Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
e-Book 1 Michel Marcelo de França SEMÂNTICA E ESTILÍSTICA Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 CONCEITO DE ESTILO: O ESTILO NA LINGUÍSTICA ������������������������������������������������� 5 AS CORRENTES DA ESTILÍSTICA ����������������10 Estilística Fonética ou Fonoestilística ������������������������������� 11 Estilística Comparada ��������������������������������������������������������� 12 Estilística Estrutural ������������������������������������������������������������ 12 Estilística Diacrônica ���������������������������������������������������������� 13 A MATÉRIA DA SEMÂNTICA: RELAÇÕES COM A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO ���������� 15 SIGNIFICAÇÃO: PROCESSO SEMÂNTICO E RELAÇÕES ESTILÍSTICAS ��� 19 EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS SEMÂNTICOS: DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA À ATUALIDADE ���������������������������22 A Escola Estruturalista ������������������������������������������������������� 26 A Semântica Lógica ������������������������������������������������������������ 28 A Semântica Contextual ou Composicional ���������������������� 31 Semântica Contextual-Situacional ������������������������������������� 32 Semântica Transformacional ��������������������������������������������� 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������40 3 INTRODUÇÃO Neste e-book, você aprenderá os pressupostos básicos da estilística e da semântica, contem- plando algumas de suas várias escolas� Enquan- to campos da linguística, apresentam um vasto arsenal para investigação e produção de sentido� Por isso, iniciaremos esse percurso apresentan- do o conceito de estilo na linguística, situado na qualidade do enunciado que resulta das escolhas do falante� Conheceremos algumas das correntes da estilística desde seu surgimento na tradição greco-latina às principais escolas do século 20, considerando as múltiplas perspectivas como as da expressão ou descritiva, genérica ou individual, funcional ou sociolinguística, fonética, sintática e semântica� Estudaremos a matéria da semântica e suas relações com a produção de significado, partindo da estrutura do signo linguístico como unidade de significação. Ao longo dessa trajetória de estudos, também investigaremos a significa- ção enquanto processo semântico e gerador de relações estilísticas. Por fim, faremos uma rápida retrospectiva, apresentando a evolução dos estudos semânticos, da Antiguidade Clássica à atualidade, a fim de situar os estudos de ambos os ramos da linguística e seu percurso evolutivo� O arcabouço teórico e metodológico dessas disciplinas atua- liza as práticas letradas do século 21 à medida 4 que a linguagem é componente fundamental dos processos comunicativos da modernidade em sua realidade multifacetada e multimodal� A cada nova tecnologia de comunicação, surge uma nova maneira de construir significado e produzir novos sentidos� 55 CONCEITO DE ESTILO: O ESTILO NA LINGUÍSTICA A estilística é a disciplina da linguística que se ocupa dos recursos afetivos expressivos dentro do sistema linguístico, dentro da concepção saussu- riana estruturalista� Apesar de seus fundamentos estarem atrelados à retórica greco-romana, emergiu como ciência recentemente, tendo sido fundada no início do século 20 pelo suíço Charles Bally e pelo alemão Karl Vossler� Embora o estudo da expressividade seja o ponto em comum entre a retórica e a estilística, distingue-se por seus objetivos. Enquanto a primeira é percebida como uma doutrina de natureza pragmática e pres- critiva, composta por sistemas e estratagemas para a composição de discursos eficientes, a segunda é vista como uma ciência de caráter descritivo e interpretativo, sem considerações normativas� Sob um outro prisma, os estudos estilísticos podem também ser concebidos como um conjunto de pro- cedimentos metodológicos e não necessariamente como uma ciência� Nessa concepção, a estilística é considerada uma subárea das ciências da lin- guagem, que se sustenta em teorias linguísticas e literárias, como o idealismo, o estruturalismo, o gerativismo, a semiótica etc� 66 “Dividida por Pierre Guiraud (1970: 62) em estilística da língua ou da expressão (linha estruturalista de Bally: ênfase à expressividade latente no sistema) e estilística genética ou do autor (corrente idealista de Vossler e Leo Spitzer: ênfase à criação expres- siva individual), trabalha com algumas categorias básicas, como funções da linguagem, estilo, desvio e escolha (CARVALHO, 2020)�” Em linhas gerais, os estudos investigativos de es- tilística são desdobramentos dos conhecimentos de retórica, contudo, a partir de sua fundação no século 20, duas grandes correntes passaram a concorrer: a estilística da expressão, ou descritiva, e a estilística genética, ou do indivíduo� A estilística da expressão, ou descritiva, como é denominada, estuda as relações entre a expressão e o pensamento� Tem como alicerce a seguinte pergunta: de que forma o escritor escreve? À lin- guística moderna, essa é uma questão que pode assumir diferentes sentidos, uma vez que o ponto de partida se situa no leitor e não no escritor� Ao se observar qualquer obra de arte, poema, romance, peça, música, uma vez acabada, essa pergunta serve como ponto de partida à análise� Atualmente, do ponto de vista estilístico, não há uma preocupação com “por que” nem com “como” o escritor produziu determinada obra, mas sim com 77 como essa obra age sobre o leitor� Essa mudança de paradigma é a marca da originalidade dessa abordagem, que Pierre Guiraud denomina como Estilística dos Efeitos, um enfoque alicerçado nos estudos semânticos� Essa corrente tem no estilo o seu objeto de estudo. Mas o que é o estilo? Segundo Carvalho (2000), é “o uso individual