeras revoltas populares. Por fim, com Elizabeth I, a Igreja da Inglaterra se esta-
beleceu como Igreja Anglicana, uma variante da cisma inglesa com Henrique VIII.
Com o estabelecimento do Anglicanismo, por meio de Elizabeth I, mante-
ve-se a estruturação episcopal, baseada na hierarquização em bispos, padres etc. 
Em essência, a Igreja Anglicana pregava determinados elementos: a submissão 
da igreja ao Estado; a Escritura Sagrada como fonte de fé; a negação do purga-
tório e as indulgências; a rejeição do culto às imagens e o uso do latim; foram 
mantidos o batismo e a eucaristia; e, por fim, foi permitido que os sacerdotes 
casassem e constituíssem família. Por causa do estabelecimento de uma dou-
trina protestante, Elizabeth I foi excomungada pela Igreja Católica, em 1570. 
Todavia, mesmo com a estatização da religião anglicana, houve aqueles que não 
aprovaram a cisma — desde cristãos não convertidos até outros movimentos 
protestantes, como os puritanos e calvinistas.
O nascimento da impressão 
Em meados dos anos de 1440, Gutenberg criou a sua prensa de tipos móveis. Esta inven-
ção consistia em placas nas quais letras poderiam ser arranjadas e modificadas, de forma 
que cada placa poderia compor a página de um livro, para imprimir o seu conteúdo de 
forma serial. Antes dessa invenção, os livros eram copiados à mão, atrapalhando a divul-
gação das obras e elevando os custos das mesmas. Foi graças à prensa de Gutenberg que 
os textos renascentistas e, posteriormente, os manifestos e livros protestantes puderam 
circular, com mais facilidade, pela Europa.
EXPLORANDO IDEIAS
UNICESUMAR
33
Bem, aluno(a), verificamos, até aqui, como na virada da Idade Média para a Idade 
Moderna houve a redescoberta das obras da Antiguidade greco-romana bem 
como elas se incorporaram na cultura cristã da Europa Ocidental. Na sequência, 
verificamos que essa abertura ao Humanismo, juntamente ao sincretismo entre os 
preceitos clássicos e os dogmas católicos, viabilizou críticas e reformas ao modelo 
escolástico e à teologia da época. Agora, verificaremos as consequências políticas 
destas críticas epistemológicas e religiosas, acarretadas pelo Renascimento.
Durante a Idade Média, as relações entre a Igreja Católica e o Sacro Impé-
rio Romano-Germânico tiveram atritos constantes, mas a autoridade do Sumo 
Pontífice se destacava pela aceitação popular. Após o século XIII, tanto o modelo 
do império feudal como o renome da Igreja de Roma começaram a entrar em 
decadência. O primeiro golpe para a autoridade papal foi o grande Cisma do 
Ocidente (1378-1417), quando a instituição católica se dividiu e foi estabelecida 
uma autoridade papal no território francês, juntamente com a tradicional sede 
romana. Para pôr fim ao Cisma do Ocidente, o pontificado romano precisou abrir 
mão, para o poder secular, de certos privilégios e da influência.
O modelo imperial, com sua sede no atual território da Alema-
nha, detinha um discurso em que os imperadores germânicos re-
clamavam para si o direito de governar, como legítimos herdei-
ros do Império Romano. A legitimidadedesse discurso advém 
do consentimento da própria Igreja Católica, quando era ela 
quem realizava as cerimônias de coroação, mas poderia, 
à sua revelia, contestar a autoridade imperial. Por 
causa da passagem para a Modernidade, as aris-
tocracias de diferentes territórios começaram 
a se organizar e a proclamar a sua própria au-
toridade monárquica, principalmente, devido 
às suas identidades culturais divergentes.
Já no século XV, houve a ascensão do 
modelo monárquico, neste momento, o mapa 
europeu começa o seu processo de configu-
ração como o conhecemos, atualmente. Os 
recém-monarcas, que romperam com o re-
gime imperial da Idade Média, negociaram 
com a própria Igreja Católica a legitimação. 
