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Formação Sociocultural (NOVA VERSÃO) - UniFatecie

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Prévia do material em texto

Formação
Sociocultural
Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá KojoProfessor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo
Professor Esp. Paulino Augusto Peres de SouzaProfessor Esp. Paulino Augusto Peres de Souza
Professor Me. Paulo Vitor Palma NavasconiProfessor Me. Paulo Vitor Palma Navasconi
EduFatecie
E D I T O R A
Reitor
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino 
Prof. Ms. Daniel de Lima
Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz 
Campano Santini
Diretor Administrativo 
Prof. Ms. Renato Valença Correia
Secretário Acadêmico 
Tiago Pereira da Silva
Coord. de Ensino, Pesquisa e 
Extensão - CONPEX
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
Coordenação Adjunta de Ensino 
Prof.ª Dra. Nelma Sgarbosa 
Roman de Araújo
Coordenação Adjunta de 
Pesquisa 
Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme
Coordenação Adjunta de 
Extensão 
Prof. Esp. Heider Jeferson 
Gonçalves 
Coordenador NEAD - Núcleo de 
Educação a Distância 
Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
Web Designer
Thiago Azenha
Revisão Textual
Kauê Berto
Projeto Gráfico, Design
e Diagramação
André Dudatt
UNIFATECIE Unidade 1 
Rua Getúlio Vargas, 333, 
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 2 
Rua Candido Berthier Fortes, 
2177, Centro Paranavaí-PR 
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 3 
Rua Pernambuco, 1.169, 
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4 
BR-376 , km 102, 
Saída para Nova Londrina 
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
www.unifatecie.edu.br/site/
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir do 
site ShutterStock
https://orcid.org/0000-0001-5409-4194
2021 by Editora EduFatecie 
Copyright do Texto © 2021 Os autores 
Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva 
dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido 
o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a 
possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
EQUIPE EXECUTIVA
Editora-Chefe 
Prof.ª Dra. Denise 
Kloeckner Sbardeloto
Editor-Adjunto 
Prof. Dr. Flávio Ricardo 
Guilherme
Assessoria Jurídica 
Prof.ª Dra. Letícia 
Baptista Rosa
Ficha Catalográfica 
Tatiane Viturino de 
Oliveira
Zineide Pereira dos 
Santos
Revisão Ortográ-
fica e Gramatical
Prof.ª Esp. Bruna 
Tavares Fernades
Secretária
Geovana Agostinho 
Daminelli
Setor Técnico 
Fernando dos Santos 
Barbosa
Projeto Gráfico, 
Design e 
Diagramação
André Dudatt
www.unifatecie.edu.br/
editora-edufatecie
edufatecie@fatecie.edu.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
K79f Kojo, Cleber Henrique Sanitá 
 Formação sociocultural / Cleber Henrique Sanitá Kojo, 
 Paulino Augusto Peres de Souza, Paulo Vitor Palma Navasconi. Paranavaí: 
EduFatecie, 2021. 
 109 p. : il. Color. 
 ISBN 978-65-87911-29-8 
1. Negros – Identidades raciais - Brasil. 2. Indígenas da América do Sul – 
Usos e costumes. 3. Identidade de gêneros. I. Souza, Paulino Augusto Peres 
de. II. Navasconi, Paulo Vitor Palma
III. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie.
IV. Núcleo de Educação a Distância. V. Título. CDD : 23 ed. 301 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
https://doi.org/10.33872/edufatecie.formsociocultural.2019
AUTORES
Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo
●	 Mestrando	em	Ensino	Profissionalizante	de	História	pela	UNESPAR	-	Campo		
	 Mourão/PR
●	 Professor	na	Escola	Fatecie	Max	(séries	finais	do	Ensino	Fundamental).
●	 Professor	no	Colégio	Fatecie	Premium	(Ensino	Médio).
●	 Professor	de	Sociedade	e	Cultura	na	UniFatecie	no	curso	de	Ciências	Contábeis.
●	 Professor	formador	e	conteudista	no	EAD	UniFatecie
●	 Tutor	do	EAD	UniFatecie.
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
●	 Graduado	em	História	pela	UNESPAR	(Universidade	Estadual	do	Paraná)	cam	
	 pus	de	Paranavaí/PR.
●	 Especialista	em	Didática	e	Tecnologia	na	Educação	pela	FATECIE	(Faculdade		
	 de	Ciências	e	Tecnologia	do	Norte	do	Paraná).
●	 Mestrando	em	Ensino	Profissionalizante	de	História	pela	UNESPAR	-	Campo		
	 Mourão/PR
●	 Professor	na	Escola	Fatecie	Max	(séries	finais	do	Ensino	Fundamental).
●	 Professor	no	Colégio	Fatecie	Premium	(Ensino	Médio).
Professor Me. Paulo Vitor Palma Navasconi
Psicólogo,	membro	do	coletivo	Yalodê-Badá	e	do	Núcleo	de	Estudos	Interdisciplinar	
Afro-Brasileiro	da	UEM	(NEIAB).	Ex	Coordenador	estadual	da	cadeira	LGBT	do	Fórum	Pa-
ranaense	de	Juventude	Negra.	Graduado	pela	Universidade	Estadual	de	Maringá	(UEM)	no	
ano	de	2015.	Mestre	pela	Universidade	Estadual	de	Maringá.	Doutorando	em	Subjetividade	
e	práticas	sociais	na	contemporaneidade	na	Universidade	Estadual	de	Maringá.	Membro	
do	grupo	de	pesquisa	em	sexualidade,	saúde	e	política.	Membro	da	Comissão	de	Direitos	
Humanos	do	Conselho	Regional	de	Psicologia	(Sede	Paraná	08).	Professor	em	Psicologia	
na	Faculdade	Cidade	Verde	(FCV)	na	cidade	de	Maringá.	Atualmente	dedica-se	a	estudos	
relacionados	à	raça,	gênero,	genocídio	da	população	negra,	história	da	Psicologia	e	com-
portamento	suicida.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo(a)!
Sejam	 bem-vindos	 ao	 nosso	 curso	 de	 Formação	Sociocultural.	A	 partir	 de	 ago-
ra	partimos	para	uma	viagem	ao	 tempo	para	buscar	nas	nossas	experiências	históricas	
algumas	explicações	para	o	que	ocorre	no	Brasil	contemporâneo	e	claro,	olhar	para	um	
horizonte	futurístico	e	depositar	nele	nossa	aprendizagem	como	uma	forma	de	expectativa.
Em	nossa	viagem	ao	passado	em	busca	desses	espaços	de	experiências	do	Brasil	
e	consequentemente,	de	nós	mesmos,	primeiro	iremos	compreender	que	durante	toda	a	
nossa	história	os	detentores	do	poder	no	nosso	país	criaram	mecanismos	para	manutenção	
de	seu	próprio	poder,	mantendo	nas	camadas	mais	baixas	a	população	indígena,	a	branca	
mais	empobrecida	e	claro,	a	população	negra.	Em	seguida,	você	entenderá	como	funcio-
nou	a	escravidão	no	mundo	em	vários	períodos	históricos	para	após	compreender	como	
foi	a	escravidão	moderna	no	Oceano	Atlântico.	Também	compreenderá	como	era	a	vida	
do	africano	no	Brasil	através	da	biografia	de	um	ex-escravizado	chamado	Mahommah	G.	
Baquaqua	e	por	fim,	entenderá	como	esses	escravizados	no	Brasil	resistiam	à	escravidão	
para	então	ter	contato	com	o	maior	exemplo	de	resistência	negra	no	Brasil,	o	quilombo	dos	
Palmares.
Nas	Unidades	 III	 e	 IV	 retomaremos	o	 fascínio	 sobre	o	assunto	desta	disciplina,	
observando,	lendo	ou	estudando	as	unidades	I	e	II,	pois	é	o	início	de	um	grande	desafio	em	
que	vamos	triunfar	juntos.	Proponho,	uma	construção	conjunta	sobre	a	História	e	Cultura	
dos	primeiros	moradores	desse	“Gigante	pela	própria	natureza”,	nossa	querida	terra,	uma	
terra	próspera,	cheia	de	riquezas	naturais	e	tão	diversificada	culturalmente,	fazendo	assim	
uma	viagem	temporal,	desde	a	descoberta	do	Brasil	até	a	atualidade.	Vamos	explorar	a	Lei	
11.645/2008,	 complementando	a	 Lei	 10.639/2003	apresentada	nos	 capítulos	 anteriores.	
Vale	ressaltar	que	iremos	verificar	a	visão	eurocêntrica	e	os	desafios	de	desmistificar	essa	
ideia	retrógrada,	devemos	assim	elevar	a	história	e	a	cultura	indígena	ao	patamar	que	a	
mesma	merece.
Dentro	desse	desafio,	iremos	conhecer	muito	além	da	lei	11.645/2008,	pois	obser-
vamos	os	seus	impactos	na	sociedade,	conhecendo	assim	um	pouco	da	história	e	da	cultura	
indígena.	Temos	que	exaltar	os	desafios	de	superar	o	etnocentrismo	e	mostrar	o	conceito	
de	 “Índio”	 na	 sociedade	 atual.	 Vale	 destacar	 que	 vamos	 reconhecer	 a	 sociodiversidade	
indígena,	ou	seja,	reconhecer	os	direitos	e	as	diferenças	entre	os	povos	e	os	troncos	lin-
guísticos.	Ressalta-se	ainda	que	não	se	deve	desprezar	o	Índio	na	historiografia	brasileira,	
fazendo	 assim	 uma	 comparação	 entre	 passado	 e	 presente,	 semelhanças	 e	 diferenças,	
entre	várias	culturas	que	compõem	esse	povo,	sobretudo	seus	aspectos	religiosos.
Quase	no	fim	de	nossa	jornada	debateremossobre	as	questões	de	Gênero	e	suas	
vertentes.	Vale	 ressaltar	que	abordaremos	alguns	conceitos	chaves	para	que	possamos	
compreender	um	pouco	melhor	o	termo	gênero	e	sexualidade.	Vamos	apresentar	e	expla-
nar	os	conceitos	de	heterossexualidade	compulsória,	heteronormatividade	e	naturalização.
	Assim,	chegaremos	ao	fim	dessa	viagem.	Espero	que	seu	horizonte	de	expec-
tativas	seja	modificado,	uma	vez	que	todos	nós,	brasileiros,	somos	fruto	de	uma	herança	
multiétnica	de	vários	povos,	desta	forma,	a	humanização	das	relações	entre	esses	povos	
só	é	possível	quando	os	conhecemos	melhor	e	possamos	ver	que	o	outro	é	igualzinho	a	
mim.
Muito obrigado e bom estudo!
SUMÁRIO
UNIDADE	I	.................................................................................................... 04
História e Cultura Africana 
UNIDADE	II	................................................................................................... 33
O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
UNIDADE	III	.................................................................................................. 54
História e Cultura Indígena
UNIDADE	IV	.................................................................................................. 75
A Compreensão sobre Questões de Gênero e Direitos Humanos
4
Plano de Estudo:
●	 O	ainda	mal	compreendido	negro	no	Brasil;
●	 Africanos	são	todos	iguais?	De	onde	veio	a	população	negra	no	Brasil?
●	 O	que	foi	a	escravização?
●	 O	africano	no	Brasil;
●	 A	Resistência	Negra;
●	 Os	quilombos	como	sinônimo	de	resistência	negra.
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Contextualizar	a	história	do	africano	no	Brasil	a	fim
de	perceber	que	sua	existência	hoje.se	dá	através	de	
muita	luta,e	que	sua	cultura	está	presente	no	nosso	dia	a	dia;
●	 Compreender	que	a	africanidade	no	Brasil	é	composta	de	diversas	
etnias	africanas	e	não	de	apenas	um	povo	chamado	africano,	pois	
não	existe	um	povo	africano,	mas	povos	africanos;
●	 Estabelecer	a	importância	da	compreensão	da	escravização	negra	no	Brasil	como	
ponto	de	partida	para	entender	a	existência	do	próprio	negro	no	Brasil	contemporâneo;
●	 Entender	que	os	escravizados	não	aceitavam	passivamente	sua	escravidão,	mas	
resistiam	de	diversas	formas,	sobretudo	na	forma	de	concentração	quilombolas.
UNIDADE I
História e Cultura Africana
Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
5UNIDADE I História e Cultura Africana
INTRODUÇÃO
Sejam	bem-vindos	ao	nosso	curso	de	Formação	Sociocultural	e	Ética.	A	partir	de	
agora,	partimos	para	uma	viagem	no	tempo	em	busca	das	nossas	experiências	históricas,	
algumas	explicações	para	o	que	ocorre	no	Brasil	contemporâneo	e,	claro,	olhar	para	um	ho-
rizonte	futurístico,	depositando	nele	nossa	aprendizagem	como	uma	forma	de	expectativa.
Em	nossa	viagem	ao	passado,	em	busca	desses	espaços	de	experiências	do	Brasil	
e,	consequentemente,	de	nós	mesmos,	primeiro	iremos	compreender	que,	durante	toda	a	
nossa	história,	os	detentores	do	poder	no	nosso	país	criaram	mecanismos	para	manutenção	
de	seu	próprio	poder,	mantendo	nas	camadas	mais	baixas	a	população	indígena,	a	branca	
mais	empobrecida	e,	claro,	a	população	negra.	Em	seguida,	você	entenderá	como	funcionou	
a	escravidão	no	mundo	em	vários	períodos	históricos	para	logo	após	compreender	como	
foi	a	escravidão	moderna	no	Oceano	Atlântico.	Também	compreenderá	como	era	a	vida	
do	africano	no	Brasil	através	da	biografia	de	um	ex-escravizado	chamado	Mahommah	G.	
