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LEX MERCATORIA
Lei de mercado, nome dado ao comércio marítimo pelos romanos, visto que no contexto das cidades-estado qualquer comércio com ouras cidades era internacional. Surge quando Roma se torna império e precisa regulamentar estas situações. Assim, seu grande problema é a uniformização, criar um sistema válido para todos de modo aceitável e efetivo, como a fixação dos pesos e medidas a serem usadas, bem como determinar tributação, cláusulas contratuais e pagamentos. Até então, por exemplo, era usada a polegada e o pé, que dependiam da pessoa. Por exemplo, havia a onça florentina que mede a quantidade de líquidos, em 30, 50 ou 100 mls, ainda usado na perfumaria. Esta medida é diferente entre países. Também há onça que mede peso.
Assim ocorreu a determinação de certos padrões, chegando a um momento em que o padrão de pagamento devia ser feito em ouro, sendo o dólar hoje em dia, por razões econômicas. Também criaram-se cláusulas padrão, criando-se contratos padrão, como se fosse um de adesão. Tudo isto surge com a OMC.
Organização Mundial do Comércio
É um dos desdobramentos do fracasso das negociações para a criação da Organização Internacional do Comércio, um dos 3 pilares do sistema Bretton Woods, cujas negociações iniciaram depois da 2ª Guerra, em 1948, sendo composto por:
· Banco Mundial: com objetivos desenvolvimentistas;
· Fundo Monetário Internacional: com objetivo de regular o sistema financeiro mundial, controlar sua estabilidade, tendo agido no Brasil, por exemplo, nas décadas de 80 e 90 em que o Brasil chegou a imprimir dinheiro para pagar contas, o que gerou grande inflação, de modo que o FMI pede ao governo brasileiro que compre outra moeda (o dólar, que é o padrão atual) para servir de garantia, lastro, visto que o FMI busca estabelecer um equilíbrio, sempre que possível nessa estrutura;
· Organização do Internacional do Comércio: sem sucesso, teria poderes para ordenar as relações comerciais e por termo ao protecionismo comum no período entre guerras. Foi substituída GATT. 
O GATT (Acordo Geral de Comércio e Tarifas) era voltado ao comércio, fluxo de bens, de modo a exercer também controle monetário e de empréstimos, regulando toda a estrutura econômica do planeta. Seu objetivo, ao regular a economia mundial, estimulando-a pela livre circulação de bens, por meio da diminuição das barreias. Suas atualizações, feitas em reuniões, adaptando algo, são chamadas de rodas, sendo as mais importantes:
· De Marrakesh, Marrocos;
· Do Uruguai: cria a OMC, em 1994;
· De Doha, Quatar: em 2001, recebendo o número de assinaturas necessário para entrar em vigor apenas em 2017, de modo que seja ela a regular o comércio atualmente.
Funções
A função principal da OMC é a promoção do livre comércio, que se desdobra em:
1. Diminuição de barreiras: como tributos e tarifas;
2. Não-discriminação: tratamento igual a todos os países, por exemplo, no tocante à taxas e no conserto de eventuais desequilíbrios, que podem ser:
2.1 Carteis: eliminação da concorrência da combinação de preços;
2.2 Monopólios: domínio de um mercado por uma única empresa, só ela fornece, também não havendo concorrência;
2.3 Monopsônio: quando há só um consumidor, de modo que ele faz o preço
2.4 Oligopólios: como a OPEP;
2.5 Oligopsônio;
2.6 Dumping: venda do produto abaixo de seu preço de fabricação para prejudicar o concorrente, atingindo o monopólio. Isto possibilita a criação de medidas protetivas (como o aumento de impostos sobre carros importados que normalmente seriam mais baratos para impedir a quebra do mercado brasileiro), apesar da busca pelo livre comércio. Esta função reguladora, no Brasil, é exercida pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Ela também serve de foro para negociações internacionais e oferece cooperação e assistência técnica em matéria de comércio internacional. Não abrange só o comércio de bens, mas também de serviços.
Apesar de fazer convênios com a ONU a OMC não é subordinada a ela. Ela só deu certo em 94 só então havia crescido a globalização e a vontade dos países de fazer parte do comércio mundial com o fim do bloco comunista.
Princípios do comércio internacional
Existentes desde a estrutura inicial do GATT, não só da OMC.