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Nos países onde o Protestantismo já estava em curso, ou, até mesmo, enraizado, 
o subjugamento do poder espiritual pelo poder temporal foi estabelecido de ma-
neira mais rápida, como nos principados alemães, que já haviam passado pela 
reforma de Lutero; também, na Inglaterra, onde o rompimento da realeza com 
Roma permitiu o parlamento confiscar as posses da Igreja Católica no território 
inglês, assim, estatizando esses mesmos bens e afirmando a sua soberania sobre 
o jugo da instituição católica; e, até mesmo, na França, com a Cisma do Ocidente.
Outro fator que ajudou no processo de formação dos Estados Modernos 
foi o ressurgimento das cidades, acarretado pelo comércio com o Oriente e pela 
exploração das Américas e África. As cidades deram origem a uma classe mer-
cantil, a já conhecida burguesia, ela, por sua vez, buscou a consolidação junto à 
aristocracia. A aliança entre a nova burguesia e a aristocracia se estabeleceu de 
um modo em que a primeira se tornaria a base econômica do Estado, principal-
mente, por meio dos pagamentos de impostos à Corte, dessa forma, a segunda 
garantia a liberdade e os direitos à propriedade dos mercadores e comerciantes 
dos novos centros populacionais. Do ponto de vista econômico, o Estado Mo-
nárquico preservou as relações servis da agropecuária feudal, mas manteve-se 
aberto ao capitalismo mercantil que efervesceu na época, como aponta Modesto 
Florenzano (2007, p. 16):
 “ Por sua vez, como esse Estado nacional, em praticamente todos os lugares onde se configurou plenamente o fez sob forma monárquica e absolutista remetem, na ponta ascendente de sua trajetória histó-
rica, à sua relação com o feudalismo e o fim da Idade Média, e, na 
ponta descendente, à sua relação com o capitalismo e o início da 
Idade Contemporânea (ou fim da primeira Idade Moderna).
O surgimento do primeiro Estado Moderno aconteceu com Fernando de Ara-
gão, citado por Maquiavel em O Príncipe. O então futuro monarca tinha uni-
do o povo, a Igreja e a nobreza contra a ocupação dos mouros na Península 
Ibérica, ocupada desde a Idade Média. A conquista de Granada (1481-1492) 
consolidou a expulsão do poder estrangeiro e garantiu o surgimento do que, 
conhecemos, atualmente, como território de Portugal. A Igreja Católica teve 
um papel essencial, à medida que financiou as forças militares de Fernando de 
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Aragão, pois a retirada dos mouros do território europeu significava, também, 
a saída do poder muçulmano do continente.
Em outras regiões europeias, surgiram outras configurações, assim, os Es-
tados Modernos eclodiram por toda a Europa Ocidental. Houve o surgimento 
de alguns movimentos de independência de certas regiões italianas, todavia, a 
Itália, nessa época, não poderia ser concebida como um Estado Moderno, mas 
sim, como um conjunto de cidades-Estado. Florenzano (2007, p. 26) caracteriza 
as cidades-Estado italianas do seguinte modo:
 “ Como quer que seja, o fato é que a Itália era, na época do Renasci-mento, na feliz expressão de um estudioso atual, não uma nação, mas uma nação de nações. Uma nação de nações que, na segunda metade 
do quattrocento, vivenciou uma espécie de pioneiro equilíbrio de 
poder entre os principais Estados. Pois, entre todos eles, não havia 
nenhum que pudesse levar a cabo um processo de unificação polí-
tica na Península itálica. Não havia nenhum com formação social, 
semelhante àquela que existia nos outros países da Europa e que 
permitiu o aparecimento de uma monarquia absoluta, de um Estado 
resultante de uma articulação entre nobreza fundiária e monarquia 
dinástica, cuja autoridade agia no ápice da pirâmide do poder, mas 
não na base, nas estruturas dos direitos senhoriais.