Baquaqua	e,	por	fim,	entenderá	como	esses	escravizados	no	Brasil	resistiam	à	escravidão	
para	então	ter	contato	com	o	maior	exemplo	de	resistência	negra	no	Brasil,	o	quilombo	dos	
Palmares.
Ao	fim	dessa	viagem	espero	que	seu	horizonte	de	expectativas	seja	modificado,	
uma	 vez	 que	 todos	 nós,	 brasileiros,	 somos	 fruto	 de	 uma	 herança	multiétnica	 de	 vários	
povos;	desta	forma,	a	humanização	das	relações	entre	esses	povos	só	é	possível	quando	
os	conhecemos	melhor	e	possamos	ver	que	o	outro	é	igualzinho	a	mim.
6UNIDADE I História e Cultura Africana
1. O AINDA MAL COMPREENDIDO NEGRO NO BRASIL
Os	africanos	trazidos	ao	Brasil	foram	tantos	que	hoje	o	país	já	não	pode	ser	expli-
cado	sem	a	devida	compreensão	desta	população.	Quando	os	indígenas,	nativos	da	terra,	
ao	conhecer	o	território	resistiram	à	escravidão	foi	na	África	que	portugueses	encontraram	
a	solução.	Sem	os	indígenas	a	falta	de	mão-de-obra	colocou	em	risco	o	sucesso	da	colo-
nização	 lusitana.	Os	africanos	substituíram	a	população	nativa	no	trabalho	escravo	para	
as	 atividades	 essenciais	 que	 iam	desde	 a	 lavoura	 de	 cana-de-açúcar	 até	 a	mineração.	
O	mercado	 de	 escravos	 foi	 tão	 importante	 que	movimentou	 por	 séculos	 o	 comércio	 no	
atlântico	sul,	uma	vez	que	Portugal	não	abriria	mão	de	trabalho	tão	barato.
A	mistura	entre	africanos,	indígenas	e	portugueses	foi	inevitável.	A	vida	em	meio	à	
natureza	do	indígena,	o	ímpeto	colonizador	europeu	e	toda	a	carga	cultural	africana	que	iam	
desde	linguagem	às	religiões	e	artes.	O	povo	africano	não	pode	ser	compreendido	apenas	
através	de	suas	relações	de	trabalho,	mas	também	de	cultura	e	poder.	Aliás,	diversos	povos	
africanos	foram	trazidos	contra	suas	vontade	ao	Brasil	e	seria	errado	e	injusto	chamá-los	
apenas	de	povo	sendo	que	vieram	de	diversos	povos	e	nações	africanas.	
O	grande	número	de	africanos	trazidos	ao	país	foi	tanto	que	sua	cultura	se	misturou	
e	se	enraizou	por	aqui	e	hoje	formam	a	cultura	do	povo	brasileiro.	Junto	a	cultura	europeia	
e	indígena	formam	o	brasileiro	que	come	feijoada	-	comida	atribuída	aos	africanos	escravi-
zados	-,	ao	banho	diário	-	prática	indígena	-	e	ao	hábito	de	tomar	café	-	prática	popularizada	
pelos	europeus.	A	miscigenação	cultural	é	característica	desta	terra	e,	ao	mesmo	tempo,	
7UNIDADE I História e Cultura Africana
pouco	compreendida.	É	nesse	ponto	que	devemos	nos	atentar	ao	fato	da	cultura	dos	povos	
africanos	vindos	ao	Brasil	ser	pouco	compreendida.	Samba,	capoeira,	candomblé	é	sabido	
de	 todos	que	 fazem	parte	da	cultura	africana,	mas	a	África	é	um	continente	gigantesco	
com	diversas	cultura	o	que	implica	na	confusão	de	que	a	cultura	africana	seja	homogênea.	
Grande	equívoco.	Os	povos	trazidos	ao	Brasil	vieram	de	lugares	distintos,	uns	adoravam	
orixás,	outros,	Alá.	Compreender	que	não	existe	povo	africano,	mas	povos	africanos	é	o	
primeiro	passo	para	valorização	da	cultura	desses	povos	africanos	que	contribuíram	para	
nossa	formação.	Qual	o	significado	da	capoeira:	dança	ou	luta?	Se	dança,	o	que	ela	repre-
senta,	se	luta,	contra	que	lutavam?	E	o	samba,	por	que	sambavam?	Por	ser	um	elemento	
ritualístico	de	uma	religião	ou	por	alegria?	Por	que	João	Gilberto	afirmou	que	“Madame	não	
gosta	de	samba”?		Teria	o	cantor	interpretado	tal	música	apenas	pela	beleza	da	mesma	ou	o	
fato	de	Madame	não	gostar	de	samba	nos	apresenta	uma	desigualdade	social	que	envolve	
elementos	étnico-raciais?	Durante	toda	a	história	do	Brasil,	é	realizada	a	manutenção	de	
mecanismos	que	impediram	a	ascensão	social	do	negro	no	Brasil.	Durante	todo	o	período	
colonial	 (1500-	1522)	e	 imperial	 (1822-1889)	a	escravidão	 imperou	de	 tal	 forma	que	até	
mesmo	pressões	estrangerias	de	potências	mundiais	criaram	leis	internacionais	para	forçar	
o	Brasil	a	declarar	o	fim	de	sua	escravidão.	Nenhum	país	no	mundo	teve	uma	escravidão	
tão	duradoura	quanto	a	nossa.	O	Brasil	foi	o	último	país	no	mundo	a	abolir	sua	escravidão.	
Decretos	como	o	nº	1.331,	de	17	de	fevereiro	de	1854,	estabelecia	que	nas	escolas	públicas	
do	país	não	seriam	admitidos	escravos	e	o	Decreto	nº	7.031-A,	de	6	de	setembro	de	1878,	
estabelecia	que	os	negros	só	podiam	estudar	no	período	noturno	e	diversas	estratégias	
foram	montadas	no	sentido	de	impedir	o	acesso	pleno	dessa	população	aos	bancos	es-
colares.	Sendo	a	educação	um	meio	de	ascensão	econômica	e	social,	o	impedimento	aos	
negros	de	estudarem	consolidou	a	manutenção	destes	nas	camadas	mais	pobres.
			Após	o	fim	da	escravatura,	a	teoria	do	embranquecimentoda	raça	impede	o	ne-
gro,	agora	livre,	de	conseguir	emprego,	de	alcançar	cargos	públicos	de	ser	cidadão	de	fato.	
O	imigrante	europeu	foi	trazido	ao	país	para	fazer	crescer	o	número	de	brancos	no	país	e	
assim,	embranquecer	a	população	brasileira.	O	negro	fora	considerado,	durante	a	primeira	
república,	como	um	ser	humano	de	segunda	categoria,	menos	capaz,	menos	inteligente.
	 	 	A	história	do	povo	africano	no	Brasil	e	sua	cultura	não	pode	ser	contada	sem	
compreender	de	onde	esses	povos	vieram,	porque	foram	escravizados	e	porque,	mesmo	
após	a	escravidão,	continuaram	sendo	colocados	como	cidadãos	de	segunda	classe.	
8UNIDADE I História e Cultura Africana
2. AFRICANOS SÃO TODOS IGUAIS? DE ONDE VEIO A POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL?
Segundo	Alencastro	 (2000)	entre	1551	e	1575,	 cerca	de	25	mil	 africanos	 foram	
trazidos	ao	Brasil.	Entre	1576	e	1600,	houve	um	salto	considerável	para	quase	200	mil	
africanos.	Entre	1676	e	1700	houve	um	pequeno	 recuo	para	cerca	de	175	mil	 pessoas	
trazidas	da	África	e	mais	de	350	mil	entre	1741	e	1760.	A	maior	parte	dos	africanos	trazidos	
ao	nosso	país	era	da	costa	oeste	africana,	sobretudo	dos	povos	sudaneses	e	banto.
Da	África	Setentrional,	no	norte	do	continente,	vieram	ao	Brasil	povos	de	Castelo	
da	Mina,	Costa	da	Mina,	povos	Ajudá,	Bissau,	Oorin,	Calabar	e	Cameron.	Calcula-se	que	
entre	1812	a	1820	17.691	escravizados	tenham	sido	trazidos	em	68	navios.	Já	da	África	
Meridional	ao	sul	do	continente,	20.841	africanos	foram	trazidos	em	69	navios	negreiros	ao	
país	do	Congo,	Zaire,	Cabinda,	Angola,	Moçambique,	Quillemani,	Cabo	Lopes,	Malambo,	
Rio	Ambriz	e	Zanzibar.	Esta	estatística	não	nos	diz	a	nacionalidade	dos	negros	trazidos	ao	
Brasil,	mas	nos	apresenta	que	os	navios	negreiros	vinham	da	costa	oeste	africana,	entre	
povos	bantos	e	sudaneses.
Os	dados,	ainda	que	limitados,	nos	mostram	a	procedência	dessas	pessoas	trazi-
das	para	o	trabalho	escravo	no	Brasil.	O	governo	inglês	proibiu	o	comércio	de	escravos,	
tornando,	assim,	a	atividade	portuguesa	em	tráfico	negreiro,	e	para	despistar	os	ingleses,	
muitos	documentos	foram	destruídos,	outros	nunca	chegaram	a	existir	com	a	intenção	de	
enganar	os	britânicos.
9UNIDADE I História e Cultura Africana
O	contingente	de	pessoas	trazidas	do	Oeste	da	África	fora	chamado	de	“ouro	negro”	
pelos	mercantilistas	europeus.	Portugueses,	franceses,	holandeses	e	ingleses	disputavam	
o	comércio	de	escravos	bantos	e	sudaneses	no	Oceano	Atlântico.	Reginaldo	Prandi	diz	o	
seguinte	sobre	esses	povos:
[...]	os	sudaneses	constituem	os	povos	situados	nas	 regiões	que	hoje	vão	
da	Etiópia	ao	Chade	e	do	sul	do	Egito	a	Uganda	mais	ao	norte	da	Tanzânia’.	
Quanto	aos	bantos,	eram	povos	da	‘África	Meridional,	estão	representados	
por	povos	que	falam	entre	700	e	duas	mil	línguas	e	dialetos	aparentados,	es-
tendendo-se	para	o	sul,	logo	abaixo	dos	limites	sudaneses,	compreendendo	
as	terras	que	vão	do	Atlântico	ao	Índico	até	o	cabo	da	Boa	Esperança.	O	ter-
mo	‘banto’	foi	criado	em	1862	pelo	filólogo	alemão	Wilhelm	Bleek	e	significa	
‘o	povo’,	não	existindo	propriamente	uma	unidade	banto	na	África.(BRANDI,	
2000,	p.	83).	
Brandi	(2000)	afirma	que	bantos	e	sudaneses	são	definições	genéricas	e	imprecisas,	
produzidas	no	contexto	da	apropriação	europeia	do	continente	e	dos	povos	da	África.	Sendo	
assim,	afirmações	sobre	a	origem	dos	africanos	no	Brasil	são	quase	sempre	imprecisas.
Os	bantos	dividiam-se	em	dois	grupos,	os	angola-congoleses	e	os	moçambiques	e	
tinham	como	destino	o	Maranhão,	Pará,	Pernambuco,	Alagoas,	Rio	de	Janeiro	e	São	Paulo.	
Os	sudaneses	também	se	dividiam	em	três	subgrupos:	yorubás,	jejes	e	fanti-ashantis	e	seu	
destino	principal	era	a	Bahia.	E,	ao	contrário	do	imaginário	popular,	esses	povos	falavam	
línguas	diferentes,	muitas	vezes	dentro	de	uma	mesma	fazenda,	existiam	escravizados	de	
várias	etnias	e,	desta	forma,	não	conseguiam	se	organizar	devido	a	impossibilidade	trazida	
pela	linguagem.
10UNIDADE I História e Cultura Africana
3. O QUE FOI A ESCRAVIZAÇÃO?
A	história	do	Brasil	se	confunde	com	a	dos	povos	africanos	devido	aos	milhões	de	
africanos	trazidos	ao	nosso	país	à	sua	revelia.
A	escravidão	não	foi	 invenção	da	época	moderna,	tão	pouco	dos	portugueses.	A	
escravidão	surge	na	antiguidade	há	pelo	menos	cinco	mil	anos.	Um	dos	primeiros	códigos	
legais	do	mundo,	o	de	Hamurabi,	 já	destacava	diretrizes	da	manutenção	da	escravidão	
indo	desde	a	compra	de	prisioneiros	de	guerra	como	escravizados	e	pessoas	endividadas	
que	poderiam	serem	transformadas	em	escravizadas	até	condições	de	vida	dos	mesmos.	
A	escravização	ela	legalizada	na	Mesopotâmia	e	em	outros	diversos	lugares	do	mundo.	a	
escravização	era	aceita	e,	ao	contrário	do	que	imagina,	não	envolvia	a	cor	da	pele	como	
algo	essencial	para	a	escravidão.	Prisioneiros	de	guerra	e	pessoas	endividadas	foram	os	
primeiros	a	serem	tornados	escravos	na	humanidade.	A	escravização	negra	surgiria	milê-
nios	depois.	(FIGUEIREDO:	2019).
