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CRM ANALÍTICO Profª Leticia Pimentel AULA 3 2 INTRODUÇÃO Estamos em um mundo cada vez mais conectado, no qual o físico e o digital estão convergindo e o processo de tomada de decisão de um consumidor vem se transformando em algo desafiador para as empresas, que precisam suprir os desejos do cliente a qualquer hora e lugar. Com isso, mapear a chamada Jornada do Consumidor se torna imprescindível. A Jornada do Consumidor é o caminho que o cliente percorre desde o primeiro interesse em um produto ou serviço, passando pela experiência de uso até o pós-venda. Estratégias e ferramentas de CRM (Customer Relationship Management) podem ajudar, segmentando clientes e personalizando cada etapa da jornada. Na etapa de pós-vendas da jornada, caso a experiência de uso do cliente tenha sido bem sucedida, pode ocorrer um gatilho que leva à fidelidade do cliente (por meio da recompra e engajamento adicional). Nesta etapa, ações por parte da empresa para incentivar a recompra são importantes, como é o caso da criação de programas de fidelidade ou a implantação de técnicas de cross e up selling, que envolvem um looping de relacionamento, garantindo que o cliente esteja sempre em contato com a empresa e recebendo ofertas de acordo com seu perfil de compra. Assim, nesta aula, vamos aprender sobre: 1. jornada do consumidor; 2. ciclo da lealdade do consumidor; 3. programas de fidelidade; 4. segmentação de clientes; e 5. técnicas de cross e up selling. Vamos juntos! TEMA 1 – JORNADA DO CONSUMIDOR Na última década, o termo jornada do cliente tem sido amplamente utilizado, mas suas origens ainda não estão bem definidas, visto que os estudos ganham volume em diferentes campos, como design, gestão de serviços e, finalmente, no marketing. Nessas áreas, este termo é normalmente utilizado em referência a um processo, caminho ou sequência que a pessoa percorre até 3 acessar ou usar um serviço. Levando em consideração não apenas o que acontece com eles, mas também as respostas a suas experiências (Crosier; Handford, 2012). Por exemplo, Kankainen et at. (2012) descrevem a jornada do consumidor como o processo de experimentar o serviço por meio de diferentes pontos de contato. Patrício et at. (2011) define como uma série de pontos de contato, envolvendo todas as atividades e eventos relacionados com a prestação do serviço. Essa perspectiva da jornada é vista como relevante não apenas como um meio para entender a experiência do cliente, mas também para projetar essas experiências. Pesquisas de gerenciamento de serviço utilizam o mapeamento da jornada para identificar a visão do consumidor com cada encontro. Na visita a um hotel, por exemplo, os clientes definem quais elementos do design (ex.: o balcão de check-in, as cadeiras do bar do hotel, garrafa de água no quarto) são notáveis e fazem a diferença na experiência geral do serviço e quais eles ignoram. Crosier e Handford (2012) consideram o mapeamento da jornada do consumidor como uma abordagem para analisar respostas emocionais a produtos, bens e serviços. E mapearam o percurso de pessoas cegas até o shopping center, com o objetivo de compreender as experiências dos cidadãos e melhorar a qualidade dos serviços públicos. Na visão dentro da disciplina de marketing, o cerne da aplicação da jornada, prática ou acadêmica, é nos processos de decisão de compra dos consumidores. Nessa abordagem, o comportamento e as experiências dos clientes geralmente são analisados de acordo com um processo de integração pré-definido, estruturado em etapas como compra e lealdade, ou pré-compra, compra e pós-compra (Lemon; Verhoef, 2016). O objetivo é projetar e gerenciar todo o processo pelo qual o cliente passa. 1.1 Jornada de decisão de compra do consumidor: a clássica versus a nova abordagem As teorias do processo de decisão de compra e experiência do consumidor dentro do marketing iniciaram a partir da década de 1960. Vários modelos foram propostos para entender o comportamento de compra do consumidor e assim traçar a melhor estratégia. Por exemplo, a estrutura de 4 Howard e Sheth’s (1969), que se destinou a explicar o percurso desde o reconhecimento da necessidade pelo cliente até o resultado da compra do produto de uma marca ou a escolha de uma alternativa concorrente. Ainda integrando as duas abordagens, o modelo de hierarquia dos efeitos das propagandas de Lavidge e Steiner (1961) mostra a decisão composta por seis estágios: consciência, conhecimento, gosto, preferência, convicção e compra. Esses autores defendem que os consumidores não se transformam instantaneamente