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1 Apontamentos Direito Internacional Privado agosto 2022

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1 
 
 APONTAMENTOS DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
 
Mazzuoli, Valerio de Oliveira. Direito Internacional Privado: Curso Elementar. Rio de 
Janeiro: Forense, 2015. 
 
O DIPr é a disciplina jurídica – baseada num método e numa técnica de aplicação do 
direito – que visa solucionar os conflitos de leis estrangeiras no espaço, ou seja, os fatos 
em conexão espacial com leis estrangeiras divergentes, autônomas e independentes, 
buscando seja aplicado o melhor direito ao caso concreto. 
 
Por meio do DIPr, contudo, não se resolve propriamente a questão jurídica sub judice, 
eis que suas normas são apenas indicativas ou indiretas, ou seja, apenas indicam qual 
ordem jurídica substancial (nacional ou estrangeira) deverá ser aplicada no caso 
concreto para o fim de resolver a questão principal; as normas do DIPr não irão 
dizer, v.g., se o contrato é válido ou inválido, se a pessoa é capaz ou incapaz, se o 
indivíduo tem ou não direito à herança, senão apenas indicarão a ordem jurídica 
responsável por resolver tais questões. Em outros termos, por não ser possível submeter 
a relação jurídica a dois ordenamentos estatais distintos, o DIPr “escolhe” qual deles 
resolverá a questão principal sub judice. 
 
Daí se entender ser o DIPr um direito sobre direitos (jus supra jura), pois acima das 
normas jurídicas materiais destinadas à resolução dos conflitos de interesses encontram-
se as regras sobre o campo de aplicação dessas normas, ou seja, o próprio DIPr. 
 
Para que o DIPr possa operar num processo judicial deve aparecer na relação jurídica 
um determinado “elemento estrangeiro” (ou “elemento de estraneidade”) conectando 
a questão sub judice a mais de uma ordem jurídica. 
 
Não havendo o “elemento estrangeiro” na relação em causa não há falar naaplicação 
das normas do DIPr, ou seja, não se fazendo presente a conexão espacial com leis 
estrangeiras contrárias, o problema colocado não pertence ao DIPr, eis que não 
ultrapassa as fronteiras de um dado Estado. 
 
Deve, assim, o ato ou o fato jurídico estar em contato com dois ou mais meios sociais 
onde vigoram normas jurídicas autônomas e independentes, cada qual regulando à sua 
maneira o mesmo tema, para que possa operar o DIPr. 
 
Por exemplo, se dois brasileiros se casam no Brasil e aqui adquirem bens e, 
posteriormente, pretendem desfazer a sociedade conjugal, nada de estranho há na 
situação, ou seja, nenhum “elemento estrangeiro” se apresenta, caso em que as normas 
2 
 
de DIPr sequer serão suscitadas para resolver a questão, aplicando-se, para tanto, 
exclusivamente as leis nacionais. 
 
Se, por outro lado, uma brasileira se casa com um italiano na França, vindo lá a residir 
e a adquirir bens e, passados alguns anos, transferem-se para o Brasil, aqui fixando 
domicílio, desejando depois, aqui também, desfazer a sociedade conjugal, um problema 
de DIPr passa a se fazer presente, eis que a relação jurídica encontra-se interconectada 
com vários “elementos estrangeiros” (nacionalidade dos nubentes; casamento 
realizado no exterior; aquisição de bens no exterior; primeiro domicílio conjugal 
no exterior etc.). 
 
O DIPr versa quase que exclusivamente interesses de pessoas privadas, sejam físicas 
(particulares) ou jurídicas (empresas). 
 
Destaque-se que quando se fala em “conflitos” de leis no espaço, na realidade o que 
se pretende dizer é que duas normas distintas (uma nacional e outra estrangeira) estão a 
disciplinar diferentemente uma mesma questão jurídica, não significando que exista 
propriamente um “conflito” (colisão, choque) entre ambas. Não há conflito 
verdadeiramente, senão uma aparência de conflito, eis que cada ordenamento legisla 
exclusivamente para si; há uma concorrência (concurso) de leis diferentes sobre a 
mesma questão jurídica. A expressão “conflitos de leis no espaço”, contudo, tem sido 
utilizada indistintamente pela doutrina em todo o mundo. 
 
 
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657, 
de 4 de setembro de1942, com redação dada pela Lei nº 12.376, de 30 de dezembro de 
2010) 
 
A maioria das normas (não todas) do DIPr brasileiro encontra-se na Lei de Introdução 
às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 
1942, com redação dada pela Lei nº 12.376, de 30 de dezembro de 2010). 
 
A LINDB tem aplicação, como o próprio nome indica, a todas as normas do direito 
brasileiro, orientação seguida mesmo à égide da denominação anterior (LICC – Lei de 
Introdução do Código Civil). É nela que se encontra o núcleo básico do sistema 
brasileiro de aplicação das leis estrangeiras (arts. 7º a 19). 
 
Por meio das normas elencadas na LINDB será possível a aplicação do direito 
estrangeiro (quando esse for o indicado) perante a Justiça brasileira. Tal excepciona a 
regra de que apenas as leis nacionais devem ser aplicadas no Brasil, pois, como se vê, 
poderá uma norma estrangeira ser aqui igualmente aplicada e surtir todos os seus 
efeitos, salvo se violar a soberania nacional, a ordem pública ou os bons costumes. 
3 
 
 
Estatuto pessoal no DIPr brasileiro 
 
Denomina-se estatuto pessoal a garantia dada aos estrangeiros de que as leis do seu país 
de origem serão aplicadas perante a ordem jurídica de outro relativamente ao estado da 
pessoa e sua capacidade; de que as leis do seu país o acompanham para regê-lo em tal 
âmbito no território de outro. Ele abrange, como explica Jacob Dolinger, todos os 
acontecimentos juridicamente relevantes que marcam a vida de uma pessoa, começando 
pelo nascimento e aquisição da personalidade, questões atinentes à filiação, ao nome, 
ao relacionamento com os pais, ao pátrio poder, ao casamento, aos deveres conjugais, 
à separação, ao divórcio e à morte. 
 