Entre	 os	 romanos	 na	 antiguidade	 a	 escravidão	 tabém	 envolvia	 prisioneiros	 de	
guerra	e	ainda	durante	a	República	 romana	 também	endividados	poderiam	 tornarem-se	
escravos.	Situação	modificada	depois	da	pressão	da	plebe	sobre	os	patrícios.	Existia	tam-
bém	a	possibilidade	de	negociação	para	a	 libertação	dos	escravizados.	A	escravidão	na	
Roma	Antiga	era	essencial	para	a	existência	do	Império	uma	vez	que	a	mão-de-obra	no	
campo	era	quase	que	totalemente	de	escravizados.	O	processo	de	conquista	era	essencial	
para	aquisição	de	novos	escravos.	O	trabalho	escravizado	em	Roma	era,	normalmente	um	
11UNIDADE I História e Cultura Africana
trabalho	pesado,	tanto	que	a	palavra	trabalho	que	usamos	hoje	no	idioma	português	(que	
é	uma	variação	do	latim	falado	pelos	romanos)	tem	origem	na	palavra	latina,	tripalium,	que	
era	um	instrumento	de	tortura	romano.	(FIGUEIREDO:	2019).	Na	Grécia	Antiga	as	cidades-
-estados	gregas	praticavam	a	escravidão	largamente.	As	duas	principais	potências	gregas,	
Esparta	e	Atenas	rivalizavam	militarmente,	economicamente,	politicamente,	mas	algumas	
semelhanças	as	aproximavam,	uma	delas	a	escravidão.	Apesar	da	democracia	ateniense,	
ser	 cidadão	 em	Atenas	 exigia	 diversos	 critérios	 e	 claro,	 os	 escravos	 não	 poderiam	 ser	
cidadãos.	Em	Esparta,	com	uma	política	diárquica,	a	escravização	a	prisioneiros	de	guerra	
permanecia.	Três	termos	eram	utilizados	pelos	gregos	para	denominar	o	trabalho:	poiesis,	
praxis	e	labor.	A	poiesis	seria	o	trabalho	criativo,	a	práxis	o	político	e	o	labor	o	trabalho	físico	
que	era,	quase	que	geralmente,	destinado	aos	escravizados.	
A	escravidão	pela	guerra	ou	por	dívidas	foi	o	mais	comum	visto	pelo	mundo,	não	
só	 na	Mesopotâmia,	 Grécia	 e	 Roma,	 mas	 também	 existiu	 nas	 civilizações	 ameríndias,	
entre	os	indígenas	americanos,	entre	chineses,	japoneses,	mongóis,	nórdicos,	hebreus	e	
árabes.	A	escravidão	também	existia	no	continente	africano,	quase	todos	os	povos	da	Áfric	
apraticavam	a	escravidão	e	repetiam	o	padrão	da	escravização	de	prisioneiros	de	guerra	e	
endividados.	Não	existia	a	escravidão	etnico-racial.	(FIGUEIREDO:	2019).
As	religiões	também	tiveram	sua	relações	com	a	escravidão.	Os	hebreus	escraviza-
vam	povos	conquistados	e	após	sete	anos	eram	obrigados,	de	acordo	com	a	Lei	Mosaica,	
a	libertarem	seus	escravos.	O	mais	famoso	argumento	judaico-cristão	para	a	manutenção	
da	 escravidão	 é	 retirado	 da	 bílblia	 onde	Noé,	 após	 sair	 da	Arca	 com	 sua	 família,	 teria	
amaldiçoado	seu	filho	Cam	por	ter	rido	de	seu	pai	bêbado	(FIGUEIREDO:	2019).	Após	se	
recuperar	de	sua	bebedeira	a	tradição	afirma	que	Noé	amaldiçoou	Cam	por	sua	atitude.	
A	maldição	lançado	por	Noé	sobre	Cam,	segundo	essa	teoria,	teria	sido	a	escravidão	de	
seus	descendentes.	Acreditam	que	os	filhos	de	Noé	se	espalharam	pelo	mundo	onde	Jafé	
teria	 ido	para	a	Europa	sendo	seus	descendentes	os	europeus,	os	filhos	de	Sem	teriam	
ficado	no	Oriente	Médio	e	dado	origem	a	hebreus	e	árabes	e	Cam	teria	ido	para	a	Áfricadando	origem	aos	povos	africanos.	Essa	teoria	é	somada	a	outra	teoria	baseada	nos	textos	
bíblicos	onde	Caim	após	matar	seu	irmão	Abel	teria	sido	marcado	pelo	próprio	Deus	para	
que	todos	soubessem	de	seu	crime	e	essa	marca	seria	a	cor	negra.	Ambas	as	teorias	não	
possuem	fundamento	teórico-metodológico,	entretanto	foram	utilizadas	para	justificarem	a	
escravidão	da	população	africana.	Outra	religião	que	fez	da	escravidão	uma	prática	nor-
malizada	foi	o	islã	e	liberavam	alforria	para	aqueles	que	se	convertiam	ao	islamismo.	Em	
todos	os	casos	citados	a	escravidãosempre	envolvia	prisioneiros	de	guerra	e/ou	pessoas	
12UNIDADE I História e Cultura Africana
endividadas,	havia	possibilidade	de	alforria	e	até	mesmo	de	ascensão	econômica	dos	es-
cravizados,	talvez	o	exemplo	mais	famoso	eram	o	dos	gladiadores	romanos,	onde	muitos	
eram	escravizados	e	viviam	uma	vida	de	de	prestígio	social	e	conforto	econômico.
Tanto	a	prática	da	escraidão	quanto	a	crítica	à	mesma	foi	muito	comum	desde	a	
antiguidade.	Na	República	Romana	plebeus	e	tribunos	da	plebe	criticavam	a	escravidão	e	
extinguiram	a	modalidade	por	dívida.	Na	Grécia	muitos	defensores	da	democracia	pediam	
o	fim	da	escravidão.	Apesar	das	críticas	a	escravidão	foi	algo	bem	comum	a	diversos	povos,	
lugares	e	períodos.	(FIGUEIREDO:	2019).
Como	a	escravização	de	pessoas	foi	comum	a	diversas	culturas,	alguns	usam	esse	
fato	como	argumento	para	minimizar	a	escravização	de	africanos	entre	os	séculos	XVI	e	XIX	
no	continente	americano	e	suas	consequências.	Essa	comparação	não	pode	ser	realizada,	
pois	carece	de	fundamento.	A	escravização	realizada	pelos	europeus	é	inaugurada	durante	
as	Cruzadas	na	Baixa	 Idade	Média	 (séc.	X	a	XV).	Os	eslavos	eram	escravizados	pelos	
reinos	da	Europa,	tanto	que	a	palavra	escravo	surge	da	palavra	eslavo.	E	no	Mediterrâneo,	
que	era	a	 fronteira	natural	entre	cristãos	(Europa)	e	 islâmicos	(norte	da	África),	houve	a	
escravização	mútua	de	muçulmanos	e	católicos	(FIGUEIREDO:	2019).	
Durante	as	Grandes	Navegações	iniciadas	por	Portugal	no	século	XV,	os	lusitanos	
ao	contornarem	a	África	para	alcançarem	as	Índias	comercializavam	escravizados	com	os	
povos	africanos,	inicialmente	com	os	do	norte	da	África	e	após	com	os	das	demais	regiões.	
No	norte	da	África	prevalecia	povos	africanos	e	árabes	de	religião	islâmica	que	tinha	na	
escravidão	uma	fonte	econômica	importante.	Conforme	os	portugueses	iam	para	o	Sul	da	
áfrica	encontravam	novos	vendedores	de	escravos,	mas	esses	eram	de	pele	escura	e	de	
religiões	de	origem	africana.	É	importante	destacar	que	a	prática	escravista	que	existia	na	
África	não	era	diferente	da	que	existia	em	outros	 lugares	do	mundo	e	o	ponto	que	deve	
ser	destacado	sobre	os	demais	é	que	não	existia	escravidão	étnica	na	África.	Os	povos	
africanos	que	escravizam	o	 faziam	com	prisioneiros	de	guerra	e	pessoas	endividadas	e	
não	devido	a	religiosidade,	origem	ou	cor	da	pele	(FIGUEIREDO:	2019).	Quando	o	papa	
Nicolau	V	percebeu	a	rentabilidade	do	comércio	de	escravizados	autorizou	o	rei	português	
o	direito	de	aplicar	a	escravidão	perpétua	a	sarracenos	pagãos	e	quaisquer	não	cristãos:	
[...]	outorgamos	por	estes	documentos	presentes,	com	a	nossa	Autoridade	
Apostólica,	permissão	plena	e	livre	para	invadir,	buscar,	capturar	e	subjugar	
sarracenos	e	pagãos	e	outros	infiéis	e	inimigos	de	Cristo	onde	quer	que	se	
encontrem,	assim	como	os	seus	reinos,	ducados,	condados,	principados,	e	
outros	bens	[...]	e	para	reduzir	as	suas	pessoas	à	escravidão	perpétua.	[...].	
(ASSUNÇÃO,	2004,	p.	51).
13UNIDADE I História e Cultura Africana
O	papa	era	a	maior	autoridade	política	na	Europa	naquele	período,	por	isso,	uma	
bula	papal	tinha	importância	não	somente	na	Europa,	mas	nos	novos	territórios	que	esses	
países	conquistavam.	Nesta	Bula	os	portugueses	eram	autorizados	a	conquistar	territórios	
não	cristianizados	e	consignar	a	escravatura	perpétua	aos	sarracenos	e	pagãos	que	cap-
turassem	como	forma	de	defesa,	uma	vez	que	estes	vinham	perseguindo	e	ameaçando	
cristãos	 da	 época.	 Esse	 documento	 é	 considerado	 frequentemente	 como	 o	 advento	 do	
comércio	e	tráfico	europeu	de	escravos	na	África	Ocidental.
Durante	 as	 guerras	 do	 período	 entre	 os	 século	 XVI	 e	 XIX	 foram	 escravizados	
quase	um	milhão	de	pessoas	por	reinos	muçulmanos	e	essas	pessoas	não	eram	negras,	
islandeses,	italianos,	espanhóis	e	gregos	eram	capturados	e	forçados	a	trabalharem,	prin-
cipalmente	como	remadores	em	galés.	O	Brasil	ainda	não	fazia	parte	desta	rota	da	escra-
vidão	sendo	restrita	ao	mediterrâneo	na	Europa.	Os	muçulmanos	não	realizaram	nenhuma	
captura	no	Brasil	 ou	no	continente	americano,	portanto	a	escravização	da	era	moderna	
restrita	à	população	africana	negra	não	pode	ser	comparada	com	as	demais	escravizações.	
(FIGUEIREDO:	2019).
.	Apesar	da	antiguidade	da	prática	da	escravidão	a	África	se	torna	o	maior	centro	de	
esvravização	já	visto	no	mundo.	Segundo	Philipp	Curtin	as	estimativas	de	africanos	trazidos	
para	serem	escravizados	nas	américas	poderia	variar	entre	11	e	20	milhões,	principalmente	
para	Brasil	e	Estados	Unidos,	além	de	alguns	milhões	que	morreram	na	viagem	transa-
tlântica.	 (CURTIN:	1972)	Ainda	na	primeira	metade	do	século	XVI	começaram	a	chegar	
os	 primeiros	 africanos	 no	 Brasil	 para	 o	 trabalho	 compulsório,	 ainda	 de	maneira	 tímida,	
mas	se	intensificaria	nos	séculos	seguintes.	Quase	cinco	milhões	de	escravizados	foram	
trazidos	ao	Brasil	pelos	portugueses,	que	eram	os	principais	mercadores	de	escravizados	
no	mundo.	O	mercado	de	escravizados	era	tão	lucrativo	que	incentivaria	outras	potências	
europeias	a	fazerem	o	mesmo.	(FIGUEIREDO:	2019)
A	escravização	ocorrida	nas	américas	através	do	atlântico	é	um	fenômeno	diferente	
das	modalidades	de	escravidão	anteriores.	Antes	se	escravizava	o	prisioneiro	de	guerra,	no	
era	moderna	o	africano	negro.	São	dois	fenômenos	diferentes.	O	africano	foi	transformado	
em	mercadoria	fruto	de	um		mercado	lucrativo.	Além	de	econômico	foi	um	fenômeno	étnico,	
que	reduziu	várias	etnias	africanas	a	um	patamar	inferior	ao	europeu	e	a	outras	etnias	do	
mundo.	Esse	é	outro	ponto	importante	para	diferenciar	a	escravização	da	idade	moderna	
das	anteriores.	(FIGUEIREDO:	2019).	É	na	Idade	Moderna	que	se	estabelece	a	cor	da	pele	
como	fator	determinante	para	a	escravidão,	uma	novidade	na	história.
14UNIDADE I História e Cultura Africana
A	consequência	da	estrura	racial	da	escravidão	é	o	racismo	que	se	apresenta	de	
forma	explícita,	estrutural	e	institucional	em	nosso	país.	Ter	52%	da	população	negra	ou	
parda	mostra	como	a	nossa	sociedade	tem	origem	africana	do	período	da	escravização.	
Ainda	hoje	ser	negro,	para	algumas	pessoas,	no	continente	americano,	é	sinônimo	de	infe-
rioridade.	Ou	seja,	a	pessoa	por	ser	negra	já	é	considerada	inferior.	No	passado	do	Brasil,	
era	considerada	escrava,	mesmo	se	não	fosse.	A	escravização	negra	no	Brasil	durou	três	
séculos.	Estes	séculos	deixaram	marcas	ainda	abertas	na	nossa	sociedade.	(FIGUEIRE-
DO:	2019).	
