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E1_SEES

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e-Book 1
Michel Marcelo de França
SEMÂNTICA E ESTILÍSTICA
Sumário
INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3
CONCEITO DE ESTILO: O ESTILO NA 
LINGUÍSTICA ������������������������������������������������� 5
AS CORRENTES DA ESTILÍSTICA ����������������10
Estilística Fonética ou Fonoestilística ������������������������������� 11
Estilística Comparada ��������������������������������������������������������� 12
Estilística Estrutural ������������������������������������������������������������ 12
Estilística Diacrônica ���������������������������������������������������������� 13
A MATÉRIA DA SEMÂNTICA: RELAÇÕES 
COM A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO ���������� 15
SIGNIFICAÇÃO: PROCESSO 
SEMÂNTICO E RELAÇÕES ESTILÍSTICAS ��� 19
EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS 
SEMÂNTICOS: DA ANTIGUIDADE 
CLÁSSICA À ATUALIDADE ���������������������������22
A Escola Estruturalista ������������������������������������������������������� 26
A Semântica Lógica ������������������������������������������������������������ 28
A Semântica Contextual ou Composicional ���������������������� 31
Semântica Contextual-Situacional ������������������������������������� 32
Semântica Transformacional ��������������������������������������������� 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & 
CONSULTADAS ��������������������������������������������40
3
INTRODUÇÃO
Neste e-book, você aprenderá os pressupostos 
básicos da estilística e da semântica, contem-
plando algumas de suas várias escolas� Enquan-
to campos da linguística, apresentam um vasto 
arsenal para investigação e produção de sentido� 
Por isso, iniciaremos esse percurso apresentan-
do o conceito de estilo na linguística, situado na 
qualidade do enunciado que resulta das escolhas 
do falante� Conheceremos algumas das correntes 
da estilística desde seu surgimento na tradição 
greco-latina às principais escolas do século 20, 
considerando as múltiplas perspectivas como as 
da expressão ou descritiva, genérica ou individual, 
funcional ou sociolinguística, fonética, sintática e 
semântica� Estudaremos a matéria da semântica 
e suas relações com a produção de significado, 
partindo da estrutura do signo linguístico como 
unidade de significação. Ao longo dessa trajetória 
de estudos, também investigaremos a significa-
ção enquanto processo semântico e gerador de 
relações estilísticas. Por fim, faremos uma rápida 
retrospectiva, apresentando a evolução dos estudos 
semânticos, da Antiguidade Clássica à atualidade, 
a fim de situar os estudos de ambos os ramos da 
linguística e seu percurso evolutivo� O arcabouço 
teórico e metodológico dessas disciplinas atua-
liza as práticas letradas do século 21 à medida 
4
que a linguagem é componente fundamental dos 
processos comunicativos da modernidade em 
sua realidade multifacetada e multimodal� A cada 
nova tecnologia de comunicação, surge uma nova 
maneira de construir significado e produzir novos 
sentidos�
55
CONCEITO DE ESTILO: O 
ESTILO NA LINGUÍSTICA
A estilística é a disciplina da linguística que se 
ocupa dos recursos afetivos expressivos dentro do 
sistema linguístico, dentro da concepção saussu-
riana estruturalista� Apesar de seus fundamentos 
estarem atrelados à retórica greco-romana, emergiu 
como ciência recentemente, tendo sido fundada 
no início do século 20 pelo suíço Charles Bally e 
pelo alemão Karl Vossler�
Embora o estudo da expressividade seja o ponto em 
comum entre a retórica e a estilística, distingue-se 
por seus objetivos. Enquanto a primeira é percebida 
como uma doutrina de natureza pragmática e pres-
critiva, composta por sistemas e estratagemas para 
a composição de discursos eficientes, a segunda 
é vista como uma ciência de caráter descritivo e 
interpretativo, sem considerações normativas�
Sob um outro prisma, os estudos estilísticos podem 
também ser concebidos como um conjunto de pro-
cedimentos metodológicos e não necessariamente 
como uma ciência� Nessa concepção, a estilística 
é considerada uma subárea das ciências da lin-
guagem, que se sustenta em teorias linguísticas 
e literárias, como o idealismo, o estruturalismo, o 
gerativismo, a semiótica etc�
66
“Dividida por Pierre Guiraud (1970: 62) em estilística da língua ou da expressão (linha estruturalista de 
Bally: ênfase à expressividade latente no sistema) 
e estilística genética ou do autor (corrente idealista 
de Vossler e Leo Spitzer: ênfase à criação expres-
siva individual), trabalha com algumas categorias 
básicas, como funções da linguagem, estilo, desvio 
e escolha (CARVALHO, 2020)�”
Em linhas gerais, os estudos investigativos de es-
tilística são desdobramentos dos conhecimentos 
de retórica, contudo, a partir de sua fundação no 
século 20, duas grandes correntes passaram a 
concorrer: a estilística da expressão, ou descritiva, 
e a estilística genética, ou do indivíduo�
A estilística da expressão, ou descritiva, como é 
denominada, estuda as relações entre a expressão 
e o pensamento� Tem como alicerce a seguinte 
pergunta: de que forma o escritor escreve? À lin-
guística moderna, essa é uma questão que pode 
assumir diferentes sentidos, uma vez que o ponto 
de partida se situa no leitor e não no escritor� Ao se 
observar qualquer obra de arte, poema, romance, 
peça, música, uma vez acabada, essa pergunta 
serve como ponto de partida à análise�
Atualmente, do ponto de vista estilístico, não há 
uma preocupação com “por que” nem com “como” 
o escritor produziu determinada obra, mas sim com 
77
como essa obra age sobre o leitor� Essa mudança 
de paradigma é a marca da originalidade dessa 
abordagem, que Pierre Guiraud denomina como 
Estilística dos Efeitos, um enfoque alicerçado nos 
estudos semânticos�
Essa corrente tem no estilo o seu objeto de estudo. 