de pessoas desinteressadas em compradores ansiosos, e sim que esse processo ocorre por meio das etapas citadas. Com o mesmo objetivo de visualizar os efeitos da publicidade, existe o modelo Aida, que possui em suas etapas a Atenção, Interesse, Desejo e Ação. Para negócios B2B, Webster e Wind (1972) discutem o processo de compra para produtos e serviços complexos e, por isso, trouxeram a importância da equipe de vendas na transação. Assim, entende-se que os modelos das teorias iniciais do processo de decisão de compra fornecem a base para pensar holisticamente na experiência do cliente, como um processo pelo qual os consumidores passam (Lemon; Verhoef, 2016), o que hoje chamamos de jornada de compra do consumidor ou simplesmente jornada do consumidor. Katherine Lemon e Peter C Verhoef (2016) levantaram três elementos- chaves para compreensão da jornada do consumidor no Marketing: (i) Metodologia blueprint de serviços. Embasa que a jornada deve ser entendida e mapeada a partir da perspectiva do consumidor. (ii) Gestão multicanal. Leva em consideração que, devido à propagação de tecnologias, surgem novos canais, que diferem em benefícios e custos, tornando um canal mais útil para um estágio no processo de compra do que outros. (iii) Mobile. Os canais de dispositivos móveis oferecem novos recursos baseados em localização que resultam em oportunidades para as empresas criarem pontos de contato. E afirmam que a interface de toque direto dos dispositivos móveis influencia a jornada. Assim, percebe-se que o ambiente digital trouxe um consumidor com poder de conhecimento, que consegue pesquisar as informações que deseja por diferentes canais, podendo ser esses administrados pela marca, por parceiros ou fontes externas (mídia social). Tal comportamento, potencialmente, desafia o modelo top-down de comunicação, uma vez que ignora o poder de influência dos canais tradicionais e valoriza as informações que ajudam os consumidores a rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce 5 melhorar decisões, em oposição à informação que influencia as decisões do consumidor em favor de marcas específicas (Roberts; Adams, 2015). Esse aglomerado de possibilidades resulta para as empresas jornadas mais complexas e, consequentemente, empresas com menos controle das etapas em que o cliente está no processo de compra, gerando perdas para as empresas. Desta forma, conhecer os caminhos do consumidor e pontos de contato até a compra, permite que as organizações possam ser proativas, se antecipando e indicando qual é a melhor experiência de compra, por onde o consumidor deve seguir para que a conversão em venda seja realizada, ao invés de apenas reagir a jornadas que os próprios consumidores montam com a ajuda das tecnologias. 1.2 Mapa da jornada e pontos de contato O mapa da jornada do consumidor é uma representação visual da sequência de eventos por meio dos quais os clientes podem interagir com uma organização durante todo o processo de compra. Essa estrutura pode ser incorporada à visão (i) do processo de jornada do cliente, (ii) canais de varejo e (iii) elementos relevantes em cada ponto de contato. Importante ressaltar que, enquanto sugestões, estímulos e encontros deserviços refletem algo que uma empresa orquestra para o cliente, os pontos de contato representam o que realmente acontece na perspectiva do cliente (Zomerdijk; Voss, 2010). Existem estudos que mostram a importância de cada organização estruturar seu próprio mapa da jornada, desenhar os caminhos que os consumidores experimentam e pontuar quais canais são mais ou menos importantes (Rosenbaum et at., 2017). Porém, existem modelos de jornada em que todos podem se embasar, que funcionam como guia para examinar empiricamente as experiências dos clientes no processo. Para ilustrar o mapa, utilizaremos o modelo Lemon e Verhoef (2016), que separa a jornada em três estágios (pré-compra, compra e pós-compra), tornando-a um pouco mais gerenciável. Este modelo também identifica quatro categorias de pontos de contato que o cliente pode interagir: propriedade da marca, parceiros, propriedade do cliente, e social/ externo. Conheceremos cada etapa segundo os autores. rtave Realce rtave Realce rtave Realce 6 1. Pré-compra: engloba todos os aspectos da interação do cliente com a marca, categoria e ambiente antes de uma transação de compra. Na literatura tradicional de marketing, caracterizou-se a pré-compra como o comportamento de necessidade de reconhecimento, pesquisa e consideração. 2. Compra: cobre todas as interações do cliente com a marca e seu ambiente durante o evento de compra em si. É caracterizado por comportamentos como escolha, pedido e pagamento. 