No DIPr brasileiro atual é o critério do domicílio que determina a lei que deve 
reger o estatuto pessoal, tendo sido abandonado o critério da nacionalidade antes 
utilizado, notadamente por ser este último tido “como prejudicial ao próprio 
interessado, pois que, ante o desconhecimento de sua lei pelas autoridades judiciais do 
país onde vive, acabará sendo atendido pelos tribunais de forma mais lenta, em um 
processo mais custoso, sendo-lhe estendida menos justiça do que se a causa fosse 
julgada pela lei do local onde vive”. 
 
A norma brasileira atual sobre a lei aplicável ao estatuto pessoal vem expressa no art. 
7º, caput, da LINDB, nos seguintes termos: 
 
A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o 
fim da 
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 
 
 
- Fontes do Direito Internacional Privado 
 
As fontes de um determinado ramo jurídico podem ser: 
 
Materiais - são fontes de produção (elaboração) de certa norma jurídica, decorrendo de 
necessidades sociais, econômicas, políticas, morais, culturais ou religiosas. 
 
Formais - são os métodos ou processos de criação de uma norma jurídica, ou seja, as 
diversas técnicas que permitem considerar uma norma como pertencente ao universo 
jurídico. 
 
Podem as fontes do DIPr ser internas (nacionais, brasileiras) ou internacionais, 
variando, em maior ou menor medida, em relação ao assunto de que se trata; tanto as 
fontes internas como as internacionais podem, por sua vez, ser escritas (leis, tratados 
etc.) ou não escritas (como os costumes). 
 
Alguns temas de DIPr são mais incisivamente versados por fontes internas (leis, 
decretos, regulamentos, costumes internos etc.); outros, mais por fontes internacionais 
4 
 
(tratados, costumes internacionais etc.); alguns deles são versados, indistintamente, 
tanto por fontes internas como internacionais. 
 
Como se nota, o sistema das fontes contemporâneas do DIPr é um sistema misto, eis 
que os Estados têm suas leis internas, seus regulamentos e seus costumes domésticos, 
mas também são partes em grande número de tratados internacionais, tanto 
multilaterais comobilaterais, relativos à matéria (para além de se subordinarem 
aos costumes internacionais sobre DIPr). Tal está a demonstrar que o DIPr 
contemporâneo é um direito verdadeiramente plúrimo (ou plurifontes) em termos de 
fundamentação, não se encontrando regido, rigidamente, quer por uma ou por outra 
categoria de fontes, senão por elas simultaneamente. Os benefícios advindos dessa 
constatação são nítidos para as partes em uma questão de DIPr sub judice, notadamente 
em razão das múltiplas alternativas e possibilidades que passa a ter o Poder Judiciário 
para resolver as questões jurídicas apresentadas. 
 
 
- Constituição e leis 
 
As normas escritas de Direito interno – especialmente a Constituição e as leis – são as 
fontes mais importantes do DIPr em vários países. No Brasil, a quase totalidade das 
normas conflituais de DIPr encontra-se na lei; no texto constitucional encontram-se 
pouquíssimas regras sobre conflitos de leis. 
 
Apesar, porém, da escassez das normas de DIPr na Constituição Federal, pode ser citada 
a regra prevista no art. 5º, XXXI, que dispôs: 
 
“a sucessão de bens de estrangeiros situados no país será regulada pela lei 
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes 
seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.” 
 
A lei é, sem dúvida, a fonte mais constante do DIPr em todos os países. É por meio dela 
que prioritariamente se estabelecem as regras conflituais a serem seguidas pelo juiz do 
foro quando presente um conflito de leis no espaço com conexão internacional. 
 
Ainda que existam tratados internacionais a regular os conflitos de leis no espaço, bem 
assim costumes (internos e internacionais) a tratar da mesma matéria, o certo é que as 
leis internas continuam disciplinando com maior abrangência essa temática em vários 
países. De fato, é facilmente perceptível que as normas internacionais e costumeiras que 
regulam o DIPr são em número bastante reduzido, quando comparadas com as leis 
internas que tratam do mesmo assunto. Daí a importância que têm as normas internas 
para o DIPr, especialmente a Constituição e as leis. 
 
A fonte interna mais importante para o DIPr brasileiro é a Lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, com 
redação dada pela Lei nº 12.376, de 30 de dezembro de 2010), que disciplina o assunto 
nos arts. 7º a 19. 
5 
 
 
 
A LINDB, porém, tem sido criticada por não ter acompanhado a evolução do DIPr no 
mundo contemporâneo, razão pela qual deixa de regular inúmeras questões que a 
atualidade coloca. Há, porém, inúmeras outras normas de DIPr esparsas na legislação 
brasileira. 
 
Assim, v.g., no Código de Processo Civil encontram-se normas relativas à 
competência internacional, à prova do direito estrangeiro e à homologação de 
sentenças estrangeiras. 
 
Destaque-se, porém, que as leis que disciplinam o DIPr nacional, por serem leis, estão 
subordinadas, como não poderia deixar de ser, às normas (regras ou princípios de 
proteção) da Constituição Federal e de seu bloco de constitucionalidade em geral. 
 
As leis de DIPr são leis ordinárias como quaisquer outras, devendo respeito ao Texto 
Maior, sob pena de não recepção (se anteriores à Constituição) ou de 
inconstitucionalidade (se posteriores à Constituição). O controle de constitucionalidade 
se exerce, portanto, também sobre as leis nacionais de DIPr. Assim, os direitos 
fundamentais previstos no texto constitucional impedem a aplicação das normas 
infraconstitucionais de DIPr que contra eles se insurjam, ou seja, todas as normas 
conflituais do DIPr da lex 1fori estão vinculadas aos valores constitucionais (e 
internacionais) vigorantes na ordem jurídica do Estado. Assim, à evidência, prevalece 
o texto constitucional brasileiro sobre eventual norma estrangeira indicada que preveja, 
v.g., desigualdade entre homens e mulheres ou discriminação em razão de raça, sexo, 
língua ou religião. Deve o juiz do foro, em suma, estar atento para se a indicação feita 
pela lex fori não está a violar normas constitucionais, especialmente as de direitos 
fundamentais, caso em que deverá rechaçar a aplicação da norma indicada em 
desacordo com o comando constitucional. 
 