Mas o que é o estilo? Segundo Carvalho (2000), 
é “o uso individual dos recursos expressivos da 
língua ou o máximo de efeito expressivo que se 
consegue obter dentro das possibilidades da lín-
gua”� O autor ainda completa esse raciocínio ao 
afirmar que se trata de um conceito relacionado à 
noção de desvio e escolha, uma espécie de tensão 
entre “o espírito criador e as normas gramaticais 
é que explica o fenômeno do estilo, na sua gêne-
se mais profunda”� Portanto, o efeito estilístico 
resulta da singularidade, do desvio em relação ao 
padrão normativo e da escolha diante do sistema 
linguístico com finalidade expressiva.
À luz da estilística genética, ou do indivíduo, as 
obras literárias podem ser examinadas do ponto 
de vista genético, partindo da seguinte indagação: 
por que motivo escreve o escritor? Predominante 
nos últimos séculos, essa visão sustenta-se em 
inúmeras respostas oferecidas pela filosofia ou 
metafísica: o escritor escreve para extrair o real 
absoluto, ou pela sociologia e psicologia: o homem 
escreve para ajudar aos outros homens a descre-
88
ver sua própria natureza, dentre outras áreas do 
conhecimento�
Em síntese, todas essas e muitas outras respos-
tas são válidas àqueles que buscam refletir sobre 
os porquês de uma determinada obra de arte� 
Entretanto, essa abordagem estilística não tem 
como premissa o ensino da escrita, ou mesmo 
uma orientação para formação de um estilo� Seu 
objetivo é fomentar a consciência sobre as inú-
meras possibilidades de expressão da língua, em 
especial a língua portuguesa� Ainda sobre o estilo, 
Boaventura (2014, p. 230) afirma que:
“O estilo é componente singularizante do discur-so, contribui para localizá-lo em um lugar único no 
mundo e para individualizar seu autor (���) procura 
a sua própria justificação, não no interior de um 
sistema, mas em uma realidade única e concreta, 
irrepetível, (���) o estilo impresso no texto contém 
em si um universo de tempo e de espaço, do local 
onde o texto foi escrito e do jeito da época, ou 
seja, da realidade única, concreta e irrepetível de 
que fala�”
Construir um conceito uníssono sobre o que é 
estilo não se mostra uma tarefa fácil, tampouco 
restrita a uma única perspectiva� Todavia é pos-sível encontrarmos relativa estabilidade para a 
questão� Para tal, encerramos esse tópico com 
99
o conceito proposto por Boaventura (2014), que 
nos parece oportuno e coerente dentro de uma 
concepção linguística quando afirma que “o estilo 
reside na apropriação do valor das palavras e na 
combinação entre elas para que se lhes imprima 
novos valores”, de forma individualizada, singular 
e irrepetível�
10
AS CORRENTES DA 
ESTILÍSTICA
Conforme já estudamos, existe uma relação muito 
próxima entre a retórica e a estilística� Em verdade, a 
segunda é tributária dos conhecimentos da primeira 
quando o assunto é investigação estilística textual, 
valendo-se de seus sistemas e seus respectivos 
elementos� Em uma concepção atual, basicamente, 
temos duas grandes correntes da estilística� A linha 
estruturalista de Bally, que enfatiza a expressividade 
do próprio sistema linguístico, e a linha genética 
ou do autor, de Vossler e Leo Spitzer, cujo foco é 
a criação expressiva individual�
A estilística da expressão ou descritiva estuda 
as relações da expressão com o pensamento� Do 
ponto de vista funcional, busca o entendimento 
sobre como a obra de arte impacta, age e atua 
sobre o leitor� É também denominada como a 
estilística dos efeitos e estabelece vínculo direto 
com os estudos semânticos�
Do outro lado, concorre a estilística genética ou 
do autor, que propõe que toda obra pode ser exa-
minada a partir de uma perspectiva genética, ou 
seja, do ponto de vista do autor e do que o motiva 
a produzir textos� Em suma, os estudos dos valo-
res expressivos (sistemas linguísticos) e de seus 
11
efeitos configuram o ponto de partida à crítica do 
estilo, além de apresentarem-se como maior tarefa 
do estilólogo, ou seja, o estudioso de estilística. 
Tais pressupostos desencadearam o surgimento 
de subdisciplinas que resultaram em categorias 
de estudo, conforme estudaremos a seguir�
ESTILÍSTICA FONÉTICA OU 
FONOESTILÍSTICA
A Estilística Fonética ou Fonoestilística, como é 
chamada, proposta inicialmente por Charles Bally 
com o nome de Fonética Expressiva, foi ampliada 
por Nikolai Trubetzkoy e posteriormente aperfeiço-
ada por Karl Buhler, ao propor que em cada ato de 
fala existem traços que indicam: 1) quem fala, 2) 
em que tom fala e 3) qual é o seu objeto de fala. 