Aqui, verificamos que a Itália passou por um processo diferente de nações como 
Inglaterra, França, Espanha e Alemanha, onde esses Estados foram, predominante-
mente, geridos por um comando centralizado, advindo de uma realeza hierarquiza-
da e, também, centralizada. Claro que, em cada uma dessas nações, houve diferentes 
modelos de organização administrativa, mas, no geral, os aspectos absolutistas de 
proeminência do poder temporal se expressavam de maneira semelhante.
Como o Estado Moderno passou a se tornar, cada vez mais, consolidado no 
território europeu, houve a necessidade de estabelecer uma identidade para cada 
nação emergente. Sendo assim, os novos Estados se configuraram segundo as suas 
identidades étnicas e culturais (os ingleses e a sua tradição celta, as cidades-Esta-
dos italianas e a herança da mitologia latina etc.), então, os reinos se configuraram 
a partir de proximidades culturais e linguísticas, o que acarretou uma divisão 
territorial dos novos governos, para que, assim, cada recém-formada nação pu-
desse fazer valer o poder monárquico dentro de sua unidade predeterminada. 
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Junto com o estabelecimento dos territórios e fronteiras de cada Estado, foi pre-
ciso a organização interna do governo, gerando a burocratização do Estado. Assim, 
houve a ascensão de uma constituição governamental (ou conjunto de decretos 
reais) e de um funcionalismo público para facilitar os processos legais e garantir 
o cumprimento, assim como a subserviência da população ao poder monárquico. 
Boa parte desta função foi dada a famílias que compunham a aristocracia de sua 
respectiva nação, garantindo a hegemonia social da própria realeza sobre o povo.
Dentre os autores que defenderam a configuração monárquica absolutista, 
esteve Thomas Hobbes, pensador inglês que criou uma das principais obras da 
Ciência Política, Leviatã. A fim de compreendermos melhor o pensamento hob-
besiano, precisamos compreender que Hobbes se encontrou em um contexto 
político muito complicado na Inglaterra. 
O seu país de origem passou por um rompimento com a Igreja Católica, ex-
perimentou revoltas que reivindicavam liberdade religiosa bem como conflitos 
constantes entre os diferentes domínios da Grã-Bretanha e, pouco antes da escrita 
de Leviatã, houve, em 1642, a Revolução Liberal – evento que retirou a Família 
Real do trono e implementou, temporariamente, um Estado Parlamentarista. A 
revolução ocasionou o exílio de Hobbes na França, mas ele retornou à Inglaterra 
quando ocorreu a instauração da dinastia dos Stuart, na época da Restauração. 
O que podemos verificar, no contexto no qual o autor se encontrava, é o 
fato de que as questões políticas foram parte fundamental da vida de Hobbes 
— questões que permeavam ideias de como preservar a unidade do Estado, a 
legitimidade do uso da força e a validade de um regime ou conjunto de leis.
Sacro Império Romano-Germânico 
Tal império teve o seu início no século VIII e foi dissolvido, apenas, no século XIX, com 
os avanços das tropas napoleônicas. Em geral, tal regime detinha o controle da Alema-
nha, parte da Itália e da França. O seu primeiro imperador foi Carlos Magno, cujo título 
foi cedido pelo próprio papado, estabelecendo esse governo como o sucessor divino do 
Império Romano. Devido ao nascimento dos Estados Modernos, a força do Sacro Império 
Romano-Germânico sofreu um forte baque, todavia não podemos negar que a solidez de 
seu poder perdurou por muito tempo, compreendendo desde a Alta Idade Média até o 
começo da Idade Contemporânea.
EXPLORANDO IDEIAS
Descrição da Imagem:a figura apresenta uma imagem, em preto e branco, em que há um homem 
enorme, com cavanhaque e cabelos longos, usando uma coroa. Há uma espada em sua mão direita e 
um cetro em sua mão esquerda. O homem está atrás de uma colina e pode-se ver, mais à frente, uma 
cidade. Na parte de baixo da imagem, há palavras em inglês, escritas em uma espécie de cortina, com 
o título Leviathan or The Matter, Forme and Power of a Commonwealth Ecclesiastical and Civil. Do lado es-
querdo do título, temos os seguintes desenhos: um castelo em uma colina, uma coroa, um canhão, dois 
mosquetes, espadas e lanças cruzadas e duas cavalarias se enfrentando. Do lado direito, os desenhos 
são: uma igreja, uma mitra de bispo, quatro setas, um tridente, três videntes, um chifre e a reunião de 
algumas pessoas em um salão.