1. Liberdade do comércio/dos fluxos comerciais: livre concorrência, funcionamento do mercado com o menor número de restrições possível;
2. Lealdade/boa-fé: constituição dos tratados dentro dos limites do considerado aceitável, sem distorcer as condições do comércio para prejudicar o outro e obter vantagens para si, de modo que se presuma o cumprimento dos acordos;
3. Não-discriminação/igualdade: tratamento igual a todos os países, inclusive no tocante à concessão de benefícios. Possui algumas ressalvas:
3.1 Cláusula da nação mais favorecida: possibilidade de tratar de modo favorecido os países com os quais se tem acordo, tratando-os, porém, de modo igual entre si (como no Mercosul, onde existem tarifas diferentes para os membros, para os associados e para os demais);
3.2 Excepcionalidade das barreiras: surgimento destas apenas por necessidade (quando não há outra forma de fazer a mesma coisa, de modo que um subsídio – baixar o preço do produto interno – seja mais favorável que estabelecer uma taxa, aumentando o externo) ou protecionismo (da vida ou saúde das pessoas, ou do meio ambiente – o Brasil, por exemplo, não recebe tintas chinesas com chumbo);
3.3 Não-reciprocidade: possibilidade de tratamento diferenciado aos países em desenvolvimento, já que eles não conseguem concorrer em pé de igualdade com os desenvolvidos, motivo pelo qual o Brasil participa do BRICS, por exemplo;
3.4 Tratamento nacional: necessidade de preenchimento dos mesmos requisitos para o comércio do produto estrangeiro e do nacional – ambos precisam de aprovação do INMETRO, por exemplo.
4. Single undertaking: necessidade de assinar um tratado de comércio sempre por inteiro, assumindo tanto o bônus quanto o ônus. Para quem entra na OMC, por exemplo, significa abrir seu mercado ao comercio internacional de modo a poder ter seus produtos vendidos em outro país e ao mesmo tempo ter produtos estrangeiros comercializados em seu país.
5. Publicidade e transparência: ações, políticas e processos no âmbito comercial devem ser públicos, acessíveis a qualquer pessoa, o que não implica no fornecimento de informações confidenciais cuja revelação pode dificultar o cumprimento de normas ou ser contrário ao interesse público ou a interesses privados legítimos;
6. Possibilitar integração regional: a OMC não é contra à existência de blocos econômicos;
7. In dubio pro mitius: “na dúvida, o menos”, ou seja, seus contratos não admitem a interpretação extensiva, devendo ser sempre restrita, taxativa, visto que estas normas são decorrentes da deferência da soberania dos Estados.
Estrutura
São seus órgãos necessários:
- Conferência ministerial
Órgão principal, sua assembleia (reunião de todos) geral, unindo os Ministros do Comércio de todos os países, excepcionalmente aceitando-se os Ministros das Relações Exteriores. Suas reuniões ordinárias ocorrem a cada 2 anos para fazer as rodadas e tomar as decisões mais importantes da entidade.
- Secretariado
Órgão administrativo, que faz registros, recebe cartas, faz as elaborações técnicas (como algum estudo para ver se algo é dumping) e outros, sem função decisória, podendo apenas contribuir com conhecimentos técnicos. Comandado pelo Diretor Geral.
São seus órgãos não necessários:
- Conselho geral
Principal órgão executivo, cuida da eficácia, fiscaliza. Composto normalmente por embaixadores acreditados em Genebra. Reúnem-se quando necessário e tem poderes para tratar de todos os assuntos de interesse da OMC. Dentro dele está o Órgão de Solução de Controvérsias.
Solução de controvérsia
Podem reclamar frente à OMC, diante do descumprimento de regras de acordos comerciais, os países contra outros países, não empresas ou produtores de modo individual ou coletivo, ou ONGs, que podem participar do processo como interessados, ajudando o país representante se a OMC autorizar.
Estesistema possui 3 características de base:
· Abrangência: competência material, pode tratar de qualquer tratado dentro da estrutura da OMC, nela registrado;
· Automaticidade (processo): toda reclamação dá inicio a um processo de solução, os mecanismos operando em etapas consecutivas de modo automático após alguns prazos, não sendo possível retardar o processo;
· Exigibilidade/exequibilidade: toda decisão necessariamente será exigível, a OMC poderá obrigar os Estados a cumpri-las.