Em 1 e 2 encontramos traços que são objeto de 
estudo da Fonoestilística, que mais tarde ainda viria 
a se subdividir em estilística fonética e estilística 
fonológica�
Pesquisadores como Jules Marouzeau, sucessor 
de Charles Bally, empenharam-se no estudo da 
qualidade e do valor dos sons da linguagem, sem 
estabelecer qualquer relação com o sentido das 
palavras nas quais se encontram� Essa perspectiva 
destaca três aspectos, inaugurando a estilística do 
suprassegmental:
 y O papel das entonações;
12
 y O papel dos acentos;
 y O papel dos tons e das pausas�
Esses elementos podem ser percebidos por meio 
de aliterações, coliterações, assonâncias e onoma-
topeias e homoteleutos, figuras de linguagem que 
atuam na sonoridade da língua, causando efeitos 
expressivos diversos e ativando a percepção dos 
sons para aquilo que representam, para além do 
próprio significado. Considera-se que todas as dife-
renças fonéticas perceptíveis ao ouvido corroboram 
um elemento de informação; seja ele um traço de 
sentido ou de estilo, pode indicar particularidades 
como classe social, estado emocional etc�
ESTILÍSTICA COMPARADA
A Estilística Comparada surge a partir do confronto 
de dois ou mais sistemas linguísticos� É conhecida 
como método de tradutores em razão dos contras-
tes que estabelece e dos confrontos que permite 
realizar durante a atividade de tradução, a fim de 
encontrar-se correspondências de expressividade 
entre as línguas em questão�
ESTILÍSTICA ESTRUTURAL
A Estilística Estrutural é resultante das reflexões de 
Humboldt, pensador alemão da escola romântica� 
Para ele, cada sistema linguístico traz consigo 
uma visão de mundo particular e que não pode 
13
ser transferida para outra língua com exatidão, 
apenas por meio de estruturas semelhantes que 
possam produzir algum sentido de equivalência�
ESTILÍSTICA DIACRÔNICA
A Estilística Diacrônica objetiva investigar as 
consequências tributadas à língua em razão da 
perda de recursos de expressividade, como o de-
saparecimento de palavras e mudanças fonéticas e 
seus respectivos valores estilísticos em uma dada 
condição da língua� Tomemos como exemplo o 
português do Brasil do século 17 com relação ao 
momento atual�
Aprofunde seus conhecimentos sobre as categorias 
de subdisciplinas da estilística em: www.filologia.org� 
Lá você poderá conhecer mais sobre essas e outras 
categorias como a estilística lexical e sintática�
As contribuições de Ferdinand Saussure à criação 
de uma nova disciplina, através de seu discípulo 
Charles Bally, a Estilística da Língua ou da expressão, 
como também é conhecida, trouxe aos estudos lin-
guísticos um campo investigativo capaz de revelar o 
estilo e suas implicações à construção do sentido� 
Permite também perceber as sutilezas e marcas 
de linguagem que evidenciam a originalidade de 
SAIBA MAIS
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-02.html
14
um determinado discurso, considerando questões 
relativas ao gênero e à esfera de produção�
Sem qualquer desprestígio ou juízo de valor, nesse 
cenário destaca-se ainda a Estilística Genética ou 
do indivíduo, que, apesar de centrada nos textos 
literários, corrobora a percepção dos estilos, permi-
tindo a identificação de atributos e características 
singulares de produtividade e discursividade, seja 
da perspectiva do escritor, seja da perspectiva do 
leitor� Nesse enfoque são valorizados aspectos 
estilísticos fonéticos, mórficos, sintáticos e semân-
ticos que permitem reconhecer os traços estilísticos 
que compõem a escrita de um determinado autor�
1515
A MATÉRIA DA 
SEMÂNTICA: RELAÇÕES 
COM A PRODUÇÃO DE 
SIGNIFICADO
A palavra semântica tem sua origem no grego, 
sēmantiká, plural neutro de semantikos, signifi-
cativo/marcado, semainein, mostrar, derivado de 
sema, sinal, e/ou semîon, signo� Enquanto campo 
investigativo da Linguística, ocupa-se da análise 
da significação a partir do estudo dos signos 
linguísticos isolados ou combinados: grafemas, 
morfemas, léxicos, palavras, frases, enunciados 
e o próprio discurso�
Nesse sentido, o objeto de estudo da Semântica é 
a menção das sentenças e das palavras isoladas 
de seu contexto� O uso de determinadas palavras e 
sentenças em um contexto específico e o sentido 
produzido por essas escolhas diante das circuns-
tâncias é material investigativo da Pragmática� 
Para o semanticista, o ponto de partida para a 
significação repousa na relação dicotômica entre 
significado e significante.
1616
O objeto de estudo da Semântica e da Pragmática di-
fere-se à mediada que para a Semântica o significado 
é imanente da língua, portanto do sistema linguístico 
(signo), enquanto para a Pragmática interessa o signi-
ficado produzido em um determinado contexto diante 
de condições discursivas específicas.
Segundo Saussure (2012, p�106), o signo linguístico 
não é uma coisa ou uma palavra, mas sim um con-
ceito e uma imagem acústica; não sendo um som 
material, coisa física, mas a impressão psíquica 
desse som; uma representação de nossos senti-
dos, uma imagem sensorial� À guisa de exemplo, 
quando observamos a nossa própria linguagem, 
podemos constatar que é possível sem mover os 
lábios ou a língua falar conosco ou mesmo recriar 
mentalmente um texto qualquer, conhecido ou não� 
Isso faz do signo linguístico “uma entidade psíquica 
de duas faces”: um significado e um significante. 