Exemplo concreto ocorreu na Alemanha, decidido pelo Tribunal Constitucional daquele 
país em 1971. Tratava-se de um espanhol, solteiro, que pretendera casar-se na 
Alemanha com uma cidadã alemã, divorciada. Pela norma de conflito alemã a 
capacidade para casar haveria de reger-se pela lei nacional de cada um, caso em que se 
fazia necessário comprovar, no momento da habilitação do matrimônio, a capacidade 
de cada qual nos termos da lei do país de origem. O cidadão espanhol não logrou o 
certificado, tendo em vista que uma das partes (a alemã) era impedida de se casar na 
Espanha, por não ser ali autorizado o divórcio. Após negado o casamento pelas 
instâncias judiciárias alemãs, recorreu o casal ao Tribunal Constitucional, alegando 
violação de uma norma constitucional alemã, qual seja, a relativa à liberdade de 
casamento. Em sua decisão, o Tribunal Constitucional reconheceu a violação da 
 
1 Lex fori é um termo próprio do direito internacional privado, significa lei do foro, ou seja, a lei que 
será aplicada a demanda será a que rege o tribunal em que foi proposta a ação. Tal princípio não 
possui um dispositivo específico, é criação da doutrina e está implícito no ordenamento. 
 
 
6 
 
Constituição (bem assim, diga-se, da Convenção Europeia de Direitos Humanos de 
1950) e autorizou o casamento, esclarecendo que a aplicação do direito estrangeiro 
designado pela regra de conflito alemã sujeitava-se, também, aos imperativos da 
Constituição. Houve, como se vê, interferência direta do texto constitucional, 
especialmente dos direitos constitucionalmente assegurados, no momento da aplicação 
da regra conflitual de DIPr alemão, consagrando-se, naquele caso, o efeito horizontal 
dos direitos fundamentais. 
 
- Costume nacional 
 
Também não se descarta o costume nacional como fonte interna do DIPr, utilizado, em 
sistemas como o nosso, especialmente quando o juiz do foro não encontra norma escrita 
a resolver a questão entre normas interconectadas. De fato, em muitos países, além das 
normas escritas, há também costumes nacionais a reger as relações jurídicas de DIPr. O 
princípio locus regit actum é de caráter costumeiro em vários países. 
 
No Brasil, em razão do disposto no art. 4º da LINDB, os costumes apenas serão 
utilizados em caso de omissão legislativa: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o 
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” 
 
- Doutrina e jurisprudência interna 
 
Destaque-se o papel preponderante da doutrina e da jurisprudência interna no auxílio 
e determinação do direito aplicável quando presente determinado conflito de leis no 
espaço com conexão internacional. Tanto uma como outra, porém, não são fontes 
propriamente ditas do DIPr em nosso sistema jurídico. É dizer, da doutrina e da 
jurisprudência dos tribunais pátrios não nascem normas conflituais, senão apenas certo 
auxílio para que o juiz encontre a correta ordem jurídica aplicável ao caso concreto. 
 
No Brasil, especificamente, porém, não se pode dizer existir verdadeira 
“jurisprudência” de DIPr, pois as soluções judiciárias (especialmente dos tribunais 
superiores, como o STJ e o STF) em matéria de conflitos de leis estrangeiras no espaço 
têm sido raras, não obstante o expressivo aumento das ondas migratórias em nosso país 
e da intensificação das relações comerciais internacionais. 
 
- Conflito espacial positivo 
 
Há o conflito espacial positivo de normas do DIPr quando cada um dos ordenamentos 
em causa indica a sua própria norma para reger a questão jurídica com conexão 
internacional. Tal seria o caso, v.g., que ocorre quando um juiz brasileiro tem que 
decidir questão relativaà capacidade, aos direitos de família e à sucessão de um 
português domiciliado no Brasil. Nessa hipótese, a norma brasileira (LINDB, art. 7º, 
caput) determina que “a lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras 
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de 
família”, enquanto o direito português (Código Civil de 1966, art. 25) estabelece que o 
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7 
 
“estado dos indivíduos, a capacidade das pessoas, as relações de família e as sucessões 
por morte são regulados pela lei pessoal dos respectivos sujeitos…”., ou seja, a lei 
brasileira optou pela lei do domicílio, enquanto a portuguesa preferiu a da nacionalidade 
da pessoa. 
 
A resolução da questão, pelo juiz do foro, quando não há norma interna ou tratado 
internacional a desvendar o problema, está na harmonização das duas legislações em 
conflito, eis que a solução simplista em aplicar exclusivamente a lex fori pode não ser 
justa, especialmente no momento atual, em que o DIPr há de servir como garantia da 
aplicação do melhor direito (pro homine) aos seres humanos no caso concreto. Tal 
apenas não há de ocorrer, repita-se, quando a própria norma interna ou um tratado 
internacional resolve a questão, para evitar, sobretudo, a fraude à lei, a exemplo da 
norma prevista no art. 7º, § 6º, da LINDB, segundo a qual o “divórcio realizado no 
estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no 
Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de 
separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito 
imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças 
estrangeiras no país”. 
 
Assim, havendo conflito espacial positivo de normas de DIPr, a solução está na 
harmonização coerente das normas em conflito para atender à justiça do caso 
concreto, sem que se imponham soluções rígidas, como seria a aplicação exclusiva 
da lex fori ou a renúncia desta em benefício da lei estrangeira. Tudo, nesse campo, 
deve estar coordenado à luz do critério pro homine de solução de antinomias. 
 
- Conflito espacial negativo 
 
Há o conflito espacial negativo de normas do DIPr quando cada um dos ordenamentos 
em causa exclui a aplicação de suas normas internas para a resolução da questão jurídica 
com conexão internacional. É o que ocorria, v.g., nos casos relativos a direitos de 
família ou de sucessão de brasileiros domiciliados na Itália, eis que a norma brasileira 
(LINDB, arts. 7º e 10º) manda aplicar a lei do domicílio da pessoa, enquanto a norma 
italiana (Código Civil de 1942, art. 23) ordenava a aplicação da lei de sua nacionalidade. 
Eis aí, tipicamente, o exemplo de conflito espacial negativo de normas do DIPr. 
 