dos recursos expressivos da língua ou o máximo de efeito expressivo que se consegue obter dentro das possibilidades da lín- gua”� O autor ainda completa esse raciocínio ao afirmar que se trata de um conceito relacionado à noção de desvio e escolha, uma espécie de tensão entre “o espírito criador e as normas gramaticais é que explica o fenômeno do estilo, na sua gêne- se mais profunda”� Portanto, o efeito estilístico resulta da singularidade, do desvio em relação ao padrão normativo e da escolha diante do sistema linguístico com finalidade expressiva. À luz da estilística genética, ou do indivíduo, as obras literárias podem ser examinadas do ponto de vista genético, partindo da seguinte indagação: por que motivo escreve o escritor? Predominante nos últimos séculos, essa visão sustenta-se em inúmeras respostas oferecidas pela filosofia ou metafísica: o escritor escreve para extrair o real absoluto, ou pela sociologia e psicologia: o homem escreve para ajudar aos outros homens a descre- 88 ver sua própria natureza, dentre outras áreas do conhecimento� Em síntese, todas essas e muitas outras respos- tas são válidas àqueles que buscam refletir sobre os porquês de uma determinada obra de arte� Entretanto, essa abordagem estilística não tem como premissa o ensino da escrita, ou mesmo uma orientação para formação de um estilo� Seu objetivo é fomentar a consciência sobre as inú- meras possibilidades de expressão da língua, em especial a língua portuguesa� Ainda sobre o estilo, Boaventura (2014, p. 230) afirma que: “O estilo é componente singularizante do discur-so, contribui para localizá-lo em um lugar único no mundo e para individualizar seu autor (���) procura a sua própria justificação, não no interior de um sistema, mas em uma realidade única e concreta, irrepetível, (���) o estilo impresso no texto contém em si um universo de tempo e de espaço, do local onde o texto foi escrito e do jeito da época, ou seja, da realidade única, concreta e irrepetível de que fala�” Construir um conceito uníssono sobre o que é estilo não se mostra uma tarefa fácil, tampouco restrita a uma única perspectiva� Todavia é pos-sível encontrarmos relativa estabilidade para a questão� Para tal, encerramos esse tópico com 99 o conceito proposto por Boaventura (2014), que nos parece oportuno e coerente dentro de uma concepção linguística quando afirma que “o estilo reside na apropriação do valor das palavras e na combinação entre elas para que se lhes imprima novos valores”, de forma individualizada, singular e irrepetível� 10 AS CORRENTES DA ESTILÍSTICA Conforme já estudamos, existe uma relação muito próxima entre a retórica e a estilística� Em verdade, a segunda é tributária dos conhecimentos da primeira quando o assunto é investigação estilística textual, valendo-se de seus sistemas e seus respectivos elementos� Em uma concepção atual, basicamente, temos duas grandes correntes da estilística� A linha estruturalista de Bally, que enfatiza a expressividade do próprio sistema linguístico, e a linha genética ou do autor, de Vossler e Leo Spitzer, cujo foco é a criação expressiva individual� A estilística da expressão ou descritiva estuda as relações da expressão com o pensamento� Do ponto de vista funcional, busca o entendimento sobre como a obra de arte impacta, age e atua sobre o leitor� É também denominada como a estilística dos efeitos e estabelece vínculo direto com os estudos semânticos� Do outro lado, concorre a estilística genética ou do autor, que propõe que toda obra pode ser exa- minada a partir de uma perspectiva genética, ou seja, do ponto de vista do autor e do que o motiva a produzir textos� Em suma, os estudos dos valo- res expressivos (sistemas linguísticos) e de seus 11 efeitos configuram o ponto de partida à crítica do estilo, além de apresentarem-se como maior tarefa do estilólogo, ou seja, o estudioso de estilística. Tais pressupostos desencadearam o surgimento de subdisciplinas que resultaram em categorias de estudo, conforme estudaremos a seguir� ESTILÍSTICA FONÉTICA OU FONOESTILÍSTICA A Estilística Fonética ou Fonoestilística, como é chamada, proposta inicialmente por Charles Bally com o nome de Fonética Expressiva, foi ampliada por Nikolai Trubetzkoy e posteriormente aperfeiço- ada por Karl Buhler, ao propor que em cada ato de fala existem traços que indicam: 1) quem fala, 2) em que tom fala e 3) qual é o seu objeto de fala. Em 1 e 2 encontramos traços que são objeto de estudo da Fonoestilística, que mais tarde ainda viria a se subdividir em estilística fonética e estilística fonológica� Pesquisadores como Jules Marouzeau, sucessor de Charles Bally, empenharam-se no estudo da qualidade e do valor dos sons da linguagem, sem estabelecer qualquer relação com o sentido das palavras nas quais se encontram� Essa perspectiva destaca três aspectos, inaugurando a estilística do suprassegmental: y O papel das entonações; 12 y O papel dos acentos; y O papel dos tons e das pausas� Esses elementos podem ser percebidos por meio de aliterações, coliterações, assonâncias e onoma- topeias e homoteleutos, figuras de linguagem que atuam na sonoridade da língua, causando efeitos expressivos diversos e ativando a percepção dos sons para aquilo que representam, para além do próprio significado. Considera-se que todas as dife- renças fonéticas perceptíveis ao ouvido corroboram um elemento de informação; seja ele um traço de sentido ou de estilo, pode indicar particularidades como classe social, estado emocional etc� ESTILÍSTICA COMPARADA A Estilística Comparada surge a partir do confronto de dois ou mais sistemas linguísticos� É conhecida como método de tradutores em razão dos contras- tes que estabelece e dos confrontos que permite realizar durante a atividade de tradução, a fim de encontrar-se correspondências de