Assim, denominamos como tal a combinação entre 
um conceito e uma imagem acústica. Vejamos a 
representação na figura a seguir:
FIQUE ATENTO
1717
Figura 1: Significado e Significante
CONCEITO / 
SIGNIFICADO
IMAGEM ACÚSTICA / 
SIGNIFICANTE
CARRO
Fonte: Elaboração própria�
Observe que a imagem acústica é representada 
a partirda palavra carro, que contém o material 
fonético e gráfico capaz de representar o conceito 
abstrato amalgamado à representação linguística 
do significante. Após compreender a natureza 
psíquica da língua, é possível concluir que: a união 
entre o significante e o significado é um processo 
arbitrário�
Ou seja, não há uma relação lógica comprovada 
de que a imagem acústica representa o conceito 
por analogia, associação ou mesmo contiguidade� 
A significação é fruto do convencionalismo social 
pactuado e constituído, no e pelo uso da linguagem� 
Isso quer dizer que o significante é imotivado, isto 
é, arbitrário em relação ao significado, com o qual 
não possui qualquer vínculo natural�
O significante, por ser de natureza auditiva, de-
senvolve-se unicamente no tempo� Ele representa 
uma extensão da percepção psíquica e como tal 
1818
é mensurável em uma única dimensão, portanto 
é linear� Aqui estão descritos os dois princípios 
do signo linguístico apresentados por Saussure: 
a arbitrariedade e a linearidade�
Assim sendo, a matéria da Semântica é o significado, 
que entendemos como uma entidade meramente 
conceitual, que como tal pode ser contestada e 
alterada indiferentemente a respeito da imutabi-
lidade do significante, já que entre ambos não há 
nexo causal, apenas convencionalismo�
Em outras palavras, o significado é volátil e adap-
tável em seu processo de produção, sobretudo 
é suscetível à ação do tempo e do espaço� Está 
unido a uma imagem acústica por meio de expe-
riências compartilhadas entre os falantes de uma 
determinada língua, que selam e pactuam sua 
representatividade através da linguagem�
19
SIGNIFICAÇÃO: PROCESSO 
SEMÂNTICO E RELAÇÕES 
ESTILÍSTICAS
Segundo Cançado (2012), todas as línguas estão 
condicionadas à existência de palavras e de sen-
tenças revestidas de significado. Tanto as palavras 
como as sentenças estão convencionalmente 
associadas a, no mínimo, um significado. Por isso, 
a Semântica enquanto teoria precisa ser capaz de 
verificar e descrever o significado, ou significados, 
de palavras e sentenças de uma determinada língua�
Todas as línguas permitem a partir do seu siste-
ma de signos a organização de sentenças, cujo 
significado depende das palavras empregadas na 
estruturação do conjunto sintagmático. Contudo, 
é importante que se perceba que tal procedimento 
não pode ser interpretado como um simples pro-
cesso de acumulação (CANÇADO, 2012)�
É nesse ponto que a Semântica e a Estilística 
corroboram entre si seus compostos teóricos e 
metodológicos para a significação. Uma teoria 
semântica possui não apenas a tarefa de explicar 
o significado das palavras enquanto unidades mí-
nimas da composição de uma frase, mas também 
investigar a combinação algorítmica que permite 
a construção e o processo de significação de uma 
20
determinada sentença� Ao passo que uma teoria 
estilística fornece a compreensão sobre o estilo e 
o efeito de sentidos produzidos a partir do material 
linguístico à disposição do falante�
Enquanto falantes de uma determinada língua, 
fazemos uso da linguagem para exteriorizar e 
compartilhar ideias, pensamentos e sentimentos, 
que emanam da correspondência que existe entre 
estes� Ao selecionar uma determinada palavra em 
detrimento de outra, ou mesmo ao estabelecer 
relações entre palavras que não sejam saturadas, 
o usuário da língua não só produz novos sentidos 
como também inaugura um estilo próprio para se 
expressar�
A estilística contribui à produção de sentidos 
que são percebidos pelo leitor/ enunciatário que, 
apesar de reconhecer as palavras e o significado 
semântico atrelado a elas, depara-se com um novo 
arranjo dos componentes de um determinado sin-
tagma, ou mesmo com uma entonação diferente 
da convencional, que, por conseguinte, gera um 
novo efeito de sentido peculiar, fazendo do estilo 
um componente singularizante do discurso�
De acordo com Cançado (2012, p 23), os falantes 
de uma língua possuem a capacidade de intuir so-
bre a propriedade de uma palavra e das sentenças 
que se formam a partir da relação entre palavras e 
21
sentenças. Exemplo: ao conhecer o significado de 
uma sentença, de forma intuitiva, o falante poderá 
intuitivamente deduzir o valor de verdade de outras 
com base na primeira, refletindo o conhecimento 
semântico do falante� Ainda poderá reconhecer 
construções significativas, todavia desconhecidas 
e singulares, que geram novas sensações e efeitos 
de sentido em razão do estilo que fora empregado 
em sua construção�
Os processos composicionais e de expressividade 
da língua revelam a natureza flexível e adaptativa 
da linguagem, bem como o estilo daquele que dela 
faz uso, a fim de produzir os efeitos de sentido 
pretendidos� O ato de interpretar está fundamen-
tado na capacidade de criar relações de sentido 
entre os signos linguísticos e suas propriedades 
significativas organizadas pelo estilo e as intenções 
comunicativas do usuário�
2222
EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS 
SEMÂNTICOS: DA 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA À 
ATUALIDADE
Como em outros campos das Ciências Humanas, 
a Semântica não possui uma única vertente, seus 
fundamentos teóricos e conceituais repousam 
sobre diferentes linhas de pesquisa e bases epis-
temológicas, que ora se excluem mutuamente, 
ora convergem e contingenciam-se na troca de 
material, taxonomias e peculiaridades�
Cabe destacarmos que Aristóteles (Estagira, 384 
– Atenas, 322 a�C�), considerado um dos respon-
sáveis pela organização do conjunto teórico e por 
elevar a Retórica ao status de ciência da linguagem 
e do discurso, herdou de seu mestre, Platão, um 
ensinamento sobre o Crátilo. Um debate entre um 
naturalista e um realista mediado por Sócrates, 