Figura 5 - Capa da primeira edição do livro Leviatã (1651) / Fonte: Wikimedia Commons (2019, on-line).
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Dito isso, para começarmos a pensar os preceitos políticos de Hobbes, primei-
ramente, precisamos observar os fundamentos de suas reflexões. O pensador foi 
um ávido leitor de textos clássicos, inclusive, traduziu A Guerra do Peloponeso de 
Tucídides, a Ilíada e a Odisseia de Homero. Hobbes também conheceu Francis 
Bacon e traduziu algumas de suas obras do inglês para o latim. Em suas viagens, 
encontrou Galileu e trocou correspondências com Descartes, criticando as suas 
Meditações Metafísicas. Além dos textos políticos, Hobbes também escreveu 
textos sobre Física e Teoria do Conhecimento. Em seu livro Sobre o Corpo, ele 
expressa os seus preceitos mecanicistas sobre a realidade. Como assinala João 
Paulo Monteiro (2004, p. 11):
 “ A física de Hobbes procura explicar mecanicamente a maneira pela qual os corpos exteriores afetam o corpo humano e aí produzem as percepções e os fenômenos que delas dependem. Afetados pelos 
movimentos dos objetos exteriores, os sentidos seriam postos em 
movimento e este se transmitira ao cérebro e, daí, ao coração; neste 
órgão, começaria um movimento de reação em sentido inverso. Para 
Hobbes, o início desse movimento de reação é precisamente o que 
constitui a sensação: “a sensação é o princípio do conhecimento dos 
próprios princípios, e a ciência é inteiramente dela derivada”. 
Diante desta descrição, somos habilitados a afirmar que o pensamento hobbesia-
no se pauta pelo empirismo e adianta, muito bem, o que seria a psicologia associa-
cionista. Estes preceitos epistemológicos, em realidade, serão partes importantes 
aos seus pensamentos políticos, também. Isto é expresso na própria divisão do 
Leviatã, nas quatro partes em que é dividido o texto: a primeira é dedicada, ex-
clusivamente, a uma descrição do ser humano e de suas capacidades racionais. 
Tal estudo do indivíduo salienta a questão da percepção, da formação das ideias, 
da constituição das ciências e das leis da natureza. Sendo assim, observamos, em 
Hobbes, que o seu pensamento político, abordado nas outras três partes do Le-
viatã, foi pautado por um pensamento que priorizou a importância do empírico 
e de como ele afeta a constituição do ser humano.
Agora, falando, propriamente, do pensamento político de Hobbes, o autor 
detinha a noção de que as relações se dariam, historicamente — aqui, a acepção 
histórica de Hobbes não é factual, mas um exercício de pensamento —. Esta visão 
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histórica poderia ser dividida em um momento de estado natural e outro de um 
estado contratual, sendo que, em ambos, há um ímpeto essencial a ser cumprido 
pelo indivíduo: a autopreservação. No estado natural, o autor afirma que os su-
jeitos agem de acordo com o melhor meio de preservar as suas respectivas vidas, 
se for necessário, tal indivíduo roubaria, usurparia e, até mesmo, mataria para ga-
rantir a sua sobrevivência. O âmago do ser humano é caracterizado, por Hobbes, 
praticamente, como um individualismo egoísta, que visa ao próprio bem, mesmo 
que prejudique terceiros. Neste aspecto, entre todas as pessoas, há igualdade no 
âmbito das intenções de autopreservação, que é sobreposta, por cada indivíduo, 
pela prática da força e da violência:
 “ Essa igualdade baseia-se no desejo universal de autopreservação, isto é, da procura do que é necessário e cômodo à vida. Com isso, fica estabelecido um direito fundamental de autoconservação. 
