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MODULO Medicina UniFTC | 6º Semestre 1 Insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica complexa, na qual o coração é incapaz de bombear sangue de forma a atender às necessidades metabólicas tissulares, ou pode fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento DEFINIÇÃO A síndrome pode ser causada por alterações estruturais ou funcionais cardíacas e caracteriza-se por sinais e sintomas típicos, que resultam da redução do débito ou das elevadas pressões de enchimento no repouso ou esforço. A insuficiência cardíaca crônica reflete a natureza progressiva e persistente da doença, enquanto a aguda é mais para alterações rápidas ou graduais de sinais e sintomas resultando em necessidade de terapia urgente. Tanto o baixo débito (principal mecanismo – caracteriza a IC de baixo débito), quanto o alto débito podem levar a IC (IC de alto débito). A IC pode ser causada por anormalidade na função sistólica (reduzindo volume sistólico) ou diastólica (levando a defeito no enchimento ventricular), no entanto essas condições podem coexistir. Por isso se convencionou definir os pacientes com IC de acordo com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). CLASSIFICAÇÃO A IC vai ser determinada de acordo com a FEVE (preservada, intermediária e reduzida), a gravidade dos sintomas (classificação de NYHA) e o tempo de progressão da doença (estadiamento). FEVE A principal terminologia usada para definir IC baseia-se na FEVE e compreende pacientes com FEVE normal (>50%), denominada IC com FE preservada (ICFEp), e aqueles com FEVE reduzida (ICFEr). Os que se encontram com FE entre 40- 49% são considerados como “zona cinzenta da fração de ejeção” ou IC de FE intermediária (mid-range ou ICFEi). GRAVIDADE A classificação funcional de acordo com a NYHA é a utilizada para descrever e classificar a gravidade dos sintomas, se baseia no grau de tolerância ao exercício, permite avaliar o paciente clinicamente, auxilia no manejo terapêutico e tem relação com o prognóstico; pacientes em classe 3-4 apresentam condições clínicas progressivamente piores, internações mais frequentes e maior risco de mortalidade. Quadro – Classificação funcional, segundo a New York Heart Association Classe Definição Descrição geral I Ausência de sintomas; Assintomático II Sintomas às atividades físicas habituais; Limitação leve; Sintomas leves III Sintomas às atividades menos intensas que as habituaia. Limitação importante, porém, confortável no repouso; Sintomas moderados IV Incapacidade para realizar qualquer atividade sem apresentar desconforto. Sintomas no repouso; Sintomas graves PROGRESSÃO A classificação por estágios da IC proposta pela American College of Cardiology/American Heart Association ACC/AHA enfatiza o desenvolvimento e a progressão da doença, incluindo desde o paciente com risco de desenvolver IC, quanto o paciente em estágio avançado da doença que requer terapias específicas. Quadro – Estágios da IC, segundo a ACC/AHA Estágio Descrição Abordagens possíveis A Risco de desenvolver IC; sem doença estrutural ou sintomas de IC; Controle de fatores de risco para IC: tabagismo, dislipidemia, HAS, etilismo, DM e obesidade. Monitorar cardiotoxicidade; B Doença estrutural cardíaca presente. Sem sintomas de IC; Considerar IECA, betabloqueador e antagonistas mineralocorticoides; Tratamento clínico otimizado; C Doença estrutural cardíaca presente. Sintomas prévios ou atuais de IC; Medidas adicionais; considerar TRC*, CDI e tratamento cirúrgico; considerar manejo por equipe multidisciplinar. D IC refratária ao tratamento clínico. Requer intervenção especializada. Todas as medidas acima; considerar transplante cardíaco e dispositivos de assistência ventricular; DIAGNÓSTICO Quadro – sinais e sintomas de insuficiência cardíaca Sintomas