a respeito da origem dos nomes e das palavras�
O naturalista acreditava que as palavras surgiam 
por si só em razão da necessidade de expressar 
determinada ideia, não havendo necessária relação 
entre ela e seu representante� O realista concordava 
que as palavras nasciam em razão da necessária 
expressão e nominação do mundo e do que nele 
está contido� Contudo, defendia que os signos 
2323
estabelecem uma relação direta com o objeto re-
presentado, seja por associação, semelhança ou 
aproximação conceitual percebida� Procurado para 
opinar sobre o dilema em questão, Sócrates disse 
que ambos estavam certos e errados ao mesmo 
tempo, mas que a junção das hipóteses continha 
a chave da porta onde repousa a resposta�
Crátilo (do grego antigo Kratulos): diálogo platônico no 
qual Sócrates, seu mestre, é questionado por dois homens, 
Crátilo e Hermógenes, sobre a origem dos nomes à luz 
de duas reflexões: “convencionais” ou “naturais”, isto é, 
se a linguagem é um sistema de símbolos arbitrários ou 
se as palavras possuem uma relação intrínseca com as 
coisas que elas significam. Esse texto tornou-se uma 
referência filosófica no período clássico por conter 
estudos sobre Etimologia e Linguística�
SEDLEY, D� Plato’s Cratylus� Cambridge: Cambridge 
University Press, 2003. pp. 22-23.
Aristóteles concluiu que o signo é uma espécie 
de conector das representações intrínsecas e 
extrínsecas entre os seres e o meio, fazendo da 
linguagem um composto de sons aleatórios e 
arbitrários, organizados em conjunto convencio-
nalmente significativo. Esse posicionamento o 
aproxima do convencionalismo e manifesta sua 
SAIBA MAIS
2424
crença no caráter político e social da linguagem 
(FRANÇA, 2015, p�64)�
No final do século 19, foram estabelecidos por 
Michel Bréal, filólogo francês, os princípios de uma 
semântica diacrônica cuja finalidade era estudar 
a semiose das palavras, visando a observar os 
mecanismos que regem essas transmutações� No 
início do século seguinte, uma semântica voltada 
à descrição sincrônica dos significados emerge 
objetivando delimitar e analisar os campos se-
mânticos� Segundo Fiorin (2008), tratava-se de 
uma abordagem taxonômica fundada em critérios 
imanentes da linguagem, em seus aspectos asso-
ciacionistas com vista à investigação do conteúdo, 
ou seja, do significado.No ano de 1957, Hjelmslev apresenta as bases para 
uma semântica estrutural, sob o argumento de que 
tanto a fonologia quanto a gramática apresentam 
o discurso e não uma ruptura com o campo de 
investigação do sentido. O objetivo da semântica 
estrutural é desenvolver uma investigação imanen-
te, sem categorias de significado fundamentadas 
em qualquer classificação extralinguística. Nesse 
instante passam a concorrer duas perspectivas 
semânticas: estrutural diacrônica e estrutural 
contrastiva, cujo escopo era o léxico.
2525
O léxico é um inventário aberto de possibilidades 
infinitas de expansão. Os componentes de classe 
plástica do léxico como substantivos, verbo, ad-
jetivo e advérbio nominal constituem o aspecto 
biossocial da língua, quando nomeia as coisas e 
atribui qualidade e caracterização às palavras e 
ao que representam� Embora o sistema grama-
tical seja conservador e fechado para expansão, 
o conjunto lexical de uma língua está sempre em 
constante mutação, tornando, inclusive, impossível 
ao falante de uma determinada língua o domínio 
integral desse acervo�
Figura 2: Campo semântico e constelação lexical�
LIVREIRO
LIVRARIA
LIVRAR
COMPUTADOR
ALUNOS
ESTUDAR
ESTUDANTE ESTUDADO
ESTUDIOSOESTUDO
PESQUISA PESQUISAR PESQUISADOR PESQUISADO
ESCOLA
LIVROS
LABORATÓRIO
AULAS
PROFESSOR
INTERVALO
LIBERTAR
Fonte: Elaboração própria�
Segundo França (2009), para além da Semântica 
enquanto disciplina da Linguística, focada na busca 
do sentido a partir do léxico, é necessário conside-
2626
rarmos a existência de um contexto sociocultural 
que fomenta a dinâmica lexical, operacionalizando 
a criação de neologismos, empréstimos linguísti-
cos, expressões idiomáticas etc�, por meio de um 
processo de concepção que decorre da atividade 
cognitiva, resultando na concretude da palavra�
Nas instâncias extralinguísticas, o político, o social e 
o cultural são exteriorizados, desnudados por meio 
das respectivas escolhas lexicais que o usuário da 
língua faz desse sistema sígnico, cuja natureza 
é ideológica e, portanto, admite significados que 
reportam a algo para além de si mesmo, durante 
um processo dialógico discursivo em uma dada 
situação enunciativa�
Dentre as diversas escolas de estudos semân-
ticos, podem ser destacadas entre as principais 
correntes as abordagens estruturais, de Saussure 
e Hjelmslev, denominada como semântica lógica 
ou da palavra isolada, a contextual, de Pottier, a 
contexto-situacional, de Ducrot, e a transforma-
cional, de Chomsky (FRANÇA, 2009)�
A ESCOLA ESTRUTURALISTA
A semântica estrutural desenvolveu-se baseada nos 
moldes analíticos e discricionários da fonologia e 
da sintaxe. Em seu escopo está um conjunto de 
categorias e classificações semânticas que limi-
tam a construção de sentido à análise do léxico, 
2727
desconsiderando os elementos extralinguísticos 
como unidades de sentido�
A frase é entendida como uma segmentação ló-
gica, ao passo que o período como uma fisiologia 
emocional� A dicotomia saussuriana sobre os eixos 
paradigmático e sintagmático contribui para a re-
lação entre as escolhas lexicais e a organização 
lógica constituída na construção do sentido durante 
a operacionalização do sistema linguístico�
Em suma, a língua é concebida como um sistema 
arbitrário de signos à disposição do falante, mate-
rializando as intenções comunicativas do usuário 
à medida que ele opta por uma determinada lógica 
estruturante, entre as diversas possibilidades para-
digmaticamente pré-estabelecidas à organização 
do conjunto sintagmático. Assim, o significado, 
apesar de atrelado ao léxico (palavra/signo), ver-
dadeiramente, emana da conjectura organizacional 
em que está inserido, conforme ilustra o exemplo 
a seguir:
Figura 3: Conjectura organizacional do sentido.
