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5 Paternidade e Maternidade Socioafetiva

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PATERNIDADE E MATERNIDADE SOCIOAFETIVA
Foram fatores que contribuíram para a metamorfose na instituição familiar
· A revolução industrial: exigiu maior numero de trabalhadores nas fábricas e mulheres e crianças começaram a trabalhar;
· Movimento feminista: alterou o mundo da mulher que conseguiu se inserir em locais antes dominados pelos homens;
· Movimento da juventude (década de 60): exigindo novos valores;
· 1960 - O anticoncepcional desvinculou a sexualidade da maternidade, que passa a ser uma opção e não um destino;
· 1980 - Inseminações artificiais dissociaram a gravidez da relação sexual, afetando a identificação da família com o mundo natural;
· Distingue-se a maternidade (tida como natural) da maternagem (construção social);
· Também houveram mudanças no modo de educar e cuidar das crianças;
· 1990 – Exame de DNA.
Estudos demonstram que na década de 90 há uma diminuição na configuração familiar (menor numero de pessoas compondo a família) e menor numero de casamentos, havendo um aumento da diversidade dos grupos familiares.
· Aumento do número de relações sem registros, meras uniões consensuais;
· Casamentos tardios: homens e mulheres estão se casando 3 anos mais tarde que a uma década;
· Idosos se casam mais: no grupo com mais de 65 anos, os homens casam-se cerca de 5 vezes mais do que as mulheres;
· Mais pessoas morando sozinhas: aumentou em 64% o numero de pessoas que moram sozinhas;
· Casais sem filhos: casais sem filhos: 39% dos casais não tem filhos;
· Famílias monoparentais: o número de mulheres que criam seus filhos sozinhas aumentou 53% na ultima década;
· Menos casamentos e mais uniões rompidas: de 1991 a 2002 as separações aumentaram 30,7%, e os divórcios 59,6%;
· Recasamentos: o percentual de divorciados em novas tentativas de casamento passou de 5,3% em 1991 para 10,8% em 2002.
Configurações familiares
· Patriarcal: autoridade do chefe da família, submissão da esposa e dos filhos;
· Sacramental: casamento, fidelidade e o papel da igreja - idade média;
· Famílias atuais: mais igualitárias.
Famílias atuais
· Família nuclear: pai, mães e filhos;
· Reconstituídas: formadas por casais que trazem filhos do primeiro casamento;
· Monoparentais: decorrentes de divórcios ou separações, ou um dos pais é viúvo ou solteiro, e apenas um dos pais assume o cuidado dos filhos, o outro não é ativo na parentalidade;
· Uniões consensuais - casais que moram juntos sem formalizar a união ou casais que moram em casas separadas: principalmente divorciados, separadas ou viúvos, que desta forma procuram evitar conflitos existente nas famílias reconstituídas.
Paternidade e maternidade socioafetiva
· Casais sem filhos por opção: priorizam sua vontade de satisfação pessoal;
· Famílias unipessoais: pessoas que optam por ter um espaço físico individual, onde não precisem fazer trocar emocionais vindas de um convívio compartilhado;
· Família por associação: compostas por amigos que formam uma rede de “parentesco”, baseada na amizade.
- Organizações alternativas
· Casamentos sucessivos com parceiros distintos e filhos de diferentes uniões;
· Casais homossexuais adotando filhos legalmente;
· Casais com filhos ou parceiros isolados ou mesmo cada um vivendo com uma das famílias de origem;
· Produções independentes;
· Duplas de mães solteiras ou já separadas compartilham a criação de seus filhos;
Funções da família
· Reprodutora: de conceber filhos, contribuindo para a manutenção da espécie humana. Não é tida mais como primordial, uma vez que hoje são várias as formas de se construir família. A consequência de tantas opções levou a legislação brasileira a reconhecer a paternidade socioafetiva, dando importância jurídica ao afeto.