3. Pós-compra: engloba interações do cliente com a marca e seu ambiente após a compra real. Este estágio inclui comportamentos como uso e consumo, engajamento pós-compra e solicitações de serviço. Semelhante ao estágio de pré-compra, teoricamente, esta fase pode prolongar-se temporalmente a partir da compra até o final da vida do cliente. Pesquisas gerenciais recentes estenderam essa etapa do processo para incluir o “ciclo de fidelidade” como parte da jornada de decisão do cliente, sugerindo que durante o estágio pós-compra pode ocorrer um gatilho que leva à fidelidade do cliente (através da recompra e engajamento adicional) ou início de um novo processo, com o cliente entrando mais uma vez na fase de pré-compra e considerando alternativas. Figura 1 – Jornada do consumidor Fonte: elaboradO com base em Lemon e Verhoef, 2016, p. 77. rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce 7 Pontos de contato próprio: são interações com os clientes que são concebidas e controladas pela organização, a exemplo da mídia própria (publicidade, site e intranet). Parceiros: considera as interações que são geridas ou controladas pela firma e um ou mais parceiro. Por exemplo, agências de marketing e parceiros para programa de fidelidade. Propriedade do cliente: ações individuais do cliente, mas que afetam a experiência em geral, porém as firmas ou parceiros não conseguem influenciar ou controlar. Pontos externos: considera o papel de outros atores ou ambientes que influenciam na experiência, por exemplo, outros clientes, ambiente social e informação de terceiros aplicados em sites de avaliação. Schmitt (2003) baseia a abordagem do processo observando que “o objetivo principal do monitoramento da experiência em pontos de contato do cliente é desenvolver uma compreensão de como uma experiência pode ser enriquecida”. Porém, nos dias atuais, empresas buscam não somente enriquecer a experiência, mas trabalham para que o consumidor conclua todas as etapas em canais disponibilizados pela organização. TEMA 2 – CICLO DA LEALDADE DO CONSUMIDOR Dentro da jornada de compra do consumidor, a estratégia de CRM começa na etapa de compra e se expande no pós-compra. É a partir dessas etapas que o cliente pode manifestar uma intenção comportamental de manter um relacionamento duradouro com uma marca (Sirdeshmukh; Singh; Sabol, 2002). Especificamente no estágio pós-compra, o objetivo é garantir a fidelidade do cliente, fazendo com que ele recompre com a empresa, encurtando a jornada. Day (2002) complementa que a lealdade se manifesta quando os clientes gastam a maior parte ou a totalidade de seus orçamentos com os produtos e serviços de uma marca específica. Em outras palavras, os relacionamentos leais se caracterizam pelo comprometimento. A lealdade entre cliente e empresa não surge de uma hora para outra. Para este fim, o consumidor passa por três fases, que faz a sinergia com a jornada de compra: (1) cognitiva: na qual os atributos da marca/produto devem ser melhores que os da concorrência. É a primeira compra, e a lealdade é rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce 8 baseada somente na crença da marca; (2) afetiva: coincide na preferência pela marca (atitude). Nesta fase, a satisfação é levada em consideração. (3) Conativa: o consumidor que tem intenções mais fortes (conativo) para comprar de uma mesma marca após comparar com as outras alternativas, aqui são desenvolvidas as intenções de recompra (Marques, 2008 citado por Oliver, 1999). A figura 1 ilustra as três fases: Figura 2 – Etapas da lealdade do consumidor Fonte: elaborado com base em Oliver, 1999. Ao observar a figura, podemos destacar um item importante: é a satisfação com as compras anteriores que explica a maior parte da propensão contínua de uma pessoa a comprar um produto ou serviço de uma marca específica. Após passar pelas três fases, pode acontecer de o consumidor ter uma boa intenção de recompra, mas não realizar a ação. Por isso, as ações de relacionamento são importantes para converter as intenções em ações (Marques, 2008, citado por Oliver, 1999), como é o caso dos programas de fidelidade, que tentam recompensar o consumidor não apenas pelas transações financeiras, mas também a interação e o envolvimento do cliente. TEMA 3 – PROGRAMAS DE FIDELIDADE Seguir com uma estratégia de negócios com orientação apenas ao produto é muito arriscado, pois esses podem ser facilmente copiados pela concorrência, em um curto espaço de tempo (Bose; Rao, 2011). Desta forma, as rtave Realce rtave Realce 9 empresas