expressividade entre as línguas em questão� ESTILÍSTICA ESTRUTURAL A Estilística Estrutural é resultante das reflexões de Humboldt, pensador alemão da escola romântica� Para ele, cada sistema linguístico traz consigo uma visão de mundo particular e que não pode 13 ser transferida para outra língua com exatidão, apenas por meio de estruturas semelhantes que possam produzir algum sentido de equivalência� ESTILÍSTICA DIACRÔNICA A Estilística Diacrônica objetiva investigar as consequências tributadas à língua em razão da perda de recursos de expressividade, como o de- saparecimento de palavras e mudanças fonéticas e seus respectivos valores estilísticos em uma dada condição da língua� Tomemos como exemplo o português do Brasil do século 17 com relação ao momento atual� Aprofunde seus conhecimentos sobre as categorias de subdisciplinas da estilística em: www.filologia.org� Lá você poderá conhecer mais sobre essas e outras categorias como a estilística lexical e sintática� As contribuições de Ferdinand Saussure à criação de uma nova disciplina, através de seu discípulo Charles Bally, a Estilística da Língua ou da expressão, como também é conhecida, trouxe aos estudos lin- guísticos um campo investigativo capaz de revelar o estilo e suas implicações à construção do sentido� Permite também perceber as sutilezas e marcas de linguagem que evidenciam a originalidade de SAIBA MAIS http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-02.html 14 um determinado discurso, considerando questões relativas ao gênero e à esfera de produção� Sem qualquer desprestígio ou juízo de valor, nesse cenário destaca-se ainda a Estilística Genética ou do indivíduo, que, apesar de centrada nos textos literários, corrobora a percepção dos estilos, permi- tindo a identificação de atributos e características singulares de produtividade e discursividade, seja da perspectiva do escritor, seja da perspectiva do leitor� Nesse enfoque são valorizados aspectos estilísticos fonéticos, mórficos, sintáticos e semân- ticos que permitem reconhecer os traços estilísticos que compõem a escrita de um determinado autor� 1515 A MATÉRIA DA SEMÂNTICA: RELAÇÕES COM A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO A palavra semântica tem sua origem no grego, sēmantiká, plural neutro de semantikos, signifi- cativo/marcado, semainein, mostrar, derivado de sema, sinal, e/ou semîon, signo� Enquanto campo investigativo da Linguística, ocupa-se da análise da significação a partir do estudo dos signos linguísticos isolados ou combinados: grafemas, morfemas, léxicos, palavras, frases, enunciados e o próprio discurso� Nesse sentido, o objeto de estudo da Semântica é a menção das sentenças e das palavras isoladas de seu contexto� O uso de determinadas palavras e sentenças em um contexto específico e o sentido produzido por essas escolhas diante das circuns- tâncias é material investigativo da Pragmática� Para o semanticista, o ponto de partida para a significação repousa na relação dicotômica entre significado e significante. 1616 O objeto de estudo da Semântica e da Pragmática di- fere-se à mediada que para a Semântica o significado é imanente da língua, portanto do sistema linguístico (signo), enquanto para a Pragmática interessa o signi- ficado produzido em um determinado contexto diante de condições discursivas específicas. Segundo Saussure (2012, p�106), o signo linguístico não é uma coisa ou uma palavra, mas sim um con- ceito e uma imagem acústica; não sendo um som material, coisa física, mas a impressão psíquica desse som; uma representação de nossos senti- dos, uma imagem sensorial� À guisa de exemplo, quando observamos a nossa própria linguagem, podemos constatar que é possível sem mover os lábios ou a língua falar conosco ou mesmo recriar mentalmente um texto qualquer, conhecido ou não� Isso faz do signo linguístico “uma entidade psíquica de duas faces”: um significado e um significante. Assim, denominamos como tal a combinação entre um conceito e uma imagem acústica. Vejamos a representação na figura a seguir: FIQUE ATENTO 1717 Figura 1: Significado e Significante CONCEITO / SIGNIFICADO IMAGEM ACÚSTICA / SIGNIFICANTE CARRO Fonte: Elaboração própria� Observe que a imagem acústica é representada a partirda palavra carro, que contém o material fonético e gráfico capaz de representar o conceito abstrato amalgamado à representação linguística do significante. Após compreender a natureza psíquica da língua, é possível concluir que: a união entre o significante e o significado é um processo arbitrário� Ou seja, não há uma relação lógica comprovada de que a imagem acústica representa o conceito por analogia, associação ou mesmo contiguidade� A significação é fruto do convencionalismo social pactuado e constituído, no e pelo uso da linguagem� Isso quer dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não possui qualquer vínculo natural� O significante, por ser de natureza auditiva, de- senvolve-se unicamente no tempo� Ele representa uma extensão da percepção psíquica e como tal 1818 é mensurável em uma única dimensão, portanto é linear� Aqui estão descritos os dois princípios do signo linguístico apresentados por Saussure: a arbitrariedade e a linearidade� Assim sendo, a matéria da Semântica é o significado, que entendemos como uma entidade meramente conceitual, que como tal pode ser contestada e alterada indiferentemente a respeito da imutabi- lidade do significante, já que entre ambos não há nexo causal, apenas convencionalismo� Em outras palavras, o significado é volátil e adap- tável em seu processo de produção, sobretudo é suscetível à ação do tempo e do espaço� Está unido a uma imagem acústica por meio de expe- riências compartilhadas entre os falantes de uma determinada língua, que selam e pactuam sua representatividade através da