Ainda	é	importante	destacar	que	o	fato	de	a	escravidão	negra	ser	mais	recente	e	
mais	ampla	que	as	versões	aneriores	não	ameniza	a	situação	de	escravidão	que	viveram	
pessoas	de	outros	lugares	e	épocas,	mas	enfatiza	a	importância	de	comprender	a	diferença	
entre	essas	modalidades	e	descatar	a	cor	da	pele	como	fundamentla	da	escravidão	inau-
gurada	na	era	moderma.	
15UNIDADE I História e Cultura Africana
4. O AFRICANO NO BRASIL
A	história	do	africano	no	Brasil	é	uma	história	de	resistência.	Milhões	de	africanos	
foram	raptados,	escravizados	e	trazidos	para	o	Brasil	entre	os	séculos	XVI	e	XIX.	Pelo	me-
nos	um	terço	de	todos	os	cativos	africanos	trazidos	para	o	continente	americano	vieram	ao	
Brasil.	Mas	a	história	do	africano	em	terra	tupiniquins	vai	além	da	escravidão	em	si.	Muitos	
são	os	pontos	que	envolvem	essa	história,	 incluindo	a	 resistência,	desde	a	violência	às	
imposições	culturais.	Diante	da	proibição	do	direito	à	liberdade	e	de	mantersuas	tradições,	
alternativas	 foram	 criadas	 por	 essa	 população	 para	 driblar	 as	 imposições	 portuguesas.	
(NASCIMENTO:	2019).
O	 africano	 no	Brasil	 é	muito	mais	 que	mão-de-obra	 e	 a	 história	 africana	 passa	
a	ser	valorizada	nas	últimas	décadas	na	 tentativa	de	compreender	o	processo	histórico	
envolvendo	as	diferentes	etnias	ainda	na	áfrica,	o	comércio	de	escravos	entre	africanos,	o	
rapto,	a	viagem	transatlântica	e	as	jornadas	em	território	brasileiro	para	serem	vendidos	no	
mercado	de	escravos	para	algum	senhor	de	engenho.	Todo	esse	complexo	emaranhado	de	
fatos	nos	apresenta	a	história	do	africano	no	Brasil.
Os	árabes	eram	os	maiores	praticantes	do	comércio	de	escravos	nos	séculos	XV	e	
XVI,	apesar	de	também	existir	escravidão	na	Europa,	África	e	Ásica.	Os	árabes	traficavam	
pelo	menos	400%	mais	pessoas	que	os	europeus	no	século	XVI,	mas	com	a	expansão	
marítima	portuguesa	em	sua	ambiciosa	missão	até	as	Índias	mudaria	esse	panorama.	Os	
portugueses,	 ao	 contornarem	a	África,	 estabeleceram	 postos	 comerciais	 que	 ligavam	o	
16UNIDADE I História e Cultura Africana
comércio	de	mercadorias	do	interior	africano	até	o	litoral	e	do	litoral	para	o	mundo.Neste	
momento	tiveram	contato	com	a	escravidão	que	já	existia	entre	os	africanos	e	assim	ini-
ciaram	um	mercado	de	escravos	que	envolvia	a	compra	ou	expedições	para	o	 rapto	de	
africanos	para	vendê-los	após.	(NASCIMENTO:	2019).	Com	essas	medidas	os	portugueses	
descobriram	uma	nova	fonte	de	comércio	extremamente	lucrativa:	o	comércio	de	pessoas	
escravizadas.	
O	pioneirismo	português	no	uso	da	mão-de-obra	negra	inicia-se	com	a	agricultura	
de	cana-de-açúcar	nas	ilhas	Canárias	(da	Espanha)	e	Cabo	Verde,	na	África.	As	primeiras	
áreas	de	produção	açucareira	são	instaladas	e	o	africano	foi	utilizado	no	trabalho	forçado,	
o	que	barateava	a	mão-de-obra	e	elevava	o	lucro	dos	produtores.	
Os	espanhóis	também	praticaram	a	escravidão	na	América	e	nas	ilhas	Canárias,	
entretanto	 não	 se	 estabeleceram	 na	 apfrica,	 como	 fizeram	 os	 portugueses,	 portanto,	 o	
monopólio	do	comércio	de	escravos	estava	nas	mãos	de	Portugal	que	inicou	vendendo	os	
cativos	para	a	Espanha	e	depois	à	sua	maior	colônia,	o	Brasil.
Portugal	saiu	na	frente	no	comércio	de	escravos,	mesmo	com	Holanda	e	Inglaterra	
como	concorrentes,	a	 liderança	dos	portugueses	era	sólida.	Portugueses	e	membros	da	
elite	 colonial	no	Brasil	 eram	os	maiores	 interessados	nesse	comércio,	pois	 controlavam	
diretamente	 os	 portos	 da	 África.	 Com	 tamanho	monopólio	 português,	 pelo	menos	 30%	
de	todo	o	translado	de	africanos	à	América	foram	trazidos	por	portugueses	e	brasileiros,	
aliados,	evidentemente,	de	Portugal.
Os	números	de	africanos	trazidos	ao	continente	americano	cresceu	ao	longo	dos	
séculos,	sendo	cerca	de	34	mil	no	século	XVI,	900	mil	no	século	XVII,	cerca	de	2	milhões	
no	século	XVIII	e	alcança	seu	apogeu	no	século	XIX,	após	a	independência	do	Brasil	que	
trazia	17	mil	escravizados	por	ano	(NASCIMENTO:	2019)	e	só	não	foi	maior	esse	comércio	
porque	em	1950	foram	impedidos	de	trazer	africanos	ao	Brasil.
A	escravização	em	território	africano	iniciava	com	as	guerras	entre	os	povos	afri-
canos,	muitas	delas	não	tinha	qualquer	interferência	dos	europeus.	Como	acontece	com	
as	guerras,	eram	feitos	muitos	prisioneiros	que	eram	comercializados	com	outros	povos	
africanos	como	escravizados.	Com	as	grandes	navegações	europeias,	esses	prisioneiros	
de	guerra	 também	passaram	a	 ser	 vendidos	a	 comerciantes	da	Europa,	 principalmente	
portugueses.	Também	existiam	os	que	eram	comercializados	para	a	escravidão	criminosos	
e	endividados	e	ainda	existiam	os	que	eram	raptados	por	portugueses	e	vendidos	como	
escravos,	sem	qualquer	acordo	com	os	poderes	locais.	(NASCIMENTO:	2019).
17UNIDADE I História e Cultura Africana
A	 comercialização	 portuguesa	 de	 cativos	 africanos	 chamou	 a	 atenção	 de	 mais	
investidores	e	com	apoio	da	 Igreja	Católica.	No	 início	do	comércio	de	africanos	 fora	da	
África	pelo	português	Antão	Gonçalves	no	século	XIV	a	Igreja	chegou	a	condenar	a	prática	
da	escravidão	através	da	Carta	Sicut	Dudum	do	Papa	Eugênio	IV	onde	proibia	e	escravidão	
e	ordenava	a	liberdade	imediata	dos	cativos:
Ordenamos	e	ordenamos	a	todos	e	a	cada	um	dos	fiéis	de	cada	sexo,	no	es-
paço	de	quinze	dias	após	a	publicação	dessas	cartas	no	local	em	que	vivem,	
que	restaurem	à	sua	 liberdade	anterior	 todas	e	cada	pessoa	de	ambos	os	
sexos	que	já	foram	residentes	das	referidas	Ilhas	Canárias,	e	fizeram	cativos	
desde	o	momento	da	sua	captura	e	que	foram	sujeitos	à	escravidão.	Essas	
pessoas	devem	ser	total	e	perpetuamente	livres,	e	devem	ser	deixadas	ir	sem	
a	exação	ou	recepção	de	dinheiro.	(EUGÊNIO	IV:	2021)
Apesar	da	investida	do	Papa	contra	a	escravidão	ao	longo	dos	anos	a	Igreja	foi	se	
tornando	cada	vez	mais	simpática	a	ideia,	uma	vez	que	poderiam	alcançar	novos	fiéis	nos	
continentes	americano	e	africano.	A	Igreja	iria	auxiliar	no	processo	de	expansão	marítima	
conforme	aponta	Costa:
Igreja	e	Coroa	Portuguesa	estreitavam	suas	relações,	unindo	forças	na	con-
quista	das	riquezas	e	das	almas	além-mar.	Isso	porque,	colonização	e	evange-
lização	faziam	parte	de	um	grande	empreendimento,	no	qual	a	cruz	e	a	espa-
da	configuravam-se	como	elementos	indissociáveis	na	conquista	da	América.	
Dessa	forma,	a	Igreja	surge	como	principal	legitimadora	das	ações	das	Coroas	
Ibéricas,	incluindo	a	escravização	dos	africanos	(COSTA,	2008,	p.	03).
Apesar	de	vastos	vestígios	históricos	sobre	o	período	ainda	se	carece	de	docu-
mentos	mostrando	a	 realidade	da	escravizadão	sob	o	olhar	dos	escravizados.	Em	1854	
foi	publicada	em	inglês	o	livro	autobiográfico	de	Mahommah	Gardo	Baquaqua.	Nascido	na	
África	Ocidental,	era	de	uma	família	muçulmana	de	poder.	Os	muçulmanos	se	preocupavam	
com	a	alfabetização	e	sua	família	havia	o	alfabetizado	em	dois	idiomas	o	que,	no	futuro,	o	
auxiliaria	aprender	mais	facilmente	outros	idiomas.	Em	sua	obra	descreve	a	sua	experiên-
cia	com	a	escravidão.	Apresenta	a	trajetória	desde	o	momento	que	conheceu	os	homens	
brancos,	sua	captura,	a	viagem	no	navio	negreiro	e	quais	estratégias	de	resistência	utilizou	
durante	sua	condição	de	cativo	no	Brasil	e	Estados	Unidos.	(NASCIMENTO:	2019).
O	escravizado	era	vendido	como	mercadoria,	 como	coisa	e	eram	separados	de	
seus	pais	e	família.	Filhos	eram	separados	de	pais	e	irmãos	e	maridos	de	suas	esposas	
para	nunca	mais	se	verem.	A	violência	extrapolava	os	limites	da	violência	física	e	atingia	
diretamente	o	psicológico	ao	 forçar	a	separação	de	 familiares.	O	comércio	de	escravos		
misturava	diferentes	etnias	africanas	de	forma	estratégica	para	evitar	que	um	grande	nú-
mero	de	escravizados	estivessem	em	um	mesmo	lugar	e,	assim,	poderia	dificultar	a	união	
entre	eles	em	forma	de	revoltas.	Caso	houvessem	muitos	africanos	da	mesma	etnia	em	
um	mesmo	navio	negreiro	ou	mercado	de	escravos	eles	poderiam	se	unir	em	resistência.	
18UNIDADE I História e Cultura Africana
Colocar	 pessoas	 de	 etnias	 diferentes	 e	 com	 idiomas	 diferentes	 foi	 uma	 estratégia	 bem	
eficiente.
Outra	estratégia	dos	comerciantes	europeus	era	apagar	as	 identidades	dos	que	
eram	escravizados	e	isso	não	se	resume	ao	nome,	mas	identidade	é	tudo	aquilo	que	faz	a	
pessoa	ser	o	que	é,	desde	religiosidade	a	vestes	e	cabelo.	Muitas	etnias	africanas	valorizam	
em	sua	construção	da	identidade	o	cabelo	em	tranças,	podendo	até	mesmo	serem	distin-
guidas	no	estilo	de	uso	das	mesmas.	Para	apagar	a	identidade	desses	povo	seus	cabelos	
eram	cortados.	Ao	cortarem-lhes	as	tranças,	retirarem	a	liberdade	de	expressão	de	suas	
religiosidades,	entre	outras	coisas,	eram-lhe	tiradas	a	sua	humanidade,	eram	reduzidos	a	
meras	coisas,	objetos,	enfim,	mercadorias.
Baquaqua	relata	seu	sofrimento	na	captura	em	uma	guerra	e	sua	venda.	Descreve	
como	muitos	morrerem	afogados	no	naufrágio	de	um	dos	barcos	que	levava	ao	tumbeiro	
(navio	negreiro).	Afirma	que	a	viagem	foi	um	tormento,	e	em	condiçõespéssimas	muitos	
morriam.	Chamavam	o	translado	da	África	à	América	de	travessia	onde	comiam	apenas	
milho	 e	 água.	 (NASCIMENTO:	 2019).	 E	 qualquer	 tentativa	 de	 rebelião	 era	 tratada	 com	
crueldade	pelo	homem	branco:	“quando	qualquer	um	de	nós	se	tornava	rebelde,	sua	carne	
era	cortada	com	uma	faca	e	o	corte	esfregado	com	pimenta	e	vinagre,	para	torná-lo	pacífi-
co”.	(LARA:	1988).
Quando	chegou	ao	Brasil,	 relata	Baquaqua,	 foram	vendidos	em	um	mercado	de	
escravos	na	casa	de	um	fazendeiro	em	Pernambuco.	 (NASCIMENTO:	2019).	Após	dois	
dias	de	espera	foi	comprado	por	um	comerciante	e	revendido	a	um	padeiro.	Trabalhando	
para	esse	padeiro	sofreu	os	mais	variados	tipos	de	sofrimento	físico	e	psicológico	e	nada	
que	tentasse	fazer	para	agradar	seu	senhor	e	diminuir	sua	aflição.