se apoiam no paradigma do marketing de relacionamento, mantendo seus clientes próximos. E uma das ações do marketing de relacionamento são os “programas de fidelidade”, criados pelas empresas com o objetivo de alcançar vantagem competitiva por meio do relacionamento (Mendes; Pedron, 2014). Várias empresas já aderiram aos programas de fidelidade, que partem da premissa de que é necessário premiar os clientes pelo seu comportamento de compra repetido, bem como reter e fidelizar os clientes atuais (Dorotic et at., 2012). Contudo, estudos recentes mostram que o sucesso do programa de fidelidade depende do olhar para dois itens: (1) os tipos de recompensa e (2) a pontuação deve ser realizada por qualquer interação do cliente, não apenas por transações financeiras (Rehnen, 2017). É importante reconhecer os tipos de recompensas que são mais desejados pelos clientes e, normalmente, eles podem ser divididos em econômicos, ou seja, descontos especiais, cupons e milhas de passagens (que funcionam como novas moedas para troca), também podendo ser social, recompensa de natureza não econômica. Aqui, o cliente procura um reconhecimento como um cliente valioso para a empresa, e pode servir como um laço emocional entre cliente e marca (Gable; Fiorito; Topol, 2008). Adicionalmente, o novo cenário com big data e redes sociais pede novos campos de aplicação para os programas de fidelidade e demais ferramentas tradicionais de relacionamento. Assim, o reconhecimento por interação, por meio do engajamento na mídia social (curtidas, comentários, compartilhamento, entre outros), torna-se uma maneira interessante de beneficiar os clientes, que, além de ganhar incentivos, pode compartilharas recompensas (Rehnen et at., 2017). E, indiferentemente do tipo de recompensa, segundo Ho et at. (2009), um programa de fidelidade de sucesso deve considerar as seguintes propriedades: Quadro 1 – Propriedades dos programas de fidelidade PROPRIEDADE DETALHAMENTO O programa deve ser acessível O programa deve ser de fácil acesso, o que vale para o processo de adesão, a mecânica do programa e a entrega das recompensas, com o objetivo de facilitar a sua percepção e utilização por parte dos clientes. (Ho et at., 2009) 10 O programa deve conter recompensas especiais apenas para os clientes verdadeiramente leais à empresa Caso não ocorra essa segmentação para clientes leais, o programa não terá sucesso e a empresa terá que suportar mais custos do que aqueles pensados inicialmente. (Wirtz et at., 2007) O programa deve conter recompensas que sejam atrativas As recompensas necessitam ser atrativas, com o objetivo de se tornarem inesquecíveis e interessantes para os principais segmentos de clientes, com o propósito de maximizar as emoções positivas. (Edvardsson, 2005) Os itens de recompensa devem ser especiais e algo que os clientes não planejam comprar Ao ter esse tipo de recompensa, aumenta-se a possibilidade de potencializar um maior número de compras por parte de clientes leais, bem como intensificar a venda cruzada (cross-selling). (Nunes; Drèze, 2006) As recompensas do programa de fidelidade devem estar estruturadas por níveis Se o sistema de recompensas do programa de fidelidade estiver por níveis, vai permitir que os clientes mais valiosos da empresa, ou seja, aqueles que mais gastam com a empresa, sintam-se especiais, incentivando outros clientes a aumentarem os seus gastos com o objetivo de subir os níveis no programa de fidelidade. (Ho et at., 2009) Os pontos do programa de fidelidade devem expirar de acordo com um prazo predeterminado Ao estipular uma data de validade para os pontos acumulados no programa, deve causar uma sensação de “escassez” e “urgência” em certos clientes, para que acumulem pontos rapidamente e, assim, não percam as recompensas. (Dowling; Uncles, 1997) O programa tem que desenvolver uma ligação emocional com a base de clientes Ho et at. (2009) explicam a importância de serem oferecidos presentes/brindes especiais aos melhores clientes. Deve ser algo que seja memorável, ao ponto de permanecer na memória do cliente por algum tempo, florescendo uma emoção positiva. Fonte: elaborado com base em Ho et at., 2009, p. 63. Os programas de fidelidade também funcionam como meios para recolher dados e conhecer cada vez mais o cliente, com isso, é possível realizar segmentações, identificar grupos de clientes e oferecer novas recompensas que os satisfaçam. TEMA 4 – SEGMENTAÇÃO DE CLIENTES O conceito de marketing estipula que é necessário compreender e satisfazer as necessidades dos clientes, de forma a superar os concorrentes (Day, 1990). É possível