linguagem� 19 SIGNIFICAÇÃO: PROCESSO SEMÂNTICO E RELAÇÕES ESTILÍSTICAS Segundo Cançado (2012), todas as línguas estão condicionadas à existência de palavras e de sen- tenças revestidas de significado. Tanto as palavras como as sentenças estão convencionalmente associadas a, no mínimo, um significado. Por isso, a Semântica enquanto teoria precisa ser capaz de verificar e descrever o significado, ou significados, de palavras e sentenças de uma determinada língua� Todas as línguas permitem a partir do seu siste- ma de signos a organização de sentenças, cujo significado depende das palavras empregadas na estruturação do conjunto sintagmático. Contudo, é importante que se perceba que tal procedimento não pode ser interpretado como um simples pro- cesso de acumulação (CANÇADO, 2012)� É nesse ponto que a Semântica e a Estilística corroboram entre si seus compostos teóricos e metodológicos para a significação. Uma teoria semântica possui não apenas a tarefa de explicar o significado das palavras enquanto unidades mí- nimas da composição de uma frase, mas também investigar a combinação algorítmica que permite a construção e o processo de significação de uma 20 determinada sentença� Ao passo que uma teoria estilística fornece a compreensão sobre o estilo e o efeito de sentidos produzidos a partir do material linguístico à disposição do falante� Enquanto falantes de uma determinada língua, fazemos uso da linguagem para exteriorizar e compartilhar ideias, pensamentos e sentimentos, que emanam da correspondência que existe entre estes� Ao selecionar uma determinada palavra em detrimento de outra, ou mesmo ao estabelecer relações entre palavras que não sejam saturadas, o usuário da língua não só produz novos sentidos como também inaugura um estilo próprio para se expressar� A estilística contribui à produção de sentidos que são percebidos pelo leitor/ enunciatário que, apesar de reconhecer as palavras e o significado semântico atrelado a elas, depara-se com um novo arranjo dos componentes de um determinado sin- tagma, ou mesmo com uma entonação diferente da convencional, que, por conseguinte, gera um novo efeito de sentido peculiar, fazendo do estilo um componente singularizante do discurso� De acordo com Cançado (2012, p 23), os falantes de uma língua possuem a capacidade de intuir so- bre a propriedade de uma palavra e das sentenças que se formam a partir da relação entre palavras e 21 sentenças. Exemplo: ao conhecer o significado de uma sentença, de forma intuitiva, o falante poderá intuitivamente deduzir o valor de verdade de outras com base na primeira, refletindo o conhecimento semântico do falante� Ainda poderá reconhecer construções significativas, todavia desconhecidas e singulares, que geram novas sensações e efeitos de sentido em razão do estilo que fora empregado em sua construção� Os processos composicionais e de expressividade da língua revelam a natureza flexível e adaptativa da linguagem, bem como o estilo daquele que dela faz uso, a fim de produzir os efeitos de sentido pretendidos� O ato de interpretar está fundamen- tado na capacidade de criar relações de sentido entre os signos linguísticos e suas propriedades significativas organizadas pelo estilo e as intenções comunicativas do usuário� 2222 EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS SEMÂNTICOS: DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA À ATUALIDADE Como em outros campos das Ciências Humanas, a Semântica não possui uma única vertente, seus fundamentos teóricos e conceituais repousam sobre diferentes linhas de pesquisa e bases epis- temológicas, que ora se excluem mutuamente, ora convergem e contingenciam-se na troca de material, taxonomias e peculiaridades� Cabe destacarmos que Aristóteles (Estagira, 384 – Atenas, 322 a�C�), considerado um dos respon- sáveis pela organização do conjunto teórico e por elevar a Retórica ao status de ciência da linguagem e do discurso, herdou de seu mestre, Platão, um ensinamento sobre o Crátilo. Um debate entre um naturalista e um realista mediado por Sócrates, a respeito da origem dos nomes e das palavras� O naturalista acreditava que as palavras surgiam por si só em razão da necessidade de expressar determinada ideia, não havendo necessária relação entre ela e seu representante� O realista concordava que as palavras nasciam em razão da necessária expressão e nominação do mundo e do que nele está contido� Contudo, defendia que os signos 2323 estabelecem uma relação direta com o objeto re- presentado, seja por associação, semelhança ou aproximação conceitual percebida� Procurado para opinar sobre o dilema em questão, Sócrates disse que ambos estavam certos e errados ao mesmo tempo, mas que a junção das hipóteses continha a chave da porta onde repousa a resposta� Crátilo (do grego antigo Kratulos): diálogo platônico no qual Sócrates, seu mestre, é questionado por dois homens, Crátilo e Hermógenes, sobre a origem dos nomes à luz de duas reflexões: “convencionais” ou “naturais”, isto é, se a linguagem é um sistema de símbolos arbitrários ou se as palavras possuem uma relação intrínseca com as coisas que elas significam. Esse texto tornou-se uma referência filosófica no período clássico por conter estudos sobre Etimologia e Linguística� SEDLEY, D� Plato’s Cratylus� Cambridge: Cambridge University Press, 2003. pp. 22-23. Aristóteles concluiu que o signo é uma espécie de conector das representações intrínsecas e extrínsecas entre os seres e o meio, fazendo da linguagem um composto de sons aleatórios e arbitrários, organizados em conjunto convencio- nalmente significativo. Esse posicionamento o aproxima do convencionalismo e manifesta sua SAIBA MAIS 2424 crença no caráter político e social da linguagem (FRANÇA, 2015, p�64)� No final do século 19, foram estabelecidos por Michel Bréal, filólogo