As	coisas	iam	de	mal	a	pior	e	estava	muito	ansioso	para	trocar	de	senhor,	en-
tão	tentei	fugir,	mas	logo	fui	apanhado,	atado	e	restituído	a	ele.	[...]	fui	muito	
severamente	espancado.	Eu	disse	a	ele	que	não	deveria	mais	me	açoitar	e	
fiquei	com	tanta	raiva	que	me	veio	à	cabeça	a	ideia	de	matá-lo	e,	em	seguida,	
suicidar-me.	[...].	(LARA,	1988,	p.	62).
Após	sua	resistência	em	forma	de	suicídio,	Baquaqua	foi	vendido	a	um	proprietário	
que	realiza	viagens	na	costa	brasileira.	Em	uma	dessas	viagens	conseguiu	fugir	quando	
foi	a	Nova	York	em	1847	com	ajuda	de	religiosos	abolicionistas	estadunidenses.	Baquaqua	
sabia	falar	diversos	idiomas,	além	de	sua	língua	nativa	falava	árabe,	português,	francês	e	
escrevia	em	inglês.	Mudou-se	ainda	para	o	Canadá	e	após	para	o	Haiti	que	foi	o	primeiro	
país	onde	negros	conseguiram	sua	independência	e	chegaram	ao	poder.	(NASCIMENTO:	
2019).
19UNIDADE I História e Cultura Africana
A	história	de	Baquaqua	está	longe	de	ser	única.	Muitos	outros	escravizados	passa-
ram	por	situações	semelhantes	ou	piores	e	pior,	muitos	não	conseguiram	fugir	ou	comprar	
sua	alforria	e	viveram	a	vida	toda	em	escravidão.	Mas	não	viveram	sem	resistir,	seja	pela	
fuga,	pela	revolta	ou	pela	negociação	e	busca	de	alforria:	a	resistência.	(NASCIMENTO:	
2019).	
20UNIDADE I História e Cultura Africana
5. A RESISTÊNCIA NEGRA
A	resistência	a	escravidão	era	comum	desde	a	África,	passando	pelos	navios	ne-
greiros	e	continuava	nas	colônias.	As	guerras	na	África	já	era	uma	forma	de	resistência,	pois	
sabiam	que	seriam	vendidos	como	escravos.	Dentro	dos	tumbeiros	as	resistências	eram	
comuns,	por	isso	a	estratégia	de	colocar	dentro	dos	navios	africanos	de	etnias	e	idiomas	
diferentes	dificultando	uma	união	e	possível	 rebelião.	 (NASCIMENTO:	2019).	Baquaqua	
afirmou	que	os	navios	eram	a	pior	parte	da	experiência.	
Baquaqua	era	islâmico	o	que	no	Brasil	de	católicos	era	um	problema	e	o	padeiro	
que	fora	seu	proprietário	tentou	obrigá-lo	a	se	converter	com	açoites	e	ameaças.	O	mesmo	
acontecia	no	Brasil	com	os	indígenas	que	eram	obrigados	a	abandonar	a	sua	fé.	(NASCI-
MENTO:	2019).	A	Igreja	católica	não	impedia	que	isso	acontecesse	pois	via	nessa	prática	
o	aumento	de	fiéis	em	todo	o	continente	americano.
As	tradições	africanas	foram	proibidas	e	para	preservá-las	a	população	africana	no	
Brasil	teve	que	fazê-la	em	segredo,	muitas	vezes	enganando	os	senhores	e	padres,	assim	
a	cultura	africana	foi	se	misturando	à	portuguesa	e	indígenas	tornando	sua	religiosidade	
sincrética	em	nosso	país.	Os	esforços	portugueses	 tentaram	anular	 totalmente	qualquer	
traço	da	cultura	africana,	mas	os	esforços	desses	povos,	durante	séculos,	conseguiu	pre-
servá-la.	(NASCIMENTO:	2019).
A	violência	sempre	era	a	estratégia	durante	a	escravidão	sobre	os	cativos.	Tortu-
ras,	marcas	a	ferro,	troncos	e	correntes	(NASCIMENTO:	2019)	para	manter	o	escravizado	
21UNIDADE I História e Cultura Africana
“dócil”.	Essa	violência	além	de	 física	era	psicológica	pois	o	medo	era	 fundamental	para	
manutenção	da	ordem	no	escravagismo.	A	violência	talvez	seja	a	principal	marca	da	escra-
vião.	O	trabalho	escravo	é	cruel	de	diversas	formas,	começando	pelo	ato	inicial	de	tirar	a	
liberdade,	passa	também	pelo	objetivo	de	realização	do	trabalho,	pois	o	fruto	do	trabalho	
não	é	um	salário,	mas	o	livramento	de	ser	torturado	ou	morto.	
Segundo	Manzano	(2015)	O	esforço	dos	cativos	para	agradar	seus	senhores	não	
era	suficiente,	nem	mesmo	Baquaqua,	um	africano	alfabetizado	conseguia	agradar,	mesmo	
tentando	aprender	os	mais	variados	tipos	de	funções	e	sabendo	mais	de	um	idioma	o	tra-
balho	aumentava	e	as	pressões	também.	Quando	não	alcançava	as	metas	estabelecidas	
era	açoitado.
A	 resistência	 dos	 escravizados	 também	 lhe	 garantiram	 algumas	 conquistas,	 nem	
algumas	 fazendas,	 por	exemplo,	 conseguiram	um	pequeno	pedaço	de	 terra	e	um	dia	de	
folga	por	semana.	Nestas	 terras	praticavam	agricultura	e	a	vendiam	e	com	as	economias	
que	juntavam	compravam	sua	alforria.Conceder	a	esperança	de	alforria	aos	cativos	era	uma	
forma	de	mantê-los	calmos	diminuindo	a	possibilidade	de	rebeliões.	(NASCIMENTO:	2019).
Baquaqua	afirmou	que,	mesmo	sabendo	das	duras	consequências,	sentiu,	mais	
de	uma	vez,	 vontade	de	agredir	 seus	senhores.	O	sofrimento	desta	população	os	 fazia	
resistir	 de	 formas	 inimagináveis	 como	o	 suicídio,	 pois	 era	preferível	morrer	 que	 ter	 que	
viver	em	 tais	condições.	Ou	ainda	o	aborto	de	seus	filhos	que,	se	nascessem,	 também	
estariam	condenados	àquela	vida	de	medo	e	torturas	constantes,	a	morte	da	criança	que	
ainda	não	nascera	seria	a	ela	menos	delorosa.	Outras	formas	mais	comuns	de	resistência	
ocorriam	nas	fazendas,	como	o	boicote	à	produção.	Ateavam	fogo	à	plantação,	quebravam	
o	engenho,	escondiam	o	ouro,	soltavam	animais,	(NASCIMENTO:	2019)	tudo	para	atrasar	
a	produção,	gerando	prejuízo	ao	senhor	e	também	para	que	pudessem	ter	algumas	horas	
de	descanso	nas	16	horas	diárias	de	trabalho	durante	a	colheita.
A	resistência	acaba	sendo	a	arma	preferida	nas	relações	sociais	entre	senhor	e	es-
cravizado,	uma	vez	que	a	obediência	irrestrita	não	surtia	efeitos	reais.	Baquaqua	aprendeu	
o	idioma	português,	aprendeu	todos	os	ofícios	na	padaria	e	mesmo	assim,	após	vender	os	
pães	na	cidade	e	não	atingir	a	meta,	apanhava	novamente.	O	aprendizado	não	era	sufi-
ciente	na	escravidão	para	amenizar	a	situação	dos	escravizados,	portanto	a	resistência	se	
torna	a	outra	alternativa	apra	evitar	espancamentos.	Baquaqua	se	torna	desobediente	ao	
seu	senhor,	pois	desobediente	ou	não,	o	açoite	era	certo.	O	padeiro	o	vende	a	um	traficante	
de	escravos	que	o	comercializa	no	Rio	de	Janeiro.	(NASCIMENTO:	2019).
22UNIDADE I História e Cultura Africana
Baquaqua	ainda	afirmou	que	quase	foi	comprado	por	um	senhor	de	escravos	negro.	
Sim	existiam	no	continente	americano	negros	que	escravizavam	outros	negros,	entretanto,	
o	número	era	irrelevante	em	relação	aos	senhores	brancos.	(NASCIMENTO:	2019).	
O	domínio	de	Brasil	e	Portugal	no	tráfico	negreiro	garantiu	a	estabilidade	e	custos	
baixos	no	fornecimento	de	cativos	para	o	Brasil.	O	escravizado	era	barato,	então	para	o	
senhor	de	escravos	não	saia	caro	a	alforria	do	escravo.	O	custo	benefício	compensava	isso	
favorecia	os	acordos	entre	senhores	e	cativos.	A	promessa	de	alforria	estimula	muitos	a	
não	iniciarem	revoltas	e	não	fugirem	e	a	serem	leais.	Durante	muito	tempo	esses	acordos	
entre	as	duas	partes	fez	com	que	alguns	acreditassem	que	a	escravidão	no	Brasil	fosse	
menos	cruel,	mas	esses	acordos	em	nada	representam	isso,	mas	sim,	a	possibilidade,	para	
o	senhor,	ter	mais	prejuízos	com	revoltas,	boicotes	e	revoltas	e	do	escravo	poder	alcançar	
sua	liberdade.
Mesmo	com	esses	pactos	entre	as	partes	era	muito	difícil	ao	cativo	alcançar	sua	
alforria.	Ao	 africano,	 que	 era	maioria,	 era	mais	 difícil	 alcançar	 a	 liberdade	 que	 o	 cativo	
nascido	no	Brasil.	Para	aumentar	suas	chances	de	alcançar	a	liberdade,	a	distância	de	sua	
cultura	era	valorizada	pelo	senhor.	Os	negros	que	abandonavam	suas	práticas	africanas	
tinham	mais	oportunidades	de	serem	alforriados.	Além	do	fator	cultural,	o	fator	fenotípico	
também	era	destacado,uma	vez	que	escravos	com	pele	mais	clara	tinham	mais	chances	
de	se	tornarem	livres	que	os	de	pele	mais	escura.	A	questão	fenotípica	era	tão	comum	que	
até	hoje	o	Brasil	ainda	convive	com	suas	consequências.
Além	dos	cativos	que	adotavam	os	padrões	culturais	portugueses	e	os	de	pele	mais	
clara,	 também	 tinham	 privilégio	 na	 possibilidade	 de	 alcançar	 a	 alforria,	 os	 escravizados	
domésticos,	que	não	participavam	da	 lavoura,	e	ainda	as	mulheres	conseguiam	a	alforria	
duas	vezes	mais	que	o	homem.	O	que	não	representa,	de	forma	alguma,	um	trato	melhor	à	
mulher	negra	no	Brasil,	muito	pelo	contrário,	a	mulher	negra	sofria	diversos	tipos	de	violência,	
sobretudo	a	sexual,	a	ponto	de,	na	época,	se	popularizar	a	frase	“branca	para	casar,	mulata	
para	fuder	e	preta	para	trabalhar”	(FREYRE:	2006).	As	alforrias	de	mulheres	e	crianças	eram	
consequência	da	violência	sexual.	As	crianças	acabavam	se	alforriando	junto	com	suas	mães,	
pois	sua	condição	estava	condicionada	a	liberdade	ou	não	de	sua	mãe.
As	diferentes	formas	de	se	tratar	os	escravizados	gerava	intrigas	e	rivalidades,	ou	
pelo	tom	da	cor	da	pele,	ou	por	ter	nascido	no	Brasil	ou	por	ser	católico,	o	que	era	bom	para	
o	senhor,	pois	escravos	desunidos	representava	menos	perigo	para	a	ordem	escravocrata	
no	país.
23UNIDADE I História e Cultura Africana
Dividir	a	população	negra	era	uma	estratégia	utilizada	desde	a	viagem	pelo	Atlânti-
co,	várias	etnias	em	um	mesmo	barco,	com	diferentes	idiomas	evitava	a	união	dos	cativos	
e	possíveis	revoltas.	Nas	fazendas	essa	lógica	continuava,	o	tratamento	desigual	reforçava	
a	desunião	e	dificultava	a	resistência.	como	não	existe	um	povo	africano,	mas	vários	tinham	
formas	diferentes	de	agir	e	pensar	no	mundo,	o	que	os	unia	era	o	sentimento	contrário	à	
vida	cativa,	mas	as	estratégias	dos	senhores	em	os	desunir	deu	certo	em	diversos	momen-
tos	e	lugares,	mas	em	outros	muitos	momentos	se	uniam	mesmo	de	etnias	diferentes	para	
resistir	através	de	fugas,	boicotes	e	assassinatos.
	
24UNIDADE I História e Cultura Africana
6. OS QUILOMBOS COMO SINÔNIMO DE RESISTÊNCIA NEGRA
Quando	se	fala	em	resistência	à	escravidão	não	há	como	não	se	lembrar	dos	qui-
lombos.	Quilombo,	para	os	portugueses,	seria	um	grupo	de	escravos	 fugidos	que	cabia	
às	autoridades	capturar	ou	exterminar.	Mas	para	os	quilombolas,	o	quilombo	era	sua	vida,	
seu	habitat,	sua	casa,	era	uma	 forma	de	organização	social	em	defesa	da	 liberdade.Os	
quilombos	existiam	aos	montes	provando	a	tese	que	o	escravo	resistia	à	escravidão.	As	
concentrações	quilombolas	eram	uma	negação	da	sociedade	escravocrata.