típicos Sinais mais específicos Falta de ar/dispneia Ortopneia Dispneia paroxística noturna Fadiga/cansaço Intolerância ao exercício Pressão venosa jugular elevada Reflexo hepatojugular 3ª bulha cardíaca Impulso apical desviado para a esquerda MODULO Medicina UniFTC | 6º Semestre 2 Sintomas menos típicos Sinais menos específicos Tosse noturna Ganho de peso Dor Abdominal Perda de apetite/peso Noctúria e oligúria Crepitações pulmonares Taquicardia Hepatomegalia e ascite Extremidades frias Edema periférico Em pacientes crônicos, a detecção de sinais clínicos de congestão pode estar esmaecida/ausente, por processos adaptativos, por isso os sinais clínicos de congestão podem ser um pouco sensíveis e pouco específicos. Sobressaem-se, sinais como 3ª bulha e sintoma como ortopneia como mais específicos para Dx de IC. ECOCARDIOGRAMA O ecocardiograma transtorácico é exame de imagem de escolha para Dx e o seguimento de pacientes com suspeita de IC. Permite a avaliação da função ventricular sistólica esquerda e direita, da função diastólica, das espessuras parietais, do tamanho das cavidades, da função valvar, da estimativa hemodinâmica não invasiva e das doenças do pericárdio. Recomendação Classe Nível de Evidência Ecocardiografia na avaliação inicial de todos os pacientes com suspeita de IC para avaliar estrutura e função cardíaca, para planejar tratamento e para estratificação prognóstica I C PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS Destacam-se os peptídeos BNP e NT-proBNP, cujo papel no diagnóstico de IC está bem estabelecido, auxiliando consideravelmente e contribuindo principalmente para excluir o diagnóstico quando este é incerto. Quadro – ponto de corte para diagnóstico de IC Biomarcador IC improvável (pg/mL) IC possível (pg/mL) IC muito provável (pg/mL) Pacientes na emergência BNP < 100 100-400 > 400 NT-pro-BNP < 50 anos 50-75 anos > 75 anos < 300 <300 <300 300 – 450 300 – 900 300 - 1800 > 450 > 900 > 1800 Pacientes ambulatoriais BNP NT-pro-BNP < 35-50 < 125 ETIOLOGIAS AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA A classificação da IC em estágios (A,B,Ce D) estabelece um contínuo de gravidade. No entanto o estágio C apresenta ampla gama de apresentações, envolvendo diferentes classes funcionais da NYHA. O raciocínio deve ser individualizado, indo além da estimativa da classe funcional, abrangendo dados de história, etiologia, exame físico, exames complementares, avaliação hemodinâmica e tolerância às medicações com impacto em mortalidade. MODULO Medicina UniFTC | 6º Semestre 3 EXAMES COMPLEMENTARES Eletrocardiograma em repouso: É recomendada na avaliação inicial de todos os pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia estrutural, que podem demandar tratamentos específicos. Ex: A detecção de bloqueio de ramo esquerdo (BRE), com alargamento pronunciado da duração do complexo QRS, auxilia na indicação da terapia de ressincronização cardíaca (TRC). Radiografia de Tórax; Pela disponibilidade é recomendada na av inicial dos pacientes com sinais/sintomas de IC, para a avaliação de cardiomegalia e congestão pulmonar. Devido a pouca sensibilidade, tem maior valor no contexto da IC aguda, quando as alterações de congestão pulmonar são mais intensas. Também é útil para identificar causas pulmonares de dispneia, como DPOC, pneumonia... Ecocardiograma; O Eco Transtorácico Bidimensional com Doppler é o teste diagnóstico por imagem preferencial pela ampla disponibilidade e por prescindir do uso de radiação. Pode identificar alterações estruturais cardíacas e pericárdicas, além de avaliar aspectos hemodinâmicos. A avaliação deve incluir análise da FEVE (idealmente pelo método de Simpson), dimensões das cavidades, espessura das paredes ventriculares, geometria das cavidades ventriculares,mobilidade parietal segmentar ventricular, anormalidades