Como todos os homens seriam dotados de força igual (pois o 
fisicamente mais fraco pode matar o fisicamente mais forte, lan-
çando mão deste ou daquele recurso), e como as aptidões intelec-
tuais também se igualam, os recursos à violência generaliza-se e 
complica-se, cada qual elaborando novos meios de destruição do 
próximo, com o que a vida se torna “solitária, pobre, sórdida, em-
brutecida e curta”, na qual cada um é lobo para o outro, em guerra 
de todos contra todos. Assim, o estado natural exige uma saída 
com base no próprio instinto de conservação da vida. Deixado a si, 
o instinto de conservação é abertura para a violência que o reitera 
e, ao mesmo tempo, para a paz tática que prometa a conservação. 
É esse campo da lei natural (HOBBES, 2000, p. 13).
Podemos resumir, então, o estado natural como a simples expressão da sobre-
vivência pessoal, por qualquer meio necessário. Todavia este estado de guerra 
perpétua não é vantajoso à autopreservação de qualquer indivíduo, pois o mesmo 
se encontra em constante desconfiança em relação ao outro.
Sendo assim, a única saída dessa perpétua guerra seria pela passagem para o 
estado social, por meio do estabelecimento de um contrato. Seria um pacto entre 
os sujeitos de uma sociedade ou comunidade, visando à integridade física de cada 
indivíduo — aqui, o ser humano entra no campo da reflexão moral. Tal contrato 
social precisaria ter adesão massiva do povo, pois, havendo o caso de uma parcela 
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da população discordar e entrar em revolta contra o pacto estabelecido, seria neces-
sário um número maior de pessoas para suplantar este descumprimento do acordo. 
O pacto se expressa como uma entrega mútua de direitos, onde é estabelecido 
um conjunto de normas que delimitam o convívio social bem como as devidas 
penalidades para aqueles que as descumprirem. Sendo assim, o mesmo intuito 
egoísta de autoconservação, o sentimento que regia o estado natural, continua 
sendo o que regula o estado social — pois, abre-se mão de parte da liberdade 
individual para adquirir a estabilidade dos direitos básicos de preservação do 
ser humano e de seus bens.
Diante do estabelecimento do pacto e do estado social, poderíamos nos pergun-
tar: qual a garantia de que o pacto será cumprido? Hobbes (2000) concebe que ele é 
artificial e insuficiente para garantir a paz. Desse modo, o pensador afirma que, para 
o direito instituído no estado social ser preservado, não é preciso, apenas, que as 
pessoas abram mão de seu direito particular, a fim de conservar o convívio mútuo, 
mas, além disso, é necessário que esse direito seja depositado na vontade de uma 
pessoa ou um conjunto de pessoas, para exercer o poder de fiscalizar e restringir 
aqueles que se revoltam contra o acordo social. Logo, o poder e a vontade de um 
povo devem ser direcionados a um indivíduo, o qual, por sua vez, será imbuído 
desta autoridade, possibilitando ao mesmo o exercício da força e da violência contra 
os dissidentes e corruptores das relações interpessoais da sociedade. 
Aqui, verificamos de que modo Hobbes associa o pacto social e o regime 
absolutista como algo necessário à manutenção da paz. Aí reside o brilhantismo 
do pensamento político do autor, assim como afirma Monteiro (2004, p. 15): 
 “ Aí está o que os historiadores chamam de originalidade e novidade do sistema de Hobbes: é partidário do poder absoluto e admite, ao mesmo tempo, o pacto social. Hobbes não estabelece contradição 
entre o pacto e o absolutismo; quando bem compreendido, o pacto 
conduziria necessariamente ao absolutismo, segundo o filósofo.... 
Além disso, conquanto manifeste sua preferência por um rei abso-
luto, Hobbes reconhece a legitimidadede outros tipos de governo; 
o que não admite é que o governo seja misto ou temperado, como a 
monarquia constitucional. A razão dessa restrição está, para ele, no 
fato de que competições comprometedoras da paz derivam neces-
sariamente da presença de vários detentores do poder.