Os	 documentos	 que	 existem	 sobre	 os	 africanos	 nas	 fazendas	 e	 nos	 quilombos	
são	de	maioria	portuguesa.	Os	europeus	não	se	importavam	com	os	nomes,	se	importa-
vam	com	as	informações	que	destacavam	a	que	tipo	de	trabalho	seria	útil,	portanto	eram	
notas	importantes	o	sexo,	local,	origem,	altura	e	peso.	Sobre	os	quilombos	descreviam	as	
habitações,	o	tempo	de	permanência	na	comunidade,	as	roças	que	plantavam,	tecnologias	
e	pessoas	capturadas	e	mortas	e	mais	uma	vez,	desdenhava-se	os	nomes.	Com	a	coleta	
desses	dados	desenvolveram	estratégias	que	os	auxiliavam	a	evitar	a	resistência	e	como	
melhor	combatê-la.
A	palavra	quilombo	era	usada	pelos	guerreiros	jaga	durante	os	séculos	XVI	e	XVII.	
Eram	guerreiros	que	resistiram	à	invasão	dos	europeus	à	África	e	que	depois	se	aliaram	a	
eles	em	acordos	que	lhe	garantiram	a	sobrevivência.
25UNIDADE I História e Cultura Africana
A	colonização	existiu,	mas	não	sem	a	forte	resistência	desses	cativos	em	busca	de	
sua	liberdade.	Os	quilombos	foram	e	ainda	são	considerados	os	grandes	símbolos	dessa	
resistência.
Em	todo	o	continente	americano	surgiram	quilombos	ainda	no	primeiro	século	da	
escravização	africana,	no	século	XVI.	A	resistência	é	algo	inerente	à	escravidão,	sempre	a	
resistência	surgiu	como	reação	a	ação	escravagista.	A	fuga	para	a	formação	de	quilombos	
foi	a	mais	comum	e	organizada	forma	de	resistir.	Em	todas	as	regiões	brasileiras,	de	norte	
a	sul,	eles	se	formaram	e	persistiram	até	mesmo	após	a	assinatura	da	Lei	Áurea.
O	Quilombo	dos	Palmares	ou	Angola	Janga,	com	certeza,	foi	o	mais	famoso	de	to-
dos	os	quilombos	em	terras	brasileiras.	entre	Alagoas	e	Pernambuco,	na	Serra	da	Barriga,	
região	afastada	das	cidades	e	vilas	e	de	difícil	acesso	formou-se	um	complexo	de	povoa-
ções.	Essas	vilas	de	escravizados	fugidos	eram	autossuficientes,	viviam	da	agricultura	e	
criação	de	animais	e	dominavam	a	metalurgia.	
Por	mais	de	um	século,	muitos	cativos	que	escaparam	de	suas	vidas	nas	fazendas	
e	senzalas	foram	abrigados	em	Palmares.	O	quilombo	foi		ganhando	cada	vez	mais	pes-
soas		aponto	de	se	tornar	um	reino	chamado	de	Angola	Janga,	que	provavelme	foi	a	união	
de	duas	etnias	guerreiras	da	África,	os	Mbundu	N’Gola	e	os	guerreiros	jagas	que	eram	os	
que	 batizaram	 seus	 acampamentos	 de	 quilombos.	 alguns	 defendem	que	 foi	 a	 princesa	
Aqualtune,	que	comandou	batalhas	contra	os	europeus	na	África,	tenha	liderado	a	criação	
de	Angola	Janga.
Líderes	 africanos	 tornados	 escravos,	 como	 reis,	 príncipes,	 juízes,	 entre	 outros,	
poderiam	se	tornar	um	problema	para	a	sociedade	escravista,	pois	tinham	poder	para	reor-
ganizar	as	estruturas	de	poder	africanas	em	forma	de	resistência.	Ganga	Zumba,	o	primeiro	
Rei	de	Angola	Janga,	representava	essa	reorganização	do	poder	do	continente	africano,	
seu	nome	na	realidade	não	era	Ganga	Zumba,	esse	nome	era	um	título	dos	reis	do	reino	
de	Imbangala.	Além	do	nome,	o	rei	Zumba	também	utilizava	tranças	características	de	sua	
tradição,	o	que	o	diferenciava	dos	demais	e	representava	autoridade.
A	organização	de	Angola	Janga	 tinha	 raízes	na	África.	Os	povoados	do	quilombo	
de	Palmares	eram	chamados	de	mocambos.	O	quilombo	era	tão	grande	que	os	mocambos	
estavam	distantes	uns	dos	outros	e	se	interligavam	através	da	mobilização	dos	guerreiros.	
Pensaram	toda	a	defesa	para	resistir	aos	ataques	dos	colonizadores	que	atacam	de	surpresa.
Durante	todo	o	século	XVII	Angola	Janga	conseguiu	impedir	todos	os	ataques	dos	
colonizadores	portugueses	e	holandeses.	Após	 capturar	 alguns	 cativos,	 os	portugueses	
conseguiram	 informações	 sobre	 a	 localização	 do	 quilombo,	 além	de	 seu	 tamanho	e	 de	
26UNIDADE I História e Cultura Africana
sua	organização	em	mocambos.	No	século	XVII	a	província	pernambucana	vivia	um	grave	
problema	de	crise	atingindo	suas	principais	vilas,	Olinda	e	Recife.
Os	 portugueses	 mantinham	 no	 Brasil	 uma	 economia	 voltada	 para	 a	 produção	
de	açúcar	o	que	gerava	um	direcionamento	de	toda	a	máquina	colonial	na	produção	da	
cana-de-açúcar,	 por	 causa	 dos	 altos	 lucros,o	 que	 desestimulava	 a	 produção	 de	 outras	
culturas	essenciais	para	a	sobrevivência	na	Colônia.	A	fome	estimulava	ainda	mais	a	fuga	
dos	cativos,	 sobretudo	após	saberem	que	em	Angola	Janga	 (Palmares)	havia	alimento.	
Nesse	período	Angola	Janga	cresceu	significativamente,	devido	o	aumento	das	fugas	o	que	
preocupou	as	autoridades	que	começaram	a	ver	Palmares	como	uma	ameaça.
Angola	Janga	era	distante,	o	caminho	até	lá	era	difícil,	era	um	quilombo	numeroso	
e	que	tinha	um	governo	que	dominava	técnicas	de	guerra	e	vigilância.	Além	dos	próprios	
habitantes	de	Palmares,	habitantes	próximos	que	dependiam	dos	alimentos	vendidos	pelo	
quilombo	para	sobreviver,	também	ajudavam	na	defesa.	Alguns	pequenos	proprietários	de	
terras	compravam	comida	de	Angola	Janga	em	troca	de	armas	e	munição	para	sua	defesa.	
Os	 habitantes	 do	 quilombo	 também	 trocavam	 seus	 alimentos	 por	 informações	 sobre	 a	
movimentação	das	linhas	portuguesas.
Holandeses	e	portugueses	não	tiveram	sucesso	nas	investidas	contra	Palmares,	
mas	fizeram	o	que	puderam,	como	destruir	plantações,	incêndios	a	casas	e	morte	e	captura	
de	habitantes.	Para	evitar	maiores	perdas,	o	rei	Ganga	Zumba	aceita	fazer	um	acordo	de	
paz	com	o	representante	da	Coroa	Portuguesa	em	Pernambuco.	O	acordo	reconhecia	a	
liberdadedas	pessoas	nascidas	em	Angola	Janga,	mas	não	aceitaria	a	liberdade	de	novos	
escravos	fugitivos	que	fossem	até	Palmares.
O	acordo	 tinha	desfecho	ambíguo,	pois	 trazia	 tranquilidade	para	aqueles	que	 já	
viviam	no	quilombo,	mas	 retirava	a	possibilidade	de	continuarem	se	 fortalecendo	com	a	
chegada	de	novos	membros	que	fugiam	do	cativeiro.	Essa	decisão	de	Ganga	Zumba	foi	
decisiva	para	que	alguns	membros	do	quilombo	o	envenenassem	e	dar	lugar	ao	último	rei	
de	Angola	Janga,	Zumbi	dos	Palmares.
Zumbi	havia	nascido	em	Palmares,	portanto	era	beneficiado	pelo	acordo	de	Ganga	
Zumba,	mas	não	queria	que	a	 liberdade	estivesse	apenas	nas	mãos	dos	que	ali	viviam,	
mas	para	todos	a	população	negra,	independente	se	haviam	nascido	na	África	ou	América.
Apesar	de	ter	nascido	livre	em	Palmares,	Zumbi	foi	capturado	ainda	bebê	e	dado	de	
presente	a	um	padre	que	o	rebatizou	de	Francisco.	Não	aceitou	sua	condição	de	escravidão	
aos	15	anos,	quando	poderia	resistir	melhor	ao	trabalho	compulsório.	Fugiu	e	retornou	a	
Angola	Janga,	abandona	seu	nome	católico	e	se	torna	Zumbi.	Se	envolveu	na	defesa	do	
27UNIDADE I História e Cultura Africana
quilombo	e	aos	17	 já	 comandava	guerreiros,	 inclusive	 foi	Zumbi	quem	 impediu	a	maior	
tentativa	de	invasão	portuguesas	em	Palmares.	
Após	a	morte	de	Ganga	Zumba,	Zumbi	se	torna	o	novo	rei.	Zumbi	havia	liderado	
uma	rebelião	contra	Zumba	e	contra	sua	proposta	de	aliança	de	paz.	Durante	o	reinado	de	
Zumbi	Palmares	se	fortaleceu	e	construíram	muralhas	em	torno	dos	mocambos.
Zumbi	reagiu	aos	ataques	portugueses	atacando	engenhos	e	aproveitavam	para	
libertar	mais	escravizados	e	conseguia	mais	territórios	para	os	quilombos.	Ele	investiu	no	
enfraquecimento	econômico	do	inimigo	ao	atacar	os	engenhos.
Portugal	 junto	à	província	de	Pernambuco	 tentaram	novo	acordo	com	Palmares	
que	foi	recusado.	A	província	pernambucana	contratou	um	exército	de	bandeirantes	para	
poder	solucionar	o	caso.	Os	bandeirantes	tinham	experiência	em	entrar	em	lugares	difíceis	
no	interior	do	país	e	possuíam	também	experiência	nas	guerras	em	busca	de	escravizados	
de	povos	indígenas.
Jorge	Velho,	o	 líder	bandeirante	foi	derrotado	em	sua	primeira	batalha	contra	os	
Palmares	em	1691.	Com	as	informações	reunidas	da	derrota	anterior	retornam	em	1693	
com	um	exército	de	mais	de	nove	mil	homens	e	finalmente	conseguem	derrotas	Palmares,	
o	maior	quilombo	que	já	existiu	em	todo	o	continente	americano.	Zumbi	foi	emboscado	em	
1695	e	morto.	Seu	corpo	foi	esquartejado	e	partes	do	seu	corpo	foram	distribuídas	pelas	
províncias	para	servir	de	exemplo	aos	outros	cativos.
A	resistência	dos	Palmares	durou	mais	de	100	anos	e	se	tornou	icônica	por	tama-
nho	e	duração.	Apesar	do	protagonismo	de	Zumbi	e	dos	Palmares,	essa	história	é	apenas	
um	capítulo	da	resistência	dos	escravizados	no	Brasil
28UNIDADE I História e Cultura Africana
SAIBA MAIS
Mahommah	Gardo	Baquaqua	foi	um	homem	africano,	sequestrado	e	escravizado	por	
traficantes.	Nativo	de	Zooggoo	na	África	Central	(atual	municipalidade	de	Djougou,	no	
Benim),	um	reino	tributário	do	reino	de	Bergoo,	trabalhou	no	Brasil	como	cativo,	contudo	
conseguiu	fugir	para	Nova	York	em	1847	garantindo	sua	liberdade.	O	navio,	que	chegou	
a	Nova	Iorque	em	junho,	foi	abordado	por	abolicionistas	locais,	que	o	incentivaram	a	fugir	
do	navio.	Após	a	fuga,	no	entanto,	foi	preso	na	cadeia	local,	e	apenas	a	colaboração	dos	
abolicionistas	(que	facilitaram	a	fuga	da	prisão)	impediu	que	fosse	restituído	ao	navio.	
Foi	então	enviado	ao	Haiti,	onde	passou	a	viver	com	o	reverendo	Judd,	um	missionário	
batista.	Convertido	e	batizado,	em	1848,	Baquaqua	retornou	aos	Estados	Unidos	devido	
à	 instabilidade	política	que	o	Haiti	vivia	então;	estudou	no	New	York	Central	College,	
em	McGrawville,	por	quase	três	anos.	Em	1854	foi	para	o	Canadá	e	sua	bibliografia	foi	
publicada	no	mesmo	ano	por	Samuel	Downing	Moore	em	Detroit.
Não	se	sabe	o	que	acontece	com	Baquaqua	depois	de	1857.	Ele	estava	então	na	Ingla-
terra	e	havia	recorrido	à	Sociedade	da	Missão	Livre	Batista	Americana	para	ser	enviado	
como	missionário	à	África.
Em	2018,	a	biografia	de	Mahommah	Baquaqua	foi	apresentada	como	enredo	no	carna-
val	virtual,	pelo	G.R.E.S.V.	Recanto	do	Beija-flor.