estipular que a segmentação, nesse caso, é a base de toda a estratégia de marketing, uma vez que primeiro se segmenta o mercado em grupos homogêneos de consumidores e depois identifica-se aqueles grupos que oferecem melhores condições para serem atendidos com o tipo de serviço ou 11 produto em que a organização oferece, de modo a atender às necessidades e desejos desses grupos específicos de consumidores. Em outras palavras, a segmentação é o processo de divisão do público consumidor em grupos internamente homogêneos, com intuito de desenvolver estratégias de marketing personalizadas, conforme necessidades similares. Dentre os tipos de segmentações mais utilizadas estão os que se seguem. Segmentação geográfica: requer uma divisão do mercado em diferentes unidades geográficas, como países, estados, regiões, cidades ou bairros e ruas. Segmentação demográfica: um dos tipos de segmentações mais populares, que inclui idade, sexo, domicílio, família, ciclo de vida (jovem, adulto, idoso). Segmentação psicográfica: segmenta o mercado pelos perfis do estilo de vida, interesses, personalidade, valores e opiniões. Segmentação comportamental: é levado em consideração padrões de consumo, como frequência de compra, local de compra, lealdade a marcas. Conhecer o mercado em que a empresa está inserida, com enfoque profundo do consumidor, é relevante e imprescindível para o sucesso do negócio. 4.1 Segmentação de cliente A segmentação da base de clientes é uma das tarefas fundamentais para o CRM, e uma tarefa do CRM analítico. Além disso, a segmentação dos clientes é um fator crítico de sucesso para a implementação de uma estratégia de CRM, visto que é um dos caminhos para o conhecimento do cliente. De forma complementar, a segmentação de clientes tornou-se mais eficiente nos últimos anos devido ao desenvolvimento do banco de dados de marketing (ou dados de clientes) e às possíveis aplicações de mineração de dados, que permite o processamento de um grande volume de informações. Essas estruturas fornecem às empresas as melhores maneiras de segmentar seus clientes atuais e desenvolver estratégias sob medida para segmentos e/ou clientes individuais. rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce 12 Segundo Kotler (2000), a empresa que utiliza a mineração de dados pode se beneficiar de várias formas, como: (I) saber quais clientes podem estar prontos para uma oferta de melhoria de produto; (II) saber quais clientes podem comprar outros produtos da empresa; (III) saber quais os clientes têm o maior valor ao longo do tempo e dar-lhes mais atenção e vantagens; e (IV) saber quais os clientes têm maior probabilidade de deixar a empresa e, assim, agir preventivamente para evitar este cenário. Dentre algumas das principais segmentações para o relacionamento com cliente, é usual recorrer à técnica de segmentação RFM, em que R (qualidade de ser recente) é dado pela última data da visita à loja, F representa a frequência de compras na loja, e M o valor monetário global do cliente. Com isso, o método diferencia clientes importantes de grandes dados por esses três atributos (RFM). As definições do modelo RFM são descritas a seguir. Tempo para retorno da última compra (R): representa recência, que se refere ao intervalo entre o momento em que o comportamento de consumo mais recente ocorreu e o presente. Quanto mais curto for o intervalo, maior será o R. Frequência das compras (F): representa a frequência, que se refere ao número de transações em um determinado período, por exemplo, duas vezes em um ano, duas vezes em um trimestre ou duas vezes em um mês. Quanto maior for a frequência, maior será o F. Valor monetário das compras (M): representa o monetário, que se refere à quantidade de dinheiro de consumo em um determinado período. Quanto maior for o valor monetário, maior será o M. O estudo de Cavique (2003), focado em RFM, apresentou quatro quadrantes que mostram a relação simultânea entre a classificação de clientes (recência e valor monetário) e a adoção da melhor estratégia de comunicação, conforme está representado na figura 3. rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce 13 Figura 3 – Quadrantes RFM Fonte: elaborado com base em Cavique, 2003, p. 74. A figura mostra como adotar estratégias diferentes para cada grupo de clientes, conforme a segmentação RM. Clientes mais recentes (R+) e com maior lucratividade (M+) têm uma importância que deve ser valorizada e, por isso, devem ser premiados e fidelizados. Contrariamente, com clientes que não são rentáveis (M-) e não são recentes (R-), a empresa deve tomar cuidado com o esforço