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Complementando a questão do poder do soberano, Monteiro (2004, p. 15) as-
severa que:
 “ Esse equacionamento do problema político deriva do modo como Hobbes encara o pacto social. Para o autor do Leviatã, o contrato é estabelecido unicamente entre os membros do grupo que, entre 
si, concordam em renunciar a seu direito a tudo para entregá-lo 
a um soberano encarregado de promover a paz. Um tal sobera-
no não precisaria dar satisfações de sua gestão, sendo responsável 
apenas perante Deus “sob pena de morte eterna”. Não submetido a 
nenhuma lei, o soberano absoluto é a própria fonte legisladora, A 
obediência a ele deve ser total, a não ser que ele se torne impotente 
para assegurar a paz durável e prosperidade. A fim de cumprir sua 
tarefa, o soberano deve concentrar todos os poderes em suas mãos. 
“Os pactos sem a espada não passam de palavras”. Segurança interna 
e externa estão em suas mãos, as mesmas que detêm a legislação 
suprema e o direito de guerra e paz. 
A partir desta posição de João Paulo Monteiro (2004), podemos afir-
mar que, em Hobbes, o direito do soberano é absoluto — desde que 
tenha eficácia em preservar o pacto social — e que tal direito 
não deve se pautar por um argumento teológico ou 
fatalista, mas sim, pela necessidade da unida-
de do poder e da conservação do Estado 
pelo pacto. Como, anteriormente, as 
questões que permearam a política 
inglesa, na época na qual Hobbes era 
vivo, sempre tendiam para a dissolu-
ção do Estado, como a 
queda da dinas-
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tia presente (naquele período, a de Tudor) e a instituição de um regime misto, 
monárquico constitucional, exigido pelos liberais. O argumento da autoridade 
do contrato social e da representação do povo no poder cedido ao monarca 
buscava a preservação dos direitos básicos garantidos pelo governo. Mais do 
que favoritismo ao regime absolutista, Hobbes quis preservar era a paz geral 
nas mãos de um tipo de regime que mitiga, da forma mais rápida e eficiente 
possível, os dissidentes dessa mesma paz
Thomas Hobbes foi essencial para a fundamentação teórica do Estado Mo-
derno, principalmente, em seus moldes absolutistas. O autor, também, abriu cami-
nhos para o pensamento político moderno, com as suas concepções do contrato 
social e da teoria da representatividade. Esta seria rebatida, futuramente, por John 
Locke e por Jean-Jacques Rousseau, os quais pregavam mais representatividade 
do povo nas estruturas de poder dos regimes políticos modernos.
Houve outro filósofo inglês que se interessou pela questão do pacto social, mas 
com direcionamentos mais abrangentes —, principalmente, voltados à questão do 
direito natural e à propriedade privada, por exemplo —, o seu nome foi John Locke. 
Antes de começarmos a abordar o pensamento político de Locke, primeira-
mente, é necessário entender o cenário histórico onde o pensador se encontrava. 
Locke foi uma espécie de sucessor de Hobbes: ele vivenciou a instauração da 
monarquia absolutista, após a queda da Primeira República, no século XVII. O 
autor realizou os seus estudos em Oxford, a princípio, direcionados à Medicina, 
o que incutiu, em seus escritos filosóficos, a profunda observação da natureza e 
a expressa tendência ao Empirismo. Após a saída de Oxford, teve relações com o 
Conde de Shaftesbury, este lhe introduziu aos problemas da política de sua época 
e o incluiu na Royal Society, em 1668.
