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CONFLITO DE LEIS NO ESPAÇO
Uma vez que o direito internacional privado trata de questões envolvendo objetos (pessoas, bens, obrigações) de diferentes nacionalidades, em conexão com diferentes entes estatais, sendo que a abrangência de uma legislação é determinada pelo alcance de seu poder soberano geralmente limitado pelo território – princípio da territorialidade, uma situação pode ter relação com mais que um ente estatal, havendo um conflito de leis no espaço, sendo necessário observar qual legislação é aplicada.
Cada Estado determina quando a legislação estrangeira pode ser aplicada em seu território, o que no Brasil é regulado pela LINDB. As normas dela constantes, assim como as demais normas de direito internacional privado, são indiretas, indicativas, de superordenamento, ou seja, não resolvem a questão, mas indicam as normas que o farão. Elas se estruturam em torno do objeto e do elemento de conexão.
· Objeto: matéria a qual se referem as normas a serem aplicadas, o que gera o conflito, no caso do art. 7º, personalidade, capacidade, nome e o direito de família encontrado pelo processo de qualificação, depois do qual basta observar o que dispõe a LINDB; 
· Elemento: critério que determina qual norma será aplicada, o que soluciona o conflito, indica o vínculo entre a situação e um Estado ou ordem jurídica, no caso do art. 7º, o domicílio.
Regras de conexão - Estruturas
Elas definem qual elemento será usado havendo certo objeto de conexão, o que é definido por cada Estado. Costumam estar distribuídos em 3 estruturas:
Estatuto pessoal
O elemento de conexão depende da pessoa, podendo ser ele:
- Lex domicilii: aplica-se a lei do domicílio. Alguns países também falam em centro de vida e de ocupação da pessoa. Elemento mais comum, são os casos em que é usado:
Art. 7º - Para questões relacionadas à personalidade, capacidade, nome e direito de família aplica-se a lei do domicílio do sujeito, visto que ele consiste na própria sede jurídica do indivíduo, podendo ser apenas um para o direito internacional, definido pela lei do local.
§ 3º “e § 4º O regime de bens, legal ou convencional, e os casos de invalidade do matrimônio obedecerão à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal”.
Art. 10º “A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens”, entretanto. § 2º “A lei do domicílio do herdeiro [que recebe por força de lei] ou legatário [que recebe por força do testamento] regula a capacidade para suceder”.
Art. 8, § 1º “Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares”, como problemas que ocorram com a bagagem de alguém em uma viagem. § 2º “O penhor [contrato em que alguém empresta dinheiro, dando outro bem em garantia] regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa em cuja posse se encontre a coisa apenhada”.
- Lex nacionalis/patriae: aplica-se a lei de sua nacionalidade. É aplicada no seguinte caso: Art. 7º, § 2º “O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes”, aplicando-se a lei estrangeira.
Elemento real
O elemento de conexão depende da coisa, podendo ser ele
- Lex rei sitae: aplica-se a lei do local onde a coisa se encontra/situa, relacionado a bens reais corpóreos, geralmente aplicado a imóveis, remetendo ao princípio da territorialidade. São situações em que é aplicado:
Art. 8º - “Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes [...]”.
Art. 10, § 1º “A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus”. Entretanto, esta exceção apresenta que o objeto “sucessão de bens de estrangeiros” pode ter 2 elementos: por exemplo, se um sujeito seja casado com Síria e venham residir no Brasil, tenha um filho brasileiro, mas tenha filhos fora do casamento na Síria, caso a lei Síria exclua da sucessão filhos fora do casamento, aplicar-se-ia a lei Síria, visto que isto é mais benéfica ao filho brasileiro (lex patriae), que então ficará com a totalidade dos bens, em vez de ocorrer a igual divisão que ocorreria aplicando-se a lei brasileira (como é a regra lex rei sitae).
Esta regra é limitada por outras disposições da LINDB, visto que a capacidade em geral, é a do domicílio, aos bens móveis trazidos ao Brasil por alguém ou destinados a transporte para outros lugares aplica-se a lei do domicílio do proprietário e ao penhor aplica-se a lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa empenhada.
 - Lex fori: aplica-se a lei do foro, do local onde a coisa é feita, onde ocorreu o ato ilícito (lex delicti comissii), o cumprimento da obrigação (mesmo obrigações trabalhistas - lex loci excutionis/solutionis) ou sua constituição (lex loci contractus). Segundo elemento mais comum. O local da constituição é usado pelo Brasil:
Art. 7º, § 1º Quanto aos impedimentos e formalidades da celebração do casamento, “Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira [...]”.