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Além de bela, Joana é uma grande pessoa�
ADJETIVO SUBSTANTIVO
ADJETIVOSUBSTANTIVO
Além de bela, Joana é uma pessoa grande�
Fonte: Elaboração própria�
2828
No exemplo 1, podemos afirmar que Joana é uma 
pessoa dotada de qualidades e predicativos nobres, 
pois o adjetivo está anteposto ao substantivo. Já 
no exemplo 2, com o adjetivo posposto ao subs-
tantivo, observa-se que o sentido é de que Joana é 
uma mulher de grandes dimensões� Há uma outra 
linha de produção de sentido que demandará outras 
pistas linguísticas para significação.
Ambos os exemplos corroboram o entendimento 
de que a semântica estrutural para a construção 
de sentido vale-se de uma análise morfossintática 
na qual a classe e a função dos sintagmas, quando 
realocadas na estrutura paradigmática, resultam 
em projeções significativas distintas, relativizando 
o significado contido no signo linguístico.
A SEMÂNTICA LÓGICA
Baseado no pensamento socrático e platônico, 
Aristóteles inaugura a Lógica enquanto ciência, 
tendo por essência os seguintes estudos:
 y As definições universais usadas por Sócrates 
(469-399 a�C�);
 y O uso da redução ao absurdo de Zenão de 
Eleia (490-420 a�C�);
 y A estrutura proposicional e negação de Par-
mênides (515-445 a�C�) e Platão (428-347 a�C�);
 y As técnicas argumentativas encontradas no 
raciocínio legal e provas geométricas�
2929
Denominado como órganon, o conjunto lógico 
aristotélico constitui o alicerce dos princípios da 
semântica lógica, na qual afirma-se que uma pro-
posição é constituída a partir da junção de dois 
termos da oração: um sujeito e um predicado, cuja 
representação se dá, gramaticalmente, através de 
um substantivo� Ao aplicar a teoria de oposição e 
conversão, Aristóteles investigava as relações entre 
duas proposições contendo os mesmos termos, o 
que resultou em uma de suas maiores contribui-
ções aos estudos deste campo, as proposições 
combinatórias conhecidas como silogismos�
Órganon: do grego organikos, relativo ou pertencente a 
um órgão/instrumento relacionado a ergon, trabalho� 
Conjunto de seis obras aristotélicas. Disponível em: 
origemdapalavra�com�br�
A seguir, analisemos as proposições à luz dos prin-
cípios da oposição/conversão e sujeito/predicado:
SAIBA MAIS
https://origemdapalavra.com.br/site/palavras/inorganico/
3030
Figura 4: Proposições de verdade�
Todas as mulheres dão a vida pelos filhos = premissa maior
Simone é uma mulher = portanto / logo = logicamente
Simone dá a vida pelos filhos = premissa menor
Por quê? Porque todas as mulheres dão a vida pelos filhos, logo, se, e 
somente se, Simone for mulher, ela também dará a vida pelos filhos�
Fonte: Elaboração própria�
Com base nos princípios destacados, pode-se 
inferir que a terceira proposição é verdadeira dado 
que está fundamentada na premissa maior por 
contingência (Todas as mulheres / Simone é parte 
do todo porque é da mesma espécie – metonímia) 
do sujeito e pelo jogo de oposições e conversões 
dos predicativos (mulheres dão a vida pelos filhos 
/ Simone é mulher; então dá a vida)�
Resumindo, a semântica lógica tem por objetivo 
codificar o entendimento sobre a linguagem de 
forma racional em um único sistema� Até o ad-
vento da semântica moderna, especialmente a 
da palavra, fundada pelo linguista alemão Jost 
Trier (1894-1970), o órganon era a única base da 
lógica hermenêutica� Com o surgimento de novos 
estudos que apresentavam questões de generali-
dades múltiplas, o modelo aristotélico mostrou-se 
pouco eficaz, dando início a diferentes abordagens 
3131
fundamentadas nesses preceitos nucleares� Como 
exemplo destacam-se a teoria da semântica da 
verdade, diálogo dos jogos e a probabilística.