Esta inquietação política levou Locke a se exilar da Inglaterra em dois 
períodos: de 1675 a 1679, na França, depois, de 1683 a 1689, na Holanda. Nes-
tes períodos de expatriação, o filósofo entrou em contato com o pensamento 
moderno que varria a Europa, conhecendo as discussões filosóficas da época 
que influenciaram o desenvolvimento de sua teoria política. Os frutos de suas 
reflexões políticas foram exaltados após a Revolução Gloriosa de 1688, com 
a queda da monarquia absolutista e a instauração do regime parlamentarista 
na Inglaterra, marcada como a primeira grande revolução burguesa do conti-
nente europeu. Como assinalam Falcon e Rodrigues, no livro A Formação do 
Mundo Moderno (2006, p. 187):
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 “ Esse modo curioso valeu-lhe a entrada no mundo intelectual e a sua transformação em uma pessoa de grande influência política. Com a Revolução Gloriosa, Locke destacou-se e a ele foram associados 
os escritos anônimos, como as Cartas sobre a tolerância e os Dois 
tratados, modificando a visão que outros intelectuais da República 
das Letras inglesa tinham dele. Isso animou-o e levou-o a escrever, 
em 1694, seus pensamentos referentes à educação. E mais, entre 
1692 e 1695, produziu um trabalho intitulado Dinheiro e assumiu 
a defesa do seu Ensaio sobre o entendimento humano, na polêmica 
com Stillinzfleet, em 1697 e 1699. 
Agora, tratando, diretamente, da teoria política de Locke, o autor, como citado, 
anteriormente, fundamentou os seus preceitos políticos, principalmente, em seu 
texto intitulado Dois Tratados sobre o Governo. Em tal obra, Locke fundamentou 
que todos os seres humanos nascem livres e que todo indivíduo é soberano em 
sua vontade, pelo fato de as pessoas serem dotadas de uma razão que as diferen-
cia dos animais. Sendo assim, todos os sujeitos possuem as mesmas faculdades 
e conseguem, de forma recíproca e justa, exercer o poder da jurisdição. O que 
implicaria afirmar que, no estado natural, nenhuma pessoa deveria ser subju-
gada a outra, pois, se a lei natural assegura que todos possuem a mesma razão, 
não haveria justificativa para um sujeito se sentir no direito de sujeitar os seus 
semelhantes. Expressando, de outra maneira, a lei natural de Locke, o fato de 
nascermos livres é decorrente de todos nascermos racionais, logo, não há razões 
suficientes à exploração alheia. O que limita a ideia de liberdade plena no pen-
samento do autor, pois a liberdade do ser humano iria até onde os limites da lei 
natural permitissem, no caso, o limite é a liberdade do outro. 
Partindo do pressuposto da lei natural, baseada nesta racionalidade intrínseca 
ao indivíduo, Locke afirma que a razão também é um modo de cooperação entre 
as pessoas, como um vínculo que une os seres humanos em uma irmandade, 
comunidade ou sociedade. Portanto, os pilares do pensamento político de Locke 
seriam a lei natural e a sua condição comunitária incutida em todos indivíduos, 
os impelindo a viver em comunidade e a preservar as suas respectivas liberdades.
Estabelecidas estas supostas origens da relação igualitária da vida em socie-
dade, Locke começa a expor os elementos que fundamentam o corpo do Estado. 
Para o autor, como todas as pessoas são dotadas de razão, todas elas, também, 
têm o direito de inquirir e reprimir aqueles que subjugam a liberdade do outro. 
Descrição da Imagem: a figura apresenta o retrato de 
um homem de meia-idade, com uma expressão séria, 
cabelos na altura dos ombros e rosto quase de perfil, 
direcionando o seu olhar à direita. O retrato foi elabora-
do em preto e branco e, tem, somente, um plano, cujo 
homem se destaca sobre o fundo branco
Figura 6 - Retrato de John Locke
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Mais do que um direito, seria um dever preservar a igualdade entre toda a raça 
humana, sendo assim, fez-se necessária a organização de uma sociedade, para que 
melhor sejam julgadas e punidas as pessoas por transgredirem os direitos alheios. 
O Estado, então, nasce com o intuito de preservar a liberdade de uma sociedade, 
não, apenas, pela mera necessidade de exercer o poder sobre terceiros. Nestes 
termos, constitui-se um regime governamental com o objetivo de que possamos 
exercer, sem represálias, a nossa liberdade e o poder individual.
Sendo assim, o estado de natureza, na argumentação de Locke, é a condição 
em que o poder está nas

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