Art. 9º - “Para qualificar e reger as obrigações [em geral, contratos e atos unilaterais de vontade], aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”. Art. 9º, § 1º “Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato”, ou seja, algumas formalidades brasileiras devem ser observadas, por exemplo, não é possível contratar curandeiro na Bolívia para realizar cirurgia no Brasil, diante da exigência do curso de medicina para tal.
Para estes fins, § 2º “A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente”, por exemplo, sobre compra de produto chinês, anunciado no Facebook, que é americano, aplica-se a lei chinesa.
Elemento conducionista
O elemento de conexão depende da autonomia, da vontade, sendo o convencionado, aplicando-se a lei determinada (fórum shopping/lex voluntatis). Entretanto, isto deve observar as limitações impostas pela legislação do país. É exemplo de sua aplicação:
Art. 7º, § 5º “O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro”. Aqui o objeto regime de bens tem dois elementos de conexão.
São as demais disposições presentes na LIND:
Art. 7º, § 6º “O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros [lex nacionalis?], só será reconhecido no Brasil depois de 1 ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país”. Entretanto, a exigência de separação judicial como requisito para o divórcio não é mais aplicada, constando na lei apenas por conta de sua época, década de 40. “O STJ, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais”. 
§ 7º “Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda”. Entretanto, em decorrência da igualdade entre homens e mulheres postulada pela CF/88 extinguiu-se a figura do chefe de família, substituído pelos responsáveis legais, cujo domicílio se estende aos filhos não emancipados e demaisincapazes sob sua guarda. § 8º “Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre”.
Art. 11 “As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem – [lex loci contractus?]”.
§ 1º “Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira”, devendo então constituir empresa no Brasil.
§ 2º “Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituido, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação”.
§ 3º “Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares”. 
Nas Américas, por razão da OEA, é seguido o Código de Bustamante.
São restrições ao elementos de conexão, limitações a sua aplicação, situações que, se não observadas, impossibilitarão a aplicação da lei estrangeira indicada
Ordem pública/orde publique
Aspectos fundamentais do ordenamento jurídico, geralmente associada à ideia de moralidade objetiva, aos bons costumes, como a prisão civil por dívida ou penas físicas/corpóreas.
Reenvio/renvoi
Situações em que a legislação estrangeira que se aplicaria a um caso remete-o a outro local. Pode ser de primeira classe/grau (para o primeiro Estado, por exemplo, a lei brasileira manda olhar a lei francesa e a lei francesa manda olhar a lei do Brasil, devolvendo a questão) ou segunda classe/grau (para terceiro estado, por exemplo, a lei brasileira manda olhar a francesa e a francesa manda olhar a holandesa), diferenciação relevante visto que alguns países aceitam apenas o reenvio de primeiro grau. O Brasil, por sua vez, não aceita qualquer tipo de reenvio, conforme art. 16, LINDB, aplicando-se a lei do país ao qual a legislação brasileira se remete.
Direito adquirido
Aquele já incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa por meio do cumprimento dos requisitos fáticos para tal, permitindo-o buscar tal direito. Assim, podem ser exigidos apenas os requisitos da lei brasileira quando a estrangeira determinar sua aplicação. Caso não fosse elemento limitador, a soberania do país de origem, que indicou os requisitos para sua aquisição, seria desrespeitada.
Para Portela, porém, o direito adquirido não será acolhido se ofender a ordem pública, obedecendo à regra geral de que o Direito estrangeiro não pode ser aplicado no território de outro ente estatal quando não estiver em consonância com os valores essenciais de sua ordem jurídica. Exemplos típicos de direitos adquiridos que não poderiam ser reconhecidos no Brasil por ferirem a ordem pública pátria seriam aqueles relacionados a um casamento poligâmico, que não existe no ordenamento brasileiro.
Coisa julgada
Efeito da sentença segundo a qual, a princípio, o tema sobre o qual já se decidiu não merece ser novamente discutido, nesse ou em nenhum outro processo (coisa julgada formal ou material).
Ato jurídico perfeito
Aquele que cumpriu os requisitos de forma quando foi realizado, não afetando o ato se tais requisitos mudarem posteriormente.
Art. 14, LINDB – “Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência”. No processo nacional não é necessário apontar o fundamento legal, o artigo, na petição, podendo estes ser apontados pelo juiz, de modo que a necessidade de aplicação da lei estrangeira pode ser invocada pelo juiz, caso no qual deverá o juiz provar seu conteúdo e vigência, devendo oportunizar a manifestação das partes sobre isso em decorrência do contraditório e da ampla defesa.
Art. 13 – “A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus [englobando quem deve fazê-la, quem deve custeá-la e o que acontece se a prova não ocorrer, a consequência da ausência de provas] e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça [não havendo provas que não desconhecemos, apenas provas obtidas por meios não aceitos, a elas aplicando-se as mesmas restrições relativas à aplicação da lei]”.

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