francês, os princípios de uma semântica diacrônica cuja finalidade era estudar a semiose das palavras, visando a observar os mecanismos que regem essas transmutações� No início do século seguinte, uma semântica voltada à descrição sincrônica dos significados emerge objetivando delimitar e analisar os campos se- mânticos� Segundo Fiorin (2008), tratava-se de uma abordagem taxonômica fundada em critérios imanentes da linguagem, em seus aspectos asso- ciacionistas com vista à investigação do conteúdo, ou seja, do significado.No ano de 1957, Hjelmslev apresenta as bases para uma semântica estrutural, sob o argumento de que tanto a fonologia quanto a gramática apresentam o discurso e não uma ruptura com o campo de investigação do sentido. O objetivo da semântica estrutural é desenvolver uma investigação imanen- te, sem categorias de significado fundamentadas em qualquer classificação extralinguística. Nesse instante passam a concorrer duas perspectivas semânticas: estrutural diacrônica e estrutural contrastiva, cujo escopo era o léxico. 2525 O léxico é um inventário aberto de possibilidades infinitas de expansão. Os componentes de classe plástica do léxico como substantivos, verbo, ad- jetivo e advérbio nominal constituem o aspecto biossocial da língua, quando nomeia as coisas e atribui qualidade e caracterização às palavras e ao que representam� Embora o sistema grama- tical seja conservador e fechado para expansão, o conjunto lexical de uma língua está sempre em constante mutação, tornando, inclusive, impossível ao falante de uma determinada língua o domínio integral desse acervo� Figura 2: Campo semântico e constelação lexical� LIVREIRO LIVRARIA LIVRAR COMPUTADOR ALUNOS ESTUDAR ESTUDANTE ESTUDADO ESTUDIOSOESTUDO PESQUISA PESQUISAR PESQUISADOR PESQUISADO ESCOLA LIVROS LABORATÓRIO AULAS PROFESSOR INTERVALO LIBERTAR Fonte: Elaboração própria� Segundo França (2009), para além da Semântica enquanto disciplina da Linguística, focada na busca do sentido a partir do léxico, é necessário conside- 2626 rarmos a existência de um contexto sociocultural que fomenta a dinâmica lexical, operacionalizando a criação de neologismos, empréstimos linguísti- cos, expressões idiomáticas etc�, por meio de um processo de concepção que decorre da atividade cognitiva, resultando na concretude da palavra� Nas instâncias extralinguísticas, o político, o social e o cultural são exteriorizados, desnudados por meio das respectivas escolhas lexicais que o usuário da língua faz desse sistema sígnico, cuja natureza é ideológica e, portanto, admite significados que reportam a algo para além de si mesmo, durante um processo dialógico discursivo em uma dada situação enunciativa� Dentre as diversas escolas de estudos semân- ticos, podem ser destacadas entre as principais correntes as abordagens estruturais, de Saussure e Hjelmslev, denominada como semântica lógica ou da palavra isolada, a contextual, de Pottier, a contexto-situacional, de Ducrot, e a transforma- cional, de Chomsky (FRANÇA, 2009)� A ESCOLA ESTRUTURALISTA A semântica estrutural desenvolveu-se baseada nos moldes analíticos e discricionários da fonologia e da sintaxe. Em seu escopo está um conjunto de categorias e classificações semânticas que limi- tam a construção de sentido à análise do léxico, 2727 desconsiderando os elementos extralinguísticos como unidades de sentido� A frase é entendida como uma segmentação ló- gica, ao passo que o período como uma fisiologia emocional� A dicotomia saussuriana sobre os eixos paradigmático e sintagmático contribui para a re- lação entre as escolhas lexicais e a organização lógica constituída na construção do sentido durante a operacionalização do sistema linguístico� Em suma, a língua é concebida como um sistema arbitrário de signos à disposição do falante, mate- rializando as intenções comunicativas do usuário à medida que ele opta por uma determinada lógica estruturante, entre as diversas possibilidades para- digmaticamente pré-estabelecidas à organização do conjunto sintagmático. Assim, o significado, apesar de atrelado ao léxico (palavra/signo), ver- dadeiramente, emana da conjectura organizacional em que está inserido, conforme ilustra o exemplo a seguir: Figura 3: Conjectura organizacional do sentido. Exemplo 1: Exemplo 2: Além de bela, Joana é uma grande pessoa� ADJETIVO SUBSTANTIVO ADJETIVOSUBSTANTIVO Além de bela, Joana é uma pessoa grande� Fonte: Elaboração própria� 2828 No exemplo 1, podemos afirmar que Joana é uma pessoa dotada de qualidades e predicativos nobres, pois o adjetivo está anteposto ao substantivo. Já no exemplo 2, com o adjetivo posposto ao subs- tantivo, observa-se que o sentido é de que Joana é uma mulher de grandes dimensões� Há uma outra linha de produção de sentido que demandará outras pistas linguísticas para significação. Ambos os exemplos corroboram o entendimento de que a semântica estrutural para a construção de sentido vale-se de uma análise morfossintática na qual a classe e a função dos sintagmas, quando realocadas na estrutura paradigmática, resultam em projeções significativas distintas, relativizando o significado contido no signo linguístico. A SEMÂNTICA LÓGICA Baseado no pensamento socrático e platônico, Aristóteles inaugura a Lógica enquanto ciência, tendo por essência os seguintes estudos: y As definições universais usadas por Sócrates (469-399 a�C�); y O uso da redução ao absurdo de Zenão de Eleia (490-420 a�C�); y A estrutura proposicional e negação de Par- mênides (515-445 a�C�) e Platão (428-347 a�C�); y As técnicas argumentativas encontradas no raciocínio legal e provas geométricas� 2929 Denominado como órganon, o conjunto lógico aristotélico constitui o alicerce dos princípios da semântica lógica, na qual afirma-se que uma pro- posição é constituída a partir da junção de dois