Havendo conflito negativo de normas do DIPr, qual das leis deverá ser efetivamente 
aplicada? 
Segundo Haroldo Valladão, a diretriz jurisprudencial em quase todos os países resolveu 
o problema pela chamada teoria da devolução (ou do reenvio), segundo a qual o juiz 
do foro aceita a referência (devolução) que a lex causae (a lei declarada competente) 
8 
 
faça à mesma lex fori (retorno; devolução para trás; ou reenvio ao primeiro grau) ou à 
outra lei para diante (devolução à lei estrangeira; reenvio de segundo grau). Assim, a 
devolução realizada pela lex causae pode dar-se relativamente à lex fori (reenvio ao 
primeiro grau) ou a uma terceira lei, distinta da lex fori (reenvio de segundo grau). 
 
No primeiro caso, devolve-se à lei do foro o direito de ser aplicada, e, no segundo, 
passa-se à frente, para a lei de terceiro Estado, a regência da questão. Tomando-se como 
exemplo o caso de um brasileiro e de um francês domiciliados na Itália, a solução seria 
o juiz brasileiro aplicar a lei brasileira ao brasileiro domiciliado na Itália (retorno) 
e a lei francesa ao francês domiciliado na Itália (devolução à lei estrangeira). 
 
Um argumento de valor prático em favor da teoria da devolução ou do reenvio reside 
no fato de que, por meio dela, aplica-se, em quase todos os casos, a lex fori, com a qual 
o juiz interno tem maior familiaridade, ficando afastados os perigos em se aplicar uma 
lei estrangeira que mal se conhece. 
 
Seja como for, a atual LINDB, inspirada no art. 30 das disposições preliminares ao 
Código Civil italiano de 1942, e contrariando toda a anterior doutrina e jurisprudência 
brasileiras, proibiu expressamente a devolução no seu art. 16, assim redigido: 
Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, 
ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita 
a outra lei. 
 
Assim, não obstante todos os esforços doutrinários e jurisprudenciais no sentido de se 
admitir o reenvio no DIPr brasileiro, o certo é que a norma de DIPr brasileira em vigor 
não o autorizou. Pela regra, ficaram igualmente proibidos os reenvios de primeiro e 
segundo graus, sem qualquer exceção. Essa orientação do direito brasileiro deve ser 
seguida, inclusive, nos termos do art. 1º da Convenção Interamericana sobre Normas 
Gerais de Direito Internacional Privado, de 1979, segundo o qual, na falta de norma 
internacional, “os Estados Partes aplicarão as regras de conflito do seu direito interno”. 
Entendeu-se, em suma, no Brasil, que o direito estrangeiro deve comportar as 
limitações previstas pela lex fori, de que é exemplo a proibição dos reenvios de 
primeiro e segundo graus. 
 
- Aplicação substancial das normas de DIPr 
 
Verificados o caráter indicativo ou indireto das normas de DIPr, seus conflitos no 
espaço e no tempo, cabe agora analisar a sua aplicação substancial. 
 
9 
 
Para se chegar, porém, a essa aplicação, deve o juiz seguir uma metodologia que se 
inicia com a qualificação da relação jurídica, seguindo-se à determinação do elemento 
de conexão, chegando, finalmente, à determinação da lei aplicável e sua efetiva 
aplicação ao caso concreto. 
Quando uma norma de DIPr da lex fori, como a insculpida no art. 7º, caput, da LINDB, 
estabelece que “a lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o 
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”, cabe, 
primeiramente, a indagação do que se considera “personalidade”, “nome”, 
“capacidade” e “direitos de família” na lei do país em que domiciliada a pessoa (na 
França, na Alemanha, na Holanda, na Itália, nos Estados Unidos, no Chile, no 
Uruguai etc). 
 
Em razão da formulação e da redação genéricas das normas do DIPr presentes nas 
legislações estatais, as quais não definem o conteúdo daquilo que estão a prever, nasce 
o problema de saber se a questão que suscita o conflito de leis no espaço se enquadra 
ou não em determinado grupo ou categoria jurídica; nasce a necessidade de saber, se o 
casamento entre pessoas do mesmo sexo pertence às relações de “direito de família” ou 
“societárias” etc. Para tanto, faz-se necessário, em primeiro lugar, investigar qual o 
exato enquadramento jurídico da questão posta sub judice, ao que se nomina 
problema das qualificações. 
 
Qualificar significa, em DIPr, determinar a natureza de um fato ou instituto para o fim 
de enquadrá-lo em uma categoria jurídica existente. Trata-se do exercício que há de 
fazer o juiz para compreender em que âmbito jurídico terá enquadramento o fato ou 
instituto trazido à questão sub judice (se se trata, v.g., de um caso de direito pessoal, de 
direito de família, de direito das sucessões, de direito das obrigações etc.). 
 
A qualificação existe pelo fato de várias questões jurídicas apresentarem intensa 
controvérsia sobre o seu enquadramento científico na legislação dos diversos países; 
desnecessário seria estudar o problema das qualificações se em todas as legislações do 
mundo as questões jurídicas guardassem idêntico enquadramento, isto é, a mesma 
classificação. 
 
Assim, enquanto numa dada ordemjurídica a “doação causa mortis” poderá ser matéria 
de “obrigação”, noutra, eventualmente, poderá enquadrar-se no tema “sucessão”. O 
juiz, evidentemente, depende desse conhecimento – saber se se está diante de tema 
obrigacional ou sucessório – para localizar a regra de conexão aplicável ao caso 
concreto. Só assim, “caracterizando” (“definindo”) o fato ou instituto jurídico em causa, 
poderá localizar o competente elemento de conexão e dar ao caso concreto solução 
adequada. 
10 
 
 
A qualificação é, em suma, o processo técnico-jurídico pelo qual se busca enquadrar os 
fatos ou institutos jurídicos discutidos no processo relativamente às classificações 
existentes na lei ou no costume, encontrando-se a solução mais adequada para os 
diversos conflitos que se apresentam entre as pessoas. Como se vê, a qualificação tem 
lugar apenas no que tange ao objeto de conexão (o contrato, o casamento, a doação) 
da norma indicativa ou indireta, não no tocante ao elemento de conexão, que será 
investigado depois de qualificado o instituto em apreço. 
 