despendido, muitas vezes podem ser clientes até prejudiciais. Já para os clientesR- e M+, no qual a última compra foi distante, mas com transações de alto investimento financeiro, devem ser implementadas estratégias de retenção, para que o cliente volte a comprar com a marca. O mesmo objetivo de migração existe para os clientes M- e R+, mas, neste caso, recomenda-se ações de estímulo de compra com o intuito de migrá-los para R+ e M+, uma das possíveis ações de estímulo envolve técnicas de vendas para a base, como o cross-sell e up-sell. TEMA 5. TÉCNICAS DE CROSS E UP SELLING As técnicas de cross ou up selling já são amplamente conhecidas e estabelecidas, e têm como objetivo encantar o cliente e incentivar que continuem comprando os produtos na mesma empresa. Vamos ver com mais detalhes como aderir a uma estratégia de cross ou up selling? 5.1 Cross-selling Você provavelmente já deve ter saído para comprar um hambúrguer em algum restaurante fast food e o atendente ofereceu o adicional de batata frita por rtave Realce rtave Realce 14 apenas R$ 5,00 a mais. Este cenário ilustra uma estratégia de cross-sell, o envolvimento de itens adicionais relacionados (ou às vezes não relacionados) a um item adquirido anteriormente (Kamakura, 2008). Quando a experiência é de compra on-line, o cross-sell também se faz evidente quando o item escolhido entra no carrinho de compras do site e uma variedade de comunicações levam o cliente a comprar outros itens. Ele pode receber a comunicação lembrando de outros produtos que o cliente clicou, mas não comprou, ou receber frete grátis se gastar R$ 50,00 a mais, por exemplo. 5.2 Up-selling O up-selling envolve o aumento do volume do pedido por meio da venda de mais unidades do mesmo item comprado, ou a atualização para uma versão com o valor mais alto do item. Seguindo o exemplo do fast food, o up-selling acontece quando o atendente pergunta se você deseja aumentar o tamanho da batata por um pequeno acréscimo no valor final. O upgrade, muitas vezes, é vantajoso tanto para o cliente, que ganha mais por menos, quanto para empresa, que consegue gerar um aumento considerável se grande parte dos clientes aceitam o up-selling. 5.3 Cross e Up-selling no CRM As vendas de cross e up-selling são técnicas antigas, mas tiveram que evoluir para fazer uso da tecnologia da informação e integrar as estratégias de CRM. Em vez de depender apenas do vendedor ou o atendente incentivar novas compras, o cross ou up-selling moderno utiliza ferramentas analíticas para estudar o comportamento anterior do cliente, correlacionar essas informações com clientes semelhantes e, em seguida, identificar o cruzamento potencial. Vamos conhecer alguns benefícios dessas técnicas de vendas para uma estratégia de CRM: 1. reter um cliente custa menos que conquistar um novo e, assim, criar ações para que o cliente compre mais produtos e/ou serviços é imprescindível para retenção e maior lucratividade; 2. quanto mais um cliente consome produtos e serviços diferentes da empresa e amplia o escopo do relacionamento, mais dados são gerados para que a empresa aprenda sobre as necessidades do cliente, sendo mais assertivos nas suas ações de marketing e comunicação individualizada; rtave Realce rtave Realce rtave Realce rtave Realce 15 3. ao apresentar novos produtos que complementam a experiência do cliente, ele passa a confiar mais na empresa, aumentando a chance de recompra e fidelização; 4. aumento de share of wallet, que é a parcela de orçamento que o cliente investe na empresa (lembra do FRM, que citamos no Tema 4? Aqui aumentamos o M de monetização); e 5. ao ampliar o escopo do relacionamento, aumenta-se custos reais e psicológicos da troca, ou seja, o cliente tende a não buscar o concorrente, melhorando a retenção. Com o CRM analítico, que ajuda a entender o cliente por meio da segmentação e oferecer o produto certo no momento certo, as técnicas de cross e up selling podem ser aplicadas a qualquer negócio com baixo investimento. 16 REFERÊNCIAS BOSE, S.; RAO, V. Perceived benefits of customer loyalty programs: validating the scale in the indian context. Management & Marketing, v. 6, n. 4, 2011. CAVIQUE, L. Micro-segmentação de clientes com base em dados de consumo. Modelo RM-SIMILIS. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, v. 2, n. 3, p. 72-77, 2003. CROSIER, A.; HANDFORD, A. Customer journey mapping as an advocacy tool for disabled people: a case study. Social Marketing Quarterly, v. 18, n. 1, p. 67- 76, 2012. DAY, S. Market-Driven Strategy: processes for creating value. 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