São as etapas deste processo de solução:
1. Consultas: levar o problema e tentar delimitá-lo, encontrar seus exatos contornos. Envolve apenas os Estados, um país pede informações ao outro, podendo levar a uma solução consensual;
2. Painel: diante do insucesso da anterior, é a reunião de especialistas independentes, técnicos no assunto para analisar a reclamação, elaborar um relatório e recomendar soluções. O relatório é encaminhado ao conselho, que, por meio do OSC, verificará sua aplicação, que não ocorrerá apenas quando todos os membros da OMC discordarem;
3. Órgão Permanente de Apelação: como um recurso de quem “perdeu” no painel, analisando apenas a matéria de direito tratada nas outras etapas. Diferencia-se do painel por ser permanente, composto por 7 pessoas. Seu relatório poderá ser adotado ou não, neste caso apenas pelo consenso de seus membros.
Inicialmente se busca uma solução boa para todos os integrantes do litígio. Entretanto, caso não seja possível, o Estado prejudicado poderá adotar, com autorização da OMC, medidas compensatórias contra o Estado causador do dano, como a suspensão de direitos no campo comercial, consagrados nos acordos de comércio. Elas deverão estar limitadas ao montante dos prejuízos sofridos e durar apenas enquanto o Estado objeto delas não tomar as providências cabíveis para atuar em conformidade com as regras internacionais de comércio.
O cumprimento das determinações dos painéis e órgãos de apelação, bem como sua fiscalização e a autorização das medidas supracitadas cabe ao OSC.
Todos os processos são técnicos, não jurídicos, motivo pelo qual não é necessária formação jurídica, a solução sendo técnico-econômica, funcionando nos moldes da arbitragem.
Incoterms
A ideia de criar regras universalistas surge com as ideias de direitos humanos decorrentes da Revolução Francesa e da independência dos EUA, com a ideia trazida pela racionalidade iluminista de que se todos tem os mesmos direitos, podem ser reguladas pelas mesmas regras, o que ficou chamado de direito unitário/uniforme. Esta ideia, porém, não produziu muitos resultados por esbarrar na soberania de cada estado, que permite a cada país determinar o que é melhor para si. 
Apesar disso, criou-se então a Uni Droit (direito uniforme), organização com objetivo de criar um direito uniforme, que não obteve sucesso uma vez que os tratados só são cumpridos por quem os assina. Entretanto, muitas das ideias de padronização, como os contratos de adesão, são oriundas do comércio, de modo que isto deu certo nesta área, por meio dos contratos internacionais comerciais, incoterms (internacional comercial terms). 
Os contratos são acordos de vontades que buscam regular uma conduta, no caso dos comerciais, a troca de bens - de maneira definitiva (compra e venda) ou temporária (arrendamento ou aluguel) – e a prestação de serviços entre pessoas de países distintos. Entretanto, a padronização não teve grande sucesso com relação à prestação de serviços visto que ela envolve as peculiaridades de cada local – construir uma casa no Brasil é diferente de fazê-lo nos EUA, por exemplo. Foi possível, então, estabelecer um padrão com relação a uma troca de bens: a responsabilidade, de modo que o padrão diga respeito às consequências do contrato, que são economicamente aferíveis (devendo o responsabilizado reparar o dano reestabelecendo a situação anterior ou pagar indenização), visto que de cunho civil. 
Os incoterms acabam sendo contratos de adesão, formulários, identificando as partes, o bem e seu valor, sendo o restante da estrutura predeterminada, independente do bem negociado. Os mais usados são:
· FOB (Free on board): determina que a responsabilidade do exportador termina no momento em que ele entrega o produto para transporte (até entrar no barco), passando a ser do comprador/importador, eventual direito de regresso para com a transportadora dependendo do contrato que tiverem, visto que se trata de prestação de serviço;
· CIF (Cost insurance freight): determina que a responsabilidade do exportador termina quando o produto é entregue em seu destino, no porto do país de destino, havendo um “seguro sobre o frete”. Também há o DAP (delivered at place – entrega a domicílio), no qual o produto deve ser entregue em um endereço específico, não no porto, de modo que a responsabilidade do exportador se estende até lá. Também é possível fazê-lo sem seguro.
As variações dos incoterms são apenas com relação ao ponto em que a responsabilidade passa de uma parte a outra. Os incoterms sãos renovados a cada 10 anos.

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