A SEMÂNTICA CONTEXTUAL OU 
COMPOSICIONAL
Inaugurada pelo pesquisador francês Bernard Pottier 
(1924), a semântica contextual e/ou composicional 
estuda a linguagem enquanto meio de comunica-
ção, analisando as palavras em consonância com 
o contexto particular no qual se dá o processo 
comunicativo� Em tese, defende a ideia de que o 
significado não é determinado apenas pelos seus 
aspectos elementares contidos em sua natureza 
sígnica, mas em um processo analítico concomi-
tante ao uso da linguagem por partedos sujeitos 
em um determinado cenário, no qual diferentes 
domínios da significação se evidenciam nos atos 
de fala, contingenciando outro domínio dos estu-
dos linguísticos denominado como pragmática�
Os manuais didáticos de ensino de Língua Portu-
guesa apresentam tópicos de estudos semânti-
cos relativos à denotação/conotação, sinonímia, 
antonímia, homonímias, parônimas, hiperonímias/
hiponímias e polissemia, entre outros, destacando 
que as relações de significação, bem como os tipos 
de funções oriundas das interações entre elemen-
tos/elementos, elementos/conjuntos, conjuntos/
3232
conjuntos, constituem nexo entre o composto 
significante (expressão) e o significado (conteúdo) 
do sistema lexical de uma língua (FRANÇA, 2009)�
Em síntese, o significado conceitual está atrelado 
a dois princípios linguísticos: o da descrição dos 
signos (contrastividade) e o da estrutura, ou seja, 
fundamentado na dicotomia saussuriana – paradig-
ma e sintagma; ao passo que o significado temá-
tico está associado à organização da mensagem, 
levando em consideração a ordem, foco e ênfase�
SEMÂNTICA CONTEXTUAL-
SITUACIONAL
Fundada por Oswald Ducrot, repousa sobre o prin-
cípio de que a argumentação é o fator essencial 
para a construção do sentido, que na língua é 
manifestado por meio dos enunciados� Assim, a 
enunciação é concebida como um acontecimento 
que se manifesta historicamente no gradiente do 
tempo/espaço, um evento que marca o próprio 
enunciado, fazendo com que a situação se torne 
resultado do processo enunciativo�
Contrária à semântica estruturalista, que descon-
sidera o contexto por se tratar de componente 
extralinguístico, a semântica contextual-situacional 
considera-o como elemento linguístico sob o enten-
dimento de que, linguisticamente, não há contexto 
sem texto e vice-versa� Na perspectiva ducrotiana, 
3333
a subjetividade do “eu” integra a linguagem na 
construção do processo interpretativo, uma vez que 
o locutor se posiciona ideologicamente a partir do 
discurso, por conseguinte, a argumentação é ma-
nifestada nas relações subjetivas e intersubjetivas, 
da qual extrai-se o substrato da ação enunciativa 
da linguagem, ou seja, as intenções marcadas nos 
pressupostos e subentendidos�
Segundo destacou Koch (2011, p� 61), ao revisar, 
ou melhor, apresentar uma autocrítica sobre a 
oposição que estabeleceu entre pressuposto e 
subentendido, Ducrot apresentou algumas con-
venções sobre as seguintes terminologias: frase, 
enunciado, significação, sentido e enunciação:
 y Frase: entidade abstrata suscetível de uma 
infinidade de realizações particulares;
 y Enunciado: realizações abstratas particulares 
oriundas das frases;
 y Significação: descrição semântica que se dá 
a uma frase;
 y Sentido: descrição semântica que se dá a um 
enunciado;
 y Enunciação: evento constituído a partir da 
produção de um enunciado�
Somado ao conceito de polifonia, um dos principais 
pontos da teoria de Ducrot, por conseguinte da 
semântica contextual-situacional, está a questão 
3434
revisada sobre pressuposto e subentendido, que 
estabeleceu a significação da frase como proprie-
dade do pressuposto, enquanto o subentendido 
está relacionado ao enunciado e à interpretação 
que dele se dá, convencionalizando, portanto, uma 
distinção entre ambos, sobretudo a distinção entre 
duas instâncias semânticas: a da significação da 
frase e do sentido do enunciado, evidenciando a 
relevância dessa vertente semântica para as ciên-
cias recorrentes da interpretação (KOCH, 2011)�
Apesar de Ducrot ter mantido o princípio estrutu-
ralista em sua teoria semântica argumentativa, 
ratificou o fato de que o sentido de uma entidade 
linguística está na relação entre os elementos do 
sistema, motivo pelo qual o sentido de um enun-
ciado deve ser analisado em conformidade com 
os encadeamentos discursivos em que ocorre a 
argumentação, cuja natureza pode ser fragmentada 
em duas partes: retórica e linguística, articuladas 
de forma interdependente�
SEMÂNTICA TRANSFORMACIONAL
Considerado um dos principais nomes da Lin-
guística do século 20, Noam Chomsky é um dos 
cofundadores da ciência cognitiva e o proponente 
de uma das mais polêmicas teorias filosóficas da 
linguagem, denominada como semântica da lin-
3535
guagem natural, cuja essência nunca fora aceita 
pelas correntes dominantes da área�
Ao propor uma abordagem internalista para o es-
tudo da linguagem, enfrentou grande resistência 
dos linguistas externalistas, que defendiam a ideia 
de que todos os fatos semânticos devem ser ex-
plicados a partir das interações entre os usuários 
da língua em um determinado contexto de práticas 
sociais, sem considerar, todavia, os processos 
mentais que operacionalizam a linguagem� As 
bases internalistas da linguística chomskyana 
fundamentam-se nos respectivos argumentos:
 y A primeira língua de um falante é aprendida 
naturalmente, não havendo necessidade de ser 
ensinada;
 y Há semelhança entre os erros cometidos pe-
los aprendizes de uma língua nas mais diferentes 
