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4 Eudemonismo

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EUDEMONISMO
O eudemonismo está inserido na ética dos bens. Ela se preocupa com a relação entre o proceder/a ação individual, e a finalidade da existência humana, que seria voltada ao bem. A vida pessoal e o prazer em viver são o principal bem supremo, ao qual toda ação humana é direcionada. Estes temas são entendidos de diferentes formas pelas manifestações teóricas mais importantes da ética dos bens, que são:
· Idealismo: entende o prazer, a realização pessoal, como o alcance de “ser” virtuoso e ideal;
· Hedonismo: busca pelo maior prazer possível, para o maior número de pessoas, - não apenas um prazer momentâneo – com a menor quantidade de dor e sofrimento;
· Eudemonismo: entende o prazer como a felicidade, plenitude. “Eudaimonia”, do grego, significa “o estado de ser habitado por um bom ‘daemon’, um bom gênio ou espírito”, estando repleto de felicidade ou bem-estar. Outras traduções remetem a um estado de plenitude do ser, uma completude, uma sensação de que nada falta, independentemente do momento específico ser alegre ou não. Neste contexto, seria objetivo da ética atingir esta plenitude a nível de sociedade, através do equilíbrio.
Começaremos a falar sobre o eudemonismo de Aristóteles:
Aristóteles
Divide a filosofia nos seguintes grupos, abrangendo todo o saber humano racional:
· Teorética: compreende física, matemática e filosofia primeira (composta por metafísica e teologia);
· Prática: ética e política. Com isto, Aristóteles já buscava desconectar a política e a ética das questões teológicas. Ao classificar estes temas como práticas/práxis, Aristóteles sugere que elas não são inerentes ao ser humano, não nascem como ele, mas precisam ser aperfeiçoadas pela prática, o que foi importante para que começasse a discutir o agir humano e como ele deve se dar, ou seja, o dever ser;
· Poética: estética e técnica. 
A questão da felicidade não tem relação específica e direta com a da transcendência. Ao falar em transcendência, Aristóteles se refere à felicidade a outro estado de ser. Ao falar em transcendência, ele não se refere a um deus no sentido cristão (que é transcendental, estando além de nosso conhecimento), havendo um criador e suas criaturas, como faz São Tomás de Aquino. Ele fala sobre o transcendental apenas quando observa como os seres possuem diferentes formas de agir e sobre como há algo mais poderoso e transcendental (pois não está ligado à nossas concepções de necessidade material, é algo mais virtuoso por si só) que chama de Theos. 
Assim, ele entende que há uma busca individual pela transcendência, pela virtuosidade, buscando ser o mais virtuoso/bom possível. Mas ela não está ligada à busca da felicidade, que é o objetivo das relações sociais, de caráter coletivo, entendendo que só seremos éticos quando buscarmos a felicidade. A transcendência, devido ao seu caráter individual, pode ser atingida pelo conhecimento individual, por exemplo. Já a ética, enquanto felicidade, plenitude, trata da possibilidade do ser se encher daquilo que é bom de acordo com a prática social, não de acordo com sua individualidade.
Em Ética a Nicômaco, Aristóteles imagina uma sociedade composta por homens virtuosos. Inicia esta obra apresentando o conceito de bem, afirmando que toda atividade humana tem o bem como objetivo, e o bem supremo é a felicidade. Assim, o viver bem e o agir bem significam ser feliz.
Para ele, toda ação precisa ser direcionada levando em consideração esse telos (finalidade), qual seja, a felicidade (eudaimonia). Ela é identificada como a arte do viver bem e de fazer o bem a todos. Neste sentido, ela é o único fim que não visa a outro, pois se eu faço o bem, isto me traz realização, não penso no outro. A felicidade é “valiosa” e deve ser considerada como a maior virtude que desperta o humano para a arte do viver bem e com sabedoria.