Sua	biografia	foi	publicada	pelo	abolicionista	estadunidense	Samuel	Moore	em	1854,	
seu	relato	foi	fundamental	pois	revelou	detalhes	das	operações	do	tráfico	negreiro	da	
época.
Fonte:	MANZANO,	Juan	Francisco,	A	Autobiografia	do	poeta-escravo.	São	Paulo:	Hedra,	2015.	
REFLITA
“Oh!	a	repugnância	e	a	imundície	daquele	lugar	horrível	(navio	negreiro)	nunca	serão	
apagadas	de	minha	memória.	Não:	enquanto	a	memória	mantiver	seu	posto	nesse	cé-
rebro	distraído,	lembrarei	daquilo.	Meu	coração	até	hoje	adoece	ao	pensar	nisto.”	
Fonte:	Baquaqua.	Mohammah	Gardon.	Biografia.	p.	272.
29UNIDADE I História e Cultura Africana
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa	viagem	chega	ao	fim.	O	espaço	de	experiência	contemplado	nos	apresentou	
um	negro	no	Brasil	que	 fora	 trazido	à	revelia	ao	país.	Não	foi	uma	bela	viagem,	porém,	
humanizante.
Conforme	 vimos,	 o	 negro	no	Brasil	 fora	 colocado	 sob	um	 trabalho	 compulsório.		
Uma	vez	aqui,	teve	de	resistir	das	mais	diversas	formas.	Uns	optaram	pela	estratégia	da	
obediência	e	lealdade.	Era	a	melhor	forma,	para	alguns,	de	se	apegarem	às	suas	próprias	
vidas.	Outros,	boicotaram	a	produção,	quebraram	peças	dos	mecanismos	do	engenho	ou	
queimaram	as	lavouras	podendo	garantir	algum	tempo	de	descanso.	Ou	isso	ou	continuar	
trabalhando	dezesseis	horas	por	dia	cortando	cana-de-açúcar.	Alguns,	em	total	desespero,	
ou	tiravam	as	vidas	de	seus	senhores	ou	até	mesmo	tiravam	suas	próprias	vidas,	pois	para	
estes,	a	morte	era	a	única	saída	de	tal	situação.	E	ainda	tiveram	aqueles	que	braviamente	
fugiram	das	fazendas	e	construíram	vilas	chamadas	de	concentrações	quilombolas.
Aprendemos	que	o	africano	no	Brasil	tem	sua	própria	história	e	que	essa	história	
é	a	história	do	próprio	Brasil.	Ela	nos	construiu	e	continua	nos	construindo,	sendo	assim,	
não	podemos	deixar	que	ela	seja	esquecida,	não	apenas	porque	a	escravidão	é	um	crime	
contra	a	humanidade,	mas	porque	a	cultura	africana	está	presente	no	nosso	dia-a-dia	e	
muitas	vezes	nem	percebemos.
30UNIDADE I História e Cultura Africana
LEITURA COMPLEMENTAR
LARA,	Silvia	Hunold.	Biografia	de	Mahommah	Gardo	Baquaqua.	Revista	História	
Brasileira,	São	Paulo,	v.	8,	n.	16,	p.	269-284,	1988.
31UNIDADE I História e Cultura Africana
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
Título:	O	Trato	dos	Viventes:	Formação	do	Brasil	no	Atlântico	Sul	
–	Séculos	XVI	e	XVII.
Autor(a):	Luiz	Felipe	de	Alencastro.
Editora:	Companhia	das	Letras
Sinopse:	O	padre	Antônio	Vieira	escrevia:	“Angola...	de	cujo	triste	
sangue,	negras	e	infelizes	almas	se	nutrem,	anima,	sustenta,	ser-
ve	e	conserva	o	Brasil”.	Em	O	trato	dos	viventes,	o	historiador	Luiz	
Felipe	 de	Alencastro	mostra	 que	 a	 colonização	 portuguesa,	 ba-
seada	no	escravismo,	deu	lugar	a	um	espaço	econômico	e	social	
bipolar,	englobando	uma	zona	de	produção	escravista	situada	no	
litoral	da	América	do	Sul	e	uma	zona	de	reprodução	de	escravos	
centrada	em	Angola.
FILME/VÍDEO
Título:	Amistad
Diretor: Steven	Spielberg
Ano:	1997
Sinopse:	Costa	de	Cuba,	1839.	Dezenas	de	escravos	negros	se	
libertam	das	correntes	e	assumem	o	comando	do	navio	negreiro	La	
Amistad.	Eles	sonham	retornar	para	a	África,	mas	desconhecem	
navegação	e	se	veem	obrigados	a	confiar	em	dois	tripulantes	so-
breviventes,	que	os	enganam	e	fazem	com	que,	após	dois	meses,	
sejam	capturados	por	um	navio	americano,	quando	desordenada-
mente	navegavam	até	a	costa	de	Connecticut.	Os	africanos	são	
inicialmente	julgados	pelo	assassinato	da	tripulação,	mas	o	caso	
toma	vulto	e	o	presidente	americano	Martin	Van	Buren	(Nigel	Haw-
thorn),	que	sonha	ser	reeleito,	tenta	a	condenação	dos	escravos,	
pois	agradaria	aos	estados	do	Sul	e	também	fortaleceria	os	laços	
com	a	Espanha,	 pois	 a	 jovem	Rainha	 Isabella	 II	 (Anna	Paquin)	
alega	quetanto	os	escravos	quanto	o	navio	são	seus	e	devem	ser	
devolvidos.	Mas	os	abolicionistas	vencem,	e,	no	entanto,	o	governo	
apela	e	a	causa	chega	a	Suprema	Corte	Americana.	Este	quadro	
faz	 o	 ex-presidente	 John	Quincy	Adams	 (Anthony	Hopkins),	 um	
abolicionista	não	assumido,	sair	da	sua	aposentadoria	voluntária,	
para	defender	os	africanos.
32UNIDADE I História e Cultura Africana
WEB 
Apresentação	 do	 link:	Canal	Revisão.	Tráfico	Negreiro.	Apresentação	 de	Pirula.	
Tópicos	abordados:	Os	africanos	na	formação	do	Brasil,	para	além	da	escravidão;	História	
do	tráfico	de	pessoas	escravizadas	na	África,	e	da	África	para	a	América;	O	predomínio	
português	e	brasileiro	no	mercado	atlântico	de	escravos;	O	processo	de	escravização	da	
perspectiva	de	um	africano	(Mahommah	Gardo	Baquaqua);	As	experiências	e	as	estraté-
gias	para	a	conquista	da	liberdade.
Link	do	site:	https://www.youtube.com/watch?v=TjcQTVLQDF0
Apresentação	do	link:	Canal	Nerdologia.	A	Origem	da	Escravidão	no	Brasil.	Apre-
sentação	e	Roteiro	de	Felipe	Figueiredo.	Tópicos	abordados:	A	origem	da	escravidão	nas	
sociedades	agricultoras;	As	primeiras	sociedades	escravagistas	na	antiguidade;	A	escravi-
dão	como	prática	durante	a	Idade	Média;	A	escravidão	árabe	e	europeia;	A	escravidão	no	
continente	africano;	A	escravidão	moderna	no	Oceano	Atlântico	e	seu	caráter	econômico	e	
racial;	A	escravidão	do	Atlântico	como	fenômeno	novo	e	incomparável	aos	demais	tipos	de	
escravidão.
Link	do	site:	https://www.youtube.com/watch?v=qXBmkswwRfw
	
33
Plano de Estudo:
● Os	agentes	da	abolição	da	escravidão	no	Brasil;
● O	maior	legado	da	escravidão:	o	racismo.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender	o	processo	de	abolição	no	Brasil	e	evidenciar	o	movimento	abolicionista
para	destacar	que	foram	os	negros	que	lideraram	esse	processo	e	não	uma	princesa	branca	
ou	grupos	brancos	como	se	está	no	imaginário	popular;
● Contextualizar	o	racismo	no	Brasil	como	um	fenômeno	que	surge	com	a	escravidão	e
não	acaba	com	o	fim	da	mesma,	pois	vários	mecanismos	de	desprezo	a	população	negra	
no	Brasil	ocorrem	durante	a	nossa	história	pós	fim	da	escravatura;
● Compreender	os	dois	tipos	de	preconceitos	categorizados	por	Oracy	Nogueira,	o	de
marca	e	o	de	origem	para	que	o	aluno	possa	compreender	que	o	racismo	se	apresenta	de	
diversas	formas	em	diversos	locais	do	mundo;
● Estabelecer	a	importância	de	entendermos	que	o	Brasil	é	um	país	racista	e	que	esse
racismo	é	camuflado,	escondido	e	que	se	torna	evidente	em	momentos
	de	conflito	de	forma	cruel.
UNIDADE II
O Negro no Brasil: 
Abolição e Seu Legado
Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
34UNIDADE II O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
INTRODUÇÃO
Olá,	caros	alunos.	Tudo	bem?	Vamos	dar	continuação	a	nossa	viagem	histórica.	
Preparado?	Vale	ressaltar	que	no	módulo	anterior	iniciamos	nossa	viagem	ao	passado	para	
compreendermos	como	foi	a	escravidão	e	a	forma	de	resistência	em	nosso	país.	A	partir	de	
agora	damos	prosseguimento	a	nossa	viagem,	partindo	do	suspiro	de	liberdade	que	nasce	
da	abolição	da	escravatura	no	nosso	país.
Em	uma	de	nossas	paradas	nessa	viagem,	perceberemos	que	a	abolição	da	escra-
vidão	no	Brasil	não	teve	grande	participação	de	movimentos	brancos.	Então	entenderemos	
que	abolicionismo	em	si	foi	liderado	por	negros.	Perceberemos	ainda	que	a	princesa	Isabel,	
abolicionista,	era	apenas	uma	personagem	na	abolição	e	os	principais	protagonistas	foram	
os	negros	em	si.
Daremos	prosseguimento	a	nossa	jornada	através	de	uma	comparação	realizada	
pelo	sociólogo	Oracy	Nogueira	sobre	o	preconceito	nos	Estados	Unidos	e	Brasil.	Sendo	
assim,	conheceremos	a	diferença	entre	preconceito	de	origem	e	no	Brasil	e	preconceito	de	
marca.
Espero	 que	 você	 compreenda	 o	 racismo	 como	 legado	 da	 escravidão	 negra	 no	
Brasil	durante	mais	de	300	anos.
Espero	que	esteja	entusiasmado	com	e	apreensivo	com	nossa	viagem.	Entusias-
mado	para	que	se	encante	nesse	processo	de	ensino-aprendizagem	e	apreensivo	para	
compreender	a	origem	do	racismo	em	nosso	país.
Vamos lá? 
35UNIDADE II O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
1. OS AGENTES DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL
	 	 	Em	nosso	país	ainda	vemos	a	data	da	abolição	da	escravidão	de	 forma	bem	
superficial	e	não	nos	aprofundamos	para	compreender	a	Lei	Áurea	como	o	resultado	de	um	
longo	processo	histórico	repleto	de	transformações	e	continuidades,	tão	pouco	comrpende-
mos	seus	agentes	históricos	e	resumimos	tudo	à	assinatura	da	Princisa	Isabel.	A	Lei	Áurea,	
Lei	 Imperial	nº	3.353	foi	apresentada	à	Câmara	Geral	no	dia	08	de	maio	de	1888.	Após	
aprovada	foi	encaminhada	ao	Senado	no	dia	13	de	maio	onde	foi	aprovada	e	no	mesmo	dia	
assinada	pela	filha	do	Imperador,	D.	Pedro	II,	que	estava	fora	do	país	e,	por	isso,	sua	filha,	
como	regente,	assinava	em	seu	lugar.	(FIGUEIREDO:	2019).
Mas	esse	é	o	ato	final	da	escravidão	legal	em	nosso	país,	todo	o	processo	anterior	
deve	ser	resgatado	para	melhor	compreensão	de	todo	o	processo.	Algumas	sociedades	re-
ligiosas	no	Brasil	já	criticavam	a	escravidão,	como	os	jesuítas	desde	o	século	XVII,	porém,	
o	clamor	jesuítico	era	direcionado	aos	indígenas.	Inclusive,	o	apelo	contra	a	escravização	
dos	indígenas	favoreceu	o	aumento	da	quantidade	de	cativos	africanos.
Apesar	do	Papa	Paulo	 III	condenar	explicitamente	a	escravidãode	 indígenas	em	
1537	em	sua	bula	Sublimes Deus:
[...]	definimos	e	declaramos	pela	presente	Encíclica	[...]	os	ditos	índios	e	to-
dos	os	outros	povos	que	venham	a	ser	descobertos	pelos	cristãos,	não	de-
vem	em	absoluto	ser	privados	de	sua	liberdade	ou	da	posse	de	suas	proprie-
dades,	ainda	que	sejam	alheios	à	fé	de	Jesus	Cristo;	e	que	eles	devem	livre	e	
legitimamente	gozar	de	sua	liberdade	e	da	posse	de	sua	propriedade;	e	não	
devem	de	modo	algum	ser	escravizados;	e	se	o	contrário	vier	a	acontecer,	
tais	atos	devem	ser	considerados	nulos	e	sem	efeito.	(Paulo	III:	2020).
36UNIDADE II O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
A	decisão	do	Papa	foi	tomada	depois	de	anos	de	discussão	a	respeito	da	humani-
dade	dos	indígenas,	onde	papas	teólogos	dedicavam	páginas	para	defender	que	a	popu-
lação	nativa	da	América	tinha	ou	não	alma	e,	portanto,	se	poderia	ou	não	ser	considerada	
humana.	