termos da oração: um sujeito e um predicado, cuja representação se dá, gramaticalmente, através de um substantivo� Ao aplicar a teoria de oposição e conversão, Aristóteles investigava as relações entre duas proposições contendo os mesmos termos, o que resultou em uma de suas maiores contribui- ções aos estudos deste campo, as proposições combinatórias conhecidas como silogismos� Órganon: do grego organikos, relativo ou pertencente a um órgão/instrumento relacionado a ergon, trabalho� Conjunto de seis obras aristotélicas. Disponível em: origemdapalavra�com�br� A seguir, analisemos as proposições à luz dos prin- cípios da oposição/conversão e sujeito/predicado: SAIBA MAIS https://origemdapalavra.com.br/site/palavras/inorganico/ 3030 Figura 4: Proposições de verdade� Todas as mulheres dão a vida pelos filhos = premissa maior Simone é uma mulher = portanto / logo = logicamente Simone dá a vida pelos filhos = premissa menor Por quê? Porque todas as mulheres dão a vida pelos filhos, logo, se, e somente se, Simone for mulher, ela também dará a vida pelos filhos� Fonte: Elaboração própria� Com base nos princípios destacados, pode-se inferir que a terceira proposição é verdadeira dado que está fundamentada na premissa maior por contingência (Todas as mulheres / Simone é parte do todo porque é da mesma espécie – metonímia) do sujeito e pelo jogo de oposições e conversões dos predicativos (mulheres dão a vida pelos filhos / Simone é mulher; então dá a vida)� Resumindo, a semântica lógica tem por objetivo codificar o entendimento sobre a linguagem de forma racional em um único sistema� Até o ad- vento da semântica moderna, especialmente a da palavra, fundada pelo linguista alemão Jost Trier (1894-1970), o órganon era a única base da lógica hermenêutica� Com o surgimento de novos estudos que apresentavam questões de generali- dades múltiplas, o modelo aristotélico mostrou-se pouco eficaz, dando início a diferentes abordagens 3131 fundamentadas nesses preceitos nucleares� Como exemplo destacam-se a teoria da semântica da verdade, diálogo dos jogos e a probabilística. A SEMÂNTICA CONTEXTUAL OU COMPOSICIONAL Inaugurada pelo pesquisador francês Bernard Pottier (1924), a semântica contextual e/ou composicional estuda a linguagem enquanto meio de comunica- ção, analisando as palavras em consonância com o contexto particular no qual se dá o processo comunicativo� Em tese, defende a ideia de que o significado não é determinado apenas pelos seus aspectos elementares contidos em sua natureza sígnica, mas em um processo analítico concomi- tante ao uso da linguagem por partedos sujeitos em um determinado cenário, no qual diferentes domínios da significação se evidenciam nos atos de fala, contingenciando outro domínio dos estu- dos linguísticos denominado como pragmática� Os manuais didáticos de ensino de Língua Portu- guesa apresentam tópicos de estudos semânti- cos relativos à denotação/conotação, sinonímia, antonímia, homonímias, parônimas, hiperonímias/ hiponímias e polissemia, entre outros, destacando que as relações de significação, bem como os tipos de funções oriundas das interações entre elemen- tos/elementos, elementos/conjuntos, conjuntos/ 3232 conjuntos, constituem nexo entre o composto significante (expressão) e o significado (conteúdo) do sistema lexical de uma língua (FRANÇA, 2009)� Em síntese, o significado conceitual está atrelado a dois princípios linguísticos: o da descrição dos signos (contrastividade) e o da estrutura, ou seja, fundamentado na dicotomia saussuriana – paradig- ma e sintagma; ao passo que o significado temá- tico está associado à organização da mensagem, levando em consideração a ordem, foco e ênfase� SEMÂNTICA CONTEXTUAL- SITUACIONAL Fundada por Oswald Ducrot, repousa sobre o prin- cípio de que a argumentação é o fator essencial para a construção do sentido, que na língua é manifestado por meio dos enunciados� Assim, a enunciação é concebida como um acontecimento que se manifesta historicamente no gradiente do tempo/espaço, um evento que marca o próprio enunciado, fazendo com que a situação se torne resultado do processo enunciativo� Contrária à semântica estruturalista, que descon- sidera o contexto por se tratar de componente extralinguístico, a semântica contextual-situacional considera-o como elemento linguístico sob o enten- dimento de que, linguisticamente, não há contexto sem texto e vice-versa� Na perspectiva ducrotiana, 3333 a subjetividade do “eu” integra a linguagem na construção do processo interpretativo, uma vez que o locutor se posiciona ideologicamente a partir do discurso, por conseguinte, a argumentação é ma- nifestada nas relações subjetivas e intersubjetivas, da qual extrai-se o substrato da ação enunciativa da linguagem, ou seja, as intenções marcadas nos pressupostos e subentendidos� Segundo destacou Koch (2011, p� 61), ao revisar, ou melhor, apresentar uma autocrítica sobre a oposição que estabeleceu entre pressuposto e subentendido, Ducrot apresentou algumas con- venções sobre as seguintes terminologias: frase, enunciado, significação, sentido e enunciação: y Frase: entidade abstrata suscetível de uma infinidade de realizações particulares; y Enunciado: realizações abstratas particulares oriundas das frases; y Significação: descrição semântica que se dá a uma frase; y Sentido: descrição semântica que se dá a um enunciado; y Enunciação: evento constituído a partir da produção de um enunciado� Somado ao conceito de polifonia, um dos principais pontos da teoria de Ducrot, por conseguinte da semântica contextual-situacional, está a questão 3434 revisada sobre pressuposto e subentendido, que estabeleceu a significação da frase como proprie- dade do pressuposto, enquanto o subentendido está relacionado ao enunciado e à interpretação que dele se dá, convencionalizando, portanto, uma