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7 Estabelecimento Empresarial e Ponto Comercial


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ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
Chamado pelo CCom de fundo de comércio, é “todo complexo de bens organizado para exercício da empresa, por empresário ou sociedade empresária” - art. 1.142. É tudo aquilo que, se a empresa for vendida, será vendido junto com ela. Transcende à soma dos diversos bens que o compõe, consistindo um sobrevalor/mais-valia/aviamento/universalidade de fato, têm valor superior ao que teriam fora da empresa por serem organizados de maneira racional, de modo a serem úteis para ela. Apesar disso, cada parcela descentralizada do estabelecimento empresarial pode, ou não, ter um valor independente. 
Também não se confunde com o patrimônio do empresário, todo estabelecimento empresarial integra o patrimônio de seu titular, mas este não se reduz àquele necessariamente por englobar também bens de propriedade do empresário, cuja exploração não se relaciona com o desenvolvimento da atividade econômica. Os bens que o compõem podem ser:
I. Incorpóreos:
a) Propriedade comercial: direito ao local onde está sediado o estabelecimento (a alteração do empresário ou sócio não pode levar ao “despejo” da empresa do local ou incidir em multa);
b) Nome comercial: sua alteração só é obrigatória quando o nome do sócio alterado faz parte do nome empresarial;
c) Acessórios do nome comercial: título do estabelecimento e expressões ou sinais de propaganda;
d) Propriedade industrial: privilégios de invenção, modelos de utilidade, desenhos e uso de marcas;
e) Propriedade imaterial: aviamento (reputação e crédito da empresa, boa qualidade e variedade de seus produtos).
II. Corpóreos:
Móveis (como vitrinas, equipamentos e mercadoria) e imóveis, (como o ponto comercial).
Ponto comercial
Local específico em que o empresário exerce sua atividade econômica organizada. Se alugado, é regulamentado pela Lei de Locações Prediais Urbanas (8.245/91), que busca proteger o empresário através da tutela da inerência no ponto, mantendo-o no local para recuperar os investimentos que ali fez através de uma ação de renovação judicial de contrato de locação não-residencial, cujos requisitos são expostos pelo art. 51 do referido diploma:
· Locatário deve ser empresário, excluindo profissionais liberais, associações civis sem fins lucrativos, fundações e outras. Este direito pode ser exercido pelo cessionário ou sucessor da locação e no caso de sublocação total do imóvel, pelo sublocatário.
· Contrato escrito, com relação locatícia ininterrupta ou soma de prazos de contratos sucessivamente renovados de no mínimo 5 anos;
· Locatário deve estar na exploração da mesma atividade econômica por pelo menos 3 anos ininterruptos;
· Deve ser proposta, no mínimo, 6 meses, antes do término do contrato a renovar.
A propriedade do dono, protegida pela CF é garantida por algumas opções que o proprietário tem para rejeitar a proposta de novo aluguel:
a) Alegar que a proposta é inferior ao preço de mercado, caso no qual será designada perícia para apura-lo - art. 72, II;
b) Comprovar proposta melhor de terceiro, que deverá ser coberta pelo atual locatário, caso contrário, perderá o direito à renovação do contrato de locação - art. 72, III;
c) Realizar obras que importarem na sua radical transformação por determinação do Poder Público ou para fazer modificações que aumente o valor do negócio ou da propriedade por iniciativa própria. 52, I.
d) Para lá será transferir estabelecimento comercial próprio (que não pode ser do mesmo ramo do locatário, salvo se a locação também envolvia o fundo de comércio, com as instalações e pertences), de ascendente, descendente ou cônjuge que sejam titulares de estabelecimento comercial há mais de 1 ano, sendo detentor da maioria do capital o locador – art. 52, II e § 1.
Caso esta justificação não se concretize em 3 meses após a não-renovação o empresário terá direito a indenização dos prejuízos que teve com a mudança para outro lugar - art. 52, § 3º.
Dentro de shopping center, deverá ser considerado o planejamento e distribuição das lojas no espaço disponível, determinado por um plano chamado tenant mix/mix, organização que é dada em torno das lojas-âncora, que funcionam como ponto magnético da clientela. Neles o valor da locação pode ser composto por parcelas fixas e variáveis (normalmente um percentual sobre o faturamento), o locatário deve filiar-se à associação de lojistas, pagando uma contribuição mensal (para pagamento de zeladores, manutenção dos banheiros, promoções, decorações e semelhantes), é possível o pagamento da “res sperata” (prestação retributiva das vantagens de se estabelecer em um complexo comercial que já possui clientela constituída não regulada em lei, sendo negocial, aceita pela jurisprudência). A retomada do imóvel pelo locador pelas razões já expostas o favoreceria, sendo possível apenas para melhor organização do empreendimento ou planejamento de distribuição do espaço - art. 52, § 2º.