anatômicas e funcionais das válvulas, avaliação do pericárdico, estimativa da pressão sistólica na artéria pulmonar, função sistólica do ventrículo direito e análise da função diastólica e estimativa das pressões de enchimento do ventrículo esquerdo (VE) Não é recomendada a realização rotineira, mas sugere-se a repetição naqueles pacientes que exibem mudança significativa do estado clínico, com descompensação da IC ou progressão dos sintomas. Deve ser considerada a realização de um novo Eco 3 a 6 meses após o tratamento com medicações de modificam o prognóstico. Ecocardiograma Transesofágico; Não é recomendado para avaliação rotineira, o método pode ser aplicado em contextos específicos (ex: suspeita de dissecção aórtica). RNM cardíaca; Fornece avaliação acurada das estruturas e função cardíaca, método padrão-ouro para medida dos volumes, massa miocárdica e FEVE (ambas cavidades); Quando usado o contraste pode oferecer informações sobre perfusão miocárdica, presença/extensão de fibrose que contribuem para o dx etiológico da isquemia. Contribui também para dx de pacientes com suspeita de doenças infiltrativas (amiloidose, sarcoidose...); apresenta algumas limitações como claustrofobia, presença de implantes metálicos e disfunção renal. SPECT de perfusão miocárdica – Cintilografia; Deve ser considerada nos pacientes já sabidamente portadores de DAC sem angina ou suspeitos de DAC, para avaliar isquemia e viabilidade miocárdica. PET; Pode ser empregada para a avaliação do metabolismo energético miocárdico e indicar viabilidade miocárdica; Pouco disponível, alto susto e uso de radiação; Angiotomografia coronária; Considerada para avaliação inicial da presença de DAC em pacientes com IC com probabilidade baixa a intermediária da presença de DAC; Teste de esforço cardiopulmonar; A ergoespirometria permite a avaliação objetiva e quantitativa da capacidade funcional, pela medida do consumo de volume de oxigênio no pico do esforço, além da relação entre ventilação e produção de CO² e ventilação MODULO Medicina UniFTC | 6º Semestre 4 oscilatória durante o esforço. É recomendado para pacientes com IC já avançada, como avaliação prognóstica na triagem de candidatos a transplante cardíaco; Biomarcadores – BNP e NT-proBNP: Valores de BNP < 35 pg/mL ou NT-proBNP < 125 pg/mL praticamente excluem o diagnóstico de IC. Valores acima destes cortes necessitam de avaliação clínica e complementar com ecocardiografia para confirmar o diagnóstico, caso haja dúvidas pela avaliação clínica isolada. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Programas multidisciplinares de cuidados; Restrição de sódio; Evitar ingesta > 7g sal cloreto de sódio/dia, já que o consumo excessivo de sódio e fluidos associa-se ao agravamento da hipervolemia, constituindo fator de descompensação e risco de hospitalização em paciente com IC crônica sintomática. Restrição hídrica; Dieta e perda de peso na IC; A obesidade e a sua duração têm correlação com desenvolvimento de remodelamento e queda da função sistólica ventricular esquerda. Tabagismo e drogas ilícitas; Uso de bebidas alcoólicas; Vacinação para influenza e pneumococo; Reabilitação cardiovascular; Atividade laborativa; O retorno ao trabalho é muito importante em pacientes com doenças crônicas, tanto financeiramente, quanto emocionalmente. Atividade sexual; A AHA publicou posicionamento científico sobre atividade sexual e doença cardiovascular, atestando segurança para pacientes com IC em classes funcionais I a II da NYHA, mas sugere que pacientes com IC descompensada ou avançada não devem ter atividade sexual até que sua condição esteja estabilizada. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA IC COM FEVE REDUZIDA INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA E BLOQUEADORES DOS RECEPTORES DA ANGIOTENSINA II Os