Tomando-se como exemplo o art. 9º da LINDB (verbis: “Para qualificar e reger as 
obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”), tem-se que a 
classificação é a constituição da obrigação, sua localização é o país em que se constituiu 
e o direito determinado é o desse país. Em outro exemplo, se ao qualificar a questão sub 
judice verificou o juiz tratar-se de um caso de direito das sucessões, pois relativo a saber 
se determinada pessoa tem capacidade para herdar e em que ordem herda, o elemento 
de conexão competente (último domicílio do falecido) será encontrado no art. 10, caput, 
da LINDB, segundo o qual “a sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do 
país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza 
e a situação dos bens”. Nesse exemplo, qualificada a questão sub judice (caso de direito 
das sucessões) e descoberto o competente elemento de conexão (último domicílio do de 
cujus), resta ao juiz efetivamente aplicar a lei indicada pela norma de DIPr e resolver a 
questão principal. 
 
Exemplo clássico sobre o problema da qualificação é o sempre lembrado caso da 
viúva maltesa, relativo a um casamento de um casal maltês, ocorrido na ilha 
mediterrânea de Malta, sem pacto antenupcial. No caso, após o casamento o casal 
transferiu-se para a Argélia, em 1889, tendo ali o esposo feito grande fortuna. Falecido 
o marido, a viúva vindicou perante o juiz francês, segundo a lei maltesa, o usufruto das 
propriedades deixadas pelo de cujus em território argelino (então administrado pela 
França). O recurso à lei maltesa deu-se pelo fato de que o direito francês, em vigor na 
Argélia, não dava à viúva qualquer possibilidade de ficar com os bens do de cujus. 
Assim, viu-se o juiz francês diante do seguinte problema: se enquadrasse a questão no 
direito sucessório à viúva nada caberia, pois, segundo a lei francesa, em matéria de 
sucessão deveria ser obedecida a lex sitae (e a legislação francesa negava qualquer 
direito sucessório à viúva); se, porém, enquadrasse o problema no direito matrimonial, 
a norma francesa de conflito levaria à aplicação da lei maltesa, permitindo-se à viúva 
participar dos bens do marido (arts. 17 e 18 do Código de Malta). O tribunal, ao final, 
qualificou o caso como de direito matrimonial e não direito sucessório, decidindo, 
assim, em favor da viúva. 
 
11 
 
Institutos como o domicílio, a residência e bens comportam divergências de 
entendimentos em diversas legislações do mundo. Tomando-se como exemplo o 
instituto do domicílio da pessoa natural, percebe-se que enquanto no direito 
brasileiro trata-se do “lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo 
definitivo” (Código Civil, art. 70), no direito italiano é aquele em que a pessoa 
“estabelece a sede principal dos seus negócios e interesses” (Código Civil, art. 43). 
Por sua vez, no direito francês, domicílio é o lugar em que a pessoa “tem o seu 
estabelecimento principal” (Código Civil, art. 102). 
 
Como se nota, apenas qualificando o instituto do “domicílio”, ou seja, apagando as 
incertezas conceituais que sobre ele incidem, é que se poderá saber se a aplicação 
da lei indicada estará correta; somente assim será possível dizer se certa pessoa 
está realmente “domiciliada” no exterior etc. 
 
O mesmo ocorre com o instituto da prescrição, que em alguns países pertence ao 
direito processual, sujeito, portanto, à lex fori, enquanto em outros integra o 
direito material, sujeitando-se, assim, à lex causae, que disciplina a relação jurídica. 
Somente analisando caso a caso os institutos que se pretendem qualificar é que será 
possível responder à indagação sobre o seu exato enquadramento jurídico e, 
consequentemente, à sua correta aplicação no caso concreto sub judice. 
 
A solução apontada pela LINDB para a qualificação dos bens é, como já afirmado, no 
sentido aplicar a lei do país em que estiverem situados (art. 8º, caput); e para a 
qualificação das obrigações, a lei do país em que se constituírem (art. 9º, caput) ou 
seja, nesses casos específicos, a norma brasileira adotou expressamente a 
qualificação pela lex causae, quando então o juiz nacional será obrigado a assim 
proceder. 
 
Pode-se afirmar que a prova de que a qualificação, em geral, deve ser realizada pela lex 
fori, reside no fato de o legislador ter previsto expressamente quando há de se realizar 
pela lex causae. Quando, porém, a lei do país em que os bens estejam situados ou em 
que as obrigações se constituíram remeta a sua qualificação à outra lei, não poderá o 
juiz brasileiro amparar-se nessa outra norma (retorno de primeiro ou segundo graus) 
para qualificar os bens e obrigações referidos, eis que o art. 16 da LINDB proibiu, como 
já se viu, a devolução ou reenvio. Segundo Haroldo Valladão, a lei brasileira da DIPr 
se contradisse ao condenar, no art. 16, o princípio da devolução, “ao declarar que a lei 
competente não seria aplicada quando remetesse a outra lei, o que importou em não a 
aplicar integralmente, em mutilá-la, deformá-la, uma vez que a remissão por ela 
estabelecida é sua parte constitutiva, inseparável”. Seja como for, o certo é que a 
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LINDB, na intenção de evitar incertezas, pretendeu qualificar, expressamente, os 
fatos e as relações atinentes aos bens (art. 8º) e às obrigações (art. 9º). 
 
 - Conflitos de qualificação 
 
A qualificação realizada pela lex fori, contudo, pode apresentar problemas, 
especialmente quando o direito nacional desconhece o instituto jurídico que se 
pretende qualificar ou em relação ao qual não há regulamentação interna. O direito 
islâmico, nesse particular, tem suscitado problemas desse gênero no mundo ocidental. 
Também o direito inglês contém institutos desconhecidos do direito brasileiro, de que 
é exemplo o trust. Em casos como tais, ou seja, quando se está diante de uma 
“instituição desconhecida” do Direito interno, surge o problema de saber como 
qualificá-lo. Deve, aqui, haver dupla qualificação: a primeira, prejudicial, realizada pela 
fex fori, para saber se o instituto é realmente desconhecido do direito nacional; e a 
segunda (qualificação propriamente dita) para aferir se a instituição desconhecida pode 
ou não ser qualificada entre as instituições nacionais análogas. 
 
Nesse sentido é a previsão do art. 3º da Convenção Interamericana sobre Normas 
Gerais de Direito Internacional Privado, de 1979: 
 
“Quando a lei de um Estado Parte previr instituições ou procedimentos essenciais 
para a sua aplicação adequada e que não sejam previstos na legislação de outro 
Estado Parte, este poderá negar-se a aplicar a referida lei, desde que não tenha 
instituições ou procedimentos análogos”. 
 