Para Aristóteles existem duas espécies de virtudes:
Morais
São adquiridas por meio do hábito, não são inerentes ao sujeito, não nascem com ele, mas são aperfeiçoados através das práticas sociais, ou seja, da interação com os outros sujeitos. 
Aristóteles entende que deve-se buscar um meio termo em relação às virtudes morais, um equilíbrio, nos colocando longe dos extremos. Assim, destacam-se as seguintes virtudes, enquanto meios-termos:
· Coragem: meio-termo em relação ao medo. O medo barra a ação, é mais difícil enfrentar o que é penoso. Assim, quanto mais nos afastamos dele, mais coragem temos. Porém, a ausência do medo não é algo bom, pois pode levar a atitudes impulsivas, por exemplo, sendo necessário o equilíbrio;
· Temperança: meio-termo em relação aos prazeres. É o tempo decorrido entre o momento em que investimos em um objetivo e o momento no qual gozamos do resultado disto;
· Liberalidade: meio-termo entre dar e obter riquezas (materiais ou não). A prosperidade é boa, mas acumulação não é prosperidade. Por exemplo, caso apenas nós detenhamos um conhecimento específico, não é ético mantê-lo apenas para nós mesmos, sendo necessário compartilhar, e isto também não irá diminuir nosso conhecimento. Compartilhar nem sempre nos empobrece, mas também nos agrega, pois, sendo algo recíproco (eu compartilho com o outro e o outro compartilha comigo), sua continuidade leva à plenitude, à harmonia entre todos;
· Magnificência: meio-termo em relação à honra e à admiração. Visões honrosas e admiráveis dos sujeitos são decorrentes de condutas benéficas e verdadeiras. Assim, para que sejamos vistos desta forma, precisamos praticar estas condutas, manter certa integridade. Ser íntegro, tem relação a ser inteiro, ou seja, não ser de uma forma para uma pessoa, e de outra forma para outra. A magnificência não tem relação com uma expectativa de ser admirado por outros, ou seja, o sujeito não deve ser bom apenas pela admiração que isto o trará, mas pela felicidade, pela plenitude que a boa ação o proporcionará;
· Calma: meio-termo em relação à cólera, à raiva, à ira. É importante não ser calmo o tempo todo, precisamos, por exemplo, ficar indignados em algumas situações, questionando o que nos deixa descontentes, para promover mudanças no contexto social ou evitar uma relação desigual, por exemplo;
· Justiça: meio-termo em relação ao prudente, razoável e equitativo. Quanto mais próximo do equitativo, mais prudente e razoável a conduta, mais justa ela é. Todos estes conceitos já partem de uma ideia de equilíbrio.
“Cuidado ao matar os seus demônios / O equilíbrio vive entre a virtude e o vício / E a gente nunca sabe qual é o defeito / Que sustenta esse nosso edifício”
Intelectuais
Adquiridas com experiência, enquanto dedicação, e tempo, pois exigem estudo e reflexão.
As virtudes intelectuais são:
- Conhecimento científico
Um homem tem conhecimento cientifico quando tem uma convicção a qual chegou de determinada maneira, cujos pontos de partida/premissas lhe são conhecidos, havendo um método, uma sistematização. Se ele conhecer melhor a conclusão que o método, terá um conhecimento puramente acidental, do senso comum. Assim, tem-se o método cientifico, através do qual qualquer um que traçar o mesmo caminho chegará aos mesmos resultados. Deste modo, o conhecimento científico pode ser definido como um estado que nos torna capazes de demonstrar algo, pois suas conclusões devem ser passíveis de demonstração através de método adotado. 
- Sabedoria prática
O homem dotado dela é capaz de deliberar o que é o bem e o que é o mau para si, e saber o que é bom para si é ter conhecimento.
- Sabedoria filosófica
É fruto do conhecimento científico combinado com a razão intuitiva.
- Inteligência
Está relacionada à capacidade de julgamento.