Apesar	da	decisão	do	Papa	Paulo	 III,	Portugal	só	proibiu	a	prática	em	1757	por	
meio	do	ministro	de	Estado,	iluminista,	Marquês	de	Pombal	e	em	1761,	Pombal	também	
proibiu	a	escravidão	negra,	mas	apenas	na	metrópole,	Portugal,	sendo	ainda	pratica	em	
suas	colônias,	com	exceção	de	Índia	e	Ilhas	Madeira.	Todo	o	sustento	econômico	de	Portu-
gal	dependia	diretamente	de	sua	maior	colônia,	o	Brasil,	que	existia	graças	a	mão	de	obra	
escrava	o	que	dificultava	decretar	o	fim	da	escravidão	por	aqui.	(FIGUEIREDO:	2019).
O	Brasil	foi	o	país	que	mais	atrasou	a	abolição	da	escravidão	nas	Américas.	Em	
1822	foi	apresentada	a	proposta	de	abolição	da	escravatura	que	foi	rejeitada	por	D.	Pedro	
I,	 que,	 por	 inúmeras	 divergências	 com	 a	Assembleia	Constituinte,	 isto	 é,	 os	 deputados	
responsáveis	 por	 fazer	 a	 primeira	 Constituição	 do	 Brasil,	 mandou	 até	mesmo	 encerrar	
a	Assembleia,	 prender	 ou	 exilar	 deputados	 e	 após,	 selecionar	 a	 dedo	 os	 que	 fariam	 a	
Constituição	a	seu	gosto,	e	que	claro,	não	deixou	entrar	na	Carta	Magna,	a	abolição	da	
escravidão,	que	não	era	do	interesse	do	grupo	mais	poderoso	do	país,	os	cafeicultores.
Apesar	de	não	ter	sido	incluída	na	Constituição	outorgada	por	D.	Pedro	I	em	1824	
a	abolição	não	deixou	de	ser	pauta	em	nenhum	momento	do	Império,	pois	o	assunto	era	
discutido	internacionalmente,	inclusive	o	Chile	já	havia	libertado	seus	cativos	em	1823	e	a	
pressão	inglesa	ia	forçando	a	queda	da	escravidão	nos	países	da	América.	(FIGUEIREDO:	
2019).
As	ideias	iluministas	que	alcançaram	o	Brasil	se	adaptaram	à	nossa	realidade,	e	
muitos	pensadores	e	políticos	passaram	a	atacar	a	escravatura	afirmando	que	seria	contrá-
ria	aos	princípios	iluministas	de	direitos	naturais,liberdade	e	igualdade.	José	Bonifácio,	que	
foi	tutor	de	D.	Pedro	II,	era	um	iluminista	e	abolicionista	convicto.	Apesar	de	suas	investidas	
e	proximidade	com	o	 imperador,	prevaleceu	os	 interesses	das	oligarquias	cafeeiras	que	
mantiveram	a	escravidão	por	quase	 todo	o	século	XIX	e	 fazendo	do	Brasil	o	último	nas	
américas	a	aboli-la.
Com	o	retorno	de	D.	Pedro	I	à	Portugal	para	se	tornar	D.	Pedro	VI	de	Portugal	e	
Algarves	 (1831),	se	 inicia	no	Brasil	o	conturbado	Período	Regencial	 (1831-1840).	Neste	
período	a	pressão	inglesa	sobre	o	Brasil	a	favor	da	abolição	passa	por	uma	forte	escalada,	
principalmente	 em	 1845	 quando	 os	 ingleses	 criaram	 a	 Lei	 Bill	Alberdeen	 que	 concedia	
direitos	à	Marinha	Real	Inglesa	de	identificar	e	capturar	navios	que	transportavam	escravi-
37UNIDADE II O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
zados.	Após	essa	medida	inglesa,	navios	britânicos	inundaram	o	Atlântico	o	que	provocou	
uma	queda	drástica	no	mercado	escravocrata.	O	Brasil,	pressionado,	criou	algumas	 leis	
para	driblar	a	exigência	da	abolição	da	escravatura.	Em	1850,	o	país	criou	a	Lei	Eusébio	de	
Queirós	(Lei	nº	581/1850)	estabelecendo	medidas	para	repressão	do	tráfico	de	africanos	ao	
Brasil.	Medida	pouco	efetiva,	pois	não	haviam	fiscais	para	verificar	se	o	tráfico	continuava	
ou	não	existindo.	Em	1871	o	Brasil	aprova	a	Lei	do	Ventre	Livre	(Lei	nº	2.040/1871)	que	
estabelecia	que	os	filhos	de	mulheres	escravizadas	nasceriam	livres,	o	que	teve	poucos	
efeitos	práticos,	uma	vez	que	a	 criança	deveria	 continuar	 com	a	mãe	e,	portanto,	 após	
idade	hábil,	a	criança,	que	dentro	da	lei	estava	livre,	trabalhava	como	escravizada.	Outra	
Lei	deste	período	foi	a	Lei	do	Sexagenário	(Lei	nº	3.270/1885)	que	concedia	liberdade	aos	
escravizados	que	alcançassem	60	anos,	o	que	raramente	acontecia.	Essas	leis	foram	ape-
lidadas	de	“Leis	para	inglês	ver”	uma	vez	que	tentavam	distrair	os	britânicos	e	se	esquivar	
de	sua	pressão	a	favor	da	abolição.
Uma	vez	que	o	Reino	Unido	proibiu	e	combateu	o	tráfico	de	escravizados	no	Atlân-
tico,	o	comércio	interno	de	cativos	foi	fortalecido.	Ainda	nesse	contexto	ocorre	a	Guerra	do	
Paraguai,	onde	negros	alforriados	e	escravizados	participaram	das	fileiras	brasileiras.	Os	
escravizados	queriam	sua	alforria	e	os	já	alforriados	temiam	voltar	a	serem	escravizados.	
A	soma	do	tráfico	interno	e	fim	da	Guerra	do	Paraguai	vai	fortalecer	o	movimento	abolicio-
nista.	(FIGUEIREDO:	2019).
O	movimento	 abolicionista	 foi	 essencial	 para	 exercer	 pressão	 e	 exigir	 o	 fim	 da	
escravidão	no	Brasil.	(ALONSO:	2015).	O	Império	não	podia	virar	as	costas	para	as	oligar-
quias	cafeeiras,	uma	vez	que	representavam	a	maior	parcela	da	movimentação	econômica	
do	 país.	Os	 cafeicultores,	 além	 de	 apoiarem	 a	 escravidão	 também	mantinham	 controle	
sobre	os	políticos	através	do	voto	censitário	(era	necessário	provar	uma	renda	mínima	para	
ter	direito	ao	voto).	O	movimento	abolicionista	sabia	da	força	econômica	das	oligarquias	
e	de	sua	representatividade	política,	então	direcionava	suas	críticas	ao	governo	imperial.	
(FIGUEIREDO:	2019).
Vários	personagens	da	história	brasileira	fizeram	parte	do	movimento	abolicionista,	
como	a	compositora	e	maestrina	Chiquinha	Gonzaga,	o	poeta	Castro	Alves	e	o	diplomata	
Joaquim	Nabuco.	Também	houveram	diversos	abolicionistas	negros.
Luiz	Gama,	José	do	Patrocínio	e	André	Rebouças	talvez	tenham	sido	os	abolicio-
nistas	negros	mais	populares.	Luiz	Gama	era	filho	de	uma	negra	livre	e	pai	branco.	Nasceu	
livre,	mas	foi	escravizado	dos	10	anos	de	idade	até	os	seus	17.	Saindo	da	escravidão	se	
alfabetizou	e	se	tornou	advogado,	defendendo	outros	negros	gratuitamente.	José	do	Pa-
38UNIDADE II O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
trocínio,	por	sua	vez,	foi	filho	de	um	clérigo	branco	com	uma	negra	escravizada.	Patrocínio	
cresceu	 livre,	com	o	pai	e	tornou-se	farmacêutico.	André	Rebouças,	era	engenheiro	que	
hoje	é	homenageado	com	o	nome	de	locais	em	diversas	cidades	brasileiras.	(FIGUEIRE-
DO:	2019).	Os	três	militavam	contra	a	abolição	através	de	panfletos	e	sátiras	ao	governo	
imperial	e	a	escravidãi	e	ajudaram	a	criar	jornais	abolicionistas	para	convencer	a	população	
a	abamdonar	a	ideia	de	manter	a	escravidão	no	Brasil.
O	processo	para	libertação	dos	escravos	durou	quase	todo	o	século	XIX	e	foi	al-
cançado	com	bastante	pressão	popular	e	 insistência	de	diversos	movimentos	a	favor	da	
abolição.
Nos	Estados	Unidos,	diferente	do	Brasil,	houve	uma	dicotomia	entre	Norte	e	Sul,	
onde	o	Norte,	povoado	por	pequenos	agricultores	e	de	clima	mais	 frio,	o	que	dificultava	
grandes	plantações,	abriu	mão	do	uso	de	escravizados	e	utilizava	mão-de-obra	 livre.	Já	
o	Sul,	de	clima	quente	e	propício	a	grandes	 latifúndios,	optou	pelo	uso	de	mão-de-obra	
escravizada.	Apesar	de	também	ter	existido	no	Norte	dos	EUA,	a	abolição	foi	logo	aboli-
da	nesses	estados.	Os	estados	do	Sul,	semelhantemente	ao	Brasil	 resistiram	à	pressão	
inglesa	 contra	 a	 abolição	 e	 retardou	 esse	 processo	 de	 libertação	 dos	 escravizados.	As	
consequências	da	demora	dos	estados	do	Sul	são	perceptíveis	ainda	hoje	no	IDH	(Índice	
de	Desenvolvimento	Humano)	dos	estados	do	Norte	e	Sul,	entre	as	regiões	livres	e	cativas,	
mesmo	após	mais	de	um	século	que	a	escrvidão	foi	oficialmente	abolida	em	todo	o	território	
nacional	estadunidense	em	1865.
FIGURA 1: USA - ESCRAVIDÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO
39UNIDADE II O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
Fonte:	FIGUEIREDO:	2019.	Adaptado.
No	primeiro	mapa	vemos	onde	era	e	não	era	legal	a	escravidão	nos	Estados	Uni-
dos	em	1861,	sendo	a	cor	mais	clara	a	dos	estados	livres	e	a	escura	dos	escravistas.	No	
segundo	mapa	dos	Estados	Unidos,	quanto	mais	clara	a	cor	do	mapa	menor	o	IDH.	Ou	
seja,	os	estados	com	menor	IDH	são	os	mesmos	que	mantiveram	a	escravidão	por	mais	
tempo.	(FIGUEIREDO:	2019).
O	exemplo	estadunidense	é	apenas	um	entre	as	sociedades	escravocratas,	pois	
nos	 países	 latinoamericanos	 esse	 padrão	 se	 repete.	A	 pobreza	 e	 desigualdade	 nesses	
países	é,	entre	outros	fatores,	uma	das	consequencias	diretas	da	escravidão	que	promoveu	
a	desigualdade	social	e	racial,	dificultou	a	mobilidade	social	e	tirou	oporunidades	da	popu-
lação.	Entre	esses	países,	está	o	Brasil,	última	nação	das	Américas	a	libertar	seus	cativos.	
Isso	explica	muito	sobre	nossa	pobreza	e	desigualdade.
40UNIDADE II O Negro no Brasil : Abolição e Seu Legado
2. O MAIOR LEGADO DA ESCRAVIDÃO: O RACISMO
“Não é de bom tom puxar o assunto da cor”, pois, afinal de contas, “em casa de 
enforcado não se fala em corda”.	Oracy	Nogueira.
			
A	desigualdade	social	é	um	fenômeno	mundial	na	sociedade	contemporânea	e	é	
reflexo	da	má	distribuição	de	renda.	Não	é	novidade	para	ninguém	que	o	Brasil	é	um	país	
onde	muitos	têm	muito	pouco	e	poucos	têm	muito.	Hoje	estamos	entre	os	dez	países	entre	
os	mais	desiguais	do	mundo.	Metade	da	população	é	negra,	mas	mesmo	assim,	o	negro	
tem	cinco	vezes	mais	chances	de	ser	analfabeto	que	um	branco.
Oracy	Nogueira	(1998),	em	sua	obra	“Preconceito	racial	de	marca	e	preconceito	
racial	de	origem”	analisa	o	racismo	através	de	um	olhar	sociológico	e	se	orienta	no	sentido	
de	desvendar	o	estado	das	relações	entre	os	componentes	brancos	e	negros	da	população	
brasileira.
O	autor	faz	uma	análise	sobre	o	racismo	no	Brasil	e	nos	Estados	Unidos	da	América	
a	partir	de	análises	sociológicas	e	antropológicas	e	utiliza	como	método	os	tipos	ideias	de	
Weber.	Ele	apresenta	em	seus	estudos	que	Estados	Unidos	e	Brasil	representam	dois	tipos	
de	situações	raciais,	o	de	origem	e	o	de	marca.
Analisando	as	obras	brasileiras	sobre	o	assunto,	percebe-se	que	muitos	tentaram	
negar	ou	subestimar	o	preconceito	racial	existente	no	nosso	país.	Até	mesmo	hoje	em	dia	
é	possível	ver	essa	ideia.	Nas	redes	sociais	existe	uma	enxurrada	de	argumentos	racistas,		
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mas,	também	é	possível	ver	a	negação	do	racismo	em	livros	como

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