culturas;
 y É fato que os aprendizes desenvolvem uma 
determinada competência linguística mínima em 
um espaço de tempo relativamente semelhante;
 y Frente à complexidade das estruturas das 
línguas naturais, o estímulo linguístico recebido é 
limitado, não explicando a riqueza da linguagem 
apresentada em poucos anos de vida�
Apoiado em tais argumentos, Chomsky defen-
de a tese de que as estruturas elementares da 
3636
linguagem estão assentadas em nosso aparato 
cognitivo, motivo pelo qual o filósofo propõe o 
nativismo linguístico, baseado na presunção de 
que possuímos uma gramática universal inata, 
que possibilita aprender uma determinada língua�
Nessa perspectiva, infere-se que a mente é um 
composto dividido em diferentes setores e/ou 
áreas interligados que se responsabilizam por 
atividades díspares, sendo a faculdade da lingua-
gem (denominação chomskyana) a responsável 
por executar e gerenciar tarefas como a de for-
mulação e interpretação de fonemas, compostos 
semânticos e estruturas gramaticais das mais 
simples às complexas�
Segundo Chomsky (2000), nascemos dotados desse 
complexo sistema linguístico, tornamo-nos aptos 
a aprendê-lo e desenvolvê-lo, ratificando a tese da 
existência de uma gramática universal que rege 
as línguas naturais� Isso possibilita que diferentes 
indivíduos as aprendam, uma vez que em um nível 
elementar todas as línguas estão alicerçadas sobre 
o mesmo princípio: o da faculdade da linguagem, 
que pressupõe e operacionaliza esse compêndio, 
permitindo ao usuário modelar as formas que a 
linguagem pode contemplar�
Esse pensamento chomskyano culmina na rejei-
ção das teses de que a linguagem é um construto 
3737
público, uma propriedade de comunidade e que 
as expressões da linguagem denotam coisas do 
mundo, renunciando, portanto, à teoria de que 
a publicidade da linguagem ou dos significados 
condiciona os eventos comunicativos entre os 
indivíduos�
Para Chomsky (2000), geramos os nossos próprios 
significados e consentimos que os significados 
dos demais são como os nossos� Resumindo, co-
municamos aos outros os sentidos cunhados em 
nossas próprias mentes, motivo pelo qual chega-se 
ao entendimento de que a linguagem não é usada 
para representar o mundo, e sim para exteriorizar 
nossas representações internas e interpretar as 
pertencentes às outras pessoas durante o processo 
comunicativo�
A compreensão do funcionamento da linguagem 
natural pressupõe, basicamente, que as palavras 
possuem aspectos de duas naturezas: fonéticas 
(som) e semânticas (significado), cujo papel é 
materializar e compartilhar as representações de 
um indivíduo com outro (os), pois a mente humana 
é dotada de algoritmos que codificam e decodi-
ficam as possibilidades semânticas da palavra, 
desencadeando as ações relativas ao objetivo 
comunicacional�
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O universo de estudos semânticos e estilísticos é 
vasto e desafiador. À disposição de semanticistas 
e estilólogos háum amplo arsenal teórico e meto-
dológico a serviço da busca pelo significado e dos 
efeitos de sentidos produzidos pelos diferentes 
estilos e usos da linguagem�
Da estilística da expressão ou descritiva à genéti-
ca ou do indivíduo, nota-se que o efeito estilístico 
resulta da singularidade, do desvio em relação ao 
padrão normativo e da escolha diante do sistema 
linguístico com finalidade expressiva. Entender 
como o texto age sobre o leitor, ou mesmo por 
que é produzido são questões que norteiam as 
duas principais escolas de estudos estilísticos e 
contribuem para o amadurecimento da capacidade 
interpretativa e produtiva�
O domínio sobre os aspectos fonéticos, sintáticos 
e semânticos do sistema linguístico possibilita ao 
falante fazer escolhas conscientes e significativas 
a fim de que possa produzir os efeitos de sentidos 
pretendidos, tornando o seu discurso original, en-
volvente, convincente e persuasivo�
Nesse sentido, a semântica contribui à estilística for-
necendo a compreensão sobre o material linguístico 
e seus processos composicionais propulsores da 
39
significação e da expressividade do estilo. Escolas 
semânticas como a estruturalista, lógica, compo-
sicional, contextual-situacional e transformacional 
afinam-se a vertentes estilísticas que se valem dos 
mesmos valores epistemológicos, tornando fluido 
e convergente os estudos linguísticos de natureza 
associativa entre esses dois campos�
Em suma, o estudo da semântica associado à 
estilística proporciona uma visão multifacetária 
da noção de significado e de processos de sig-
nificação, tributária ao estilo e a suas marcas de 
expressividade� Os saberes resultantes dessa 
combinação amplificam não só as capacidades 
de interpretação e produção textual, mas também 
desnudam o olhar sobre a realidade e as sensações 
oriundas dela�
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	Introdução
	Conceito de estilo: o estilo na linguística
	As correntes da estilística
	Estilística Fonética ou Fonoestilística
	Estilística Comparada
	Estilística Estrutural
	Estilística Diacrônica
	A matéria da Semântica: relações com a produção de significado
	Significação: processo semântico e relações estilísticas
	Evolução dos estudos semânticos: da Antiguidade Clássica à atualidade
	A Escola Estruturalista
	A Semântica Lógica
	A Semântica Contextual ou Composicional
	Semântica Contextual-Situacional
	Semântica Transformacional
	Considerações finais
	Referências Bibliográficas & Consultadas

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