distinção entre ambos, sobretudo a distinção entre duas instâncias semânticas: a da significação da frase e do sentido do enunciado, evidenciando a relevância dessa vertente semântica para as ciên- cias recorrentes da interpretação (KOCH, 2011)� Apesar de Ducrot ter mantido o princípio estrutu- ralista em sua teoria semântica argumentativa, ratificou o fato de que o sentido de uma entidade linguística está na relação entre os elementos do sistema, motivo pelo qual o sentido de um enun- ciado deve ser analisado em conformidade com os encadeamentos discursivos em que ocorre a argumentação, cuja natureza pode ser fragmentada em duas partes: retórica e linguística, articuladas de forma interdependente� SEMÂNTICA TRANSFORMACIONAL Considerado um dos principais nomes da Lin- guística do século 20, Noam Chomsky é um dos cofundadores da ciência cognitiva e o proponente de uma das mais polêmicas teorias filosóficas da linguagem, denominada como semântica da lin- 3535 guagem natural, cuja essência nunca fora aceita pelas correntes dominantes da área� Ao propor uma abordagem internalista para o es- tudo da linguagem, enfrentou grande resistência dos linguistas externalistas, que defendiam a ideia de que todos os fatos semânticos devem ser ex- plicados a partir das interações entre os usuários da língua em um determinado contexto de práticas sociais, sem considerar, todavia, os processos mentais que operacionalizam a linguagem� As bases internalistas da linguística chomskyana fundamentam-se nos respectivos argumentos: y A primeira língua de um falante é aprendida naturalmente, não havendo necessidade de ser ensinada; y Há semelhança entre os erros cometidos pe- los aprendizes de uma língua nas mais diferentes culturas; y É fato que os aprendizes desenvolvem uma determinada competência linguística mínima em um espaço de tempo relativamente semelhante; y Frente à complexidade das estruturas das línguas naturais, o estímulo linguístico recebido é limitado, não explicando a riqueza da linguagem apresentada em poucos anos de vida� Apoiado em tais argumentos, Chomsky defen- de a tese de que as estruturas elementares da 3636 linguagem estão assentadas em nosso aparato cognitivo, motivo pelo qual o filósofo propõe o nativismo linguístico, baseado na presunção de que possuímos uma gramática universal inata, que possibilita aprender uma determinada língua� Nessa perspectiva, infere-se que a mente é um composto dividido em diferentes setores e/ou áreas interligados que se responsabilizam por atividades díspares, sendo a faculdade da lingua- gem (denominação chomskyana) a responsável por executar e gerenciar tarefas como a de for- mulação e interpretação de fonemas, compostos semânticos e estruturas gramaticais das mais simples às complexas� Segundo Chomsky (2000), nascemos dotados desse complexo sistema linguístico, tornamo-nos aptos a aprendê-lo e desenvolvê-lo, ratificando a tese da existência de uma gramática universal que rege as línguas naturais� Isso possibilita que diferentes indivíduos as aprendam, uma vez que em um nível elementar todas as línguas estão alicerçadas sobre o mesmo princípio: o da faculdade da linguagem, que pressupõe e operacionaliza esse compêndio, permitindo ao usuário modelar as formas que a linguagem pode contemplar� Esse pensamento chomskyano culmina na rejei- ção das teses de que a linguagem é um construto 3737 público, uma propriedade de comunidade e que as expressões da linguagem denotam coisas do mundo, renunciando, portanto, à teoria de que a publicidade da linguagem ou dos significados condiciona os eventos comunicativos entre os indivíduos� Para Chomsky (2000), geramos os nossos próprios significados e consentimos que os significados dos demais são como os nossos� Resumindo, co- municamos aos outros os sentidos cunhados em nossas próprias mentes, motivo pelo qual chega-se ao entendimento de que a linguagem não é usada para representar o mundo, e sim para exteriorizar nossas representações internas e interpretar as pertencentes às outras pessoas durante o processo comunicativo� A compreensão do funcionamento da linguagem natural pressupõe, basicamente, que as palavras possuem aspectos de duas naturezas: fonéticas (som) e semânticas (significado), cujo papel é materializar e compartilhar as representações de um indivíduo com outro (os), pois a mente humana é dotada de algoritmos que codificam e decodi- ficam as possibilidades semânticas da palavra, desencadeando as ações relativas ao objetivo comunicacional� 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS O universo de estudos semânticos e estilísticos é vasto e desafiador. À disposição de semanticistas e estilólogos háum amplo arsenal teórico e meto- dológico a serviço da busca pelo significado e dos efeitos de sentidos produzidos pelos diferentes estilos e usos da linguagem� Da estilística da expressão ou descritiva à genéti- ca ou do indivíduo, nota-se que o efeito estilístico resulta da singularidade, do desvio em relação ao padrão normativo e da escolha diante do sistema linguístico com finalidade expressiva. Entender como o texto age sobre o leitor, ou mesmo por que é produzido são questões que norteiam as duas principais escolas de estudos estilísticos e contribuem para o amadurecimento da capacidade interpretativa e produtiva� O domínio sobre os aspectos fonéticos, sintáticos e semânticos do sistema linguístico possibilita ao falante fazer escolhas conscientes e significativas a fim de que possa produzir os efeitos de sentidos pretendidos, tornando o seu discurso original, en- volvente, convincente e persuasivo� Nesse sentido, a semântica contribui à estilística for- necendo a compreensão sobre o material linguístico e seus processos composicionais propulsores da 39 significação e da expressividade do