Não sendo possível qualificar a instituição desconhecida entre as instituições nacionais 
congêneres, caberá, então, às normas da lex causae2 qualificá-la. 
 
Quando duas legislaçõesestrangeiras espacialmente conflitantes, ante a inexistência 
de tratado internacional uniformizador, atribuem a um mesmo instituto jurídico 
(v.g., capacidade das pessoas) concepções em tudo divergentes, cada qual 
qualificando-o à sua maneira, nasce o problema dos conflitos de qualificação. 
 
A situação, aqui, é distinta daquela em que o direito do foro desconhece o direito 
estrangeiro em questão, caso em que não se estará diante de um conflito de qualificação, 
senão de uma lacuna a ser preenchida. O conflito de qualificações é mais um dos 
 
2 A teoria da qualificação pela lex causae defende que a qualificação deve ser procurada no 
direito estrangeiro eventualmente aplicável para a solução do litígio. Essa teoria contraria o 
fato de a qualificação preceder à escolha da lei competente. (A lei que fundamenta a causa) 
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problemas que podem surgir para o juiz antes de aplicar a regra de conexão para 
conhecer o direito (material) aplicável ao caso concreto. 
 
Tome-se o seguinte exemplo: Imagine-se que um casal de italianos se instale na 
Alemanha e lá redijam um testamento conjuntivo ou de mão comum, pelo qual o 
cônjuge sobrevivente será herdeiro do outro. Morrendo o marido, a viúva faz cumprir o 
testamento. Segundo a lei italiana tal testamento é totalmente nulo, diferentemente da 
Alemanha, país em que vale o princípio segundo o qual um testamento feito 
conjuntamente pelos esposos, num mesmo ato e prevendo disposições recíprocas, tem 
total valor. 
 
Coloca-se, assim, a questão atinente à lei aplicável ao ato. Se se tratar de uma questão 
de forma, a lei alemã será aplicada como a lei do lugar em que o testamento foi redigido, 
e ele será válido. 
 
Se, porém, a proibição do testamento conjuntivo for uma questão de fundo, aplica-se a 
lei da nacionalidade do de cujus, e o testamento é nulo. Assim, à medida que uma lei 
trata a questão como formal e a outra como material, surge o problema do conflito de 
qualificação. 
 
No caso citado, a jurisprudência alemã entendeu ser a proibição do testamento 
conjuntivo uma questão de fundo prevista pelo ordenamento italiano, levando em conta 
o fato de que o direito italiano visa garantir a liberdade do testador, para que redija o 
seu testamento sem qualquer interferência de outra pessoa. Declarou-se, portanto, nulo o 
referido testamento. 
 
No Brasil, a LINDB não resolveu mais do que parcialmente o problema, e, ainda assim, apenas 
em relação aos bens e às obrigações, disciplinando, nos seus arts. 8º e 9º, respectivamente, 
que “para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do 
país em que estiverem situados”, e que “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-
á a lei do país em que se constituírem”. 
 
Em caso de conflito de qualificação, havendo tratado internacional 
uniformizador ratificado por ambos os Estados, deve a interpretação interna 
atribuída a determinado instituto jurídico ceder perante a que lhe dá a 
norma internacional em vigor. 
 
 
 
 
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- Questão prévia 
 
Outro problema relativo à aplicação substancial das normas de DIPr diz respeito à 
chamada questão prévia ou prejudicial (ou ainda incidental). 
 
Trata-se do caso em que o juiz do foro depende, para a solução da questão jurídica 
principal, do deslinde de outra questão jurídica, que lhe é preliminar. Quando tal o 
correr, se estará diante do problema da chamada questão prévia. Frise-se, porém, desde 
já, que se considera como questão prévia apenas a relativa à questão substancial 
principal, não a atinente a um tema processual. 
 
Por exemplo, a validade do casamento é uma questão prévia à decisão sobre o divórcio; 
a validade de uma adoção é uma questão prévia à decisão da sucessão por filho adotado. 
 
Destaque-se, também, que a questão aqui referida não é “prévia” (prejudicial, 
incidental) relativamente à qualificação. De fato, a análise da questão prévia (ao 
desfecho da questão principal) é realizada depois ter sido o instituto jurídico qualificado, 
podendo, também, ter lugar concomitantemente à qualificação. 
 
Sempre, porém, trata-se da necessidade de decidir algo anteriormente ao deslinde da 
questão jurídica principal. 
 
O STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 61.434/SP, decidido em 17 de junho de 
1997, ao analisar o disposto no art. 10, caput, e seu § 2º, da LICC (hoje LINDB), 
deixou claro que capacidade para suceder não se confunde com qualidade de herdeiro, 
essa última tendo a ver com a ordem da votação hereditária, que consiste no fato de 
pertencer, a pessoa que se apresenta como herdeira, a uma das categorias que, de um 
modo geral, são chamadas pela lei à sucessão, e que, por isso, haveria de ser aferida 
pela mesma lei competente para reger a sucessão do morto, que, no Brasil, “obedece à 
lei do país em que domiciliado o defunto” (LINDB, art. 10, caput). O tribunal, então, 
observou que uma vez resolvida a questão prejudicial de que determinada pessoa, 
segundo a lei do domicílio que tinha o de cujus, é herdeira, caberia, posteriormente, 
examinar se a pessoa indicada é ou não capaz para receber a herança, solução 
fornecida pela lei do domicílio do herdeiro (LINDB, art. 10, § 2º). Como se nota, a 
questão prévia então debatida consistia em saber se a pessoa detinha a qualidade de 
herdeira segundo a lei do domicílio do de cujus, e a principal se era ou não capaz de 
receber a herança, nos termos da lei do domicílio do herdeiro. Naquele caso concreto, a 
recorrente era filha adotiva do de cujus, que era estrangeiro domiciliado em São Paulo 
quando de seu falecimento. Aplicando a lei do domicílio do de cujus (lei brasileira), 
o tribunal entendeu que a recorrente era herdeira, eis que no Brasil a adoção 
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também envolve a sucessão hereditária. Eis a questão prévia resolvida. Ato contínuo, o 
tribunal decidiu a questão principal, relativa à capacidade para receber a herança, tendo 
entendido não ter havido no processo nenhuma referência à indignidade ou deserdação, 
ou a qualquer outro instituto que retirasse a capacidade da recorrente para suceder. O 
recurso foi, ao final, conhecido e provido para reconhecer à recorrente a qualidade de 
herdeira necessária do de cujus, como sua filha adotiva, determinando, então, lhe fosse 
destinado o percentual de cinquenta por cento dos bens da herança, por conta da 
legítima, acrescido do legado deixado por testamento. 
 