· De reprodução das relações sociais: reproduzir a ideologia vigente. Essa função dita as regras, a moral, os princípios e os valores cultuados pela sociedade, desenvolvida pela burguesia. Transmite a ordem, a paz, sendo transmitido pelos pais, pela comunidade, pelos meios de comunicação, pela sociedade como um todo valores ideológicos, perpetuando as ideias e padrões dominantes e hegemônicos.
· Econômica: de manter financeiramente seus entes e o Estado. Garante sobrevivência e uma vida material digna aos seus membros. Para o Estado, é relevante por se configurar na única instituição capaz de dar o máximo de retorno, valor, rendimento e aproveitamento aos recursos a ela destinados.
· Emocional e psicológica: primordial para a formação do caráter e subsidiar a saúde mental. Alimenta os laços afetivos indispensáveis dentro da família. É desejável que haja carinho, amor e atenção, de modo seja possível criar bem-estar, alegria, felicidade e saúde psicológica. Também se pode elencar o desenvolvimento das potencialidades humanas, permitido através da segurança passada dos pais para os filhos, por meio da qual o ser que antes se caracterizava frágil, passa a construir autonomia e subsídios para desenvolver suas potencialidades.
Para Adriana Wagner, independente da sua estrutura e configuração, a família é o palco em que se vive as emoções mais intensas e marcantes da experiência humana. E o lugar onde e possível a convivência do amor e do ódio, da alegria e da tristeza, do desespero e da desesperança. A busca do equilíbrio entre tais emoções, somada as diversas transformações na configuração deste grupo social, tem caracterizado uma tarefa ainda mais complexa a ser realizada pelas novas famílias.
Visão do brasileiro
Pesquisas com famílias da periferia de São Paulo revelam a visão de duas famílias:
· Pensada: desejada, havendo o cumprimento dos papeis delegados (o pai como provedor e a mãe como cuidadora do lar e dos filhos). Os filhos seriam obedientes e não haveria conflito. É baseada na tradição, noção que é trazida pelo grupo social, pelas instituições ou pela mídia;
· Vivida: do cotidiano, que se constrói na vida real, referindo-se ao modo de agir habitual dos seus membros. Traz heranças vivida na família de origem do casal ou arranjos diferentes do usual (intergeracionalidade). A família, além de reprodutora e transmissora da cultura, pode ser também um lugar onde as pessoas buscam seu bem-estar, mesmo que a solução encontrada não siga o modelo vigente.
Diante da crise da família pensada, existem, além desta, milhares de famílias que não se encaixam no padrão da família ideal e, por isso mesmo, são consideradas como famílias em disfunção do sistema ou famílias desorganizadas e/ou desestruturadas. Como a família ideal ainda é o modelo para a maioria das pessoas, vem daí a pressão para que os outros membros da sociedade também a constituam, conforme aqueles rituais e características.
Trindade destaca que, embora muito tenha de ser melhorado na legislação, parece haver certo entendimento que não se pode imputar a paternidade/maternidade com base em laços apenas de sangue. O reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva pela CF/88 resulta em famílias eudaimonistas, voltadas à felicidade e realização pessoal de seus membros, desvinculadas das funções anteriores. O ECA, por exemplo, já incorporou a concepção sociológica de família (filiação por affectio), havendo um desafio para o direito de família que deve dar um toque diferenciador das estruturas familiares contemporâneas. 
O reconhecimento da posse de estado de filho (exteriorização da condição filial) passa a ser elemento probatório nos casos de estabelecimento de paternidade e maternidade, por meio do exame do nome (nominativo - adoção do sobrenome dos pais, de menor importância para a doutrina), o trato (tractatus – relação vincular e de reconhecimento dos papeis de pais e filhos) e a fama (reputatio – reconhecimento do status de filho pela sociedade). Diante do conflito entre as espécies de paternidade deve prevalecer a sociafetiva, priorizando o melhor interesse da criança.

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