Estabelecimento virtual
Diferencia-se do estabelecimento físico pelo seu meio de acesso, não pela natureza dos produtos oferecidos. Pode ser de três tipos: 
· B2B (business to business): os internautas compradores são também empresários e se destinam a negociar insumos, de modo que esta relação é regida pelo direito civil. 
· B2C (business to consumer): os internautas são consumidores finais, de modo que esta relação é regida pelo direito do consumidor. 
· C2C (consumer to consumer): os negócios são feitos entre internautas consumidores, cumprindo o empresário titular do site apenas funções de intermediação, desse modo as relações entre o empresário titular do site e os internautas regem-se pelo direito do consumidor, mas a relação entre esses últimos está sujeito ao regime cível.
São recentes e poucas as disposições legais sobre o tema:
· Decreto nº 7.962/13: dispõe sobre a contratação no comércio eletrônico. 
· Lei Estadual nº 17.106/12 (de modo que só rege relações em que vendedor e consumidor residem no Estado), por exemplo: manter serviço telefônico de atendimento ao consumidor gratuitamente; endereço, telefone e site da empresa responsável pela oferta; caso a venda mínima não seja atingida, o valor da compra deverá ser devolvido em até 72 horas, para aqueles que adquiriam produtos, etc.
A página empresarial acessível via internet, chamada de nome de domínio, tem função técnica de interconexão de equipamentos e jurídica de identificação como o título de estabelecimento. Ele é registrado, no Brasil, pelo “registro.br”, departamento do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) responsável pelo registro e manutenção dos nomes de domínio que usam o “.br”. Ele foi criado para implementar as decisões e os projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br – implantado pelo decreto 4.829/03), que é responsável por coordenar e integrar as iniciativas e serviços da internet no país. 
Transferência
A transferência do estabelecimento comercial é regida pelos arts. 1143 e 1149 do CC:
Trespasse
Transferência onerosa. Pode ocorrer de maneira temporária (como o usufruto) ou permanente (venda ou alienação). É trespassante o alienante/vendedor e trespassário o adquirente.
Art. 1.143 - O estabelecimento pode ser objeto unitário (todos os bens juntos, motivo pelo qual tem maior valor, pois estão juntos e organizados, contribuindo para a atividade empresarial) de direitos e negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. 
Art. 1.144 - O contrato que tenha por objeto sua alienação, usufruto ou arrendamento só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário/sociedade, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial (Diário Oficial). ME, MEI e EPP estão dispensadas desta publicação.
Pode ser de 3 tipos:
- Alienação
Forma voluntária de perda da propriedade pela qual o titular a transfere a outro interessado a título oneroso (compra e venda) ou gratuito (doação).
- Usufruto
Confere ao usufrutuário (pessoa a quem foi constituído o usufruto) a capacidade de usar o bem alheio, ainda que não sejao proprietário, tendo direito à posse, uso, administração e percepção dos frutos.
- Arrendamento
Cessão de um fator de produção, pelo qual seu proprietário o entrega a outro para ser explorado, mediante determinada remuneração paga ao proprietário.
Art. 1.145 – “Se ao alienante (dono inicial) não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito” dado em até 30 a partir de sua notificação. O transpasse irregular pode ensejar pedido de falência (art. 94, II, c, lei 11.101/05).
Art. 1.146 - O adquirente responde pelos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados (escritas nos livros empresariais), continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado (responsabilizado) por 1 ano, a partir da publicação (do trespasse) para os créditos vencidos, e, quanto aos outros (que não venceram ainda), da data do vencimento. Isto não se aplica as dividias tributárias e trabalhistas que possuem legislação específica (art. 133 CTN e 448 CLT), segundo a qual esta solidariedade se estende até o pagamento da dívida.
Art. 1.147 – Mesmo sem cláusula contratual expressa (podendo haver disposição em contrário), o alienante não pode fazer concorrência ao adquirente, nos 5 anos após a transferência, trata-se de uma obrigação contratual implícita pelo princípio da boa-fé objetiva. Há apenas a discussão sobre qual o âmbito geográfico de sua aplicação, tendo a doutrina definido-o como área até onde o empresário é capaz de alcançar o consumidor ou até onde o consumidor está disposto a se locomover para consumir. Parágrafo único - No caso de arrendamento ou usufruto esta proibição persistirá durante o prazo do contrato.
Art. 1.148 - Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação (substituição) do adquirente nos contratos para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo o terceiro rescindi-lo em 90 a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. Ou seja, os de caráter pessoal (de direito personalíssimo, como o realizado com um autônomo) não se submetem à estas regras gerais.
Art. 1.149 - A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde a publicação da transferência (eventuais créditos devem ser pagos aos adquirente), mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente, podendo dele cobrar o adquirente.