A lei substancial que deve resolver a questão prévia é a lex fori ou a lex causae? 
 
Dispõe o art. 8º da Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito 
Internacional Privado, de 1979, que 
 
“as questões prévias, preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma 
questão principal não devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que 
regula esta última”. 
 
Tal significa que a questão prévia, nos termos dessa norma convencional, poderá ser 
resolvida nos termos de lei diversa da que regula a questão principal, podendo ser a lex 
fori ou a lex causae, indistintamente, a depender da harmonia necessária à resolução do 
caso sub judice. 
 
Deu-se, aqui, total liberdade ao juiz para decidir a questão prévia de acordo com o DIPr 
do foro ou segundo o DIPr do ordenamento jurídico indicado para resolver a questão 
principal. Assim, segundo o art. 8º da Convenção, nem a lex fori nem a lex causae hão 
de ser rigidamente escolhidas pelo juiz para resolver a questão prévia, mas, sim, uma 
ou outra lei, a depender da melhor solução (da mais justa decisão) a ser encontrada 
no caso concreto. 
 
Tal significa, em outras palavras, que a decisão da questão prévia é autônoma em 
relação à decisão da questão principal, que depende do comando normativo indicado 
pela regra de DIPr da lex fori; no caso da questão prévia, não fica o juiz preso à 
aplicação da mesma lei que regula a questão principal, podendo aplicar livremente 
a lex fori ou a lex causae, tudo a depender doque for mais harmônico para o 
deslinde do caso concreto. 
 
 
 
 
16 
 
Há três condições necessárias para que a questão prévia, no DIPr, seja corretamente 
constituída: 
a) ser a lei aplicável uma lei estrangeira; 
b) ser a questão em causa distinta da questão principal; e 
c) serem necessariamente distintos os resultados obtidos pela aplicação do DIPr do país 
da lei aplicável à questão principal e do país do foro. 
 
Não há falar em questão prévia quando a questão principal tiver de ser decidida pela 
aplicação da lex fori, pois, nesse caso, não surge qualquer dúvida sobre qual norma 
jurídica substantiva (nacional ou estrangeira) deva ser aplicada para a resolução da 
questão prévia. 
 
 
- Adaptação ou aproximação 
 
Em princípio, tem-se que a lei indicada pela norma de DIPr da lex fori para resolver a 
questão sub judice é certa e determinada. 
 
Há casos, porém, em que tal indicação leva à potencial aplicação de várias leis ou, até 
mesmo, de nenhuma delas. Tome-se, primeiramente, como exemplo, o art. 9º da LI 
NDB, segundo o qual “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país 
em que se constituírem”. Imagine-se, agora, que o país em que contraída a obrigação 
não tenha lei a respeito daquela modalidade obrigacional, ou, se a tem, apresenta 
extrema vagueza de conteúdo. O que fazer o juiz num caso como esse? A solução 
encontrada reside na utilização do critério da adaptação ou aproximação, ajustando a 
característica da relação jurídica ao caso concreto sub judice, considerados, 
evidentemente, os interesses do DIPr, ou seja, pelo método da adaptação ou 
aproximação adéqua-se a norma indicada (ou a falta dela) à situação jurídica 
concreta, com a finalidade de buscar a aplicação do melhor direito ao caso concreto, 
dando, assim, resposta ao cidadão que busca na Justiça a solução para um problema seu. 
 
Por exemplo, quando o direito brasileiro não conhecia o divórcio e o direito japonês só 
conhecia essa forma de dissolução da sociedade conjugal, concedia-se aos nipo-
brasileiros o desquite, raciocinando-se no sentido de que se o direito japonês autoriza o 
divórcio, plus, com maior razão deveria admitir o desquite. 
 
- Direitos adquiridos no DIPr 
 
As situações legalmente constituídas à luz do direito estrangeiro poderão, a priori, ser 
invocadas e produzir efeitos em outro país. A regra, aqui, portanto, é a de que um 
direito legalmente adquirido no estrangeiro há de ser reconhecido pela ordem 
interna, tal como se constituiu nos termos da legislação estrangeira. 
 
17 
 
Assim, um casal que se casa na França e vem residir no Brasil, será aqui tratado com o 
mesmo status das pessoas casadas, eis que essa condição já foi adquirida no estrangeiro 
antes da vinda ao Brasil, não cabendo aos tribunais brasileiros indagar sobre a 
invalidade desse matrimônio realizado alhures; também o padre que se casou 
validamente em seu país e vem residir com sua esposa em país que não admite o 
casamento de clérigos católicos terá reconhecido, nesse último, o status de casado para 
todos os efeitos legais; um turista que vai ao exterior com seus bens pessoais (com um 
relógio de pulso) não terá a sua propriedade contestada ao ultrapassar a fronteira; uma 
pessoa que ingressa em outro Estado não perde a sua qualidade de filho, de esposo ou 
de pai de família que tenha regularmente adquirido no exterior etc. Da mesma forma, o 
casamento de brasileiros em segundas núpcias realizado no exterior, por se tratar de 
direito legalmente adquirido alhures, será aceito no Brasil independentemente da prévia 
homologação da sentença estrangeira de divórcio pelo Superior Tribunal de Justiça, se 
teve o casal residência ou domicílio no país estrangeiro à época do divórcio e do 
segundo casamento. 
 
É o respeito recíproco pela soberania dos Estados que os leva a respeitar a validade 
conferida a um ato praticado em outra jurisdição, o que não implica renúncia a qualquer 
parcela de sua soberania, pois não se pode pretender que ato realizado e já consolidado 
no exterior se sujeite à lei do foro. Atente-se, porém, ainda que se a aquisição do direito 
no estrangeiro tiver obedecido à regra de conexão estabelecida pelo DIPr do Estado de 
reconhecimento, não haverá a necessidade de se recorrer ao princípio dos direitos 
adquiridos, eis que as regras de conexão do Estado de reconhecimento levariam à 
mesma conclusão. De fato, apenas se vai cogitar de reconhecer efeitos a direitos 
adquiridos no exterior quando as regras de conexão do DIPr da lex fori não estiverem 
em questão, bem assim quando em relação a elas houver divergência, pois, em caso de 
concordância, não teria sentido cogitar de direitos adquiridos no estrangeiro. Estar-se-
ia, nesse caso, diante de autorização expressa do DIPr da lex fori para que se 
reconheçam efeitos aos atos ou fatos realizados no estrangeiro, dada a concordância 
com os elementos de conexão do Estado de reconhecimento. 
 