estilo. Escolas semânticas como a estruturalista, lógica, compo- sicional, contextual-situacional e transformacional afinam-se a vertentes estilísticas que se valem dos mesmos valores epistemológicos, tornando fluido e convergente os estudos linguísticos de natureza associativa entre esses dois campos� Em suma, o estudo da semântica associado à estilística proporciona uma visão multifacetária da noção de significado e de processos de sig- nificação, tributária ao estilo e a suas marcas de expressividade� Os saberes resultantes dessa combinação amplificam não só as capacidades de interpretação e produção textual, mas também desnudam o olhar sobre a realidade e as sensações oriundas dela� Referências Bibliográficas & Consultadas ALMEIDA, K� M� P� de� Por uma semântica profunda: arte, cultura e história no pensamento de Franz Boas� Mana, Rio de Janeiro, v� 4, n� 2, pp� 7-34, out� 1998� Disponível em: http://www�scielo�br/scielo�php?script=sci_ arttext&pid=S0104-93131998000200001&Ing=e n&nrm=iso� BOAVENTURA, L. H.; FREITAS, E. C. de. O estilo como elemento ligamentar entre stand-up comedy e Literatura� Intercom� Rev� Bras� Ciênc� Comum� São Paulo, v� 37, n� 2, p� 223-240, dez� 2014� Disponível em: http://www�scielo� br/scielo�php?script=sci_arttext&pid=S1809- 58442014000200223&lng=en&nrm=i so� CANÇADO, M� Manual de semântica: noções básicas e exercícios� São Paulo: Contexto, 2012� [Biblioteca Virtual]� CARVALHO, C� A estilística e o ensino de português� In: VIII Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro, ago� 2004� Anais eletrônicos... Rio de Janeiro: UFTJ/ABF, 2004� Disponível em: http://www.filologia.org.br/ http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131998000200001&Ing=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131998000200001&Ing=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131998000200001&Ing=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-58442014000200223&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-58442014000200223&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-58442014000200223&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-58442014000200223&lng=en&nrm=iso http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-02.html viiicnlf/anais/caderno12-02�html� Acesso em: 6 out� 2020� CARVALHO, C� de� Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo e temas� São Paulo: Editora Lexikon, 2010� [Biblioteca Virtual]� CHOMSKY, N� New horizons in the study of language and mind� Cambridge: Cambridge University Press, 2000. Disponível em: https://academiaanalitica.files.wordpress. com/2016/10/noam-chomsky-new-horizons-in- the-study-of-language-and-mind�pdf� Acesso em: 9 set� 2020� FIORIN, J� L� Em busca do sentido: estudos discursivos� São Paulo: Contexto, 2008� FRANÇA� J� M� A semântica e o ensino de língua materna: da necessidade de subsídios teórico para o professor� Linguagem, ed� 6, mar� 2009� Disponível em: http://www�letras�ufscar�br/ linguasagem/edicao06/reflexoes_en_li_franca. php. Acesso em: 26 jan. 2018. FRANÇA, M� M� Retórica e discurso publicitário digital: Semiose da Trilogia Éthos, Lógos & Páthos� 2015� 226 f� Tese (Doutorado em Linguística) – Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, Faculdade de Filosofia, Letras e http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-02.html https://academiaanalitica.files.wordpress.com/2016/10/noam-chomsky-new-horizons-in-the-study-of-language-and-mind.pdf https://academiaanalitica.files.wordpress.com/2016/10/noam-chomsky-new-horizons-in-the-study-of-language-and-mind.pdf https://academiaanalitica.files.wordpress.com/2016/10/noam-chomsky-new-horizons-in-the-study-of-language-and-mind.pdf http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao06/reflexoes_en_li_franca.php http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao06/reflexoes_en_li_franca.php http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao06/reflexoes_en_li_franca.php Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015� KOCH, I� G� V� Argumentação e Linguagem� 13� ed� São Paulo: Cortez, 2011� MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão� São Paulo: Parábola Editorial� 2008� [Biblioteca Virtual]� PERISSÉ, G� A arte da palavra: como criar um estilo pessoal na comunicação escrita� Barueri: Manole, 2002� [Biblioteca Virtual]� PERISSÉ, G� Ler, pensar e escrever� São Paulo: Arte&Ciência, 1996� [Minha Biblioteca]� SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral� 28� ed� São Paulo: Cultrix, 2012� SOARES, L� A�; IKEDA, S� N� Os processos metonímicos em publicidade verbo-visual sob enfoque da linguística crítica e da multimodalidade� Trab� linguist� apl�, Campinas, v� 59� n� 1, p� 777-806, abril� 2020� Disponível em: http://scielo�br/scielo�php?script=sci_ arttext&pid=S0103-18132020000100777&Ing=e n&nrm=iso� WACHOWICZ, T� C� Análise linguística nos gêneros textuais� Curitiba: InterSaberes, 2012� [Biblioteca Virtual]� http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132020000100777&Ing=en&nrm=iso http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132020000100777&Ing=en&nrm=iso http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132020000100777&Ing=en&nrm=iso Introdução Conceito de estilo: o estilo na linguística As correntes da estilística Estilística Fonética ou Fonoestilística Estilística Comparada Estilística Estrutural Estilística Diacrônica A matéria da Semântica: relações com a produção de significado Significação: processo semântico e relações estilísticas Evolução dos estudos semânticos: da Antiguidade Clássica à atualidade A Escola Estruturalista A Semântica Lógica A Semântica Contextual ou Composicional Semântica Contextual-Situacional Semântica Transformacional Considerações finais Referências Bibliográficas & Consultadas
Compartilhar