A sabedoria filosófica, não é somente em relação à si, mas também em relação ao conhecimento, à racionalidade, e às práticas em relações sociais.
- Amizade
É uma virtude considerada extremamente necessária à vida, por isso ela é nobre. O homem que ama seus amigos é digno de louvor, já que a amizade supõe a generosidade, a benevolência e a reciprocidade de sentimentos. Amar a si mesmo e aos amigos de maneira generosa e desinteressada “é o que há de maisnecessário para se viver”. No entanto, existem diferentes formas de amizade:
· Por interesse: não é virtuosa, é frágil e se desfaz assim que uma das partes não é mais capaz de atender aos anseios, interesses e desejos da outra pessoa. Esta amizade já surge por distanciamento, não havendo vínculo entre as pessoas;
· Entre pais e filhos: também não é virtuosa, pois está permeada por uma desigualdade entre as partes, não há a possibilidade de um meio termo, uma das partes sempre irá dar mais do que receber. Isto se dá pois os genitores – em qualquer grupo familiar, em qualquer situação de responsabilidade parental, seja social ou biológica – amam mais os filhos, não no sentido de que o amor dos filhos é menor, mas seu amor é de responsabilidade, de formação. O responsável tem um dever de agir, doando-se mais. Não são amigos dos filhos, embora possa haver uma relação boa, de confiança, sendo também necessário um equilíbrio, mas que não se trata necessariamente de uma amizade.
· Perpétua: virtuosa, existe entre os homens que são bons e semelhantes na virtude, construindo um vínculo verdadeiro e duradouro. Um deseja para o outro o que deseja para si próprio. Essa natureza de amizade é permanente, no entanto, raríssima. 
Ética Aristotélica
Se o homem, ao nascer, já adquirisse o estado de perfeição, ou seja, o ato puro da felicidade, não necessitaria de se tornar um ser ético e feliz através da prática, pois já seria um animal racional naturalmente feliz, “pronto” e “acabado”. Todavia, isto não ocorre, e os homens precisam exercitar as virtudes mencionadas. Através do uso da razão, o ser humano participa da felicidade, ou seja, contempla a verdade maior que é o Sumo Bem (o bem principal primordial, uma ideia de ser que é transcendental, mas não se trata da ideia de um deus no sentido cristão, como mencionado). Ao divinizar a razão, Aristóteles a torna digna de louvor, mas ele a diviniza não no sentido de que ela provem de deus, mas no sentido de que existe algo que é poderoso, transcendental, que é este sumo bem. Contemplar a face de Deus, dos deuses ou da natureza, é um exercício de reflexão. Contemplar é observar as coisas da vida e se perguntar sobre seus mistérios, que são metafísicos, pois não estão apenas na divindade. É exemplo o mistério da maternidade: como pode um corpo construir outro corpo? A contemplação, enquanto este exercício de reflexão, um privilégio dos homens, concedido pelo Sumo Bem, que é o próprio transcendental que é contemplado, pois além do conhecimento cientifico, para Aristóteles, existem situações na realidade, especialmente na natureza, que são alvo de contemplação, pois não podem ser explicadas pelo conhecimento cientifico, mas compõem este mistério que está relacionado com o sumo bem, de caráter transcendente, e que é este ideal perfeito, e está no âmbito individual. Por isso, no nível metafísico (relacionado ao transcendental), o homem chega à vida feliz por participação, contemplando uma ideia perfeita que já existe como modelo a ser buscado.
A ética como praxis se relaciona com uma busca da felicidade dentro da realidade humana; caso o homem se esforce para atingir essa excelência, isso o tornará uma pessoa virtuosa, e feliz no sentido da eudaimonia, desta busca por esta plenitude, sensação de que nada falta, de que tudo corre em equilíbrio e harmonia. Porém, isto pode ser difícil, motivo pelo qual trata-se de um mundo do dever ser, assim, é importante que entendamos o que “deve ser”, para que possamos tentar agir, ter a prazis desta forma.

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