Destaque-se que a norma de DIPr da lex fori pode estabelecer limites ao reconhecimento 
dos direitos adquiridos no estrangeiro, como, v.g., quando houver violação da 
soberania, da ordem pública e dos bons costumes. Assim, o direito adquirido a manter 
determinada pessoa em situação de escravidão ou o direito adquirido à poligamia não 
poderão ter reconhecimento no Brasil, por violarem frontalmente a nossa ordem 
pública. Dessa forma, não se admitirá, v.g., a um cidadão árabe que aqui aporte já 
casado, que contraia novas núpcias no Brasil sob a alegação de que beneficiário desse 
direito adquirido segundo o seu estatuto pessoal. 
 
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Nesse sentido, o art. 7º da Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de 
Direito Internacional Privado, de 1979, assim prevê: 
 
As situações jurídicas validamente constituídas em um Estado Parte, de acordo com 
todas as leis com as quais tenham conexão no momento de sua constituição, serão 
reconhecidas nos demais Estados Partes, desde que não sejam contrárias aos 
princípios da sua ordem pública. 
 
Perceba-se que a Convenção Interamericana citada se refere às “situações jurídicas” 
validamente constituídas em um Estado Parte, conceito esse que é mais amplo que o de 
direito adquirido e o de relação jurídica. Este último denota a relação entre, no mínimo, 
duas pessoas, ao passo que o de “situação jurídica” independe dessa ligação, podendo 
haver situações jurídicas puramente individuais. Assim, se um indivíduo “atinge a 
maioridade e a plena capacidade de acordo com a lex domicilii, não deixa de ser maior 
e não deixa de ser capaz pelo fato de haver transferido o domicílio para país que tenha 
iversos pressupostos de maioridade e capacidade. O status, a situação de maior e capaz, 
não constitui, no conceito próprio, direito adquirido, mas configura situação jurídica 
concreta que, uma vez caracterizada, passa a integrar a personalidade, escapando à 
influência de novas leis no tempo e no espaço”. Tal demonstra, em suma, que as 
situações jurídicas (e os direitos adquiridos que nelas se contêm) validamente 
constituídas num Estado estrangeiro, não podem deixar de ser reconhecidas pelo Estado 
do foro, salvo se contrárias à ordem pública nacional. 
 
Há casos, porém, em que não obstante o direito que se pretenda reconhecer no Brasil 
viole a nossa ordem pública, será aceito em nosso país por ter sido legalmente 
constituído segundo as regras da lex causae, tais as sentenças de cobrança de dívidas de 
jogos de azar contraídas em países que autorizam essa atividade. Nesse exato sentido 
vem decidindo o STJ, aduzindo que “não ofende a soberania nacional, a ordem 
pública e os bons costumes a cobrança de dívida de jogo contraída em país onde a 
prática é legal”. 
 
Assim, percebe-se que a relação existente entre o princípio da ordem pública e do direito 
adquirido é menos rigorosa no caso de aplicação direta da norma do direito estrangeiro. 
De fato, a ordem pública como limiteà aplicação direta da norma estrangeira é mais 
gravosa que no caso do reconhecimento de direitos adquiridos no exterior, os quais 
podem ser aceitos, em certos casos e sob determinadas condições, perante a jurisdição 
do Estado do foro, ainda que violadores da ordem pública local, por terem sido 
validamente constituídos segundo as regras da lex causae. Assim, uma união 
poligâmica legalmente constituída em país cujo estatuto pessoal a admite, não 
poderá ser oficializada, v.g., no Brasil, que não a aceita em razã da violação da 
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ordem pública nacional, o que não significa que os tribunais pátrios deixarão de 
conceder pensão alimentícia aos filhos menores ou, ainda, de reconhecer direitos 
sucessórios decorrentes daquela união. 
 
Uma crítica, contudo, que se faz ao art. 7º da Convenção Interamericana sobre Normas 
Gerais de Direito Internacional Privado, diz respeito à exigência de que as situações 
jurídicas tenham sido constituídas conforme “todas as leis com as quais tenham conexão 
no momento de sua constituição”, o que estabelece uma condição paradoxal, pois 
geralmente as situações jurídicas se criam de acordo com uma determinada lei ordenada 
pelas regras conflituais da jurisdição onde ocorrem”, razão pela qual “exigir que uma 
situação se consolide de acordo com todas as leis com as quais tenha conexão é admitir 
uma impossibilidade da hipótese de conflito entre as mesmas”. 
 
Em suma, apesar das divergências que sobre o tema se apresentam, especialmente 
decorrentes da dificuldade de compatibilizá-lo com o princípio da “ordem pública”, 
pode-se dizer que para que se reconheça um direito adquirido constituído no 
estrangeiro deve: 
a) o direito em questão ser verdadeiro direito, não mera expectativa; e 
b) ter sido validamente adquirido no exterior, isto é, nascido de acordo com a lei 
competente para presidir a sua formação (ainda que contrário às regras de conexão do 
DIPr da lex fori). 
 
Lembre-se, por fim, que, no Brasil, o princípio do direito adquirido foi alçado a nível 
constitucional, prevalecendo, evidentemente, sobre todas as regras nacionais de DIPr, 
dispondo a Constituição Federal de 1988, no art. 5º, XXXVI, que “a lei não prejudicará 
o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Esse reconhecimento só 
ficará prejudicado no caso de o direito adquirido em questão violar a filosofia e o 
espírito constitucional (e internacional) de proteção dos direitos fundamentais (e 
humanos). Nesse caso, a exemplo daquele relativo ao direito adquirido de manter 
escravos em território nacional, os princípios maiores da justiça – fundados na proteção 
constitucional e internacional dos direitos fundamentais e dos direitos humanos – 
informarão ao juiz a necessidade de rechaçar o direito adquirido no estrangeiro (ainda 
que legalmente constituído) em razão da ordem pública local.

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